sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Uma verdade inconveniente brasileira

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Por Henrique Andrade Camargo em 11/12/2008
Fonte: Mercado Ético

Falar em verdade inconveniente no Brasil chega a ser pleonasmo. Há várias delas em todo lugar da nação. Por hora, vamos ficar com o aquecimento global e tratar de um ponto que Al Gore não trata no “Uma verdade inconveniente” dele: a pecuária.

Diz-se que a demanda por energia dos países ricos é a principal culpada pela situação desagradável que enfrentamos hoje. A queima de combustíveis fósseis para a produção dessa energia libera muitos gases de efeito estufa na atmosfera, principalmente o demonizado CO2.

Não é o caso do Brasil, já que 80% da energia utilizada no país vem de hidrelétricas, consideradas fontes limpas. Mas a situação aperta quando o assunto é pecuária.

Não vamos fazer catecismo vegetariano ou declarar guerra aos carnívoros e pecuaristas do mundo (muito menos em época de festas). O importante é ter consciência de como um simples ato de alimentação pode condenar todo um sistema (não vamos abordar sobre qual é o melhor ou pior regime para o ser-humano). No fim das contas, cada um escolhe o que coloca dentro da própria boca.

Um gás malcheiroso

Toda vez que vou ao cinema aqui em Londres, onde moro atualmente, sou obrigado a assistir ao reclame da fabricante de sorvetes Ben & Jerry’s. Eles se dizem livres da pegada ecológica. Um dos pontos da propaganda é a menor flatulosidade de suas vaquinhas leiteiras que, como afirmam, contribui para diminuir o efeito estufa.

Apesar de soar um tanto cômico, aquilo me chamou a atenção. Quer dizer que, além de malcheirosos, os traques também esquentam o globo?

Claro! O metano produzido pela digestão bovina (ou por qualquer outro meio) é um dos gases que mais contribuem para o efeito estufa. O CH4 tem uma alta capacidade de armazenar calor - 21 vezes maior que o grande vilão CO2.

E está aí uma das maiores contribuições do Brasil para o aquecimento global.

O país conta com aproximadamente 200 milhões de cabeças de gado. É o maior rebanho comercial do mundo. Levando-se em conta que cada boi emite até 60 kg de CH4 por ano, chega-se a 12 milhões de toneladas desse gás despejadas na atmosfera pelos bovinos brasileiros. Já que o metano é 21 vezes pior que o CO2, não seria exagero dizer que essa quantidade equivale a 252 milhões de toneladas de dióxido de carbono, o mesmo montante produzido pelas queimadas na Amazônia.

A Organização das Nações Unidas (ONU) já estudou o caso. De acordo com a entidade, a criação animal para consumo humano contribui em 40% mais para o aquecimento global do que os aviões, carros e caminhões do planeta.

Não foi à toa que, há alguns meses, Su Taylor, da Vegetarian Society, organização vegetariana do Reino Unido, disse à revista New Scientist que a maneira mais fácil de reduzir a pegada ecológica é parar de comer carne.

Claro que isso não vai acontecer. Mas uma conscientização do ônus ambiental causado pela pecuária é o primeiro passo para, pelo menos, diminuir o consumo e, conseqüentemente, o estrago dessa atividade.

* Henrique Andrade Camargo é jornalista e blogueiro (http://www.minhalondres.blogspot.com). Já trabalhou para a Gerência de Comunicações do Grupo Abril e colaborou com revistas como Viver Psicologia, VIP e Superinteressante. Nesta última, junto com a equipe da publicação, ganhou medalha de ouro no Prêmio Malofiej 2005, o Oscar da infografia mundial, que é concedido pela Universidade de Navarra, na Espanha.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Aula de Florestas e Mudanças Climáticas com Wangari Maathai, prêmio Nobel da Paz.

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Um dos temas mais discutidos durante a CoP 14 foram as Reduções de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, mais conhecidas como REDDs.
Resumidamente, o debate gira em torno da grande capacidade que as florestas tem em armazenar carbono, dos serviços florestais prestados e da maneira de financiar atividades sustentáveis ligadas à floresta, além da preservação destas áreas. Fundos, MDL, doações, cada um defende uma posição. Nesta CoP, um tema que já parecia bem esclarecido, ligado aos direitos dos povos indígenas, entrou novamente em pauta, com a retirada de um parágrafo que reconhecia estes direitos após intervenção feita por uma coalizão formada por EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Houve muitos protestos e discussões, mas a decisão ficou para o ano que vem.
Para tratar deste tema controverso, o Vitae Civilis teve a honra de entrevistar, no último dia da CoP, a Quêniana Prêmio Nobel da Paz de 2004, Wangari Maathai, que deu uma aula, simples e magnífica, sobre a importância das florestas, mecanismos de financiamento e direitos indígenas. 
Quer assistir ? Acesse agora www.youtube.com/vcivilis e deixe seus comentários !

Abraços

Equipe Vitae Civilis, CoP 14, Poznan.

Comentário

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O comentario da Sônia Marli sobre o texto "O mito da separação da economia com o meio ambiente" foi muito bom e merece ser publicado para todos...

Hugo

O termo "separação" traz em si um sentido muito mais profundo e precisamos parar para pensar e então vamos chegar a conclusão que na "separação" está as raízes de todos os nossos dilemas. Quando o homem em sua arrogância passa a fazer divisões ele está também excluindo pessoas, países, raças, ideologias, religião e com o meio ambiente não é diferente.

A economia representa um pseudo crescimento e o meio ambiente enquanto fornece os recursos renováveis está sendo útil, só que esses recursos estão se exaurindo e queiramos ou não existe uma crise muito maior que a monetária.

A crise em si nunca foi problema, pelo contrário, é na crise que crescemos buscando alternativas, mas a que estamos vivendo hoje tem mais a ver com essa SEPARAÇÃO que traz escondida uma forma de elitização. Será mesmo que os "poderosos" da máquina financeira nunca pensaram que dissociando economia e meio ambiente um dia o planeta entraria em colapso, colidindo com esse narcisismo intelectual?

Essa máquina que tritura sonhos, esperanças, impondo medos, pesadelos, fazendo-nos reféns de uma prisão sem grades, alimenta a ignorância como forma de manter a autonomia política, social e financeira. Às vezes penso que temos muitos Hitlers modernos impondo uma cultura de separação e exclusão, em nome de um crescimento economico que nunca terá autonomia, porque estamos em via de decretar falência de um sistema materialista, visionário e egoísta.

Sônia Marli

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Desligar o micro também é preservar a natureza

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O ser humano não produz nada, nem matéria nem energia, em relação ao planeta, somos meros consumidores-transformadores e tudo vem da natureza.

A energia e matéria consumidas não saem de graça, possuem implicações para os equilíbrios ecológicos do qual dependemos para viver, comer, respirar.
Nossos corações só batem porque há um ser vivo capaz de armazenar a luz do sol, respiramos, porque há um ser vivo nos oceanos que produz oxigênio excedente e só comemos, porque existem as abellhas e por aí vai.

A nossa relação de dependência não mudou, apenas piorou muito os riscos daquilo que estamos fazendo. A integridade dos ecossistemas é necessária para todas as formas de vida, inclusive a nossa.

Desligar os micros também é preservar a natureza.

Manter os micros ligados 24 horas por dia não é só um desperdício da natureza, é um desperdício econômico: para usar 8 horas, consumimos energia por 24 horas. Se aplicarmos para a semana como um todo, deixamos os micros ligados por 168 horas, para usarmos apenas 40 horas. É um desperdício de 76%!

Sem falar na redução da vida útil ao manter o aparelho ligado. O desperdício da natureza e econômico é impensável.

Respeite a natureza e ao mesmo tempo ajude a empresa a reduzir custos: desligue os micros quando deixar o ambiente do trabalho, no final do dia e na hora do almoço.

Deus perdoa sempre, os homens raramente, a natureza nunca (autor desconhecido).

Hugo

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Dois textos

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Seguem dois textos: um muito bom do David Korten e outro texto do Joseph Stiglitz. Stiglitz e tantos outros economistas famosos, como Nouriel Roubini, Paul Krugman, etc. trabalham só a solução de curto prazo, que não tem nada de novo e insistem na idéia estúpida que a economia está separada do meio ambiente e que a economia pode ser maior que o planeta. Essa visão significa apenas uma coisa: fim da vida tal como a conhecemos na Terra, inclusive a nossa.

David Korten arremata logo no início do texto a realidade aterradora que nos circunda:

When economic failure is systemic, temporary fixes, even very expensive ones like the Wall Street bailout, are like putting a band-aid on a cancer. It may create a temporary sense of confidence, but the effect is solely cosmetic. Politicians and most pundits are looking only at the tip of the economic iceberg. Pull away the curtain to look behind the headlines and we find a potentially terminal economic crisis with three defining elements:

1. Excess human consumption is pushing Earth’s ecosystem into accelerating collapse.
2. Unconscionable inequality and the related social alienation are advancing social collapse manifest in terrorism, genocide, crime, and growing prison populations.
3. Our economic system is ruled by financial markets, global corporations, and economic theories devoted to growing consumption while rolling back real wages and benefits for working people to make money for the richest among us.

Tradução livre:

Quando o fracasso econômico é sistêmico, consertos temporários, mesmo quando muito caros como esse plano de resgate dos bancos dos Estados Unidos, são semelhantes a colocar um bandaide num câncer. Pode criar uma sensação temporária de confiança, mas seu efeito é unicamente cosmético. Políticos e muitos iluminados estão olhando apenas para a ponta do iceberg. Puxe a cortina para olhar atrás dos destaque da mídia e nós descobriremos uma crise econômica terminal que tem três elementos definidores:

1. Excesso de consumo humano que está empurrando os ecossistemas da Terra para um colapso em aceleração.
2. Inescrupulosa desigualdade e alienação social relacionada estão provocando colapso social manifesto em terrorismo, genocídio, crime e crescimento de populações na cadeia.
3. Nosso sistema econômico é regido pelos mercados financeiros, corporações globais, e por teorias econômicas devotadas ao crescimento do consumo, enquanto reduzem os salários reais eos benefícios aos trabalhadores, para fazer mais dinheiro para os mais ricos entre nós.

