quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Por que algo que não faz o menor sentido é tão amplamente aceito?

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Comer carne é fruto de uma grande lavagem cerebral que fizeram na gente: nós somos animais onívoros, não somos animais carnívoros. Isso significa que nossa saliva é alcalina, não é ácida como a de um leão, cuja carne já dissolve na boca dele. Quando chega no estômago, um carnívoro produz dez vezes mais ácido clorídrico que um ser humano. Quando chega no intestino, o caminho no carnívoro é infinitamente mais curto. Portanto, conhecimento médico informa que nós só temos capacidade de digerir 40 gramas de carne a cada quatro horas e todo o excedente não só apodrece no nosso corpo, como produz quantidade gigante de toxinas e está relacionado com várias doenças. Além disso todo esse excesso só serve para produzir bolo fecal e destruir os ecossistemas. É prova do quanto desconhecemos o primeiro ecossistema que destruímos diariamente com nossos hábitos errados: o corpo humano. Os demais vão a reboque, porque é claro que nossa decisão de comer carne significa menos ecossistemas, menos Amazônia e o fim da capacidade da Terra sustentar todas as formas de vida, da qual fazemos parte e somos a mais vulnerável de todas. Para entender melhor, se todo alimento dado aos rebanhos fossem dados aos seres humanos, a oferta de alimento aumentaria 10 vezes, simplesmente porque não comemos a vida do boi, mas a sua morte. Uma ínfima parte da soja, por exemplo, é destinada para consumo humano, mais de 90% é para os rebanhos. Seria interessante todos verem como é feito o processo de abate e toda crueldade contra os animais, 500 bilhões deles mortos todos os anos... Por que algo que não faz o menor sentido é tão amplamente aceito?

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Tim Jackson

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Muito, mas muito bom, e corajoso, porque ele tem coragem de dizer a verdade, embora tudo seja contra essa verdade, principalmente os interesses dos nossos empresários e políticos travestidos de verde...

Quem dera houvessem mais homens e mulheres como ele.

Comovente, quando sabemos que ningúem irá mudar até a corda arrebentar por completo, pelo menos aqui, diante dos meus monitores, não há uma só vírgula na direção da sustentabilidade e os mercados financeiros seguem no mesmo faz de conta dos economistas: "Iremos povoar Marte em breve", um dos capítulos mais curtos da série: "Querida, acho que destruí o mundo."

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Tim Jackson e sua fúria ambiental

Stephen Leahy*

*A fúria às vezes é a resposta adequada*, afirma Tim Jackson, referindo-se à falta de compromisso dos líderes mundiais que não conseguiram articular um novo tratado climático na cúpula de Copenhague. Jackson entende que o Acordo de Copenhague, resultante da 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP15), revelou não apenas que a governabilidade ambiental global é uma ficção como também demonstrou um apego cego ao mantra do crescimento econômico.
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Professor de Desenvolvimento Sustentável e diretor do Grupo de Pesquisas sobre Estilos de Vida, Valores e Meio Ambiente na britânica Universidade de Surrey, também é encarregado da direção econômica da Comissão de Desenvolvimento Sustentável da Grã-Bretanha. E é assessor do governo nessa área. Além disso, é dramaturgo e produziu numerosos roteiros de rádio para a rede BBC, com sede em Londres.

O Terramérica entrevistou Jackson por telefone sobre seu novo e controvertido livro, *Prosperity without Growth - Economics for a Finite Planet* (Prosperidade sem Crescimento: Economia para um Planeta Finito), assunto sobre o qual já havia dado uma entrevista na capital dinamarquesa. Também abordou o Acordo de Copenhague e as perspectivas de um tratado climático real.

TERRAMÉRICA: Em seu livro, você afirma que o crescimento econômico nos países industrializados está deixando as pessoas menos felizes e destruindo a terra.

TIM JACKSON: A contínua busca pelo crescimento coloca em risco os ecossistemas dos quais dependemos para uma sobrevivência de longo prazo. Também há ampla evidência de que uma riqueza material maior nos países industrializados não faz seus habitantes felizes, muito pelo contrário. Além de determinado nível de renda, não existe uma correlação de que isso seja diretamente proporcional à felicidade.

TERRAMÉRICA: Se a era do crescimento terminou, o que ocupará seu lugar?

TJ: É necessário redefinir a riqueza e a prosperidade com base nos parâmetros de *capacidade de florescimento* de Amartya SEN (ganhador do Nobel de Economia em 1998). O florescimento se define como ter o suficiente para comer, ser parte de uma comunidade, ter um emprego que valha a pena, uma moradia decente, acesso a educação e serviços médicos.

TERRAMÉRICA: E o que acontece com os países em desenvolvimento?

TJ: As nações industrializadas precisam dar essa virada para criar um espaço que permita ao mundo em desenvolvimento melhorar o desempenho de sua economia. Este crescimento tem de ser sustentável e estar dentro dos limites ecológicos. A atual desigualdade entre nações ricas e pobres é uma razão primordial para que o mundo industrializado necessite fazer esta correção de rumo.

TERRAMÉRICA: Por que o desagrada tanto a COP-15 ter acabado em um acordo de dez páginas em lugar de um tratado internacional vinculante?

TJ: É um documento cheio de ar quente e promessas vazias, cozinhado pelas duas grandes superpotências mundiais. Realmente, isso é o melhor que temos para mostrar após 17 anos de negociações? É uma política climática dos canhões. O tratado climático não foi o único fracasso em Copenhague. A governabilidade mundial foi ao fundo do poço.

