segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

The Fed experiments with imperfect tools

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Resposta ao texto, na parte de comentários:
Nothing new in this text. The main point is that US is facing structural hurdles and will grow only 1.8% per year in 2010-2011-2012. A recession will happen only after an exogenous shock, "a la" Kindleberger. This is the good news and a shock could be an open european financial crisis, very unlikely.  In the end market will realize that Europe is in a much better financial shape than US and Japan.
But growthmania per se is a huge mistake and is clearly the root and mother of all crisis. All economies are going to a sudden stop due to planet finitude in coming years. That stop is unavoidable, no matter what monetary, fiscal or specific magics are going to be done. Economic growth is tautological and it is only feasible if we break basic physical laws. The tragedy is that financial health of many important systems (like fiscal, tax, social security, corporate and financial systems) are deadly dependent on eternal growth. We can start to fret about the endgame when growth is not there anymore not occasionally, but in a definitve fashion.  We are really not prepared for that, as said brazilian economist André Lara Resende recently in a newspaper article.
Our soul from us is infinitely far, wrote Fernando Pessoa. We could say the same about the sustainability and financial markets.
Hugo Penteado

The Fed experiments with imperfect tools
Mohamet El Erian, ft260112

Policy experimentation continues unabated in the US with the Federal Reserve launching on Wednesday a new initiative to influence market valuations and, through this, the outlook for the country’s economy. The Fed hopes to use greater transparency to mould expectations in a manner that promotes economic growth and price stability. But this new approach could also create confusion and even greater hesitancy on the part of healthy balance sheets to engage in productive investments.
I suspect the Fed recognises that the policies at its disposal are a long way from ideal. Interest rates are already floored at zero and, according to the latest statement, will likely stay there at least through the end of 2014. Meanwhile, its balance sheet has ballooned to a previously-unthinkable 20 per cent of gross domestic product ($3,000bn) through direct purchases of securities in the market place. It is also “twisting”, as holdings of shorter maturity Treasuries are replaced by longer-dated ones.
This unusual policy activism has helped prevent a damaging deflationary spiral. But it has not been sufficient to restore America on the path of sustainable growth and sufficient job creation, nor will it. As acknowledged by Ben Bernanke, the Fed chairman, the benefits have come with “costs and risks”. Moreover, despite its repeated pleas for fiscal and housing engagement, the Fed has inadvertently provided cover for other government agencies to continue avoiding difficult, but necessary, decisions.
Notwithstanding these shortfalls, the Fed still feels compelled to do even more. For both moral and political reasons, it believes that it cannot be seen to stand on the sideline as the economy struggles with a deeply-entrenched unemployment crisis and political dysfunctionality – even if this means having to use even more imperfect, indirect and, increasingly, unpredictable policy measures.
On Wednesday, the Fed showed how it intends to use “communication” as a much more active tool to inform and influence economic outcomes. But this approach goes well beyond the concept of greater transparency. By publishing members’ individual forecasts – specifically, the annual evolution of the policy rate, the timing of the first hike and a long-term natural rate – the Federal Open Market Committee wants to provide a firmer and steadier outlook to encourage investors, in both physical and financial assets, to commit to long-term decisions.
Few expect this new initiative to have an immediate or durable impact. Beyond 2012, individual FOMC members’ forecasts are quite dispersed, including a 0.25 per cent to 2.75 per cent range for the target Federal Funds rate for end 2014. It will also take time for households, companies and investors to digest yet another set of signals. Moreover, they are much more interested in the likelihood of a new round of Fed purchases, QE3, than forecasts that deal with an unusually uncertain future and are likely to change frequently.
This latest Fed initiative would need to meet two conditions to be effective in the longer-term. We need to see a significant clustering of FOMC member forecasts that could credibly translate into a medium-term vision for policy rates, and greater responsiveness on the part of households, companies and investors to price movements. But even these will not prove sufficient unless the Fed’s continued activism is part of a more comprehensive policy response out of Washington. As yet, there is little to suggest that we are moving quickly enough to meet this requirement.
The writer is the chief executive and co-chief investment officer of Pimco

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

André Lara Resente e Sustentabilidade

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Recomendo fortemente esse texto  e é o que devemos falar sempre: o problema não é ambiental, mas econômico. Segue comentário de André Lara Resende sobre Paul Gilding:

"Em 2005, num seminário para empresários e executivos na Universidade de Cambridge, Gilding(*) fez uma tentativa de descrever como seria essa crise. Argumentou que os limites ecológicos terão, antes de mais nada, um impacto profundamente desorganizador na economia." (*) The Great Disruption, livro recomendado por Resende.

A principal variável explicativa dos preços de ativos é crescimento econômico (seja dívida ou ações).  A finitude planetária irá obrigar as economias a parar de crescer, dado que já ultrapassamos os limites da Terra e não há não "como viabilizar sete bilhões de pessoas, com o padrão de consumo e as aspirações do mundo contemporâneo, nos limites físicos da Terra."  (um outro livro a esse respeito é Consumptionomics do Chandran Nair).  Imagina viabilizar os 9 bilhões esperados para 2050, cifra populacional que jamais atingiremos.

Agora segue o ponto que mais preocupa: estamos muito perto de reconhecer esse problema, mas não na esfera isolada, ineficaz e microeconômica das práticas de sustentabilidade, mas no impasse sistêmico (falta uma abordagem sistêmica para a visão de sustentabilidade em voga hoje no mundo todo).  Resende comenta a conclusão de Gilding:

"Como não houve uma transição antecipada, como não nos preparamos para uma economia estacionária, seremos obrigados a enfrentar uma parada brusca, profundamente traumática. O momento da tomada de consciência do fim do crescimento e da necessidade de uma profunda reorganização da economia não está longe. Questão de, no máximo, mais uma década.”

Em uma década eu gostaria de já estarmos preparados para aquilo que vai ser uma extrema reorganização das economias e do mercado, mas acredito que estamos longe disso. Os alertas são esses:

Diante da falha do sistema de preços e da incapacidade de tomarmos medidas preventivas, chegamos ao limite sistêmico. As múltiplas dimensões desse limite estão todas interligadas. Ao romper-se uma delas, o processo se acelera e aumenta a probabilidade de que outras também venham a ser rompidas. Atingimos o limite físico do planeta. Para evitar uma catástrofe de grandes proporções, seremos obrigados a tomar medidas de emergência, extremamente duras, como o estabelecimento de cotas.

O período de transição será longo, duro e conturbado. A reorganização da economia será compulsória e profunda. Indústrias inteiras vão desaparecer. As de carvão, petróleo e gás, muito antes do fim das reservas conhecidas, serão as primeiras.

Não podemos nos enganar mais: a questão ambiental e planetária é um assunto eminentemente econômico, dado que esses dois sistemas coexistem e guardam um laço de dependência fundamental, onde o lado mais fraco está exatamente na sustentação da nossa sociedade e da economia, posto que "diante da falha do sistema de preços e da incapacidade de tomarmos medidas preventivas, chegamos ao limite sistêmico."

