Mostrando postagens com marcador crescimento. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crescimento. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Impossível crescer num planeta finito, mas...

Por favor se comentar deixe um email para contato.

Mais um para o imaginário frequente de (i) temos um problema com a impossibilidade de manter crescimento infinito num planeta finito, mas (ii) temos a solução, qual seja, basta mudar a forma do crescimento e não a idéia em si mesma: http://www.oeco.org.br/guardian-environment-network/28594-nao-tema-o-crescimento-ele-nao-e-mais-o-inimigo-do-planeta.  Se para a primeira colocação não há muita dúvida entre os que se dizem “novos economistas”, para a segunda há visões completamente distintas, na sua maior parte ilusórias, sobre como tratar essa questão.  Os conceitos são tão vagos e tão descolados do conhecimento científico verdadeiro na física, na biologia, na tecnologia, na ecologia, que apesar de evidente contradição com os resultados apontados pela realidade, essa visão distorcida da realidade sobrevive e se dissemina, alimentada claro por algo que Aristóteles já tinha avisado a todos: “Quando nossos interesses estão em foco, somos os piores juízes das nossas ações.”

O texto do The Guardian replicado para o O ECO é esse tipo de argumento que afasta de vista qualquer crítica ao paradigma de crescimento e modelo de consumo. Podemos continuar crescendo e consumindo que nem loucos suicidas, sem apreço algum pela coletividade, porque estamos tendo ganhos de eficiência, sinais de mercado e novas tecnologias.   Seguem acreditando que o planeta é infinito, que a oferta brota do nada e que a tecnologia, nas palavras de Roegen, irá recriar o Jardim do Éden na Terra.  Apesar dessa crença infundada, não há um só estudo de variáveis críticas planetárias que não mostre deterioração contínua até hoje.   Desde o Millenium Ecossystem Assessment, Limits to Growth e outros estudos importantes, alguns secretos que só agora estão vazando, a situação só tem piorado.   Será que eficiência resolve e podemos ignorar que as florestas que sobraram como as de Borneo estão sendo destruídas?  A de Borneo está sendo solapada para produzir óleo de palma para a indústria de coméstico global.  Podemos crer que eficiência e tecnologia resolve tudo apesar da água estar desaparecendo de vastas regiões importantes de produção agrícola, desde a China, até Brasil e Estados Unidos?

No texto alucinado publicado no The Guardian, extraio alguns comentários interessantes:

Huhne claims: "The UK economy has doubled in real terms since 1985, but total energy consumption is exactly the same as it was in that year."  This is in fact dead wrong. "Official statistics indicate that the UK's greenhouse gas emissions have fallen over the last twenty years - partly because it now produces more electricity from gas than coal. But a new report from government adviser the Committee on Climate Change (CCC) finds that once imports and exports are taken into account, the country's emissions are 80 per cent higher."

A esse respeito lembro de ter lindo um livro brasileiro de autor brasileiro que falava a mesma besteira. Corrigiu, acrescentando que realmente não há evidências de tal melhora.  Esse segundo comentário é bem mais direto:

Where to begin?

1. GDP is rigged. Some jurisdictions are including prostitution, and not just the financial kind.
2. GDP "increase" is going to the richest, not the median.
3. Lots of things are more energy efficient, true. But most are not repairable, and must be thrown away every few years. That costs energy too.
4. The world is heating.
5. The oceans are dying.
6. The manufacturing centres are highly polluted.
7. Not to worry - correcting these things will increase the GDP.
8. The electric grid will not tolerate the higher loads which would result from every vehicle being electric. Somebody will have to improve that. Read copper.
9. Every industrial commodity is getting harder to extract. More steel for a drilling platform, more oil to transport lower grade ore. That is an exponential process, and it is exponentially bad.

But not to worry, you have made me feel SO good.

A esse respeito, não só Piketti, mas Janet Yellen no seu testemunho do Senado ouviu a seguinte pergunta de um senador: “A senhora não se incomoda com o fato de 99% da expansão da renda no período pós-recessão (desde junho de 2009) ter sido apropriada pelo 1% mais rico?”  Não preciso comentar mais nada.  Lógico que essa concentração de renda não preocupa quem está sendo beneficiado por ela e que, não por acaso, desconhece que não há um só exemplo na história da humanidade de tal processo não ter causado um colapso social.

Essa lógica tem uma equação que não fecha: a maturidade atual de economias saturadas que transferiram produção pesada e de energia para países poluidores não pode ser replicada por vastas populações carentes do Brasil, da China, da Índia que querem copiar seus modelos de carros, casas, viagens aos exterior e consumo desenfreado de qualquer coisa inútil e desnecessária que inventaram para nosso deleite (nem vamos comentar que as tecnologias que fariam uma lâmpada durar 100 anos e um pneu de carro durar 1000 anos foram destruídas, assim como a obsolescência programada está funcionando a todo vapor nessa economia do jogar fora que transformou a Terra, nossa casa maior, em uma enorme lixeira...).

Sei que é óbvio, mas o que está acontecendo em um país não necessariamente é possível de ser extrapolado para o planeta inteiro. E o argumento é muito simples.  Se os países ricos tivessem que produzir tudo que precisam (100%) dentro dos seus territórios, já estariam vivendo um colapso ambiental à la Ilha de Páscoa há muitas décadas.  Imaginem EUA e Reino Unido como únicos territórios da Terra e o resto só oceano e pensem: como esses países estariam, tendo destruido quase 100% das suas florestas, consumindo vastas quantidades dos recursos inclusive água de outros territórios que agora, nesse planeta hipotético não tem como ser suprido?  O colapso ambiental das economias maduras só foi evitado pela exportação dos descalabros ambientais para além das suas fronteiras e com até alguma economia recente, como se o planeta Terra não fosse uno...  Essa contrapartida das suas importações tem visibilidade zero no nosso sistema de preços derivado do nosso sistema de valores torpes. Transformar a Amazônia em monocultura tem custo zero na ideologia dominante atual, embora só um serviço seu, formação de água da América do Sul, requer energia equivalente a de 50.000 Itaipus. Imagina a fila de “consumidores” pagando por isso tudo.

Podemos até escamotear a realidade com idéias absurdas e seguir acreditando nelas, mas não conseguiremos mudar os resultados.  Caminhamos para um colapso civilizatório com risco de fim da vida na Terra enquanto mantivermos a idéia de medir nossas atividades por mais atividades, por crescimento que se justifica apenas por mais crescimento.  Enquanto medirmos bem estar pela quantidade de bens e comida que passam pelas mãos dos seres humanos ou sua satisfação pela renda e por aí vai, a lista de erros de crenças é infinda, além das soluções propostas serem cada vez mais inadequadas.  O bem estar humano além de não estar assegurado por essas vias, agora corre um rismo maior, por esfacelar as bases de sustentação da vida.

Sugiro a leitura de Serge Latouche e Erik Assadourian.  Do Erik Assadourian, esse texto muito mais lúcido mostra essa diferença de visões:  http://archleague.org/2013/10/degrowing-our-way-to-genuine-progress/

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Economia autista

Por favor se comentar deixe um email para contato.

Como para o autista Krugman (e praticamente todos como Joseph Stiglitz, Jeffrey Sachs, David Romer, Nouriel Roubini, etc) o que só importa é o crescimento e não outros padrões como demografia, cultura, sociedade, meio ambiente, ele está “conscientemente” pregando que o crescimento elevado deveria ser eterno, exponencial ao infinito, algo que só as bactérias e vírus perseguem num espaço finito.  É de uma estupidez tamanha que a grande surpresa não é ser proferida, mas seguida por todos.

