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segunda-feira, 25 de maio de 2009

"Desafio do Brasil é crescer como os demais países do Bric"

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O artigo do professor Nouriel Roubini abaixo contém dois erros, um mais básico e outro, menos percebido.

Brasil tem que crescer igual à China...

É muito estranho esse argumento, porque na década de 70, o Brasil em seus estágios iniciais de desenvolvimento, similares aos da China de hoje, sua taxa de crescimento ficou acima de 10% por muitos anos (em 1973 crescemos 14%). Agora nosso país está num estágio de desenvolvimento bem acima da China. Ao lado disso, temos a evidência que os países mais maduros possuem crescimento bem menores: EUA, com potencial de 3,0%, Reino Unido com potencial de 2,5%, Eurolândia com potencial de 2,0% e Japão com potencial de 1,5%. Porque só o Brasil deveria crescer a taxas chinesas e os países desenvolvidos podem crescer menos? Há uma diferença de ritmo de crescimento conforme o estágio de desenvolvimento? As evidências todas elas apontam que sim.

A teoria de crescimento de Robert Solow usa apenas capital produzido pelo homem (fábricas, equipamentos, etc.) e trabalho como fatores explicativos do crescimento. Na verdade Solow descobriu que essa especificação de modelo só explicava 20% do fenômeno de crescimento e o resíduo gerado foi batizado de avanço tecnológico ou resíduo de Solow, algo que fez os matemáticos tremerem, porque o correto seria questionar a especificação do modelo e não batizar o erro com seu próprio nome. Enfim, na China, um desses fatores explicativos do crescimento, o trabalho, deve crescer a uma razão de 30% ao ano, com o estoque de chineses marginalizados sendo absorvido pela migração rural urbana. Já no Brasil e nos países ricos, esse crescimento, ligado a uma dinâmica populacional diferente, é bem menor, nulo ou negativo. Essa é uma boa razão para entender como a transição demográfica e ausência de migrações populacionais explica em grande parte porque a dinâmica do crescimento é menor conforme o país é mais desenvolvido.

Crescimento ilimitado e cego como única solução de todos os problemas

Os erros não terminam aí, porque tudo isso é teoria neoclássica, que ignora que tal crescimento ocorre dentro de um sistema não crescente que é o planeta. Não é possível um sistema se manter crescente num sistema não crescente. O fim do crescimento é inevitável, como revelou já há décadas o grupo Meadows do MIT (financiados pela Fundação Volkswagen, cujos trabalhos jamais foram refutados). Basta lembrar a questão física, como o espaço territorial finito e a questão ecológica, como por exemplo, sem a Amazônia que é continuamente destruída, poucos brasileiros irão sobreviver. E essa não é a nossa única vinculação ecológica com o planeta, por isso somos tão vulneráveis e estamos tão ameaçados nesse século, que pode ser o nosso último.

Em síntese, apesar de tantas evidências, a questão do crescimento é encarada de forma muito simplista, ninguém endereça os descalabros ambientais gerados, nem os excessos, nem os desperdícios e nem a falsa noção de uma eterna escassez, simplesmente porque é assumido na teoria econômica que as necessidades humanas são ilimitadas, embora durante o processo, segundo a FORDHAM University e o New Economics Foundation, quanto mais as economias crescem, piora se torna o atendimento das necessidades humanas sociais, principalmente nas economias ricas, onde há uma concentração de riqueza crescente e extrema. A contradição assustadora entre crescimento econômico e resultados sociais, cada vez mais negativos, deveria levar a busca de um novo consenso acerca dessa idéia estranha, ao contrário das palavras de Roubini, onde não sabemos ainda por qual evidência, ele conclui que quanto mais melhor, embora mais esteja virando menos em vários lugares do mundo. Países que mais crescem, que foram considerados um sucesso até o dia derradeiro da crise, acabam em falências sistêmicas como as que estamos vendo nas economias maduras. Por tudo isso posto temos motivos de sobra para questionar a enorme convicção sobre essa idéia de acreditar que o crescimento é sempre benigno e sem efeitos colaterais ou externalidades negativas. Seria hora de questionar também a sua possibilidade eterna...

