terça-feira, 30 de junho de 2009

O princípio da frugalidade

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Maurício Andrés Ribeiro (*)

A segunda metade do século XX iniciou-se nos anos 50 com os valores da frugalidade, pois a reconstrução depois da segunda guerra mundial impunha limites e prioridades claros. Éramos três bilhões de habitantes.
No Brasil, a educação para a economia doméstica postulava valores frugais. Não devíamos deixar alimentos no prato, porque havia gente passando fome; não devíamos sair de um quarto sem antes apagar a luz; a torneira devia ficar aberta somente o suficiente, para não desperdiçar água. As roupas dos irmãos mais velhos eram aproveitadas pelos mais novos, assim como os livros escolares, que eram usados em anos sucessivos. Hortas, galinheiros e quintais complementavam o abastecimento alimentar.
O consumismo se impôs a partir dos anos 60, mas, já em 1968, movimentos alternativos questionavam a sociedade consumista. Em 1972, na Conferência de Estocolmo sobre o Ambiente Humano, o tema ambiental foi colocado na pauta. O início da década de 90 foi um período efervescente devido à Eco-92, aos avanços legais e institucionais, à mobilização da sociedade. No final dos anos 90 empresários começaram a buscar sustentabilidade e ecoeficiência, racionalizando processos de produção, ao mesmo tempo em que externalizavam para a sociedade seus custos ambientais e sociais.
Nos primeiros anos do século XXI, ocorreu a Rio+10, Conferência da ONU em Johanesburgo. Ultrapassamos os seis bilhões de habitantes. Foram definidas as metas do milênio; a Carta da Terra foi aprovada pela UNESCO; desenvolveram-se indicadores de sustentabilidade, tais como o da pegada ecológica; a Avaliação ecossistêmica do milênio indicou o colapso de sistemas de suporte da Terra; aprovou-se a implementação do Protocolo de Kyoto sobre mudanças climáticas. Forte onda de informações sobre as mudanças climáticas influenciou a percepção e a consciência de indivíduos, setores de atividades, nações. Produziram-se evidências de que são causadas pela atividade humana. Seus autores foram reconhecidos com o Prêmio Nobel da Paz.
O ano de 2007 foi especialmente intenso na divulgação de novos conhecimentos e na introdução da consciência ecológica em amplos públicos e segmentos sociais. Bilhões de pessoas perceberam que pertencem a uma espécie que provoca alterações no clima e no ambiente.
Gradualmente a economia abre-se à articulação com a ecologia. Gestores públicos aos poucos modificam sua cultura e internalizam valores e comportamentos ecologizados. Mas em 2008, contraditoriamente, há movimentos na contramão da economia ecológica e da prudência em relação ao clima: uma das respostas à crise financeira e econômica tem sido salvar empresas ineficientes e reduzir impostos para impulsionar o consumo.
O economista Herman Daly, voz respeitada pela sua sensibilidade ecológica, pergunta e responde: “O que está nos provocando a sistematicamente emitir mais CO2 na atmosfera? É a mesma coisa que nos leva a emitir mais e mais de todos os tipos de resíduos na biosfera, ou seja, nosso apego irracional ao crescimento exponencial contínuo num planeta finito sujeito às leis da termodinâmica. Se superarmos a idolatria do crescimento poderíamos avançar e perguntar questões inteligentes: “Como podemos desenhar e gerir uma economia estável, que respeite os limites da biosfera?”
Ele propõe, antes da busca pela ecoeficiência, valorizar a frugalidade em primeiro lugar, por meio de reforma tributária ecológica que onere o uso de recursos naturais. Assim, por exemplo, um imposto sobre o carbono provocaria, como resposta adaptativa a combustíveis mais caros, a eficiência e a redução de desperdícios. Onerar o uso de recursos naturais estimularia a frugalidade, refreando a demanda. Ele defende que primeiro se adote a frugalidade para então, como conseqüência, ter a eficiência. Pois na política energética e climática “quanto mais se aumenta a eficiência das máquinas, maior o incentivo para que sejam mais usadas, maiores mercados terão e o resultado é que o efeito e impacto agregados, ao invés de diminuir, aumentarão.”
Na contramão do consumismo, é necessário o resgate de propostas de simplicidade voluntária, dos valores do conforto essencial, da sobriedade, modéstia, simplicidade, da austeridade feliz proposta por Pierre Dansereau.
Frugalidade é sobriedade, temperança, parcimônia, simplicidade de costumes, de vida. Na sociedade ecologizada, a frugalidade significa uma mudança de consciência e de ação prática, abraçando valores por muito tempo esquecidos.

(*) Autor de Ecologizar, de Tesouros da Índia e de Ecologizando a cidade e o planeta. WWW.ecologizar.com.br mandrib@uol.com.br

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Energia (mais) limpa nos EUA: aprovação histórica na Câmara. Motivo de comemoração?

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O modelo continua sendo da seguinte forma: não abro mão do lucro, mas abro mão do planeta. Surrealista, para variar, coletivamente continuamos irracionais e suicidas. Acreditar que a economia pode ser maior que o planeta, que o planeta é um subsistema da economia e que poderemos produzir coisas sem recursos naturais , água incluso, não só deu vários prêmios Nobel a vários economistas brilhantes, como é a crença dominante e a única possibilidade percebida de desenvolvimento disponível para nossa espécie animal.

Queremos resolver o único problema que acreditamos existir, o de energia, ignorando por completo uma visão sistêmica que elimine as contradições do nosso sistema e da nossa sociedade. E o problema de matéria? Ao manter tudo inalterado, essas intenções não só são contraditórias com a insistência no modelo do crescimento eterno, como não resolvem o maior dos nossos problemas que é a contínua e crescente pressão antrópica sobre os ecossistemas todos que sustentam todas as formas de vida na Terra, inclusive a nossa, pois não passamos de mais um bicho na Terra, fortemente vulnerável e interdependente, onde o individualismo só serviu para cegar e ceifar nossas almas.

É muito pouco provável que tamanha meta de reduções de emissões sejam atingidas, se ao mesmo tempo mantiverem métricas falsas, modelos unidisciplinares com metas de expansão econômica e de lucros. Continuamos na direção do precipício, com uma única diferença: agora acreditamos que a energia limpa irá eliminar todos os problemas e poderemos manter nossos estilos de vida e o atual status quo sem alteração alguma. Substituímos um mito por outro com uma voracidade incrível. Infelizmente.



Obama pede que Senado também aprove lei ambiental
Queria pedir para cada senador que não tenha medo do futuro, diz o presidente após vitória na Câmara
Luiz Raatz, do estadao.com.br
SÃO PAULO - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse neste sábado, 27, em seu programa semanal de rádio que o Senado aprove a lei que limita a emissão de gás carbônico, um dos gases apontados por cientistas como causador do aquecimento global. Foi a primeira vez que o Legislativo dos EUA aprova uma lei para reduzir a emissão de poluentes.

"Queria pedir para cada senador e para cada americano que não tenha medo do futuro. Não acreditem na desinformação. Não há contradição entre investir em energia limpa e crescimento econômico. Não é verdade", disse o presidente no áudio disponibilizado no site da Casa Branca (em inglês).

A Câmara dos EUA aprovou a lei na sexta-feira à noite por 219 votos contra 212. O texto estabelece limites para emissões de gases causadores do efeito estufa e um mercado de créditos de carbono.
De acordo com a proposta aprovada na Câmara, que ainda precisa passar pelo Senado para se tornar lei, os EUA se comprometem a reduzir em 17% as emissões até 2020 e 83% até 2050, em relação aos níveis de 2005. A lei estabelece que, até 2020, 15% da eletricidade do país precisa vir de fontes renováveis como energia solar e eólica.

Segundo Obama, estes investimentos vão gerar empregos. "Não se enganem. Esta lei vai gerar empregos. A energia limpa já gerou 3 mil vagas temporárias em uma usina de energia solar na Califórnia. Em Michigan, a produção de energia eólica deve criar 2,6 mil empregos".

Para aliviar os custos da lei para indústrias americanas, inicialmente serão leiloados 85% dos créditos de carbono. A medida foi criticada por ambientalistas, mas era a única forma de conseguir apoio de legisladores de Estados produtores de carvão. Também foram inseridas concessões para agricultores e produtores de etanol de milho.

O presidente americano, que saudou a aprovação da lei como 'histórica', disse que pretende transformar o país no líder na produção de energia limpa. "A nação que liderar a produção de energia limpa será a líder da economia mundial no século XX", afirmou Obama.




THE WHITE HOUSE
Office of the Press Secretary

EMBARGOED UNTIL 6:00 AM ET, SATURDAY, June 27, 2009
WEEKLY ADDRESS: President Obama Calls Energy Bill Passage Critical to Stronger American Economy

WASHINGTON – In his weekly address, President Barack Obama praised the House of Representatives for passing the energy bill on Friday evening. This historic piece of legislation will not just lessen our dependence on foreign oil, but also spark a clean energy transformation in our economy that will create millions of new American jobs that pay well and cannot be outsourced. Clean energy and the jobs it creates are critical to building a new foundation for our economy.
The audio and video will be available at 6:00am Saturday, June 27, 2009 at www.whitehouse.gov.