TERRAMÉRICA: Quais temas essenciais não fizeram parte das negociações da COP-15?

TJ: O debate sobre o crescimento não figurou. Tanto esta questão como uma distribuição justa do espaço ecológico têm de estar na mesa. De outro modo, as negociações não saem do lugar.

TERRAMÉRICA: O que pensa dos atuais esforços para reduzir as emissões de carbono usando mecanismos como a limitação de emissões contaminantes e o comércio de créditos?

TJ: Não é possível conseguir uma economia baixa em carbono sem uma mudança importante na própria economia. Pequenos ajustes não funcionarão. As corporações veem o clima como a nova oportunidade de negócios. Os mecanismos de mercado agora são as ferramentas predominantes percebidas como uma mudança e que são boas para as empresas, mas são ruins para o público. Consideremos a bastante divulgada ideia de que o crescimento pode continuar desde que suas emissões de carbono (e outros impactos ambientais) diminuam em grande proporção. Em 2050, em um mundo de nove bilhões de habitantes, onde todos vão querer um estilo de vida ocidental, a intensidade do carbono de cada dólar de produção deverá ser, pelo menos, 130 vezes menor do que agora. Isso é simplesmente impossível.

TERRAMÉRICA: O que acontecerá até as negociações da COP-16, em dezembro, no México?

TJ: Penso que deve haver maior pressão internacional e um impulso em relação a questões políticas fundamentais, como a regulação dos mercados financeiros, os sistemas de contas nacionais e a óbvia pressão para criar um fórum viável para a governabilidade climática, bem como a medição do progresso social (no estilo do informe da Comissão de Medida do Desempenho Econômico e do Progresso Social da França, encomendado em 2009 a Sem e ao também Nobel de Economia Joseph Stiglitz). É necessário que Estados Unidos e China participem dos debates mais amplos sobre crescimento e justiça. É interessante que neste momento haja, por exemplo, um pouco mais de humildade e abertura no Fórum Econômico Social, como não ocorreu até agora. Sinais de esperança? Possivelmente.

Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

(Envolverde/Terramérica)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Beirada do precipício...

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Crise da teoria econômica: modelo de fluxo com mega obras e impactos ambientais insuportavelmente ameaçadores em todos os cantos do mundo, no momento em que estamos na beira exígua do precipício. Mais um dos n exemplos dessa horrenda história humana na Terra. Expansão agrícola sem respeitar a continuidade dos serviços ecológicos e da água, consumo nada saudável e cruel para os animais de carne e leite, produção de carros, construção infrene, ao invés de cortar desperdício de energia, mais usinas hidrelétricas e nuclear no Nordeste... Só vamos parar nossa insanidade quando formos realmente forçados a isso?


Indonesia Growth Curbed By Rice Paddies as China Builds Roads
2010-01-19 20:13:46.92 GMT


By Daniel Ten Kate and Achmad Sukarsono
Jan. 20 (Bloomberg) -- The unfinished six-lane highway ends five minutes’ walk from Nur Salim’s rice paddy in Java, Indonesia. The road, part of a commercial artery through the world’s most populated island, is stalled because the farmer wants more money for a plot the size of a tennis court.
“We’re going to fight to the end,” Salim, a 55-year-old goatherd, said in his dimly lit wooden house. “We have no deadline.”
President Susilo Bambang Yudhoyono campaigned for re- election in July on a pledge to double spending on roads, rails and ports to $140 billion over the next five years, part of a push to deliver economic growth of at least 6.6 percent.
He has a ways to go. During his first five-year term, only
125 kilometers (78 miles) of toll roads were built, compared with China’s 4,719 kilometers of toll roads last year alone. He hasn’t exercised his authority to confiscate land, a power only the president has.
Aging ports and railways add to Indonesia’s transport woes, while power cuts in urban areas crimp growth, the government’s statistics agency says.
Failure to jumpstart construction risks the gains that have made Indonesian stocks the best performers in Asia. The Jakarta Composite Index has risen 137 percent in the past 12 months in dollar terms, while the MSCI Asia Pacific Index rose 47 percent.
Higher costs caused by inadequate transport may also threaten Indonesia’s position as the world’s largest exporter of power-station coal and tin and the second-biggest exporter of palm oil.

Draft Law

The highway across an island of about 140 million people, one of Indonesia’s more than 17,000 islands, is stalled because a 1961 law says that only the president can seize land if owners refuse to sell. Yudhoyono’s administration is drafting a new law to make seizures easier.
Indonesia, the third-fastest growing economy in the Group of 20 last year, ranked 96th in terms of infrastructure quality of 133 states in the World Economic Forum’s 2009 Global Competitiveness Index. China was 46th and India 76th.
Inadequate roads, ports and railways mean orange juice from the Indonesian side of Borneo costs more than that from China, four times as far away, according to Zaldy Ilham Masita, chairman of the Indonesia Logistics Association in Jakarta.
“Companies come here because they see a huge market that will buy their goods, but they don’t intend to make Indonesia a production center because of the high logistics costs,” Masita said in a telephone interview.

More Than Thailand

Logistics costs are the equivalent of 25 percent of gross domestic product in Indonesia, versus 19 percent in Thailand and 10 percent in the U.S., says the association.
“We have been screaming about this infrastructure problem for years,” said Iskandar Zulkarnain, president of shipping company PT Internusa Hasta Buana in Jakarta, the capital.
For General Electric Co., the infrastructure shortfalls represent an opportunity to finance and supply power plants, railways and hospitals in Indonesia.
“There’s no doubt that infrastructure is very much required,” said David Utama, 44, Indonesia head for Fairfield, Connecticut-based GE. Investment will be “explosive” if the government succeeds, he said.

