quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

É possível alimentar sete bilhões de pessoas?

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Infelizmente não partilhamos do otimismo do Boff e dos cientistas.  Boff é sensacional, alguém que devemos ler e acompanhar. Espero que ele esteja certo com a mudança e não eu.

Há uma passagem bíblica na qual Deus pergunta a Joh: Por Ventura Forte Tu Que Deste Lei à Luz da Manhã?  A resposta dos cientistas é um sonoro não.

Portanto, teríamos que negociar melhor com a Terra e se como não fizemos, iremos pagar por isso.

Não há mais como ter 9 bilhões de pessoas, nem 7 bilhões, resta saber quantos seremos num futuro não muito distante.

Um fato é certo: jamais seremos 9 bilhões. Talvez sejamos 0.

Hugo

É possível alimentar sete bilhões de pessoas?

13/12/2011 13:44,  Por Leonardo Boff
Já somos 7 bilhões de habitantes. Haverá alimentos suficientes para todos? Há várias respostas. Escolhemos uma do grupo Agrimonde (veja Développement et civilizations, setembro 2011), de base francesa, que estudou a situação alimentar de seis regiões críticas do planeta. O grupo de cientistas é otimista, mesmo para quando seremos 9 bilhões de habitantes em 2050. Propõe dois caminhos: o aprofundamento da conhecida revolução verde dos anos 60 do século passado e a assim chamada dupla revolução verde.
sustentabilidade
Um dos caminhos para salvar o planeta é instalar a Dupla Revolução Verde
A revolução verde teve o mérito de refutar a tese de Malthus, segundo o qual ocorreria um descompasso entre o crescimento populacional, de proporções geométricas e o crescimento alimentar de proporções aritméticas, produzindo um colapso na humanidade. Comprovou que com as novas tecnologias e uma melhor utilização das áreas agricultáveis e maciça aplicação de tóxicos, antes destinados à guerra e agora à agricultura, se podia produzir muito mais do que a população demandava.
Tal previsão se mostrou acertada pois houve um salto significativo na oferta de alimentos. Mas por causa da falta de equidade do sistema neoliberal e capitalista, milhões e milhões continuam em situação de fome crônica e na miséria. Vale observar que esse crescimento alimentar cobrou um custo ecológico extremamente alto: envenenaram-se os solos, contaminaram-se as águas, empobreceu-se a biodiversidade além de provocar erosão e desertificação em muitas regiões do mundo, especialmente na África.
Tudo se agravou quando os alimentos se tornaram mercadoria como outra qualquer e não como meios de vida que, por sua natureza, jamais deveriam estar sujeitos à especulação dos mercados. A mesa está posta com suficiente comida para todos; mas, os pobres não têm acesso a ela pela falta de recursos monetários. Continuaram famintos e em número crescente.
O sistema neoliberal imperante aposta ainda neste modelo, pois não precisa mudar de lógica, tolerando conviver, cinicamente, com milhões de famintos, considerados irrelevantes para a acumulação sem limites.
Esta solução é míope senão falsa, além de ser cruel e sem piedade. Os que ainda a defendem não tomam a sério o fato de que a Terra está, inegavelmente, à deriva e que o aquecimento global produz grande erosão de solos, destruição de safras e milhões de emigrados climáticos. Para eles, a Terra não passa de mero meio de produção e não a Casa Comum, Gaia, que deve ser cuidada.
Na verdade, quem entende de alimentos são os agricultores. Eles produzem 70% de tudo o que a humanidade consome. Por isso, devem ser ouvidos e inseridos em qualquer solução que se tomar pelo poder público, pelas corporações e pela sociedade; pois, se trata da sobrevivência de todos.
Dada superpopulação humana, cada pedaço de solo deve ser aproveitado mas dentro do alcance e dos limites de seu ecossistema; devem-se utilizar ou reciclar, o mais possível todos os dejetos orgânicos, economizar ao máximo energia, desenvolvendo as alternativas, favorecer a agricultura familiar, as pequenas e médias cooperativas. Por fim, tender a uma democracia alimentar na qual produtores e consumidores tomam consciência das respectivas responsabilidades, com conhecimentos e informações acerca da real situação da suportabilidade do planeta, consumindo de forma diferente, solidária, frugal e sem desperdício.
Tomando em conta tais dados, a Agrimonde propõe uma dupla revolução verdeno seguinte sentido: aceita prolongar a primeira revolução verde com suas contradições ecológicas mas simultaneamente propõe uma segunda revolução verde. Esta supõe que os consumidores incorporem hábitos cotidianos diferentes dos atuais, mais conscientes dos impactos ambientais e abertos à solidariedade internacional para que o alimento seja de fato um direito acessível a todos.
Sendo otimistas, podemos dizer que esta última proposta é razoavelmente sustentável. Está sendo implementada, seminalmente, em todas as partes do mundo, através da agricultura orgânica, familiar, de pequenas e médias empresas, pela agroecologia, pelas ecovilas e outras formas mais respeitadoras da natureza. Ela é viável e talvez tenha que ser o caminho obrigatório para a humanidade futura.
Leonardo Boff é teólogo, filósofo e escritor

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Mobilidade versus carrocentrismo

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Abramovay

Parabéns pelo seu artigo, gostaria que fosse lido e levado a sério e que gerasse políticas de abandono do carro, mas a falsa crença que gera empregos, sem se contabilizar a perda de bem estar nem o impacto antropológico (destruição dos espaços sociais urbanos, distanciamento de uns contra os outros, etc.) impede essa mudança.  Automóveis causam custos muito maiores para quase nenhum benefício, exceto para alguns se sentirem superiores aos outros por terem um carro melhor.

Por isso vou e volto de bicicleta para o trabalho em 16 quilômetros diários.  É uma das poucas coisas que faço, por assim dizer, que me faz ter orgulho.

Abraço Hugo

Mobilidade versus carrocentrismo

Ricardo Abramovay

Ampliar espaços de circulação para automóveis individuais é enxugar gelo, como já bem perceberam os responsáveis pelas mais dinâmicas cidades
Automóveis individuais e combustíveis fósseis são as marcas mais emblemáticas da cultura, da sociedade e da economia do século 20.
A conquista da mobilidade é um ganho extraordinário, e sua influência exprime-se no próprio desenho das cidades. Entre 1950 e 1960, nada menos que 20 milhões de pessoas passaram a viver nos subúrbios norte-americanos, movendo-se diariamente para o trabalho em carros particulares. Há hoje mais de 1 bilhão de veículos motorizados. Seiscentos milhões são automóveis.
A produção global é de 70 milhões de unidades anuais e tende a crescer. Uma grande empresa petrolífera afirma em suas peças publicitárias: precisamos nos preparar, em 2020, para um mundo com mais de 2 bilhões de veículos.
O realismo dessa previsão não a faz menos sinistra. O automóvel particular, ícone da mobilidade durante dois terços do século 20, tornou-se hoje o seu avesso.
O desenvolvimento sustentável exige uma ação firme para evitar o horizonte sombrio do trânsito paralisado por três razões básicas.
Em primeiro lugar, o automóvel individual com base no motor a combustão interna é de uma ineficiência impressionante. Ele pesa 20 vezes a carga que transporta, ocupa um espaço imenso e seu motor desperdiça entre 65% e 80% da energia que consome.
É a unidade entre duas eras em extinção: a do petróleo e a do ferro. Pior: a inovação que domina o setor até hoje consiste muito mais em aumentar a potência, a velocidade e o peso dos carros do que em reduzir seu consumo de combustíveis.
Em 1990, um automóvel fazia de zero a cem quilômetros em 14,5 segundos, em média. Hoje, leva nove segundos; em alguns casos, quatro.
O consumo só diminuiu ali onde os governos impuseram metas nesta direção: na Europa e no Japão.
Foi preciso esperar a crise de 2008 para que essas metas, pela primeira vez, chegassem aos EUA. Deborah Gordon e Daniel Sperling, em "Two Billion Cars" (Oxford University Press), mostram que se trata de um dos menos inovadores segmentos da indústria contemporânea: inova no que não interessa (velocidade, potência e peso) e resiste ao que é necessário (economia de combustíveis e de materiais).
Em segundo lugar, o planejamento urbano acaba sendo norteado pela monocultura carrocentrista. Ampliar os espaços de circulação dos automóveis individuais é enxugar gelo, como já perceberam os responsáveis pelas mais dinâmicas cidades contemporâneas.
A consequência é que qualquer estratégia de crescimento econômico apoiada na instalação de mais e mais fábricas de automóveis e na expectativa de que se abram avenidas tentando dar-lhes fluidez é incompatível com cidades humanizadas e com uma economia sustentável. É acelerar em direção ao uso privado do espaço público, rumo certo, talvez, para o crescimento, mas não para o bem-estar.
Não se trata -terceiro ponto- de suprimir o automóvel individual, e sim de estimular a massificação de seu uso partilhado. Oferecer de maneira ágil e barata carros para quem não quer ter carro já é um negócio próspero em diversos países desenvolvidos, e os meios da economia da informação em rede permitem que este seja um caminho para dissociar a mobilidade da propriedade de um veículo individual.
Eficiência no uso de materiais e de energia, oferta real de alternativas de locomoção e estímulo ao uso partilhado do que até aqui foi estritamente individual são os caminhos para sustentabilidade nos transportes. A distância com relação às prioridades dos setores público e privado no Brasil não poderia ser maior.

