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sexta-feira, 13 de março de 2009

Crise significa oportunidade de mudança, mas até agora significa mais do mesmo

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A economia depende do planeta em primeiro lugar e das pessoas em segundo lugar. Embora isso seja uma verdade irrefutável, nosso sistema econômico resolveu inverter a relação: as pessoas dependem da economia para viver. Essa inversão teve consequências extraordinariamente nefastas, evidenciadas na crise que ora vivemos. Os Estados Unidos colocaram todo seu motor de crescimento em cima das famílias americanas que começaram a se endividar sem correlação alguma com seus ganhos de renda e de trabalho, nem com a sua devida importância social. O consumo insustentável das famílias não foi a única base de sustentação, pois durante esse período, intensificou-se o gasto com armamentos, uma política keynesiana para geração de empregos. O problema de desenvolver armas é quando se desenvolve tecnologia para destruir e matar, não necessariamente conseguirá dar uma aplicação pacífica a esta tecnologia (bom isso é contra um dos principais argumentos dos neokeynesianos armamentistas).

Os Estados Unidos precisam gerar 3.000.000 de postos de trabalho todos os anos só para acomodar o crescimento populacional e não tem conseguido fazer isso há décadas. O emprego total das 500 maiores corporações já caiu acumuladamente milhões de postos desde o final dos anos 90 e cai em termos absolutos ano a ano. A finalidade do crescimento não é emprego, isso é uma reação tautológica do ciclo: aparece timidamente quando pode e desaparece rapidamente quando não se faz mais necessário. Custo disso: 28 milhões de mendigos nos Estados Unidos, população tradicional. O país mais rico do mundo com essa estatística mostra que é hora de tentar o novo. Com tanta demanda social, a produção de armamentos é uma peça-chave para não deixar tanta gente marginalizada no sistema. O problema é que você incentiva o inimigo a fazer o mesmo (para se ter uma idéia da insanidade militar planetária, ogivas de plutônio têm que ser reprocessadas a cada 10 anos aproximadamente, use ou não, terá que re-confeccionar seu brinquedinho). Essa parte da crise ninguém menciona: crise de modelo de emprego, crise de modelo de relações entre países, crise militar.

Ganhar mais para essa sociedade ter mais bens e serviços não passou necessariamente por uma relação meritória e sim apenas pelo acesso a uma exorbitante oferta de crédito sem critério algum. É o fim do mérito, todos valem a mesma coisa (ou seja, nada) e ninguém investe no seu próprio desenvolvimento (mental, intelectual, espiritual, habilidades e aptidões). É nesse ponto que começa o colapso e é quando se descobre tardiamente que a economia depende das pessoas e não o inverso. A falência das famílias americanas, norteada por um consumo irresistível, financiado por dívida, lastreado por ativos e riquezas intangíveis e irrealizáveis, criou um sistema de ganhos que se mostrava insustentável desde a sua largada e essa crise era aguardada já há muitos anos e o único exercício de imaginação que nos restava fazer era: quando? Estamos repetindo a história, segundo Ortega Y Gasset a crise de Roma começou internamente e é um ledo engano achar que foi invadida: os romanos se barbarizaram!

O mais assustador de tudo isso é acharem que a solução está nas mesmas causas desse problema: mais consumo, mais crédito, mais investimentos em infraestrutura, como se a economia pudesse ser maior que o planeta ou como se fôssemos deuses. Devíamos pensar como os epicuristas: ou os deuses não existem ou eles não se importam conosco. Usar o mesmo remédio que causou a doença é um pecado mortal, avisado por vários autores conscientes, como Noam Chomsky, Stephen Roach, Max-Neef, Herman Daly, Roegen, etc. Os desavisados de plantão pedem para o governo apertar as mesmas teclas de destruição dos valores humanos e da capacidade do planeta sustentar a vida na Terra. Isso só produz mais famílias que não são sustentáveis financeiramente e não são capazes de sustentar os ganhos econômicos de curto prazo observados nos últimos anos de euforia. A falta de sustentação desse sistema não se restringia, portanto, apenas à questão ambiental, planetária e social. Era também financeira. O pior que agora tudo isso pode ser resolvido com armamentos. Nada mal, o encouraçado alemão Bismark gerou 2.000 empregos em plena crise alemã. Duzentas horas de operação e quase 2.000 viúvas, coisas de guerra. Pelo menos, 2.000 desempregados a menos.

Essa crise é seríssima, profunda, sem solução e ainda não atingimos a falta de sustentação maior que será a crise planetária que iremos viver logo mais, por conta da contínua antropomorfização do planeta, como se isso fosse possível, como se fôssemos deuses, como se nós ou alguns de nós estivéssemos imunes às regras bioplanetárias. Não estamos, nada será mais democrático do que a crise planetária causada pela contínua e incansável antropomorfização da Terra, estimulada pela crença estúpida no crescimento econômico baseado em investimentos em infraestrutura e exportações, como se a economia pudesse ser maior que o planeta e como se as insuficiências do nosso sistema de preços em reconhecer os danos ecológicos e planetários fossem alguma garantia que eles não existissem. Julien Simon tolamente acreditava nisso e passamos a ser garantidores da Natureza e não o contrário! Estranho, mas para os "otimistas tecnológicos" (cornucopianismo tecnológico) está tudo ok. Pergunta: conseguiremos alternar nosso DNA para viver no lixo e na radiação? Esperamos que sim, afinal estamos diligentemente transformando a Terra numa lixeira conosco dentro e vivos, pelo menos por ora.

Outro aspecto assustador da crise não foi apenas a economia americana estar dependente de famílias falidas, mas o mundo inteiro globalizado rapidamente ter engatado seus vagões nessa massa falida como se isso fosse sinônimo de sucesso e ainda exaltar a necessidade de adotarmos o mesmo modelo de consumo anti-ecológico e suicida do ponto de vista biológico como salvação econômica (de quem?), do contrário, estaríamos fritos. Nós não estamos fritos assim mesmo? Conta-se muito a história de um país cuja população era imensamente miserável e que exportava tudo que produzia, até que em um dia, um desastre natural impediu o escoamento da produção para o exterior e eles se tornaram prósperos, felizes e acima de tudo, com mais equilíbrio. É isso que significa a globalização, além dos custos inimagináveis de emissão de carbono de transporte e de consumo excessivo além da capacidade do planeta suportar, há o desequilíbrio social utilmente ignorado.

A tentativa de resolver o problema agora só irá agravá-los. George Monbiot escreveu no seu blog: dar mais crédito ao canal de consumo entupido de crédito não é justamente aquilo que causou o problema em primeira instância? Na sequência ele sobrevoa sobre as enormes críticas existentes e abafadas no mundo todo sobre a razão de existirem bancos centrais detentores da soberania de emissão de moeda. Nesse caso a discussão é gigante, para não entrar no mérito, vale dar uma olhada nos trabalhos de E. F. Schumacher, que em suma, vai de encontro com a hipertrofia das estruturas globais que se transformaram em monstros sagrados, impossíveis de serem aniquilados, embora sua própria existência possa ter consigo o germe de aniquilação de todos nós.

Em síntese, nenhuma das medidas preconizadas até agora reconhecem a necessidade de mudar o paradigma, de navegar por mares nunca dantes navegados, de fazer uma redução de escalas, de metas, de objetivos, de tecnologias e de ações empresariais, sociais e humanas, de estancar de vez o crescimento exponencial das unidades ambientais, como pessoas, construções, carros e coisas, e de ir numa outra direção que na verdade nunca experimentamos. Por essa razão, todas as iniciativas fracassarão retumbantemente e embora todos digam que nenhuma crise foi insuperável, esse é um exercício de lógica semelhante a dizer: “Até agora, nunca morri, portanto, nunca morrerei.” “Nunca houve uma crise insuperável, portanto nunca haverá uma.” O mesmo vale para a afirmação dos descrentes, como do estatístico Bjorn Lomborg em relação às descobertas assustadoras das ciências da Terra: “Nunca o planeta expulsou a humanidade da Terra, portanto, nunca expulsará.” Será mesmo?

Hugo Penteado
Mestre em Economia pela USP e autor do livro Ecoeconomia – Uma nova Abordagem – 2ª.edição 2008

Eduardo Passeto
Mestre em Planejamento Energético pela UNICAMP

quinta-feira, 12 de março de 2009

Recomendações dos analistas

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É muito comum ouvir em tempos de crise ou de prosperidade indicações dos analistas sobre o que deveria ser feito, seja para manter um quadro bom, seja para reverter um ruim. As medidas são sempre da mesma natureza: manter fluxos de demanda crescentes requer instituições sólidas e agora, no seio dessa crise bancária sem precedentes, há urgência em estabelecer marcos regulatórios que evitem as enormes oscilações causadas pelos mercados financeiros, como disse Ben Bernanke agora pouco. No caso dos países emergentes, antes dessa onda da gastança dos Estados Unidos sem se preocupar com nada, os analistas urgiam os governos para implementarem reformas: previdência, tributária, comércio externo, política, etc. Diziam enfaticamente que sem essas reformas os países do dito Terceiro Mundo não iriam para lugar algum, nem crescer o suficiente. Nos anos recentes de bonança ninguém prestava atenção à falta de reformas que, por exemplo, no caso brasileiro foi marcante. Até porque a última reforma feita aqui, em 2003, no auge do final da crise de 2002, sequer foi regulamentada e desde então quase 200.000 novos servidores públicos foram contratados no regime previdenciário antigo, como se essa reforma nunca tivesse existido. Aquela recomendação ao governo brasileiro não foi seguida, mas quem se importava com isso, se a arrecadação crescia dois dígitos todos os anos, surfando na onda da globalização enriquecida pelos gastos das famílias estadunidenses que, mais tarde, provaram-se falidas e incapazes de sustentar a farra de todos. No final de tudo isso, essas recomendações - privatização, reformas, marcos regulatórios, regras de comércio externo, liberalismo, etc. - parecem que mesmo se fossem implementadas não seriam suficientes para revogar a base precária na qual todo o sistema econômico se assenta: a necessidade de crescer sempre, em variações percentuais de fluxos, como o PIB, fazendo de conta que o planeta é inesgotável e a economia pudesse ser maior que o planeta. Essa necessidade insana justifica qualquer atitude nessa direção, mesmo aquelas que quase causaram o maior desastre global da história da humanidade - se é que isso ainda não está para acontecer. Em suma, a raiz do problema é muito mais profunda, tem a ver com os objetivos que foram escolhidos pelo sistema, as metas, os meios e as decisões que tomamos para continuar nessa mesma rota, sem se preocupar com limites sociais e ambientais inescapáveis. Rota da qual incrivelmente e apesar de tudo ainda não temos a coragem e a capacidade de abandonar, pelo menos enquanto não atingirmos o limite da biosfera planetária atender todas as nossas demandas desnecessárias e irracionais, num sistema de desigualdade social e concentração de riqueza extremas, fato que não causa, pelo menos para a maioria, embaraço algum.

