segunda-feira, 1 de setembro de 2014
Impossível crescer num planeta finito, mas...
quarta-feira, 7 de maio de 2014
Economia autista
Three Charts on Secular Stagnation
- Apologies for blog silence — stuff happened. Right now I’m in Oxford, preparing for a talk tonight on secular stagnation and all that; and I thought I’d share three charts I find helpful in thinking about where we are.
One answer is simply that this episode has gone on for a long time. Even if the Fed raises rates next year, which is far from certain, at that point we will have spent 7 years — roughly a quarter of the time since we entered a low-inflation era in the 1980s — at the zero lower bound. That’s vastly more than the 5 percent or less probability Fed economists used to consider reasonable for such events.
Beyond that, it does look as if it was getting steadily harder to get monetary traction even before the 2008 crisis. Here’s the Fed funds rate minus core inflation, averaged over business cycles (peak to peak; I treat the double-dip recession of the early 80s as one cycle):
And this was true even though there was clearly unsustainable debt growth, especially during the Bush-era cycle:
The point is that even if deleveraging comes to an end, even stabilizing household debt relative to GDP would involve spending almost 4 percent of GDP less than during the 2001-7 business cycle.
Finally, the growth of potential output is very likely to be much slower in the future than in the past, if only because of demography:
Suppose that potential growth is one percentage point slower, and that the capital-output ratio is 3. In that case, slowing potential growth would, other things being equal, reduce investment demand by 3 percent of GDP.
So if you take the end of the credit boom and the slowing of potential growth together, we have something like a 7 percent of GDP anti-stimulus relative to the 2001-7 business cycle — a business cycle already characterized by low real rates and a close brush with the liquidity trap.
Predictions are hard, especially about the future — but as I see it, these charts offer very good reasons to worry that secular stagnation is indeed quite likely.
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
Not to have doubts about how shale gas was welcomed in America...
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
A estratégia de não crescimento ainda não consegue vencer a ideia de crescimento
A estratégia de não crescimento ventilada por várias teorias, como a de Peter Victor, ainda está incompleta e difícil de vencer a hegemonia da idéia de crescimento
Seus principais articuladores não se dão conta disso...
Comentários sobre o texto do Peter Victor:
1)Defender a extinção do crescimento “apenas” para os países desenvolvidos não vai funcionar se o tal crescimento às custas do meio ambiente continuar nos países em desenvolvimento, onde estão as maiores fileiras populacionais. Risco de colapso civilizatório seguirá inalterado se o modelo de crescimento não for revisto universalmente.
2) A estabilização populacional na Europa é falsa, porque o suprimento está vindo do fluxo migratório da África e do Oriente Médio. Adicionalmente, os governos estão desesperados e introduziram todos os meios possíveis (financeiros inclusive) para fazer os casais europeus terem mais filhos. A estabilização populacional, pelo menos na Europa, é aterradora para esses governos. Na China idem, a política de filho único está para ser abolida.
3) Para entender o dilema populacional e de não crescimento, basta pegar a adoção generalizada do sistema de repartição simples na previdência. Esse sistema foi concebido com a idéia estapafúrdia que as populações (e as economias) iriam crescer para sempre (idéia esta abraçada inclusive por Malthus, prova que o problema é antigo). O sistema correto deveria ser o de capitalização (cada um responsável pelo seu ciclo de vida). No Brasil, há estudos que mostram (André Lara Resente) que a simples transferência do sistema de repartição simples para um de capitalização, levando em conta o ônus do sistema antigo, custaria aos cofres 1 trilhão de reais (ao perder a coleta das contribuições que são distribuídas entre ativos e inativos ao longo das gerações).
4) Zero crescimento populacional ou zero crescimento econômico não é desejável, porque com isso o sistema deixa de ser financeiramente saudável e essa é a razão das políticas estarem totalmente voltadas apenas nessa direção.
5) Não pode haver a menor dúvida que um cenário de não crescimento irá gerar falência do sistema econômico, a dúvida maior é como manter a saúde financeira do sistema sem o crescimento econômico e populacional. A proposta de não crescimento é portanto incompleta, enquanto não fornecer uma saída para abandonar o crescimento sem colocar em falência os sistemas bancário, financeiro, tributário, fiscal, de saúde e de previdência, todos eles com sua vida útil diretamente atrelada enquanto houver crescimento. Essa é uma boa razão para as propostas de abandono do crescimento caírem no vazio, as pessoas não se sensibilizam com o fato do crescimento gerar o fim da vida na Terra nem de gerar infelicidade, mas se sensibilizam muito com o risco de falência sistêmica de todos os sistemas de sustentação da economia na sua ausência.