RICARDO ABRAMOVAY é professor titular do Departamento de Economia da FEA, do Instituto de Relações Internacionais da USP e pesquisador do CNPq e da Fapesp.
Twitter: @abramovay 


São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 2011Opinião

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Monbiot, futuro contratado e extinção

Por favor se comentar deixe um email para contato. Monbiot defende energia nuclar, apesar de 99% dos resíduos acumulados de toda a sua produção feita até hoje não ter um destino definitivo!!!!!!! (Ted Trainer, capítulo 9). Sem falar que ele mostra uma insensatez danada, quando fazendo as contas, o urânio conhecido não ´´e capaz de gerar energia a ponto de substituir as fontes atuais e fazer qualquer diferença ao que ele acredita ser "carbon free" e que na verdade não é. O comissionamento e descomissionamento das usinas e dos combustíveis não é feito com uma vara de condão. Roegen mostrou que somos a única espécie exossomática da Terra, portanto, o impacto sobre os ecossistemas deriva do número de pessoas e do nosso materialismo. Ambos são problemas, não um ou outro. Ter menos filhos é necessário sim, pelo menos enquanto houver crianças abandonadas nas ruas. A Europa teve um problema severo de infância abandonada no século XIX e criou um esquema chamado Roda, no qual a adoção era compulsória e durava até os 18 anos. Estava num dos livros antigos do meu avô. Não vejo mudança alguma do modelo de desenvolvimento e é mais fácil acabar com tudo, inclusive serviços da natureza, do que mudar isso. Pelo menos as tendências atuais não negam. Max Neef explica: “The economic arrangement of society is to the liking of those who profit most from it. And it is no coincidence that they are exactly those who yield the power — the power to maintain intact the arrangement that suits them,” -Manfred Max-Neef in "Economics Unmasked". Agora com um acordo do clima que permite elevações de temperatura de 3,5 graus Celsius, a nossa sobrevivência na Terra como espécie animal acabou de virar roleta russa. Abraços Hugo Hugo, a nossa sobrevivencia como especie sempre foi uma roleta russa. Amanha pode cair um meteoro na terra e acabar com tudo; uma epidemia severa e desconhecida pode dizimar milhoes; a explosao de algumas ogivas nucleares, que estao ai desde antes de sonharmos com mudancas climaticas, tambem pode ter esse efeito. Por que voce acha que as mudancas climaticas mudaram esse cenario? Abraco Sr. Jones É duro reconhecer isso, mas simplesmente porque não temos decisão alguma sobre o fato de um meteoro cair na Terra ou não, mas temos total decisão sobre a falta de solidariedade com a teia da vida da qual dependemos totalmente. O maior processo de extinção em massa dos últimos 65 milhões de anos foi criado por nossa própria conta e risco e pela nossa inconsciência e é muita ingenuidade achar que essa extinção jamais irá se voltar contra os causadores. Somos todos um, do ponto de vista biológico e planetário e também talvez estejamos unidos por outros pontos que ignoramos. A água só existe através dos animais e plantas, fiquei surpreso de não ter aprendido isso desde que nasci. Os fatores aleatórios de extinção da vida não tiram a nossa culpa e responsabilidade por isso. Nosso sistema imunológico é tão incrível que é praticamete impossível a dizimação total da nossa espécie animal a partir de um invasor. Foi provado cientificamente que a mulher na escolha do seu parceiro "milagrosamente" obtém aquele que dará a maior e melhor combinação possível de diferenciação imunológica da sua prole. O sistema imunológico possui uma combinação infinita. Eu ficaria exasperado com o fato desses fatores aleatórios e dos riscos já criados pelos nossos próprios erros, como energia nuclear, pudessem nos eximir dessa responsabilidade, porque aí sim o nosso senso de coletividade desapareceu por completo. Nós já contratamos nossa extinção ou parte da extinção da vida. Isso não é o futuro, é o presente, o número de espécies animais e vegetais perdidas para sempre podem ser contados por dia, a destruição dos ecossistemas é diária, a cada dia amanhecemos com menos sistemas naturais pressionados cada vez mais pelo nosso sistema de consumo e produção, até o ponto que a resiliência da natureza será rompida. O mais incrível é que nessa roleta russa não há senso de urgência alguma. Se houver um dia, só poderemos salvar parte do que iremos perder. Poucos de nós sabem que sem a Amazônia (sem a natureza) estaremos todos mortos, parafraseando Keynes que disse no longo prazo todos estaremos mortos e ele se esqueceu que como espécie animal somos praticamente imortais. O sentido da frase dele é individualista, quando para existirmos dependemos de uma enorme, vasta e delicada solidariedade em todos os sentidos. Abraço Hugo

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Desesperador

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Os números desses papers (link no fim do texto) só serão atingidos se o mundo do faz de conta dos economistas não for faz de conta e sim real.
Faz de conta que a produção brota do nata.
Faz de conta que a economia está totalmente separada da natureza, do tamanho do planeta, dos serviços ecológicos.
Faz de conta que o crescimento econômico jamais é deseconômico.
Faz de conta que o crescimento gera justiça social e bem estar e não guerras e devastação.
Faz de conta que poderemos dessalinizar e ressalinizar a água dos oceanos a um custo energético mínimo.
Faz de conta que a economia pode ser maior que o planeta.
Faz de conta que iremos usar terras de outros planetas para depositar nossas produções.
Faz de conta que a produção, a partir de um determinado ponto crítico, irá se tornar imaterial.
Faz de conta que as leis da termodinâmica são falsas.
Faz de conta que a economia não é uma pseudo-ciência autista que não se comunica com nenhuma outra descoberta científica relevante, como aquecimento global e a maior extinção em massa de espécies animais e vegetais dos últimos 65 milhões de anos causadas por nossa espécie.
Faz de conta que do ponto de vista da biologia não somos todos um e que o ser humano não faz parte dessa teia da vida sem a qual não teríamos água, ar para respirar, comida.
E para finalizar,
Faz de conta que todo esse faz de conta não rege universalmente todas as decisões governamentais e empresariais a nossa volta e que isso não irá causar a extinção da vida desse planeta e da nossa espécie animal.
Faz de conta.



