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Correspondência com Eduardo Passeto, uma história sobre impactos ambientais
Minhas conversas com o Eduardo Passeto, que é um profundo conhecedor do nosso planeta e dos processos, um engenheiro com visão sistêmica e com um apelo muito grande pelo bom senso ainda irão virar um livro. Sobre energia nuclear, depois de ler a defesa quase apaixonada de James Lovelock, autor de vários livros, entre eles, The Revenge of Gaia (A Vingança de Gaia ou Terra), Passeto sempre me explica que a posição dele é infundada. Vou publicar o relato dele sobre o acidente de Tchernobyl, que o pior está por vir.
Passeto, vou lhe ajudar: você tem toda razão, a natureza só é capaz de limpar materiais que ela conhece, esses materiais ela desconhece, assim como tudo que estava na crosta terrestre, como metais e combustíveis fósseis. Como ela não limpa, isso são processos contra a vida, são degenerativos, uma ameaça que se tornou exponencial e já colocou a vida na Terra na maior rota de extinção dos últimos 65 milhões de anos.
Sei que você vai concordar comigo: porque o Brasil precisa produzir mais energia, extrair mais petróleo se jogamos 95% da energia produzida no lixo, por falta de eficiência e por desperdício puro? 95%? É isso mesmo: se atualizássemos tecnologicamente as linhas de transmissão e as turbinas das usinas hidrelétricas existentes, teríamos um ganho de 45%; se adotássemos padrão de consumo eficiente sem desperdício outros 50%. Fiz as contas: esse ganho de energia manteria o modelo estúpido de crescimento por 14 anos sem precisar produzir mais nada. Modelo estúpido porque os economistas realmente acreditam que a economia pode ser maior que o planeta e isso nunca vai acontecer; na verdade ao insistirmos nesse erro iremos viver os piores horrores jamais vividos antes pela humanidade. Iremos viver não, já vivemos.
Queria ter um décimo da sua leitura e do seu conhecimento.
Segue nossa correspondência, irei publicar outras.
Prezado Hugo,
Um ilustrativo sobre uso e disposição de material radioativo.
No Brasil, de 1970 a 1989, foram utilizados pára-raios contendo elemento radioativo (Amerício-241). A radioatividade ioniza o ar e aumenta a eficiência do pára-raios. Foram instalados cerca de 100 mil destes no Brasil (Am-241: meia-vida de 458 anos). Não é impossível conceber que metade ainda esteja em operação.
Eles foram proibidos e descomissionados em grande quantidade, principalmente com ajuda do Corpo de Bombeiros. Alguns poucos, depois de reformas realizadas por pessoal destreinado, foram parar em ferro-velhos, lixões e outros locais. Indevidamente dispostos. Com paciência, um amigo do CREA-SP conseguiu localizar alguns destes em ferros-velhos na região suburbana de Campinas-SP e que tiveram finalmente a disposição adequada.
Numa conversa com o engenheiro responsável pela prevenção ambiental de uma indústria importante do estado de SP, soube de uma estória interessante. O prédio foi comprado por uma antiga indústria que não tinha a mesma preocupação ambiental da atual empresa. O engenheiro, mapeando possíveis produtores de impactos questionou "onde estão os três pára-raios radioativos que foram removidos?".
Resposta (de um antigo vigia aposentado): "No rio".
Isso mesmo, um dos rios que abastece nada menos que uma cidade de um milhão de habitantes da região!
Bem, devidamente aconselhado pela CNEN, o engenheiro percorreu as margens do rio e terminou encontrando os três pára-raios, que foram removidos e devidamente dispostos. Evidentemente ele estava trajado com roupas adequadas à tarefa.
Parece surreal. Pode ser apenas uma anedota para passar o tempo. Acredito que não.
Ilustra bem o que é lidar com algo que não conseguimos enxergar.
OBS: atualmente, as normas para produção, instalação, uso e disposição de produtos contendo material radioativo no Brasil estão muito rigorosas. Não é de se esperar exposição a este tipo de risco da população brasileira.
Um abraço,
Passeto
Passeto,
Total falta de presença do Estado, de conhecimento, de ignorância. No passado a natureza limpava tudo, porque éramos pequenos em escala, agora não.
Abraço
Hugo
Prezado Hugo,
A natureza limpava, vírgula, não tínhamos Am-241 livre pelo planeta. Não num planeta com 4,5 Bi de anos.
Vamos levar chumbo, mas se me ajudar a suportar a "barra", seria bom que as pessoas soubessem.
Foi uma conversa de café, envolvia diversas pessoas e portanto, não sigilosa. Não envolve sigilo profissional e não viola meu juramento ético como Servidor Público.
Então vamos lá. Vale uma explicação preliminar sua.
Um abraço,
Passeto
PS: apenas uma explicação, enquanto estão instalados, as emissões de alta energia são direcionadas pelas aletas do pára-raios. O problema ocorre se são removidos e dispostos de qualquer maneira.
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