Prepared Remarks of President Barack Obama
Weekly Address
The White House
June 27, 2009

Yesterday, the House of Representatives passed a historic piece of legislation that will open the door to a clean energy economy and a better future for America.
For more than three decades, we have talked about our dependence on foreign oil. And for more than three decades, we have seen that dependence grow. We have seen our reliance on fossil fuels jeopardize our national security. We have seen it pollute the air we breathe and endanger our planet. And most of all, we have seen other countries realize a critical truth: the nation that leads in the creation of a clean energy economy will be the nation that leads the 21st century global economy.
Now is the time for the United States of America to realize this too. Now is the time for us to lead.
The energy bill that passed the House will finally create a set of incentives that will spark a clean energy transformation in our economy. It will spur the development of low carbon sources of energy – everything from wind, solar, and geothermal power to safer nuclear energy and cleaner coal. It will spur new energy savings, like the efficient windows and other materials that reduce heating costs in the winter and cooling costs in the summer. And most importantly, it will make possible the creation of millions of new jobs.
Make no mistake: this is a jobs bill. We’re already seeing why this is true in the clean energy investments we’re making through the Recovery Act. In California, 3000 people will be employed to build a new solar plant that will create 1000 permanent jobs. In Michigan, investment in wind turbines and wind technology is expected to create over 2,600 jobs. In Florida, three new solar projects are expected to employ 1400 people.
The list goes on and on, but the point is this: this legislation will finally make clean energy the profitable kind of energy. That will lead to the creation of new businesses and entire new industries. And that will lead to American jobs that pay well and cannot be outsourced. I have often talked about the need to build a new foundation for economic growth so that we do not return to the endless cycle of bubble and bust that led us to this recession. Clean energy and the jobs it creates will be absolutely critical to this new foundation.
This legislation has also been written carefully to address the concerns that many have expressed in the past. Instead of increasing the deficit, it is paid for by the polluters who currently emit dangerous carbon emissions. It provides assistance to businesses and families as they make the gradual transition to clean energy technologies. It gives rural communities and farmers the opportunity to participate in climate solutions and generate new income. And above all, it will protect consumers from the costs of this transition, so that in a decade, the price to the average American will be just about a postage stamp a day.
Because this legislation is so balanced and sensible, it has already attracted a remarkable coalition of consumer and environmental groups; labor and business leaders; Democrats and Republicans. And I want to thank every Member of Congress who put politics aside to support this bill on Friday.
Now my call to every Senator, as well as to every American, is this: We cannot be afraid of the future. And we must not be prisoners of the past. Don’t believe the misinformation out there that suggests there is somehow a contradiction between investing in clean energy and economic growth. It’s just not true.
We have been talking about energy for decades. But there is no longer a disagreement over whether our dependence on foreign oil is endangering our security. It is. There is no longer a debate about whether carbon pollution is placing our planet in jeopardy. It’s happening. And there is no longer a question about whether the jobs and industries of the 21st century will be centered around clean, renewable energy. The question is, which country will create these jobs and these industries? I want that answer to be the United States of America. And I believe that the American people and the men and women they sent to Congress share that view. So I want to congratulate the House for passing this bill, and I want to urge the Senate to take this opportunity to come together and meet our obligations – to our constituents, to our children, to God’s creation, and to future generations.
Thanks for listening.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A crise atual deu fôlego para o planeta?

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A crise atual deu fôlego para o planeta?


Alguns economistas se perguntaram se a recessão poderia amenizar o impacto do sistema econômico sobre o meio ambiente. Isso já é um grande passo, pois os economistas pregam que a economia pode ser maior que o planeta e que não há problema algum em mantê-la em crescimento eterno dentro de um sistema planetário não crescente, do qual depende. Essas críticas têm mais de 50 anos, nas mãos dos mais renomados autores: Nicholas Georgescu-Roegen, Herman Daly, Manfred A.Max Neef, Kenneth Boulding, David Korten, Bastian Reydon, Clóvis Cavalcanti, Rachel Negrão e Paulo Roberto da Silva, entre outros.

Salvar o meio ambiente às custas de um enorme desemprego seria pouco salutar. Nem vamos entrar no mérito do quanto, apesar de um enorme crescimento, os empregos vêm se tornando escassos e incapazes de gerar bem-estar e liberdade às pessoas. Vamos deixar de lado que a geração dos empregos é apenas um resultado tautológico do crescimento, que se tornou um fim em si mesmo. Sim, não faz sentido salvar o meio ambiente com um enorme desemprego. Mas será verdade que uma recessão global esperada de 0,5% vai ajudar o meio ambiente?

A recessão se mede pelo PIB que é um fluxo. Muitos devem estar se perguntando porque os economistas trabalham só com fluxos sem perceberem que estamos nos soterrando vivos com esse processo de produção e consumo. É simples: a economia mantém princípios de conservação ligados à mecânica clássica, sua irmã siamesa. Com isso, as teorias econômicas assumem a inesgotabilidade planetária, a total reversibilidade, a neutralidade e a previsibilidade dos processos físico-econômicos e não se adaptaram aos avanços da física.

Vamos fazer de conta - para ilustrar - que o PIB seja feito apenas de petróleo. Em 2008, consumimos 32,4 bilhões de barris de petróleo. No ano de recessão, consumiremos 32,2 bihões de barris de petróleo. O meio ambiente será "aliviado" em apenas 0,2 bilhão! PIB é um fluxo, não um estoque. A recessão ou estagnação aumentam o impacto ambiental com mais demandas por recursos planetários. Façamos a mesma analogia para automóveis. Em 2008, foram produzidos 75.000.000 de automóveis. E, em 2009, com a recessão de 5%, serão produzidos 71.250.000 automóveis. A emissão de gases do efeito estufa e a quantidade de terra asfaltada necessária para atender esses novos fluxos deverá aumentar sobre um estoque territorial finito. O mesmo pode ser dito para casas ou construções que não param de subir no nosso planeta finito.

A recessão, enfim, não é benéfica para o meio ambiente se compreendemos o significado do PIB, do conflito existente entre o ciclo econômico e o natural. Essa métrica cria vários percalços: 1) quanto mais economicamente viável uma atividade se torna, mais ambientalmente inviável ela é; 2) as soluções de problemas que antes deveriam ser evitados aumenta o PIB; e 3) o custo econômico de destruir o planeta inteiro é zero. Se os Estados Unidos estivessem sozinhos na Terra, já teriam entrado em colapso ambiental faz tempo. Isso não aconteceu graças à exploração dos recursos ecológicos do resto do mundo a custo zero no comércio global.

Não é o efeito do crescimento que mais chama atenção, mas a forma conflituosa no qual ele se dá. Um sistema sem crescimento, por sua vez, não significa necessariamente sustentabilidade, porque daí depende se remove ou não o conflito entre economia e planeta, de forma que nada nem ninguém possa deixar de ser como a natureza é: cíclica, finita e regenerativa. Como hoje tudo é linear, infinito e degenerativo, será uma mudança e tanto.

O crescimento pode até surgir ou ser mantido em um sistema econômico que respeita a finitude, por variáveis qualitativas acima das quantitativas e por alguma razão outra que não seja o aumento dessa pressão e desse desequilíbrio planetários. Sem a ajuda das demais ciências que mensuram os atrasos ecológicos (um deles, o aquecimento global) não saberemos o quanto teremos que retroceder para evitar ultrapassar o limite imposto pela resiliência da natureza, do qual poucos de nós sairão vivos. A tecnologia também deve mudar de enfoque: evitar problemas ao invés de tentar solucioná-los.

Sem mudança de paradigma com abandono do anterior não deixaremos de ser insustentáveis. A crise econômica atual, que não será a última, não é do tipo de gerar a mudança de paradigma necessária, simplesmente porque não foi causada por um desastre ambiental de grandes proporções. Somente quando isso acontecer iremos realmente mudar.

Hugo Penteado - Artigo Publicado na revista Ideia Socioambiental.

terça-feira, 23 de junho de 2009

BR-319

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Leia aqui sobre a obra/ licenciamento da BR-319.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Greenpeace - Pão de Açúcar, Carrefour e Wal Mart suspendem compra de carne de desmatamento na Amazônia

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1ª Vitória: Pão de Açúcar, Carrefour e Wal Mart suspendem compra de carne de desmatamento na Amazônia

Jun 12 2009 12:00AM

Fonte: Greenpeace Brasil


Carrefour, Wal-Mart e Pão de Açúcar suspendem compras de
frigoríficos envolvidos no desmatamento da Amazônia

Manaus (AM) — Em nota assinada pela Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), empresas anunciaram a suspensão de compras de produtos bovinos de 11 empresas frigoríficas do estado do Pará

Pão de Açúcar, Walmart e Carrefour, em nota também assinada pela Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) anunciaram a suspensão de compras de produtos bovinos de 11 empresas frigoríficas do estado do Pará, incluindo a Bertin, por não terem garantias de que a carne não vem de áreas desmatadas na Amazônia. A decisão é resultado da ação civil pública (ACP) do Ministério Público Federal (MPF) no Pará, que encaminhou, na semana passada, recomendação às grandes redes de supermercados e outros 72 compradores de produtos bovinos para que parem de comprar carne proveniente da destruição da floresta. O descumprimento do pedido pode resultar em multa de R$ 500,00 por quilo de produto comercializado.