Sempre gostei dos trabalhos do Limits to Growth do Grupo Meadows do MIT ligado ao Clube de Roma. Apesar da crítica feroz e injustificável de Roegen a esse trabalho - um pequeno erro da parte do pai da economia ecológica - esse trabalho trouxe um alerta notável.  Vale a pena sabermos que as previsões foram muito acertadas, conforme comenta Resende:

" Uma avaliação, feita em 2008 por Graham Turner, "A Comparison of The Limits to Growth with Thirty Years of Reality", mostra que as conclusões do relatório foram impressionantemente precisas, tanto em termos conceituais como quantitativos."


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Os novos limites do possível
Por André Lara Resende | Para o Valor, de São Paulo
A crise financeira mundial já vai completar quatro anos, mas ainda não dá sinais de que esteja por se esgotar. Pelo contrário, parece não haver economia no mundo, das mais pobres às mais avançadas, que esteja imune ao seu agravamento. O paralelo com a Grande Depressão do século XX é cada vez mais frequente entre os analistas. Acreditava-se que o antídoto para crises destas proporções havia sido descoberto, mas no mundo de hoje existem novas restrições que podem inviabilizar as saídas conhecidas.
A analogia assusta, não apenas pela duração e pela profundidade da Depressão, mas, sobretudo, pelas consequências. A crise de 30 encerrou um período de internacionalização e de prosperidade mundial. Exacerbou o nacionalismo, o protecionismo e a xenofobia que levou ao fascismo, ao nacional-socialismo nazista e, finalmente, às tensões que desembocaram na Segunda Grande Mundial.
Assim como no início dos anos 30, com o fim da Primeira Guerra a exaustão de um longo ciclo de prosperidade deixou um legado de endividamento público e privado de difícil digestão. Como nos anos 30, temos hoje o esgotamento do padrão monetário estabelecido e uma potência hegemônica em crise, prestes a ser superada por uma nova estrela econômica e militar.
Neste início do século XXI, a insistência na saída keynesiana da retomada do crescimento pode ser uma ortodoxia anacrônica
Ainda nos anos 30, John Maynard Keynes estabeleceu as bases conceituais de um fecundo debate sobre as causas, as consequências e as políticas necessárias para evitar a repetição de uma experiência tão traumática. Mais surpreendente ainda do que as semelhanças objetivas é constatar que o debate hoje continua pautado pela mesma polarização dos anos 30: de um lado, o fiscalismo e a ortodoxia monetária; do outro, a defesa da retomada do crescimento, através dos gastos públicos e de novos estímulos ao consumo.
Em "Lords of Finance", publicado em 2009, Liaquat Ahamed retoma as circunstâncias, os personagens e as ideias do tumultuado período entre as duas Grandes Guerras do século XX. A partir de cuidadoso trabalho de pesquisa, com acesso aos arquivos privados de quatro personagens cruciais, os presidentes dos Bancos Centrais da Inglaterra, dos Estados Unidos, da França e da Alemanha, Ahamed mantém o leitor fascinado com o desenrolar de uma crise que pautou o século XX dali em diante. Não há como escapar à sensação de calafrios com as similaridades deste início de século.
Recomendo enfaticamente o livro de Ahamed, mas, apesar das semelhanças, o mundo de hoje é outro. Para compreender, avaliar alternativas e traçar políticas, a história é fundamental, mas não se pode desconsiderar a especificidade das circunstâncias. Tenho a impressão de que, nas condições de hoje, o remédio keynesiano deixou de fazer sentido.
Sabemos que esta crise é decorrente do estouro da bolha de preços de ativos, principalmente dos imóveis, provocada pelo excesso de endividamento. Bolhas são altas de preços induzidas pela disponibilidade de crédito. A partir de certo ponto, perdem relação com os fundamentos e passam a ser alimentadas exclusivamente pela expectativa de renovada alta dos preços. Embora devesse ser evidente que são insustentáveis, nunca faltam explicações para por que desta vez é diferente. Bolhas são boas enquanto duram. Todos ganham, até o choque com a realidade. Os fundamentos da psicologia de manada, que levam os mercados a se afastarem da racionalidade, são bem conhecidos, mas sistematicamente esquecidos a cada nova bolha. Não é difícil compreender a dificuldade enfrentada pelos que se aventuram a questioná-las. Nada mais aborrecido do que profetas do apocalipse a proclamar que o fim do mundo está próximo, enquanto todos ganham.
Em plena crise, logo após o estouro da bolha, um "cartoon" americano dizia: "País viciado em bolhas busca desesperadamente uma nova bolha para investir". Cômico, porque profundamente verdadeiro. As economias modernas, desde a Revolução Industrial, estão organizadas para crescer e produzir mais. Quando não crescem é por que algo está errado. Para que a produção cresça é preciso que a demanda também cresça. A insuficiência de demanda, o risco de que a falta de demanda interrompa o crescimento é a ameaça subjacente, sempre presente nas modernas economias de mercado.
A alavancagem excessiva, o abuso do crédito, é provavelmente a forma mais evidente de turbinar a demanda. Quase todas as políticas teoricamente questionáveis, mas que resistem, no tempo e em toda parte, ao ataque da racionalidade, podem ser entendidas como tentativas veladas de estimular a demanda. O viés mercantilista exportador, a defesa tarifária do mercado interno, subsídios às exportações também são exemplos de sustentação artificial da demanda.
Ao demonstrar que o gasto público, mesmo quando contratado para abrir e fechar buracos, serviria como motor de arranque para a economia devastada pela recessão, o talento de Keynes encontrou a fórmula para a retomada do crescimento. O gasto público como forma de sustentar a demanda foi a peça-chave da macroeconomia keynesiana, quase hegemônica, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, até o fim dos anos 60. Infelizmente, serviu também para justificar a insaciável vontade de gastar dos governos, ainda que nos momentos mais inoportunos. Nos Estados Unidos, os limites da sustentação artificial da demanda através do gasto público apareceram com o surto inflacionário do início dos anos 70. Nos países menos afeitos à disciplina fiscal, como os da América Latina, mais propensos a juntar a fome (da demagogia) com a vontade de comer (do keynesianismo), as consequências inflacionárias surgiram mais cedo, desde meados dos anos 50.
Como não nos preparamos para uma economia estacionária, seremos obrigados a enfrentar uma parada traumática