Capacity Ports

Jakarta’s Tanjung Priok port, the largest of the country’s more than 2,000 seaports, will soon reach capacity, the World Bank says. A 180-kilometer railroad from Bandung, Java’s third- largest city, stops one kilometer short of the main port.
Container trucks can take all day to move 12 kilometers to the nearest highway, according to the American Chamber of Commerce.
The Trans-Java Expressway, spanning the same distance as from New York to Chicago, has been hobbled by land acquisition difficulties since its conception in 1988. More than half the land for the 1,192-kilometer highway, about a quarter of which has been built, hasn’t been obtained, according to the Public Works Ministry.
“The existing laws haven’t been able to tackle the problems,” said Nurdin Manurung, head of the Indonesia Toll Road Authority at the Public Works Ministry, in an interview.
In the draft law, land for a project approved after public consultation would be transferred to the government, with owner compensation determined by an independent appraiser.
“Even in an extreme situation, where everyone wants to go to court, projects will go forward” under the new law, said Frans Sunito, president director of Jakarta-based PT Jasa Marga, Indonesia’s state-owned toll road operator.

Backhoes and Bulldozers

That would affect Salim, whose rice paddies lie in a 76- kilometer stretch in the middle of the planned expressway from Semarang to Solo. A few hundred meters away, backhoes and bulldozers level the reddish earth and local residents break rocks to sell as building rubble.
Salim said government officials didn’t properly value his land and haven’t contacted him for six months. He said he would accept 350,000 rupiah ($37.51) per square meter for his 200 square meter (2,153 square foot) plot, 50,000 rupiah a meter more than he was offered.
“How can they call this a negotiation?” said Salim, who voted for Yudhoyono twice and opposes any efforts to change the land law. “We are ready to sacrifice our land only if the process is transparent and the price is right.”

To contact the reporter on this story:
Daniel Ten Kate in Bangkok at +662-654-7318 or dtenkate@bloomberg.net; Achmad Sukarsono in Jakarta at +62-21-2355-3023 or asukarsono@bloomberg.net

To contact the editor responsible for this story:
Bill Austin at +81-3-3201-8952 or
billaustin@bloomberg.net

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Ano novo, velhos números.

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*Ano novo, velhos números...*

por Rafael Bán Jacobsen

Sendo um físico teórico, um dos meus instrumentos de trabalho mais preciosos é a matemática. Por isso, com o tempo, apaixonei-me pelos números e, cadavez mais, enxergo neles uma beleza ímpar. Há ocasiões em que quase chego a duvidar de que sou um físico legítimo, pois a matemática envolvida nos problemas de pesquisa às vezes me fascina muito mais do que as questões físicas em si. Ao acompanharem meus trabalhos, alguns colegas, em tom de galhofa, dizem: “Olha, só posso parabenizá-lo por ter entrado para o time dos matemáticos puros.” Outros, mais austeros, aconselham: “Acho que você deveria perder menos tempo com a matemática e mais tempo com a física.” Mas eu sou teimoso e ainda acho que uma equação fala mais do que três bilhões e meio de palavras. A beleza dos números me seduz.

Todavia, sou um caso quase isolado: a maioria das pessoas detesta lidar com números, torce o nariz para fórmulas, sofre engulhos só de ver um gráfico. Mas sigo convicto da verdadeira maravilha que os números representam. Não é fantástico perceber, embora não se saiba a razão, que qualquer número par pode ser escrito como a soma de dois números primos? Não é simplesmente de cair o queixo que uma mesma proporção esteja presente em fenômenos tão distintos quanto a multiplicação de indivíduos nas sucessivas gerações de um casal de coelhos e também em diversas medidas do corpo humano (a altura total e a medida do umbigo até o chão; a altura do crânio e a medida da mandíbula até o alto da cabeça; a medida da cintura até a cabeça e o tamanho do tórax; etc.)? Ou, mais fundamentalmente, não é desconcertante o fato de que um mesmo conjunto de símbolos, uma mesma construção lógica, que é a matemática, sirva bem a propósitos tão prosaicos quanto contar conchinhas na beira da praia mas também nos permita calcular há quantos bilhões de anos nosso universo existe?

Sim, os números estão repletos de beleza, mas também podem ser extremamente cruéis. Há contextos em que a beleza dos números se esvazia por completo; então, a matemática já não é capaz de provocar qualquer sensação de enlevo. Ao contrário, nesses casos, a matemática torna-se capaz de trazer à tona tudo que há de pior em nós, seres humanos: a desesperança, a revolta, o ódio. Os números que descrevem o holocausto animal constituem um desses
casos.