Outras crises foram superadas com planos voltados com mais crescimento, como esses que estão sendo anunciados, mas há uma diferença: não estávamos tão perto do colapso planetário como agora. Sempre bom lembrar que os Estados Unidos e os países ricos só atingiram o elevado nível de progresso deles sem causar um colapso planetário porque fizeram isso sozinhos. É só mantiveram esse progresso após esgotarem tudo em seu território, por causa das importações globais, onde as trocas ambientais são invisíveis.

Enfim, vale a pena contrapor um texto ao outro e ver como um deles está totalmente alijado da realidade que define cada uma das nossas vidas.

Os textos você pode baixar aqui.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A Terra é uma APA

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Maurício Andrés Ribeiro

“Os ecossistemas naturais da Terra não existem para serem transformados em terra cultivável, mas para conservar o clima e a química do planeta.”
James Lovelock, in A Vingança de Gaia

Mirando na agricultura e na mudança de usos da terra, que no Brasil são responsáveis pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa e que tornam os terrenos vulneráveis a catástrofes, James Lovelock afirma que “Temos que descartar o ensinamento antiquado da ciência e religião e começar a ver a superfície e florestas da Terra como algo que evoluiu para servir ao metabolismo do planeta – algo insubstituível. Já nos apossamos de mais de metade da terra produtiva para cultivar nossos alimentos. Como podemos presumir que Gaia cuidará da Terra se tentarmos pegar o restante das terras para a produção de combustível?”

Ele denuncia o comportamento agressivo humano em sua relação com a natureza e alerta para os riscos dessa atitude: “Apossando-se maciçamente de terras para alimentar as pessoas e empesteando o ar e a água, estamos tolhendo a capacidade de Gaia de regular o clima e a química da Terra, e se continuarmos assim, corremos o risco de extinção. Em certo sentido, entramos em guerra contra Gaia, guerra que não temos esperanças de vencer. Tudo o que podemos fazer são as pazes enquanto ainda somos fortes e não uma ralé debilitada.”

Numa perspectiva ainda utópica mas que pode vir a ser real, com os avanços da tecnologia de alimentos e do encontro de outras possibilidades para a alimentação e de outras dietas, ele especula sobre “a possibilidade de conseguirmos sintetizar toda a comida necessária para 8 bilhões de pessoas, abandonando assim a agricultura.” Propõe uma retirada sustentável, pois “já ocupamos muito mais do que seria razoável.”

A retirada sustentável proposta por James Lovelock significa devolver à natureza parte das terras que foram ocupadas para uso humano, para que ela continue a prestar os serviços ambientais valiosos de regulação climática, produção de água, proteção da biodiversidade. Deter a expansão das fronteiras agrícolas e da ocupação humana, conter o desmatamento e as queimadas, criar e implementar novas áreas de proteção ambiental são ações em sintonia com esses objetivos.

Uma área de proteção ambiental – APA – é uma área extensa, com ocupação humana, dotada de atributos naturais e biológicos, estéticos ou culturais, especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas. Deve-se para tanto proteger sua diversidade biológica, disciplinar o processo de sua ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso de seus recursos naturais.

Numa APA, há terras públicas e privadas e normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada podem ser estabelecidas. Uma APA precisa ser gerida por um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população. Conselhos gestores de APAs são colegiados que estendem o método participativo a esse âmbito, em substituição a métodos mais autocráticos. Dessa forma, criam-se dinâmicas sociais e políticas que levam à pactuação e ao entendimento coletivo sobre a forma de se administrar aquele território.

Esse conceito de APA pode ser expandido para a escala planetária: no limite, o planeta Terra pode ser considerada como uma Área de Proteção Ambiental: uma unidade de conservação de uso sustentável, que merece todos os cuidados para se protegerem os serviços ambientais prestados pelos seus ecossistemas.

Na condição de uma APA, a Terra ainda precisa ter seu conselho gestor e ser governada por métodos participativos, ter plano de manejo e regras de uso, bem como a fiscalização de seu cumprimento. A fiscalização do uso das unidades de conservação públicas é um dever elementar dos órgãos públicos responsáveis por sua manutenção. Também é necessária a punição para os transgressores.

Para cuidar da Terra como uma área de proteção ambiental, é necessária uma governança global ecologizada. A crise climática planetária pode ser um dos gatilhos para desencadear tal processo de governo colaborativo de interesse de todos. Os penosos e demorados processos para chegar a acordos sobre esse tema são um exercício pioneiro para projetar e construir essa inevitável e vital cooperação.
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(*) Autor de Ecologizar; Tesouros da Índia e de Ecologizando a cidade e o planeta
mandrib@uol.com.br WWW.ecologizar.com.br

domingo, 14 de dezembro de 2008

Incrivelmente assustador e poucos avisados.

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O IPCC anunciou - estava lendo agora - que é provável que já estejamos no estágio de mudanças climáticas crítica e que por conta disso, o dêgelo total do Ártico durante o seu verão previsto no fim do século XXI, agora está previsto para acontecer nos próximos 3 a 7 anos. Adeus urso polar, que aparece sendo caçado por caçadores inconscientes como George Bush pai e filho e tantos outros caçadores famosos que além de destruírem o mundo, se acham no direito de caçar animais e leões. A vice do McCain ficou entusiasmada com caçadas de ursos feitas de helicópteros nas estepes russas na pegaginha que deram nela com um ator fingindo ser o presidente da França. Adeus a essas almas todas que irão descobrir um dia, no planeta na última reencarnação, que a pior morte que existe não é a do corpo, mas a do espírito. É incrível como ainda existem pessoas que usam casacos de pele e caçam e mesmo assim ainda se consideram pessoas boas...

Hugo

Mudança climática adianta 'relógio do fim do mundo'

BBC - Brasil - 17 de janeiro, 2007

Um relógio simbólico que indica a proximidade da humanidade de sua extinção foi “adiantado” em dois minutos nesta quarta-feira por um grupo de cientistas que avalia os perigos que ameaçam a humanidade.

Segundo os especialistas do Boletim de Cientistas Atômicos (BAS, sigla em inglês), as ameaças trazidas pelo aquecimento global agora representam um risco significativo o suficiente para se adicionarem à ameaça de guerra nuclear, perigo que motivou o BAS a criar o relógio 60 anos atrás, logo depois que os Estados Unidos jogaram bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, no Japão.

Imóvel desde 2003, o relógio, instalado na cidade americana de Chicago, foi adiantado para 23h55. Nunca, desde o final da Guerra Fria, o relógio esteve tão próximo da meia-noite, hora que representa a extinção da humanidade.

A última mudança do relógio aconteceu quando os Estados Unidos se retiraram do Tratado de Mísseis Antibalísticos, em 2002, em meio a ameaças de compra de armas nucleares por terroristas. Riscos O relógio foi criado em 1947, nos escritórios da BAS, uma revista científica sobre o assunto, depois de uma campanha a favor do desarmamento. Na sua apresentação, o relógio marcava sete minutos para a meia-noite e de lá para cá, foram feitas 18 alterações.

Originalmente, o relógio só levava em conta as ameaças nucleares, mas mudou os critérios, incluindo as ameaças ambientais. “Quando nos perguntamos sobre quais tecnologias além do armamento nuclear significavam um risco de devastação da humanidade, rapidamente pensamos na emissão de carbono”, afirmou Kenneth Benedict, diretor-executivo da BAS.

Segundo o grupo, a crescente corrida nuclear levou a humanidade para perto de uma "Segunda Era Nuclear", além dos riscos causados pelo aquecimento global. O anúncio foi feito em eventos simultâneos da revista em Londres e Washington, contando com observações do astrônomo Martin Rees e do físico Stephen Hawking.

“O impacto coletivo da humanidade na biosfera não tem precedentes”, disse Rees. “Essas ameaças ambientais – ameaças sem inimigos – devem ter o devido papel na política internacional de hoje, assim como durante a Guerra Fria”.

Uma série de fatores e eventos levou o BAS a declarar que “o mundo não enfrenta escolhas tão perigosas” desde o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.

Os fatores e eventos em questão são as ambições nucleares do Irã, a detonação de um artefato nuclear pela Coréia do Norte e a presença de 26 mil armas atômicas de Estados Unidos e Rússia, além da incapacidade da comunidade internacional de impedir o tráfico de material nuclear como urânio e plutônio enriquecidos.

Além do aquecimento global, o BAS também levou em considerações ameaças de outra natureza que tinham menor peso, como as vindas de tecnologias como biologia sintética e modificação genética.

sábado, 13 de dezembro de 2008

O mito da separação da economia com o meio ambiente

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Desculpem falar na primeira pessoa, mas não posso deixar de falar como eu estou me sentindo hoje. Eu sei que para a humanidade ser salva, o pronome na primeira pessoa tem que ser abolido, eu e meu não podem existir mais, porque no fundo não existem, aqui na Terra, todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos e está tudo interligado. Assistindo ao documentário “Planet Earth” (Planeta Terra) da BBC com voz de Sigourney Weaver, fiquei impressionado ao saber que as monções estão ligadas com o Saara que está ligado à fertilização da Amazônia que está ligada ao regime de chuvas e formação de recursos hídricos das regiões Sul e Sudeste brasileiras. Desculpa mencionar, mas, caro amigo Blairo Maggi, por favor, o mundo econômico tem limites, a economia não pode ser maior que o planeta, você está certo que comemos os ecossistemas, mas precisamos fazer isso com o maior cuidado, porque os ecossistemas não estão aí apenas para serem comidos, estão aí para nossos pulmões se encherem de ar, estão aí para nossos corações baterem, estão aí para respirarmos. Eu sei, há fome no mundo, mas vamos parar com isso: se há falta de algo, é porque falta produzir algo. Se há fome no mundo, não é porque há excesso de gente, não é porque há desperdício (um quarto da comida termina no lixo), não é porque há má distribuição e ineficiência. O mesmo vale para tudo. Na crise imobiliária dos Estados Unidos, é chocante saber que esse setor está em crise com cada família tendo em média quase três casas. Enfim, tem que ficar claro que sem os ecossistemas que exercem funções vitais como regulação química da atmosfera, a Terra seria uma tocha incandescente e nem estaríamos batendo papo por aqui. Na verdade a causalidade da vida na Terra é tão improvável, que é um milagre estarmos aqui sem dúvida alguma. Por exemplo, sem Jupíter, cuja enorme gravidade criou paz cósmica para nosso planeta azul ao absorver para si mesmo todos os elementos móveis que transitam nesse espaço sideral perigoso, não estaríamos também batendo papo. Ainda bem que Jupíter demorou a se formar, porque do contrário os cometas não teriam batido intensamente no nosso planeta. Sem essa colisão maciça e ininterrupta de bilhões de anos, a Terra não teria uma gota de água. Nossos corpos são feitos de matéria base de carbono do sol e água de cometas. Milagre, mas a água é e sempre será finita, para aumentar sua quantidade, mais cometas deveriam bater contra a Terra. Vamos rezar para que nem cometa nem asteróides nos visitem, porque nossa conversa também pode não continuar depois disso. Somos muito vulneráveis no fundo e devíamos nos proteger e proteger o planeta. Fazemos o oposto, cada um na sua individualidade estúpida e nas suas riquezas desnecessárias e temporárias.