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

E a Black Friday rolando...

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Com as fotos do black friday de hoje nos EUA e com as notícias da bacia de Campos e as obras inúteis megalomaníacas em todos os lugares acho que mudança de rota está completamente fora de cogitação, a menos que alguém acredite que manutenção a atual disseminação da sociedade de consumo seja imaterial... e possa ser feito sem mais energia ou com energia limpa. Enfim, se o mito de termos só problema de energia e se o mito de energia limpa não forem mitos...

Desde quando vimos o processo de sustentabilidade nascer no Brasil em 1998, o avanço foi nulo mesmo passando pelas tragédias, como o calor excessivo na Europa em 2003, Katrina em 2005 e toda série de anomalias climáticas registradas no mundo todo várias vezes por ano desde então.  Se tudo isso aconteceu e o sistema não consegue se abrir para outras formas de funcionamento e não faz uma autocrítica do modelo de consumo, de produção, além de ignorar os erros das teorias econômicas autistas (mania de crescimento econômico medido pelo PIB), só podemos concluir que a mudança vira de fora para dentro.  Essa será a pior forma de mudança. Se o vetor dessa mudança for social, irá desembocar em guerras. Se for ambiental, pode ser o fim da vida nesse planeta. Podem ser simultâneos, por não serem excludentes e é para onde estamos indo.

DEU NA FSP DE 24/11/2011 - 11h13

Temperatura mundial pode subir até 6 graus, alerta OCDE

DA EFE
Até o final deste século, a temperatura global pode sofrer um aumento entre 3 e 6 graus centígrados se for mantida a tendência atual, alerta a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) nesta quinta-feira. Mas ainda há tempo para que esse cenário com graves consequências seja evitado com um custo de ação limitado.
Esse é o principal conteúdo de um relatório sobre a mudança climática divulgado pela OCDE às vésperas da conferência de Durban, que começa na próxima segunda-feira (28) em Durban, na África do Sul. A organização pede aos governos que se engajem em torno de um acordo internacional.
"Os custos econômicos e as consequências ambientais da ausência de ação política na mudança climática são significativas", advertiu o secretário-geral do organismo, Ángel Gurría, durante a apresentação do estudo.
Concretamente, as medidas para modificar, sobretudo, o panorama energético que se espera para 2050 e a redução das emissões de efeito estufa em 70% custariam 5,5% do PIB (Produto Interno Bruto) --um número que os autores do relatório relativizaram em entrevista à imprensa, ao ressaltarem que significaria que o crescimento da economia mundial nos quatro próximos decênios seria de 3,3% ao ano, em vez de 3,5%, um corte de dois décimos.
O relatório destacou que não alterar as políticas atuais geraria prejuízos ambientais que afetariam muito mais a economia. O relatório Stern de 2006 havia antecipado perdas permanentes do consumo por habitante superiores a 14%.
A OCDE advertiu que, sem novas políticas de contenção das emissões de efeito estufa, as energias fósseis seguirão mantendo seu peso relativo atual, de 85% do total, o que conduziria a um volume de concentração na atmosfera de 685 partes de dióxido de carbono (CO2) ou equivalentes por milhão, muito longe das 450 que os cientistas consideram que permitiriam limitar o aquecimento climático global a dois graus centígrados.
Para o órgão, um ponto relevante é estabelecer "um preço significativo" das emissões de CO2 para induzir à mudança tecnológica, mas também a fixação de metas de diminuição de emissões "claras, críveis e mais restritivas" com as quais "todos os grandes emissores, setores e países" precisarão se comprometer.

COMO TURBINAR OS INVESTIMENTOS RESPONSÁVEIS NO BRASIL

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Leia a entrevista do Hugo Penteado na revista Página 22 de outubro.


Enquanto nos Estados Unidos a participação dos investimentos socioambientalmente responsáveis (ISR) beira os 12% do total das carteiras de renda fixa e variável, no Brasil, nem há estatísticas sobre o assunto. Desde 1997 como economista-chefe do Santander Asset Management, Hugo Penteado agregou a seus afazeres em junho a área de ISR. Sua missão é aumentar substancialmente a proporção de investimentos responsáveis na carteira da empresa, hoje calculados em no máximo 3%. Penteado indica que os fundos de renda fixa também passam a fazer parte da estratégia de ISR do Santander.
O Santander resolveu aplicar critérios socioambientais na alocação de recursos para seus fundos convencionais, além dos fundos especializados em sustentabilidade. Valerão para os convencionais os critérios usados hoje nos fundos socioambientais de renda variável?
Queremos que todos os gestores de ativos e analistas de ações conheçam os critérios de investimento responsável que foram usados na avaliação das empresas que pertencem a ambos os portfólios – fundos de ações tradicionais e fundos de ações ISR. No caso do Fundo Ethical do Santander, usamos metodologia própria criada em 2001, que tem total transparência nos seus critérios. Ele foi o primeiro fundo de ISR dos mercados emergentes.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O debate Limites do crescimento x Sussex

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Incrível que isso ainda precise ser dito, chocante, para dizer o mínimo discutirmos ainda se há ou não limites materiais e físicos para o crescimento econômico, quase 50 anos depois, enquanto o planeta dá sinais claros de uma ruptura da vida. Basta lembrar o evento mais palpável que é a maior extinção da vida dos últimos 65 milhões de anos e, como do ponto de vista biológico somos todos um, é muita ingenuidade achar que essa extinção jamais irá se voltar contra os causadores. O evento menos palpável, mas um consenso, é o aquecimento global antropogênico. Hoje é possível contar o  número de espécies animais e vegetais perdidos por dia.




terça-feira, 8 de novembro de 2011

Economia não tem receituário

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Estou cansado de ver que economias que não seguem o receituário liberal e a falsa idéia da salvação via reformas não necessariamente apresentam uma má performance e muitas vezes totalmente ao contrário. Isso mostra que a economia está longe de ser uma ciência exata e está repleta de idéias pré-concebidas que levam a um distanciamento da realidade social, cultural, ambiental e política em proporções dantescas.  Nicholas Georgescu-Roegen alertou isso na sua época, quando estudou nas melhores universidades dos Estados Unidos e quando voltou ao seu país de origem, Romênia, pobre, agrário e super populoso, descobriu que tudo que aprendeu em nada servia para ajudar seu país. Desferiu a primeira crítica ao pensamento econômico dominante: procura ser uma  fórmula igual para todos, varre do mapa as diferenças e se transforma num verdadeiro fracasso onde quer que consiga implementar esse modelo único.

Sobre o texto que segue:


The Emerging Market Adviser 
Overview: Don’t Read This 
Walter Molano

Heresy is wicked. It is one of the most heinous crimes, punishable by the most horrendous means. Heresy can shake the pillars of society. That is why the works of scholars, such as Galileo and Copernicus, who challenged the accepted realities of the Medieval World, were considered to be so dangerous. Early society used religious explanations to understand many of the mechanisms of nature. Mystery is an essential element of any religion. This is why blind faith is required to adhere to a dogma that cannot be explained logically. The advent of modern science helped people understand many of the things that previously were explained religiously. This led some philosophers, such as Friedrich Nietzsche, to proclaim the death of  God. Nevertheless, modern day life is still riddled with unexplainable trends, forces and events, that only mystical explanations can be used to understand them. Interestingly, economics helped fill the void vacated by the demise of religion. 