A estagnação, concentração de riqueza, crises, falta de empregos, colapso planetário deve estar relacionada com outros fatores que escapam das análises dos economistas, por isso, eles nunca irão acertar, enquanto a análise continuar míope e restrita ao seu campo limitado de visão.

Esse vídeo ilustra bem como os economistas pensam





Description: Paul Krugman - New York Times Blog
May 7, 4:25 am Comment

Three Charts on Secular Stagnation

  •  Apologies for blog silence — stuff happened. Right now I’m in Oxford, preparing for a talk tonight on secular stagnation and all that; and I thought I’d share three charts I find helpful in thinking about where we are.
Secular stagnation is the proposition that periods like the last five-plus years, when even zero policy interest rates aren’t enough to restore full employment, are going to be much more common in the future than in the past — that the liquidity trap is becoming the new normal. Why might we think that?
One answer is simply that this episode has gone on for a long time. Even if the Fed raises rates next year, which is far from certain, at that point we will have spent 7 years — roughly a quarter of the time since we entered a low-inflation era in the 1980s — at the zero lower bound. That’s vastly more than the 5 percent or less probability Fed economists used to consider reasonable for such events.
Beyond that, it does look as if it was getting steadily harder to get monetary traction even before the 2008 crisis. Here’s the Fed funds rate minus core inflation, averaged over business cycles (peak to peak; I treat the double-dip recession of the early 80s as one cycle):
Description: http://graphics8.nytimes.com/images/2014/05/07/opinion/050714krugman1/050714krugman1-blog480.png
And this was true even though there was clearly unsustainable debt growth, especially during the Bush-era cycle:
Description: http://graphics8.nytimes.com/images/2014/05/07/opinion/050714krugman2/050714krugman2-blog480.png
The point is that even if deleveraging comes to an end, even stabilizing household debt relative to GDP would involve spending almost 4 percent of GDP less than during the 2001-7 business cycle.
Finally, the growth of potential output is very likely to be much slower in the future than in the past, if only because of demography:
Description: http://graphics8.nytimes.com/images/2014/05/07/opinion/050714krugman3/050714krugman3-blog480.png
Suppose that potential growth is one percentage point slower, and that the capital-output ratio is 3. In that case, slowing potential growth would, other things being equal, reduce investment demand by 3 percent of GDP.
So if you take the end of the credit boom and the slowing of potential growth together, we have something like a 7 percent of GDP anti-stimulus relative to the 2001-7 business cycle — a business cycle already characterized by low real rates and a close brush with the liquidity trap.
Predictions are hard, especially about the future — but as I see it, these charts offer very good reasons to worry that secular stagnation is indeed quite likely.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Not to have doubts about how shale gas was welcomed in America...

Por favor se comentar deixe um email para contato.


From Project Syndicate where sit economautists or economechanists (a hybrid of autism, mechanicism and economics that are undermining the children´s future):

Still, there are often-overlooked reasons for optimism about America’s future potential growth. A recent McKinsey Global Institute study identifies five mutually reinforcing “game changers” that could have a significant effect on GDP growth, productivity, and employment in the US by 2020: shale energy, big-data analytics, exports in knowledge-intensive industries, infrastructure investment, and talent development. Two of these – shale energy and big-data analytics – build on ongoing technological breakthroughs in which the US has a strong lead and depend primarily on private-sector action, not macroeconomic or structural policies.

To our delight, full text can be seen in this web address: http://www.project-syndicate.org/commentary/america-s-next-growth-engines-by-laura-tyson

If you have doubts about how growthmania works as the sole commander-in-chief around the world, take a look in the other bright papers there…

Hugo Penteado

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A estratégia de não crescimento ainda não consegue vencer a ideia de crescimento

Por favor se comentar deixe um email para contato.

A estratégia de não crescimento ventilada por várias teorias, como a de Peter Victor, ainda está incompleta e difícil de vencer a hegemonia da idéia de crescimento
Seus principais articuladores não se dão conta disso...



Comentários sobre o texto do Peter Victor:

1)Defender a extinção do crescimento “apenas” para os países desenvolvidos não vai funcionar se o tal crescimento às custas do meio ambiente continuar nos países em desenvolvimento, onde estão as maiores fileiras populacionais. Risco de colapso civilizatório seguirá inalterado se o modelo de crescimento não for revisto universalmente.

2) A estabilização populacional na Europa é falsa, porque o suprimento está vindo do fluxo migratório da África e do Oriente Médio. Adicionalmente, os governos estão desesperados e introduziram todos os meios possíveis (financeiros inclusive) para fazer os casais europeus terem mais filhos. A estabilização populacional, pelo menos na Europa, é aterradora para esses governos. Na China idem, a política de filho único está para ser abolida.

3) Para entender o dilema populacional e de não crescimento, basta pegar a adoção generalizada do sistema de repartição simples na previdência. Esse sistema foi concebido com a idéia estapafúrdia que as populações (e as economias) iriam crescer para sempre (idéia esta abraçada inclusive por Malthus, prova que o problema é antigo). O sistema correto deveria ser o de capitalização (cada um responsável pelo seu ciclo de vida). No Brasil, há estudos que mostram (André Lara Resente) que a simples transferência do sistema de repartição simples para um de capitalização, levando em conta o ônus do sistema antigo, custaria aos cofres 1 trilhão de reais (ao perder a coleta das contribuições que são distribuídas entre ativos e inativos ao longo das gerações).

4) Zero crescimento populacional ou zero crescimento econômico não é desejável, porque com isso o sistema deixa de ser financeiramente saudável e essa é a razão das políticas estarem totalmente voltadas apenas nessa direção.

5) Não pode haver a menor dúvida que um cenário de não crescimento irá gerar falência do sistema econômico, a dúvida maior é como manter a saúde financeira do sistema sem o crescimento econômico e populacional. A proposta de não crescimento é portanto incompleta, enquanto não fornecer uma saída para abandonar o crescimento sem colocar em falência os sistemas bancário, financeiro, tributário, fiscal, de saúde e de previdência, todos eles com sua vida útil diretamente atrelada enquanto houver crescimento. Essa é uma boa razão para as propostas de abandono do crescimento caírem no vazio, as pessoas não se sensibilizam com o fato do crescimento gerar o fim da vida na Terra nem de gerar infelicidade, mas se sensibilizam muito com o risco de falência sistêmica de todos os sistemas de sustentação da economia na sua ausência.

6) Não são os governos que se sensibilizam com a falta de crescimento, eles não passam de fantoches nas mãos da superclass. Um cenário de não crescimento não só irá gerar falência, mas também menor geração de riqueza nas mãos de poucos. Sem geração de riqueza e crescimento, a pressão em cima dos governos será gigante e exercida pela superclass, 6000 pessoas que comandam o planeta, são completamente insensíveis às questões socioambientais. É a superclass, que virou multibilionária e provavelmente que se tornar trilionária, que impede tal mudança ou redirecionamento.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Não somos únicos

Por favor se comentar deixe um email para contato.

