terça-feira, 23 de dezembro de 2014
Café de máquinas residenciais com cápsulas
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Lixo eletrônico: uma tragédia a mais entre tantas
Não existe um destino fácil para o lixo eletrônico. É uma tragédia, porque a vida na Terra só foi possível porque durante bilhões de anos todos os metais (o grande problema do lixo eletrônico) foram acumulados na crosta terrestre. Um ovo é um bom exemplo do que é a terra, uma casquinha, com o magma incandescente, porque a Terra ou é um pedaço do sol ou uma parte aglutinada que não se juntou a ele. Essa régua de bilhões de anos nosso cérebro que só vive décadas não é capaz de entender.
O que o ser humano fez? Retirou os metais da crosta terrestre e os despejou no ar, no solo e na água. A água é viva, não pode ser estocada porque morre, se todos os seres vivos - plantas e animais - desaparecessem da Terra, a água desapareceria e o planeta viraria uma rocha seca. A água só existe porque existem os seres vivos e os ecossistemas.
Voltando aos metais da crosta: o chumbo, por exemplo, acabou com os gregos e depois com os romanos, cujas elites copiaram dos gregos o hábito luxuoso de ter utensílios de chumbo e não de barro. Só que o chumbo assim como todos os metais, não desaparecem da natureza e são tóxicos para nossos corpos e para a natureza toda.
É isso. os metais não estavam nos ciclos da natureza e da vida quando nós surgimos, aliás, se estivessem, não teríamos surgido. Esses metais largados no lixão são uma ameaça à vida. Hoje eles são abundantemente despejados no ar, no solo e na água. Isso é aterrorizante. Precisamos assumir essa responsabilidade e cobrar nossa lucidez.
Depois dos metais, decidimos tirar o petróleo para andar de carro e voar de avião, entre outras coisas, num enorme desperdício. Hoje nas cidades que vivemos, o sono é pior porque já há menos oxigênio disponível no ar e mais gases nocivos - isso encurta a vida comprovadamente. Para se ter uma idéia, os planetas do sistema solar são todos mortos porque são ricos em gás carbônico e em gás metano e pobres em oxigênio. o único planeta com vida é a Terra, porque é rico em oxigênio e pobre nos outros gases. Nós, a humanidade, decidimos perseguir a atmosfera dos planetas mortos do sistema solar com nossos hábitos extravagantes. Até agora não há solução tecnológica para esse problema e o gás carbônico fica 1000 anos na atmosfera depois de emitido. O gás metano desaparece mais rápido, mas seu efeito retentor do calor do sol é 20 vezes maior.
Bom, despejamos não sei quantas centenas ou milhares de toneladas desses gases na atmosfera diariamente. o problema é que a atmosfera é uma película, finíssima, se pegarmos uma bola de futebol e passarmos um verniz nela bem rasteiro, esse verniz é o tamanho da atmosfera em relação à terra, finíssima.
Também criamos milhares de compostos químicos artificiais disponíveis no ar, na água, no solo e incrivelmente nos nossos alimentos. Não é à toa que somos a única espécie animal sujeit a tantas doenças degenerativas, não há um só exemplo na natureza de um bicho com tantas doenças como nós. Nós as inventamos a maior parte delas, não são naturais.
Todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos e dos ecossistemas, somos interligados. Comemos, vivemos e respiramos graças a eles e nem agradecemos, na verdade os destruímos, como destruímos continuamente os ecossistemas para satisfazer nossas necessidades imaginárias e inventadas por essa enorme lavagem cerebral pela qual passamos. Agora, as chances da humanidade e dos demais seres vivos, vítimas do nosso descaso, terminarem o século XXI é bem pequena, de acordo com o cientista Martin Rees.
Mas enquanto isso, sim, devemos nos preocupar com os resíduos sólidos.
Hugo Penteado
Autor do livro Ecoeconomia - Uma nova Abordagem (Ed.Lazuli, 2003)
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Cocô e restos humanos
Revista da Folha/América -- 26/10/08 |
por Sérgio Dávila, de Washington
Você já ouviu falar do problema que a recente ascensão de camadas pobres da população ao mercado consumidor em países emergentes como Brasil, Rússia, Índia e China provocou e deve continuar provocando no suprimento mundial de energia, água, alimentação. Não falta alguma coisa nessa lista? Uma dica: se todo o mundo comer como os americanos comem, então...
Vamos chamar de boom das fezes?
Pois é desse assunto tabu que trata um dos livros mais curiosos lançados no ano. É "The Big Necessity - The Unmentionable World of Human Waste and Why It Matters" (A Grande Necessidade - O Mundo Não Mencionável dos Dejetos Humanos e Por que Ele Importa, Metropolitan Books, 304 págs.), que acaba de chegar às livrarias aqui nos EUA.
Nele, a jornalista britânica Rose George fala de um assunto no qual, como diz o título, poucos ousam tocar. O excremento está acabando com o mundo, e não é pelo motivo que você imagina. Há 2,6 bilhões de pessoas sem qualquer tipo de serviço de esgoto no mundo, quase metade do planeta que, quando precisa ir ao banheiro, faz ali no matinho ou na rua ou na calçada ou nas beiras dos rios.
O cocô humano é um dos mais tóxicos do reino animal. Uma, digamos, "amostra" tem bactérias, vermes, vírus e causa 50 infecções conhecidas. Se contamina a água a ser bebida, provoca, entre outras doenças, diarréia. Essa é a segunda causa de mortandade infantil no mundo, atrás só de problemas respiratórios. Por que todos falam de energia limpa, mas ninguém fala disso?
Rose George acha que a questão é, principalmente, de linguagem. "As pessoas não querem conversar sobre o tema, não temos palavras para tratar do assunto que não sejam tabu (merda), médicas (bolo fecal) ou técnicas (excremento) e já exaurimos as metáforas", escreve. Para a autora, é como se os países desenvolvidos tivessem "dado a descarga" no problema, em parte por achar o tema vexatório.
Ela cita como exemplo o fato de que nenhuma celebridade quer se ligar à causa -com exceção do ator Matt Damon, que milita por sanitários portáteis para a África. Esse foi um dos fatos que o livro dela me revelou.
Alguns outros:
* Na Idade Média, era uma honra ser recebido por um rei enquanto ele estava na privada;
* A invenção da privada adicionou 20 anos ao tempo de vida médio dos humanos; por isso, o "British Medical Journal" considerou o saneamento o maior avanço médico dos últimos dois séculos;
* O Japão era uma civilização do papel e mudou para a água recentemente; há privadas japonesas de milhares de dólares, com dezenas de jatos, controle da temperatura da água quente, desodorantes de ar, medidores de pressão sangüínea, música e até massagem das nádegas;
* Os muçulmanos, que se limpam com água, acham o uso do papel higiênico um dos hábitos mais incompreensíveis e sujos do Ocidente -o choque de civilizações de que fala Samuel Huntington começa na latrina.
Essa é a penúltima coluna antes da perda de poder de fato por George W. Bush, que acontece no dia 4 de novembro, com a eleição do novo presidente; achei que o tema vinha a calhar.