Economics is very religious. We dedicate newspapers, magazines and television channels to it. We make tributes to it, including the coveted Nobel Prize in Economics. Like religion, the cult is full of code and ambiguities that no one understands—except a few high priests (and even they don’t). It has regularly-held rituals, celebrations and canonizations. People react violently whenever someone question its logic and tenets. These individuals are labelled heretics, nut-cases and unorthodox. Yet, everyday life is full of phenomenon that flies in the face of sound economic theology. One such example is the case of Chile and Argentina. On one hand, Chile is the paradigm of proper economic conduct. The Chilean model was redacted four decades ago by a group of young graduates from the 
University of Chicago--the Vatican of economics. On the other hand, Argentina is the truant of economic management. It is considered by everyone to have done everything wrong. Yet, a recent article in the Chilean newspaper, El Mercurio, comparatively examines the  data from the two countries and comes to a startling conclusion. During the last seven years, Argentina posted an average growth rate of 7.7% almost twice as high as Chile’s average growth rate of 4.3%. More interestingly, this was more than 10 times the average growth rate of 0.7% that was reported during the decade when Argentina was the IMF’s poster child. The country’s numbers are truly amazing. Argentina’s debt to GDP is 32% versus 120% in 2003, and not that bad in comparison with Chile’s 8% of GDP. Its unemployment rate is 7.1% versus Chile’s 7.4%. Gross fixed investment is 25% of GDP, versus Chile’s 23% of GDP. Last year, Argentina posted a current account surplus of 2% of GDP, while Chile reported a surplus of 1.5% of GDP. Indeed, Argentina’s per capita income is now $1,000 higher than its trans-Andean neighbour. It even has an urban poverty rate of 11%, much lower than most developing countries. This, of course, is pure heresy, and you should stop reading if your blood vessels are starting to pop.

It’s true that Argentina benefitted enormously from the rise in grain prices. However, Chile also profited from the spike in copper prices. Soybean prices jumped 125% since 2003, but copper prices tripled. Therefore, Chile should have done better. Argentina undoubtedly deviated from the economics rule book. It nationalized the pension funds, controlled energy prices and placed tariffs on exports. It was slow in settling with external creditors and used its own funds to cover its financing needs instead of tapping into the international capital markets. At the same time, Chile followed the rules to the letter of the law. It established a copper stabilization fund, saving the windfall in metal prices. It implemented an anti-cyclical fiscal policy, and employed inflation targeting. If there was any country that Wall Street derided, it was Argentina, and if there was any country that Wall Street lauded, it was Chile. The problem is if the Argentines were doing it all so wrong, why did they do so well? The impropriety of such heretical questions would make a high priest of economics go beet red. However, the success of the Argentine model is what allowed President Cristina Fernandez de Kirchner sweep into victory. Perhaps, economics needs to take a closer look at its models before pronouncing edicts on management techniques. One of the things that clearly make the Argentine model superior to the Chilean is the atomization of production through the agricultural sector. This allows the windfall to be spread across a wide swath of society. Meanwhile, Chile’s copper output is controlled by the state and a few multinationals that send the windfall abroad in dividend payments. In any case, the next years ahead may paint a different story, but Argentina did something right during the last seven years. However, you never read this.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

The devil in the deep-sea oil

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Como ainda pensar num modelo que terminou num tremendo fracasso (vide a crise interminável dos países desenvolvidos) ainda é visto como o mapa a ser seguido - isso dentro da visão tradicional que alimenta a idéia estapafúrdia de crescimento econômico.

Mas o fracasso não morre aí, quando sabemos que essa matriz energética é extremamente arriscada para a vida no planeta. Muitas questões - dentro do escopo da economia ecológica - surgem aqui. 

 Brazil’s economy

The devil in the deep-sea oil

Unless the government restrains itself, an oil boom risks feeding Brazil’s vices

Nov 5th 2011 | from the print edition   THE ECONOMIST
DEEP in the South Atlantic, a vast industrial operation is under way that Brazil’s leaders say will turn their country into an oil power by the end of this decade. If the ambitious plans of Petrobras, the national oil company, come to fruition, by 2020 Brazil will be producing 5m barrels per day, much of it from new offshore fields. That might make Brazil a top-five source of oil.
Managed wisely, this boom has the potential to do great good. Brazil’s president, Dilma Rousseff, wants to use the oil money to pay for better education, health and infrastructure. She also wants to use the new fields to create a world-beating oil-services industry. But the bonanza also risks feeding some Brazilian vices: a spendthrift and corrupt political system; an over-mighty state and over-protected domestic market; and neglect of the virtues of saving, investment and training.
So it is worrying that there is far more debate in Brazil about how to spend the oil money than about how to develop the fields. If Brazil’s economy is to benefit from oil, rather than be dominated by it, a big chunk of the proceeds should be saved offshore and used to offset future recessions. But the more immediate risks lie in how the oil is extracted.
The government has established a complicated legal framework for the fields. It has vested their ownership in Pré-Sal Petróleo, a new state body whose job is merely to collect and spend the oil money. It has granted an operating monopoly to Petrobras (although the company can strike production-sharing agreements with private partners). The rationale was that, since everyone now knows where the oil is, the lion’s share of the profits should go to the nation. But this glides over the complexity in developing fields that lie up to 300km (190 miles) offshore, beneath 2km of water and up to 5km of salt and rock.
To develop the new fields, and build onshore facilities including refineries, Petrobras plans to invest $45 billion a year for the next five years, the largest investment programme of any oil firm in the world. That is too much, too soon, both for Petrobras and for Brazil—especially because the government has decreed that a large proportion of the necessary equipment and supplies be produced at home.
How to be Norway, not Venezuela
By demanding so much local content, the government may in fact be favouring some of the leading foreign oil-service companies. Many would have set up in Brazil anyway; now, with less price competition from abroad, they will find it easier to charge over the odds. Seeking to ramp up production so fast, and relying so heavily on local supplies, also risks starving non-oil businesses of capital and skilled labour (which is in desperately short supply). Oil money is already helping to drive up Brazil’s currency, the real, hurting manufacturers struggling with high taxes and poor infrastructure.
When it comes to oil, striking the right balance between the state and the private sector, and between national content and foreign expertise, is notoriously tricky. But it can be done. To kick-start an oil-services industry, Norway calibrated its national-content rules realistically in scope and duration, required foreign suppliers to work closely with local firms and forced Statoil, its national oil company, to bid against rivals to develop fields. Above all, it invested in training the workforce.
But Brazilians need only to look at Mexico’s Pemex to see the politicised bloat that can follow an oil boom—or at Venezuela to see how oil can corrupt a country. Petrobras is not Pemex. Thanks to a meritocratic culture, and the discipline of having some of its stock traded, Petrobras is a leader in deep-sea oil. But operating as a monopolist is a poor way to maintain that edge. Happily, too, Brazil is not Venezuela. Its leaders can prove it by changing the rules to be more Norwegian.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

'Temos que abandonar o mito do crescimento econômico infinito'