Hugo Penteado

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A Terra é Plana

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Não seja pessimista e não se preocupe, a Terra é Plana

Aqui no Brasil ser pessimista ou preocupado nos dias atuais é um pecado mortal. No mundo inteiro, parece que se você mostra preocupações reais sobre o planeta, sobre a nossa economia doente, a sociedade trucidada, imediatamente você se torna um inimigo do sistema. Essa reação é típica daqueles que defendem o status quo como sendo a única rota possível para todos. Se isso fosse verdade, olhando a forma como transformamos a Terra em uma lixeira e como nossa sociedade e os jovens estão cada vez mais sem oportunidades (de bem estar, de paz, de vida, de saúde, de trabalho), então estamos fritos. Aqueles que estão preocupados com a situação da humanidade não deveriam ser considerados inimigos por quem tivesse um mínimo de bom senso. Os verdadeiros inimigos do sistema não são os que se preocupam, mas sim os que teimam em ignorar as preocupações apesar dos sinais inequívocos de que a situação se deteriorou muito nos últimos 100 anos e que tudo indica só tende a piorar, pois não há, em lugar algum, nenhum sinal de mudança em relação às atitudes que tomamos e que nos criou todos esses problemas agora sistêmicos. No fundo, as pessoas preocupadas com os problemas, identificam as causas e podem achar as soluções, sempre foi assim, mas a resistência em relação ao trabalho dessas pessoas tem sido muito grande. As alegações nada científicas contra uma nova visão para mudar os processos econômicos destrutivos descritos no vídeo "The Story of Stuff" (que pode ser encontrado aqui) ganham força como se fosse possível discutir se é certo ou errado matar ou não matar criançinhas inocentes no Iraque. Bjorn Lomborg é um símbolo desse ataque, um mero estatístico que nunca foi um cientista da Terra conseguiu ganhar um destaque desmerecido, mesmo tendo sido condenado por desonestidade científica. Falar besteira não tem problema, o que importa é falar o que as pessoas querem ouvir.

Ao invés de prestar atenção nos cientistas e nas evidências, adotar um discurso Poliana tem sido melhor aplaudido e acolhido por todos aqueles - que não são poucos - que ainda acreditam na lupa que usam para ver o mundo e ignoram os já bilhões de seres humanos que não tem lupa alguma para dizer o mínimo e são refugiados do sistema. Obama vai ser vítima desse mundo Poliana e em poucos meses iremos ouvir que ele não foi capaz de fazer nada para mudar o destino de uma sociedade inteira, quiçá de uma civilização, dada a enorme influência que os Estados Unidos tem sobre os países. É um karma coletivo, resultado de más decisões feitas durante muito tempo e a conta só chegou agora. Obama não é Deus e apesar de tudo que aconteceu, mesmo assim ele venceu as eleições por uma margem muito pequena e porque a situação econômica dos Estados Unidos é a pior desde a Grande Depressão da década de 30. O mesmo vale para as guerras: pesquisas de opinião pública nos Estados Unidos mostram que a principal razão pela qual hoje são contra a guerra é pelo seu custo excessivo e o fato de terem sido derrotados. Não é porque 1.000.000 de pessoas inocentes foram mortas no Iraque. A mesma reação popular aconteceu na guerra do Vietnam, segundo livro da época de Noam Chomsky. Obama herdou uma sociedade cujo padrão de consumo o planeta só é capaz de sustentar 200 milhões de pessoas, de acordo com a matéria "The Folly of Growth" da revista News Scientist do ano passado que divulgamos nesse mesmo espaço. Para mudar isso, precisaria mesmo ser um Deus; está na hora de cada um mudar, ao invés de esperar um messias no lugar dessa mudança.

O mais surrealista não é existirem pessoas querendo viver com esse padrão de consumo, o mais surrealista é ver os economistas acharem que esse é o modelo certo para um planeta que já mostrou claros sinais que não vai mais manter os seres vivos se continuarmos com essa idéia. Discutir que a economia não pode ser maior que o planeta é uma discussão que significa perda da nossa humanidade, é a mesma perda de tempo ao discutir porque os judeus (ou qualquer outro ser humano com direito a vida) não poderiam nem deveriam ser mortos por Hitler. São discussões que não deveriam nem ter ponto de partida. A discussão hoje que vemos entre a economia tradicional com sua megalomania de crescimento e a dos cientistas da Terra e dos economistas ecológicos não deveria nem existir. É como se hoje ainda os economistas tradicionais acreditassem sem discussão que a Terra é plana, os segundos tentam provar que na verdade a Terra é redonda e embora eles já disponham de fotos de satélite, mapas, viagens espaciais investigativas, os primeiros não aceitam essa versão e trabalham freneticamente em cima do conceito de uma terra plana. Só irão mudar quando for tarde demais para isso.

Hugo Penteado

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Crise e dois pequenos pensamentos

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Crise e dois pequenos pensamentos

A crise é uma prova de que há algo muito errado no sistema econômico, onde o crescimento é um fim em si mesmo e os empregos, única benesse social dele, são tão transitórios quanto todo o resto. Colocar uma economia dependendo de expansão de construção, produção, vendas é achar que essa economia pode ser maior que o planeta e acreditar que a economia não guarda nenhuma relação de dependência com o sistema planetário. Quando alguém vai perceber que o remédio é justamente o veneno que está nos matando a todos?

Os sinais são terríveis do quanto essa crise é séria e deverá ser, como muitos ainda não esperam, prolongada. Estive com um amigo americano e ele disse: "Toda vez que vem uma crise, muitos dizem que é o fim dos tempos e nunca é, outros tempos se sucedem, a crise é superada e pronto." Eu respondi, fazendo uso de um raciocínio de Roegen: "Eu nunca morri, isso significa que eu nunca vou morrer? Embora as crises sempre foram superadas, isso significa que não existe crise insuperável? Outras civilizações que não a nossa viveram crises insuperáveis, porque isso pode não se repetir mais? A corda ficou cada vez mais esticada e mais complicada a cada crise que tentamos resolver, pelo simples fato que em nenhuma delas mudamos a nossa forma de ação e só aumentamos a dosagem dos remédios que causaram a doença."

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Economia versus meio ambiente: o elo perdido

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Com a crise global atual existe uma sensação de perda no ar e as pessoas estão caindo em desespero. Perda de emprego, queda de vendas, queda das ações, menos crédito, menores lucros, menos tração da economia e postergação da preocupação ambiental e climática, como se a economia com ou sem crise não tivesse nada a ver com o meio ambiente. Embora Einstein tenha dito que aquilo que fez parte do problema, não pode fazer parte da solução, todos apontam para a mesma solução de sempre: mais crescimento, consumidores devem voltar a comprar, a produção reaquecida. Os textos que leio vem de pessoas importantes como Rogoff, Krugman, Stiglitz, Bernanke e de governos e consultorias econômicas no Brasil e no Brasil, todos fazendo proposições para aumentar os gastos de consumo novamente.

O epicentro da crise foi nos Estados Unidos, lá naquele país, a origem da má sorte está no setor imobiliário, cuja queda de vendas e construção atingiu patamares jamais vistos na história. O mais estranho são os números do setor: são 75 milhões de famílias, das quais descontamos 8 milhões (porque o país tem 27 milhões de mendigos) e sobram portanto 68 milhões de famílias que tem moradias. O país tem hoje 190 milhões de moradias, ou seja, quase três casas por família e apesar desse exagero está em crise (embora o número de pessoas por família tenha despencado de 10 para 4 nas últimas décadas, outro exagero: o tamanho da casa triplicou!). As moradias precisam ser reativadas, até agora nenhuma palavra sobre o fenômeno ambiental mais devastador dos Estados Unidos, que é o espalhamento urbano. Os países ricos conseguiram transferir produção suja para outros lugares e economizar o meio ambiente local através de importações macicas, mas uma poluição foi impossível de evitar: a das cidades e das construções. Por conta delas, quase metade dos rios, lagos e zonas estuárias dos EUA estão poluídos. Até quando vamos continuar acreditando que a economia pode ser maior que o planeta?

Por isso, até agora as soluções propostam só aceleram a rota de colisão da humanidade com a Terra. Sustentabilidade começa em reconhecermos que o planeta e o meio ambiente são muito maiores que a nossa economia e aqui na Terra todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos, respiramos, comemos e vivemos graças à essa teia da vida que teimamos em destruí-la. A humanidade, por sua vez, é muito maior que a economia. A economia é na verdade o sistema menos importante dos três, porque ela depende totalmente do planeta e das pessoas. O nosso sistema atual está destruindo as suas bases de sustentação, a social e a ambiental e não tem futuro algum, a crise deveria ser o momento para fórmulas novas, mas as soluções buscadas significam o fim do planeta, ou melhor, o fim da capacidade do planeta sustentar a vida na Terra. A única luz no fim do túnel vem de Saramago, Boff, Hobsbawn, árduos críticos do sistema, pedindo urgentemente mudanças e tantos outros autores, que ainda não ganharam estatura para vencer o discurso dominante insano. Os inimigos do sistema não são os que fazem as críticas, mas são os que não querem ouvi-las e isso é pior quando o fazem por interesse próprio. É aí que morre o perigo, porque “quando os interesses estão em foco, somos os piores juízes das nossas ações”, escreveu Aristóteles.