Em 2003, com base nas estatísticas da FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) sobre agricultura, o Secretariado da União Vegetariana Europeia, apresentou o número de animais mortos no mundo para consumo humano durante aquele ano. Os números foram estabelecidos a partir de relatórios provenientes de mais de 210 países, mas devemos levar em conta que alguns países e territórios não fornecem dados. Os números foram os seguintes:

- Galinhas e frangos: 45 bilhões e 900 milhões

- Patos: 2 bilhões e 260 milhões

- Porcos: 1 bilhão e 240 milhões

- Coelhos: 857 milhões

- Perus: 691 milhões

- Gansos: 533 milhões

- Carneiros, ovelhas, cordeiros: 515 milhões

- Cabras: 345 milhões

- Bois, vacas, vitelos: 292 milhões

- Roedores: 65 milhões

- Pombos e outras aves: 63 milhões

- Búfalos: 23 milhões

- Cavalos: 4 milhões

- Asnos, mulas, machos: 3 milhões

- Camelos e outros camelídeos: 2 milhões

A matéria do Centro Vegetariano* sobre o tema alerta ainda que a soma de todos esses números fornece um total de mais de 50 bilhões de animais, sem ter em conta os animais aquáticos (peixes e crustáceos). Os números referem-se apenas aos animais abatidos nos matadouros. Excluem-se os animais de criação extensiva (geralmente para consumo doméstico), assim como os que são alvo da caça, difíceis de contabilizar por não haver qualquer tipo de controle. Certamente não estão incluídos nos números os desafortunados animais assassinados em rituais religiosos e tampouco os cães e gatos exterminados em sua globalizada Auschwitz particular, os famosos centros de controle de zoonoses. De tudo isso, só podemos depreender que a realidade é
muito pior.

Diante desses números, toda beleza se esvai, escorre feito o sangue dos inocentes animais mortos em nome de nossos vícios e de nossa ganância, restando, então, a carcaça exangue do puro horror. São dados antigos, mas basta olhar ao redor para perceber que as coisas não podem ter melhorado (e, nesse caso, mesmo que os números caíssem pela metade, a chacina ainda teria dimensões dantescas).

Em um trabalho publicado em 2001, Luiz Antonio Pinazza, redator de pecuária e política agrícola da Revista Agroanalysis* *, da Fundação Getúlio Vargas, joga um balde de água fria no otimismo vegetariano:

*A formulação das tendências de consumo é investigada pelo The International Food Policy Research Institute (IFPRI), seguindo um modelo alimentar mundial em que se incluem dados originários de 37 países e grupos de países e 18 produtos. Conhecido como Impact (International Model for Policy Analysis of Agricultural Consumption) , o cenário do início dos anos 90 até 2020 prevê um aumento do consumo da carne e do leite de respectivamente 1,8 e 3,3% nos países em vias de desenvolvimento e de 0,6 e 0,2% nos países desenvolvidos. Ou seja, até 2020, em toneladas métricas, os países em vias de desenvolvimento consumirão mais 100 milhões de toneladas de carne e mais 223 milhões de leite. *

Resumo da ópera: o número de animais mortos só vem crescendo e vai crescer ainda mais. Se, em 2003, as estatísticas mais modestas apontavam 50 bilhões de vítimas, hoje, no final de 2009, estamos, certamente, encerrando um ano em que tal número foi superado e vamos receber, de braços abertos, um novo ano em que, mais uma vez, o recorde será batido. Ano novo, vida nova?
Infelizmente, penso que não: ano novo, velhos números; ano novo, idênticas atrocidades. Um interessante testemunho do século XIX pode ajudar a ilustrar a constância do banho de sangue em que vivemos imersos.

O romancista russo Leon Tolstói (1828-1910), por sua vez, levou a cabo a experiência à qual a maior parte de nós se recusa, aquela mesma experiência considerada pelo filósofo escocês John Oswald (1760-1793) como um alerta à sensibilidade natural do homem: Tolstói visitou um matadouro. O escritor, bem como qualquer vegetariano de qualquer outra época, estava acostumado a viver em uma sociedade erigida sobre a exploração animal. Já ouvira todas as razões antigas e conhecidas pelas quais, supostamente, matar animais para comer é aceitável e até natural, coisas como “Deus permite”, ou “todo mundo faz assim”. A respeito disso, escreveu ele:

*Não existe mau cheiro, som, monstruosidade aos quais o homem não consiga se acostumar a ponto de deixar de ver, escutar e cheirar a aparência, o som e o odor do mal.*

Tal convicção reforçou-se ainda mais com sua visita ao matadouro, descrita por ele nas seguintes palavras:

*(…) na longa sala, já impregnada com o cheiro de sangue, só havia dois açougueiros. Um soprava a perna de um carneiro morto e batia no estômago inchado com a mão; o outro, um rapaz de avental emplastado de sangue, fumava um cigarro torto. (…) Depois de mim entrou um homem, aparentemente um ex-soldado, trazendo um jovem carneiro de um ano, preto com uma marca branca no pescoço, de patas amarradas. Este animal ele o pôs sobre uma das mesas, como se numa cama. O soldado velho saudou os açougueiros, que evidentemente conhecia, e começou a perguntar quando o seu patrão lhes permitia ir embora. O camarada com o cigarro aproximou-se com o facão, afiou-o na borda da mesa e respondeu que estavam de folga nos feriados. O carneiro vivo estava ali deitado, tão silencioso quanto o morto e inflado, a não ser por sacudir nervosamente o rabo curto e os lados a se alçarem com mais rapidez que de costume. O soldado baixou gentilmente, sem esforço, a cabeça levantada; o açougueiro, sem parar de conversar, agarrou com a mão esquerda a cabeça do carneiro e cortou-lhe a garganta. O animal tremeu, e o rabinho endureceu e parou de abanar. O camarada, enquanto esperava o sangue correr, começou a reacender o seu cigarro, que se apagara. O sangue corria, e o carneiro começou a agonizar. A conversa continuou sem a mínima interrupção. Era horrivelmente revoltante. *