6) Não são os governos que se sensibilizam com a falta de crescimento, eles não passam de fantoches nas mãos da superclass. Um cenário de não crescimento não só irá gerar falência, mas também menor geração de riqueza nas mãos de poucos. Sem geração de riqueza e crescimento, a pressão em cima dos governos será gigante e exercida pela superclass, 6000 pessoas que comandam o planeta, são completamente insensíveis às questões socioambientais. É a superclass, que virou multibilionária e provavelmente que se tornar trilionária, que impede tal mudança ou redirecionamento.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Não somos únicos
Essa apologia do crescimento precisa ser revogada, pois um dia, falar de crescimento será considerado crime contra a humanidade. Essa idéia aniquilou tanta vida, tanto futuro, tanto bem estar, que seu efeito é pior mil vezes que a soma de todas as guerras cruéis que o nosso egoísmo gerou. O crescimento econômico em primeiro lugar baseia-se em uma teoria econômica falsa, com axiomas e princípios de conservação mecânicos de 200 anos atrás, pelos quais os economistas e sua clientela interesseira acreditam que a natureza não só é inesgotável, como também um subsistema da economia. Na verdade, concluem eles corajosamente que a economia pode ser maior que o planeta. O pior de tudo é que embora seja inegável que o crescimento econômico é impossível de se concretizar num planeta fechado e finito como a Terra, sem causar extinção de todas as formas de vida, ele segue sendo pregado aos quatro ventos, porque muitas pessoas acreditam que essa é a única forma de acabar com a miséria. Isso já foi negado por mais de duas centenas de estudos a respeito dos resultados sociais do crescimento por universidades e instituições de renome, como o NEF e a Fordham University. O crescimento econômico ao invés de resolver problemas sociais, acentua todos eles, não passa de um mecanismo poderoso de concentração de riqueza e poder e de diferenciação social em definitivo e, acima de tudo, onde quer que tenha gerado resultados sociais favoráveis, sempre ocorreram às custas de exploração de meio ambiente e mão de obra barata em lugares estrangeiros. Além disso, de forma universal, todos os benefícios sociais como empregos são apenas temporários e efêmeros, posto que o crescimento só se justifica através de mais crescimento, sendo um fim em si mesmo. O crescimento também é um grande causador da extinção cultural que tantos serviços adaptativos prestou à humanidade. A extinção cultural ocorre ao tentar impor, até agora com sucesso, um modo único de produção e consumo para todos. Ou seja, a idéia de crescimento está associada com a extinção da vida e das culturas, com um futuro sombrio para todos nós, uma vez que dessa vez esse Titanic não terá botes salva-vidas nem para a primeira classe, porque nossa civilização conseguiu a proeza de se transformar numa ilha de Páscoa global, via comércio entre as nações, onde as transferências físico-ambientais são invisíveis e permitiu às nações usurpadoras evitar seu próprio colapso local, exportando-o para o resto do mundo. Não é à toa que vivemos a maior extinção da vida dos últimos 65 milhões de anos, ignorada por todos, porque todos, quase sem exceção, ignoram que do ponto de vista da biologia somos todos um.
Hugo Penteado
Míriam Leitão - Panorama Econômico O GLOBO 14/12/2010
Não somos únicos
O crescimento da América Latina este ano mostra que o bom desempenho do Brasil não é fato isolado: a região deve crescer 6% em 2010, segundo a Cepal, depois de cair 1,8% no ano passado. O crescimento do Brasil será o quinto maior, atrás de Paraguai, Uruguai, Peru e Argentina. Assim como aqui, o desemprego caiu e a inflação subiu. As exportações foram beneficiadas pela alta dos preços das commodities.
Alguns países nem chegaram a terminar o ano de 2009 com PIB negativo, como foi o caso do Uruguai. Cresceu 2,9% em 2009 e este ano terá o segundo melhor resultado da região, com alta de 9%. Em primeiro lugar, aparece o Paraguai, com previsão de crescimento de 9,7%. Mas assim como o Brasil, que terminou o ano passado com recessão de 0,6%, parte do crescimento paraguaio deste ano é recuperação do ano passado, quando o país terminou com queda de 3,8% do PIB. Peru e Argentina são dois outros países que conseguiram terminar 2009 com crescimento, de 0,9% em ambos os casos, e este ano vão crescer mais que o Brasil:8,6%, o Peru, e 8,4%, a Argentina. A previsão da Cepal para o Brasil é de crescimento de 7,7%.
´O crescimento observado em 2010 é a consolidação da recuperação que a maior parte das economias da região experimenta desde a segunda metade de 2009, impulsionadas pelo impacto das medidas anticíclicas que vários países implementaram, complementadas pela recuperação da economia internacional`, disse a Cepal, em relatório.
A Venezuela será o único país da região a ter dois anos seguidos de recessão. Caiu 3,3% em 2009, e cairá 1,6% este ano. E isso mesmo com a valorização de 32% no preço do petróleo. A previsão para o ano que vem também é modesta: alta de 2%. O caso da Venezuela é um mistério que só a péssima administração chavista explica. Na lanterna da região está o Haiti, devastado pelo terremoto do início do ano que deixou mais de 220 mil mortos, com recessão projetada de 7%. A boa notícia é que para o ano que vem espera-se a maior taxa de crescimento da região: 9%. Já o Chile, também atingido por um terremoto,conseguirá manter um crescimento de 5,3%.