A medida dos varejistas também foi resultado do relatório sobre a pressão que o gado exerce sobre a Amazônia, lançado há apenas dez dias. “A ação é um repúdio às práticas denunciadas pelo Greenpeace. O setor supermercadista, através da Abras não irá compactuar com as ações denunciadas e reagirá energicamente”, diz a nota. “Os frigoríficos que atuam na Amazônia precisam se comprometer imediatamente a parar de comprar gado de fazendas que desmatam”, disse André Muggiati, do Greenpeace.

Os supermercados solicitaram aos frigoríficos que apresentem ao Ministério Público um plano de auditoria socioambiental, realizado por empresa independente, sobre a origem do gado que comercializam. O MPF já havia pedido aos supermercados e empresas notificadas que implementem sistemas de identificação sobre a origem do produto bovino.

Além disso, o Ministério Público Federal pretende ampliar as ações de combate ao desmatamento com responsabilização da cadeia produtiva da pecuária para outros estados da Amazônia, como Mato Grosso e Rondônia.

O Greenpeace lançou na semana passada o relatório “A Farra do Boi na Amazônia” apontando a relação entre empresas frigoríficas envolvidas com desmatamento ilegal e trabalho escravo com produtos de ponta comercializados no mercado internacional. Para piorar, o governo brasileiro financia e tem participação acionária nas principais empresas pecuárias que atuam na Amazônia. O frigorífico Bertin é uma das empresas apontadas pelo Greenpeace como responsáveis pela compra de gado de fazendas que desmataram ilegalmente a floresta Amazônica, distribuindo no Brasil e mundialmente os produtos derivados dos animais.

http://www.greenpeace.org/brasil/amazonia/gado


Leia abaixo a nota dos supermercados:

ABRAS repudia práticas denunciadas pelo Greenpeace.

Wal-Mart, Carrefour e Pão de Açúcar suspendem as compras de fazendas envolvidas no desmatamento da Amazônia e deverão trabalhar com auditoria de origem. Em reunião realizada na Associação Brasileira de Supermercados (Abras), no dia 8 de junho, as três maiores redes de supermercados do País, Carrefour, Wal-Mart e Pão de Açúcar decidiram suspender as compras das fazendas envolvidas no desmatamento da Amazônia.

sábado, 20 de junho de 2009

A oportunidade do imbróglio do boi

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A oportunidade do imbróglio do boi
ROBERTO SMERALDI

O rebanho não precisa ser cortado: ainda se torna legal, mais rentável e agrega valor. Não parece um final feliz?


O BRASIL , de repente, se dá conta dos passivos do avanço da pecuária -com seu explosivo crescimento, na Amazônia, a partir de 2004.
Justiça, sociedade civil e supermercados reagem, e cada um anuncia medidas em sua respectiva esfera: indenizações bilionárias, denúncia das ligações com grifes internacionais, sustação de compras.
O Banco Mundial resolve pedir de volta o dinheiro que havia concedido em 2006, afastando-se de riscos financeiros e reputacionais. E ainda há bastante coisa para vir.
Saudável que isso esteja em pauta, mas, passada a atenção midiática -necessariamente passageira-, pode se voltar à rotina sem alternativas.
A Justiça é lenta, e a capacidade de cobrança da sociedade civil ao longo do tempo, obviamente limitada, ainda mais quando longe dos holofotes.
Há caminhos para aproveitarmos essa crise não apenas para superar o problema da ilegalidade mas também para criar as condições para que a atividade se torne mais sustentável?
Eu acho que sim, mas as condições não são triviais. Para começar, a história ensina que, sem reconhecer os erros, é difícil superá-los: a negação das evidências não ajuda a trocar de página. Também temos de entender que a tecnologia avançada é, nesse caso, necessária, mas, sozinha, não resolve. Finalmente, temos de garantir durabilidade e massa crítica para as soluções. Com tais pressupostos, podemos enfrentar três desafios.
O primeiro é reduzir a pegada espacial da atividade, algo perfeitamente possível: os 71 milhões de cabeças de gado, que hoje ocupam 74 milhões de hectares de pastagem, podem ser abrigados em 25 milhões de hectares, ainda com vantagens econômicas. Isso permite recuperar a reserva legal das unidades produtivas existentes e, assim, tirá-las da ilegalidade.
Para que isso aconteça, é preciso redirecionar o expressivo crédito subsidiado destinado a toda a cadeia. Nem precisa de dinheiro adicional, mas apenas usar o que já gastamos de forma exatamente oposta ao que se faz hoje: em vez que promover a expansão, promover a produtividade.
O segundo desafio é estabelecer políticas de compra confiáveis: aquelas baseadas em listas negras se revelaram um bumerangue para os que as adotaram.
Logo que o Greenpeace expôs as ilegalidades dos fornecedores que não faziam parte das listas dos multados ou embargados, caiu a ficha das empresas sobre o quanto esse mecanismo pode ser traiçoeiro. Muitos dos que estão fora das listas estão entre os mais ilegais: eles já não tinham floresta e, portanto, não eram objeto dos flagrantes de derrubada que os levariam para as listas.
Precisamos, assim, de listas positivas de fornecedores, algo possível só com um sistema de certificação que, inclusive, garanta também contra práticas como trabalho escravo, na qual a pecuária amazônica é recordista. E isso pode ser adotado logo: a Iniciativa Brasileira para Certificação da Atividade Agropecuária chegou à reta final após três anos de negociação.
O terceiro desafio é evitar novos investimentos para a expansão da atividade na região. Parece óbvio, mas é algo que só pode ser imposto pela indústria financeira e que precisa de um compromisso claro por sua parte.
Tudo isso poderá embasar os futuros termos de ajustamento de conduta a serem assinados com o Ministério Público pelos diversos atores da cadeia. Mas os prazos para sua implementação são necessariamente longos, de pelo menos uma década.
Eis que precisa de um avalizador com capacidade financeira, um pé nos frigoríficos e outro na fazenda: trata-se do BNDES. Coincidentemente, é o mesmo que também financia grande parte da atividade pecuária em si e, portanto, pode amarrar o crédito aos critérios das políticas de compra da indústria, da qual é sócio.
Esse avalizador não aparenta nenhum apetite para se envolver na mudança. Entretanto, acabou se tornando corresponsável judicialmente com os frigoríficos e, portanto, à diferença do Banco Mundial, não tem como se despedir.
O BNDES pode viabilizar e garantir a mudança poupando o pagamento de enormes indenizações ao setor no qual se engajou com certa desenvoltura e a si mesmo.
O rebanho não precisa ser cortado: ainda se torna legal, mais rentável e agrega valor. Nos 50 milhões de hectares a recuperar, geram-se bilionários créditos de carbono e muitos empregos. Não parece um final feliz?

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ROBERTO SMERALDI, 49, jornalista, é diretor da Oscip Amigos da Terra -
Amazônia Brasileira.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Sustentabilidade = interdependência. Ou, se preferir, corresponsabilidade.

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Silvia Dias

Quando o assunto é sustentabilidade, não dá para contar apenas com o pensamento linear: o desafio é juntar as peças e entender as interrelações para melhor agir sobre elas.

Pegue-se o exemplo da indústria alimentícia, sobre quem escrevi ontem ao falar do filme Food Inc., lançado esta semana nos EUA. Ele expõe o lado menos glamuroso desse setor que, segundo pesquisa do Havas Media Group, desfruta de uma excelente imagem pública. Não é para menos: o apelo de toda sua comunicação é sempre em cima de temas e imagens que remetem à saúde e ao bem-estar. Mas entre a imagem e a realidade existe um gap, no qual entram...

Leia o texto todo no blog Ascendidamente.

Homem versus Natureza ou Homem e Natureza?

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As áreas protegidas foram erigidas com a idéia que o homem iria destruir tudo e para preservar um pedaço que fosse da natureza, seria necessário demarcá-las e colocá-las a salvo de toda e qualquer presença humana. Quando o ser humano estivesse cansado dos mundos artificiais que criou para si, iria até lá, nessas áreas protegidas, contemplar a natureza ainda intacta.