Para nós, hoje, seria um alívio (ainda que um alívio questionável) descobrir que os matadouros de agora são menos “revoltantes” do que aquele que Tolstói descreve. A verdade é bem outra. A frieza com que os animais são mortos é exatamente a mesma. São diferentes apenas duas coisas: hoje, os animais são mortos em escala industrial, no que poderíamos de chamar de verdadeiras “linhas de desmontagem”, que contam com as mais bizarras tecnologias (esteiras com ganchos para suspender as vítimas, serras elétricas, tonéis de escalda etc.); além disso, os matadouros não param mais nos feriados – funcionam noite e dia, ininterruptamente, para atender a imensa e crescente demanda por carne. O que mudou, em suma, foram os números, muito mais grandiloquentes do que seria capaz de imaginar o mais megalomaníaco dos genocidas.

Abro uma revista que assino e que acabo de receber em casa, uma publicação da comunidade judaica, e encontro mais uma matéria sobre os horrores perpetrados pelos nazistas durante a Segunda Guerra. Descubro que, apesar de o número exato de pessoas exterminadas pelos nazistas nos campos de concentração ainda ser objeto de pesquisa e debate, as estimativas mais avantajadas apontam para 3.5 milhões de poloneses não-judeus, 3.5 milhões de poloneses judeus, 2.5 milhões de judeus de outras nacionalidades, 6 milhões de civis eslavos, 4 milhões de prisioneiros de guerra soviéticos, 1.5 milhões de dissidentes políticos, 800 000 ciganos, 300 000 deficientes, 25 000 homossexuais, 5 000 Testemunhas de Jeová, fornecendo um total de 22 130
000 pessoas (sim, mais de 22 milhões). Faço mais um rápido cálculo mental e começo a rir: esse número representa mirrados 0,04% em comparação com os tais de 50 bilhões de animais mortos a cada ano. Súbito, a imensa tragédia do holocausto adquire contornos de brincadeira de criança. Olho para a televisão e vejo uma repórter alarmada informar que, apesar da constante queda nos números, mais de 2 milhões de pessoas ainda morrem em decorrência da AIDS todos os anos. Faço uma ágil regra-de-três, descubro que esse número – 2 milhões – é o número de animais oficialmente assassinados em apenas 20 minutos e caio na gargalhada. Aprimorando o ensaiado olhar de luto, a repórter passa à nova manchete, a qual ela própria define como “uma carnificina”: 38 mortos no feriado de Natal nas estradas federais de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Recuso-me a fazer qualquer conta sobre isso; naquele momento, a notícia soa-me completamente ridícula, algo que nem merece ser computado.

Como disse, em certos casos, a matemática torna-se capaz de trazer à tona tudo que há de pior em nós, seres humanos, inclusive a frieza perante a desgraça. É quase impossível não ser sufocado por tal número – 50 bilhões! –, frente ao qual todas as misérias humanas parecem ínfimas, desprezíveis, negligenciáveis, assim como aqueles centésimos e milésimos após a vírgula que são dispensados quando, em um problema matemático, enunciamos a resposta final. Não acho bonito, não é isso o que desejo, mas a frieza dos números toma conta de mim. Viro um cubo de gelo. Insensível.

É claro que a maneira mais decente de encarar esses funestos eventos, a matança de animais humanos e não-humanos, é pensar sobre o drama individual, sobre a experiência dolorosa de cada um deles, sobre a tortura física e mental que cada qual, intimamente, teve de suportar antes da morte. Quando resumimos (ou ocultamos) tudo isso através de números, deixamos de lado a real dimensão do drama e corremos o risco da insensibilizaçã o. É, de fato, uma pena que sejamos obrigados a conviver com estatísticas tão berrantes e macabras. E é ainda mais lastimável que, ao que tudo indica, essas estatísticas, no ano que se inicia, venham a ser ainda mais berrantes e mais macabras. Recuso-me, portanto, a festejar mais um ciclo de matança que se inicia. Enquanto todos estiverem fazendo a tradicional contagem regressiva para a chegada do novo ano, permanecerei calado. Minha contagem particular começará à meia-noite em ponto: um, dois, três, quatro, cinco… e vou contabilizando, em tempo real, os animais mortos nesse recém-nascido 2010. Mas a matemática, nessas horas, é implacável, e eu logo descubro ser impossível a tarefa: são mais de 38 000 assassinatos a cada segundo.

Ao redor do mundo, o ano já se inicia com a tétrica ceia, repleta de corpos chamuscados sobre as mesas, modesto prenúncio de tudo que está por vir. Paradoxalmente, as pessoas desejam paz umas às outras, com as bocas cheias de nacos de carne. Tenho vontade de repreendê-las, “Tirem o cadáver da boca para falar!”, mas fico quieto. Penso novamente em Tolstói, que há muito já alertava sobre quão vãos serão todos nossos anseios de paz enquanto a violência fizer parte de nossos atos corriqueiros. Dizia ele: “Enquanto houver matadouros, haverá campos de guerra”. Haverá mesmo.

Mais uma vez, os galináceos se salvarão, afinal ciscam para trás e, portanto, não é de bom agouro devorá-los em noite re réveillon; os porcos, no entanto, fuçam para a frente, e, por isso, tornam-se os defuntos mais cobiçados. O leitão da ceia é apenas um infeliz que se adiantou às estatísticas. Enquanto o porco fuça para a frente, fica para trás, bem para trás, perdendo-se na poeira da distância, qualquer sinal de escrúpulo ético.