Obama vai entrar no poder ignorando todos os alertas dos cientistas com propostas para fazer os americanos gastarem mais e salvar a economia, pois só assim as pessoas terão seus empregos assegurados e estarão salvas também, como se antes da crise as pessoas tivessem fartos empregos e estivessem vivendo bem e agora a questão social passa a ser o mote das medidas adotadas. Nessa equação, o planeta não importa, , na verdade a economia é mais importante que tudo e essa é a lei que domina a mente de todos. Empregos ligados ao crescimento são cada vez mais fracos. Foi a própria revista “The Economist” que deu sem querer as pistas daquilo que vem sendo discutido pelo Rifkin e de forma muito melhor pelo André Gorz sobre a falta de empregos no sistema econômico. No artigo dessa revista, é mencionado que para 1% de crescimento da atividade, a folha de empregos só cresce 0,1%. Tendo em vista os quase 1,5 bilhão de habitantes da China, dentro da fórmula de crescimento com o atual estágio tecnológico, que não foi construído nem desenvolvido para as pessoas, a China teria que ter uma economia capaz de ocupar 100 planetas Terra para absorver o excedente de mão de obra. Está a caminho de uma enorme turbulência social, os números de desemprego da China, como em muitos outros lugares são extremamente fajutos. O mais engraçado é ver que nós economistas comemoramos a queda da taxa de desemprego, mesmo que ela venha acompanhada de uma alta dos desalentados. O que são os desalentados? Pergunte aos 27 milhões de mendigos dos Estados Unidos. Os desalentados não fazem mais parte das estatísticas, são pessoas que desistiram de procurar emprego e por essa razão essas pessoas, que continuam vivendo e sofrendo muito, não fazem mais parte das estatísticas e mostram queda no desemprego. Quando nós vamos melhorar nossas estatísticas ou será que não vamos nos importar com a notícia de um chinês construir uma réplica do Taj Mahal para sua moradia?

Isso tudo mostra exatamente do que nós estamos falando: onde está o contrato social e ambiental do crescimento, esse crescimento todo é voltado para o quê, para as empresas tomarem as “melhores” decisões em prol do futuro das crianças e da humanidade, ou para si próprias? Enquanto todas as dimensões (ambiental, humana e econômica) não estiverem incluídas no sistema econômico e na ordem de importância certa (planeta maior que as pessoas que são maiores que a economia), tudo que for feito e decidido continuará sendo mais do mesmo e o futuro da humanidade será como Martin Rees o descreveu: “a probabilidade da nossa espécie animal terminar o século XXI é hoje de apenas 50%.”

Hugo Penteado

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Colapso econômico ou ambiental?

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Carlos Gabaglia Penna
27/11/2008, 11:00
A profunda crise financeira que atormenta o mundo e que começa a atingir o sistema produtivo, chamado de economia real, é vista como uma tragédia. Sem dúvida, os efeitos dela poderão ser devastadores. Qualquer recessão é visto como um caos, afinal, o sistema econômico global é baseado no crescimento permanente. Quanto maior, melhor. Essa é mentalidade (ainda) reinante no mundo.

As manchetes são assustadoras: “Crise reduz compras no exterior em até US$ 9 bi”; “Recessão se espalha e atinge a Europa inteira” (ambas de O Globo). Nesta segunda manchete, o jornal informa que “a Economia dos países da zona do Euro encolheu 0,2% no trimestre”. No mundo inteiro, as declarações de economistas, empresários e políticos tem sempre esse mesmo teor soturno.

Sem dúvida, a situação é bastante grave. Mas, vou fazer uma pequena análise sobre a recessão européia. Em 2006, o europeu médio teve, segundo o Banco Mundial, uma renda per capita de R$ 51.372 no ano, ou R$ 4.281 por mês (em moeda corrente, com o dólar a R$ 2,276). A recessão significa que cada cidadão deixará de receber, em média, R$ 103 por ano, ou 8,6 reais por mês. Se esse queda atingir, digamos, 5%, cada europeu receberá apenas 4.067 reais por mês. Uma família típica de quatro pessoas terá uma renda mensal de 16.268 reais. Será isso um catástrofe?

Sei bem que o problema não se resume a essa queda de renda pessoal. Afinal, segundo todos os especialistas, somente a expansão da economia pode assegurar aumento na oferta de empregos. Parece claro que recessão gera desemprego. No entanto, muito mais que retração econômica, o que realmente está acabando com os empregos são a mecanização, a informatização, a reengenharia e outras iniciativas destinadas a aumentar o lucro e a competitividade das empresas.

Quem realmente está preocupado com emprego? Esta palavra, das mais prostituídas em todas as línguas, é repetida nauseabundamente por políticos em campanha e por empresários, sempre que seus projetos danosos encontram resistência. Nesses momentos, os homens de negócios e os governantes assumem um ar messiânico de quem só age em função de garantir o emprego das massas...

Em 2007, de acordo com a CIA (The World Factbook), a taxa de desemprego no mundo era de 30%. Entre 2000 e 2006, a economia mundial cresceu 52%, em dólares corrigidos (Banco Mundial). Está cada vez mais óbvia a dissociação entre crescimento da economia e oferta de empregos. A Economia virou uma abstração, um fim em si mesmo. Persegue-se indicadores econômicos que não retratam a realidade de justiça social e de bem-estar das populações. Para economistas e industriais, o consumo de bens materiais é o único aspecto realmente importante.

Um dos caminhos arduamente defendidos, no Brasil e no mundo, para se evitar o agravamento da crise é o estímulo ao consumo de qualquer coisa, inclusive – e, talvez, principalmente – de automóveis. Essa é sem dúvida uma visão obtusa da realidade do mundo. O automóvel atravanca as ruas das grandes cidades – onde, em boa parte do dia, a velocidade média do tráfego é inferior à de uma bicicleta - e desperdiça petróleo, poluindo o ar, aumentando os casos de doenças respiratórias e contribuindo para o sério problema de mudanças climáticas.

Uma expressiva parcela do uso de carros é fútil e desnecessária. O automóvel é muito usado como exibição de (pseudo) riqueza, como um tolo símbolo de status. O que é realmente necessário é investir-se maciçamente em transporte de massa, intra e intermunicipais, de preferência em metrô e trens, além de se dificultar a utilização de veículos privados.

A Economia é uma invenção humana, não um sistema natural. Ela é um sub-sistema do sistema Terra. Se este – com seus recursos naturais e sua capacidade de processar rejeitos – não cresce, como um de seus sub-sistemas pode crescer indefinidamente?

Dados científicos e factuais comprovam que a crise realmente séria, pela qual passa a civilização humana, é a do meio ambiente. Apesar do extraordinário aumento da participação social, de diversos segmentos, nas questões ambientais e dos progressos tecnológicos e avanços nas legislações pertinentes, a realidade mostra uma lamentável aceleração na erosão de variados componentes do ambiente natural.

Os problemas ambientais são todos interligados, da mesma forma que os econômicos e sociais. A sinergia do aumento populacional com o do consumo de bens e serviços gera uma série de impactos no meio ambiente, desde poluição em centros urbanos e industriais, com crescentes reflexos na saúde pública, degradação de áreas de mineração, redução das reservas de recursos não renováveis, erosão acelerada do solo, poluição e diminuição na oferta de água de qualidade, pesca predatória, desmatamento, aumento de doenças infecto-contagiosas em virtude da destruição de ecossistemas nativos e muitos outros.

A erosão biológica é assustadora. A extinção de espécies, de todos os filos e reinos, continua em um ritmo de 100 a 1.000 vezes maior do que a taxa natural. Pelo menos um quarto (talvez 36%, segundo a Conservation International) dos quase 5.500 mamíferos do planeta está ameaçado de ser varrido da face da Terra, de acordo com a IUCN (International Union for Conservation of Nature). Um terço das barreiras de corais do mundo encontra-se ameaçado de extinção.

Entre 1996/1998 e 2008, a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN mostra um aumento - no somatório de 3 categorias - de 10% no número de espécies ameaçadas de aves, de 59% no de plantas e de 1.436% no de anfíbios! É verdade que uma parcela das espécies não tinha sido avaliada há 10 anos, mas, seja como for, esses números indicam uma insofismável elevação dos danos à biodiversidade. A Avaliação Ecossistêmica do Milênio, desenvolvida pela ONU no início deste século, afirma que “quase dois terços dos serviços oferecidos pela natureza à humanidade estão em rápido declínio em todo o mundo. Na realidade, os benefícios colhidos de nossa engenharia do planeta exauriram o capital natural da Terra”.

É indiscutível que a Economia é totalmente submissa aos recursos do planeta, embora tal obviedade pareça não ser enxergada por uma expressiva parcela da sociedade (por vezes, essa constatação parece-me mais verdadeira entre as classes mais altas. Como não se trata apenas de ignorância, cabe perguntar se isso não é simplesmente decorrência da defesa mesquinha de seus interesses). Ora, se as atividades econômicas desejam sobreviver, elas precisam mudar o foco de seus investimentos.

Projetos ambientais possuem alta demanda de mão-de-obra, preservam o ambiente natural, geram riqueza e garantem a qualidade de vida das populações. Melhor do que estimular o consumo frenético de bens supérfluos e ícones tolos de sucesso, a economia mundial será duradoura na medida em que investir em negócios de baixo impacto e de proteção ambiental.

Atividades como controle de poluição, nas suas variadas formas, reflorestamento e recuperação de áreas degradadas, preferencialmente com restauração dos ecossistemas nativos, gestão de resíduos sólidos (compostagem, reciclagem e aterros sanitários com recuperação de gases do efeito estufa), agricultura orgânica e exploração de fontes renováveis de energia são alguns exemplos de atividades que produzem renda e empregos de forma perene.

A produção de energia por gás natural e carvão, por exemplo, cria cerca de 100 empregos por megawatts/ano, enquanto que a eólica pode atingir até 1.200 empregos por megawatts/ano e, a solar, cerca de 2.000 empregos pela mesma unidade de energia produzida.

Os caminhos de mudanças para uma economia sustentável estão ao nosso alcance, protegendo o meio ambiente e oferecendo um número elevado de empregos. Tais mudanças demandarão sacrifícios e adaptações penosas, mas vale a pena. Não há alternativa. Resta saber se a humanidade assim o deseja...

domingo, 30 de novembro de 2008

O PIOR DA CRISE AINDA ESTÁ AINDA POR VIR?