Essa apologia do crescimento precisa ser revogada, pois um dia, falar de crescimento será considerado crime contra a humanidade. Essa idéia aniquilou tanta vida, tanto futuro, tanto bem estar, que seu efeito é pior mil vezes que a soma de todas as guerras cruéis que o nosso egoísmo gerou. O crescimento econômico em primeiro lugar baseia-se em uma teoria econômica falsa, com axiomas e princípios de conservação mecânicos de 200 anos atrás, pelos quais os economistas e sua clientela interesseira acreditam que a natureza não só é inesgotável, como também um subsistema da economia. Na verdade, concluem eles corajosamente que a economia pode ser maior que o planeta. O pior de tudo é que embora seja inegável que o crescimento econômico é impossível de se concretizar num planeta fechado e finito como a Terra, sem causar extinção de todas as formas de vida, ele segue sendo pregado aos quatro ventos, porque muitas pessoas acreditam que essa é a única forma de acabar com a miséria. Isso já foi negado por mais de duas centenas de estudos a respeito dos resultados sociais do crescimento por universidades e instituições de renome, como o NEF e a Fordham University. O crescimento econômico ao invés de resolver problemas sociais, acentua todos eles, não passa de um mecanismo poderoso de concentração de riqueza e poder e de diferenciação social em definitivo e, acima de tudo, onde quer que tenha gerado resultados sociais favoráveis, sempre ocorreram às custas de exploração de meio ambiente e mão de obra barata em lugares estrangeiros. Além disso, de forma universal, todos os benefícios sociais como empregos são apenas temporários e efêmeros, posto que o crescimento só se justifica através de mais crescimento, sendo um fim em si mesmo. O crescimento também é um grande causador da extinção cultural que tantos serviços adaptativos prestou à humanidade. A extinção cultural ocorre ao tentar impor, até agora com sucesso, um modo único de produção e consumo para todos. Ou seja, a idéia de crescimento está associada com a extinção da vida e das culturas, com um futuro sombrio para todos nós, uma vez que dessa vez esse Titanic não terá botes salva-vidas nem para a primeira classe, porque nossa civilização conseguiu a proeza de se transformar numa ilha de Páscoa global, via comércio entre as nações, onde as transferências físico-ambientais são invisíveis e permitiu às nações usurpadoras evitar seu próprio colapso local, exportando-o para o resto do mundo. Não é à toa que vivemos a maior extinção da vida dos últimos 65 milhões de anos, ignorada por todos, porque todos, quase sem exceção, ignoram que do ponto de vista da biologia somos todos um.

Hugo Penteado

Míriam Leitão - Panorama Econômico O GLOBO 14/12/2010

Não somos únicos

O crescimento da América Latina este ano mostra que o bom desempenho do Brasil não é fato isolado: a região deve crescer 6% em 2010, segundo a Cepal, depois de cair 1,8% no ano passado. O crescimento do Brasil será o quinto maior, atrás de Paraguai, Uruguai, Peru e Argentina. Assim como aqui, o desemprego caiu e a inflação subiu. As exportações foram beneficiadas pela alta dos preços das commodities.

Alguns países nem chegaram a terminar o ano de 2009 com PIB negativo, como foi o caso do Uruguai. Cresceu 2,9% em 2009 e este ano terá o segundo melhor resultado da região, com alta de 9%. Em primeiro lugar, aparece o Paraguai, com previsão de crescimento de 9,7%. Mas assim como o Brasil, que terminou o ano passado com recessão de 0,6%, parte do crescimento paraguaio deste ano é recuperação do ano passado, quando o país terminou com queda de 3,8% do PIB. Peru e Argentina são dois outros países que conseguiram terminar 2009 com crescimento, de 0,9% em ambos os casos, e este ano vão crescer mais que o Brasil:8,6%, o Peru, e 8,4%, a Argentina. A previsão da Cepal para o Brasil é de crescimento de 7,7%.

´O crescimento observado em 2010 é a consolidação da recuperação que a maior parte das economias da região experimenta desde a segunda metade de 2009, impulsionadas pelo impacto das medidas anticíclicas que vários países implementaram, complementadas pela recuperação da economia internacional`, disse a Cepal, em relatório.

A Venezuela será o único país da região a ter dois anos seguidos de recessão. Caiu 3,3% em 2009, e cairá 1,6% este ano. E isso mesmo com a valorização de 32% no preço do petróleo. A previsão para o ano que vem também é modesta: alta de 2%. O caso da Venezuela é um mistério que só a péssima administração chavista explica. Na lanterna da região está o Haiti, devastado pelo terremoto do início do ano que deixou mais de 220 mil mortos, com recessão projetada de 7%. A boa notícia é que para o ano que vem espera-se a maior taxa de crescimento da região: 9%. Já o Chile, também atingido por um terremoto,conseguirá manter um crescimento de 5,3%.

Os números mostram tendências muito parecidas entre o Brasil e o resto da América Latina e Caribe: o desemprego cairá este ano - de 8,2% para 7,6%; e a inflação subirá, em grande parte por causa dos preços dos alimentos, cotados internacionalmente, e combustíveis. A previsão da Cepal é de que os preços aos consumidores subam de 4,7% no ano passado para 6,2% este ano. As semelhanças não param por aí. Crédito, renda e mercado de trabalho têm sido o motor do crescimento do consumo interno:

´A evolução dos indicadores de mercado de trabalho, o aumento do crédito e a melhora generalizada das expectativas contribuíram para impulsionar o crescimento do consumo privado que, junto com um significativo aumento dos investimentos em máquinas e equipamentos, constitui um dos principais motores em que se assentou o crescimento da demanda.`

Se por um lado o aumento dos preços dos produtos agrícolas foi ruim para a inflação, por outro, contribuiu para melhorar a balança comercial devários países exportadores. Itens como café, cacau, trigo e soja tiveram valorização principalmente a partir do segundo semestre deste ano. A mesma coisa aconteceu com as commodities metálicas. Entre janeiro a outubro, o cobre teve aumento de 52%, o alumínio, 35%, e o ouro, 27%. Com isso, a Cepal estima um crescimento de 25% das exportações, em valor, depois de uma queda de 22% no ano passado.

Para 2011, a previsão também é de um PIB mais fraco, assim como no Brasil. De 6% para 4,2%. A desaceleração é motivada pela piora no cenário internacional - leia-se Europa -, pelo fim dos estímulos econômicos dos governos e também pelo esgotamento da ocupação da capacidade ociosa.

A região recebe a mesma advertência da Cepal que caberia perfeitamente ao Brasil: o risco de que o crescimento aprofunde muito o déficit em transações correntes. A região já se queimou no passado exatamente por manter por tempo demais o rombo externo.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Prosperity without Growth

Por favor se comentar deixe um email para contato.

Prosperity without Growth

A review of Smart Growth, by Edward D. Hess.

by David K. Hurst

Smart Growth: Building an Enduring Business by Managing the Risks of Growth

By Edward D. Hess


Edward D. Hess, professor of business administration and Batten Executive-in-Residence at the University of Virginia’s Darden School of Business, has aheretical thought: Growth may not be good.

In Smart Growth, he questions the four major assumptions behind the conventional wisdom of corporate success, which he calls the “growth mental model” (GMM):

a) that businesses must grow or die

b) that growth is unequivocally good

c) that growth should be smooth and continuous, and

d) that quarterly earnings are the primary measure of success.

In addition, he supplies a series of trenchant questions for managers to ask themselves about how, why, and even whether their firms should grow.

In nine crisp chapters, Hess demonstrates that the GMM is neither possible in practice nor feasible in theory, and that attempts to meet its demands can create insurmountable obstacles to corporate sustainability.

His arguments are supported by a series of case studies showing that growth is usually uneven and episodic — impossible to sustain for more than relatively short periods of time. Thus, attempts to “implement” the GMM result either in profitless growth, especially through acquisitions, or in ersatz earnings produced via a wide variety of financial manipulations.