Um novo ano se anuncia. Vai começar tudo de novo...

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http://www.centrove getariano.org/Article-327-N%25FAmero%2Bde%2Banimais% 2Bpara%2Bconsumo %2Bhumano.html

http://www.planetaorganico.com. br/TRABFGV1. HTM


RAfael Jacobsen é coordenador do Grupo Porto Alegre da SVB.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Entrevista Revista Ambiente Urbano

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Entrevista da Revista Ambiente Urbano, feita pela jornalista Fernanda Correia.
Entrevista Hugo Penteado


Economia e ecologia se misturam sim!

À medida que a economia global cresce, a disposição dos recursos naturais diminui. É esta a conta que levou alguns economistas a buscar uma nova corrente de pensamento e que vem obrigando o mercado a se enquadrar nela.

Assim como Nicolau Copérnico afirmou em 1543 que não era o Sol que girava em torno da Terra, mas o contrário, os ecoeconomistas vêm assumindo a responsabilidade de trazer à humanidade uma nova versão de nossa relação com a economia.

Nesta entrevista, o ecoeconomista Hugo Penteado mostra porque a economia não pode mais continuar no centro de nosso mundo.



Ambiente Urbano: O que é a Economia Ecológica?


Hugo Penteado: A Economia Ecológica é uma critica que foi feita há mais ou menos 50 anos, a partir dos trabalhos do Nicholas Georgescu-Roegen, um excelente cientista nascido em 1906 e morto em 1994, que iniciou a sua carreira como um economista tradicional. Roegen estudou nas melhores universidades dos Estados Unidos, país onde se naturalizou. Grande parte da teórica econômica tradicional não existiria sem a contribuição dele. A Teoria do Consumo, por exemplo, tem uma contribuição gigante do Roegen. No início da década de 60, ele começou a criticar a teoria econômica tradicional por um motivo muito simples: ao retornar ao seu país de origem [Romênia], com toda a bagagem de conhecimento que adquiriu nos Estados Unidos, ele tentou contribuir para a melhoria do país e se frustrou completamente, pois percebeu que a teoria econômica tradicional não ignora apenas a questão ambiental e planetária, mas ignora também as diferenças históricas, culturais, sociais e humanas. Foi então que ele descobriu que essa teoria não seria aplicável na Romênia, por ser um país pobre, agrário e populoso demais para a extensão territorial disponível; então, ele descobriu que a melhor solução seria uma reforma agrária que pudesse resolver os problemas que a Romênia estava enfrentando.

A outra crítica foi quando ele percebeu que os economistas trabalham em um sistema econômico autista, sem contato algum com o meio ambiente. É o mito da separação total entre economia e meio ambiente, que é válido até os tempos atuais.


AU: Qual a visão da economia para os recursos naturais?


Penteado: Os recursos naturais são considerados infindáveis, inesgotáveis e inalteráveis, e isso está impresso na moderna macroeconomia, que rege as visões de mundo, as políticas econômicas e as propostas que são feitas diariamente. Quando Roegen percebeu isso, ele disse que, se este modelo persistisse, o planeta Terra seria entregue à vida bacteriana.


AU: Há quanto tempo ele fez essas críticas?


Penteado: Em meados da década de 60. A crítica dele foi muito semelhante à visão dos poucos cientistas que descobriram que a Terra não era o centro do Universo, mas sim que ela girava em torno do Sol. Nós vemos acontecer a mesma coisa com o sistema econômico, que é menor, vulnerável e dependente, ou seja, que é um subsistema do planeta.


AU: Isso significa que a economia ecológica provoca uma inversão de eixo semelhante àquela visão que a humanidade tinha no passado, ao acreditar que a Terra era o centro do Universo?


Penteado: Sim. Hoje é como se a gente acreditasse que a economia é o centro de todas as atenções, o que não é, na verdade. A economia é um subsistema dependente do planeta, e é preciso trabalhar esta inversão.
A economia deve se adaptar a um novo paradigma que vem se mostrando cada vez mais contundente. O paradigma econômico está caminhando para uma quebra muito grande porque não é capaz de explicar os problemas que estamos enfrentando, até porque não existe uma só variável no modelo dos economistas que contabilize a contribuição do meio ambiente para o processo econômico.


AU: E como é possível aliar a economia ao meio ambiente? O senhor acredita que estamos caminhando para isso?


Penteado: A sua pergunta já reflete o mito que incutiram em nós. A sua pergunta parte do princípio "como vamos conciliar economia com o meio ambiente" e a resposta é: não vamos conciliar, já está conciliado. Não existe economia sem meio ambiente. Tudo à nossa volta vem do meio ambiente, e isso é muito engraçado porque a gente nem percebe. Eu vou te dar um exemplo: a humanidade tem um nível de arrogância gigante. A gente acha que criou mundos artificiais, com alta tecnologia, urbanização... Eu vivo em uma cidade em São Paulo e preciso de dois itens para sobreviver: água e comida. E de onde vem a água e a comida?


AU: Dos recursos naturais.


Penteado: Então. E é isso que as pessoas não entendem. Nós consideramos que os quatro bens indispensáveis à vida - água, comida, energia e clima - são gratuitos. Só que não são, e estamos correndo o risco de ficar sem eles.
A maior ameaça do aquecimento global não é apenas a elevação do nível dos oceanos: o fim da água é a maior ameaça. O Brasil se vangloria em ter 16% da água doce do mundo na Amazônia. No entanto, 50% da água da Amazônia vêm da evaporação dos oceanos que é retida pela floresta. Já os outros 50% vêm da transpiração da floresta: ou seja, se retirar a floresta, não restará mais água nenhuma.