O contraponto teórico ao keynesianismo simplório do pós-guerra surgiu do debate acadêmico suscitado pela ameaça da inflação, nos anos 70 e 80. A chamada síntese da Curva de Phillips Expandida, em que o efeito das expectativas de inflação foi incorporado, demonstrava os limites dos gastos públicos como estimuladores da demanda e indutores do crescimento e do emprego. Além da lição keynesiana, do estímulo à demanda para sustentar o crescimento, a formulação de políticas macroeconômicas incorporou a lição monetarista, o uso da taxa de juros para conter os excessos inflacionários. O resultado foi tão positivo que levou à impressão de que nada mais havia a ser entendido em termos de macroeconomia. Tinha-se chegado à síntese teórica que abrira o caminho para a "Grande Moderação", uma nova era, sem recessão nem inflação. Nada mais havia a ser compreendido em termos de condução macroeconômica. Até mesmo o estudo da macroeconomia chegou a ser considerado ultrapassado.
Em grandes linhas, a crise de 2008 está agora em sua quarta fase. Primeiro, houve o estouro da bolha de preços dos ativos, principalmente, mas não exclusivamente, dos imóveis. Na segunda fase, a mais aguda, o sistema financeiro quebrou. Na terceira fase, para evitar o colapso do sistema financeiro, os governos intervieram e assumiram grande parte das dívidas privadas. Agora, na quarta fase, depois de assumir o excesso de dívida privada, os governos estão eles próprios excessivamente endividados.
Até a terceira fase, o processo foi mais ou menos equivalente em todas as economias avançadas. A maneira como as dívidas privadas foram transferidas para o setor público foi, entretanto, diferente nos Estados Unidos e na União Europeia. Enquanto nos Estados Unidos parte significativa das dívidas privadas passou para o Federal Reserve (Fed), na Europa, a ortodoxia do Banco Central (BCE) exigiu que a dívida privada fosse assumida diretamente pelos governos. O trauma da Alemanha, com a hiperinflação pela qual passou nos anos 30, engessou o mandato do BCE, até hoje sem autorização para inchar seu ativo com o excesso de dívida privada. Já o Fed, dirigido por um macroeconomista estudioso dos anos 30, foi agressivo na sua disposição de assumir as dívidas privadas problemáticas.
Há efetivamente uma diferença filosófica, mas a reação audaciosa do Fed seria muito mais perigosa, não fossem os Estados Unidos os emissores da moeda-reserva mundial. A transferência de dívidas privadas diretamente para o governo eleva a dívida pública. Se parte dessa transferência pode ser feita para o balanço do Banco Central, há uma monetização sem contrapartida imediata na dívida pública. A dívida privada que vai para o balanço do Banco Central é monetizada. O espaço para monetizar dívidas, sem pressões inflacionárias imediatas, é muito maior para o emissor da moeda-reserva mundial.
As implicações, como era de se esperar, foram distintas. Nos Estados Unidos, a dívida pública aumentou, mas, por enquanto, a grande preocupação é com o risco de que o excesso de emissão de moeda possa vir a provocar a perda de confiança no dólar. Enquanto a economia americana continuar com excesso de capacidade, a inflação não deverá reaparecer. O risco de uma brusca desvalorização do dólar, pela perda de confiança internacional, poderia ser grande, não fosse a absoluta falta de alternativas. Ao menos a curto prazo, não há substituto à vista. O principal candidato, o euro, sofre as consequências da inoportuna ortodoxia do Banco Central Europeu.
O período de transição será longo, duro e conturbado. A reorganização da economia será compulsória e profunda
Em princípio, o fato de o BCE estar impedido de monetizar parte da dívida privada transferida para o setor público deveria fortalecer o euro. O resultado, entretanto, foi o inverso. A ortodoxia do BCE levou o endividamento público em vários países a níveis percebidos como insustentáveis. É verdade que nos periféricos, principalmente Grécia e Portugal, a situação já era insustentável. A crise só explicitou o problema. O endividamento público dos países europeus, agora até mesmo nos países centrais - como a Itália e a França - atingiu níveis em que seu financiamento se torna problemático.
Por enquanto, a União Europeia como um todo continua com um nível tolerável de dívida consolidada. A solução, um orçamento fiscal europeu, supranacional, encontra forte resistência política, principalmente por parte da Alemanha. A consolidação fiscal, através da criação de uma federação europeia, deveria ter acompanhado, desde o início, a união monetária. Foram justamente as resistências a essa consolidação fiscal que levaram à decisão precipitada de adotar a moeda única, na esperança de que seu sucesso criasse as condições políticas para viabilizá-la. Hoje, até mesmo a união monetária está em xeque.
Enquanto a Europa corre risco de desintegrar-se, a economia americana, apesar de alguns recentes sinais positivos, continua praticamente estagnada. Uma recessão de grandes proporções, equivalente à dos anos 30, foi evitada, mas o crescimento não voltou e o desemprego continua alto. Apesar da agressiva monetização do Fed, a dívida pública também se aproxima do limite tolerável. De todo modo, nos Estados Unidos a atuação do Fed permitiu que se ganhasse tempo. O tempo sempre foi um precioso aliado em economia.
ó existem três formas de eliminar o excesso de endividamento. A primeira é uma recessão suficientemente profunda para quebrar devedores e credores e zerar a pedra. Foi o que ocorreu nos 30. Os custos, como aprendemos, são inaceitáveis. A segunda é a monetização das dívidas. Ganha-se tempo, enquanto a inflação reduz o valor real das dívidas, mas há risco de perda de controle. Como no caso da Alemanha dos anos 30, o resultado pode ser uma hiperinflação, ainda mais devastadora do que a pior das recessões. A terceira é a retomada do crescimento.
Como depressão e inflação têm custos inaceitáveis, só a retomada do crescimento é solução, pois reduz o tamanho relativo das dívidas. O crescimento é o único remédio, mas, diante do endividamento excessivo, como ensinou Keynes, sua retomada depende do estímulo artificial à demanda, via aumento do gasto e do endividamento públicos. Nada mais revelador do círculo vicioso de nossa condição do que a imagem do viciado em busca de uma nova bolha para investir.
É bem possível que hoje, 80 anos depois, o remédio keynesiano não possa mais ser aplicado. Neste início de século XXI, a insistência na saída keynesiana da retomada do crescimento pode ser uma ortodoxia anacrônica, assim como era a defesa do padrão ouro no início do século XX.
Para compreender por quê, "The Great Disruption", livro de Paul Gilding, que acaba de ser publicado, é leitura obrigatória. Guilding é hoje professor do Programa para a Sustentabilidade da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Tem um longo histórico, a vida toda dedicada ao tema. Foi chefe do Greenpeace Internacional, empresário de sucesso e consultor, tanto de pequenas comunidades, como de grandes empresas internacionais. Seu ponto de partida é o fato de que já passamos dos limites físicos do planeta.
Peço uma trégua na impaciência dos que são imediatamente tomados de um misto de tédio e irritação ao pressentir a possibilidade de se defrontarem com mais uma catilinária sobre a defesa do ambiente. Certo, ouço-os dizer, estamos convictos da importância da questão ecológica, mas, diante de uma crise que ameaça transformar-se numa depressão mundial, não é hora de falar de sustentabilidade. Grave engano. Se o remédio do crescimento não estiver mais disponível, é imperativo abrir novos horizontes.