To test whether the concept of the GMM is supported by theoretical perspectives on growth, Hess turns to economics, organizational strategy and design, and biology.

He finds that neoclassical economics is the framework that is most sympathetic to the GMM, but its assumptions do not hold up in the real world; that the strategic and design perspective offers little support for the GMM; and that biological theories are notable for the stress they put on the limits to growth. Sothere is little support for the conventional wisdom in theory.

Hess’s conclusion is that corporations should aim for sustainable or “smart” growth by asking some key questions, especially regarding the resources most needed to support such growth.

Following economist Edith Penrose’s resource-based theory of the firm, he contends that the true limit to growth is usually defined by the capabilities of the firm’s managers — supporting this argument with the well-documented case of Starbucks’s overreach, in which the rapid expansion in the number of stores caused liabilities to rise precipitously and diluted the value of the brand.

All this makes good sense. The only shortcoming may be the author’s failure to examine why the GMM is so robust in the face of all the evidence against it. Is it because there are large constituencies in the economy that generate revenue by pushing the GMM and thriving on the turmoil it creates? If so, is there a need for public policy addressing it? And what risks do firms run if they eschew the flawed GMM in favor of smart growth?

AUTHOR PROFILE:

David K. Hurst is a contributing editor of strategy+business. His writing has also appeared in the Harvard Business Review, the Financial Times, and other leading business publications. Hurst is the author of Crisis & Renewal: Meeting the Challenge of Organizational Change (Harvard Business School Press, 2002).

http://www.strategy-business.com/article/10313a?gko=2abbe

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Isso não é normal

Por favor se comentar deixe um email para contato.

Precisamos mudar o modelo econômico inteiro, precisamos focar nas pessoas, que são os agentes de transformação para o bem e para o mal, mas jamais deixarão de ser esses agentes. Precisamos de governos que parem de enfatizar no crescimento quantitativo ou crescimento econômico, que é uma das maiores falácias científicas jamais criadas e defendidas por economistas de renome, mas não passa de um elemento de diferenciação social, escravização das massas, destruidor de empregos, concentrador de riquezas ao extremo e de destruição da democracia e, por fim, da capacidade do planeta sustentar a vida na Terra. Precisamos focar no desenvolvimento qualitativo, num modelo que unifique a relação do ser humano com o planeta e com os demais seres vivos e não que o distancie dos pontos mais importantes da sua vida.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Mais crescimento

Por favor se comentar deixe um email para contato.

A única coisa que lemos aqui no mercado financeiro é "precisamos de mais crescimento quantitativo". Não há, nem nunca houve, nenhuma preocupação com sustentabilidade. Os textos de G20, G8, G1000, Bancos Centrais, governos, mídia, jornalistas especializados, são todos focados na palavra crescimento.

O crescimento é visto também como a principal arma para combater a pobreza, mas isso, como mostra mais de 280 críticas com evidências, é uma grande mentira ou falácia, para fazer uso de um português mais castiço.

O crescimento é justificado por uma mentira - elimina a pobreza - e amparado num absurdo físico - ser infinito dentro da finitude do sistema maior onde a economia se aloja como parasita.

O pior de tudo é que para espanto dos cientistas há mais de 70 anos essa mentira e esse absurdo seguem não só mais venerados do que nunca, como não há uma vírgula sequer de algo como uma mudança de rota para salvação da humanidade, cada vez mais ameaçada.

É hora de virar a mesa. Como eu disse em outras oportunidades, mostrar a mentira talvez seja mais eficaz do que mostrar o absurdo físico. É simples: o crescimento econômico produz quase que instantaneamente uma série de injustiças, perdas e vulnerabilidades sociais. Já a questão planetária, leva tempo, dentro da resiliência da natureza, nesse caso a causa está muito distante da conseqüência e todos acreditam que o avanço da tecnologia será capaz de refazer os 20 serviços ecológicos que estão rapidamente sendo destruídos.

Se de repente os arautos dessa ideologia forem confrontados com a realidade nua e crua que o crescimento não reduz a pobreza (definitivamente), talvez também se voltem para uma revisão da sua teoria falsa no aspecto físico.

Germany Rejects Obama’s Call on Growth, Stoking G-20 Conflict
2010-06-21 15:24:30.308 GMT


By Rainer Buergin
June 21 (Bloomberg) -- Chancellor Angela Merkel’s government rebuffed U.S. calls to focus on bolstering growth
over debt reduction, setting a course for conflict at the Group of 20 summit in Canada this week.
“Nobody can seriously dispute that excessive public debts, not only in Europe, are one of the main causes of this crisis,” Finance Minister Wolfgang Schaeuble told reporters in Berlin today alongside Merkel. “That’s why they have to be reduced.”
Germany is holding to G-20 commitments on exit strategies from fiscal stimulus, and “not violating international
requirements for a coordinated strategy for sustainable growth,” Schaeuble said. “We will face up to the international
debate and I think we can do that with a great deal of self-confidence,” he said.
Five days before G-20 leaders meet in Toronto, the economic-policy divide between Europe and the U.S. is hardening.
President Barack Obama, in a letter to his G-20 counterparts dated June 16, urged a focus on economic growth, saying order to public finances should be restored in the “medium term.”
German Economy Minister Rainer Bruederle, at a separate press conference earlier today, said the U.S. must join Europe in “urgently” cutting spending.
“It’s urgently necessary for monetary stability that public budgets return to balance,” Bruederle said. “This is
something we should also tell our American friends.”

Canada’s ‘Minimum’

Canadian Prime Minister Stephen Harper, in his own letter to G-20 counterparts, said June 18 that he wants leaders to agree to a target of reducing their deficits by half by 2013, and to stabilize or begin reducing their ratios of debt-to-output by 2016.
The European Union is “somewhat wary” of these targets because Europe’s goals are more ambitious, according to a senior EU finance official, who said the proposals by Canada should be the “minimum.”
“A number of advanced countries will have to go further,” said the official, who spoke to reporters in Brussels today on the condition of anonymity. “For us, it has to be absolutely clear that this is a minimum.”
European G-20 members will make deficit reduction a central theme in Toronto, Merkel said June 19 in a video message on the Internet.
“We will talk about when we’ll switch from the phase of economic stimulus programs toward lasting budget consolidation,” Merkel said. “In the opinion of Europe’s participants, and especially Germany, this is urgently
necessary.”

‘Unity of Purpose’

Whereas Obama called on the G-20 to reaffirm its “unity of purpose to provide the policy support necessary to keep economic growth strong,” Merkel said that “it’s not about growth at any price, it’s about sustainable” growth.
She said June 11 that she expects to have a “hard time” at the summit, with pressure from fellow leaders to spend to boost growth while she sees “no alternative” to budget savings.
Nobel prize-winning economist Paul Krugman said the U.S. isn’t worried about “loose monetary policy” and said it would be a risk for the euro region to allow Axel Weber, president of the Bundesbank, to succeed Jean-Claude Trichet as head of the European Central Bank, German newspaper Handelsblatt reported “If you’re looking for somebody who aims at an inflation rate of zero percent while unemployment rises to 13 percent, then Weber is certainly the right man,” the newspaper quoted Krugman as saying.

--With assistance from Jonathan Stearns in Brussels, Brian Parkin in Berlin, Simon Kennedy in London and Theophilos Argitis in Ottawa. Editors: Alan Crawford, Kevin Costelloe

To contact the reporter on this story:
Rainer Buergin in Berlin at +49-30-70010-6228 or

To contact the editors responsible for this story:
James Hertling at +33-1-5365-5075 or jhertling@bloomberg.net

quarta-feira, 19 de maio de 2010

LIMITES AO CRESCIMENTO ECONÔMICO

Por favor se comentar deixe um email para contato.