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DA BBC BRASIL
04/10/2011 - 08h41
Há vinte anos, a queda do Comunismo no Leste Europeu parecia provar o triunfo do capitalismo. Mas teria sido uma ilusão?
Os constantes choques no sistema financeiro internacional nos últimos anos levaram a BBC a perguntar a uma série de especialistas se eles acham que o capitalismo fracassou.
Neste texto, Tim Jackson, professor da Universidade de Surrey e autor do livro Prosperity without Growth --Economics for a Finite Planet (Prosperidade sem Crescimento: Economia para um Planeta Finito), defende o abandono do mito do crescimento infinito:
Toda sociedade se aferra a um mito e vive por ele. O nosso mito é o do crescimento econômico.
Nas últimas cinco décadas, a busca pelio crescimento tem sido o mais importante dos objetivos políticos no mundo.
A economia global tem hoje cinco vezes o tamanho de meio século atrás. Se continuar crescendo ao mesmo ritmo, terá 80 vezes esse tamanho no ano 2100.
Esse extraordinário salto da atividade econômica global não tem precedentes na história. E é algo que não pode mais estar em desacordo com a base de recursos finitos e o frágil equilíbrio ecológico do qual dependemos para nossa sobrevivência.
Na maior parte do tempo, evitamos a realidade absoluta desses números. O crescimento deve continuar, insistimos.
As razões para essa cegueira coletiva são fáceis de encontrar.
O capitalismo ocidental se baseia de forma estrutural no crescimento para sua estabilidade. Quando a expansão falha, como ocorreu recentemente, os políticos entram em pânico.
As empresas lutam para sobreviver. As pessoas perdem seus empregos e em certos casos suas casas.
A espiral da recessão é uma ameaça. Questionar o crescimento é visto como um ato de lunáticos, idealistas e revolucionários.
Ainda assim, precisamos questioná-lo. O mito do crescimento fracassou. Fracassou para as 2 bilhões de pessoas que vivem com menos de US$ 2 por dia.
Fracassou para os frágeis sistemas ecológicos dos quais dependemos para nossa sobrevivência.
CRISE E OPORTUNIDADE
Mas a crise econômica nos apresenta uma oportunidade única para investir em mudanças. Para varrer as crenças de curto prazo que atormentaram a sociedade por décadas.
Para um compromisso, por exemplo, para uma reforma radical dos mercados de capitais disfuncionais.
A especulação sem controle em commodities e em derivativos financeiros trouxeram o mundo financeiro à beira do colapso há apenas três anos. Ela precisa ser substituída por um sentido financeiro mais longo e lento.
Consertar a economia é apenas parte da batalha. Também precisamos enfrentar a intrincada lógica do consumismo.
Os dias de gastar dinheiro que não temos em coisas das quais não precisamos para impressionar as pessoas com as quais não nos importamos chegaram ao fim.
Viver bem está ligado à nutrição, a moradias decentes, ao acesso a serviços de boa qualidade, a comunidades estáveis, a empregos satisfatórios.
A prosperidade, em qualquer sentido da palavra, transcende as preocupações materiais.
Ela reside em nosso amor por nossas famílias, ao apoio de nossos amigos e à força de nossas comunidades, à nossa capacidade de participar totalmente na vida da sociedade, em uma sensação de sentido e razão para nossas vidas.

http://www1.folha.uol.com.br/bbc/985227-temos-que-abandonar-o-mito-do-crescimento-economico-infinito.shtml

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

CARRO SEM FREIO

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Sem a Amazônia estaremos todos mortos. Isso e ponto final.  Brasil sem a Amazônia sofrerá um colapso gigante. O Brasil poderia ser um exemplo de revisão desse paradigma econômico mundial doente que se baseian uma teoria econômica falsa (já escreveram isso tantas vezes que eu fico pasmo de nunca ter sido levado adiante uma revogação total desse modelo).

De qualquer forma, o ser humano é o centro de tudo, do ponto de vista biológico, nada diferencia o ser humano dos demais animais, escreveu Charles Darwin.  Somos a única espécie com capacidade de decretar a extinção da vida ou não desse planeta e já mais do que passou do tempo de fazermos alguma coisa.

O ser humano é o centro e é ele que irá coletivamente decidir onde iremos terminar nessa viagem em um carro em uma estrada com visibilidade zero, mas onde temos certeza existe um precipício (resiliência da natureza). Esse carro não tem mais freio (atrasos ecológicos sistêmicos) e agora só dá para tirar o pé do acelerador e rezar para o carro parar antes do precipício.

Não sei se conseguiremos, só sei que até agora o que estamos fazendo é pisar o pé no acelerador.

Hugo Penteado
              
Prezados,
estamos vivendo um momento crucial para o futuro do Meio Ambiente no Brasil. O PLC 01/10, aprovado ontem no Senado, caso não seja vetado por Dilma, decreta o descontrole total do desmatamento em todos os Biomas. O IBAMA estará LEGALMENTE IMPEDIDO de fiscalizar desmatamentos de qualquer natureza, pesca, extração mineral, degradação de empreendimentos licenciados pelos Estados e Municípios. Com todo respeito aos colegas que trabalham no Estado, sabemos o que isto significa. Os Estados e Municípios não conseguirão frear os desmatamentos. Bem  ou mal, sabemos que o IBAMA é que tem segurado as pontas no Meio Ambiente deste país. Não podemos permitir que isto aconteça, que continuem passando o rolo compressor em cima de nossas Leis Ambientais e agora do órgão que dá seu sangue e suor para a defesa ambiental neste país! Caso alguém pense que os servidores do IBAMA estão apenas precupados com seu umbigo e emprego, informo que nossos salários continuarão sendo pagos, nossa demanda de trabalho diminuiria consideravelmente. Esta não é a questão. Vestimos a camisa do IBAMA e da proteção ao Meio Ambiente, este Projeto Decreta o fim do IBAMA, e a liberação para os desmatadores e degradadores ambientais em geral.
Abaixo, um texto de um colega do IBAMA, vale a pena ler até o fim. Faço minhas as palavras dele, é exatamente assim que me sinto.
Com lágrimas nos olhos,
 Andréia da Mata Lula
Analista Ambiental
IBAMA/BA
Olá Colegas,