Somos dependentes de todos e da natureza e do planeta e ponto final. A economia não pode ser maior que o planeta. Se o objetivo de todos é vender mais, ganhar mais dinheiro, construir mais, estamos fritos, isso não funcionará. É a receita do colapso total. A crise global agora traz mais cavaleiros do apocalipse diante de nós. Um setor prioritário é o automobilístico, setor que precisa imediatamente se deter de transformar o transporte humano numa rota suicida, baseada na queima de combustíveis fósseis que estavam na crosta terrestre há milhões de anos e que altera nossa atmosfera ao ponto de estarmos a mercê de uma mudança climática crítica. A natureza não via esses materiais da crosta há milhões de anos (no caso de metais, são bilhões de anos). Não há portanto ciclos naturais regenerativos para isso. Cada carro produzido na Terra requer o asfaltamento de 0,6 hectare de Terra ou será que alguém acha que um carro vai para cima da copa de uma árvore? Além de ser ineficiente, porque são duas a quatro toneladas de material para transportar um ou mais corpos humanos (de preferência um só...). Precisamos do novo, isso não é o novo, a indústria automobilística destruiu empregos à velocidade da luz, de 150.000 postos em 1950, hoje só possui no Brasil 50.000 produzindo muito, mas muito mais carros. Essa lógica não funciona: as pessoas precisam de função social, de emprego (e não de trabalho). A saturação material do modelo consumista frusta todo mundo e também não é capaz de sustentar as economias em lugar nenhum, mesmo as mais prósperas, como Estados Unidos e Europa. Está tudo errado. É chocante.

Mais chocante é ver o novo mascarado de velho nas práticas de sustentabilidade com metas surrealistas de crescimento que jamais e em nenhum momento diminuíram as demandas absolutas por recursos finitos da Terra, tangíveis, como recursos naturais, e intangíveis, como os serviços da natureza. Estamos só disfarçando o inevitável. O inevitável chegou e isso me deixou muito preocupado. De um lado os cientistas já avisaram que o dêgelo total do Ártico não ocorrerá mais no final do século XXI mas em três ou sete anos. Meu Deus, três ou sete anos!!!! Anunciaram agora que a meta de descarbonização do sistema econômico tem que ser 100%!!! E alguém ainda questiona o fato de eu não querer mais prazeirosamente viajar de avião. Está na hora de cortar muitos luxos, estancar o crescimento populacional, adotar eficiência e distribuição, implementar programas sociais, economias comunitárias, focar no local e não no global. O único efeito do comércio global foi permitir que a prosperidade dos países ricos fosse mantida sem eles viverem seu próprio colapso ambiental, pois as trocas ambientais entre os países aí são invisíveis e saem a custo zero. Se os Estados Unidos estivessem sozinhos no mundo, sem nenhum território ou país para explorar seus recursos da natureza, já teria entrado em colapso há muito tempo. Agora quem corre risco de entrar em colapso é o planeta inteiro. Não dá mais para manter essa cegueira, mas será mantida, Obama quer trabalhar para fazer sua economia crescer - crescer e importar recursos ambientais de outros lugares que não mais possui.

Não estamos fazendo nada direito. A população segue crescendo violentamente em números absolutos (são 200.000 por dia já descontados os mortos). O "iluminado" Julien Simon dizia ser possível sermos um trilhão de pessoas, mas vemos o oposto: com muito menos, os cadáveres e dejetos humanos, sem falar na sua poluição dantesca, vão criando desafios extremos a todas as cidades do mundo. Isso só seria verdade se fôssemos deuses. Será que somos e estou enganado ao dizer que não passamos apenas de uma espécie animal a mais e Charles Darwin errou mais ainda ao dizer que nada diferencia o ser humano dos demais animais? Esse Simon influenciou outro iluminado chamado Bjorn Lomborg, que diz não haver nenhum problema ambiental na Terra ou algum problema ambiental que seja prioritário. De iluminados estamos cheios, não tenhamos dúvidas sobre isso, encarar o problema de frente nem pensar.

A lista é infindável. Para se ter uma idéia os programas de ajuda nessa crise atual é fazer mais obras, construir mais coisas, construir, construir, construir para empregar e vender, vender. Seguimos achando que a economia é um bicho que pode viver, mesmo sem ter boca nem estômago (de onde vem os recursos pouco importa), sem ter intestino nem reto (para onde vão os resíduos pouco importa). A economia é um bicho que vive só com sistema circulatório. Os economistas mais famosos do mundo acreditam que um bicho como esse, sem boca, estômago, intestino e reto pode crescer, viver e ser maior que o planeta. E ainda ganham prêmio Nobel por isso. Fantástico, mas Aristóteles explica isso muito bem: “quando nossos interesses estão em foco somos os piores juízes das nossas ações.” Criar um bicho igual a células cancerígenas que morrem ao matar seu hospedeiro virou o principal modelo econômico de todos os países, como se não houvessem alternativas discutidas há mais de 50 anos.

Eu estou atônito (perdoem-me o pronome na primeira pessoa, estou procurando evitar) com as soluções da crise, com o Congresso dos Estados Unidos ajudando as empresas automobilísticas que se opões a metas de redução do gás carbônico. Estou atônito ao saber que o Ártico irá degelar inteiramente em 3 a 7 anos e o urso polar irá desaparecer, mas que não será a única espécie animal ameaçada por esse triste fim. Nós também iremos pelo mesmo caminho, ao que tudo indica. Perdoem-me falar que a crise global é a menor das nossas crises, sei que vocês estão com medo do desemprego e com medo de tudo. É o medo que nos inspira muito mal. Leiam André Gorz, porque eu não li, mas já gostei dele.

No fundo, a nossa crise maior é a da consciência. A da falta de consciência. E ainda achar que não temos responsabilidade por esses problemas que serão resolvidos pelas nossas instituições, as mesmas que gastaram e gastam trilhões de dólares em armas de destruição em massa, protegem práticas socioambientais repulsivas, promovem guerras e destruição contínua de florestas e ecossistemas. Achamos que elas serão capazes de resolver nossos problemas. Não estamos sendo ingênuos ao delegar essa responsabilidade a instituições claramente incapazes de mudar, simplesmente porque não mudamos nós mesmos? As instituições somos nós. Nós temos que mudar para mudar as instituições. Não há como se eximir jamais dessa responsabilidade. É hora de enfrentar a realidade de termos transformado a Terra numa enorme lixeira acreditando que a economia pode ser maior que o planeta e mudarmos.

Antes que seja tarde demais.

(grifos meus, Claudia Chow)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Mortes e prejuízos do Vale do Itajaí: Tragédia anunciada há mais de 150 anos

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Por Eloy Casagrande Jr. - PHD*
Que a tragédia que assolou o Vale do Itajaí não é algo novo todos sabem.
Talvez, não saibam, no entanto, que as enchentes do Vale ocorrem desde a sua colonização há mais 150 anos. De 1850 a 1992 foram 66 enchentes, das quais 11 (onze) até 1900, 20 (vinte) nos 50 anos subseqüentes e 35 nos últimos 43 anos. Relatos históricos registram 9 metros de elevação do rio Itajaí-Açu na enchente de 1862, tornando terras agrícolas e cidades alagadas um cenário comum até os dias de hoje.

Isto levou a população local, principalmente de Blumenau a criar uma cultura de coexistência com as enchentes de pequena magnitude e também a conviver com o uso político das mesmas. Promessas de que se vai acabar com as cheias, são parte de velhos chavões políticos como prometer mais investimentos na educação, na segurança e na saúde. Também medidas governamentais de atendimento as populações atingidas e as inúmeras soluções de engenharia para o problema são discutidas desde a enchente de 1880 – a maior que se tinha registro até então, chegando o nível a 17,10m!

Em 1911, quando o pico de cheia alcançou 16,90m, surgiram várias propostas para o problema, inclusive a mudança da cidade para pontos mais altos e a construção de um canal de escoamento a partir de Blumenau. Esta segunda seria retomada nos anos 30 pelo primeiro estudo de defesa contra as cheias e também nos anos 80. A primeira e mais inteligente, poderia ser traduzida para
uma linguagem técnica mais moderna dos dias de hoje: o uso ordenado do solo, onde se pode controlar a densidade demográfica, evitar a ocupação de áreas inundáveis e as encostas e os desmatamentos.

Também a proposta de Otto Rohkohl, de 1929, era sensata do ponto de vista de engenharia fluvial e previa a construção de barragens e reservatórios de contenção. Nas suas próprias palavras “quase todos os rios formadores assim como afluentes do Itajaí-Açu apresentam locais no seu alto curso, que, devido a constituição natural do terreno, permitem que se edifiquem barragens e reservatórios de contenção contíguos, a custos relativamente baixos”. Infelizmente, a proposta esbarrou nos interesses de famílias de elite da região que não queriam ver suas terras usadas para tal solução, seguidas de diversas administrações municipais que também a ignoraram.

Com as quatro enchentes que atingiram o vale em 1957, beirando a marca dos 13 metros, iniciou-se a luta por medidas de controle de cheias. Jornais noticiaram na época “foi uma verdadeira calamidade pública....As águas torrenciais e traiçoeiras do rio Itajaí-Açu arrastaram em poucas horas, rio abaixo, para o Atlântico, tudo o que os colonos, com rara energia e competência tinham construído, trazendo também o desânimo e a dor para a grande maioria dos habitantes do município e principalmente para a cidade... Dois terços das residências, estabelecimentos fabris e comerciais e depósitos foram atingidos pela inundação.