AU: Quer dizer que sem a Amazônia, não haverá mais vida?


Penteado: Todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos. Quando a gente fala da defesa da Amazônia, não é a Amazônia que a gente quer defender, mas sim a nós mesmos, a nossa capacidade de sobrevivência, a capacidade de o planeta continuar sustentando a vida. A mesma coisa se aplica à biodiversidade. Ela não serve para que se tenha uma série de bichinhos diferentes; na verdade, se todos os animais e plantas sumissem da Terra, a água some junto. A água é um elemento vivo, não pode nem mesmo ser estocada. Então, quando a gente toma um copo de água, temos de nos lembrar de agradecer às infinitas quantidades de seres vivos que filtraram essa água para nós.


AU: O senhor acredita que ainda conseguiremos reverter os problemas ambientais que se apresentam?


Penteado: Creio que seja muito tarde para se conseguir evitar mudanças. Já estamos em meio a uma transformação e existem várias evidências disso. Na paleontologia, por exemplo, existe um registro confirmado [depois de 40 anos de estudo] da terceira maior extinção em massa de espécies animais e vegetais. A humanidade colocou a vida deste planeta na terceira maior rota de extinção dos últimos 65 milhões de anos, e isso aconteceu em décadas, através de nosso processo econômico. É muita ingenuidade acreditar que esta extinção jamais irá se voltar contra os causadores. E lembrando: o ponto de partida da economia ecológica e da sustentabilidade é a plena convicção de vários pontos importantes. Primeiro, todos os seres vivos da Terra dependem de todos os seres vivos, e toda espécie animal que não for capaz de compartilhar o ecossistema com as demais espécies está fadada ao desaparecimento. A segunda consequência é a nossa falta de consciência generalizada, pois tratamos a Terra como se fosse uma lixeira. Isso graças à economia criada por nós, que valoriza o descarte imediato dos bens e o desperdício.


AU: E como fazer isso?


Penteado: Estamos acostumados a desperdiçar, a descartar imediatamente os bens, graças a uma cultura que nós criamos. Então, a economia precisa ser desmaterializada, os valores precisam mudar. Precisa doer no coração jogar alguma coisa no lixo, porque jogar no lixo é um mito. Não existe essa de jogar alguma coisa fora. O sistema terrestre é fechado e a maior parte do lixo urbano vira lixo oceânico, e é do oceano que vem o oxigênio que a gente respira. E o mais assustador dessa história toda é a forma como as coisas já estão se alterando rapidamente: a Índia não produz mais açúcar e arroz; a Austrália não produz mais leite; na África, o lago Chade, que é um dos maiores reservatórios históricos de água, está a ponto de desaparecer, causando uma tragédia colossal.

O problema ambiental é uma consequência do comportamento da humanidade, do nosso modelo de consumo, crescimento e produção. Se queremos resolvê-lo, é preciso atacar as causas, mas o tipo de abordagem que se vê por aí é voltado para resolver as conse-quências. Não há problema nenhum se eu jogar um balde de lama na sala, pois basta eu inventar um aparelho para limpar a sujeira que está tudo certo. Toda a tecnologia hoje é trabalhada desta forma. A tecnologia não é utilizada para evitar problemas, mas sim resolver problemas que ela mesma cria.


AU: Isso mostra o quanto o modelo implantado necessita de mudanças.


Penteado: Nós não temos um sistema economico voltado para pessoas, mas pessoas voltadas para um sistema econômico. O sistema econômico se tornou mais importante do que as pessoas.

Há uma definição de riqueza, dita há uns duzentos anos, e que deveríamos voltar a ela: “Riqueza é tudo aquilo que sustenta a vida”. Logo vamos descobrir que somos extremamente pobres, porque a riqueza que estamos produzindo não sustenta a vida na Terra e nós somos parte desta vida. A longo prazo, se continuarmos assim, a probabilidade de a humanidade terminar o século XXI é baixa. (Fonte: Revista Ambiente Urbano)


Publicado em: 13/11/2009

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sugestão

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Prezados amigos do blog,

Todos os anos vemos o desperdício e o nosso descaso atingir um pico nas festas de final do ano, com embalagens, presentes, comidas.

Aqui no banco eu recebo vários livros de arte ou de cultura e eu decidi inovar, pedindo as empresas das quais sou cliente, que mudem. Acho que essa e muitas outras são sugestões interessantes que todos podemos fazer. A maior parte das coisas que ganhamos ficam largadas ao lado de um mar de necessitados. Em relação ao brinde de livros, é muito triste quando sabemos que muitas escolas não dispõem de livros básicos para estudos. Finalmente, a verba que usam para fazer os livros é livre, porque abate imposto de renda na parte cultural. Acho que dá para combinar esse incentivo com algo realmente útil.

Segue abaixo cópia do email que mandei para eles:

Prezados

Estava de férias e recebi um livro de presente de final de ano do Credit Suisse. Tenho uma sugestão para o ano seguinte: ao invés de doar um livro para mim, gostaria que essa verba fosse convertida em livros educacionais para escolas pobres do interior do Brasil, para pessoas que realmente necessitam desse recurso, que não sou eu. Ao invés do livro, receberíamos um aviso que a verba foi usada para ajudar crianças brasileiras a estudarem.