Os números mostram tendências muito parecidas entre o Brasil e o resto da América Latina e Caribe: o desemprego cairá este ano - de 8,2% para 7,6%; e a inflação subirá, em grande parte por causa dos preços dos alimentos, cotados internacionalmente, e combustíveis. A previsão da Cepal é de que os preços aos consumidores subam de 4,7% no ano passado para 6,2% este ano. As semelhanças não param por aí. Crédito, renda e mercado de trabalho têm sido o motor do crescimento do consumo interno:
´A evolução dos indicadores de mercado de trabalho, o aumento do crédito e a melhora generalizada das expectativas contribuíram para impulsionar o crescimento do consumo privado que, junto com um significativo aumento dos investimentos em máquinas e equipamentos, constitui um dos principais motores em que se assentou o crescimento da demanda.`
Se por um lado o aumento dos preços dos produtos agrícolas foi ruim para a inflação, por outro, contribuiu para melhorar a balança comercial devários países exportadores. Itens como café, cacau, trigo e soja tiveram valorização principalmente a partir do segundo semestre deste ano. A mesma coisa aconteceu com as commodities metálicas. Entre janeiro a outubro, o cobre teve aumento de 52%, o alumínio, 35%, e o ouro, 27%. Com isso, a Cepal estima um crescimento de 25% das exportações, em valor, depois de uma queda de 22% no ano passado.
Para 2011, a previsão também é de um PIB mais fraco, assim como no Brasil. De 6% para 4,2%. A desaceleração é motivada pela piora no cenário internacional - leia-se Europa -, pelo fim dos estímulos econômicos dos governos e também pelo esgotamento da ocupação da capacidade ociosa.
A região recebe a mesma advertência da Cepal que caberia perfeitamente ao Brasil: o risco de que o crescimento aprofunde muito o déficit em transações correntes. A região já se queimou no passado exatamente por manter por tempo demais o rombo externo.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Prosperity without Growth
Prosperity without Growth
A review of Smart Growth, by Edward D. Hess.
Smart Growth: Building an Enduring Business by Managing the Risks of Growth
By Edward D. Hess
Edward D. Hess, professor of business administration and Batten Executive-in-Residence at the University of Virginia’s Darden School of Business, has aheretical thought: Growth may not be good.
In Smart Growth, he questions the four major assumptions behind the conventional wisdom of corporate success, which he calls the “growth mental model” (GMM):
a) that businesses must grow or die
b) that growth is unequivocally good
c) that growth should be smooth and continuous, and
d) that quarterly earnings are the primary measure of success.
In addition, he supplies a series of trenchant questions for managers to ask themselves about how, why, and even whether their firms should grow.
In nine crisp chapters, Hess demonstrates that the GMM is neither possible in practice nor feasible in theory, and that attempts to meet its demands can create insurmountable obstacles to corporate sustainability.
His arguments are supported by a series of case studies showing that growth is usually uneven and episodic — impossible to sustain for more than relatively short periods of time. Thus, attempts to “implement” the GMM result either in profitless growth, especially through acquisitions, or in ersatz earnings produced via a wide variety of financial manipulations.
To test whether the concept of the GMM is supported by theoretical perspectives on growth, Hess turns to economics, organizational strategy and design, and biology.
He finds that neoclassical economics is the framework that is most sympathetic to the GMM, but its assumptions do not hold up in the real world; that the strategic and design perspective offers little support for the GMM; and that biological theories are notable for the stress they put on the limits to growth. Sothere is little support for the conventional wisdom in theory.
Hess’s conclusion is that corporations should aim for sustainable or “smart” growth by asking some key questions, especially regarding the resources most needed to support such growth.
Following economist Edith Penrose’s resource-based theory of the firm, he contends that the true limit to growth is usually defined by the capabilities of the firm’s managers — supporting this argument with the well-documented case of Starbucks’s overreach, in which the rapid expansion in the number of stores caused liabilities to rise precipitously and diluted the value of the brand.
All this makes good sense. The only shortcoming may be the author’s failure to examine why the GMM is so robust in the face of all the evidence against it. Is it because there are large constituencies in the economy that generate revenue by pushing the GMM and thriving on the turmoil it creates? If so, is there a need for public policy addressing it? And what risks do firms run if they eschew the flawed GMM in favor of smart growth?
AUTHOR PROFILE:
David K. Hurst is a contributing editor of strategy+business. His writing has also appeared in the Harvard Business Review, the Financial Times, and other leading business publications. Hurst is the author of Crisis & Renewal: Meeting the Challenge of Organizational Change (Harvard Business School Press, 2002).
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Isso não é normal
terça-feira, 22 de junho de 2010
Mais crescimento
quarta-feira, 19 de maio de 2010
LIMITES AO CRESCIMENTO ECONÔMICO
segunda-feira, 22 de março de 2010
A falsa riqueza e a falsa intenção daqueles que menosprezam o meio ambiente e a sociedade
A transformação do Brasil em celeiro do mundo, para abastecer povos que transbordaram suas necessidades ambienteis e entraram em colapso está longe de ser algo benigno ou benfazejo para o país. As atividades agropecuárias de larga escala no nosso país estão diretamente associadas com resultados sociais e ambientais incrivelmente ruins. Adicionalmente a isso, a monocultura reduziu 95% da oferta de alimentos a 21 espécies, 14 vegetais e 7 animais, todas monogênicas. Nunca, segundo a FAO, estivemos tão precários em segurança alimentar, esses espécies são muito vulneráveis e quase perdemos o trigo recentemente, não fosse uma nova espécie encontrada num altiplano asiático. O modelo defendido pela Kátia Abreu (ver artigo abaixo) e com respaldo “científico” e seu menosprezo pelas preocupações ambientais de pessoas que também são dotadas de conhecimento científico e não fundamentalismo, é um grande erro.