Hugo Penteado

''Desafio do Brasil é crescer como os demais países do Bric''

Para isso, diz o economista Nouriel Roubini, o País precisa investir mais na infraestrutura e na educação

Ricardo Leopoldo – OESP 22.05.09
O economista Nouriel Roubini, professor da New York University, disse ontem, em São Paulo, que o maior desafio do Brasil é elevar a média de crescimento econômico, que oscilou de 4% a 5% nos últimos dois anos, para uma taxa próxima da russa, chinesa e indiana, que variou de 8% a 10% no mesmo período.

"O Brasil tem grande potencial de expansão, uma quantidade extraordinária de recursos naturais, mas precisa elevar o crescimento para um nível próximo do das outras nações do Bric", comentou, referindo-se ao acrônimo formado pelas iniciais desses quatro países.

Ao discursar no evento "Perspectivas da Economia Mundial - Visão Geral e os Impactos no Brasil", promovido pela Serasa Experian, Roubini relacionou os fatores que vão potencializar o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) do País: ampliação dos investimentos em infraestrutura, melhora da qualidade do ensino e reformas capazes de dar mais eficiência ao setor público e estimular as empresas a ampliar a Formação Bruta de Capital Fixo.

No geral, Roubini fez avaliações positivas do Brasil. Ele destacou a "estabilidade macroeconômica, que perdura por vários anos", promovida de forma significativa pelo Banco Central (BC), "que tem independência" para controlar a inflação. "Isso fez com que o País apresente hoje resiliência, o que não permitirá que ocorra o risco de crise financeira, ao contrário do que aconteceu em 1999 e 2002."

O acadêmico atribuiu o bom desempenho do País, em meio à recessão mundial, a outros elementos, como os resultados das contas externas, que não apresentam déficit de transações correntes elevado, e a solidez dos bancos, o que, para ele, está relacionada com a adequada regulação do sistema financeiro pelo governo. Ele usou o exemplo do País para defender a ação do Estado sobre a atividade das instituições financeiras em todo o planeta.

"Os governos devem agir sobretudo para evitar desequilíbrios macroeconômicos", comentou ele, acrescentando que isso também deveria ocorrer para coibir a expansão de bolhas de ativos financeiros. "A crise nos EUA, por exemplo, não afetou só o mercado de hipotecas subprime, mas todo o sistema de crédito", disse.

"Não foi à toa que surgiu todo um abecedário de ativos financeiros que visavam a lastrear operações com diversos títulos, como os CDOs", disse, referindo-se à sigla em inglês das Obrigações de Dívida Colateralizada, que dão ao portador o direito de ficar com o ativo dado como garantia, caso as obrigações não sejam honradas. "A atual crise mostrou que estão errados os que defendem o laissez-faire, pois o livre mercado, da forma como vimos até recentemente, causou problemas graves à economia mundial."



FRASES

Nouriel Roubini
Economista

"A atual crise mostrou que estão errados os que defendem o laissez-faire, pois o livre mercado, da forma como vimos até recentemente, causou problemas graves à economia mundial."

terça-feira, 19 de maio de 2009

O todo-poderoso yuan?

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Roubini, como todo economista tradicional, tem uma visão parcial do sistema. Isso até o século XXI era possível, agora não mais. Existem algumas condições que fizeram os Estados Unidos substituírem a Grã-Bretanha como potência e emissor de moeda universal. A primeira delas foi se transformar no maior produtor mundial, como fez China hoje. A condição seguinte foi criar uma classe consumidora emergente que fez o país sair da sua posição dependente mundial (modelo produtor-exportador) para influenciar o resto do mundo (modelo consumidor-importador). Daí a chegar no emissor universal para financiar seus gastos é um pequeno passo. Tem uma última condição sempre olvidada: ser capaz de implementar esse modelo com externalidades ambientais crescentes, sem causar colapso planetário e sem estar próximo do limite ao crescimento, além de não incorrer em internalizações dos custos socioambientais de forma imposta ou voluntária em nenhum momento durante o processo.