Segue a sugestão. Gostaria de saber a opinião de vocês e da empresa a respeito.

Aproveito o ensejo para lhes desejar um ótimo 2010.

Abraço

Hugo

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

É a treva - Leonardo Boff

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Alguns pontos concordo, nem todos, por exemplo, os regimes comunistas também foram destruidores da natureza.

O cerne da questão é o mito da separação entre homem e natureza e enquanto esse mito reger a nossa orquestra, os sistemas todos, sejam eles quais forem, irão esfacelar a capacidade da Terra de sustentar a vida.

Concordo que o atual regime econômico não tem ferramentas para deter o pior. Quanto mais viável economicamente uma atividade, mais inviável ecologicamente. E não há jogo de soma zero, a Dinamarca consegue uma economia mais limpa e sustentável porque exporta para o resto do mundo a sua sujeira; o mesmo modelo não pode ser aplicado ao planeta inteiro, porque não dá para exportar a sujeira para fora do planeta.

A teoria econômica tradicional é uma grande responsável por esse desastre e os economistas seguem cegos em suas cartilhas, não importa quantas evidências já tenham surgido diante deles.

Hugo Penteado

21/12/2009 - 11:49:55

É a treva: rumo ao desastre

Leonardo Boff*

http://mercadoetico.terra.com.br/website/wp-content/uploads/2009/12/earth.jpg

Uma jovem e talentosa atriz de uma novela muito popular, Beatriz Drumond, sempre que fracassam seus planos, usa o bordão:”É a treva”. Não me vem à mente outra expressão ao assistir o melancólico desfecho da COP 15 sobre as mudanças climáticas em Copenhague: é a treva! Sim, a humanidade penetrou numa zona de treva e de horror. Estamos indo ao encontro do desastre. Anos de preparação, dez dias de discussão, a presença dos principais líderes políticos do mundo não foram suficientes para espancar a treva mediante um acordo consensuado de redução de gases de efeito estufa que impedisse chegar a dois graus Celsius.

ltrapassado esse nível e beirando os três graus, o clima não seria mais controlável e estaríamos entregues à lógica do caos destrutivo, ameaçando a biodiversidade e dizimando milhões e milhões de pessoas.

O Presidente Lula, em sua intervenção no dia mesmo do encerramento, 18 de dezembro, foi a único a dizer a verdade:”faltou-nos inteligência” porque os poderosos preferiram barganhar vantagens a salvar a vida da Terra e os seres humanos.

Duas lições se podem tirar do fracasso em Copenhague: a primeira é a consciência coletiva de que o aquecimento é um fato irreversível, do qual todos somos responsáveis, mas principalmente os paises ricos. E que agora somos também responsáveis, cada um em sua medida, do controle do aquecimento para que não seja catastrófico para a natureza e para a humanidade. A consciência da humanidade nunca mais será a mesma depois de Copenhague. Se houve essa consciência coletiva, por que não se chegou a nenhum consenso acerca das medidas de controle das mudanças climáticas?

Aqui surge a segunda lição que importa tirar da COP 15 de Copenhague: o grande vilão é o sistema do capital com sua correspondente cultura consumista. Enquanto mantivermos o sistema capitalista mundialmente articulado será impossível um consenso que coloque no centro a vida, a humanidade e a Terra e se tomar medidas para preservá-las. Para ele centralidade possui o lucro, a acumulação privada e o aumento de poder de competição. Há muito tempo que distorceu a natureza da economia como técnica e arte de produção dos bens necessários à vida. Ele a transformou numa brutal técnica de criação de riqueza por si mesma sem qualquer outra consideração. Essa riqueza nem sequer é para ser desfrutada mas para produzir mais riqueza ainda, numa lógica obsessiva e sem freios.

Por isso que ecologia e capitalismo se negam frontalmente. Não há acordo possível.O discurso ecológico procura o equilíbrio de todos os fatores, a sinergia com a natureza e o espírito de cooperação. O capitalismo rompe com o equilíbrio ao sobrepor-se à natureza, estabelece uma competição feroz entre todos e pretende tirar tudo da Terra, até que ela não consiga se reproduzir. Se ele assume o discurso ecológico é para ter ganhos com ele.

Ademais, o capitalismo é incompatível com a vida. A vida pede cuidado e cooperação. O capitalismo sacrifica vidas, cria trabalhadores que são verdadeiros escravos “pro tempore” e pratica trabalho infantil em vários paises.

Os negociadores e os lideres políticos em Copenhague ficaram reféns deste sistema. Esse barganha, quer ter lucros, não hesita em pôr em risco o futuro da vida. Sua tendência é autosuicidária. Que acordo poderá haver entre os lobos e os cordeiros, quer dizer, entre a natureza que grita por respeito e os que a devastam sem piedade?

Por isso, quem entende a lógica do capital, não se surpreende com o fracasso da COP 15 em Copenhague. O único que ergueu a voz, solitária, como um “louco” numa sociedade de “sábios”, foi o presidente Evo Morales: “Ou superamos o capitalismo ou ele destruirá a Mãe Terra”.

Gostemos ou não gostemos, esta é a pura verdade. Copenhague tirou a máscara do capitalismo, incapaz de fazer consensos porque pouco lhe importa a vida e a Terra mas antes as vantagens e os lucros materiais.

* Leonardo Boff é Teólogo.

(EcoDebate)

Colaboradores