Vamos voltar somente ao primeiro ponto: a pressão por alimentos e carnes do resto do mundo, que não pode ser abastecida localmente, nada mais significa que a exportação do colapso ambiental para países como o Brasil, que alegremente abraçam a causa de se tornarem celeiros do mundo, sem cobrar nada pela transformação inevitável dos seus ecossistemas. Vamos voltar a outros pontos mais importantes:
1) O produtor sabe que sem solo e água não irá produzir, mas isso não impediu localmente perdas de produção e fugas ambientais em massa diversas vezes na nossa história; agora o risco é global.
2) Não é o produtor que produz, mas a natureza, não é o produtor que dá as regras, mas a natureza, a falsa noção de normalidade e controle será o fim da nossa espécie animal.
3) Porque produzir mais alimentos se jogamos no lixo 25% deles?
4) A intenção de transformar o resto dos ecossistemas em celeiros do mundo impede mudanças necessárias nos hábitos alimentares, como comer menos leites e carnes e mais vegetais (pressão sobre os ecossistemas despenca); cortar excesso de alimentação que colocou 1/3 da população dos países ricos em enorme obesidade; difundir produção de alimentos em áreas urbanas, como aconteceu durante a Grande Depressão com o exemplo da Leonor Roosevelt; aumentar eficiência produtiva onde puder; cortar o desperdício que responde por 25% da produção mundial.
5) A falsa noção que teremos alimentos abundantes com tecnologia e segurança alimentar impede enxergar o limite da Terra.
6) O modelo de crescimento eterno, com base científica, pode mesmo transformar Brasil em celeiros, mas como nós somos a última fronteira agropecuária planetária, é bastante óbvio que essas pessoas tem em mente que os próximos celeiros serão interplanetários ou intergalácticos.
Acho que esses são os primeiros pontos que me ocorrem. Os sofismas, pelo qual as pessoas acreditam estar revelando uma baita verdade, mas estão apenas alimentando sua enorme ignorância com seu interesse mesquinho próprio.
Hugo Penteado
O Estado de S. Paulo
Verdade ambientalista versus fundamentalismo
Kátia Abreu*
O que parecia impossível, acontece: estamos às vésperas de começar a conhecer, com precisão científica, o que o Brasil pode e não pode fazer com suas terras, seus rios, lagos, montanhas e florestas
O que parecia impossível, acontece: estamos às vésperas de começar a conhecer, com precisão científica, o que o Brasil pode e não pode fazer com suas terras, seus rios, lagos, montanhas e florestas. E mantendo o equilíbrio da natureza, preservando as manifestações de vida, animal e vegetal, e, a um só tempo, liderando a produção mundial de alimentos. Todo esse conhecimento será alcançado por cientistas e pesquisadores brasileiros da Empresa Brasileira de Pesquisa agropecuária (Embrapa) e das instituições parceiras, que começaram o trabalho e têm desde já os recursos necessários assegurados.
Ufa! Finalmente, a questão ambiental neste país se desloca da defesa fanática de dogmas para o conhecimento científico sistemático.
Quem está em campo sabe (e como sabemos e sofremos!) que o jogo do ambientalismo e da ecologia no Brasil é um vale-tudo. Não tem regras. Uns poucos se autodenominam defensores da natureza, conseguem franquias de ONGs internacionais ou criam as suas próprias, arrecadam muito dinheiro para definir o bem e o mal e lançar suas sentenças arbitrárias. Isso pode, isso não pode, decidem. Espalham avaliações, frequentemente difamatórias, contra quem escolhem para bode expiatório. O que decidem passa em julgado, sem apelação.
Já a sociedade, perplexa e generosa, preocupada com a qualidade de vida, as mudanças climáticas e a própria sobrevivência do planeta, submete-se a toda sorte de exageros, superstições e invencionices, até mesmo porque as opiniões arbitrárias vêm sempre mescladas com as melhores e mais comoventes prescrições. As próprias leis ambientais brasileiras, mesmo as consensuais, revelam generosidade e ignorância, pois, em sua maioria, não têm nenhuma base científica e experimental.
Por outro lado, ONGs exploram a insegurança, a debilidade institucional e a antropofagia política de uma nação que tardiamente, mas efetivamente, está driblando as suas contradições e avançando no bom caminho da ordem democrática. Os paradigmas que nos querem impor refletem o remorso, a hipocrisia e, principalmente, o poder econômico dos povos até agora ditos desenvolvidos e que através de milênios de História desconstruíram suas paisagens e não têm mais condições de recompô-las. Desta vez, porém, sofrerão um contra-ataque que não esperavam, num país tropical e exótico, como nos olham.
Estou escrevendo sobre o Projeto Biomas, a ser conduzido pela Embrapa, envolvendo 240 pesquisadores de várias instituições e uma história de sucessos - descobertas, invenções, experimentações - que tornaram o Brasil o terceiro maior exportador mundial de alimentos (na verdade, o segundo, pois a União Europeia, hoje em segundo lugar, não é um país, mas a soma de 27 países). O Projeto Biomas é a oportunidade de ouro para a agropecuária brasileira, escorada no conhecimento científico, mostrar seus compromissos éticos e produzir sem medo.