Economistas como Affonso Celso Pastore, doutrinados telepaticamente pela teoria neoclássica onde vigora o total esquecimento da herança mecanicista e a total separação da economia com o planeta, seus ecossistemas, a biodiversidade, conseguem extrair do seu conhecimento idéias estranhas como a do artigo anexo. Para eles, o único limite ao crescimento é a capacidade de poupança de determinadas economias. Para ele, uma vez superada essa limitação, o crescimento poderá ser maior e, acima de tudo, indefinido. Crescimento indefinido significa acreditar que a economia pode ser maior que o planeta. Não é só ele que acredita nesse disparate, mas Joseph Stiglitz, Paul Krugman e os mais hereges, como José Goldemberg, Nicholas Stern, Ignacy Sachs, esses últimos adicionando nas suas idéias os mitos da sustentabilidade, da economia do baixo carbono e energia limpa. Para a sustentabilidade (ambiental, econômica e social) ser atingida, seria necessária a revogação quase completa da teoria econômica, proposta que começou a nascer a partir da crítica de Nicholas Georgescu Roegen, até hoje sem seguimento. Muitos dos seus seguidores sequer entenderam perfeitamente bem qual foi a sua mensagem e nem foram até hoje capazes de dar sequência. A crítica foi tão profunda que os economistas ao invés de assumirem os erros dramáticos das suas teorias, resolveram ignorar Roegen e só não puderam ignorar eternamente, por conta de ter sido ele o primeiro homem a prever as conseqüências planetárias do modelo econômico regido pelo descarte, desperdício, concentração de riqueza e crescimento eterno. Roegen a seu tempo previu que a Terra seria entregue ainda banhada em sol apenas à vida bacteriana. Entre os seguidores que conseguiram manter a linha, temos Herman Daly e outros, que mostram com clareza e percepção como muitas das propostas dos economistas e dos ditos mais iluminados ligados a sustentabilidade simplesmente não revoga o atual ecosuicídio da humanidade. O silêncio sepulcral sobre essa verdade é um misto de covardia e interesses cruzados, apenas isso justifica o confronto das idéias econômicas estafúrdias propostas pelos governos no mundo todo e totalmente contrárias às evidências das ciências mais puras, com conclusões robustas não só na área do clima (outro erro concentrar todos os nossos débâcles planetários em apenas um item a ser resolvido com apenas uma parte do problema que é energia).

segunda-feira, 22 de março de 2010

A falsa riqueza e a falsa intenção daqueles que menosprezam o meio ambiente e a sociedade

Por favor se comentar deixe um email para contato.

A transformação do Brasil em celeiro do mundo, para abastecer povos que transbordaram suas necessidades ambienteis e entraram em colapso está longe de ser algo benigno ou benfazejo para o país. As atividades agropecuárias de larga escala no nosso país estão diretamente associadas com resultados sociais e ambientais incrivelmente ruins. Adicionalmente a isso, a monocultura reduziu 95% da oferta de alimentos a 21 espécies, 14 vegetais e 7 animais, todas monogênicas. Nunca, segundo a FAO, estivemos tão precários em segurança alimentar, esses espécies são muito vulneráveis e quase perdemos o trigo recentemente, não fosse uma nova espécie encontrada num altiplano asiático. O modelo defendido pela Kátia Abreu (ver artigo abaixo) e com respaldo “científico” e seu menosprezo pelas preocupações ambientais de pessoas que também são dotadas de conhecimento científico e não fundamentalismo, é um grande erro.

Vamos voltar somente ao primeiro ponto: a pressão por alimentos e carnes do resto do mundo, que não pode ser abastecida localmente, nada mais significa que a exportação do colapso ambiental para países como o Brasil, que alegremente abraçam a causa de se tornarem celeiros do mundo, sem cobrar nada pela transformação inevitável dos seus ecossistemas. Vamos voltar a outros pontos mais importantes:

1) O produtor sabe que sem solo e água não irá produzir, mas isso não impediu localmente perdas de produção e fugas ambientais em massa diversas vezes na nossa história; agora o risco é global.

2) Não é o produtor que produz, mas a natureza, não é o produtor que dá as regras, mas a natureza, a falsa noção de normalidade e controle será o fim da nossa espécie animal.

3) Porque produzir mais alimentos se jogamos no lixo 25% deles?

4) A intenção de transformar o resto dos ecossistemas em celeiros do mundo impede mudanças necessárias nos hábitos alimentares, como comer menos leites e carnes e mais vegetais (pressão sobre os ecossistemas despenca); cortar excesso de alimentação que colocou 1/3 da população dos países ricos em enorme obesidade; difundir produção de alimentos em áreas urbanas, como aconteceu durante a Grande Depressão com o exemplo da Leonor Roosevelt; aumentar eficiência produtiva onde puder; cortar o desperdício que responde por 25% da produção mundial.

5) A falsa noção que teremos alimentos abundantes com tecnologia e segurança alimentar impede enxergar o limite da Terra.

6) O modelo de crescimento eterno, com base científica, pode mesmo transformar Brasil em celeiros, mas como nós somos a última fronteira agropecuária planetária, é bastante óbvio que essas pessoas tem em mente que os próximos celeiros serão interplanetários ou intergalácticos.

Acho que esses são os primeiros pontos que me ocorrem. Os sofismas, pelo qual as pessoas acreditam estar revelando uma baita verdade, mas estão apenas alimentando sua enorme ignorância com seu interesse mesquinho próprio.

Hugo Penteado

O Estado de S. Paulo

Verdade ambientalista versus fundamentalismo

Kátia Abreu*
O que parecia impossível, acontece: estamos às vésperas de começar a conhecer, com precisão científica, o que o Brasil pode e não pode fazer com suas terras, seus rios, lagos, montanhas e florestas

O que parecia impossível, acontece: estamos às vésperas de começar a conhecer, com precisão científica, o que o Brasil pode e não pode fazer com suas terras, seus rios, lagos, montanhas e florestas. E mantendo o equilíbrio da natureza, preservando as manifestações de vida, animal e vegetal, e, a um só tempo, liderando a produção mundial de alimentos. Todo esse conhecimento será alcançado por cientistas e pesquisadores brasileiros da Empresa Brasileira de Pesquisa agropecuária (Embrapa) e das instituições parceiras, que começaram o trabalho e têm desde já os recursos necessários assegurados.

Ufa! Finalmente, a questão ambiental neste país se desloca da defesa fanática de dogmas para o conhecimento científico sistemático.
Quem está em campo sabe (e como sabemos e sofremos!) que o jogo do ambientalismo e da ecologia no Brasil é um vale-tudo. Não tem regras. Uns poucos se autodenominam defensores da natureza, conseguem franquias de ONGs internacionais ou criam as suas próprias, arrecadam muito dinheiro para definir o bem e o mal e lançar suas sentenças arbitrárias. Isso pode, isso não pode, decidem. Espalham avaliações, frequentemente difamatórias, contra quem escolhem para bode expiatório. O que decidem passa em julgado, sem apelação.

Já a sociedade, perplexa e generosa, preocupada com a qualidade de vida, as mudanças climáticas e a própria sobrevivência do planeta, submete-se a toda sorte de exageros, superstições e invencionices, até mesmo porque as opiniões arbitrárias vêm sempre mescladas com as melhores e mais comoventes prescrições. As próprias leis ambientais brasileiras, mesmo as consensuais, revelam generosidade e ignorância, pois, em sua maioria, não têm nenhuma base científica e experimental.