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Leonardo Boff

Num artigo anterior afirmávamos que a atual crise mais que econômico-financeira é uma crise de humanidade. Atingiram-se os fundamentos que sustentam a sociabilidade humana – a confiança, a verdade e a cooperação - destruídos pela voracidade do capital. Sem eles é impossível a política e a economia. Irrompe a barbárie. Queremos levar avante esta reflexão de cariz filosófico, inspirados em dois notáveis pensadores: Karl Marx e Max Horkheimer. Este último foi proeminente figura da escola de Frankfurt ao lado de Adorno e Habermas. Antes mesmo do fim da guerra, em 1944, teve a coragem de dizer, em palestras na Universidade de Colúmbia nos EUA, publicadas sob o titulo Eclipse da Razão (no Brasil 1976) que pouco adiantava a vitória iminente dos aliados. O motivo principal que gerou a guerra continuava atuante no bojo da cultura dominante. Seria o seqüestro da razão para o mundo da técnica e da produção, portanto, para o mundo dos meios, esquecendo totalmente a discussão dos fins. Quer dizer, o ser humano já não se pergunta por um sentido mais alto da vida. Viver é produzir sem fim e consumir o mais que pode. É um propósito meramente material, sem qualquer grandeza. A razão foi usada para operacionalizar esta voracidade. Ao submeter-se, ela se obscureceu deixando de colocar as questões que ela sempre colocou: que
sentido tem a vida e o universo, qual é o nosso lugar? Sem estas respostas só nos resta a vontade de poder que leva à guerra como na Europa de Hitler.

Algo semelhante dizia Marx no terceiro livro do Capital. Ai deixa claro que o ponto de partida e de chegada do capital é o próprio capital em sua vontade ilimitada de acumulação. Ele visa o aumento sem fim da produção, para a produção e pela própria produção, associada ao consumo, em vista do desenvolvimento de todas as forças produtivas. É o império dos meios sem discutir os fins e qual o sentido deste tresloucado processo. Ora, são os
fins humanitários que sustentam a sociedade e conferem propósito à vida. Bem o expressou o nosso economista-pensador Celso Furtado:”O desafio que se coloca no umbral do século XXI é nada menos do que mudar o curso da civilização, deslocar o eixo da lógica dos meios a serviço da acumulação, num curto horizonte de tempo, para uma lógica dos fins em função do bem estar social, do exercício da liberdade e da cooperação entre os povos”(Brasil: a construção interrompida,1993,76).

Não foi isso que os ideólogos do neo-liberalismo, da desregulação da
economia e do laissez-faire dos mercados nos aconselharam. Eles mentiram para toda a humanidade, prometendo-lhe o melhor dos mundos. Para essa via não existiam alternativas, diziam. Tudo isso foi agora desmascarado, gerando uma crise que vai ficar ainda pior.

A razão reside no fato de que a atual crise se instaurou no seio de outras crises ainda mais graves: a do aquecimento global que vai produzir dimensões catastróficas para milhões da humanidade e a da insustentabilidade da Terra em conseqüência da virulência produtivista e consumista. Precisamos de um terço a mais de Terra. Quer dizer, a Terra já passou em 30% sua capacidade de reposição. Ela não agüenta mais o crescimento da produção e do consumo atuais como é proposto para cada pais. Ela vai se defender produzindo caos, não criativo, mas destrutivo.

Aqui reside o limite do capital: o limite da Terra. Isso não existia na crise de 1929. Dava-se por descontada a capacidade de suporte da Terra. Hoje não: se não salvarmos a sustentabilidade da Terra, não haverá base para o projeto do capital em seu propósito de crescimento. Depois de haver precarizado o trabalho, substituindo-o pela máquina, está agora liquidando com a natureza.

Estas ponderações aparecem raramente no atual debate. Predomina o tema da extensão da crise, dos índices da recessão e do nível de desemprego. Neste campo os piores conselheiros são os economistas, especialmente os ministros da Fazenda. Eles são reféns de um tipo de razão que os cega para estas questões vitais. Há que se ouvir os pensadores e os que ainda amam a vida e cuidam da Terra.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A crise e os que dormem nas ruas

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Amigos que eu vejo de longe, fico preocupado e inativo, chocado, mas nada adianta, pois sou nada dessa forma. Mas vocês que dormem nas ruas, preciso lhes dar as notícias. Veio uma crise global e não vai mudar nada para vocês. Mesmo assim, vocês serão lembrados e isso até parecerá coisa boa, mas não é. O fato é que na hora de resolver a crise eles lembram de vocês com uma ferocidade tamanha que me pergunto porque não se lembravam antes. Os nossos iluminados dizem aos governos que precisamos solucionar a crise o mais rapidamente possível, com o mesmo remédio que a causou e temos que fazer isso com tudo que temos as mãos para resolver os problemas sociais, acabar com a mendicância e com pessoas que dormem nas ruas, evitar o desemprego. Eles falam como se nada disso existisse antes, como se nenhuma pessoa estivesse triste, sem remédios, sem tratamento de saúde, sem dignidade. Há poucos com dignidade, mesmo entre os camisados, preciso lhes dizer, vocês dormem nas ruas, mas há pessoas mais infelizes e que viverão menos por causa do stress e da loucura insana das suas vidas, talvez pior do que vocês que estão nas ruas. Segundo pesquisas de universidades, 99% das pessoas odeiam trabalhar, só o fazem para pagar as contas e crescer os filhos. Para muitos, ficar nas ruas talvez fosse tortura menor, mas acreditam que o sistema é bom, é isso que precisamos salvar, do mesmo jeito que ele é. Talvez fosse hora de um sistema novo, mas falta coragem. De todos. Coragem e consciência.

Para solucionar a crise, os argumentos são enormes mesmo nos países ricos e eles lá também tem uma árdua tarefa: há 27 milhões de mendigos nos Estados Unidos, pessoas nas ruas, que comem graças ao governo. Antes da crise, esses números já vinham crescendo, será que a urgência agora é temer que esse número dobre? Ou será que para um país rico também há uma taxa natural de mendigos, embora haja um riqueza extrema concentrada nas mãos de poucos? Puxa, muitas perguntas que não temos a quem fazer. Seríamos taxados de loucos, mas o fato é que quando as coisas vão mal todos vocês são lembrados e nós ficamos no horizonte esperando alguma esperança de mudança e nada vem. E as crises se sucedem até vir a maior e a pior de todas: o planeta não está nos querendo mais aqui. Todos ignoram, pois dizem: "eu nunca morri, portanto nunca vou morrer." Com isso acham ingenuamene que "o planeta nunca expulsou a humanidade, portanto nunca vai nos expulsar." Já está nos expulsando e o fato de eu nunca ter morrido não significa que eu não vá morrer. Nós vamos morrer de qualquer jeito, mas além disso, agora é provável que a Terra também nos expulse daqui.

Mas não se assustem, meus amigos da rua, antes, durante e depois da tal solução da crise, vocês vão continuar dormindo nas ruas. Não se preocupem, nada vai mudar, as bravatas dos governos são apenas para acalmar os mercados e as empresas que querem vender para os humanos quatro planetas Terra e mesmo assim não será suficiente, porque em nenhum momento irão abandonar a idéia do crescimento estúpido que só serve para atender a demanda de fazer as riquezas ficarem cada vez maiores nas mãos de quem menos precisa. Eles seguem acreditando e muitos intelectuaias apóiam essa crença absurda que a economia pode ser maior que o planeta, que as pessoas serão atendidas por essa insanidade e que é só aguardar as benesses e não o que estamos vendo acontecer diante dos nossos olhos. A realidade brinca de espiã das idéias falsas que regem nosso mundo cada vez mais esfacelado e se no século 19 falávamos de milionários, se no século 20 falávamos dos bilionários, agora queremos no século XXI falar dos trilionários e essa tem sido a maior conquista do nosso sistema, venerada por todos os bilhões de seres humanos que jamais alcançarão esse status, mas que morrerão acreditando sempre nessa possibilidade e vão perder com isso a alegria de viver. E os demais morrerão com uma dívida mortal com a sociedade e o planeta, incapaz de ser resgatada, exceto através da morte do seus espíritos - e podem acreditar, tenho pena de vocês que dormem nas ruas, mas tenho mais pena dos que morrem com essa dívida e que são homens que muito pensam valer, mas que mais valem mortos e enterrados.

Hugo Penteado

sábado, 8 de novembro de 2008

Novo capitalismo?

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http://caderno.josesaramago.org/2008/10/28/novo-capitalismo/

Para que continue a reflexão, o Manifesto abre por mais um dia o Caderno.

Há uns dias atrás, várias pessoas de diversos países e diferentes posições políticas, subscrevemos o texto que reproduzo abaixo. É uma chamada de atenção, um protesto, a expressão do alarme que sentimos diante da crise e das possíveis saídas que se afiguram. Não podemos ser cúmplices.

"Novo capitalismo?"

Chegou o momento da mudança à escala pública e individual. Chegou o momento da justiça.

A crise financeira aí está de novo destroçando as nossas economias, desferindo duros golpes nas nossas vidas. Na última década, os seus abanões têm sido cada vez mais frequente e dramáticos. Ásia Oriental, Argentina, Turquia, Brasil, Rússia, a hecatombe da Nova Economia, provam que não se trata de acidentes conjunturais fortuitos que acontecem na superfície da vida económica mas que estão inscritos no próprio coração do sistema.

Essas rupturas, que acabaram produzindo uma contracção funesta da vida económica actual, com o argumento do desemprego e da generalização da desigualdade, assinalam a quebra do capitalismo financeiro e significam o definitivo ancilosamento da ordem económica mundial em que vivemos. Há, pois, que transformá-lo radicalmente.

Na entrevista com o presidente Bush, Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, declarou que a presente crise deve conduzir a uma "nova ordem económica mundial", o que é aceitável, se esta nova ordem se orientar pelos princípios democráticos – que nunca deveriam ter sido abandonados – da justiça, liberdade, igualdade e solidariedade.

As "leis do mercado" conduziram a uma situação caótica que levou a um "resgate" de milhares de milhões de dólares, de tal modo que, como se referiu acertadamente, "se privatizaram os ganhos e se nacionalizaram as perdas". Encontraram ajuda para os culpados e não para as vítimas. Esta é uma ocasião única para redefinir o sistema económico mundial a favor da justiça social.