Neste mesmo ano, os radialistas criaram a AIRVI - Associação de Imprensa e Rádio do Vale do Itajaí, com a finalidade de pressionar o poder público a tomar atitudes em relação às enchentes elaboraram um documento enviado ao Presidente Juscelino Kubitschek. O que se viu a seguir foi o primeiro decreto presidencial de 07 de Janeiro de 1957, nomeando um Grupo de Trabalho para
estudar a situação econômica da Bacia Hidrográfica do rio Itajaí e propor as medidas necessárias ao seu desenvolvimento. Entre estudos geo-econômicos, a discussão de construção de barragens para contenção de cheias e aproveitamento para potencial hidrelétrico e irrigação, os estudos foram se arrastando por anos sem um objetivo claro.

Somente após a enchente de 01 de novembro de 1961, que ocasionou mortes e muitas perdas materiais, levando o então Presidente João Goulart a sobrevoar a região inundada, é que se retomaram os projetos das barragens. Iniciado em 1964, três barragens foram construída com atrasos clássicos das obras de engenharia, sendo finalizadas somente em 1976. No entanto, suas
capacidades se basearam apenas nas enchentes que ocorreram entre 1931 e 1975, alegando-se que seriam suficientes para que não fosse ultrapassada a marca dos 9,90m em Blumenau. As enchentes 1983, que causaram danos materiais na ordem de US$ 1,1 bilhão, vieram provar que as estimativas estavam erradas ao considerar desprezíveis as informações das grandes cheias até 1911.

Após as cheias de 1983, com um pico de 15,34m e em seguida a de 1984, com 15,46m, surgiram os primeiros indícios de que uma relação entre as enchentes e a extensão do uso do solo, incluindo-se o desmatamento, começava a ser percebida. Não houve, porém, um aprofundamento desta questão, e muito menos decisões políticas que permitissem concretizar ações, embora não faltassem alertas importantes, como o do memorável botânico Roberto Miguel Klein: “Atualmente encontram-se em toda a área, outrora florestal, apenas remanescentes da vegetação original, que não raro, devido ao porte, são confundidos com a vegetação secundária (capoeirões), sobretudo na região da Floresta Ombrófila Densa (floresta pluvial da costa atlântica) e que, indistintamente, são derrubados para fins energéticos substituindo o óleo combustível nas caldeiras. Esta devastação sem precedentes, no norte e sul do estado, causou um profundo desequilíbrio nos ecossistemas com consequências imprevisíveis, sobretudo no vale do Itajaí, onde a busca energética através de lenha e carvão vegetal é mais intensa e arrasadora.”

O que em seguida se viu foi a criação de vários projetos como: 1) o “Projeto Nova Blumenau”, que partiu de uma assembléia de cidadãos locais e que durou apenas um ano pela falta de apoio da prefeitura para viabilizar as propostas elaboradas pelas comissões e uso político da mesma; 2) o “Projeto Crise”, da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), com o objetivo de desenvolver as chamadas medidas não-estruturais para proteção de enchentes, englobando monitoração do tempo, monitoração de níveis, modelos de previsão hidrológica e cartas de risco de inundação, uma espécie de sistema de alerta, que também envolvia as Centrais Elétricas de Santa Catarina (CELESC); 3) o estudo realizado entre 1986 e 1990 pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), em parceria com o extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), que previa a retificação e alargamento da calha do Rio Itajaí-Açu, de forma a facilitar o escoamento das águas e a construção de um canal artificial de 10 quilômetros ligando a cidade de Itajaí à praia de Navegantes; 4) o “Plano Global e Integrado de Defesa contra as Enchentes”, que partiu dos governos estadual e municipal, que previa a instalação de comitês de bacia, a começar pela bacia do Itajaí, também teve o apoio da FURB na formação do estatuto dos comitês.

No entanto, apesar dos eloqüentes discursos de 1984 do então governador Esperidião Amin, para a Dra. Beate Frank, professora da FURB, nenhuma das iniciativas logrou êxito: “a nível de governo estadual, as resoluções não eram transformadas em decisões políticas e, a nível comunitário, prevaleceu o habitual deixa como está para ver como fica. A preocupação das "lideranças sociais" era predominantemente a de conseguir recursos para as obras do DNOS, enquanto a administração das enchentes, da água em geral, e a busca de soluções alternativas ou complementares, não era alvo de discussão”.

Na tragédia de novembro de 2008, o número de mortes pode chegar a 200 pessoas, mais de 80 mil pessoas desabrigadas, um prejuízo ainda incalculável e gastos com a reconstrução econômica do Vale que certamente ultrapassará a casa dos bilhões! Certamente, não foram os “caprichos da natureza” culpados pela catástrofe. Mas afinal, então quem são os culpados?

O desmatamento na Amazônia que interfere no regime de chuvas que caem na região Sul? O Aquecimento Global que altera a temperatura das águas dos oceanos, causando mais evaporação --- já vimos isto quando do Furacão Catarina, em 2004? A previsão do volume de chuvas do Vale do Itajaí para o mês de novembro de 2008 era de 100mm a 120 mm, no entanto em quatro
dias choveu 500mm!

A irresponsabilidade total ao longo dos anos de políticos e administradores dos governos municipal, estadual e federal para resolver o problema das cheias, somado a um histórico descumprimento das leis ambientais no estado de Santa Catarina? São constantes as denúncias dos impactos das atividades de mineração no sul do Estado, uso dos rios de forma irresponsável para construções de hidrelétricas e irrigação de monoculturas.

O desmatamento crescente no Estado? Originalmente Santa Catarina tinha 85% do território coberto pela Mata Atlântica, hoje há apenas 17,4% dessa área. De acordo com Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Santa Catarina foi o Estado que mais desmatou entre 2000 e 2005. Sendo que atualmente o governo de Santa Catarina vem
trabalhando para alterar sua legislação ambiental e reduzir a proteção das chamadas áreas de preservação permanente, como encostas de morros.

A falta do mesmo espiríto empreendedor da população que fez o Vale prosperar economicamente, aplicado a um plano de ocupação da região dentro dos parâmetos da sustentabilidade? Uma das características de todas as enchentes foi a comunidade sempre delegar à terceiros a responsabilidade de “resolver” o problema.
Como se pode ver muitos são as culpas, no entanto, todas elas ligadas ao ser humano que insiste em cometer os mesmos erros ano após ano. Fontes usadas para dados históricos: FRANK, Beate. Uma abordagem para o Gerenciamento Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí, com Ênfase no Problema das Enchentes. Tese de Doutorado, UFSC, 1995.

* Professor na área de sustentabilidade e inovação
Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR

O quase fim da negociações do clima, CoP 14, Poznan

O 5º Vídeo sobre Mudanças Climáticas do Vitae Civilis na CoP 14 já está no ar !

Nesta edição, produzida em 11/12, quando foi aberto o segmento de alto nível, o Vitae Civilis traz o clamor das pequenas ilhas do Pacífico, com a participação de Tuvalu, Sri Lanka e Ilhas Salomão, nações já ameaçadas pelo aumento do nível do mar, mas cuja participação histórica na emissão de gases do efeito estufa é praticamente nula... 
Veja também o trabalho dos jovens que lutam pelo futuro das próximas gerações e descubra que são os "Bad Boys" das negociações, os países que mais se esforçam para arruinar o pacto global.

Você está mais do que convidado a acessar www.vitaecivilis.org.br ou www.youtube.com/vcivilis e postar seus comentários !

Abraços da equipe do Vitae Civilis na CoP 14, Poznan.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

"É preciso salvar o planeta do capitalismo"

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"É preciso salvar o planeta do capitalismo"

Em um documento enviado para a XIV Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, o presidente da Bolívia, Evo Morales, diz que a competição e a sede de lucro sem limites do sistema capitalista estão destroçando o planeta. Para o líder boliviano, “a mudança climática colocou toda a humanidade diante de uma disjuntiva: continuar pelo caminho do capitalismo e da morte, ou empreender o caminho da harmonia com a natureza e do respeito à vida”.

Evo Morales
Data: 07/12/2008

Evo Morales propõe a criação de uma Organização Mundial do Meio Ambiente e da Mudança Climática, a qual se subordinem as organizações comerciais e financeiras multilaterais, para promover um modelo distinto de desenvolvimento, amigável com a natureza e que resolva os graves problemas da pobreza. E defende a transformação estrutural da Organização Mundial do Comércio (OMC), do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do sistema econômico internacional em seu conjunto, "a fim de garantir um comércio justo e complementar, um financiamento sem condicionamentos para um desenvolvimento sustentável que não esbanje os recursos naturais e os combustíveis fósseis nos processos de produção, comércio e transporte de produtos".

Leia a seguir a íntegra do documento:

Hoje, nossa Mãe Terra está doente. Desde o princípio do século XXI temos vivido os anos mais quentes dos últimos mil anos. O aquecimento global está provocando mudanças bruscas no clima: o retrocesso das geleiras e a diminuição das calotas polares; o aumento do nível do mar e a inundação de territórios costeiros em cujas cercanias vivem 60% da população mundial; o incremento dos processos de desertificação e a diminuição de fontes de água doce; uma maior freqüência de desastres naturais que atingem diversas comunidades do planeta; a extinção de espécies animais e vegetais; e a propagação de enfermidades em zonas que antes estavam livres das mesmas. Uma das conseqüências mais trágicas da mudança climática é que algumas nações e territórios estão condenados a desaparecer pela elevação do nível do mar.

Tudo começou com a Revolução Industrial de 1750 que deu início ao sistema capitalista. Em dois séculos e meio, os países chamados “desenvolvidos” consumiram grande parte dos combustíveis fósseis criados em cinco milhões de séculos. A competição e a sede de lucro sem limites do sistema capitalista estão destroçando o planeta. Para o capitalismo não somos seres humanos, mas sim meros consumidores. Para o capitalismo não existe a mãe terra, mas sim as matérias primas. O capitalismo é a fonte das assimetrias e desequilíbrios no mundo. Gera luxo, ostentação e esbanjamento para uns poucos enquanto milhões morrem de fome no mundo. Nas mãos do capitalismo, tudo se converte em mercadoria: a água, a terra, o genoma humano, as culturas ancestrais, a justiça, a ética, a morte...a própria vida. Tudo, absolutamente tudo, se vende e se compra no capitalismo. E até a própria “mudança climática” converteu-se em um negócio.