Por outro lado, ONGs exploram a insegurança, a debilidade institucional e a antropofagia política de uma nação que tardiamente, mas efetivamente, está driblando as suas contradições e avançando no bom caminho da ordem democrática. Os paradigmas que nos querem impor refletem o remorso, a hipocrisia e, principalmente, o poder econômico dos povos até agora ditos desenvolvidos e que através de milênios de História desconstruíram suas paisagens e não têm mais condições de recompô-las. Desta vez, porém, sofrerão um contra-ataque que não esperavam, num país tropical e exótico, como nos olham.

Estou escrevendo sobre o Projeto Biomas, a ser conduzido pela Embrapa, envolvendo 240 pesquisadores de várias instituições e uma história de sucessos - descobertas, invenções, experimentações - que tornaram o Brasil o terceiro maior exportador mundial de alimentos (na verdade, o segundo, pois a União Europeia, hoje em segundo lugar, não é um país, mas a soma de 27 países). O Projeto Biomas é a oportunidade de ouro para a agropecuária brasileira, escorada no conhecimento científico, mostrar seus compromissos éticos e produzir sem medo.

Escolhidos por algumas ONGs, na impostura ecologista que encenam impunemente, para o papel de Judas em Sábado de Aleluia, os produtores rurais apostam na verdade. Por intermédio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), estão contribuindo com R$ 20 milhões para que a Embrapa, com independência e autoridade acadêmica, desenvolva o Projeto Biomas.

Fui tão longe e esqueci o que devia ter sido o começo da conversa: biomas. O que são biomas? Uma palavra nova, criada há pouco mais de 50 anos - formada por bio, vida, e oma, conjunto -, designa áreas que apresentam uniformidade de paisagens, clima, solo, subsolo e predomínio de espécies vegetais e animais. No Brasil temos seis biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. O Projeto Biomas pretende reunir, em seis vitrines tecnológicas de 5 milhões de metros quadrados cada (uma em cada bioma), conhecimentos e experiências para consolidar uma espécie de bula, apresentação minuciosa das paisagens e dos solos de cada bioma nos 851 milhões de hectares do Brasil, acompanhada de indicações e modo de usar, apresentando a forma de uso da terra compatível com o potencial ambiental.

O Projeto Biomas tornará disponíveis informações tecnológicas para todos, democrática e gratuitamente, em especial para os pequenos e médios agricultores, que não podem pagar por elas. E contarão, também, com 350 instrutores treinados pelo sistema CNA/Senar (o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) para orientá-los - são os transferidores de tecnologia. Será a primeira iniciativa que inclui os agropecuaristas como protagonistas de uma importante ação ambiental.

O Projeto Biomas agrega, não alimenta conflito. Vai substituir as opiniões, intuições e a absurda orientação ideológica que transforma dogmas em legislação sobre quantos metros a mais ou a menos de margens de rios e topos de morros devem ser preservados. Agora, prevalecerá a orientação científica, pesquisada e experimentada. É a nossa opção pela ciência e uma declaração da nossa confiança na Embrapa e nos pesquisadores do Brasil.

Os produtores sabem que não há produção sem água ou em solos degradados. Sabem que nada cresce sem o equilíbrio da biodiversidade, tão importante para o controle de pragas e doenças.

Ou, como ouvi outro dia de um velho pesquisador, adaptando inconscientemente um jargão do seu passado socialista à regra de ouro que resultará do Projeto Biomas: A cada bioma, segundo as exigências de preservação da sua natureza; a cada agropecuarista, nos limites estabelecidos para uso econômico das suas propriedades. A utopia fundamentalista não se cumpriu, mas a verdade ambientalista no Brasil será realidade.

*SENADORA (DEM-TO), É PRESIDENTE DA CNA


sexta-feira, 19 de março de 2010

A lenga-lenga da economia do baixo carbono: Alice no país das maravilhas?

Por favor se comentar deixe um email para contato.

O comentário abaixo está relacionado aos 2 textos que podem ser baixados nos links a seguir:





A lenga-lenga da economia do baixo carbono: Alice no país das maravilhas?

O seminário de "O caminho do baixo carbono", comentado pelas jornalistas Amelia Gonzalez e Martha Nelva Moreira (ver anexo), merece comentários adicionais. Em prmieiro lugar, já assisti palestras do Eduardo Gianetti da Fonseca para o mercado financeiro nas quais a litania é sempre a mesma: "CRESCER, CRESCER, porque não crescemos como a China", diz ele de alto brado... E propunha reformas para isso, uma bobagem de dar dó, segundo Andy Xie, um economista inteligente independente que criticou essa lenga-lenga toda no seu último artigo (ver anexo). O surreal é que tudo indica que a idéia de crescimento econômico foi campanha da guerra fria, que alguns desavisados, como Robert Solow, tomaram como séria.

É apavorante ver o "framework" dos economistas tradicionais que só contempla produção por valores monetários e ignora os avanços das ciências mais puras, crítica ignorada e totalmente aplicável feita pelo Nicholas Georgescu-Roegen há mais de 40 anos atrás. Pena ele não ter sido ouvido.

O que mais apavora nessa questão toda enquanto afundamos na lama é a forma como os iluminados de plantão não entendem que o problema crucial não é o de energia, mas de matéria.

Vamos brincar de planeta-sala, onde fazemos nossas palestras. Fora das salas temos o cândido universo. O planeta-sala possui falta de energia o que deixa seus presentes e o palestrante-vaidoso-sofista muito preocupado. No final, por meio de um passe de mágica, atingimos a economia do baixo carbono e temos milagrosamente algo que a humanidade nunca terá: uma fonte segura, facilmente distribuída, barata e inesgotável de energia. Todos do planeta sala já esfregam as mãos: vamos aumentar o número de cadeiras de 300 para 600, mas de repente se dão conta que só será possível fazer isso se empilharmos cadeiras e pessoas, dado que o espaço disponível é obviamente finito...

Poderíamos adicionar o problema no planeta-sala da necessidade para os presentes de comida e água, destino do lixo, manutenção do ar puro, biodiversidade, etc., mas por hipótese ad hoc os seres do planeta-sala são intangíveis e imateriais, como se estivessem no Jardim do Éden, basta pensar e estão saciados. Mesmo assim, o problema das cadeiras segue sem solução...

É tão óbvio quanto isso. A expansão quantitativa que atingimos só será viável quando retroceder ao ponto necessário de restabelecer o equilíbrio planetário e isso ocorrerá com ou sem a humanidade, posto que não somos nós que ditamos as regras e sim o planeta. Essa falsa idéia de comando e controle também faz parte dos erros coletivos atuais que nos fazem correr o risco pela primeira vez de total desaparecimento da nossa espécie.

Hugo Penteado

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Brasil precisa crescer igual à China ou mais...

Por favor se comentar deixe um email para contato.

Artigo publicado na Agência Estado BROADCAST em 4 de junho de 2009:

O professor Nouriel Roubini disse ao Jornal O Estado de São Paulo no dia 21/05/2009 que o maior desafio do Brasil é elevar a média de crescimento econômico, que oscilou de 4% a 5% nos últimos dois anos, para uma taxa próxima da russa, chinesa e indiana, que variou de 8% a 10% no mesmo período. Essa colocação contém dois erros, um mais trivial e outro, menos.