Não havia dinheiro para os fundos de combate à SIDA, nem de apoio para a alimentação no mundo… e afinal, num autêntico turbilhão financeiro, acontece que havia fundos para que não se arruinassem aqueles mesmos que, favorecendo excessivamente as bolhas informáticas e imobiliárias, arruinaram o edifício económico mundial da "globalização".

Por isto é totalmente errado que o Presidente Sarkozy tenha falado sobre a realização de todos estes esforços a cargo dos contribuintes "para um novo capitalismo"!… e que o Presidente Bush, como dele seria de esperar, tenha concordado que deve salvaguardar-se "a liberdade de mercado" (sem que desapareçam os subsídios agrícolas!)…

Não: agora devemos ser resgatados, os cidadãos, favorecendo com rapidez e valentia a transição de uma economia de guerra para uma economia de desenvolvimento global, em que essa vergonha colectiva do investimento de três mil milhões de dólares por dia em armas, ao mesmo tempo que morrem de fome mais de 60 mil pessoas, seja superada. Uma economia de desenvolvimento que elimine a abusiva exploração dos recursos naturais que tem lugar na actualidade (petróleo, gás, minerais, carvão) e que faça com que se apliquem normas vigiadas por uma Nações Unidas refundadas – que envolvam o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial "para a reconstrução e desenvolvimento" e a Organização Mundial de Comércio, que não seja um clube privado de nações, mas sim uma instituição da ONU – que disponham dos meios pessoais, humanos e técnicos necessários para exercer a sua autoridade jurídica e ética de forma eficaz.

Investimento nas energias renováveis, na produção de alimentos (agricultura e aquicultura), na obtenção e condução de água, na saúde, educação, habitação… para que a "nova ordem económica" seja, por fim, democrática e beneficie as pessoas. O engano da globalização e da economia de mercado deve terminar! A sociedade civil já não será um espectador resignado e, se necessário for, utilizará todo o poder de cidadania que hoje, com as modernas tecnologias de comunicação, possui.

Novo capitalismo? Não!

Chegou o momento da mudança à escala pública e individual. Chegou o momento da justiça.

Federico Mayor Zaragoza
Francisco Altemir
José Saramago
Roberto Savio
Mário Soares
José Vidal Beneyto

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

UMA DESGRAÇA ECONÔMICA SE AVIZINHA

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UMA DESGRAÇA ECONÔMICA SE AVIZINHA

Clóvis Cavalcanti
Economista e pesquisador social
clovis.cavalcanti@yahoo.com.br

O mundo parece estar à beira de grave crise econômica, talvez mesmo de uma desgraça. Da última vez em que um abalo semelhante ao atual aconteceu (1929), seguiu-se a década da Grande Depressão. Naquela ocasião, a economia virtual do dinheiro era menor do que a economia real de produção, renda e consumo. Antes do tumulto atual, havia uma circulação diária nos mercados financeiros mundiais da ordem de 2 trilhões de dólares, enquanto as centrais econômicas globais geravam um PIB de “apenas” 50 bilhões de dólares – 13 vezes menor do que o giro financeiro. Era óbvia a disparidade da economia de papel sobre a economia real. Ela não tinha onde se sustentar. Escrevi sobre isso aqui no Diário no dia 27 de setembro de 1998 (meu artigo se intitulava “O Papel do Dinheiro”). Deu no que deu. O modelo neoliberal, em que tanto o próprio governo do Presidente Lula da Silva confiou, ruiu de forma estrondosa. Sobre isso, sentenciou o famoso economista da Universidade de Columbia (EUA) Jeffrey Sachs no jornal britânico The Guardian de 21 do corrente: “O sistema financeiro internacional quebrou”. E com ele, o inteiro sistema capitalista anglo-saxônico. Ficou sem chão o evangelho neoliberal que pregava que o mercado sabia de tudo.

A sensação de perplexidade é generalizada. Ninguém sabe o que fazer. Sabe-se, sim, como salienta o mega-investidor George Soros, que o modelo imperante de globalização e desregulamentação estourou, causando a crise atual. Soros foi um dos primeiros atores das finanças mundiais a alertar quanto aos perigos da “securitização” de quase tudo no mercado do dinheiro – de hipotecas a contas de cartões de crédito. Outro grande nome das finanças, Warren Buffett – um dos homens mais ricos do planeta –, tentou mostrar o perigo dos misteriosos instrumentos financeiros chamados de “derivativos”, classificando-os como “armas financeiras de destruição em massa”. Contrariamente, o então presidente do banco central americano (o Fed), Alan Greenspan, muito admirado pelos economistas do mundo inteiro, insistia que não, os derivativos desempenhavam importante papel diluindo os riscos das jogadas financeiras. A agência de supervisão do mercado de papéis dos EUA, conhecida pela sigla SEC, desorientada no seu mister, inventou modelos incrivelmente complexos para acompanhar o que acontecia. Esses modelos ficaram conhecidos como as “Simulações de Monte Carlo”. Note-se: Monte Carlo, não por acaso, é o nome do famoso cassino de Mônaco. Pelas regras suicidas da SEC, removeu-se o teto de 12 para 1 nas alavancagens dos bancos (relação entre dinheiro aplicado e dinheiro captado). Os bancos passaram a poder fazer as apostas que quisessem!

Nesse clima de permissividade, de extremado liberalismo (neo e antigo) tão do gosto de políticos barulhentos que agora estão caladinhos como aves na muda, o famoso mercado fez o que quis. Seu combustível era a ganância insaciável, alimentada pelo credo que congrega todas as direitas e todas as esquerdas em um pensamento único: a veneração do crescimento econômico (como se crescer fosse sempre possível num mundo finito). Jeffrey Sachs, no artigo mencionado, diz: reformas “serão necessárias para que se alcance crescimento sustentado”. Em abril deste ano, o analista Paul Sankey, do Deustcher Bank, falava na revista Newsweek: “O mercado quer crescimento, crescimento, crescimento”. Todos se maravilham diante de quase 30 anos de crescimento chinês a 10% ao ano. O Brasil se baba diante do seu PAC. Ao mesmo tempo, os ensinamentos da história econômica registram que após uma crise financeira séria, sucede-se um declínio profundo da produção, da renda, do emprego. Tudo porque o dinheiro some. Esse aperto está agora às portas e nos golpeará a todos. Desgraça neoliberal!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Relatório Stern

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Nicholas Stern, Relatório Stern, crise imobiliária dos EUA e limites de concentração dos gases do efeito estufa

Estive com Sir Nicholas Stern pessoalmente. Pareceu mais um economista tradicional que não captou ainda as mensagens alarmantes dos cientistas dos sistemas da Terra e continua defendendo o crescimento econômico a ferro e fogo ou a qualquer custo. Para isso ser possível, a economia teria que ser maior que o planeta. Nesse modelo incrível, as pessoas existem para servir a economia, quando na realidade deveria ser justamente o oposto. Portanto, é mais um que defende que todas as benesses sociais derivam do crescimento econômico, quando é justamente o contrário. Vamos presenciar isso agora: a queda da atividade mundial vai devolver as pessoas para suas casas e sem ter o que fazer, elas irão ajudar a corroer a economia num círculo vicioso, enquanto os governos se desesperam com a fragilidade incrível do contrato social do crescimento, formulado unilateralmente pelas empresas do mundo todo. A resposta não poderá ser mais errada: os governos vão procurar a todo custo manter a megalomania da demanda crescente às custas de um ataque voraz ao planeta, como se isso fosse possível e realmente tivesse resultados sociais permanentes.

Quando perguntei a Sir Nicholas ou Lord Stern sobre a impossibilidade da economia ser maior que o planeta e comentei sobre a matéria "The Folly of Growth" (A Tolice do Crescimento) da revista New Scientist, ele desmistificou os limites planetários do crescimento dizendo: “o importante para nós é a energia que usamos, a eficiência no uso dessa energia e a tecnologia”. Com isso, a economia pode continuar crescendo e ela pode sim ser maior que o planeta, concluiria ele, sem dizer, claro essas palavras, porque retruquei dizendo que não temos só um problema de energia, mas de matéria. Aí ele lembrou da água. Eu lembrei imediatamente do território dos países que é e sempre será finito (apesar que com o aquecimento global e a elevação dos oceanos, será decrescente, embora a maior ameaça do aquecimento global não é a elevação dos oceanos, mas o fim da água).

Mesmo assim Richard Stern deu uma contribuição fantástica ao dizer que a perda econômica com o aquecimento global é maior do que o custo de evitá-lo. Ele disse que quando começou a estudar o aquecimento global não foi por convicção, mas por uma demanda do governo do Tony Blair. Ele, no artigo abaixo, agora defende estabilizar a concentração do dióxido de carbono onde a comunidade indica como sendo mais seguro: entre 450 e 500 e não mais 550 ppm (partes por milhão). Está atualmente em 380 ppm.

O planeta é muito maior que a economia. As pessoas são muito maiores que a economia. A economia na verdade depende do planeta e das pessoas. E ela teria realmente que existir para servir as pessoas, e não o contrário, como é hoje, onde as pessoas servem a economia.

Tudo está relacionado. Sobre a crise imobiliária dos EUA, que todos esperem que termine e esse setor inicie novamente uma vigorosa recuperação, pois bem, os números mostram que isso será impossível, pois se trata de um excesso megalomaníaco:

- os EUA conseguiram se livrar da produção suja simplesmente transferindo para outros países e importando bens finais e matérias-primas. Mas uma poluição eles não conseguiram se livrar: a urbana e a do espalhamento urbano imposto pela construção residencial e não residencial. Esse espalhamento urbano é responsável por ter poluído terrivelmente praticamente metade dos lagos, zonas estuárias e rios dos EUA, segundo a EPA (agência ambiental do governo federal dos EUA), dado que pode estar subestimado. A questão da água é seríssima, em 10 ou 20 anos muitos centros dos EUA vão enfrentar escassez de água.

- nos EUA há 75 milhões de famílias para 190 milhões de casas, ou seja, é quase 3 casas por família. Detalhe: há 27 milhões de mendigos nos EUA (quase 10% da população e eles são americanos tradicionais, porque os imigrantes ou trabalham ou voltam para o país de origem). Portanto, 27 milhões ou quase 7 milhões de famílias não tem moradia. Os 68 milhões tem então 190 milhões de casas, em excesso claro. O país mais rico do mundo não conseguiu eliminar a pobreza - dos americanos tradicionais!