Gilding argumenta que passamos do limite físico do planeta. As evidências são hoje um consenso na comunidade científica. Apesar da vida de ativista, Gilding é a antítese do radical rancoroso. Seu livro faz a melhor exposição organizada, inteligente e ponderada, da evolução das pesquisas, da consciência ecológica e do estágio a que chegamos. Qualidades que em nada aliviam o impacto depressivo do tema. Gilding é, contudo, surpreendentemente otimista na capacidade de adaptação e de superação da humanidade. Não antes de enfrentar uma crise sem precedentes.
Em 2005, num seminário para empresários e executivos na Universidade de Cambridge, Gilding fez uma tentativa de descrever como seria essa crise. Argumentou que os limites ecológicos terão, antes de mais nada, um impacto profundamente desorganizador na economia. A reação e o grau de engajamento da plateia na discussão foi completamente diferente. Enquanto o argumento é sobre a arrogância humana, seu desrespeito pela natureza, a destruição do sistema ecológico e até mesmo o possível fim da humanidade como a conhecemos, a plateia comove-se, mas vai para casa sem que nada mude. Deprimente, distante e aparentemente não há nada que se possa fazer. Melhor esquecer. Mas se, antes de desaparecermos todos, ou quase todos, da face da Terra, tivermos que enfrentar décadas de uma crise econômica de grandes proporções, aí a coisa muda. A ameaça torna-se concreta.
A tese de Gilding é de que a economia mundial será obrigada a parar de crescer. Como não houve uma transição antecipada, como não nos preparamos para uma economia estacionária, seremos obrigados a enfrentar uma parada brusca, profundamente traumática. O momento da tomada de consciência do fim do crescimento e da necessidade de uma profunda reorganização da economia não está longe. Questão de, no máximo, mais uma década. Como é sempre o caso com previsões, é mais fácil acertar a direção do que o momento no tempo. Gilding tem consciência disso e não pretende ser preciso no "timing".
Gilding passou a trabalhar em simulações dessa parada brusca da economia mundial com um colega da Universidade de Cambridge. Jorgen Randers fazia seu doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), no início dos anos 70, quando participou do trabalho pioneiro, "The Limits to Growth", estudo encomendado por um grupo de notáveis, reunidos no chamado Clube de Roma. O relatório foi duramente criticado. À época, dois brasileiros, membros do Clube de Roma, Hélio Jaguaribe e Israel Klabin, chamaram minha atenção para o relatório. Como estudante de economia, considerei-o trabalho típico de engenheiros, em que faltavam preços. Sem preços, qualquer simulação de longo prazo é explosiva. É o sistema de preços que age como sinalizador das decisões e influencia as opções de tecnologias, de investimentos, de oferta e de demanda, para garantir o equilíbrio sistêmico.
Uma avaliação, feita em 2008 por Graham Turner, "A Comparison of The Limits to Growth with Thirty Years of Reality", mostra que as conclusões do relatório foram impressionantemente precisas, tanto em termos conceituais como quantitativos. A supressão dos preços não fez diferença, pois o uso do ecossistema não é precificável sem o arcabouço institucional adequado. Trata-se de mais um caso de "falha de mercados". Apenas mais dramático. O caso dos "bens públicos" - bens para os quais não há custo para o consumo individual, mas há um custo coletivo - é o exemplo clássico da falha de mercados.
Diante da falha do sistema de preços e da incapacidade de tomarmos medidas preventivas, chegamos ao limite sistêmico. As múltiplas dimensões desse limite estão todas interligadas. Ao romper-se uma delas, o processo se acelera e aumenta a probabilidade de que outras também venham a ser rompidas. Atingimos o limite físico do planeta. Para evitar uma catástrofe de grandes proporções, seremos obrigados a tomar medidas de emergência, extremamente duras, como o estabelecimento de cotas. Quando falha o sistema de preços, alguma forma de racionamento se torna imperativa. Seremos obrigados a reconhecer o que, apesar das evidências, nos recusamos a ver: não há como viabilizar sete bilhões de pessoas, com o padrão de consumo e as aspirações do mundo contemporâneo, nos limites físicos da Terra.
O período de transição será longo, duro e conturbado. A reorganização da economia será compulsória e profunda. Indústrias inteiras vão desaparecer. As de carvão, petróleo e gás, muito antes do fim das reservas conhecidas, serão as primeiras. A Idade da Pedra também não acabou por falta de pedras.
O otimismo de Gilding é quanto ao resultado final desse processo. O fim do autoengano, o reconhecimento dos limites do possível, provocará extraordinárias inovações tecnológicas. Uma nova referência do que significa melhorar de vida viabilizará, permanentemente, um número muito superior de pessoas na Terra. Uma população 40 vezes superior à de todos os tempos, até o início da Revolução Industrial, só será possível, entretanto, com o fim do crescimento econômico como o conhecemos. O crescimento baseado na expansão do consumo de bens materiais está no seu capítulo final.
É difícil contestar a lógica e as evidências. Pode-se discutir o "timing", mas não há mais como pretender que a economia mundial poderá continuar a crescer. Sem crescimento, como vimos, não há como digerir o excesso de endividamento que hoje paralisa as economias dos países mais avançados. O crescimento das economias periféricas, liderado pela China, é a esperança de que o excesso de endividamento das economias centrais possa ser digerido, mas o crescimento recente da China tem todas as características de mais uma bolha. A eventual parada súbita da economia chinesa seria a pá de cal na esperança de uma saída harmoniosa para o impasse em que a economia mundial se encontra.
A crise de 2008, que insiste em não terminar, pode não ser apenas mais uma crise cíclica das economias modernas, sempre ameaçadas pela insuficiência de demanda. É possível que o prazo de validade do remédio keynesiano tenha se esgotado. Não há mais como contar com o crescimento da demanda de bens materiais para crescer. O crescimento pode não ser mais a opção de saída para a crise.
Em momento nenhum, entretanto, essa possibilidade é examinada no desenho das alternativas. O limite físico do ecossistema pode ter sido atingido, ou estar muito próximo, mas o mecanismo psicológico de autoengano, de negação dos fatos, segue inabalável. O otimismo de Gilding quanto ao longo prazo é reconfortante, mas o fim do crescimento exige uma nova abordagem para a superação de uma crise que, tudo indica, será longa. Infelizmente, não há ainda nem sinal de que esta nova abordagem esteja em gestação.
André Lara Resende é economista





quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Rogoff um Ecoeconomista?

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Não me animaria muito.  Muito estranho: Kenneth Rogoff é um dos caras mais lidos sobre a crise na Europa e nos seus textos, que eu leio muito também pois são muito bons do ponto de vista de análise, vemos forte a litania do crescimento como solução dessa crise final das economias (e não do capitalismo, detesto definição com sistemas econômicos feitos da mesma matéria com diferenças insignificantes). Sempre achei Rogoff seco do ponto de vista de economia ecológica ou de uma visão sistêmica, assim como Krugman, Stiglitz e tantos outros.

A Comissão Stiglitz foi um tremendo fracasso e essa tentativa de olhar outras dimensões são apenas maneiras diferentes de fazer a mesma coisa, ou seja, quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem as mesmas. Stiglitz descartou a metodologia da pegada ecológica por sua visão contrária ao comércio global. Mas essa é uma das maiores razões do fim da vida na Terra e do colapso do nosso planeta, ou seja, isso diz muito para todos nós.

Embora um bom analista em economia tradicional, o artigo dele abaixo decepciona  muito, pois o principal ponto passou despercebido: não importa quão rico e próspero um país se tornou, como o crescimento econômico é um fim em si mesmo, sem crescimento, toda essa prosperidade não tem sustentação alguma, além de não ter, como sabemos, nenhuma sustentabilidade do ponto de vista planetário. 

Vivemos um dos sistemas mais surreais e absurdos do universo.

Hugo

Rethinking the Growth Imperative

Kenneth Rogoff

CAMBRIDGE – Modern macroeconomics often seems to treat rapid and stable economic growth as the be-all and end-all of policy. That message is echoed in political debates, central-bank boardrooms, and front-page headlines. But does it really make sense to take growth as the main social objective in perpetuity, as economics textbooks implicitly assume?
Certainly, many critiques of standard economic statistics have argued for broader measures of national welfare, such as life expectancy at birth, literacy, etc. Such appraisals include the United Nations Human Development Report, and, more recently, the French-sponsored Commission on the Measurement of Economic Performance and Social Progress, led by the economists Joseph Stiglitz, Amartya Sen, and Jean-Paul Fitoussi.
But there might be a problem even deeper than statistical narrowness: the failure of modern growth theory to emphasize adequately that people are fundamentally social creatures. They evaluate their welfare based on what they see around them, not just on some absolute standard.
The economist Richard Easterlin famously observed that surveys of “happiness” show surprisingly little evolution in the decades after World War II, despite significant trend income growth. Needless to say, Easterlin’s result seems less plausible for very poor countries, where rapidly rising incomes often allow societies to enjoy large life improvements, which presumably strongly correlate with any reasonable measure of overall well-being.
In advanced economies, however, benchmarking behavior is almost surely an important factor in how people assess their own well-being. If so, generalized income growth might well raise such assessments at a much slower pace than one might expect from looking at how a rise in an individual’s income relative to others affects her welfare. And, on a related note, benchmarking behavior may well imply a different calculus of the tradeoffs between growth and other economic challenges, such as environmental degradation, than conventional growth models suggest.
To be fair, a small but significant literature recognizes that individuals draw heavily on historical or social benchmarks in their economic choices and thinking. Unfortunately, these models tend to be difficult to manipulate, estimate, or interpret. As a result, they tend to be employed mainly in very specialized contexts, such as efforts to explain the so-called “equity premium puzzle” (the empirical observation that over long periods, equities yield a higher return than bonds).
There is a certain absurdity to the obsession with maximizing long-term average income growth in perpetuity, to the neglect of other risks and considerations. Consider a simple thought experiment. Imagine that per capita national income (or some broader measure of welfare) is set to rise by 1% per year over the next couple of centuries. This is roughly the trend per capita growth rate in the advanced world in recent years. With annual income growth of 1%, a generation born 70 years from now will enjoy roughly double today’s average income. Over two centuries, income will grow eight-fold.
Now suppose that we lived in a much faster-growing economy, with per capitaincome rising at 2% annually. In that case, per capita income would double after only 35 years, and an eight-fold increase would take only a century.
Finally, ask yourself how much you really care if it takes 100, 200, or even 1,000 years for welfare to increase eight-fold. Wouldn’t it make more sense to worry about the long-term sustainability and durability of global growth? Wouldn’t it make more sense to worry whether conflict or global warming might produce a catastrophe that derails society for centuries or more?
Even if one thinks narrowly about one’s own descendants, presumably one hopes that they will be thriving in, and making a positive contribution to, their future society. Assuming that they are significantly better off than one’s own generation, how important is their absolute level of income?
Perhaps a deeper rationale underlying the growth imperative in many countries stems from concerns about national prestige and national security. In his influential 1989 book The Rise and Fall of the Great Powers, the historian Paul Kennedy concluded that, over the long run, a country’s wealth and productive power, relative to that of its contemporaries, is the essential determinant of its global status.
Kennedy focused particularly on military power, but, in today’s world, successful economies enjoy status along many dimensions, and policymakers everywhere are legitimately concerned about national economic ranking. An economic race for global power is certainly an understandable rationale for focusing on long-term growth, but if such competition is really a central justification for this focus, then we need to re-examine standard macroeconomic models, which ignore this issue entirely.
Of course, in the real world, countries rightly consider long-term growth to be integral to their national security and global status. Highly indebted countries, a group that nowadays includes most of the advanced economies, need growth to help them to dig themselves out. But, as a long-term proposition, the case for focusing on trend growth is not as encompassing as many policymakers and economic theorists would have one believe.
In a period of great economic uncertainty, it may seem inappropriate to question the growth imperative. But, then again, perhaps a crisis is exactly the occasion to rethink the longer-term goals of global economic policy.

Kenneth Rogoff is Professor of Economics and Public Policy at Harvard University, and was formerly chief economist at the IMF.
Copyright: Project Syndicate, 2012.
www.project-syndicate.org

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Maligna bancada ruralista

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Maligna bancada ruralista


qui, 2011-12-29 15:00 — Michelle

Deputados e senadores ligados ao agronegócio empenham-se em demonstrar ao distinto público que é na legislação ambiental que se encontra boa parte dos males do campo brasileiro