Escolhidos por algumas ONGs, na impostura ecologista que encenam impunemente, para o papel de Judas em Sábado de Aleluia, os produtores rurais apostam na verdade. Por intermédio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), estão contribuindo com R$ 20 milhões para que a Embrapa, com independência e autoridade acadêmica, desenvolva o Projeto Biomas.
Fui tão longe e esqueci o que devia ter sido o começo da conversa: biomas. O que são biomas? Uma palavra nova, criada há pouco mais de 50 anos - formada por bio, vida, e oma, conjunto -, designa áreas que apresentam uniformidade de paisagens, clima, solo, subsolo e predomínio de espécies vegetais e animais. No Brasil temos seis biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. O Projeto Biomas pretende reunir, em seis vitrines tecnológicas de 5 milhões de metros quadrados cada (uma em cada bioma), conhecimentos e experiências para consolidar uma espécie de bula, apresentação minuciosa das paisagens e dos solos de cada bioma nos 851 milhões de hectares do Brasil, acompanhada de indicações e modo de usar, apresentando a forma de uso da terra compatível com o potencial ambiental.
O Projeto Biomas tornará disponíveis informações tecnológicas para todos, democrática e gratuitamente, em especial para os pequenos e médios agricultores, que não podem pagar por elas. E contarão, também, com 350 instrutores treinados pelo sistema CNA/Senar (o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) para orientá-los - são os transferidores de tecnologia. Será a primeira iniciativa que inclui os agropecuaristas como protagonistas de uma importante ação ambiental.
O Projeto Biomas agrega, não alimenta conflito. Vai substituir as opiniões, intuições e a absurda orientação ideológica que transforma dogmas em legislação sobre quantos metros a mais ou a menos de margens de rios e topos de morros devem ser preservados. Agora, prevalecerá a orientação científica, pesquisada e experimentada. É a nossa opção pela ciência e uma declaração da nossa confiança na Embrapa e nos pesquisadores do Brasil.
Os produtores sabem que não há produção sem água ou em solos degradados. Sabem que nada cresce sem o equilíbrio da biodiversidade, tão importante para o controle de pragas e doenças.
Ou, como ouvi outro dia de um velho pesquisador, adaptando inconscientemente um jargão do seu passado socialista à regra de ouro que resultará do Projeto Biomas: A cada bioma, segundo as exigências de preservação da sua natureza; a cada agropecuarista, nos limites estabelecidos para uso econômico das suas propriedades. A utopia fundamentalista não se cumpriu, mas a verdade ambientalista no Brasil será realidade.
*SENADORA (DEM-TO), É PRESIDENTE DA CNA
sexta-feira, 19 de março de 2010
A lenga-lenga da economia do baixo carbono: Alice no país das maravilhas?
O comentário abaixo está relacionado aos 2 textos que podem ser baixados nos links a seguir:
A lenga-lenga da economia do baixo carbono: Alice no país das maravilhas?
O seminário de "O caminho do baixo carbono", comentado pelas jornalistas Amelia Gonzalez e Martha Nelva Moreira (ver anexo), merece comentários adicionais. Em prmieiro lugar, já assisti palestras do Eduardo Gianetti da Fonseca para o mercado financeiro nas quais a litania é sempre a mesma: "CRESCER, CRESCER, porque não crescemos como a China", diz ele de alto brado... E propunha reformas para isso, uma bobagem de dar dó, segundo Andy Xie, um economista inteligente independente que criticou essa lenga-lenga toda no seu último artigo (ver anexo). O surreal é que tudo indica que a idéia de crescimento econômico foi campanha da guerra fria, que alguns desavisados, como Robert Solow, tomaram como séria.
É apavorante ver o "framework" dos economistas tradicionais que só contempla produção por valores monetários e ignora os avanços das ciências mais puras, crítica ignorada e totalmente aplicável feita pelo Nicholas Georgescu-Roegen há mais de 40 anos atrás. Pena ele não ter sido ouvido.
O que mais apavora nessa questão toda enquanto afundamos na lama é a forma como os iluminados de plantão não entendem que o problema crucial não é o de energia, mas de matéria.
Vamos brincar de planeta-sala, onde fazemos nossas palestras. Fora das salas temos o cândido universo. O planeta-sala possui falta de energia o que deixa seus presentes e o palestrante-vaidoso-sofista muito preocupado. No final, por meio de um passe de mágica, atingimos a economia do baixo carbono e temos milagrosamente algo que a humanidade nunca terá: uma fonte segura, facilmente distribuída, barata e inesgotável de energia. Todos do planeta sala já esfregam as mãos: vamos aumentar o número de cadeiras de 300 para 600, mas de repente se dão conta que só será possível fazer isso se empilharmos cadeiras e pessoas, dado que o espaço disponível é obviamente finito...
Poderíamos adicionar o problema no planeta-sala da necessidade para os presentes de comida e água, destino do lixo, manutenção do ar puro, biodiversidade, etc., mas por hipótese ad hoc os seres do planeta-sala são intangíveis e imateriais, como se estivessem no Jardim do Éden, basta pensar e estão saciados. Mesmo assim, o problema das cadeiras segue sem solução...