- O excesso não termina aí: nos anos 70, o número de pessoas por família nos EUA era ao redor de 10, hoje é aproximadamente 4 (a população dos EUA é de quase 300 milhões). Embora o tamanho das familias tenha caído vertiginosamente, o tamanho das casas triplicou!!!

- Em 1900 os EUA tinha 1 milhão de moradias, hoje tem 190 milhões, o território é o mesmo, de 9,3 milhões de km2!!!!

Ou seja, como reativar um setor que está completamente em excesso, que já produziu enormes descalabros ambientais, num espaço finito? É ou não é o máximo da insanidade total? Para piorar, o caos social que será produzido com a crise global, vai requerer mais do mesmo, mais estragos, mais desequilíbrios e aceleração da atual rota suicida e cega. E isso irá enriquecer os mais ricos, como todo sempre, pois de acordo com a NEF (News Economic Foundation) de Londres, de cada 100 dólares adicionados a renda per capita mundial, só centavos chegam aos mais pobres.

Detalhe: a crise imobiliária é a causa primária da atual crise global... Será que já atingimos o limite da capacidade de recuperação na mesma fórmula de sempre?

O que estamos realmente esperando para mudar nosso modelo mental?

Hugo Penteado

04/11/2008 - 10h34
Autor do Relatório Stern muda de posição sobre limite para gases-estufa
da Folha de S.Paulo

O ex-economista-chefe do Reino Unido, sir Nicholas Stern, 62, admitiu ontem que manter como limite máximo de concentração de gases-estufa no ar 550 ppm (partes por milhão), como defendia antes, é arriscado.

Segundo ele, o ideal seria manter a concentração abaixo de 500 ppm. Hoje, o nível é de 430 ppm.

"Vamos atingir 450 ppm em oito anos", disse ele, em evento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Acima de 500 ppm, o risco de a temperatura subir 5ºC é alto.

Ele disse que o investimento para estabilizar as emissões seria como pagar uma apólice de seguro para evitar um "desfecho catastrófico". Para Stern, com o avanço da ciência é possível manter entre 450 ppm e 500 ppm.

O lorde é autor do Relatório Stern, documento que afirma que os gastos anuais de estabilizar a emissão de gases-estufa na atmosfera seriam equivalentes a 1% do PIB mundial até 2050 e que, se nada for feito para conter as emissões, o PIB poderia ser reduzido em até 20%.

Stern avalia que até essa sua projeção estava subestimada e que o prejuízo da inação pode ser ainda maior.

domingo, 2 de novembro de 2008

The Crisis: Debt and Real Wealth

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The Crisis: Debt and Real Wealth
‐Herman E. Daly

The current financial debacle is really not a “liquidity” crisis as it is often euphemistically called. It is a crisis of overgrowth of financial assets relative to growth of real wealth—pretty much the opposite of too little liquidity. Financial assets have grown by a large multiple of the real economy—paper exchanging for paper is now 20 times greater than exchanges of paper for real commodities. It should be no surprise that the relative value of the vastly more abundant financial assets has fallen in terms of real assets. Real wealth is concrete; financial assets are
abstractions—existing real wealth carries a lien on it in the amount of future debt. The value of present real wealth is no longer sufficient to serve as a lien to guarantee the exploding debt. Consequently the debt is being devalued in terms of existing wealth. No one any longer is eager to trade real present wealth for debt even at high interest rates. This is because the debt is worth much less, not because there is not enough money or credit, or because “banks are not lending to each other” as commentators often say.

Can the economy grow fast enough in real terms to redeem the massive increase in debt? In a word, no. As Frederick Soddy (1921 Nobel Laureate chemist and underground economist) pointed out in 1926 that, “you cannot permanently pit an absurd human convention, such as the spontaneous increment of debt [compound interest] against the natural law of the spontaneous decrement of wealth [entropy]”. The population of “negative pigs” (debt) can grow without limit since it is merely a number; the population of “positive pigs” (real wealth) faces severe physical constraints. The dawning realization that Soddy’s common sense was right, even though no one publicly admits it, is what underlies the crisis. The problem is not too little liquidity, but too many negative pigs growing too fast relative to the limited number of positive pigs whose growth is constrained by their digestive tracts, their gestation period, and places to put pigpens. Also there are too many two‐legged Wall Street pigs, but that is another matter.

Growth in US real wealth is restrained by increasing scarcity of natural resources, both at the source end (oil depletion), and the sink end (absorptive capacity of the atmosphere for CO2). Further, spatial displacement of old stuff to make room for new stuff is increasingly costly as the world becomes more full, and increasing inequality of distribution of income prevents most people from buying much of the new stuff—except on credit (more debt). Marginal costs of growth now likely exceed marginal benefits, so that real physical growth makes us poorer, not richer (the cost of feeding and caring for the extra pigs is greater than the extra benefit). To
keep up the illusion that growth is making us richer we deferred costs by issuing financial assets almost without limit, conveniently forgetting that these so‐called assets are, for society as a whole, debts to be paid back out of future real growth. That future real growth is very doubtful and consequently claims on it are devalued, regardless of liquidity.

What allowed symbolic financial assets to become so disconnected from underlying real assets? First, there is the fact that we have fiat money, not commodity money. For all its disadvantages, commodity money (gold) was at least tethered to reality by a real cost of production. Second, our fractional reserve banking system allows pyramiding of bank money (demand deposits) on top of the fiat government‐issued currency. Third, buying stocks and “derivatives” on margin allows a further pyramiding of financial assets on top the already multiplied money supply. In addition, credit card debt expands the supply of quasi‐money as do other financial “innovations” that were designed to circumvent the public‐interest regulation of commercial banks and the money supply. I would not advocate a return to commodity money, but would certainly advocate 100% reserve requirements for banks (approached gradually), as well as an end to the practice of buying stocks on the margin. All banks should be financial intermediaries that lend depositors’
money, not engines for creating money out of nothing and lending it at interest. If every dollar invested represented a dollar previously saved we would restore the classical economists’ balance between investment and abstinence. Fewer stupid or crooked investments would be tolerated if abstinence had to precede investment. Of course the growth economists will howl that this would slow the growth of GDP. So be it—growth has become uneconomic at the present margin as we currently measure it.

The agglomerating of mortgages of differing quality into opaque and shuffled bundles should be outlawed. One of the basic assumptions of an efficient market with a meaningful price is a homogeneous product. For example, we have the market and corresponding price for number 2 corn—not a market and price for miscellaneous randomly aggregated grains. Only people who have no understanding of markets, or who are consciously perpetrating fraud, could have either sold or bought these negative pigs‐in‐a‐poke. Yet the aggregating mathematical wizards of
Wall Street did it, and now seem surprised at their inability to correctly price these idiotic “assets”.

And very important in all this is our balance of trade deficit that has allowed us to consume as if we were really growing instead of accumulating debt. So far our surplus trading partners have been willing to lend the dollars they earned back to us by buying treasury bills—more debt “guaranteed” by liens on yet‐to‐exist wealth. Of course they also buy real assets and their future earning capacity. Our brilliant economic gurus meanwhile continue to preach deregulation of both the financial sector and of international commerce (i.e. “free trade). Some of us have for a long time been saying that this behavior was unwise, unsustainable, unpatriotic, and probably criminal. Maybe we were right. The next shoe to drop will be repudiation of unredeemable debt either directly by bankruptcy and confiscation, or indirectly by inflation.

sábado, 1 de novembro de 2008

Moral da crise - Rubens Recupero

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São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008
RUBENS RICUPERO

Moral da crise

AS ANÁLISES da crise financeira falam de tudo, menos de moral e de política. Dão a impressão de que o problema se limita a aspectos técnicos, sem vinculação com os valores éticos e independentes das relações de poder.

Joseph Stiglitz foi o único a observar que a crise teria sobre o fundamentalismo de mercado o mesmo efeito que teve a queda do Muro de Berlim sobre o comunismo. Poderia ter acrescentado que a ligação dos dois eventos não é só comparativa. O fim do socialismo foi um maremoto político. O vácuo ideológico e o desequilíbrio de forças conseqüentes tornaram possível aquilo que era antes inconcebível: a absoluta hegemonia dos mercados financeiros e os excessos responsáveis pelo colapso atual.

Nos Estados Unidos, o setor financeiro saltou de 10% do total dos lucros corporativos em 1980 para 40% em 2006, apesar de gerar apenas 5% dos empregos! Não se avança sobre quase metade dos lucros da economia sem contar com a cumplicidade do sistema político. A mudança de poder que abriu o caminho à hegemonia financeira foi, nesse período, a "revolução" neoconservadora de Reagan e de Thatcher, consolidada por Clinton e pela "terceira via" de Blair. Sua ideologia era a mistura de globalização com liberalização. Globalização entendida como unificação em escala planetária dos mercados, sobretudo para as finanças. Liberalização no sentido de eliminar tudo que pudesse limitar as oportunidades de negócios. A fiscalização ficaria por conta da suposta capacidade auto-regulatória dos mercados.

Nesse clima, poucos ganharam muito, mas a desigualdade explodiu, o emprego se tornou precário, o salário real estagnou, multiplicaram-se as fusões com cortes de milhares de vagas, os melhores empregos industriais foram terceirizados para países de baixos salários.

O apodrecimento moral desse fim de reino era já perceptível em 2002, durante os escândalos da Enron, da WorldCom e de outras empresas que ocasionaram ao índice Nasdaq a perda de três quartos do seu valor, cerca de US$ 5 trilhões! Na época, o banqueiro Felix Rohatyn escreveu que o dano causado ao capitalismo norte-americano era de tal gravidade que nem Lênin teria feito melhor!

Exagero, pois tudo se esqueceu: o papel dos bancos de investimento como o Goldman Sachs e o Merrill Lynch, a desmoralização das agências de avaliação de risco e de auditoria, todos novamente co-autores do desastre de agora. A lei Sarbanes-Oxley, as normas mais rigorosas de transparência contábil, nada foi capaz de evitar a repetição da catástrofe em dimensão maior. Alegava-se que o sacrifício dos seres humanos e da moral era o preço a pagar pela eficiência e pela racionalidade impostas pela globalização. Contudo, longe de ganhar vigor e competitividade, o setor produtivo norte-americano parece um campo de ruínas.