Marcio Astrini

Há doze anos, Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, usou esse título em um artigo que desvendava para seus leitores as artimanhas da bancada ruralista no Congresso para assaltar os cofres do Tesouro e chantagear o governo. O título ainda caberia muito bem para descrever a carga ruralista contra o Código Florestal.
Deputados e senadores ligados ao agronegócio empenham-se em demonstrar ao distinto público que é na legislação ambiental que se encontra boa parte dos males do campo brasileiro. É por causa dela, insistem, que as áreas de plantio no Brasil vão rarear e o preço dos alimentos vai subir. Puro palanque. No mundo real, as coisas são diferentes.
Para o IBGE, há quase 5 milhões de analfabetos no campo. A agricultura familiar, responsável pela produção de cerca de 70% dos alimentos básicos que vão à mesa dos brasileiros recebe menos de 15% do total de crédito agrícola do país e as políticas de reforma agrária estão longe de serem implementadas.
E da porteira pra fora os problemas não são menores. No Estado do MT, um dos maiores produtores de grãos do país, o prejuízo devido à precariedade da infraestrutura para escoar a safra chega a 30% do volume bruto. No Brasil, pelo mesmo motivo, estima-se que as perdas cheguem próximas à casa dos R$ 4 bi ao ano.
Além disso, o mau uso da terra, aliado à falta de transferência de tecnologia, principalmente para o pequeno agricultor, compõe um cenário desolador. Para a Embrapa, poderíamos dobrar nossa produção de alimentos utilizando melhor o solo, principalmente na vastidão de terras ocupadas por pastos. Comprovando isso, uma pesquisa realizada pelo professor Gerd Sparovek (ESALQ/USP) apontou que o total de terras de média e alta produtividade que se encontram subutilizadas por pastagens chegam à casa dos 61 milhões de hectares, quase que o total da área atualmente utilizada pela agricultura brasileira. Como se vê, não é no Código Florestal que residem nem os principais problemas nem as soluções para quem semeia a terra no Brasil.
A implementação de uma política agrícola moderna, que levasse a preservação ambiental à conta de parceiro estratégico, fortaleceria a competitividade do setor agropecuário, aumentando inclusive a lucratividade por hectare e provocando uma efetiva frente de distribuição de renda ao pequeno agricultor, fixando-o, com dignidade, no campo. E, de quebra, sem a necessidade de desmatar mais nenhum palmo de terra.
Como qualquer lei, a das florestas também pode ser aprimorada. Mas ao invés de se construir um caminho para alçar a natureza ao posto de diferencial competitivo do campo brasileiro, o que se fez foi um texto que só tem olhos para o passado, de forma a reproduzir seus erros, agravar as injustiças no meio rural e facilitar a vida de quem lucra com o desmatamento e sempre apostou na impunidade.
O conteúdo da proposta ruralista para a alteração do Código trata, por exemplo, a tomada de terra secular do sul e o agricultor, que pelo Estado foi levado a desbravar a Amazônia na década de 1950, da mesma forma que o desmatador recente. Equivale quem ilegalmente tombou mata para o acúmulo fundiário ao produtor que investe em produtividade ou aquele que da terra faz seu ganha pão. Perfilou o crime e o justo e não separou o social do imoral. A obra ruralista nivelou o setor pela parte mais rasa.
Como resultado, além de esvaziar a agenda do que realmente é importante, ainda emperrou as justas mudanças na lei florestal que poderiam ser rapidamente efetivadas para atender a quem tem de fato esse direito, ou àqueles que, por sua condição social, merecem tratamento diferenciado na lei, como a agricultura familiar. Escolheram o caminho do autobenefício político e econômico.
Em 1999, em seu artigo, o ex-ministro Maílson ainda referiu-se aos ruralistas como tendo força e irresponsabilidade suficientes para aprovar seus projetos. Infelizmente, a análise continua atual. É preciso reagir.

Marcio Astrini é integrante da campanha da Amazônia do Greenpeace Brasil.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Como destruir a Amazônia sem sair de casa!

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Como destruir a Amazônia sem sair de casa

*João Meirelles Filho

Se você acha que a culpa do desmatamento é do governo, você tem razão. Claro que é culpa da inoperância dos órgãos públicos, que não conseguem controlar desmatamentos, queimadas, e nem a lenha que garante o seu pãozinho de cada dia nas padarias da região e de boa parte do Brasil. Será que a culpa é só daqueles a quem você emprestou seu voto e sua confiança, daqueles a quem você passou procuração para decidir, em seu nome, o que você consome nos super-mercados? Ou será este um problema da Nação a que você e eu pertencemos, ou fingimos pertencer?
Como você se sente diante do circo anual quando o chefe da Nação esbraveja ao ver as taxas de desmatamento fora de controle e solta decretos a torto e a direito, esperando que sejam cumpridos? Você acha que seus chefes realmente levam a sério este assunto? O que eles pensam quando servem seu George (o Bush) um churrasco para ele na Granja do Torto?
Até quando você vai acreditar nesta novela? Nesta conversa de que medir desmatamento e queimadas serve para alguma coisa? Só serve para dizer o que você já sabe muito bem: a coisa vai muito mal, cada vez pior. Afinal, medir desmatamento e queimada é medir conseqüência e não causa. É como medir a febre do doente, certificar-se que ele tem mesmo febre e, ir dormir, ir fazer churrasco, nada fazer, esperando, que, se tudo der certo, um dia, o doente, se sobreviver, irá melhorar.
É assim que age o governo que você elegeu, porque, você, cidadão brasileiro, não liga a mínima para as causas que provocam desmatamento e queimada. Ou melhor, não está muito interessado em saber que quem causa a destruição da Amazônia é você mesmo, ao comer o seu bifinho de cada dia, o seu churrasquinho de fim de semana, o seu pãozinho de cada dia.
O que efetivamente causa desmatamento? Na Amazônia a resposta é muito clara: a pecuária bovina extensiva, que responde por mais de 3/4 do estrago, e bem depois, muito depois, vem as outras causas, a soja (que cresce rapidamente), a retirada de madeira (que financia as novas derrubadas e pastagens), e muitas outras que, claro, juntas, são terrivelmente devastadoras. Aliás, esta é a história do Brasil. A história da pata do boi. Assim, seus tataravôs engoliram a Mata Atlântica e a Caatinga, e seus pais e você devoram o Cerrado e a Amazônia.
Só se cria boi porque há consumidor de carne. O pecuarista só existe porque ganha mais dinheiro com o boi. Se outra coisa (legal) fosse mais lucrativa, mudaria de ramo. E o pecuarista só cria boi porque há cada vez mais consumidor querendo comer carne, carne barata.
Quem consome a carne da Amazônia é tanto quem mora na região (menos de 10% da produção), como os brasileiros das outras regiões (mais de 80%). A participação das exportações ainda é pequena, inferior a 10%, mesmo se considerar os 600 mil bois vivos que despachamos, sem pagar impostos, para a desabastecida Venezuela e o violento Líbano em guerra.
Hoje, na Amazônia, é possível produzir carne muito barata porque o alto preço social e ambiental não são considerados. O pecuarista raciocina: por que se preocupar em conservar as matas, as águas, as populações tradicionais e as milenares culturas? Por que seguir a lei trabalhista, pagar impostos, legalizar as terras, se não há fiscalização?
O Brasil decidiu (e você participa desta decisão como eleitor e consumidor) transferir 1/3 de seu rebanho para a Amazônia. Na década de 1.960 eram 1 milhão de bois na região, hoje, menos de meio século depois, são 75 milhões. Mais que em toda a Europa! Há muita gente envolvida, não são apenas aqueles 21 mil médios e grandes pecuaristas (com propriedades acima de 500 hectares). Há também 400 mil pequenos pecuaristas, em sua maior parte economicamente inviáveis.
Resultado: em menos de 40 anos, somente com a pecuária, destruímos mais de 70 milhões de hectares do mais complexo e desconhecido conjunto de florestas tropicais do Planeta. É pouco, você dirá, menos de 20% da região, ou, se preferir, meros 8% do território do Brasil.
No entanto, esta superfície é superior à soma das áreas do estado do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro somados. Destruídos. Para que? Para você comer picanha, picadinho e croquete mais baratos. Será que alguém realmente se beneficiou com isto? Será que os filhos dos pecuaristas realmente terão uma vida melhor porque estão na Amazônia desmatada? Dificilmente. A pecuária não consegue garantir nem a rentabilidade de uma aplicação trivial em um banco, como a poupança ou um CDB. É o pior negócioque existe, só sobrevive porque é ilegal.
De cada três bifinhos que você come, um vem da Amazônia. Você não pergunta para o seu Zé açougueiro nem para o seu Diniz do Pão de Açúcar ou para o presidente do Carrefour, ou para outro dono de supermercado de onde vem a carne. Você também não pergunta de onde vem a soja, o arroz, e tantos outros produtos. Enfim, como consumidor você sabe muito pouco sobre o que você consome, qual o seu impacto no planeta, quantos quilos de carbono, de água, de suor foram gastos para produzir o seu luxo do momento. Seu fornecedor também não se interessa por educá-lo, informá-lo, orientá-lo. Para ele responsabilidade social é comprar meia dúzia de cestinhas e docinhos de comunidades “em alto risco social” e ganhar comenda e prêmio de associações empresariais.
E se você efetivamente perguntasse ao dono do estabelecimento? E se você fosse às últimas conseqüências, abandonasse o produto na prateleira? E se, de agora em diante, você fosse 100% coerente em relação a sua responsabilidade como cidadão, cidadão comedor das Amazônias? Das Matas Atlânticas? Você deixaria de comprar a carne que vem com gosto de Amazônia queimada, devastada e escravizada? A carne que saiu do norte de Mato Grosso, do sul do Pará, do Marajó, do centro de Rondônia, do sul do Acre e do Amazonas? Você deixaria de comer a Amazônia? Você seria capaz de abandonar seu antigo fornecedor de alimentos se ele não levasse a sério a sua pergunta: de onde vem esta carne? Ou melhor, esta carne vem da Amazônia?
Se sua resposta é: tanto faz, então sugiro que desligue a televisão, vá curtir o seu quente verão de aquecimento global e tome tudo isto como conversa para boi dormir. Se, entretanto, achar que vale a pena seguir adiante, então, tome uma atitude. Pilote com mais atenção o seu carrinho de compras. A cada passo que você dá no supermercado, é você quem decide o futuro do planeta (e não o dono do reluzente estabelecimento, ou o diretor de marketing da empresa, ou o gênio da agência de propaganda que ainda insiste em usar crianças ou em desrespeitar as mulheres para vender mais).
Se você quer entregar algo da Amazônia a você mesmo, ou a seus descendentes, deixe este olhar bovino de lado, abandone seu comportamento de consumidor passivo. O mundo todo já percebeu que o Brasil está transformando a Amazônia em um imenso curral. É isto que você quer? Você acha que o mundo vai mesmo ficar de braços cruzados vendo o Brasil fazer churrasquinho da Amazônia? Pois então, vamos agir, enquanto é tempo, antes que sejamos obrigados, envergonhados, a sofrer sanções internacionais hoje inimagináveis. Vamos enviar o boi de volta para o zoológico e para o presépio, de onde jamais deveria ter saído.