Há vários erros aí. Um deles é o mito da separação entre homem e natureza, como se ele não fizesse parte dela. Mas há outros. A idéia de mundo artificial é falsa, nossas cidades estão tão vinculadas com a natureza e o meio ambiente quanto os parques. Até nossas tecnologias, nossas vidas, nosso consumo, nossa produção estão vinculados e dependentes da natureza que destruímos continuamente. Os que moram em São Paulo todo dia se alimentam e tomam água, como todo mundo. Esses recursos vieram dos bichos, das plantas, dos ecossistemas. Sem os bichos e as plantas, o planeta inteiro seca, fica sem água. Todo o resto das nossas vidas idem. Não existe mundo artificial, primeiro erro. O segundo é ver que o ser humano não precisa necessariamente destruir tudo, ao contrário, ele precisa o quanto antes aprender a preservar, pois disso depende a sua vida e sua longevidade como espécie animal.

Terceiro erro é considerar indesejáveis as populações engajadas na proteção ambiental e quando elas foram retiradas sem critério algum das áreas demarcadas para proteção integral, com isso se perdeu a possibilidade de uma co-gestão (governo e sociedade), transmissão de conhecimento e preservação efetiva. O resultado final das áreas protegidas no qual se retiraram as pessoas foi sua total devastação. Yellowstone é um marco de um erro do passado e de uma atitude do futuro: só funciona proteger a natureza quando o ser humano for incluído e a sua interação benigna for estimulada.

O quarto erro é o ser humano sair do seu mundo artificial e ir contemplar a natureza, como se antes desse movimento, o ar que ele respirasse não viesse das plantas, dos oceanos; como se todo o equilíbrio químico do ar, da água e do solo onde ele está o tempo todo não viesse da vida e dos ecossistemas planetários; e como se seu coração não batesse graças a um ser vivo capaz de armazenar a luz do sol. Estranho ir contemplar a natureza ali tão distante, quando ela está com ele o tempo todo.

Com essa separação, mantida até mesmo por parte do movimento ambientalista, não conhecemos, não aprendemos, não preservamos e nos comportamos como pragas em vias de extinção, assim como já está toda vida desse planeta no maior processo de extinção planetária dos útimos 65 milhões de anos. É por isso que 42 campos de futebol em florestas são destruídos a cada minuto. Enquanto o ser humano não enxergar sua relação de dependência com o planeta e sua enorme vulnerabilidade, as chances de evitarmos nosso fim serão mínimas. Disso depende uma visão como a do Antônio Carlos Diegues e outros estudiosos sobre o homem e o mundo vivo do qual ele depende. Há áreas que em função da antropização e do seu impacto precisam estar realmente protegidas sem presença humana, mas há outras, onde reina um certo equilíbrio, que em nada se justifica a exclusão das pessoas. Na maior parte dos casos, a participação das pessoas não só será desejável como benigna.
Hugo Penteado

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O patrimônio daqueles que virão!

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O patrimônio daqueles que virão!

Por Dal Marcondes, da Envolverde

Vamos aproveitar para olhar em volta e ver se avançamos hoje, Dia Mundial do Meio Ambiente de 2009, em relação ao ano passado. Bom, a crise financeira ainda não havia explodido com todos os seus megatons. Marina Silva estava recém saída do Ministério do Meio Ambiente e Carlos Minc aparecia frente à câmeras sorrindo, otimista e conciliador. A Amazônia parecia ter finalmente entrado na pauta do Brasil e da mídia. ONGs de São Paulo iniciaram uma jornada de confronto com a Petrobras por conta do índice de enxofre no diesel. Isto culminou com a saída da Petrobras e do Instituto Ethos do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa). O tema sustentabilidade passou a transbordar em todas as esferas. Empresas, pessoas, ongs, todos buscavam “ser sustentáveis”.

Hoje, o que temos como cenário:

• Minc está em processo aberto de “fritura” no governo;
• Reynold Stefanis, da Agricultura, apóia o avanço ruralista sobre a Amazônia;
• A senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura vai relatar a MP da grilagem da Amazônia;
• O governo está “doando” terras a grileiros na Amazônia
• O Estado de Santa Catarina lançou a nova onda de rapinagem sobre as APPs (Áreas de Preservação Permanente)
• O Brasil vai para Copenhague “desmoralizado” para falar em preservação de florestas;

Existem no Congresso Nacional quase 50 projetos de lei que tratam de temas ambientais. A maioria para “flexibilizar” a legislação vigente. Este Congresso, completamente desmoralizado diante da sociedade, com legisladores cerceados em sua ânsia de se apropriar de recursos dos contribuintes, agora quer se lançar à dilapidação do patrimônio natural dos brasileiros.

Ao que parece os deputados e senadores não conseguem enxergar além de seus tacanhos pontos-de-vista e perceber que o mundo está empenhado em uma batalha sem quartel contra a degradação ambiental e as mudanças climáticas. Países menores do que o Brasil conseguem estabelecer padrões de qualidade no agronegócio com muito mais valor agregado.

Recentemente ouvi de um dos maiores compradores de soja do Brasil que se ele for exigir que os fazendeiro cumpram as leis ambientais do País, não conseguirá chegar com a soja brasileira a preços competitivos no mercado internacional. Na minha opinião ele já não é competitivo, e deveria mudar de ramo.

A maior empresa privada do Brasil lançou-se descaradamente em uma campanha de “greenwashing” ao colocar em horário nobre da TV uma propaganda onde afirma ter zerado seu printefoot”. Se esconde atrás de um termo em inglês como se fosse um antigo creme de barbear que se afirmava melhor por ter “lantrol”, que até hoje não descobri o que seja.

O Brasil um dia vai perceber que é importante apenas por seu capital natural. É preciso compreender que a relevância brasileira no mundo não se dá por sua capacidade militar, ou por seu “esplendido” desempenho econômico, mas porque o País tem a Amazônia, região e bioma com importância vital para o mundo.

Estamos abandonando um dos princípios mais caros à ex-ministra Marina Silva, o “princípio da precaução” em relação ao meio ambiente. “Já estamos sacando no cheque especial dos nossos netos”, ouvi esta semana em um evento. E é verdade, o Congresso brasileiro está agindo como se não houvesse amanhã.

Uma reflexão sobre as questões ambientais neste cenário de desarticulação completa da política e da ética requer que se tenha um mínimo de bom senso. O Brasil está a caminho da COP 15, em Copenhague, que vai debater os horizontes dos compromissos em relação às mudanças climáticas a partir de 2012. Com que cara nossos diplomatas vão entrar nas negociações se for dado um “liberou geral” em relação à Amazônia e aos recursos naturais do País?

O Brasil pode ser uma liderança global na direção de uma economia competitiva, inclusiva e baseada em biomassa e biodiversidade. Mas, para isso, precisa amadurecer. Parar de se comportar como um adolescente esquizofrênico, que se atira de forma imatura sobre as riquezas ao seu redor até tornar-se um adulto amargurado e pobre.

Não às mudanças apressadas no Código Ambiental. O Brasil precisa amadurecer sua democracia e a sociedade tem o direito de se manifestar. Em uma época de tanta integração e interatividade, para mexer no patrimônio natural os cidadãos deveriam ser consultados. A Constituição prevê isso.

É preciso entender que a sociedade tem um compromisso com o futuro, com as próximas gerações, e este compromisso não pode ser largado nas mãos de uma geração de políticos que não é capaz sequer da gestão mais ordinária do cotidiano do País.

O Patrimônio Natural do Brasil pertence não apenas a esta geração de brasileiros, mas a todas as que virão a seguir, pelos próximos séculos e séculos. Não podemos, não temos o direito, não temos o mandato e não temos a legitimidade para lançar mão deste patrimônio em nome de nenhum interesse atual.

Caso os políticos não percebam isto, estarão cometendo um “Crime contra a humanidade de amanhã”.

*Dal Marcondes é diretor da Envolverde.

(Agência Envolverde)

terça-feira, 16 de junho de 2009

Economistas clássicos e meio ambiente

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Economistas clássicos e meio ambiente
Carlos Gabaglia Penna
08/06/2009, 07:00

Durante a discussão sobre a posição norte-americana na Conferência Mundial sobre População, que teria lugar em Bucareste, em 1974, cada vez que os economistas sugeriam uma solução do tipo moto-contínuo para fornecer ao mundo fontes ilimitadas de energia, um dos cientistas presentes, calmamente, afirmava que a proposta violava a segunda lei da Termodinâmica. Após ouvir tal informação algumas vezes, um economista, irritado, saiu-se com esta: “e quem sabe qual será a 2ª lei da Termodinâmica daqui a cem anos?”. Suponho que ele confiava que o presidente Ronald Reagan – ou, bem mais tarde, um George Bush – revogasse lei tão incômoda.

A fé profunda no progresso tecnológico é compartilhada por pobres e ricos, por capitalistas e socialistas, todos empenhados em ignorar fatos científicos insofismáveis. Mas são os economistas clássicos – secundados por governistas de todas as matizes – os campeões do entusiasmo pelo crescimento econômico permanente. Mesmo que às custas da lógica.