A autodestruição econômica a que assistimos foi prevista por Emmanuel Mounier, meio século atrás: "Por mais racional que seja, uma estrutura econômica baseada no desprezo das exigências das pessoas contém os germes de sua própria condenação".

Da mesma forma que no New Deal dos anos 1930, só uma nova correlação de forças políticas que devolva sentido moral à economia e a recoloque a serviço do interesse do maior número salvará o modelo norte-americano de recaídas periódicas e de inelutável declínio em competitividade produtiva e adesão dos cidadãos.

RUBENS RICUPERO , 71, diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda (governo Itamar Franco). Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna.

Grifo meu (Claudia Chow).

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Especialistas analisam as possíveis conseqüências da crise financeira no meio ambiente

15/10/2008

Pode ser lido aqui: http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=288371

Ambientalistas especulam sobre o combate ao aquecimento global e os investimentos em tecnologia verde

Bruno Calixto

A crise financeira, que já levou grandes bancos norte-americanos e europeus à falência, começa a preocupar e gerar análises de seus impactos para o futuro do combate às mudanças climáticas, ao financiamento de novas fontes de energia e esforços para a sustentabilidade.

Na última terça-feira (14), por exemplo, o ministro do Meio Ambiente Carlos Minc procurou tranqüilizar ao afirmar que a crise não deve prejudicar doações ao Fundo da Amazônia. Na semana anterior, Minc já tinha dito disse que a crise pode diminuir o desmatamento da Amazônia.

"Minc tem razão, existe uma relação clara do preço das commodities com o desmatamento", diz o cientista político e editor do site O Eco Sérgio Abranches. Segundo ele, a safra do boom de produção dos grãos irá coincidir com a recessão do mercado e uma parte da safra não será vendida, diminuindo a pressão por novas terras e expansão da fronteira agrícola.

Abranches alerta, no entanto, que existe uma parte do desmatamento que não está relacionada ao mercado de commodities, como o desmatamento que avança nas Unidades de Conservação e Assentamentos da Reforma Agrária. Além disso, essa queda de desmatamento não irá resolver o problema. "Apenas sairemos de um patamar intolerável para um menos, mas ainda ruim".

Já o economista Hugo Penteado, autor do livro Ecoeconomia – Uma nova Abordagem, não acredita que exista essa relação entre a crise econômica e a climática. "A crise não tem relevância alguma para resolver a péssima relação existente entre o nosso sistema econômico e a natureza do qual tudo depende. Isso é um equívoco tremendo, quando os cientistas dizem que o desaquecimento econômico pode dar uma trégua para o aquecimento global, apenas reconhecem o conflito existente entre o sistema econômico-humano".

O economista também rebate a teoria de que a crise pode implicar em um retrocesso nas políticas ambientais, por acreditar que esse argumento tem duas falhas. "A primeira é achar que as políticas ambientais passaram por algum progresso. Justamente o contrário, estamos cada vez mais vorazes em relação à extração de combustíveis fósseis, no pré-sal, nas estepes russas, no fundo dos oceanos e agora, graças ao degelo mais freqüente, do Ártico".

A segunda falha, segundo ele, é pensar que a crise é uma razão para justificar retrocessos na política ambiental. "Esse argumento assume que para resolvermos o problema ambiental, precisamos estar com a economia em dia, como se economia e meio ambiente estivessem separados", explica.
Penteado acredita que estamos vivendo uma crise mais profunda do que imaginamos e que ela é resultado de um sistema econômico e financeiro que "virou um fim em si mesmo, quando na verdade deveria estar voltado para atender as pessoas, manter sociedades em equilíbrio entre si e de todos com o planeta".

Combate ao aquecimento global
"Os esforços econômicos, em qualquer tempo ou circunstância, sempre ofuscaram o combate ao dano ambiental, seja no caso particular do aquecimento global ou em qualquer outra área", diz Penteado. As críticas a ausência de recursos para resolver o passivo ambiental veio à tona quando países de todo o mundo injetaram bilhões de dólares para tentar reverter a crise econômica. Na última terça-feira, em evento em São Paulo , o presidente do Instituto Ethos, Oded Grajew, exemplificou essa questão, lamentando que enquanto as metas do milênio prevêem, para a sustentabilidade, 160 bilhões de dólares, já foram gastos dois trilhões no sistema financeiro.

Sérgio Abranches argumenta que, a curto prazo, o combate ao aquecimento global ficará comprometido, mas se diz otimista com o futuro. O cientista político explica que existe hoje uma "bolha verde", isto é, um excesso em investimentos em tecnologias e projetos que se dizem verdes e sustentáveis, sem grandes critérios que indiquem que o projeto em questão é de fato bom. "Devem acontecer mudanças importantes no desenho econômico após a recessão. No futuro, vai predominar a escolha por energia renovável. Os investimentos se tornarão mais seletivos".

Investimentos
Abranches acredita que hoje existe muito investimento em projetos de má qualidade, principalmente no setor de álcool nos Estados Unidos, e espera que essa seletividade melhore a perspectiva para os biocombustíveis de segunda geração. "É preocupante o fato de o Brasil não estar levando muito a sério os biocombustíveis de segunda geração, achando que as vantagens da cana-de-açúcar vão persistir".

"O tipo de emprego gerado no bicombustível de segunda geração é de muito melhor qualidade que no canavial", diz Abranches, explicando que uma das vantagens da tecnologia verde é a geração de empregos de boa qualidade para o trabalhador.

Hugo Penteado critica a visão de que os investimentos em desenvolvimento sustentável e energia limpa podem ser prejudicados com a crise. O economista considera essa opinião como mais uma derivação no mito da separação da economia e meio ambiente, e levanta alguns pontos para debate, como a métrica que utilizamos para medir o crescimento econômico.

"Nossa métrica estimula a devastação, destruição e contaminação do meio ambiente e da vida das pessoas, com impacto nulo no fluxo das riquezas produzidas ou no PIB [Produto Interno Bruto] e, para consertar o estrago, isso produz uma atividade e um impacto positivo no PIB. Ou seja, temos uma métrica que se adapta bem ao modelo mental ou conjunto de interesses que regem a nossa sociedade: a economia que é um fim em si mesma, cria problemas que são resolvidos depois, ao invés de termos uma tecnologia que evite problemas, usamos para consertar problemas criados", analisa. Penteado explica que, na métrica dominante hoje, uma árvore só tem valor quando derrubada ao chão, e conclui: “todos nós estamos no mesmo prédio. Ou a gente reconstrói os pilares – sociedade e meio ambiente - ou vamos desabar todos juntos. É o fim do poder ou o início de um novo paradigma".

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sábado, 18 de outubro de 2008

Mudança de atitude

De acordo com os cientistas, a situação planetária é muito séria. Apesar disso, no campo da economia, as visões da realidade só contribuem para agravar tanto a situação planetária quanto a pobreza. Tudo isso com mais desigualdade e menos bem estar e qualidade de vida. Essa teoria econômica falsa, baseada em premissas erradas, tem o poder de causar um estrago ambiental monumental, lado a lado com resultados sociais tremendamente ruins.

É inegável que os resultados socioambientais da aplicação prática do conhecimento econômico são bem diferentes do que pregam os economistas. A explicação está no erro epistemológico de uma teoria econômica baseada em premissas que não correspondem mais à realidade física e planetária à nossa volta. Esse erro foi reconhecido formalmente na década de 70, através da crítica nunca refutada de Nicholas Georgescu-Roegen (1906-1994). Os economistas adotam nos seus modelos um sistema econômico, que se fosse um bicho, não teria boca nem estômago (de onde vem os recursos pouco importa) e não teria intestino ou reto (para onde vão os resíduos são irrelevantes). Essa visão de mundo gerou um ataque ao planeta sem precedentes com destruição contínua dos ecossistemas, das florestas e com processos degenerativos impressionantes. As duas maiores consequências desse estrago são o aquecimento global e a maior extinção da vida planetária dos últimos 65 milhões de anos. E esses não são os dois únicos problemas, mas parte deles apenas.

O mito mecanicista introduz a idéia de reversibilidade e neutralidade nos processos econômicos estudados pelos economistas e que resultam em proposições de política econômica voltadas para o crescimento eterno, que além de produzirem as piores decisões, como as guerras e a crise financeira dos Estados Unidos, esbarram na limitação óbvia do planeta. Não podemos negar que pelo menos em território os países são finitos e sobre os quais não se pode adicionar coisas, pessoas e casas infinitamente. Sabemos hoje que a finitude ecológica e planetária é muito maior que isso.

Os ecossistemas funcionam como reguladores químicos da atmosfera, do solo, são estabilizadores do clima e da regeneração da água entre vários serviços que a natureza nos presta livremente. Poderíamos até sonhar com isso, mas os ecossistemas não estão aí apenas para serem transformados em áreas agrícolas ou atividades humanas, nem para serem comidos, como mencionou Blairo Maggi. Eles existem para exercer funções vitais sem a qual nada irá sobreviver nesse planeta. Não há um só exemplo de civilização ou sociedade que não tenha entrado em colapso ao ter comido os seus ecossistemas além da sua capacidade de sustentação da vida. Esse colapso, onde e quando ocorreu, foi horrendo e muitas sociedades terminaram em matança ou canibalismo ou morte em massa.

Ainda segundo Roegen, o mito mecanicista não é o único erro das teorias econômicas. O segundo, o mito tecnológico, assume a possibilidade do ser humano produzir fatores materiais em substituição aos da natureza e isso é um absurdo negado pela física, porque tudo à nossa volta é matéria e energia e o ser humano não produz nenhum dos dois. Através desse mito, os economistas brincam de faz de conta achando que o planeta é inesgotável e por essa razão suas principais variáveis são todas elas fluxos, jamais estoques. Eles diriam: "para que olhar estoques se o mundo é inesgotável?" O mito tecnológico que surgiu a partir da teoria do crescimento de Robert Solow se afina muito bem ao modelo mental no qual ao invés de evitarmos problemas, tentamos solucioná-los com nossas tecnologias. Funciona bem também com um dos piores indicadores jamais inventados: o PIB, para o qual guerras, desastres naturais, contaminações, destruição e matança não geram impacto nenhum, ao contrário, toda a atividade necessária para consertar o estrago depois é extremamente positiva para aumentar o fluxo do PIB.