É tão óbvio quanto isso. A expansão quantitativa que atingimos só será viável quando retroceder ao ponto necessário de restabelecer o equilíbrio planetário e isso ocorrerá com ou sem a humanidade, posto que não somos nós que ditamos as regras e sim o planeta. Essa falsa idéia de comando e controle também faz parte dos erros coletivos atuais que nos fazem correr o risco pela primeira vez de total desaparecimento da nossa espécie.
Hugo Penteado
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Brasil precisa crescer igual à China ou mais...
O professor Nouriel Roubini disse ao Jornal O Estado de São Paulo no dia 21/05/2009 que o maior desafio do Brasil é elevar a média de crescimento econômico, que oscilou de 4% a 5% nos últimos dois anos, para uma taxa próxima da russa, chinesa e indiana, que variou de 8% a 10% no mesmo período. Essa colocação contém dois erros, um mais trivial e outro, menos.
O mais trivial é algo que os economistas não conseguem responder: como poderemos aumentar infinitamente a produção de carros, casas, cacarecos, todas as construções, armas bélicas, produtos das mais variadas espécies num espaço finito como a Terra? Por acaso não estamos sendo soterrados por essa contínua e exponencial produção e construção de coisas com uma total perda de foco? Uma perda de foco, por exemplo, é o enorme desperdício no consumo de materiais, bens finais e de geração de lixo, que se eliminados de imediato iriam mitigar violentamente o dano que impingimos ao planeta e que colocou nossa espécie animal na rota da extinção. Na verdade, já provocamos hoje a maior extinção global da vida desse planeta dos últimos 65 milhões de anos. Transformar a Terra numa lata de lixo, com a gente dentro, e promover desperdícios incomensuráveis, apenas porque decidimos acreditar que o planeta é inesgotável ou aumenta de tamanho ao longo da sua jornada no universo não tem sido uma decisão muito inteligente. Por quê? Vejamos...
Brasil tem que crescer igual à China...
É muito estranho esse argumento, porque na década de 70, o Brasil em seus estágios iniciais de desenvolvimento, similares aos da China de hoje, apresentou uma taxa de crescimento chinesa acima de 10% por muitos anos (em 1973 crescemos 14%). Agora nosso país está num estágio de desenvolvimento bem acima da China. Ao lado disso, temos a evidência que os países mais maduros possuem crescimento bem menor: EUA, com potencial de 3,0%, Reino Unido 2,5%, Eurolândia 2,0% e Japão 1,5%. Por que só o Brasil deveria crescer a taxas chinesas e os países desenvolvidos não e só eles podem crescer bem menos? Há uma diferença de ritmo de crescimento conforme o estágio de desenvolvimento? As evidências todas elas apontam que sim.
A teoria de crescimento de Robert Solow usa apenas capital produzido pelo homem (fábricas, equipamentos, etc.) e trabalho como fatores explicativos do crescimento. Na verdade Solow descobriu que essa especificação de modelo só explicava 20% do fenômeno de crescimento e o resíduo gerado foi batizado de avanço tecnológico ou resíduo de Solow, algo que fez os matemáticos tremerem, porque o correto seria questionar a especificação do modelo e não batizar tamanho erro com seu próprio nome. Enfim, na China, um desses fatores explicativos do crescimento, o trabalho, deve crescer a uma razão de 30% ao ano, com o estoque de chineses marginalizados sendo absorvido pela migração rural urbana. Já no Brasil e nos países ricos, esse crescimento, ligado a uma dinâmica populacional diferente, é bem menor, nulo ou negativo. Essa é uma boa razão para entender como a transição demográfica e ausência de migrações populacionais explica em grande parte porque a dinâmica do crescimento é menor conforme o país é mais desenvolvido. Conclusão: de acordo com a teoria tradicional de crescimento, só faz sentido falar em crescimento tão elevado quanto o da China se o país estiver em estágios baixos de desenvolvimento.
Crescimento ilimitado e cego como única solução de todos os problemas
Os erros dessa análise não terminam aí, porque Solow e todas as vertentes do pensamento econômico neoclássico ignoram que o crescimento das economias e suas populações ocorre dentro de um sistema não crescente que é o planeta. Não é possível um sistema crescente num sistema não crescente sem atingir um limite (que é imposto pela nossa total dependência em relação à natureza, jamais revogada). O fim do crescimento é inevitável, como revelou já há décadas o grupo Meadows do MIT (financiados pela Fundação Volkswagen, cujos trabalhos jamais foram refutados). Basta lembrar a questão física, como o espaço territorial finito e a questão ecológica, como por exemplo, sem a Amazônia que é continuamente destruída, poucos brasileiros irão sobreviver. E essa não é a nossa única vinculação ecológica com o planeta, por isso somos tão vulneráveis e estamos tão ameaçados nesse século, que pode ser o nosso último.
Adicionamente a isso, por uma sucessão de erros ligados à origem da teoria econômica, os economistas e seus modelos ignoram a importância da natureza e a nossa total dependência material e biológica em relação a ela. Isso é suicida. Em síntese, apesar de tantas evidências, a questão do crescimento é encarada de forma muito simplista, ninguém endereça os descalabros ambientais gerados, nem os excessos, nem os desperdícios e nem a falsa noção de uma eterna escassez, simplesmente porque é assumido na teoria econômica que as necessidades humanas são ilimitadas, embora durante o processo, segundo a FORDHAM University e o New Economics Foundation, quanto mais as economias crescem, piora o atendimento das necessidades humanas e sociais, principalmente nas economias ricas, onde há uma concentração de riqueza crescente e extrema.