Robert Solow é um economista americano, ex-professor do Massachusetts Institute of Technology, que - além de importantes prêmios nacionais – foi agraciado com o Prêmio Nobel de Economia (1987). É particularmente conhecido por seus trabalhos sobre crescimento econômico. Ele afirmou que “o mundo pode, com efeito, sobreviver sem recursos naturais” (!?!). a Natureza não seria, portanto, um obstáculo para o progresso humano.

O economista Julian Simon, falecido em 1998, foi um professor de Administração de Negócios da Universidade de Maryland, nos EUA. Tornou-se mais conhecido pelos seus trabalhos sobre população, recursos naturais e imigração. Teve grande influência na política da administração Reagan no que se referia às questões demográficas, defendendo a ideia de que os recursos naturais são infinitos.

Abro parênteses: os EUA do presidente Reagan foram responsáveis por um grande atraso na implantação de políticas regionais de limitação populacional. Em uma conferência da ONU sobre o assunto, em 1984 (no México), o governo americano utilizou o mesmo slogan adotado pela Índia na década anterior (e, hoje em dia, por alguns membros do governo petista): “desenvolvimento é o melhor contraceptivo”. Entre meados dos anos setenta e 2008, a população indiana cresceu em cerca de 570 milhões de indivíduos e a renda per capita era, em 2006, apenas 11,2% da brasileira.

Voltando ao professor Simon, ele escreveu que “quanto mais [recursos naturais] nós usarmos, mais ricos ficaremos” e que “não há limites práticos para aumentar, para sempre, nosso patrimônio (ou, pelo menos, por sete bilhões de anos)”. Isso levou um demógrafo da Universidade de Oxford, David Coleman, a ironizar que faltava a Julian Simon – quando se referiu a 7 bilhões de anos – a confiança de que poderíamos sobreviver ao esgotamento do sol...

Nos tempos dos economistas britânicos Adam Smith (século XVIII) e David Ricardo (século XVIII e XIX), a Natureza era percebida como um grande e inexaurível recurso. Isso era perfeitamente compreensível, pois a população mundial girava em torno de um bilhão de pessoas e a tecnologia da época era muitíssimo menos poderosa e ambientalmente invasiva do que a atual. No entanto, parte dos economistas do presente parece acreditar que o livre mercado, através dos preços, irá regular o consumo de recursos escassos e promover uma produção mais eficiente. Ou que a inventividade humana sempre produzirá, ou descobrirá, materiais substitutos. Não é, entretanto, o que está ocorrendo no planeta.

A economia clássica reconhece a terra (significando todos os seus recursos naturais), o trabalho e o capital produzido como as fontes básicas da prosperidade material. A economia neoclássica foca somente no capital e no trabalho, tratando a “terra” apenas como uma forma intercambiável de capital. Para eles, tem muito pouca importância o fato de a Natureza ser usada não apenas como fonte de ativos valiosos, mas também como receptora dos resíduos e da poluição da economia.

O ciclo de vida de uma mercadoria é muito maior para a ecologia do que para a economia. Para um economista, o ciclo de vida de um automóvel começa com a exploração do minério de ferro e termina quando é pago e sai da revendedora. A partir daí, fará apenas parte de estatísticas. O ciclo da gasolina, da mesma forma, encerra-se no tanque de algum veículo. Para o ambientalista, contudo, ou melhor, para o mundo real, o ciclo do automóvel prossegue muito além. Ele continua ao longo da sua utilização (através de seus impactos), na necessidade de abertura de vias e de sua pavimentação que permitam o tráfego do automóvel, na sua transformação em sucata, na sua permanência na paisagem, e, finalmente, na disposição das partes não aproveitadas em aterro sanitário.

O ciclo da gasolina iniciou-se muitos milhões de anos anteriores à descoberta do petróleo, com a decomposição de plantas e animais, continua através das emissões de poluentes quando essa gasolina é queimada e culmina com os efeitos dessas emissões nas florestas, no clima global e na saúde das pessoas. Muitos economistas e planejadores parecem desconhecer que a Economia depende integralmente dos recursos naturais, ou seja, dos minerais metálicos e não-metálicos (recursos não renováveis), das diferentes fontes de energia, assim como da atmosfera, da água, do solo e da biodiversidade. É uma ilusão imaginar que a atividade econômica independe da qualidade desses recursos.

É igualmente inacreditável que se imagine que a Economia possa prescindir dos limites do meio ambiente, levando as pessoas a defender o crescimento econômico permanente. Sequer a necessidade de empregos o justifica, pois, como todos sabem, o aumento das atividades está, cada vez mais, descolado da demanda de mão-de-obra. Os lucros das empresas sobem e elas seguem despedindo funcionários.

Somente o desconhecimento de princípios básicos da Ciência permite que se assuma tal posição. Não me refiro apenas a Termodinâmica, Ecologia ou Teoria dos Sistemas, mas igualmente a Matemática que revela que progressão geométrica em qualquer sistema - que é como se comportam a Economia e a Demografia – tende ao colapso. Expansão econômica contínua é uma impossibilidade física; defendê-la, portanto, é uma sandice.

Herman Daly, ex-funcionário do Banco Mundial e atualmente professor da Universidade de Maryland, é provavelmente o mais conhecido entre os modernos economistas que consideram as questões ambientais como relevantes em seus estudos e projetos. Ele afirmou que “o crescimento, a panaceia do passado, está se transformando rapidamente na pandemia do presente”. Ele também escreveu que:

Os economistas dedicam tanta atenção ao crescimento do Produto Interno Bruto que o confundem com “crescimento econômico”, sem admitir a possibilidade de que esta possa ser “não econômico”, uma vez que seus custos marginais, derivados dos impactos sociais e ambientais, podem ser maiores que o seu valor em termos dos benefícios da produção.

É o que se convencionou denominar internalização dos lucros, externalização dos custos. Empreendimentos diversos proporcionam lucros gordos aos donos do negócio (e polpudas comissões a políticos), mas quem arca com os custos - a degradação ambiental, a destruição de belas paisagens, o deslocamento de populações etc. – é a sociedade. Esta paga a conta. Isso acontece a toda hora e é chamado de progresso...

Daly diz ainda que a Economia não tem que crescer indefinidamente para se eliminar a miséria, mas que a solução se baseia em 3 itens básicos, “ainda que para muitos seja desagradável”: aumento da produtividade no uso dos recursos, controle populacional e redistribuição de riqueza. Este último item – fundamental - é possível, mas choca-se com a ganância e o egoísmo humanos. Não alcançaremos a sustentabilidade enquanto, grosso modo, as 500 pessoas mais ricas do planeta acumularem fortunas que equivalem à riqueza total do um bilhão de pessoas mais pobres.

A insistência no aumento permanente do consumo de bens e serviços – como solução para todos os males da sociedade – parece impregnada no inconsciente coletivo de boa parte da humanidade, mas, além de inútil, ela só conseguirá levar ao colapso o sistema suporte da vida. Da vida humana, bem compreendido, pois como escreveu o paleontologista Stephen Jay Gould: “…se tratarmos a Terra com decência, ela continuará a sustentar-nos por algum tempo. Se nós a ferirmos, ela vai sangrar um pouco, livrar-se de nós, curar-se e depois seguir cuidando de sua própria vida, em sua própria escala [de tempo].”

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Perguntas

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Queimar florestas, abrir fronteiras agrícolas para produzir alimentos que não precisamos, induzir comer carne como se fôssemos carnívoras (quando na verdade somos onívoros e nosso ecossistema só digere 30 a 40 gramas de proteína animal a cada 3 ou 4 horas e o resto vira bolo fecal contaminante e fonte de doenças como câncer), poluir águas, poluir o solo com agrotóxicos e inseticidas, transformar a Terra em lixeira com o hábito dos descartáveis e do desperdício (você ainda não trocou seu carro, laptop, celular, eletrodomésticos e TV Plasma? ê pobreza!), pôr filho e animal doméstico no mundo como se a população humana pudesse viver sozinha na Terra, andar de avião para lá e para cá como se isso fosse ecológica e planetariamente possível, perseguir um padrão material de consumo que se disseminado a todas populações, precisaríamos de vários planetas (ops, desculpa, só temos um!), enfim, por tudo isso posto...

...alguém ainda tem dúvida que estamos em vias de extinção?

...talvez os economistas, cuja opinião em relação à restrição da Segunda Lei da Termodinâmica foi essa: "precisamos pedir a um governante para revogá-la" (do artigo que acabei de mandar de Carlos Gabaglia Pena).

... ou o brilhante prêmio Nobel de Economia, Robert Solow, que afirmava que podíamos continuar produzindo depois que os recursos naturais acabassem...

... ou o brilhante e já extinto Julian Simon que dizia que a humanidade teria recursos para mais 7 bilhões de anos (ou seja, seríamos capazes de nos manter mesmo depois do colapso do sol...) e que a população humana podia ser de um trilhão de pessoas que não haveria problema algum (bom para ele que morreu antes disso acontecer...).