A “mudança climática” colocou toda a humanidade diante de uma grande disjuntiva: continuar pelo caminho do capitalismo e da morte, ou empreender o caminho da harmonia com a natureza e do respeito à vida. No Protocolo de Kyoto, de 1997, os países desenvolvidos e de economias em transição se comprometeram a reduzir suas emissões de gases geradores de efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990, com a implementação de diferentes instrumentos entre os quais predominam os mecanismos de mercado. Até 2006, os gases causadores do efeito estufa, longe de diminuir, aumentaram 9,1% em relação aos níveis de 1990, evidenciando-se também desta maneira o descumprimento dos compromissos dos países desenvolvidos. Os mecanismos de mercado aplicados nos países em desenvolvimento não conseguiram uma diminuição significativa das emissões desses gases.

Assim como o mercado é incapaz de regular o sistema financeiro e produtivo do mundo, o mercado tampouco é capaz de regular as emissões de gases e só gerará um grande negócio para os agentes financeiros e as grandes corporações.

O planeta é muito mais importante que as bolsas de Wall Street e do mundo. Enquanto os Estados Unidos e a União Européia destinam US$ 4,1 trilhões de dólares para salvar os banqueiros de uma crise financeira que eles mesmos provocaram, destinam apenas US$ 13 bilhões de dólares aos programas vinculados à mudança climática, um valor 313 vezes menor do que aquele reservado aos bancos. Os recursos para a mudança climática estão mal distribuídos. Destinam-se mais recursos para reduzir as emissões (mitigação) e menos para enfrentar os efeitos da mudança climática que atingem todos os países (adaptação).

A grande maioria dos recursos foi dirigida aos países que mais contaminaram o meio ambiente e não para os países que mais trabalharam pela preservação. Cerca de 80% dos projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo concentraram-se em apenas quatro países emergentes. A lógica capitalista promove o paradoxo de que os setores que mais contribuíram para a deterioração do meio ambiente são os que mais se beneficiam dos programas relacionados às mudanças climáticas. E a transferência de tecnologia e financiamento para um desenvolvimento limpo e sustentável dos países do Sul permaneceu nos discursos. Na próxima cúpula sobre a Mudança Climática, em Copenhague, devemos permitir-nos dar um salto se queremos salvar a mãe terra e a humanidade. Para isso, apresentamos as seguintes propostas para o processo que vai de Poznan a Copenhague.

Atacar as causas estruturais da mudança climática

Discutir as causas estruturais da mudança climática. Enquanto não mudarmos o sistema capitalista por um sistema baseado na complementaridade, na solidariedade e na harmonia entre os povos e a natureza, as medidas que adotarmos serão paliativos com um caráter limitado e precário. Para nós, o que fracassou é o modelo de “viver melhor”, do desenvolvimento ilimitado, da industrialização sem fronteiras, da modernidade que despreza a história, da acumulação crescente às custas do outro e da natureza. Por isso, propomos o Viver Bem, em harmonia com os outros seres humanos e com nossa Mãe Terra.

Os países desenvolvidos precisam controlar seus padrões consumistas – de lucro e esbanjamento -, especialmente o consumo excessivo de combustíveis fósseis. Os subsídios aos combustíveis fósseis, que chegam a 150-250 bilhões de dólares, devem ser progressivamente eliminados. É fundamental desenvolver energias alternativas como a energia solar, a geotérmica, a energia eólica e a hidroelétrica em pequena e média escala.

Os agrocombustíveis não são uma alternativa porque opõem a produção de alimentos para o transporte frente à produção de alimentos para os seres humanos. Os agrocombustíveis ampliam a fronteira agrícola destruindo os bosques e a biodiversidade, geram monoculturas, promovem a concentração da terra, deterioram os solos, esgotam as fontes de água, contribuem para a alta do preço dos alimentos e, em muitos casos, consomem mais energia do que geram.

Cumprimento de compromissos substanciais de redução de emissões

Cumprir estritamente até 2012 o compromisso dos países desenvolvidos de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 5%, em relação aos níveis de 1990. Não é aceitável que os países que contaminaram historicamente o planeta falem de reduções maiores para o futuro descumprindo seus compromissos presentes.

Estabelecer novos compromissos mínimos para os países desenvolvidos, de 40% para 2020 e de 90% para 2050, de redução de gases causadores do efeito estufa, tomando como ponto de partida as emissões de 1990. Esses compromissos mínimos de redução devem ser feitos de maneira interna nos países desenvolvidos e não através de mecanismos flexíveis de mercado que permitem a compra de Certificados de Reduções de Emissões para seguir contaminando em seu próprio país. Além disso, devem se estabelecer mecanismos de monitoramento, informação e verificação transparentes, acessíveis ao público, para garantir o cumprimento de tais compromissos. Os países em desenvolvimento que não são responsáveis pela contaminação histórica devem preservar o espaço necessário para implementar um desenvolvimento alternativo e sustentável que não repita os erros do processo de industrialização selvagem que nos levaram à atual situação. Para assegurar esse processo, os países em desenvolvimento necessitam, como pré-requisito, de financiamento e transferência de tecnologia.

Um mecanismo financeiro integral para atender à dívida ecológica

Os países desenvolvidos devem reconhecer a dívida ecológica histórica que têm com o planeta e criar um mecanismo financeiro integral para apoiar os países em desenvolvimento na implementação de seus planos e programas de adaptação e mitigação da mudança climática; na inovação, desenvolvimento e transferência de tecnologia; na conservação e melhoramento de seus escoadouros e depósitos; nas ações de resposta aos graves desastres naturais provocados pela mudança climática; e na execução de planos de desenvolvimento sustentáveis e amigáveis com a natureza.

Este mecanismo financeiro integral, para ser efetivo, deve contar com pelo menos um aporte de 1% do PIB dos países desenvolvidos, sem contar outros recursos provenientes de impostos sobre combustíveis, transnacionais financeiras, transporte marítimo e aéreo e bens de empresas transnacionais. O financiamento proveniente dos países desenvolvidos deve ser agregado à Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (ODA), à ajuda bilateral e/ou canalizada através de organismos que não sejam os das Nações Unidas. Qualquer financiamento fora da Convenção-Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC) não poderá ser considerado como a aplicação dos compromissos dos países desenvolvidos sob a convenção. Os financiamentos têm que ser dirigidos aos planos e programas nacionais dos Estados e não para projetos que estão sob a lógica do mercado.

O financiamento não deve concentrar-se somente em alguns países desenvolvidos, mas tem que priorizar os países que menos contribuem para a emissão de gases geradores do efeito estufa, aqueles que preservam a natureza e/ou que mais sofrem os impactos da mudança climática. O mecanismo de financiamento integral deve estar sob a cobertura das Nações Unidas e não do Fundo Global de Meio Ambiente (GEF) e seus intermediários como o Banco Mundial ou os bancos regionais; sua administração deve ser coletiva, transparente e não burocrática. Suas decisões devem ser tomadas por todos os países membros, em especial os países em desenvolvimento, e não apenas pelos doadores ou pelas burocracias administradoras.

Transferência de tecnologia aos países em desenvolvimento

As inovações e tecnologias relacionadas com a mudança climática devem ser de domínio público e não estar sob um regime privado de monopólio de patentes que obstaculiza e encarece sua transferência aos países em desenvolvimento.

Os produtos que são fruto do financiamento público para inovação e desenvolvimento de tecnologias devem ser colocados sob o domínio público e não sob um regime privado de patentes, de forma tal que sejam de livre acesso para os países em desenvolvimento.

Incentivar e melhorar o sistema de licenças voluntárias e obrigatórias para que todos os países possam ter acesso aos produtos já patenteados, de forma rápida e livre de custo. Os países desenvolvidos não podem tratar as patentes e os direitos de propriedade intelectual como se fossem algo “sagrado” que deve ser mantido a qualquer custo. O regime de flexibilidade que existe para os direitos de propriedade intelectual, quando se trata de graves problemas de saúde pública, deve ser adaptado e ampliado substancialmente para curar a Mãe Terra.

Reunir e promover as práticas dos povos indígenas de harmonia com a natureza que, ao longo dos séculos, mostraram-se sustentáveis.

Adaptação e mitigação com a participação de todo o povo

Impulsionar ações, programas e planos de mitigação e adaptação com a participação das comunidades locais e povos indígenas no marco do pleno respeito e implementação da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. O melhor instrumento para enfrentar o desafio da mudança climática não são os instrumentos de mercado, mas sim os seres humanos organizados, conscientes, mobilizados e dotados de identidade.

A redução das emissões resultantes do desmatamento e degradação das florestas deve estar baseada em um mecanismo de compensação direta de países desenvolvidos para países em desenvolvimento, através de uma implementação soberana que assegure uma participação ampla de comunidades locais e povos indígenas, e um mecanismo de monitoramento, informação e verificação transparentes e públicos.

Uma ONU do Meio Ambiente e da Mudança Climática

Necessitamos de uma Organização Mundial do Meio Ambiente e da Mudança Climática, a qual se subordinem as organizações comerciais e financeiras multilaterais, para promover um modelo distinto de desenvolvimento, amigável com a natureza e que resolva os graves problemas da pobreza. Esta organização tem que contar com mecanismos efetivos de implantação de programas, verificação e sanção para garantir o cumprimento dos acordos presentes e futuros.

É fundamental transformar estruturalmente a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário e o sistema econômico internacional em seu conjunto, a fim de garantir um comércio justo e complementar, um financiamento sem condicionamentos para um desenvolvimento sustentável que não esbanje os recursos naturais e os combustíveis fósseis nos processos de produção, comércio e transporte de produtos.

Neste processo de negociação para a cúpula de Copenhague é fundamental garantir instâncias ativas de participação em nível nacional, regional e mundial de todos nossos povos, em particular dos setores mais afetados como os povos indígenas que sempre impulsionaram a defesa da Mãe terra.

A humanidade é capaz de salvar o planeta se recuperar os princípios da solidariedade, da complementaridade e da harmonia com a natureza, em contraposição ao império da competição, do lucro e do consumismo dos recursos naturais.

(*) Evo Morales é Presidente da Bolívia.

Tradução: Katarina Peixoto

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Mais videos da CoP 14. A conferencia que nao decola.

O Vitae Civilis tem o prazer de anunciar, sem acentos ou "cecidilhas" porque o teclado eh Polones, seus mais novos videos produzidos na CoP 14, em Poznan.