O crescimento econômico é a causa do colapso econômico, ambiental, social e planetário que vivemos à nossa volta. É a causa do colapso econômico, porque por ser um fim em sim mesmo e sempre depender de mais crescimento para se justificar, o processo se autoliquida a qualquer momento que as variáveis esquecidas (situação social, situação financeira dos agentes econômicos, perdas não reconhecidas nem fiscalizadas, externalidades ambientais, etc.) se materializam. É a causa do colapso ambiental, porque é fisica, ecologica e biologicamente impossível manter um sistema crescendo – a economia – dentro de um sistema não crescente e finito como o planeta Terra e isso sempre será uma verdade inescapável, não importa que proeza nossas tecnologias serão capazes de realizar. Robert Solow escreveu o capital humano produzido pelo homem é um perfeito substituto da natureza e isso mostra o nível de incompreensão ou talvez cegueira, porque não existe absolutamente nada produzido pelo homem.
É a causa do colapso social porque o sistema econômico atual não tem como objetivo atender as demandas das sociedades e lado a lado com esse crescimento pujante estamos produzindo uma degradação social constrangedora: 4 bilhões de marginalizados, concentração de riqueza recorde principalmente nos países ricos, onde a única renda que teve elevação nos últimos 25 anos foi justamente as do 1% mais ricos, que praticamente dobrou, ao passo que a dos pobres caiu e a da classe média estagnou. A contradição assustadora entre crescimento econômico e resultados sociais, cada vez mais negativos, deveria levar a busca de um novo consenso acerca dessa idéia estranha, ao contrário das palavras de Roubini, onde não sabemos ainda por qual evidência ainda conclui que quanto mais melhor, embora mais esteja virando menos em vários lugares do mundo e principalmente do Brasil, com ecossistemas continentais super ameaçados.
O crescimento econômico é a causa do colapso planetário iminente por conta do comércio global que transfere os exageros ambientais das sociedades mais consumidores (seja por excesso de prosperidade, seja por excesso de populações) para os demais países. Se os países ricos estivessem sozinhos no mundo, sem nenhum território ou país adicional, já teriam entrado em colapso ambiental há muito tempo. A pegada ecológica dos países ricos excede em muitas vezes os seus próprios territórios e não fosse a capacidade de sugar recursos naturais tangíveis (petróleo, metais, etc.) e intangíveis (processos geoquímicos, água, clima, etc.) do resto do mundo, já teriam vivido seu próprio colapso.
Os países que mais cresceram, que foram considerados um sucesso até o dia derradeiro da crise, acabam em falências sistêmicas como as que estamos vendo nas economias maduras. Por tudo isso posto temos motivos de sobra para questionar a enorme convicção sobre essa idéia de acreditar que o crescimento é sempre benigno e sem efeitos colaterais ou externalidades negativas. Em função dos descalabros ambientais em todas as áreas onde a humanidade está presente, seria hora de questionar também a sua possibilidade eterna. Conclusão: é muito complicado defender a idéia de crescimento econômico com base nas teorias econômicas tradicionais e ignorar por completo as evidências contrárias da realidade socioambiental à nossa volta, bem como as críticas já feitas e nunca refutadas pelo grupo Meadows, Manfred Max-Neef, Nicholas Georgescu-Roegen, Herman Daly, David Korten, etc.
Está mais do que na hora de um novo paradigma. Literatura, evidências e idéias sobre isso não faltam. O que falta?
Hugo Penteado
segunda-feira, 25 de maio de 2009
"Desafio do Brasil é crescer como os demais países do Bric"
Brasil tem que crescer igual à China...
É muito estranho esse argumento, porque na década de 70, o Brasil em seus estágios iniciais de desenvolvimento, similares aos da China de hoje, sua taxa de crescimento ficou acima de 10% por muitos anos (em 1973 crescemos 14%). Agora nosso país está num estágio de desenvolvimento bem acima da China. Ao lado disso, temos a evidência que os países mais maduros possuem crescimento bem menores: EUA, com potencial de 3,0%, Reino Unido com potencial de 2,5%, Eurolândia com potencial de 2,0% e Japão com potencial de 1,5%. Porque só o Brasil deveria crescer a taxas chinesas e os países desenvolvidos podem crescer menos? Há uma diferença de ritmo de crescimento conforme o estágio de desenvolvimento? As evidências todas elas apontam que sim.
A teoria de crescimento de Robert Solow usa apenas capital produzido pelo homem (fábricas, equipamentos, etc.) e trabalho como fatores explicativos do crescimento. Na verdade Solow descobriu que essa especificação de modelo só explicava 20% do fenômeno de crescimento e o resíduo gerado foi batizado de avanço tecnológico ou resíduo de Solow, algo que fez os matemáticos tremerem, porque o correto seria questionar a especificação do modelo e não batizar o erro com seu próprio nome. Enfim, na China, um desses fatores explicativos do crescimento, o trabalho, deve crescer a uma razão de 30% ao ano, com o estoque de chineses marginalizados sendo absorvido pela migração rural urbana. Já no Brasil e nos países ricos, esse crescimento, ligado a uma dinâmica populacional diferente, é bem menor, nulo ou negativo. Essa é uma boa razão para entender como a transição demográfica e ausência de migrações populacionais explica em grande parte porque a dinâmica do crescimento é menor conforme o país é mais desenvolvido.