Escuta, a pergunta que não quer se calar, mas que talvez saibamos a resposta: porque pessoas supostamente inteligentes dão crédito ainda a esse besteirol inútil?

Ah, outra pergunta: porque a meta não é de desmatamento zero, mas de desmatamento contínuo, porém menor? Será que é porque achamos que os biomas brasileiros são inesgotáveis?

Hugo Penteado

domingo, 14 de junho de 2009

Ecologizar o Capital – II

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Ecologizar o Capital – II

Maurício Andrés Ribeiro (*)

Na antiguidade, a espécie humana aprendeu a domesticar os animais e criou o pastoreio; domesticou as plantas e criou a agricultura. Com as práticas orgânicas, ecologizou essa atividade. Domesticou as águas por meio de obras de infra-estrutura, aquedutos, diques, barragens. Em seguida, dominou os minerais: o cobre no ano 3 mil antes de Cristo, o bronze no segundo milênio antes de Cristo e viveu a idade do Ferro no ano mil antes de Cristo.

Na atualidade, o grande desafio é ecologizar o capital e direcioná-lo para finalidades construtivas, pois sua força, como a das águas, é altamente destrutiva, se estiver desregulada ou descontrolada.

A Resolução n.3545 do Conselho Monetário Nacional restringiu, a partir de julho de 2008, o crédito oficial a produtores rurais sem comprovação de regularidade fundiária e ambiental. Ela incidiu sobre os interesses econômicos dos que não cumprem a legislação ambiental e despertou reações fortes. Levou governadores dos estados da Amazônia a pedirem o adiamento do início de sua aplicação, para permitir aos fazendeiros, sojicultores, pecuaristas, se adequarem à legislação ambiental. Restrições de crédito para quem destrói e devasta a natureza são instrumentos de ação que ecologizam o capital.Uma única resolução do Conselho Monetário Nacional tem mais força para obrigar o cumprimento da lei do que muitas operações de fiscalização ambiental, que não afetam de forma estruturante os interesses econômicos e cujos efeitos são fugazes.

Em 2009, o desmatamento na Amazônia mostra que são insuficientes os esforços de fiscalização e controle ambiental, caso os bancos de desenvolvimento continuem a conceder empréstimos a atividades da cadeia produtiva da carne. O esforço da fiscalização ambiental sem a ecologização da regulação do capital equivale a enxugar o chão mantendo a torneira aberta.

A internalização da perspectiva ecológica não pode ficar restrita à área ambiental do poder executivo, lutando contra a corrente. Ela precisa ocorrer em toda a administração.

Outras instâncias, como o poder judiciário, tem um importante papel. Assim por exemplo, à medida que evoluiram o conhecimento cientifico e a consciência social e quando se acumularam evidências científicas sobre seu papel nocivo ao clima, o CO2 foi incluído entre os gases poluidores em 2009 pela EPA- Agência Ambiental Americana a partir de determinação da Suprema Corte Americana, em 2007.

A atual crise econômica oferece possibilidades para que o estado, ao socorrer bancos e empresas endividadas, condicione essa ajuda a critérios ecológicos. Para que tal oportunidade não se perca, os tomadores de decisão na política econômica precisam se ecologizar. Para ecologizar o capital, é vital o uso dos mecanismos de controle e monitoramento ao longo das cadeias produtivas de cada bem ou serviço.

Ecologizar o capital é aplicar os conhecimentos das ciências ecológicas e a sabedoria da consciência ecológica a todas as decisões relacionadas ao seu estoque e fluxo, aos tributos, créditos, empréstimos, financiamentos.

(*) Autor dos livros Ecologizar, de Tesouros da Índia e de Ecologizando a cidade e o planeta

www.ecologizar.com.br

mandrib@uol.com.br

sábado, 13 de junho de 2009

Carta aberta ao Presidente da República do Brasil - Hugo Penteado

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Carta aberta ao Presidente da República do Brasil

São Paulo, 9 de junho de 2009

Ao
Exmo. Sr. Presidente Luís Inácio Lula da Silva

Prezado Exmo. Sr. Presidente,

O fim da Amazônia é o fim do Brasil, é o fim dos brasileiros. Somos totalmente dependentes dela e dos ecossistemas para elementos vitais que sustentam a vida na Terra. Sem a Amazônia, eu não estaria vivo, respirando, escrevendo esse email agora. Os ecossistemas não estão aí para serem apenas transformados em atividades agrícolas e econômicas, mas para fornecer os elementos vitais de sustentação da vida. O modelo dos países ricos, se copiados para todos, irá causar a nossa extinção, a humanidade com essa atitude predatória em relação aos ecossistemas já provocou a maior extinção em massa da vida desse planeta dos últimos 65 milhões de anos. É muita ingenuidade achar que essa extinção não irá se voltar contra os causadores.

Os Estados Unidos para atender seu modelo de consumo, utiliza 73.000.000 de km2, embora seu território tenha apenas 9.300.000 de km2. Ou seja: 4,5% da população mundial faz uso de quase 50% do território da Terra de 149.000.000 de km2, de acordo com a Ecological FootPrint. A revista New Scientist perguntou quantas pessoas o planeta conseguiria sustentar no modelo de vida dos países ricos e a resposta foi apenas 200.000.000 de pessoas. Os economistas não vêem restrição nem limites, suas teorias são falsas, possuem erros colossais, eles não enxergam o absurdo de manter um sistema crescente (economia e pessoas) dentro de um sistema não crescente (a Terra) e nem reconhecem a relação de dependência das nossas vidas e da economia em relação à natureza. Falham em criticar o modelo dos países ricos, ao invés disso, copiam esse modelo e estimulam produção e exportação de produtos para entregar nossa natureza de graça a países que já esgotaram as suas. Os economistas consideram a natureza um subsistema da economia e é justamente o inverso, é a economia que é um subsistema da natureza. É equivalente a acreditar ainda que a Terra é plana. O mito de separação entre a economia e o meio ambiente é tão forte, que os ministérios das duas áreas jazem separados e em conflito.

Por tudo isso posto, peço que apóie a ex-ministra e Senadora Marina Silva e o ministro Carlos Minc e vete os incisos II e IV do artigo 2o., o artigo 7o. e o artigo 13 da MP458, pois é da sua decisão que o futuro dos filhos do Brasil dependerão e eu sei que é muita responsabilidade, abrir mão de idéias mal concebidas, ainda mais com o pretexto de gerar empregos e bem estar social, quando o resultado do crescimento econômico é justamente o oposto: menos empregos, menos bem estar social, mais degradação ambiental. De acordo com a New Economics Foundation, de cada 150 dólares adicionados a riqueza mundial, só 60 centavos chegam aos mais pobres. Para satisfazer interesses imediatistas de curto prazo de quem menos precisa, estamos sacrificando toda a sociedade e o futuro das gerações futuras, a sua capacidade de sobreviver e colocando todos nós em risco de extinção.

Minhas cordiais saudações,

Hugo Penteado
Autor do livro Ecoeconomia - Uma nova Abordagem (Ed.Lazuli, 2003)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A INSENSATEZ

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A INSENSATEZ

Coluna de Miriam Leitão, O Globo, Sexta 5/jun

O confronto entre ruralistas e ambientalistas é completamente
insensato. Mesmo se a questão for analisada apenas do ponto de vista
da economia, são os ambientalistas quem têm razão. Os ruralistas
comemoram vitórias que se voltarão contra eles no futuro. Os
frigoríficos terão que provar aos supermercados do Brasil que não
compram gado de áreas de desmatamento.

O mundo está caminhando num sentido, e o Brasil vai em direção oposta.
Em acelerada marcha para o passado.

O debate, as propostas no Congresso, a aprovação da MP 458, os erros
do governo, a cumplicidade da oposição, tudo isso mostra que a falta
de compreensão é generalizada no país.

A fritura pública do ministro Carlos Minc, da qual participou com
gosto até o senador oposicionista Tasso Jereissati (PSDB-CE), é um
detalhe. O trágico é a ação pluripartidária para queimar a Amazônia.

Até a China começa a mudar. Nos Estados Unidos, o governo George Bush
foi para o lixo da história. O presidente Barack Obama começa a
dirigir o país em outro rumo. Está tramitando no Congresso americano
um conjunto de parâmetros federais para a redução das emissões de
gases de efeito estufa. O que antes era apenas um sonho da Califórnia,
agora será de todo o país.

Neste momento em que a ficha começa a cair no mundo, no Brasil ainda
se pensa que é possível pôr abaixo a maior floresta tropical do
planeta, como se ela fosse um estorvo.