No video #3 sao analisadas as faces das reducoes de emissoes por desmatamento e degradacao florestal, conhecidas como REDDs. Quem as analisa eh um indio americano, cujos povos tiveram seus direitos arrancados dos textos das negociacoes pelos proprio americanos (assim como os direitos de todos os outros povos indigenas do planeta). A outra analise eh feita por Gaines Campbell, membro do Vitae Civilis. Ao final, existe uma analise dos acontecimentos da semana por Jennifer Morgan, conhecida por aqui como a Sra. Clima.

No video #4 acompanhei um protesto que foi ate Varsovia - a 3 horas daqui - para pedir que a chanceler alema Merkel e o primeiro ministro polones Donald Tusk adotem posicoes series que reflitam em metas consideraveis reducoes de emissoes (25 a 40% em 2020, com base em 1990). A Alemanha, antes lider das negociacoes, usa agoraa crise financeira como desculpa para reduzir suas metas e buscar brechas que permitam a continuidade do uso do carvao mineral como fonte principal de energia. A Polonia, que tem 93% de sua matriz baseada em carvao, defende a proposta alema com unhas e dentes. No video voce vera como a pressao popular eh importante para a defesa do posicionamento da sociedade civil.

Acesse www.vitaecivilis.org.br ou www.youtube.com/vcivilis e deixe seus comentarios !

Abracos, equipe Vitae Civilis, Poznan, CoP 14 !

Entrevista

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Entrevista do Hugo no Jornal das 10 no Globo News.


terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Risco maior

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Alguns pontos do artigo da Míriam Leitão interagem com a visão de economia ecológica:

- a humanidade é uma espécie animal como outra qualquer e não pode, nem deve, manter crescimento populacional absoluto positivo. O dado que ela dá da Índia é assustador: mais 500 milhões de pessoas. Ainda gostaria de descobrir porque China e Índia possuem populações tão gigantes, mas no Brasil a população aumenta 1,5 milhão todos os anos, até 2050, a dos Estados Unidos, aumenta 3 milhões todos os anos. Apesar da taxa de crescimento cair, eu só posso considerar isso positivo se a humanidade for capaz de povoar outros planetas e se nossas demandas e dejetos pudessem ser atendidas por recursos imateriais e intangíveis e não por recursos e ecossistemas finitos do planeta Terra....

A comunidade científica quando assinou um alerta para a Humanidade pediu o imediato estancamento do crescimento populacional. Quando fizeram esse alerta éramos pouco mais de 5 bilhões, hoje somos quase 7. Ainda bem que fizeram o alerta.

Os ecossistemas estão sofrendo uma pressão inalcançável por conta desse contingente populacional e da pressão dos mais ricos no seu consumo desenfreado. Nossa ganância será o fim da trajetória humana da Terra se assim continuarmos.

Recebi um email de um amigo economista meu e ele disse: só recebo seus textos de meio ambiente, queria receber os de economia. Eu eu corrige sua demanda: "Só uma correção: quando mando texto do meio ambiente, falo também de economia, porque não dá para separar os dois. Estou aprendendo a duras penas que se de um lado os economistas ignoram a dimensão ambiental e humana, alguns ambientalistas ignoram a dimensão econômica e humana. Cada um vive no seu extremo, embora essas três dimensões estejam sempre juntas e quando escrevo sobre meio ambiente, com certeza estou também nas outras dimensões, elas não estão nunca separadas. Os ambientalistas e economistas ecológicos estavam certos ao dizer que o meio ambiente é e sempre foi o sistema mais importante, mas nenhum dos dois deve ignorar que o ser humano faz parte da natureza e interage com ela.

Na verdade, se quiserem explicar toda essa crise sistêmica na qual estamos, não dá mais para usar o ferramental teórico econômico neoclássico que existe e sim migrar para uma área onde todas as dimensões estejam juntas, porque essa crise é fruto de um enorme desmazelo social e a pior das crises ainda não aconteceu e será a fruto do desmazelo ambiental. As três dimensões não só devem ser olhadas juntas, como na escala de importância correta: planeta é mais importante que a economia e as pessoas; as pessoas são mais importantes que a economia. Na verdade a economia depende das pessoas e do planeta e não há um só exemplo na história da humanidade de fim de um ou os dois pilares sem a civilização não ter entrado em colapso.



Míriam Leitão - Panorama Econômico - O Globo 07-12-08
Risco maior
Aqui na coluna escrevi, em 3 de outubro: “Fomos atingidos.” Isto foi na época da “marolinha”, quando o governo achava que o Brasil não seria atingido. Agora é a época em que o presidente usa expressões impróprias para descrever a situação. De lá para cá, o governo andou feito barata tonta. Lá fora a crise tem se agravado. Desmoronou de vez a idéia de que os emergentes poderiam segurar o mundo. Os BRICs estão com sérios problemas. O terrorismo na Índia é mais um fator para espantar o investimento estrangeiro. Em plena era da covardia do capital, ela mostra um lado que foi ignorado nos tempos do capital abundante: as tensões étnicoreligiosas e o conflito explosivo com o Paquistão. A Índia, apontada como candidata a potência, tem 46% das mulheres analfabetas e uma taxa extravagante de crescimento populacional, que a levará a ter quase 500 milhões de habitantes a mais em 2050. Na Rússia, a corrupção atingiu proporções endêmicas, mas o principal problema imediato é como lidar com a abrupta queda dos preços do petróleo, do gás e dos metais, que respondem por 80% das exportações do país. A disparada dos preços levou o governo russo a inflacionar as despesas. As empresas se alavancaram tendo como base seu valor em bolsa, mas a queda das ações foi de 70% este ano. Elas estão mais endividadas que seu patrimônio. Inúmeras distorções vão aparecendo no país. A China tem uma enorme população excluída e no campo. O crescimento fazia a fila andar. Se ela crescer abaixo de 6% ao ano, a fila não anda. Da última vez que o país não cresceu, o governo massacrou estudantes na principal praça da capital. As tensões sociais, e os desastres ambientais, vão cobrar a conta nesta redução do ritmo de crescimento do país. Mesmo assim, comparada à Índia e à Rússia, a China ainda está melhor. O Brasil também está melhor que outros, mas as despesas públicas de custeio e de pessoal subiram muito nos últimos anos, criando uma restrição fiscal ao aumento do investimento público como forma de ajudar a reativar a economia. A promessa do presidente, de não gastar um centavo de custeio, chega tarde e há aumentos salariais já garantidos aos funcionários públicos, que vão elevar em R$ 40 bilhões a folha salarial nos próximos anos. Folha que passou a ter 300 mil funcionários civis e militares a mais no governo Lula. O governo já estrangulou os gastos públicos. Agora, a única saída é reduzir o superávit primário, mas mesmo isso pode ser insuficiente. Tudo que era brilhante não reluz mais. As reservas de R$ 200 bilhões — melhor tê-las do que não telas — não estão impedindo a disparada do dólar. O governo ainda repete que o fato de ter reservas altas e ser credor em dólar nos protege contra a crise externa. Falta explicar a incapacidade do Banco Central de vencer o overshooting do câmbio e o ataque especulativo que o real vem sofrendo. Há razões concretas para que o dólar tenha subido de patamar, mas isso não explica toda a alta. O Banco do Brasil e a Nossa Caixa, de São Paulo, puseram R$ 8 bilhões nas financeiras das montadoras e a venda de carros continua caindo. O governo distribuiu ajudas fiscais para quem bateu primeiro na sua porta. Patético, por exemplo, o incentivo para a venda de motos. Em mais uma das decisões confusas, baixou uma MP para que a Caixa Econômica virasse sócia das construtoras. A idéia foi criticada pelas próprias construtoras e agora a Caixa desistiu. A Petrobras pegou um empréstimo jumbo na Caixa. A ministra Dilma Rousseff disse que era um absurdo criticar a operação. Criticou-se a crítica como se ela fosse traição à pátria e, agora, o presidente Lula admitiu que a operação “tirou liquidez das pequenas empresas”. Na Câmara, o petista Arlindo Chinaglia se propõe a apressar a aprovação da redução da jornada sem redução de salário. Isso só ajuda os metalúrgicos do ABC e meia dúzia de categorias com forte lobby em Brasília, mas aumenta o custo das empresas numa hora de crise. Outras medidas tópicas, setoriais, para atender aos lobbies, estão sendo pensadas. A que horas teremos governo? Quando o Ministério da Fazenda dará alguma demonstração de que tem autonomia e capacidade para pensar numa resposta coerente para a crise econômica? Redução de imposto distribuída a conta-gotas para grandes empresas ou setores não resolve crise alguma. A Vale não está demitindo porque os impostos são altos ou porque não tem crédito, mas porque a demanda dos seus produtos caiu abruptamente no mundo. Uma redução horizontal de impostos para toda a economia é mais eficiente do que a abertura de um balcão de favores de Brasília. Se o setor privado puder se apropriar de uma parte maior da renda que o governo engole, terá mais energia para atravessar um período que será difícil de qualquer maneira. O desafio das autoridades econômicas não pode ser a luta inútil para manter a qualquer preço o ritmo de 4% a 4,5% de crescimento. Isso é o pior caminho para aumentar o déficit da conta corrente e impedir a queda da inflação. O governo precisa de uma resposta lógica e eficiente à crise. Do contrário, o país ouvirá do médico aquele diagnóstico que o presidente Lula definiu com uma falta de compostura que presidentes não deveriam ter, mas que já está se tornando habitual.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Empregos Verdes

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O Green Jobs (Empregos Verdes), novo relatório do WWI-Worldwatch Institute, mostra o impacto da emergente eco-economia detalhando como esforços para combater as mudanças climáticas levam à criação de milhões de "empregos verdes" na agricultura, indústria, serviços e administração.

A ecoeficiencia energética faz parte dos econegócios para a descarbonização do Planeta. O Bundestag, parlamento alemão, votou novas leis para investimentos nas energias renováveis visando a redução da emissão de 250 milhões de toneladas de CO2 em 2020 e uma participação das energias renováveis na produção de 30% da eletricidade no mesmo ano. Com isto, a tecnologia ambiental será quadruplicada até alcançar 16% da produção industrial em 2030, levando o emprego no setor a superar o da indústria automobilística e de máquinas e ferramentas daquele país.

Investimentos na eficiência energética nos edifícios gerarão 3,5 milhões de empregos verdes na Europa e nos Estados Unidos. A reciclagem e a gestão de dejetos empregam cerca de 10 milhões de pessoas na China onde o capital de risco verde duplicou até alcançar 19% do total dos investimentos realizados nos últimos anos.