Bom... Para aqueles que ainda não ficaram sabendo da maior novidade sobre o futuro do IBAMA, eu informo. Por 41 votos a favor, 07 contra e 01 abstenção, o Senado Federal aprovou, no ontem, o Projeto de Lei da Câmara – PLC 01/10. O PLC visa estabelecer as competências da União, Estados e Municípios na fiscalização e autuação ambiental.
De acordo com o texto que foi aprovado pelos senadores, apenas os órgãos que licenciam poderão emitir as multas em caso de descumprimento da legislação.
Eu te pergunto caro colega Agente Ambiental Federal. O que você pensa em fazer da sua vida profissional daqui alguns meses? Consegue me dizer o que será de ti e de mim?
Isso tudo é no mínimo revoltante... Quem é fiscal sabe muito bem que os Estados (não vou nem falar dos municípios) não têm condição nenhuma de ficarem,  sozinhos,  responsáveis pelo controle e regulação de recursos naturais. Eu mesmo cansei de receber no Ibama fiscais do Estado que vinham dizendo: “Cara! Tem um desmatamento gigantesco em tal lugar. Tem como vocês do IBAMA irem lá autuar?” Eu sempre digo: “Por que você mesmo não autua?” E eles sempre respondem: “Não adianta... A gente autua e os processos somem, são cancelados ou prescrevem nos armários. Ou ainda, caso eu autue, posso sofrer retaliações graves.”
Em uma vez dessas nós atendemos ao pedido do colega servidor do Estado e fomos lá, lavramos o AI e embargamos. Acontece que no outro dia o autuado apresentou outro AI do Estado datado do dia anterior. O fiscal do Estado nem se deu o trabalho de ir até o local. Fez cópia fiel do AI do IBAMA, inclusive com as mesmas coordenadas geográficas. Quem está acostumado a trabalhar com GPS sabe que é humanamente impossível obter as mesmas, idênticas, coordenadas geográficas de um polígono, mesmo que seja uma medição do mesmo fiscal.
O motivo de ter dois AI’s é óbvio! Permanece o primeiro AI, o do Estado. E esse ele tem como “negociar”. O do IBAMA não, ou se sim, com maior dificuldade.
Sem contar o outro caso que nós notificamos o proprietário a comparecer em 2 (dois) dias no escritório para prestar informações sobre as atividades do seu imóvel rural. O cara apareceu já com o AI do Estado dizendo que nem precisava o IBAMA autuar porque o Estado já tinha chegado primeiro. Chegou uma ova! Ficamos sabendo que o fazendeiro foi até o escritório do OEMA e pediu pelo amor de Deus que o autuassem antes do IBAMA.
A interferência política nos Estados é um nojo. Isso é público e descaradamente notório. Conte aí colega! Quantos fiscais estaduais têm em seu Estado? Vamos jogar por alto. Será que com o dobro de servidores o Estado consegue fazer 10% do que você com os seus colegas do IBAMA do seu estado fazem? Não é desmerecimento do trabalho dos fiscais estaduais não. São lutadores como todos nós, porém eles não têm autonomia nenhuma. Só fazem aquilo que os Secretários (Indicados políticos) os mandam. E quando mandam é em época de eleição, quando se impõem dificuldades para vender facilidades. Sem contar que todos estão engessados por falta de recursos básicos como veículos, GPS, papel, caneta...
Senhores! Tenho certeza que não lhe traz nenhum espanto a Senadora Kátia Abreu ser relatora do projeto. Ela e seu filho (Deputado Estadual) já sentiram o peso da caneta do IBAMA. Olha só o que ela disse e veja se não te causa uma revolta:
“O projeto aprovado é um dos maiores avanços na questão ambiental”.
“O Ibama não é a Santa Sé, ele não está acima de qualquer suspeita”.
Como se não bastasse olha só o que o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) disse:
“Vamos tirar essas prerrogativas ditatoriais do Ibama. O Ibama quer parar o Brasil, não vai parar, não.
Como é que é cidadão?
To falando com você! Pessoal das antigas. Vocês que me fizeram olhar pro IBAMA de hoje e ver nele aquilo que eu sempre quis ser e fazer da minha vida. Que sempre encheram de orgulho seus amigos, suas esposas, seus filhos... Falo pra você amigo daqueles de deram a vida executando a sua função de Agente Ambiental Federal. Falo pra você que veio pro IBAMA sabendo o que ia fazer. Que sabia da importância de trabalhar num órgão como esse e tem feito, na medida do possível, a sua parte. Falo pra você que caiu aqui de pára-quedas e descobriu um lugar cheio de heróis. Que descobriu no IBAMA uma razão ideológica pra não seguir vazio. Que antes era mais um que falava mal deste órgão e por ironia do destino acabou vindo trabalhar aqui e hoje não aceita que deturpem a imagem criada com sangue e suor seu e de seus colegas. Pra você que está há dias em operação em qualquer lugar desse país longe das pessoas que você ama. Pra você que é chefe de Divisão de Fiscalização que se vê tão perdido quanto os demais e não sabe dar notícia pros seus comandados de como a coisa vai ficar. Que consegue ver certo ar de dúvida nas pessoas pelos corredores, até daquele tranqüilão que sempre diz: Só sei que pra algum lugar vão ter que me mandar, não interessa onde.
Quando eu estava estudando pro concurso em 2008, em busca do meu sonho, nunca imaginei um dia o IBAMA fosse se diluir e se reduzir a quase nada. Mas ainda bem que entrei e pude fazer parte dessa história. Outro dia estava na universidade onde me formei Engenheiro Ambiental e fui apresentado a um grupo de acadêmicos do mesmo curso. Pude ver que muitos sonham trabalhar aqui. Fazer o que fazemos. Ser o que somos. Temo que outras pessoas não tenham a mesma sorte que tive.
E então... Vai ficar aí parado? Vai falar alguma coisa? Vai lamentar? Vai esperar com a boca aberta cheia de dentes?
Ainda dá tempo. A presidenta ainda pode vetar. Só a pressão popular nesse momento a fará mudar de idéia. Divulgue que é contra a aprovação dessa atrocidade que é o Projeto de Lei da Câmara – PLC 01/10. Seja onde for... No facebook, Orkut, skype, MSN, na mesa do bar com os amigos enquanto toma aquela merecida cerveja depois de um dia de trabalho. Se você trabalha aí em Brasília, organize ou mesmo junte-se aos movimentos que sem dúvida irão perturbar a cabeça da Dilma. Faça a diferença!
Soneto de Fidelidade - Vinícius de Moraes

“De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”




Wallace Rafael Rocha Lopes
Agente Ambiental Federal - IBAMA/SUPES/TO

Leia mais:

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A insustentabilidade segue inalterada, até o momento desse escrito...

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Tantas práticas, sem abordagem sistema e mudança de paradigma, só serviram para um processo de embelezamento... Infelizmente nunca colocou a atenção onde deveria estar: nas falhas desse modelo, que gera resíduos e problemas do começo até o fim.  Nada foi resolvido, ao contrário, nenhuma das variáveis ambientais que mais importam pararam de piorar. Ao contrário.
A soma das partes não dá o todo, todas as empresas se declaram sustentáveis com foco em mudanças marginais nas suas atividades e mantendo o modelo de crescimento eterno e, no final, a soma continua a mesma: fim da vida na Terra.

Está mais do que na hora do sistema parar de se endeusar e receber críticas externas a ele.  Esse processo de autogovernança, autoavaliação, autocriação de critérios, automarketing está acima do esperado do bom senso e assume que não há vida inteligente na face da Terra.

Faltou dizer qual foi a pegada ecológica de "mais" esse evento.

'Economia sustentável é dever de todos'
Para especialista, mudança de modelo deve partir das empresas, do governo e da sociedade civil em conjunto 


Coordenador da FGV se diz otimista sobre papel empresarial, mas ainda aponta dúvidas sobre as ações governamentais

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quatro dias de debates, dezenas de palestrantes locais e estrangeiros e centenas de participantes marcaram a oitava edição do Eima (Encontro Ibero-Americano de Desenvolvimento Sustentável), realizado entre os dias 17 e 20 na sede da FGV (Fundação Getulio Vargas) em São Paulo. Para falar sobre os resultados do evento, a Folha entrevistou um de seus organizadores, o coordenador do LabIES (Laboratório de Inovação, Empreendedorismo e Sustentabilidade) da FGV, Ademar Bueno. (AP)
Folha - Quais são as principais conclusões dos debates e reuniões realizados no Eima? 
Ademar Bueno -
 Entre as diversas conclusões, destaco a importância da cooperação internacional para o desenvolvimento de um novo modelo de economia verde ou sustentável.
Fica cada vez mais claro que o modelo econômico criado no século 20 não serve mais para o futuro do planeta. Ao pensar em novos modelos de negócio que sejam sustentáveis, ou seja, que levem em conta aspectos não apenas econômicos, mas também sociais e ambientais, o Brasil tem muito a aprender e oferecer aos outros países. Se o tema da sustentabilidade e suas implicações são globais, as soluções deverão caminhar no mesmo sentido.

Entre os temas debatidos, quais geraram maior controvérsia? 
A maior controvérsia sempre surge quando se debate qual é o agente da sociedade que deve co meçar de fato essa mudança para um modelo de desenvolvimento sustentável. Se esse papel cabe às empresas, ao governo ou mesmo às organizações da sociedade civil. Pessoalmente, acho que a resposta vem de uma combinação de todos esses segmentos.

Em que estágio esses agentes se encontram em relação ao tema?
Do ponto de vista empresarial, as expectativas são bastante otimistas, pois empresas, embora de modo ainda não muito claro e organizado, já vêm tomando a frente no desenvolvimento de programas de sustentabilidade. A sociedade brasileira, de modo ainda tímido, começa a responder quanto à sua insatisfação com o modelo atual. Quando apontamos para o lado governamental, no entanto, o que vemos é uma certa dúvida sobre como ele pode coordenar ações, leis ou regulamentações que facilitem os demais agentes, sobretudo as empresas, a optar por modelos ou tecnologias mais sustentáveis.