Crescimento ilimitado e cego como única solução de todos os problemas
Os erros não terminam aí, porque tudo isso é teoria neoclássica, que ignora que tal crescimento ocorre dentro de um sistema não crescente que é o planeta. Não é possível um sistema se manter crescente num sistema não crescente. O fim do crescimento é inevitável, como revelou já há décadas o grupo Meadows do MIT (financiados pela Fundação Volkswagen, cujos trabalhos jamais foram refutados). Basta lembrar a questão física, como o espaço territorial finito e a questão ecológica, como por exemplo, sem a Amazônia que é continuamente destruída, poucos brasileiros irão sobreviver. E essa não é a nossa única vinculação ecológica com o planeta, por isso somos tão vulneráveis e estamos tão ameaçados nesse século, que pode ser o nosso último.
Em síntese, apesar de tantas evidências, a questão do crescimento é encarada de forma muito simplista, ninguém endereça os descalabros ambientais gerados, nem os excessos, nem os desperdícios e nem a falsa noção de uma eterna escassez, simplesmente porque é assumido na teoria econômica que as necessidades humanas são ilimitadas, embora durante o processo, segundo a FORDHAM University e o New Economics Foundation, quanto mais as economias crescem, piora se torna o atendimento das necessidades humanas sociais, principalmente nas economias ricas, onde há uma concentração de riqueza crescente e extrema. A contradição assustadora entre crescimento econômico e resultados sociais, cada vez mais negativos, deveria levar a busca de um novo consenso acerca dessa idéia estranha, ao contrário das palavras de Roubini, onde não sabemos ainda por qual evidência, ele conclui que quanto mais melhor, embora mais esteja virando menos em vários lugares do mundo. Países que mais crescem, que foram considerados um sucesso até o dia derradeiro da crise, acabam em falências sistêmicas como as que estamos vendo nas economias maduras. Por tudo isso posto temos motivos de sobra para questionar a enorme convicção sobre essa idéia de acreditar que o crescimento é sempre benigno e sem efeitos colaterais ou externalidades negativas. Seria hora de questionar também a sua possibilidade eterna...
Hugo Penteado
''Desafio do Brasil é crescer como os demais países do Bric''
Para isso, diz o economista Nouriel Roubini, o País precisa investir mais na infraestrutura e na educação
Ricardo Leopoldo – OESP 22.05.09
O economista Nouriel Roubini, professor da New York University, disse ontem, em São Paulo, que o maior desafio do Brasil é elevar a média de crescimento econômico, que oscilou de 4% a 5% nos últimos dois anos, para uma taxa próxima da russa, chinesa e indiana, que variou de 8% a 10% no mesmo período.
"O Brasil tem grande potencial de expansão, uma quantidade extraordinária de recursos naturais, mas precisa elevar o crescimento para um nível próximo do das outras nações do Bric", comentou, referindo-se ao acrônimo formado pelas iniciais desses quatro países.
Ao discursar no evento "Perspectivas da Economia Mundial - Visão Geral e os Impactos no Brasil", promovido pela Serasa Experian, Roubini relacionou os fatores que vão potencializar o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) do País: ampliação dos investimentos em infraestrutura, melhora da qualidade do ensino e reformas capazes de dar mais eficiência ao setor público e estimular as empresas a ampliar a Formação Bruta de Capital Fixo.
No geral, Roubini fez avaliações positivas do Brasil. Ele destacou a "estabilidade macroeconômica, que perdura por vários anos", promovida de forma significativa pelo Banco Central (BC), "que tem independência" para controlar a inflação. "Isso fez com que o País apresente hoje resiliência, o que não permitirá que ocorra o risco de crise financeira, ao contrário do que aconteceu em 1999 e 2002."
O acadêmico atribuiu o bom desempenho do País, em meio à recessão mundial, a outros elementos, como os resultados das contas externas, que não apresentam déficit de transações correntes elevado, e a solidez dos bancos, o que, para ele, está relacionada com a adequada regulação do sistema financeiro pelo governo. Ele usou o exemplo do País para defender a ação do Estado sobre a atividade das instituições financeiras em todo o planeta.
"Os governos devem agir sobretudo para evitar desequilíbrios macroeconômicos", comentou ele, acrescentando que isso também deveria ocorrer para coibir a expansão de bolhas de ativos financeiros. "A crise nos EUA, por exemplo, não afetou só o mercado de hipotecas subprime, mas todo o sistema de crédito", disse.
"Não foi à toa que surgiu todo um abecedário de ativos financeiros que visavam a lastrear operações com diversos títulos, como os CDOs", disse, referindo-se à sigla em inglês das Obrigações de Dívida Colateralizada, que dão ao portador o direito de ficar com o ativo dado como garantia, caso as obrigações não sejam honradas. "A atual crise mostrou que estão errados os que defendem o laissez-faire, pois o livre mercado, da forma como vimos até recentemente, causou problemas graves à economia mundial."
FRASES
Nouriel Roubini
Economista
"A atual crise mostrou que estão errados os que defendem o laissez-faire, pois o livre mercado, da forma como vimos até recentemente, causou problemas graves à economia mundial."