A partir de 23 de julho de 2008 toda nova edificação da cidade de São Paulo somente será aprovada na prefeitura se prever o uso de aquecedores solares. A maior cidade do país e uma das maiores do mundo dá um passo importante para a sustentabilidade. O exemplo de São Paulo influencia o resto do País.

A despeito da sua economia baseada em carvão, o governo e empresários chineses impulsionam a "Revolução Verde" fazendo da China líder mundial em tecnologia foto-voltaica. Seis das maiores empresas de energia solar chinesas têm um valor de mercado de 15 bilhões de dólares e 600 mil pessoas estão empregadas na produção de energia térmica e na instalação de produtos como aquecedores solares de água.

Investimentos em energias renováveis na China atingiram 12 bilhões de dólares em 2007. Para atingir os ambiciosos planos de baixo carbono do governo central serão necessários investimentos de 398 bilhões de dólares, 33 bilhões por ano, para atingir as metas energéticas chinesas estabelecidas para 2020.

Os americanos, deixados para trás pelos chineses, correm atrás do tempo perdido. O estado do Texas, meca de produtores de petróleo é, hoje, o principal produtor de eletricidade a partir da energia eólica dos Estados Unidos. Com 6 mil megawatts de capacidade eólica instalada e mais 39 mil megawatts em construção, terá 45 mil megawatts de capacidade gerada por vento, o que será mais do que suficiente para satisfazer as necessidades residenciais dos 24 milhões de habitantes do estado, permitindo exportar electricidade limpa para os estados vizinhos de Louisiana e Mississippi.

Outros estados americanos instalam seus parques eólicos competindo para o status de potências de vento. As gigantes Clipper Windpower e Brithish Petroleum, consorciadas, constroem o maior parque eólico do mundo em Dakota do Sul (um tradicional estado agrícola) incluindo uma linha de transmissão de energia ao longo de uma velha ferrovia desativada. O novo parque de energias renováveis gerará cinco vezes mais energia que os habitantes daquele estado consomem, podendo exportar o excedente para outros centros consumidores.

A economia energética, turbinada pelo petróleo e carvão, está sendo paulatinamente alimentada por fontes renováveis como eólica, solar e geotérmica. No momento em que a transição avança a um ritmo e numa escala sem precedentes o relatório faz um apelo para que sejam adotadas medidas capazes de garantir trabalho decente com o objetivo de reduzir a pobreza.

Na Nigéria, a indústria de biocombustíveis baseada no cultivo da mandioca e da cana-de-açúcar poderá empregar 200 mil pessoas; na Índia, 900 mil empregos serão gerados na gaseificação de biomassa, dos quais 300 mil na fabricação de fornos e 600 mil em áreas como a fabricação de briquetes e grãos na cadeia de fornecimento de combustível; na África do Sul, 25 mil pessoas desempregadas trabalham agora na conservação como parte da iniciativa "Working for Water" (trabalhando pela água).

No Brasil, iniciativas surgem em diferentes áreas, das usinas de biocombustível, usinas eólicas construções verdes e, sobretudo, no potencial da biodiversidade. Atento ao fato de que o Nordeste tem 52% de todo o potencial de geração eólica do País (75 gigawatts), o que equivale a seis vezes a produção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, Pernambuco lança-se como pólo de geração de energia limpa com a primeira fábrica de turbinas eólicas (Impsa Energy Power). O investimento de R$145 milhões produzirá 200 equipamentos por ano e 1.500 empregos verdes.
Na Bahia, onde fontes de energias renováveis são abundantes, o potencial da biodiversidade para geração de empregos verdes também esta sendo pesquisado. A Universidade Federal de Feira de Santana-UEFS desenvolve pesquisas sobre animais peçonhentos. Proteínas, aminoácidos, sais, toxinas e muitas substâncias de potencial farmacológico podem ser encontrados no veneno de animais peçonhentos, uma nova fronteira para a economia do semiárido onde estão 40% dos nordestinos e 20% da renda nacional. Filão para a indústria farmacêutica que movimenta um PIB de 1 trilhão de dólares.

O relatório Green Jobs, lançado em parceria com o PNUMA-Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o Cornell University Global Labour Institute, OIT Organização Internacional do Trabalho, Organização Internacional de Empregadores (OIE) e Confederação Sindical Internacional (CSI), – que juntas representam milhões de empregadores e trabalhadores em todo o mundo – mostra que mercados prosperam nos países onde há apoio político forte e investimento em empresários qualificados e trabalhadores capacitados.

Como no período que antecedeu a ECO 92, no Rio, as atenções e movimentos internacionais voltam-se agora para a Cúpula das Nações Unidas sobre o Clima que acontecerá em Copenhaguem, na Dinamarca, no final de 2009. Até lá, pesquisas, inventos e investimentos estarão no dia a dia das pessoas mudando a economia de um Planeta aquecido que pulou de 2,5 bilhões de habitantes em 1950 para 6,7 bilhões em 2008, emitindo em um dia a mesma quantidade de carbono que os nossos antepassados emitiam em um século.

Para observar a aceleração das mudanças em curso e a necessidade de descarbonização podemos fazer o nosso relatório pessoal observando o dia a dia das pessoas e, principalmente, o das crianças e adolescentes que, estimulados pela mídia e pelas escolas, estão constantemente nos abordando sobre questões ambientais. Esses líderes das próximas décadas convidam-nos a refletir sobre a importância da eco-economia como uma nova ordem mundial. Está nas nossas mãos a responsabilidade de decisões que afetarão as gerações futuras e o principio da solidariedade entre as gerações, invocado.

Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil. www.worldwatch.org.br . Email: eduardo@uma.org.br

sábado, 6 de dezembro de 2008

Novos vídeos da Vitae Civilis na CoP 14 !

Novos vídeos da Vitae Civilis na CoP 14, em Poznan, Polônia !

Os vídeos do Vitae Civilis são um espaço para a participação de ONGs e pequenas delegações nas negociações sobre mudanças climáticas.

O primeiro vídeo apresenta o importantíssimo papel realizado pelas organizações da sociedade civil e as diferentes maneiras utilizadas por estas instituições para influenciar o sucesso das negociações.

O segundo vídeo traz representantes de pequenas delegações falando sobre suas expectativas em relação as negociações e  dos impactos das mudanças climáticas sobre suas nações, onde milhões de pessoas tem sua sobrevivência afetada por enchentes, secas e aumento do nível do mar. Estes são os novos "refugiados climáticos". Bangladesh, Namibia, Brasil e Ilhas Salomão são os entrevistados.

Assista agora e deixe seu comentário em:


Abraços,

Equipe Vitae Civilis, CoP 14.


Primeiras impressões e pretensiosas promessas de Poznan

Por favor se comentar deixe um email para contato.

Por: Vitae Civilis
Fonte: www.vitaecivilis.org.br

Começou! A 14ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, sigla em inglês) começou, deixando saudades de Bali e seus 39ºC na sombra versus 0ºC ao sol em Poznan. A questão é mesmo de temperatura: calores, calafrios, paixões e frias.

Se a temperatura média global aumentar mais que 2ºC em relação aos níveis pré-industriais, o impacto do clima sobre a produção de alimentos, recursos hídricos, nível do mar e ecossistemas será catastrófico. Mais de dois bilhões de pessoas sofrerão os efeitos da falta de água e a maior parte do sul da África conviverá com seca o ano inteiro. A agricultura será seriamente comprometida e a fome e desnutrição matarão, no mínimo, dois milhões de pessoas por ano. A emergência econômica que temos hoje será pálida se comparada às conseqüências das mudanças climáticas, caso seja mantido o atual nível de comprometimento. Por tudo isso, os delegados reunidos em Poznan têm a obrigação de sinalizar que 2009 será um ano decisivo, que a CoP-15, em Copenhague, produzirá um acordo ratificável.
 
Contexto externo

Algumas coisas muito importantes aconteceram entre Bali (CoP-13) e Poznan (CoP-14):

  • Milhões de pessoas já enfrentam os impactos perigosos das mudanças no clima, que não vão sumir, vão se intensificar e ameaçam as suas vidas e formas de sustento;
  • O discurso da resistência não encontra mais ressonância, a não ser nos redutos reacionários de minorias ranzinzas;
  • A crise financeira mundial não é razão para protelar, muito menos para ambições reprimidas, mas representa uma oportunidade de assumir compromissos com fortes ações sobre o clima e fazer deles alavancas econômicas. O inimaginável nível de recursos juntados para impedir impactos econômicos ainda mais graves demonstra com clareza que, quando a questão é importante, todas as barreiras podem ser derrubadas;
  • Dois governos de países do Anexo I estão alterando o cenário nesse exato momento: Canadá e Reino Unido.
  • Na segunda-feira, dia 1 de dezembro, a Comissão de Mudanças Climáticas do governo britânico publicou as suas propostas para as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa para 2020. A meta recomendada é de 42% de redução para todos os gases de efeito estufa em relação a 1990. Ao aceitar esta proposta, o governo britânico terá assumido a mais ambiciosa meta de todos os países do mundo, além de mostrar o caminho para outros países desenvolvidos;
    o Na próxima segunda-feira, 8 de dezembro, com alto nível de probabilidade o governo do Canadá cairá após a aprovação de uma moção de desconfiança. Os partidos da oposição já assinaram um pacto de governança e a sociedade civil está conclamando, entre outras coisas, por um reposicionamento da sua estratégia energética e redução da sua dependência no petróleo importado.
  • Os países em desenvolvimento, os países menos desenvolvidos e o grupo dos países insulares, entre outros, olham para a CoP-14 com uma visão crítica, contundente e exigente. A seguir o tom do discurso de alguns desses países:
  • 16 anos após a Convenção do Rio e ainda se discute sua implementação. Está na hora dos países desenvolvidos reconhecerem sua responsabilidade histórica e assumirem seus compromissos.
  • A UNFCCC já contém uma visão compartilhada de longo prazo. Compromissos futuros têm que levar em conta eqüidade e responsabilidades históricas. Se a Convenção tivesse sido completamente implementada e os compromissos honrados, o Plano de Bali teria sido desnecessário e os países mais vulneráveis teriam recebido os recursos necessários para a sua adaptação aos impactos adversos da mudança do clima.
  • A falta de confiança por parte dos países menos desenvolvidos em relação às negociações faz com que eles hesitem em assumir compromissos.
  • A crise provocada pelas mudanças de clima requer o mesmo grau de comprometimento financeiro que a atual crise financeira. Existe uma expectativa grande em torno da administração do próximo Presidente dos Estados Unidos.