A FGV lançou o La bIES (Laboratório de Inovação, Empreendedorismo e Sustentabilidade) durante o evento. O que é o laboratório e como ele funcionará? 
O Laboratório de Inovação, Empreendedorismo e Sustentabilidade foi criado dentro da Escola de Economia da GV. Seu maior objetivo, além de trabalhar o tripé Ensino-Pesquisa-Extensão, é o de ser um grande incentivador para a cooperação internacional, ajudando no desenvolvimento de novos modelos econômicos e de negócios sustentáveis para empreendedores Brasil. A Getulio Vargas tem essa tradição de inovação em novos modelos de aprendizagem, e o LabIES funcionará sempre com modelos de parcerias locais e internacionais voltadas para o avanço de novos modelos. 

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

QUADRO VIVO DE GICA MESIARA, uma empresa alinhada com o futuro

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September 28, 2011 12:52 am
New frontiers: redrawing the map
By Richard Lapper
This article was published in Financial Times: http://www.ft.com/cms/s/0/5063e8ca-e864-11e0-8f05-00144feab49a.html#ixzz1bhim7iRh
Not so long ago, Gica Mesiara spent sleepless nights wondering how on earth Quadro Vivo, her interior design business, would survive. But this year the 37-year-old entrepreneur and pioneer of hanging and other vertical gardens has been besieged by offers of investment from private equity groups. “They have started to sound me out,” says Ms Mesiara, who grew up in a poor suburb of São Paulo but now runs a business that turns over about R$4m ($2.2m) a year and employs more than 100 people.
The rags-to-riches story exemplifies the way increasing numbers of small and medium-sized businesses move out of the informal economy and into the mainstream of Brazilian economic life, helped by economic stability and prosperity linked to the expansion of the country’s consumer markets, and the strength and attractions of its raw material exports.
Both local and international private equity groups have been falling over themselves in an effort to win part of the action, in a trend that is now beginning to spread to other emerging markets in Latin America, the Middle East and Africa. Since returns in developed markets are currently depressed and the outlook for conventional investment opportunities is uncertain, institutional investors are set to increase their allocations to faster-growing, more dynamic developing countries.
Earlier this year, research by the Emerging Markets Private Equity Association (EMPEA) and Coller Capital suggested that allocations to such developing nations may rise from current levels of 11-15 per cent of the total to up to 20 per cent over the next two years.
Last month, the EMPEA reported growth in private equity activity across the emerging markets, with 89 funds raising $22.6bn in the first half of this year, compared with $23.5bn raised in all of 2010. China and India – the focus of private equity emerging market interest in recent years – account for more than half the money raised, but the industry is increasingly prepared to cast its net further afield. For example, so far this year deals have been completed in such unlikely destinations as Madagascar, Honduras, Mongolia and Laos.
“Interest has increased significantly,” says Erica Berthou, corporate partner and member of the private equity group at Debevoise & Plimpton, the New York-based law firm. “It’s expanded from Asia to the Middle East, Brazil, Latin America and Africa.”
Brazil, though, has been at the heart of this expansion, with local investors leading the charge. Since the beginning of the year, four separate billion-dollar-plus funds have been formed, putting the country on track to raise a record-breaking $6bn in private equity commitments in 2011.
BTG Pactual, the Brazilian investment bank, started the ball rolling with a $1.5bn fund raised in June. Gávea, the Rio de Janeiro fund manager in which JP Morgan took a 55 per cent stake earlier this year, followed on with a $1.8bn fund in the same month. Subsequently Vinci Partners raised $1.4bn in July and Patria, a group in which Blackstone of the US owns a 40 per cent stake, has launched a $1.25bn fund. Smaller deals include a $315m effort from Axxon, a Brazil-based specialist in small and medium-sized business that targets investments of between $15m and $50m.
These investors are focusing on three areas. First there are the small privately held businesses such as Gica Mesiara’s Quadro Vivo (which has not taken up the offers of investment). The growth of these businesses has been linked to the expansion of consumption, both among well-off and low-income groups. Although the family-owned businesses – which still dominate sectors such as retail and consumer goods, especially in the more remote north-eastern and centre-west Brazilian states – are cash rich and reluctant to cede control, a substantial number have chosen to do so. For example, Quero-Quero, a Rio Grande do Sul-based retailer, has grown rapidly since Advent International acquired a R$200m ($115.4m), 96 per cent stake in the company in 2008.
The sectors being targeted range from logistics and media to areas such as private education and healthcare services, whose growth has been closely linked to demand from better-off lower income groups. Sometimes the choices can seem surprising. Vinci and Gávea, for example, partnered with a third operator, Kinea, to buy for $300m a 47.2 per cent stake in Unidas, a car rental company.
Second, private equity investors have targeted possible investments in roads, railways, energy installations, ports and other infrastructure. Finally, Brazil’s raw materials base – its oil, gas and mineral resources and its strength as a producer of a range of food products and bio-fuels – has also attracted interest.
The deep-sea oil resources of the pre-salt reserves have been one focus; agriculture has been another. Although restrictions on foreign ownership of land have made the sector difficult for international investors, local players have recently been active. At the beginning of September, for example, Brazil Agronegócio FIP, a private equity fund managed by BRZ Investimentos, one of Brazil’s largest asset-management companies, joined forces with the UK-based investment group Agrifirma to launch a new farmland development company.
BAF will invest R$130m in the new company, whose farmland assets are concentrated in the west of Bahia state at the heart of Brazil’s new north-eastern agricultural frontier known as Mapitoba (an acronym which includes the first two letters of three other states: Maranhão, Piauí and Tocantins).
EMPEA believes that in spite of the growing appetite, “the range of opportunities is more than sufficient to sustain investment from a globally diverse set of investors and deliver generous returns for limited partners”. Even so, individual investment opportunities are being ever more hotly contested by fund managers, and with local investors ever keener to become involved, international players may choose to look elsewhere.
Diversification has certainly been a recent trend, with investments taking place in 54 separate countries in the first six months of the year. One highlight has been growing interest in Africa. In June, Helios Investment Partners, an independent firm set up five years ago by two former executives from TPG Capital, a large US buyout group, closed a $900m Africa fund. Among its first investments are Interswitch, a Nigerian payment processing company, Helios Towers Africa, a telecommunications company, Continental Outdoor, an advertising agency, and the downstreams fuels business in Africa of Shell, the international oil major.
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'Temos que abandonar o mito do crescimento econômico infinito'
DA BBC BRASIL 04/10/2011 - 08h41
Há vinte anos, a queda do Comunismo no Leste Europeu parecia provar o triunfo do capitalismo. Mas teria sido uma ilusão?
Os constantes choques no sistema financeiro internacional nos últimos anos levaram a BBC a perguntar a uma série de especialistas se eles acham que o capitalismo fracassou.
Neste texto, Tim Jackson, professor da Universidade de Surrey e autor do livro Prosperity without Growth --Economics for a Finite Planet (Prosperidade sem Crescimento: Economia para um Planeta Finito), defende o abandono do mito do crescimento infinito:
Toda sociedade se aferra a um mito e vive por ele. O nosso mito é o do crescimento econômico.
Nas últimas cinco décadas, a busca pelio crescimento tem sido o mais importante dos objetivos políticos no mundo.
A economia global tem hoje cinco vezes o tamanho de meio século atrás. Se continuar crescendo ao mesmo ritmo, terá 80 vezes esse tamanho no ano 2100.
Esse extraordinário salto da atividade econômica global não tem precedentes na história. E é algo que não pode mais estar em desacordo com a base de recursos finitos e o frágil equilíbrio ecológico do qual dependemos para sua sobrevivência.
Na maior parte do tempo, evitamos a realidade absoluta desses números. O crescimento deve continuar, insistimos.
As razões para essa cegueira coletiva são fáceis de encontrar.
O capitalismo ocidental se baseia de forma estrutural no crescimento para sua estabilidade. Quando a expansão falha, como ocorreu recentemente, os políticos entram em pânico.
As empresas lutam para sobreviver. As pessoas perdem seus empregos e em certos casos suas casas.
A espiral da recessão é uma ameaça. Questionar o crescimento é visto como um ato de lunáticos, idealistas e revolucionários.
Ainda assim, precisamos questioná-lo. O mito do crescimento fracassou. Fracassou para as 2 bilhões de pessoas que vivem com menos de US$ 2 por dia.
Fracassou para os frágeis sistemas ecológicos dos quais dependemos para nossa sobrevivência.
CRISE E OPORTUNIDADE
Mas a crise econômica nos apresenta uma oportunidade única para investir em mudanças. Para varrer as crenças de curto prazo que atormentaram a sociedade por décadas.
Para um compromisso, por exemplo, para uma reforma radical dos mercados de capitais disfuncionais.
A especulação sem controle em commodities e em derivativos financeiros trouxeram o mundo financeiro à beira do colapso há apenas três anos. Ela precisa ser substituída por um sentido financeiro mais longo e lento.
Consertar a economia é apenas parte da batalha. Também precisamos enfrentar a intrincada lógica do consumismo.
Os dias de gastar dinheiro que não temos em coisas das quais não precisamos para impressionar as pessoas com as quais não nos importamos chegaram ao fim.
Viver bem está ligado à nutrição, a moradias decentes, ao acesso a serviços de boa qualidade, a comunidades estáveis, a empregos satisfatórios.
A prosperidade, em qualquer sentido da palavra, transcende as preocupações materiais.
Ela reside em nosso amor por nossas famílias, ao apoio de nossos amigos e à força de nossas comunidades, à nossa capacidade de participar totalmente na vida da sociedade, em uma sensação de sentido e razão para nossas vidas. http://www1.folha.uol.com.br/bbc/985227-temos-que-abandonar-o-mito-do-crescimento-economico-infinito.shtml