Está mais do que na hora dos economistas possuírem um entendimento multidisciplinar das suas idéias que produzem decisões políticas diariamente, pois manter o sistema econômico do descarte imediato dos bens e do desperdício, linear, degenerativo e infinito, dependente de um outro sistema dominante, o planeta, que é circular, regenerativo e finito significa produzir mazelas ambientais crescentes ou até o ponto de serem intransponíveis. Nas palavras dos paleontólogos, é muita ingenuidade achar que a extinção agora em curso jamais irá se voltar contra os causadores.

Até agora o ataque ao planeta é justificado pelos tão venerados resultados sociais, os governos de países atrasados como o Brasil não aceitam restrições a esse ataque e se justificam através do que os países ricos já fizeram. Sem querer, eles apenas confirmam um fato há muito sabido por todos: os países ricos só se tornaram ricos sem causar um colapso planetário porque fizeram isso sozinhos. Quando todos seguirem a mesma rota, não iremos a lugar algum e a discussão irá terminar no valhala imaterial. Precisamos de uma proposta diferente que requer apoio e financiamento dos países líderes, para entrar no debate internacional de forma inteligente, do contrário seremos anti-éticos, pois os maus atos não justificam os de ninguém.

Os resultados sociais do crescimento suicida até agora se mostraram ausentes e incapazes de se sustentar por si só. O crescimento tornou-se um fim em si mesmo e o aumento de empregos que ele produz, dentro de uma desigualdade e submissão inequívocas, só se sustenta com mais crescimento. Esse resultado tautológico do crescimento cego dentro de um planeta finito tem produzido apenas concentração de riqueza recorde principalmente nos países mais ricos, não foi capaz de remover a pobreza e a falta de paz entre as nações e tem produzido resultados sociais tão ruins, que é totalmente inescrupuloso alguém defender que essa é a única forma de resolver nossos problemas. É inescrupuloso, pelos resultados observados, mesmo se fizéssemos de conta que o crescimento não estivesse em rota de colisão com a Terra.

Está na hora de uma mudança real e não de retoques no nosso sistema que é a base de sustentação de todos. A crise financeira dos Estados Unidos deixou bem claro que esse modelo não tem resistência nenhuma. Não podemos mais confiar em uma economia que é um fim em si mesma, ao invés de ser um instrumento para melhorar a vida de todos os seres vivos, com a harmonia entre as nações e de todos com o planeta. Idéias novas para isso já surgiram, revogar o conflito do sistema econômico na parte ambiental é uma questão de mera decisão política. Revogar a pobreza e a escravidão disfarçada que vigora nos quatro cantos desse planeta é apenas uma questão de solidariedade. Só falta fazer isso, ao invés de esperar pelo colapso inevitável das péssimas decisões que tomamos com base em um conjunto de valores inútil, baseado na ignorância do que já sabemos e numa teoria econômica falsa que reina soberana sobre todo o enorme conhecimento científico em redor, que não pode nem deve mais ser ignorado.

Hugo Penteado

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sábado, 11 de outubro de 2008

Fim do poder

Após a leitura do texto encaminhado por uma grande amiga, Esther Babouth, eu escrevi o seguinte comentário:

Fim do poder

Acho que é mais que isso, não é a transferência do poder de um ao outro, mas o não reconhecimento que o poder foi feito para servir, e não para se servir dele (Sócrates). O sistema econômico e financeiro virou um fim em si mesmo, quando na verdade deveria estar voltado para atender as pessoas, manter sociedades em equilíbrio entre si e de todos com o planeta. Um sistema econômico aberração, um bicho que só tem sistema circulatório e não tem boca nem estômago (de onde vem os recursos pouco importa) e que não tem nem intestino (para onde vão os resíduos não interessa). Esse sistema toma as piores decisões do mundo para manter metas de crescimento infinito que são um fim em si mesmo (cujos resultados sociais são cada vez mais fracos, desiguais e tautológicos, ou seja, não se sustentam sozinhos). Tudo isso feito num planeta finito. A recuperação de massas gigantes como a dos países ricos, que a valor de mercado, respondem por 82% do PIB mundial, é cada vez mais improvável.

Não estamos assintindo uma transferência de poder como em outras ocasiões, na virada do século ou depois das grandes guerras e sim o fim do poder com a quebra de um paradigma, cujos sinais já vinham sendo dados em várias frentes e de várias formas. China, Brasil ou outros países não são capazes de assumir esse papel, na verdade, assim como China acumulou reservas, ela investiu todas elas em títulos do governo dos EUA e ao mesmo tempo promovou ao longo desse período operações de vendor financing (financiou sistematicamente seus principais compradores, do qual continua dependente.)

O prédio todo foi construído errado, com uma teoria econômica falsa e com um conjunto de valores precário que não passou por nenhuma evolução nos últimos 2000 anos. Todos nós estamos no mesmo prédio. Ou a gente reconstrói os pilares ou vamos desabar todos juntos.

Crisis marks out a new geopolitical order
By Philip Stephens
Published: October 9 2008 19:32 | Last updated: October 9 2008 19:32



Ingram Pinn illustration
Blame greedy bankers. Blame Alan Greenspan’s careless stewardship of the US Federal Reserve. Blame feckless homeowners who took out loans they could never expect to repay. Blame politicians and regulators everywhere for closing their eyes to the approaching tempest.
All of the above are culpable. I am sure there are even more villains lurking out there. Sometimes, though, it is worth looking through the other end of the telescope. The wreckage of the financial system holds up a mirror to the changing geopolitical balance. It offers advice, and a warning, as to what the west should make of the emerging global order.
Until quite recently, the talk was about the humbling of America’s laisser faire capitalism. The US government’s $700bn bail-out was the price to be paid for past hubris. For reasons that still elude me, one or two European politicians seemed to delight in the troubles of an ally that still guarantees their security.
Schadenfreude comes before a fall. Solid, conservative Germany has been among the European nations forced to shore up its banks. Angela Merkel, the chancellor, has been driven to assure German voters publicly that their savings are safe.
Belgium and the Netherlands have rescued Fortis. Ireland and Greece have issued blanket guarantees to bank depositors. Others have done something similar. Most dramatically, Gordon Brown’s British government has part-nationalised all of its leading banks in a desperate bid to crack the ice of the credit freeze.
If the toxic mortgage securities and opaque credit swaps that infected the world’s financial system came with a made-in-the-US stamp, European banks were eager buyers. For the humbling of America, we should substitute the humbling of the west.
Asia, as we have seen in the markets this week, is not immune from the shocks and stresses. Japan, which has only quite recently emerged from the long twilight of its 1990s banking collapse, has now been hit anew by the global storm. China felt compelled this week to follow western central banks in cutting interest rates. So did a host of smaller Asian countries. Recession in the US and Europe will slow the growth of Asia’s rising economies.
Standing back, though, two things mark out this crisis as unique. First, is its sheer ferocity. I am not sure how useful it is to make comparisons with the 1930s. History never travels in a straight line. What is evident is that governments and central banks have had no previous experience of coping with shocks and stresses of the intensity and ubiquity we have seen during the past year.
The second difference is one of geography. For the first time, the epicentre has been in the west. Viewed from Washington, London or Paris, financial crises used to be things that happened to someone else – to Latin America, to Asia, to Russia.
The shock waves would sometimes lap at western shores, usually in the form of demands that the rich nations rescue their own imprudent banks. But these crises drew a line between north and south, between the industrialised and developing world. Emerging nations got into a mess; the west told them sternly what they must do to get out of it.
The instructions came in the form of the aptly-named Washington consensus: the painful prescriptions, including market liberalisation and fiscal consolidation, imposed as the price of financial support from the International Monetary Fund.
This time the crisis started on Wall Street, triggered by the steep decline in US house prices. The emerging nations have been the victims rather than the culprit. And the reason for this reversal of roles? They had supped enough of the west’s medicine.
A decade ago, after the crisis of 1997-98 wrought devastation on some of its most vibrant economies, Asia said never again. There would be no more going cap in hand when the going got rough. To avoid the IMF’s ruinous rules, governments would build their own defences against adversity by accumulating reserves of foreign currency.
Those reserves – more than $4,000bn-worth at the present count – financed credit in the US and Europe. There were other sources of liquidity, of course, notably the Fed and the reserves accumulated by energy producers. It also took financial chicanery to turn reckless mortgage lending in to triple A rated securities. But as a Chinese official told my FT colleague David Pilling the other day: “America drowned itself in Asian liquidity.”
Owning up to the geopolitical implications will be as painful for the rich nations as paying the domestic price for the profligacy. The erosion of the west’s moral authority that began with the Iraq war has been greatly accelerated. The west’s debtors cannot any longer expect their creditors to listen to their lectures. Here lies the broader lesson. The shift eastwards in global economic power has become a commonplace of political discourse. Almost everyone in the west now speaks with awe of the pace of China’s rise, of India’s emergence as a geopolitical player, of the growing roles in international relations of Brazil and South Africa.
Yet the rich nations have yet to face up properly to the implications. They can imagine sharing power, but they assume the bargain will be struck on their terms: that the emerging nations will be absorbed – at a pace, mind you, of the west’s choosing – into familiar international forums and institutions.
When American and European diplomats talk about the rising powers becoming responsible stakeholders in the global system, what they really mean is that China, India and the rest must not be allowed to challenge existing standards and norms.
This is the frame of mind that sees the Benelux countries still holding a bigger share than China of the votes at the IMF; and the Group of Seven leading industrialised nations presuming this weekend that it remains the right forum to redesign the global financial system.
I have no inhibitions about promoting the values of the west – of preaching the virtues of the rule of law, pluralist politics and fundamental human rights. Nor of asserting that, for all the financial storms, a liberal market system is the worst option except for all the others. The case for global rules – that open markets need multilateral governance – could not have been made more forcefully than by the present crisis.
Yet the big lesson is that the west can no longer assume the global order will be remade in its own image. For more than two centuries, the US and Europe have exercised an effortless economic, political and cultural hegemony. That era is ending.

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