A MP 458, agora dependendo apenas de sanção presidencial, é pior do
que parece. É péssima. Ela legaliza, sim, quem grilou e dá até prazo.
Quem ocupou 1.500 hectares antes de primeiro de dezembro de 2004
poderá comprá-la sem licitação e sem vistoria. Tem preferência sobre a
terra e poderá pagar da forma mais camarada possível: em 30 anos e com
três de carência. E, se ao final da carência quiser vender a terra, a
MP permite. Em três anos, o imóvel pode ser passado adiante. Para os
pequenos, de até quatrocentos hectares, o prazo é maior: de dez anos.
E se o grileiro tomou a terra e deixou lá trabalhadores porque vive em
outro lugar? Também tem direito a ficar com ela, porque mesmo que a
terra esteja ocupada por ?preposto? ela pode ser adquirida. E se for
empresa? Também tem direito.

Os defensores da MP na Câmara e no Senado dizem que era para
regularizar a situação de quem foi levado para lá pelo governo militar
e, depois, abandonado.

Conversa fiada. Se fosse, o prazo não seria primeiro de dezembro de 2004.

Disseram que era para beneficiar os pequenos posseiros. Conversa
fiada. Se fosse, não se permitiria a venda ocupada por um preposto,
nem a venda para pessoa jurídica.

A lei abre brechas indecorosas para que o patrimônio de todos os
brasileiros seja privatizado da pior forma. E a coalizão que se for$a
favor dos grileiros é ampla. Inclui o PSDB. O DEM nem se fala porque
comandou a votação no Senado, através da relatoria da líder dos
ruralistas, Kátia Abreu.

Mais uma vez, Pedro Simon (PMDB-RS), quase solitário, estava na direção certa.

A ex-ministra Marina Silva diz que o dia da aprovação da MP 458 foi o
terceiro pior dia da vida dela.

? O primeiro foi quando perdi meu pai, o segundo, quando Chico Mendes
morreu ? desabafou.

Ela sente como se tivesse perdido todos os avanços dos últimos anos.

Minha discordância com a senadora é que eu não acredito nos avanços.
Acho que o governo Lula sempre foi ambíguo em relação ao meio
ambiente, e o governo Fernando Henrique foi omisso. Se tivessem tido
postura, o Brasil não teria perdido o que perdeu.

Só nos dois primeiros anos do governo Lula, 2003 e 2004, o
desmatamento alcançou 51 mil Km. Muitos que estavam nesse ataque
recente à Floresta serão agora ?regularizados?.

O Greenpeace divulgou esta semana um relatório devastador. Mostrando
que 80% do desmatamento da Amazônia se deve à pecuária. A ONG deu nome
aos bois: Bertin, Marfrig, JBS Friboi são os maiores. O BNDES é sócio
deles e os financia. Eles fornecem carne para inúmeras empresas, entre
elas, as grandes redes de supermercados: Carrefour, Wal-Mart e Pão de
Açúcar.

Reuni ontem no programa Espaço Aberto, da Globonews, o coordenador do
estudo, André Muggiatti e o presidente da Abras (Associação Brasileira
de Supermercados), Sussumu Honda. O BNDES não quis ir.

A boa notícia foi a atitude dos supermercados. Segundo Sussumu Honda,
eles estão preocupados e vão usar seu poder de pressão contra os
frigoríficos, para que eles mostrem, através de rastreamento, a origem
do gado cuja carne é posta em suas prateleiras.

Os exportadores de carne ameaçam processar o Greenpeace. Deveriam
fazer o oposto e recusar todo o fornecedor ligado ao desmatamento. O
mundo não comprará a carne brasileira a esse preço. Os exportadores
enfrentarão barreiras. Isso é certo.

O Brasil é tão insensato que até da anêmica Mata Atlântica tirou 100
mil hectares em três anos.

Nossa marcha rumo ao passado nos tirará mercado externo. Mas isso é o
de menos. O trágico é perdermos o futuro. Símbolo irônico das nossas
escolhas é aprovar a MP 458 na semana do Meio Ambiente.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

CMEPSP - Draft Summary

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Nessa análise, que estava completamente sem transparência, não vi ainda nenhum espaço para mudança de um paradigma pelo qual o planeta é visto como um subsistema da economia e onde não se percebe o problema de manter um sistema crescente (economia e pessoas) dentro de um sistema não crescente (a Terra). A abertura desse espaço agora não convence, Stiglitz não era a pessoa adequada para esse tipo de nova percepção da realidade (física, biológica, ecológica), pois para ele a economia (soberana unidisciplinar) pode ser maior que o planeta. Infelizmente, vão cair no mesmo erro de sempre, ao negar décadas de estudos que apontam para a necessidade de um novo paradigma (teórico acima de tudo), principalmente quando esbarrarem em temas polêmicos e enraizados sobre geração e distribuição de riqueza para os que menos precisam e que passa como um trator sobre a vida da Terra sem menor consciência disso.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Prêmio Amigos e Inimigos da Amazônia

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Hoje, dia do Meio Ambiente (5/jun), organizações ambientalistas e movimentos
sociais divulgam o "Prêmio Amigos e Inimigos da Amazônia". Esse prêmio visa
alertar a população sobre os parlamentares que, segundo as organizações,
apresentam e aprovam medidas contra a preservação da natureza - os inimigos
da Amazônia - e premiar aqueles que apresentam propostas favoráveis à
Amazônia - os amigos.

Veja:

Prêmio Amigo da Amazônia

http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=314278

Prêmio Inimigo da Amazônia

http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=314279

O prêmio apresenta, de forma bem humorada, duas categorias: espécies
nativas, ou seja, os parlamentares da própria região amazônica, e espécies
exóticas, os políticos de outros estados que também se envolvem no debate.
O principal critério para definir os ganhadores do prêmio é a atuação desses
políticos nas medidas mais polêmicas envolvendo a Amazônia, como a Medida
Provisória 458 - sobre a regularização fundiária das ocupações em terras
situadas da União na Amazônia Legal (também conhecido como “MP da
grilagem”), os licenciamentos ambientais e o debate sobre o Código
Florestal.

A lista foi organizada pelas organizações Amigos da Terra - Amazônia
Brasileira, Greenpeace, Instituto Socioambiental, Instituto do Homem e Meio
Ambiente da Amazônia (Imazon), Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais
(FBOMS) e Movimento dos Sem Terra (MST).

Semana contraditória para o meio ambiente

Apesar de esta semana ser exatamente a semana do meio ambiente, são poucos
os motivos a se comemorar. Na noite de quarta-feira, o Senado aprovou uma
medida controversa para a Amazônia, a Medida Provisória (MP) 458. Essa MP é
criticada por praticamente legalizar a grilagem em terras públicas na
Amazônia.

A MP possibilitará que mais de 67 milhões de hectares de terras públicas da
Amazônia sejam doadas ou vendidas sem licitação. Para ambientalistas, essa
medida premia invasores e grileiros, e estimulará ainda mais a derrubada da
floresta.

Na mesma quarta-feira em que o Senado aprovou a MP, o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu a Licença
de Instalação (LI) da usina hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira (RO). A
LI foi concedida sem a aprovação da própria equipe técnica do Ibama, que deu
parecer contrário à construção.

Jirau é extremamente polêmica, por uma série de razões, incluindo a mudança
do local de construção de usina sem novos estudos de impacto ambiental,
impactos negativos para ribeirinhos, povos indígenas, e a biodiversidade e
questões de soberania nacional ligadas à possibilidade de alagamento de
terras da Bolívia. O parecer técnico da equipe do Ibama diz que o consórcio
responsável pela usina não cumpriu todas as condicionantes da licença prévia
de 2007, e a LI foi concedida com mais 54 condicionantes, um número bastante
alto e que mostra o descompasso ambiental do empreendimento.

Além disso, a licença de instalação só foi possível após um acordo
irregular. O ministro do Meio Ambiente Carlos Minc e o governador de
Rondônia Ivo Cassol assinaram um acordo para trocar unidades de conservação
estaduais e nacionais. Cassol disse que só daria a licença estadual caso
essa troca fosse feita, que na prática regulariza invasores e pecuaristas da
Floresta Nacional Bom Futuro - uma unidade de conservação.

Outra obra polêmica, a usina hidrelétrica de Belo Monte, teve um
desenvolvimento diferente nessa semana. A Justiça Federal paralisou o
licenciamento da usina, alegando que faltam documentos cruciais no relatório
de impacto ambiental, como o laudo antropológico que indica se a
hidrelétrica alaga ou não terras indígenas.

FONTE: Eco-Finanças

terça-feira, 9 de junho de 2009

Greenpeace: *HORA DE VOLTAR ÀS RUAS*

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Greenpeace: *HORA DE VOLTAR ÀS RUAS*

Na noite de quarta-feira, o Senado votou a Medida Provisória 458, aprovando-a tal e qual veio da Câmara. Por detrás desse número, o Congresso brasileiro, com o apoio explícito do governo, legalizou a grilagem, privatizando de uma só vez 67 milhões de hectares de terras públicas. Na longa sessão do Senado em que foi votada a MP, se
digladiaram dois Brasis. O da Senadora Katia Abreu, relatora da medida e presidente da Confederação nacional de Agricultura, e o da Senadora Marina Silva.