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Pobres que trabalham e estudam têm jornada maior que operários do século XIX

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http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/pochmann-pobres-que-trabalham-e-estudam-tem-jornada-maior-que-os-operarios-do-seculo-xix.html

1 de outubro de 2011 às 0:43
Pochmann: Pobres que trabalham e estudam têm jornada maior que operários do século XIX

por Fernando César Oliveira, site da UFPR, sugestão de Luana Tolentino

O economista Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), classificou ontem à noite em Curitiba como "heróis" os brasileiros de famílias pobres capazes de conciliar o trabalho com o estudo.

"No Brasil, dificilmente um filho de rico começa a trabalhar antes de terminar a graduação ou, em alguns casos, até mesmo a pós-graduação", observou Pochmann.

"Os brasileiros pobres que estudam e trabalham são verdadeiros heróis. Submetem-se a uma jornada de até 16 horas diárias, oito de trabalho, quatro de estudo e outras quatro de deslocamento. Isso é mais do que os operários no século XIX."

O presidente do Ipea foi um dos palestrantes na abertura da terceira edição do Seminário Sociologia & Política, ao lado da professora Celi Scalon (UFRJ), no Teatro da Reitoria da UFPR. "Repensando Desigualdades em Novos Contextos" é o tema geral do seminário. Promovido pelos programas de pós-graduação em Sociologia e em Ciência Política da instituição, o evento termina nesta quarta-feira (28).

Pochmann lembrou que o Brasil levou cem anos, desde a proclamação da República, em 1889, para universalizar o acesso das crianças e adolescentes ao ensino fundamental. "Mas esse acesso foi condicionado ao não crescimento dos recursos da educação, que permaneceram em torno de 4,1% ou 4,3% do PIB. Sem ampliar os recursos, aumentamos as vagas com a queda da qualidade do ensino."

Essa universalização do ensino fundamental, no entanto, não significa que 100% dos brasileiros em idade escolar estejam estudando. Segundo dados apresentados pelo dirigente do Ipea, ainda existem 400 mil brasileiros com até 14 anos fora da escola. Se essa faixa etária for estendida para 16 anos, a cifra salta para 3,8 milhões de pessoas.

"A cada dez brasileiros, um é analfabeto. E ainda temos cerca de 45% analfabetos funcionais. É muito difícil fazer valer a democracia com esse cenário."

Em sua fala, Marcio Pochmann também abordou temas como a redução da taxa de fecundidade das mulheres brasileiras, o crescimento da população idosa, o monopólio das corporações privadas transnacionais e a concentração da propriedade da terra.

"O Brasil não fez uma reforma agrária, não democratizou o acesso à terra. Temos uma estrutura fundiária mais concentrada do que em 1920, com o agravante de que parte dela está nas mãos de estrangeiros", afirmou o economista. "De um lado, 40 mil proprietários rurais são donos de 50% da terra agriculturável do país, e elegem de 100 a 120 deputados federais. De outro, 14 milhões trabalhadores rurais, os agricultores familiares, elegem apenas de seis a dez deputados."

Para Marcio Pochmann, a desigualdade é um produto do subdesenvolvimento. "Não que os países desenvolvidos não tenham desigualdade, mas não de forma tão escandalosa."

Nem revolucionário, nem reformista

Segundo o presidente do Ipea, a participação dos 10% mais ricos no estoque da riqueza brasileira não mudou nos últimos três séculos. Permanece estacionada na faixa percentual em torno de 70 a 75%.

"Somos um país de cultura autoritária, com 500 anos de história e menos de 50 anos de vivência democrática. O Brasil não é um país reformista e muito menos revolucionário", sentencia Pochmann. "A baixa tradição de uma cultura partidária capaz de construir convergências nacionais nos subordina a interesses outros que não os da maioria da população."

Marcio Pochmann afirmou que os ricos não pagam impostos no Brasil. "Quem tem carro, paga IPVA. Quem tem lancha, avião ou helicóptero, não paga nada. E o ITR [Imposto Territorial Rural] é só pra inglês ver", exemplificou. "Quem paga imposto no Brasil são basicamente os pobres."

Um estudo do Ipea teria demonstrado que os moradores de favelas pagam proporcionalmente mais IPTU do que os brasileiros que vivem em mansões. "Quem menos paga é quem mais reclama de imposto. Tanto que impostômetro foi feito no centro rico de São Paulo."

Pochmann observa que o tema das desigualdes não gera manifestações, não gera tensão. "Não há greve em relação às desigualdades."

Trabalho imaterial

Na avaliação de Márcio Pochmann, a sociedade mundial está cada vez mais assentada no que ele chama de "trabalho imaterial", associado a novas tecnologias de informação, como aparelhos celulares e microcomputadores. "O trabalhador está cada vez mais levando trabalho pra casa."

Essa sociedade do trabalho imaterial, conforme o dirigente do Ipea, pressupõe uma sociedade que tenha como principal ativo o conhecimento. "Pressupõe o estudo durante a vida toda, e o ensino superior apenas como piso."

Pochmann criticou ainda a forma como a comunidade acadêmica tem tratado o tema das desigualdades no país. "O tema tem sido apresentado de forma muito descritiva e pouco de enfrentamento real e efetivo. Em que medida a discussão está ligada a intervenções efetivas, a políticas que possam de fato alterar a realidade como a conhecemos?"

Na avaliação dele, a fragmentação e a especialização das ciências sociais aprofundariam o quadro de alienação sobre o problema das desigualdades.

"As pesquisas não mudam a realidade. Quem muda a realidade é o homem. Agora, as pesquisas, as teorias mudam o homem. Se mudarem o homem, ele muda a realidade. Nada nos impede de fazer isso, a não ser o medo, o medo de ousar."

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