João Meirelles Filho nasceu em São Paulo e mudou-se para Belém há quatro anos. É empreendedor social, autor do “ Livro de Ouro da Amazônia” (Ediouro, 2004) e dirige o 
Instituto Peabiru. Pertence à terceira geração de uma das mais prósperas famílias de pecuaristas do país.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Troca de idéias interessante: Previsibilidade e futuro incerto

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Primeira missiva:

Será que alguém já se deu o trabalho de calcular, retrospectivamente, a "taxa de acerto" de algumas previsões?

Desconfio que para algumas, especialmente as dos economistas, uma tal taxa, se calculada, estaria bastante próxima do zero...

Quem sabe isso não estaria também em boa parte decorrente do fato que os economistas, em sua maioria, obstinam-se a aplicar modelos mecanicistas relativamente simples, que com sorte e exceções às vezes funcionam para realidades fisicas o menos remotas possiveis das condições de experiencias de laboratorio, às realidades sociais, nas quais os fatores humanos, biologicos e do pensamento, complexificam irremediavelmente o quadro dos modelos, tornando as hipoteses de racionalidade dos comportamentos individuais bastante frageis, resultando em margens muito amplas de imprevisibilidade.

Pelo jeito, com tais presmissas, a certeza do erro (que haverà erro) parece ser a unica coisa realmente previsivel com certeza (ou pelo menos com uma margem de erro aceitavel)!

Falar de "erro" do modelo de previsão nestas condições parece pleonastico... precisaria jogar o modelo fora e adotar outro!

E.

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Segunda missiva:

Com a devida vênia e a (in)certeza de poder estar dizendo besteira, pergunto (baseado na jurisprudência de que perguntar não ofende): como ficam os ciclos econômicos, independente da duração? A tendência (trend) conteria elementos para previsão nos curto, médio e longo prazos? Claro que no último cenário (longo prazo) estaremos todos mortos, já dizia o poeta. 
F.
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Terceira missiva:

Isso dizia Keynes, com sua visão estática individualista e que vitimou nossa sociedade: no longo prazo todos estaremos mortos.  Delfim Netto foi atrás, quando Ricardo Arnst perguntou a ele no seu livro (O que os economistas pensam sobre sustentabilidade que, a propósito, nem sabia que os economistas pensavam...).  Ricardo perguntou: você não tem medo do que pode acontecer ao planeta e Delfim respondeu: "sou muito velho e não estarei aqui para viver isso". Além de Keynes temos outros cientistas do INPA que podem nos dizer com todas as letras que "sem a Amazônia todos estaremos mortos."  Outro poeta (Roegen) lembrou que do ponto de vista da nossa espécie animal somos praticamente imortais.  O nosso fim coletivo está ligado ao nosso individualismo, a falta de solidariedade da nossa espécie animal, entre nossos pares e com os demais seres vivos e ecossistemas (por que não ser carnívoros se não somos nós que entramos no corredor da morte e sofrimento extremo ao longo da vida com um sistema nervoso central?).
Outro poeta (Laszlos) também disse que o futuro não foi feito para ser previsto, mas para ser criado. Na cultura do bilionário e da celebridade que veste a roupa do bilionário para os lavados cerebrais (bilhões de pessoas) isso não faz o menor sentido. Vamos todos tomar Coca-Cola até morrer.
Os economistas são cassandras às avessas.  Apolo apaixonado pela Cassandra deu a ela o poder de prever o futuro, até o dia que ela se recusou em deitar com ele novamente. Nesse dia, ele a amaldiçoou e ela continuou prevendo o futuro, no entanto, ninguém iria mais acreditar nela.  Os economistas são cassandras às avessas, porque não conseguem prever o futuro, mas todos acreditam neles.
Por pura ideologia, claro, e interesse próprio. A crise de 2008 até hoje é uma crise final que vai terminar em colapso das economias e guerras, mesmo antes do colapso planetário. Muito simples: o crescimento não será restaurado, crescimento é um fim em si mesmo, não tem base de sustentação - embora também não tenha sustentabilidade socioambiental.
Incrível. Estamos vivendo o pior modelo econômico na mais alta potência - sem nomes, pois todos - comunismo, socialismo, ditadura, capitalismo - são idênticos e baseados em fluxos e nas falsas suposições que a sociedade pode ser extremamente desigual e que o planeta é inesgotável, inclusive na quantidade de água, apesar de serem claramente finitos.
O futuro que estamos criando no dia a dia é o do colapso total. Até agora não há nada que tenha alterado isso. Ao contrário.
 Hugo Penteado
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Quarta missiva:

Prezado  Hugo
Perfeito.  Estamos  numa numa  era caracterizada  pelo fim  das  certezas e  emergência de novos paradigmas - ("The end of certainty- Time,  Chaos , and the new  laws  of Nature "  , 1996, Ilya  Prigogine) Prigogine coloca  bem a questão  do  fim do determinismo e  do reducionismo, como praticado-acreditado  até pouco, e naturalmene , ressalta o papel do caos  determinista,  a natureza  dos sistemas  complexos, a questão  da "imprevisibilidade  determinista" ,  resultante  de,  ou que incorpora as propriedades dos sistemas dinâmicos não -lineares. Recentemente ,  fiquei atento  (  também)  ao conceito e  "propriedades "  dos  "wicked problems" -( conhece o conceito, pois preciso de  ajuda?). Nestes  aspectos  a  questão principal  não é  bem o  "erro" - Nosso tranquilo sistema  solar não é  rigorosamente  estável.  Na meteorolgia ,  "errar"  não é  humano :  é parte  do problema. Erro foi Einstein afirmar  que  o tempo  é  uma ilusão. Errar  é  humano.
E.
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Última missiva

Bom dia E.,

Não conheço o conceito de "wicked problems".

Acho que nosso maior problema não é o fim do determinismo, mas o risco de extinção por conta da nossa mais absoluta inconsciência e individualismo materializada em hábitos pavorosos no dia a dia feito por todos sem exceção. O culto do materialismo inconsequente em massa não é uma atitude isolada. Nem nosso corpo e nossa saúde respeitamos, não há nada mais assustador como participar da nossa contaminação diária com alimentos que não nutrem e contaminam e remédios que se curassem não se chamariam remédios, mas curádios. Nem nos importamos com o processo todo, como se ele fosse inexistente, invisível, imaterial, mas não é.

Passei 18 dias numa casa no campo mas imerso no sistema de compras lidando com quantidades tão gigantescas e inescapáveis de lixo, onde a coleta e entrega era feita por mim.  Alguém aqui nessa lista já lidou com lixo acumulado por 18 dias para um conjunto de cinco pessoas?  Seria um bom exercício para todos: ao invés de descartar o lixo diariamente, acumulem nas suas casas e residências o lixo por 15 dias.  Reciclagem é hoje mais um de uma série explosiva de mitos e mentiras contadas à nossa volta (energia limpa é outro mito fantástico).

Ninguém se opõe a essa corrente destrutiva.

Se nem resolvemos o problema tão básico do lixo - entre tantos - de que adiantará teorias estratosféricas? Está na hora de fazermos uso do nosso lado prático, chamar cientistas para mostrar processos totalmente possíveis para reduzirmos via planejamento sério e efeito o desperdício diário gigante de matéria e energia e nossa pegada ecológica. Tudo isso precisa ser feito na prática, no dia a dia e não em teorias sem efetividade alguma.  Enfim, não dá tempo de criar teorias muito mirabolantes, temos que lutar contra o processo de decisões diárias contra à nossa revelia que não passa da última "rave" capitalista do fim do mundo. Como deixamos acontecer - e deixamos - decisões como transposição do rio São Francisco, Belo Monte, Madeira, Três Gargantas, Trem Bala, estaleiros, portos, Copa do Mundo e Olimpíadas num país em que as escolas não oferecem nada aos jovens? E por aí vai. Como mudar na prática a vida de milhões de refugiados diários do sistema e mudar tudo isso, dando liberdade, poder, autonomia, possibilidades, ou seja, tudo que foi retirado da vida de praticamente todos?  Por que não se discutem alternativas a tudo isso, como se houvesse só uma trilha a ser seguida, a da destruição total da vida desse planeta que se encontra já no seu maior processo de extinção em massa dos últimos 65 milhões de anos e é muita ingenuidade achar que essa extinção jamais irá se voltar contra os causadores, ou seja, nós.  Do ponto de vista da vida, somos todos um.

Precisamos sair da teoria e ir para a prática com questões básicas para todos, mas importantíssimas para nosso futuro, que não pode ficar preso apenas numa intelectualidade inefetiva.

2012 pode ser ou não o fim do mundo, mas será mais um ano numa série na mesma direção absurda, sem que nada seja feito.

Alguém conhece um inventário de anomalias climáticas dos últimos anos?  A estabilidade climática dos últimos tempos é a única razão pela qual estamos vivos hoje, sem ela não quero nem imaginar o que será da nossa espécie animal.

Abraço

Hugo

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Paul McCartney tells Dalai Lama he’s wrong to eat meat

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Isso  é praticamente impossível, mas se me fosse dito que para sobreviver eu precisaria voltar a comer carne, mesmo assim eu não aceitaria a idéia.

Mas é impossível, por razões de saúde a pessoa deveria não comer carne, justamente o oposto.

Bom enfim, o mundo está mesmo cheio de médicos burros... infelizmente.

Hugo




Paul McCartney tells Dalai Lama he’s wrong to eat meat

 

Paul McCartney tells Dalai Lama he’s wrong to eat meat

Paul Mccartney has written a personal letter to His Holiness The Dalai Lama, the spiritual and political leader of Tibetan Buddhism, urging him not to eat meat.

Buddhists believe in reincarnation and in compassion for all living beings. One of the five precepts of Buddhism is “do not kill,” which is explained “One must not deliberately kill any living creatures, either by committing the act oneself, instructing others to kill, or approving of or participating in act of killing.” Buddhism does allow for personal choice and exceptions when it comes to the precepts, and they are not set in stone, but many Buddhists interpret that precept as a call to vegetarianism.

The Dalai Lama, however, continues to eat meat at the insistence of his doctors.

Paul Mccartney told him that they’re wrong and he doesn’t need meat, which inevitably causes suffering.

The Beatles legend wrote to the spiritual leader to point out that meat-eaters contribute to the suffering of animals, contradicting his statement that Buddhists “believe in not causing suffering to any sentient beings”.

And the Hey Jude hitmaker even disagreed when the Dalai Lama insisted he ate meat for health reasons.

In an interview with Prospect magazine, MCCartney says, “I found out he was not a vegetarian, so I wrote to him saying ‘Forgive me for pointing this out, but if you eat animals then there is some suffering somewhere along the line’. “He replied saying that his doctors had told him he needed it, so I wrote back saying they were wrong.”



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