Falta liderança! 

Nesses três dias iniciais de negociações, a União Européia, que possui reputação considerável no combate às mudanças climáticas, tendo sido fundamental para a adoção do Plano de Ação de Bali há um ano, tem decepcionado. Em seu próprio território, o bloco europeu não mostrou o que veio fazer na CoP-14. Até agora, não apresentou propostas concretas ou se posicionou sobre a transferência de recursos para mitigação e adaptação para os países não-Anexo I (vulgo países do Sul). Dentro da UE, as atenções se voltam para a Polônia, cujo primeiro-ministro em discurso inaugural da CoP clamou por solidariedade global para lidar com as mudanças do clima. Esse discurso, contraditório com a posição assumida pelo país nos últimos meses sobre o pacote de clima e energia da União Européia e sobre a posição do bloco para as negociações internacionais, fez com que o país anfitrião da Conferência ganhasse o primeiro Prêmio Fóssil do Dia – dado para os países que mais “se esforçam” para impedir o sucesso das negociações. 

O Umbrella Group (Austrália, Canadá, Islândia, Japão, Nova Zelândia, Noruega, Rússia, Ucrânia e Estados Unidos) tradicionalmente possui posições conservadoras com o propósito de evitar a discussão sobre compromissos de redução de emissões para os países desenvolvidos. Saiu de um dos países integrantes desse grupo uma das “pérolas” dessa CoP: um negociador do Japão, durante uma sessão do AWG-LCA, ofereceu-se para reduzir o tempo de duração dos seus banhos diários de 20 para 15 minutos para salvar o planeta. Além disso, prometeu tentar reduzir os sete ou oito banhos que toma nos finais de semana para três. Essa intervenção foi infeliz e ofensiva, ainda mais se lembrarmos que aconteceu numa reunião das Nações Unidas, onde em muitos dos países ali representados a população não possui água nem para atender suas necessidades básicas, muito menos para vários banhos diários, como foi lembrado por um delegado chinês. A delegação norte-americana, como reflexo do processo de transição interna, tenta obstruir o processo, alegando que não vale a pena negociar acordo no momento, pois isso poderá atrapalhar os planos da administração Obama. 

E o Brasil? 

O lançamento do Plano Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), em Brasília, na última segunda-feira provocou uma reação positiva aqui em Poznan. No entanto, aqueles que conheceram de perto o processo de elaboração desse plano, bem como o seu conteúdo, sabem que um plano preparado às pressas não tem consistência para ser apresentado e defendido na CoP-14. O texto não contemplou, por exemplo, as deliberações da III Conferência Nacional de Meio Ambiente (maio de 2008), que nem chegaram a ser publicadas e faziam parte do processo de consulta pública para o Plano. É de particular interesse para o Brasil, na CoP-14, a discussão sobre mecanismos para a redução de emissões de desmatamento e degradação florestal (REDD), já que a maior parte das emissões do país (75%) são originárias dessa fonte e o PNMC tem como um de seus objetivos a diminuição das taxas de desmatamento na Amazônia. De que maneira isso seria feito? Com que recursos?  O país deve aproveitar as discussões em Poznan para defender um mecanismo de REDD que melhor atenda seus interesses, obedecendo princípios de eqüidade e justiça. E que esses interesses não sejam apenas restritos à CoP e oportunistas, como foi o lançamento do PNMC no dia do início da Conferência da ONU. 

Principais pontos em negociação e expectativas

O sucesso das negociações em Poznan é fundamental para que, em dezembro de 2009, na CoP-15 (Copenhague), os países parte da Convenção consigam chegar num acordo que defina o que vai acontecer após 31 de dezembro de 2012, data do fim do primeiro período de compromissos do Protocolo de Quioto. Assim, espera-se que o primeiro texto para negociação seja apresentado já na primeira rodada de negociações do próximo ano. 

É importante termos sempre em mente que o objetivo dessas negociações, como diz o texto da Convenção, é estabilizar a concentração de emissões de gases de efeito estufa num nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema climático. Se esse objetivo não for alcançado, a vida neste planeta corre seríssimos riscos e será impossível estender a mão aos mais vulneráveis e menos aptos a enfrentar os impactos das mudanças climáticas. 

Atividades da equipe VC

O Vitae Civilis participa da CoP-14 com a sua maior equipe e uma ambição maior ainda. Normalmente, o primeiro dia é dedicado a um pequeno número de tarefas administrativas, logísticas e de orientação dentro da estrutura física da Conferência. Entretanto, desta vez as coisas mudaram. Desde o primeiro momento sugiram oportunidades e desafios novos. O nível de relacionamento da equipe vai aumentando na medida em que a participação em outras CoPs e reuniões dos Grupos de Trabalho Ad Hoc aumentam. Assim, um dia de trabalho na CoP inclui: coleta dos documentos-chave, tais como o programa diário publicado pelo Secretariado da UNFCCC, cópias dos boletins da Climate Action Network (CAN), da Third World Network e do Earth Negotiations Boletin (ENB); participação em reuniões diárias tais como a da Coordenação Política da CAN, o CAN Daily Meeting, grupos de trabalho sobre REDD e adaptação, contatos e reuniões com outras redes e ONGs; assistir às reuniões plenárias, workshops, grupos de contato, quando possível, reuniões com delegações ou outros contatos de alto nível. No meio de tudo isso temos que verificar os nossos e-mails, que passaram a ganhar um volume e qualidade fundamentais para os nossos objetivos na CoP e, quem sabe, tirar um tempinho para almoçar. Quando não voltamos tarde para o nosso apartamento (depois da meia-noite), acabamos voltando cedo e trabalhando até tarde (são 2h10 neste exato momento). Mas, como dissemos em Bali, no ano passado, e repetimos agora: apesar da sobrecarga de tarefas, informações e contatos temos muito orgulho de fazer parte e de fazer a nossa parte.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Triple Bottom line: profit, people & planet

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Triple Bottom line: profit, people & planet
A visão tripla: lucros, pessoas e planeta
A regra que não mudou o mundo

Será que a visão tripla – lucros, pessoa e planeta – vai mudar o mundo? Claro que não, os três pilares devem estar juntos, mas não no mesmo grau de importância.

Vamos explicar melhor.

Os ambientalistas acertaram muito e em muitas áreas, já os economistas ignoram a dimensão ambiental e humana. Esse erro aparece aqui também: alguns ambientalistas mais práticos falham em não olhar a dimensão econômica e humana. Fica cada um deles nos seus extremos. Os ambientalistas acertaram bem em dizer que a natureza é o sistema mais importante de todos, a Economia Ecológica vai pelo mesmo caminho. Mas alguns ambientalistas erram em esquecer que o ser humano não brotou do nada, ele também é parte da natureza e inter-age com ela. Os economistas falham também em achar que a economia brotou do nada. Os erros são muito parecidos, a única diferença é que cada erro está num ponto cardeal diferente. Um dia, ambos terão o mesmo modelo mental e as três dimensões (planeta, pessoa e economia) estarão sendo consideradas juntas e na ordem de importância devida: planeta é o mais importante, as pessoas vem em segundo lugar e em último vem a economia, que na verdade depende das pessoas e do planeta.

Segue a redefinição de sustentabilidade do ponto de vista ambiental presente em minhas palestras:

A economia é um subsistema da natureza. Por essa razão, tem que imitar o seu funcionamento. Qualquer empreendimento/projeto ou país para contribuir para o desenvolvimento sustentável tem que ser: circular, regenerativo e finito. Nada pode ser considerado desenvolvimento sustentável se uma ou mais dessas características não estiver presente.

Essa definição não inclui a questão social, mas define qual é a relação do sistema econômico-humano com o planeta. Presume que uma vez assim definido, as questões sociais serão melhor endereçadas, mas a rota de colisão do sistema econômico humano com o planeta é hoje uma das nossas maiores urgências. Aquecimento global é uma delas, mas não a única, estabelecer uma prioridade aqui é inglório.

De qualquer forma, para começar a resolver questões ambientais e sócio-econômicas, a ótica tem que ser invertida. Abaixo, segue a realidade: a economia na verdade depende do planeta e das pessoas:



A realidade não é seguida. A ótica que define quase 100% das decisões de todos vem logo abaixo: os economistas firmemente acreditam que a economia pode ser maior que o planeta e ao insistirem nesse erro irão só continuar agravando a rota de colapso que irá produzir retrocessos ambientais, sociais e econômicos monumentais, tal qual Santa Catarina hoje. Note que sob essa ótica surrealista, o sistema mais importante é a economia. Isso é assustador, porque o economista criou um bicho - a economia - que não tem boca nem estômago (de onde vem os recursos pouco importa) e não tem nem intestino nem reto (para onde vão os resíduos pouco importa). Esse bicho não tem contato algum com o meio ambiente, só tem sistema circulatório e poderia estar em qualquer lugar do universo. Nada poderia estar mais errado que isso.




Enquanto mantivermos o sonho que crescimento econômico e economia são mais importantes que equilíbrio ambiental e a sociedade e que conseguiremos ter uma economia maior que o planeta, estaremos só agravando a situação na qual já nos encontramos. A ordem do dia dessa discussão quilométrica e entender que é do planeta que tudo depende e que no futuro não haverão vencedores, pois todos nós estamos no mesmo barco, o planeta Terra que ao que tudo indica irá continuar sua jornada inesperada no universo sem muitos de nós.

E ainda seguimos acreditando na lógica: “Eu nunca morri, portanto, nunca morrerei.” Desde quando o fato de eu que vos escrevo agora, nunca ter morrido, isso significar que não morrerei um dia? E quem nem devo me preocupar com a minha morte? O mesmo vale para o planeta: “O planeta nunca expulsou a humanidade da Terra, sempre recebeu a nossa arrogância e crueldade animal descabida.” O fato de humanidade que só está aqui há 140.000 anos (enquanto gatos e lagartixas estão há 50 milhões de anos) não ter sido expulsa, em escala geológica e planetária de forma alguma elimina a possibilidade disso acontecer.

É hora de começarmos a nos preocupar com a nossa morte.

Hugo Penteado

Colaboradores