O mais trivial é algo que os economistas não conseguem responder: como poderemos aumentar infinitamente a produção de carros, casas, cacarecos, todas as construções, armas bélicas, produtos das mais variadas espécies num espaço finito como a Terra? Por acaso não estamos sendo soterrados por essa contínua e exponencial produção e construção de coisas com uma total perda de foco? Uma perda de foco, por exemplo, é o enorme desperdício no consumo de materiais, bens finais e de geração de lixo, que se eliminados de imediato iriam mitigar violentamente o dano que impingimos ao planeta e que colocou nossa espécie animal na rota da extinção. Na verdade, já provocamos hoje a maior extinção global da vida desse planeta dos últimos 65 milhões de anos. Transformar a Terra numa lata de lixo, com a gente dentro, e promover desperdícios incomensuráveis, apenas porque decidimos acreditar que o planeta é inesgotável ou aumenta de tamanho ao longo da sua jornada no universo não tem sido uma decisão muito inteligente. Por quê? Vejamos...

Brasil tem que crescer igual à China...

É muito estranho esse argumento, porque na década de 70, o Brasil em seus estágios iniciais de desenvolvimento, similares aos da China de hoje, apresentou uma taxa de crescimento chinesa acima de 10% por muitos anos (em 1973 crescemos 14%). Agora nosso país está num estágio de desenvolvimento bem acima da China. Ao lado disso, temos a evidência que os países mais maduros possuem crescimento bem menor: EUA, com potencial de 3,0%, Reino Unido 2,5%, Eurolândia 2,0% e Japão 1,5%. Por que só o Brasil deveria crescer a taxas chinesas e os países desenvolvidos não e só eles podem crescer bem menos? Há uma diferença de ritmo de crescimento conforme o estágio de desenvolvimento? As evidências todas elas apontam que sim.

A teoria de crescimento de Robert Solow usa apenas capital produzido pelo homem (fábricas, equipamentos, etc.) e trabalho como fatores explicativos do crescimento. Na verdade Solow descobriu que essa especificação de modelo só explicava 20% do fenômeno de crescimento e o resíduo gerado foi batizado de avanço tecnológico ou resíduo de Solow, algo que fez os matemáticos tremerem, porque o correto seria questionar a especificação do modelo e não batizar tamanho erro com seu próprio nome. Enfim, na China, um desses fatores explicativos do crescimento, o trabalho, deve crescer a uma razão de 30% ao ano, com o estoque de chineses marginalizados sendo absorvido pela migração rural urbana. Já no Brasil e nos países ricos, esse crescimento, ligado a uma dinâmica populacional diferente, é bem menor, nulo ou negativo. Essa é uma boa razão para entender como a transição demográfica e ausência de migrações populacionais explica em grande parte porque a dinâmica do crescimento é menor conforme o país é mais desenvolvido. Conclusão: de acordo com a teoria tradicional de crescimento, só faz sentido falar em crescimento tão elevado quanto o da China se o país estiver em estágios baixos de desenvolvimento.

Crescimento ilimitado e cego como única solução de todos os problemas

Os erros dessa análise não terminam aí, porque Solow e todas as vertentes do pensamento econômico neoclássico ignoram que o crescimento das economias e suas populações ocorre dentro de um sistema não crescente que é o planeta. Não é possível um sistema crescente num sistema não crescente sem atingir um limite (que é imposto pela nossa total dependência em relação à natureza, jamais revogada). O fim do crescimento é inevitável, como revelou já há décadas o grupo Meadows do MIT (financiados pela Fundação Volkswagen, cujos trabalhos jamais foram refutados). Basta lembrar a questão física, como o espaço territorial finito e a questão ecológica, como por exemplo, sem a Amazônia que é continuamente destruída, poucos brasileiros irão sobreviver. E essa não é a nossa única vinculação ecológica com o planeta, por isso somos tão vulneráveis e estamos tão ameaçados nesse século, que pode ser o nosso último.

Adicionamente a isso, por uma sucessão de erros ligados à origem da teoria econômica, os economistas e seus modelos ignoram a importância da natureza e a nossa total dependência material e biológica em relação a ela. Isso é suicida. Em síntese, apesar de tantas evidências, a questão do crescimento é encarada de forma muito simplista, ninguém endereça os descalabros ambientais gerados, nem os excessos, nem os desperdícios e nem a falsa noção de uma eterna escassez, simplesmente porque é assumido na teoria econômica que as necessidades humanas são ilimitadas, embora durante o processo, segundo a FORDHAM University e o New Economics Foundation, quanto mais as economias crescem, piora o atendimento das necessidades humanas e sociais, principalmente nas economias ricas, onde há uma concentração de riqueza crescente e extrema.

O crescimento econômico é a causa do colapso econômico, ambiental, social e planetário que vivemos à nossa volta. É a causa do colapso econômico, porque por ser um fim em sim mesmo e sempre depender de mais crescimento para se justificar, o processo se autoliquida a qualquer momento que as variáveis esquecidas (situação social, situação financeira dos agentes econômicos, perdas não reconhecidas nem fiscalizadas, externalidades ambientais, etc.) se materializam. É a causa do colapso ambiental, porque é fisica, ecologica e biologicamente impossível manter um sistema crescendo – a economia – dentro de um sistema não crescente e finito como o planeta Terra e isso sempre será uma verdade inescapável, não importa que proeza nossas tecnologias serão capazes de realizar. Robert Solow escreveu o capital humano produzido pelo homem é um perfeito substituto da natureza e isso mostra o nível de incompreensão ou talvez cegueira, porque não existe absolutamente nada produzido pelo homem.

É a causa do colapso social porque o sistema econômico atual não tem como objetivo atender as demandas das sociedades e lado a lado com esse crescimento pujante estamos produzindo uma degradação social constrangedora: 4 bilhões de marginalizados, concentração de riqueza recorde principalmente nos países ricos, onde a única renda que teve elevação nos últimos 25 anos foi justamente as do 1% mais ricos, que praticamente dobrou, ao passo que a dos pobres caiu e a da classe média estagnou. A contradição assustadora entre crescimento econômico e resultados sociais, cada vez mais negativos, deveria levar a busca de um novo consenso acerca dessa idéia estranha, ao contrário das palavras de Roubini, onde não sabemos ainda por qual evidência ainda conclui que quanto mais melhor, embora mais esteja virando menos em vários lugares do mundo e principalmente do Brasil, com ecossistemas continentais super ameaçados.

O crescimento econômico é a causa do colapso planetário iminente por conta do comércio global que transfere os exageros ambientais das sociedades mais consumidores (seja por excesso de prosperidade, seja por excesso de populações) para os demais países. Se os países ricos estivessem sozinhos no mundo, sem nenhum território ou país adicional, já teriam entrado em colapso ambiental há muito tempo. A pegada ecológica dos países ricos excede em muitas vezes os seus próprios territórios e não fosse a capacidade de sugar recursos naturais tangíveis (petróleo, metais, etc.) e intangíveis (processos geoquímicos, água, clima, etc.) do resto do mundo, já teriam vivido seu próprio colapso.



Os países que mais cresceram, que foram considerados um sucesso até o dia derradeiro da crise, acabam em falências sistêmicas como as que estamos vendo nas economias maduras. Por tudo isso posto temos motivos de sobra para questionar a enorme convicção sobre essa idéia de acreditar que o crescimento é sempre benigno e sem efeitos colaterais ou externalidades negativas. Em função dos descalabros ambientais em todas as áreas onde a humanidade está presente, seria hora de questionar também a sua possibilidade eterna. Conclusão: é muito complicado defender a idéia de crescimento econômico com base nas teorias econômicas tradicionais e ignorar por completo as evidências contrárias da realidade socioambiental à nossa volta, bem como as críticas já feitas e nunca refutadas pelo grupo Meadows, Manfred Max-Neef, Nicholas Georgescu-Roegen, Herman Daly, David Korten, etc.