Vamos analisar a situação da China. A China não tem uma classe consumidora emergente para mudar o modelo produtor-exportador para um modelo consumidor-importador. Falta essa peça. Nos Estados Unidos, as pessoas detinham condições para consumir, só não tinham vontade, mas foi fácil converter os religiosos poupadores americanos do final do século XIX em consumidores individualistas inconscientes do século XX. Bastou buscar fundamentos psicológicos para as campanhas de marketing: o que mais agrada o ser humano é a desgraça alheia, o que mais frustra é o sucesso alheio. Para vender, basta colocar pessoas felizes ao lado dos produtos. Como a aquisição material não produz felicidade, esse vício de consumir nunca é exterminado, por mais saturadas as pessoas estejam. Se precisar, consumidores doentes se endividarão até os ossos para conseguirem aquilo que outros felizes possuem e elas não. Esse é o sistema criado. Os chineses até querem virar consumidores contumazes, mas não detêm ainda condições para consumir, com péssimo arcabouço trabalhista, com falta de saúde e previdência. Enquanto a China não mudar seu modelo de exportadora para consumidora, ela não sai da posição de financiadora do resto do mundo para ser financiada, via emissão de moeda universal. Mas claro que ela vai tentar fazer isso e pode até conseguir, se apertar os botões certos, mas falta um problema final a ser resolvido. As demandas econômicas e populacionais já excedem aquelas que podem ser atendidas pelo planeta. Portanto, muito antes da China emergir como potência e emissora universal de moeda, a crise vai ser outra e bem mais séria e o colapso no consumo mundial via exaustão de ecossistemas e serviços ecológicos de sustentação da vida será hediondo.

Enfim, acreditar que a mesma mecânica do passado irá explicará o futuro, sem descobrir que análises fragmentárias como essas falham em reconhecer riscos e causalidades muito mais prementes, não servirão de norte para ninguém que esteja ciente disso. No curto prazo, vale surfar na onda, afinal, que tal usufruir um pouco mais do saque que estamos fazendo contra nossa própria espécie animal? Porque para o planeta, não fazemos nem cócegas...

Segue texto do Roubini sobre a China (grifos meus):


O todo-poderoso yuan?

Nouriel Roubini*, THE NEW YORK TIMES
O século 19 foi dominado pelo Império Britânico, o século 20, pelos Estados Unidos. Podemos agora estar testemunhando o início do século asiático, dominado pela ascensão da China e sua moeda. Apesar de o status do dólar como principal moeda das reservas internacionais não correr o risco de desaparecer da noite para o dia, não podemos mais dar como certa a sua manutenção. Mais cedo do que pensamos, o dólar pode ser desafiado por outras moedas, principalmente pelo yuan chinês. Isso teria um custo alto para os Estados Unidos, implicando o fim da nossa capacidade de financiar os déficits orçamentário e comercial a um custo baixo.

Tradicionalmente, os impérios responsáveis por cunhar a moeda das reservas internacionais são também credores internacionais líquidos. O Império Britânico entrou em declínio - e a libra perdeu o status de principal moeda das reservas internacionais - quando a Grã-Bretanha se tornou uma devedora líquida, durante a 2ª Guerra Mundial. Hoje, os Estados Unidos estão numa posição semelhante. O país está incorrendo em déficits orçamentários e comerciais e depende da boa vontade dos inquietos credores internacionais, que começam a se sentir inseguros em relação ao acúmulo de um número ainda maior de ativos em dólar. Por isso, o declínio do dólar pode ser apenas uma questão de tempo.

Mas que moeda poderia substituir o dólar? A libra britânica, o iene japonês e o franco suíço continuam sendo moedas menores nas reservas internacionais - e esses países não são grandes potências. O ouro ainda é uma relíquia bárbara, cujo valor aumenta somente quando a inflação é alta. O euro está agrilhoado à preocupação em relação à viabilidade da União Monetária Europeia no longo prazo. Isso nos deixa o yuan (ou renminbi).