Está mais do que na hora de um novo paradigma. Literatura, evidências e idéias sobre isso não faltam. O que falta?

Hugo Penteado

segunda-feira, 25 de maio de 2009

"Desafio do Brasil é crescer como os demais países do Bric"

Por favor se comentar deixe um email para contato.

O artigo do professor Nouriel Roubini abaixo contém dois erros, um mais básico e outro, menos percebido.

Brasil tem que crescer igual à China...

É muito estranho esse argumento, porque na década de 70, o Brasil em seus estágios iniciais de desenvolvimento, similares aos da China de hoje, sua taxa de crescimento ficou acima de 10% por muitos anos (em 1973 crescemos 14%). Agora nosso país está num estágio de desenvolvimento bem acima da China. Ao lado disso, temos a evidência que os países mais maduros possuem crescimento bem menores: EUA, com potencial de 3,0%, Reino Unido com potencial de 2,5%, Eurolândia com potencial de 2,0% e Japão com potencial de 1,5%. Porque só o Brasil deveria crescer a taxas chinesas e os países desenvolvidos podem crescer menos? Há uma diferença de ritmo de crescimento conforme o estágio de desenvolvimento? As evidências todas elas apontam que sim.

A teoria de crescimento de Robert Solow usa apenas capital produzido pelo homem (fábricas, equipamentos, etc.) e trabalho como fatores explicativos do crescimento. Na verdade Solow descobriu que essa especificação de modelo só explicava 20% do fenômeno de crescimento e o resíduo gerado foi batizado de avanço tecnológico ou resíduo de Solow, algo que fez os matemáticos tremerem, porque o correto seria questionar a especificação do modelo e não batizar o erro com seu próprio nome. Enfim, na China, um desses fatores explicativos do crescimento, o trabalho, deve crescer a uma razão de 30% ao ano, com o estoque de chineses marginalizados sendo absorvido pela migração rural urbana. Já no Brasil e nos países ricos, esse crescimento, ligado a uma dinâmica populacional diferente, é bem menor, nulo ou negativo. Essa é uma boa razão para entender como a transição demográfica e ausência de migrações populacionais explica em grande parte porque a dinâmica do crescimento é menor conforme o país é mais desenvolvido.

Crescimento ilimitado e cego como única solução de todos os problemas

Os erros não terminam aí, porque tudo isso é teoria neoclássica, que ignora que tal crescimento ocorre dentro de um sistema não crescente que é o planeta. Não é possível um sistema se manter crescente num sistema não crescente. O fim do crescimento é inevitável, como revelou já há décadas o grupo Meadows do MIT (financiados pela Fundação Volkswagen, cujos trabalhos jamais foram refutados). Basta lembrar a questão física, como o espaço territorial finito e a questão ecológica, como por exemplo, sem a Amazônia que é continuamente destruída, poucos brasileiros irão sobreviver. E essa não é a nossa única vinculação ecológica com o planeta, por isso somos tão vulneráveis e estamos tão ameaçados nesse século, que pode ser o nosso último.

Em síntese, apesar de tantas evidências, a questão do crescimento é encarada de forma muito simplista, ninguém endereça os descalabros ambientais gerados, nem os excessos, nem os desperdícios e nem a falsa noção de uma eterna escassez, simplesmente porque é assumido na teoria econômica que as necessidades humanas são ilimitadas, embora durante o processo, segundo a FORDHAM University e o New Economics Foundation, quanto mais as economias crescem, piora se torna o atendimento das necessidades humanas sociais, principalmente nas economias ricas, onde há uma concentração de riqueza crescente e extrema. A contradição assustadora entre crescimento econômico e resultados sociais, cada vez mais negativos, deveria levar a busca de um novo consenso acerca dessa idéia estranha, ao contrário das palavras de Roubini, onde não sabemos ainda por qual evidência, ele conclui que quanto mais melhor, embora mais esteja virando menos em vários lugares do mundo. Países que mais crescem, que foram considerados um sucesso até o dia derradeiro da crise, acabam em falências sistêmicas como as que estamos vendo nas economias maduras. Por tudo isso posto temos motivos de sobra para questionar a enorme convicção sobre essa idéia de acreditar que o crescimento é sempre benigno e sem efeitos colaterais ou externalidades negativas. Seria hora de questionar também a sua possibilidade eterna...

Hugo Penteado

''Desafio do Brasil é crescer como os demais países do Bric''

Para isso, diz o economista Nouriel Roubini, o País precisa investir mais na infraestrutura e na educação

Ricardo Leopoldo – OESP 22.05.09
O economista Nouriel Roubini, professor da New York University, disse ontem, em São Paulo, que o maior desafio do Brasil é elevar a média de crescimento econômico, que oscilou de 4% a 5% nos últimos dois anos, para uma taxa próxima da russa, chinesa e indiana, que variou de 8% a 10% no mesmo período.

"O Brasil tem grande potencial de expansão, uma quantidade extraordinária de recursos naturais, mas precisa elevar o crescimento para um nível próximo do das outras nações do Bric", comentou, referindo-se ao acrônimo formado pelas iniciais desses quatro países.

Ao discursar no evento "Perspectivas da Economia Mundial - Visão Geral e os Impactos no Brasil", promovido pela Serasa Experian, Roubini relacionou os fatores que vão potencializar o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) do País: ampliação dos investimentos em infraestrutura, melhora da qualidade do ensino e reformas capazes de dar mais eficiência ao setor público e estimular as empresas a ampliar a Formação Bruta de Capital Fixo.

No geral, Roubini fez avaliações positivas do Brasil. Ele destacou a "estabilidade macroeconômica, que perdura por vários anos", promovida de forma significativa pelo Banco Central (BC), "que tem independência" para controlar a inflação. "Isso fez com que o País apresente hoje resiliência, o que não permitirá que ocorra o risco de crise financeira, ao contrário do que aconteceu em 1999 e 2002."

O acadêmico atribuiu o bom desempenho do País, em meio à recessão mundial, a outros elementos, como os resultados das contas externas, que não apresentam déficit de transações correntes elevado, e a solidez dos bancos, o que, para ele, está relacionada com a adequada regulação do sistema financeiro pelo governo. Ele usou o exemplo do País para defender a ação do Estado sobre a atividade das instituições financeiras em todo o planeta.

"Os governos devem agir sobretudo para evitar desequilíbrios macroeconômicos", comentou ele, acrescentando que isso também deveria ocorrer para coibir a expansão de bolhas de ativos financeiros. "A crise nos EUA, por exemplo, não afetou só o mercado de hipotecas subprime, mas todo o sistema de crédito", disse.

"Não foi à toa que surgiu todo um abecedário de ativos financeiros que visavam a lastrear operações com diversos títulos, como os CDOs", disse, referindo-se à sigla em inglês das Obrigações de Dívida Colateralizada, que dão ao portador o direito de ficar com o ativo dado como garantia, caso as obrigações não sejam honradas. "A atual crise mostrou que estão errados os que defendem o laissez-faire, pois o livre mercado, da forma como vimos até recentemente, causou problemas graves à economia mundial."



FRASES

Nouriel Roubini
Economista

"A atual crise mostrou que estão errados os que defendem o laissez-faire, pois o livre mercado, da forma como vimos até recentemente, causou problemas graves à economia mundial."

Colaboradores