A China é um país credor com grandes superávits em conta corrente, um pequeno déficit orçamentário, uma dívida pública equivalente a uma proporção do Produto Interno Bruto (PIB) muito menor que a americana e um crescimento sólido. Além disso, o país já está adotando medidas no sentido de desafiar a supremacia do dólar. Pequim pediu a criação de uma nova moeda para as reservas internacionais de acordo com o modelo dos direitos especiais de saque do Fundo Monetário Internacional ( fundo composto por dólares, euros, libras e ienes). A China logo vai querer que a sua própria moeda seja incluída nesse fundo, além de ver o yuan sendo utilizado como forma de pagamento no comércio bilateral.

Entretanto, no momento, o yuan ainda tem um longo caminho a percorrer antes de estar pronto para o status de moeda das reservas internacionais. Primeiro, a China terá de relaxar as restrições à entrada e saída de dinheiro do país, tornar sua moeda totalmente cambiável para tais transações, dar prosseguimento às reformas financeiras domésticas e aumentar a liquidez dos seus mercados de títulos. Assim, levaria muito tempo para que o yuan se tornasse uma moeda das reservas internacionais, mas isso pode, de fato, acontecer. A China já fez uma demonstração de força ao estabelecer swaps cambiais com diversos países (entre eles Argentina, Bielo-Rússia e Indonésia) e ao permitir que as instituições de Hong Kong emitam títulos denominados em yuans, o primeiro passo no sentido da criação de um profundo mercado doméstico e internacional para a sua moeda.

Se a China e outros países tomassem a iniciativa de diversificar as reservas internacionais optando por moedas diferentes do dólar - e em algum momento isso deve acontecer -, os EUA sofreriam as consequências.

Obtivemos benefícios financeiros significativos por ser o dólar a moeda das reservas internacionais. Em especial, o forte mercado do dólar permite que os americanos paguem juros baixos pelos empréstimos que contraem. Fomos, assim, capazes de financiar déficits maiores durante mais tempo e pagando taxas de juros menores, conforme a demanda estrangeira manteve baixo o rendimento dos títulos do Tesouro. Pudemos emitir títulos de dívida na nossa própria moeda, sem ter que recorrer a uma moeda estrangeira, transmitindo para os nossos credores as perdas resultantes da queda do valor do dólar. O fato de o preço das commodities ser definido em dólar também significou que uma queda no valor do dólar não levaria a um aumento no preço das importações.

CONSEQUÊNCIAS

Imagine agora um mundo no qual a China pudesse tomar e fazer empréstimos internacionais na sua própria moeda. O yuan, em vez do dólar, poderia, afinal, se tornar uma forma de pagamento no comércio e uma unidade contábil empregada no estabelecimento do preço das importações e exportações, além de ser uma fonte de riqueza para os investidores internacionais. O preço seria pago pelos americanos.

Teríamos de gastar mais para obter os artigos que importamos e as taxas de juros aumentariam tanto na dívida pública quanto na privada. O custo privado mais alto dos empréstimos poderia levar a um enfraquecimento no consumo e no investimento e a um crescimento mais lento.

O declínio do dólar pode durar mais de uma década, mas pode ocorrer antes, se não pusermos ordem nas nossas finanças domésticas. Os EUA precisam controlar os gastos e empréstimos e buscar um crescimento que não se apoie em bolhas de crédito e ativos. Durante as duas últimas décadas, o país gastou mais que a sua renda, aumentando suas obrigações estrangeiras e incorrendo em dívidas que se tornaram insustentáveis. Um sistema no qual o dólar foi a principal moeda mundial permitiu que nós prolongássemos nossos empréstimos irresponsáveis.

Agora que a posição do dólar não se mostra mais tão sólida, precisamos alterar nossas prioridades. Isso envolve o investimento na nossa decadente infraestrutura, nas fontes energéticas alternativas e renováveis e no capital humano produtivo - em vez de moradias desnecessárias e da inovação financeira tóxica. Essa será a única maneira de desacelerar o declínio do dólar e manter a nossa capacidade de influenciar as questões globais.

*Nouriel Roubini é professor de economia na Escola de Administração Stern da Universidade de Nova York e presidente de uma empresa de consultoria econômica.

Colaboradores