Katia Abreu, num discurso que precisa ser visto, lido e deglutido, defendeu sem a menor vergonha a legalização das invasões de terras públicas. Disse que o que acontece hoje na Amazônia foi o que aconteceu em São Paulo séculos atrás. Em São Paulo era tudo terra pública, que foi domada, ocupada, titulada. Porque na Amazônia não pode ocorrer o mesmo, perguntou. Marina falou do Brasil que não pode ser repetir, do Brasil que precisa se reinventar, que não pode escorar seu processo de
desenvolvimento nos erros do pasado. Ela apelou aos senadores que a ajudassem a rejeitar a MP, para que não tivesse que puxar o movimento pelo seu veto, constrangendo publicamente o Presidente Lula. Em jogo, estavam extensões de terra equivalentes a 30 vêzes o tamanho de Sergipe.

E aí? E aí a impressão que se tem é que ninguém, a não ser uns poucos, como Marina, ainda parecem se importar com a sorte do meio ambiente no Brasil. Os sinais da degradação estão por toda a parte. A aprovação da MP foi apenas mais um dos golpes que vem sendo desfechados nos últimos anos contra os recursos naturais do país. Às vezes eles se traduzem em ações como o desmatamento da Amazônia, a retomada do programa nuclear e a construção da Usina de Angra III e a decisão do governo de recriar o Ministério da Pesca, cujo único objetivo parece ser o de aumentar a
produção pesqueira, mesmo diante das indicações que nossos mares há muito não estão mais para peixes.

Outras vêzes, os golpes se traduzem pela parálise do governo. Como no caso de de eventos climáticos extremos. Sua incidência tem crescido no Brasil, como mostram as enchentes em Santa Catarina e no Nordeste, e a sêca que assolou recentemente o Rio Grande do Sul. Brasília, no entanto, segue como se tudo isso fôssem apenas problemas que precisam ser combatidos com a defesa civil. Ao contrário dos governos de outros
países, o nosso hesita em acordar para a crise do clima e se comprometer a acabar com o desmatamento, ou a criação de áreas marinhas protegidas, para reduzir as emissões de CO2 e, ao mesmo tempo, mitigar seus efeitos.

É aflitivo ver que a sociedade parece anestesiada diante dessa situação. A sensação é que não há quem se incomode mais com a devastação e a degradação e o fato de que o Brasil, um país que um dia foi lindo e rico em recursos naturais, está embicando para se transformar num país exaurido e feio. O Greenpeace, no entanto, se recusa a capitular. E acredita que há muita gente que não quer fugir dessa luta. Precisamos
mostrar a nossa cara e reagir, protestando junto ao governo e aos formadores de opinião através da internet mas, sobretudo, nas ruas.

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Marcelo Furtado
Greenpeace Brasil
Diretor Executivo
mfurtado@greenpeace.org
+551130351165

Carta aberta ao Presidente da República

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Carta aberta ao Presidente da República

Brasília, 04 de junho de 2009
Exmo. Sr. Luiz Inácio Lula da Silva
DD Presidente da República
Sr. Presidente,

Vivemos ontem um dia histórico para o país e um marco para a Amazônia, com aprovação final, pelo Senado Federal, da Medida Provisória 458/09, que trata sobre a regularização fundiária da região. Os objetivos de estabelecer direitos, promover justiça e inclusão social, aumentar a governança pública e combater a criminalidade, que sei terem sido sua motivação, foram distorcidos e acabaram servindo para reafirmar privilégios e o execrável viés patrimonialista que não perde ocasião de tomar de assalto o bem público, de maneira abusiva e incompatível com as necessidades do País e os interesses da maioria de sua população.

Infelizmente, após anos de esforços contra esse tipo de atitude, temos, agora, uma história feita às avessas, em nome do povo mas contra o povo e contra a preservação da floresta e o compromisso que o Brasil assumiu de reduzir o desmatamento persistente que dilapida um patrimônio nacional e atenta contra os esforços para conter o aquecimento global.

O maior problema da Medida Provisória são as brechas criadas para anistiar aqueles que cometeram o crime de apropriação de grandes extensões de terras públicas e agora se beneficiam de políticas originalmente pensadas para atender apenas aqueles posseiros de boa-fé, cujos direitos são salvaguardados pela Constituição Federal.
Os especialistas que acompanham a questão fundiária na Amazônia afirmam categoricamente que a MP 458, tal como foi aprovada ontem, configura grave retrocesso, como aponta o Procurador Federal do Estado do Pará, Dr. Felício Pontes: “A MP nº 458 vai legitimar a grilagem de terras na Amazônia e vai jogar por
terra quinze anos de intenso trabalho do Ministério Público Federal, no Estado do Pará, no combate à grilagem de terras”.

Essa é a situação que se espraiará por todos os Estados da Amazônia. E em sua esteira virá mais destruição da floresta, pois, como sabemos, a grilagem sempre foi o primeiro passo para a devastação ambiental.

Sendo assim, Senhor Presidente, está em suas mãos evitar um erro de grandes proporções, não condizente com o resgate social promovido pelo seu governo e com o respeito devido a tantos companheiros que deram a vida pela floresta e pelo povo Amazônia. São tantos, Padre Jósimo, Irmã Dorothy, Chico Mendes, Wilson Pinheiro – por quem V. Excia foi um dia enquadrado na Lei de Segurança Nacional – que regaram a
terra da Amazônia com o seu próprio sangue, na esperança de que, um dia, em um governo democrático e popular, pudéssemos separar o joio do trigo.

Em memória deles, Sr. Presidente, e em nome do patrimônio do povo brasileiro e do nosso sonho de um País justo e sustentável, faço este apelo para que vete os dispositivos mais danosos da MP 458, que estão discriminados abaixo.

Permita-me também, Senhor Presidente, e com a mesma ênfase, lhe pedir cuidados especiais na regulamentação da Medida Provisória. É fundamental que o previsto comitê de avaliação da implementação do processo de regularização fundiária seja caracterizado pela independência e tenha assegurada a efetiva participação da sociedade civil, notadamente os segmentos representativos do movimento ambientalista e do movimento popular agrário.

Por tudo isso, Sr. Presidente, peço que Vossa Excelência vete os incisos II e IV do artigo 2º; o artigo 7º e o artigo 13.

Com respeito e a fraternidade que tem nos unido, atenciosamente,
Senadora Marina Silva

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Excelente. O fim da Amazônia é o fim dos brasileiros, é o fim do Brasil. Faltou lembrar que agora, quando envio esse email, isso só é possível porque a Amazônia existe: eu respiro, vivo e falo graças à Amazônia e aos seres vivos. É ela - e os nossos ecossistemas terrestres - que abastece meu corpo de todos os elementos vitais, principalmente a água. É ela que permite um clima apropriado para agricultura. Não viveremos sem a Amazônia, da qual já perdemos um território maior que França e Reino Unido juntos, área destruída que virou um deserto. Essa destruição contínua e incansável pode alcançar o limite de resiliência da floresta e ela entrar em auto-destruição. Estamos como nação caminhando nessa direção ao copiar o modelo dos países ricos, que destruíram quase a totalidade das suas florestas naturais. Precisamos apoiar as novas idéias da economia em busca de um novo paradigma, pois estamos nesse exato momento extremamente ameaçados.

Divulguem. Justificar

Hugo

domingo, 7 de junho de 2009

NOSSO FUTURO COMUM APÓIA CARLOS MINC

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Carlos Minc é ministro do meio ambiente. Seu problema é que na equação dos governos do mundo todo o meio ambiente não é levado em conta em nenhum lugar. Por uma série de mitos, sancionados pelos economistas tradicionais, a natureza é vista como um subconjunto da economia. A realidade é justamente o inverso: a economia é que é um subconjunto da natureza e do planeta. Por causa desse mito, a necessidade de desenvolvimento está inviabilizando a capacidade da Terra continuar sustentando todas as formas de vida na Terra, inclusive a nossa, nesse infinitesimal espaço temporal do planeta. A vida inviabiliza agora, por nossas próprias atitudes, mas isso não será o fim, pois para o planeta e sua história de bilhões de anos, esse fato e nós mesmos não temos relevância alguma.

Somos nós, nossa espécie animal, e as inocentes, que irão perder com isso. Causamos por conta dessa cegueira dos demais ministérios que combatem a visão sistêmica de Minc a maior extinção em massa de espécies animais e vegetais dos últimos 65 milhões de anos. E é muita ingenuidade achar que essa extinção jámais irá se voltar contra os causadores.

O FIM DA AMAZÔNIA é o fim do Brasil e o único ministro do governo Lula que sabe isso e quiçá uma das poucas pessoas do governo inteiro que sabe isso é o Carlos Minc. Minc é uma ovelha na toca dos leões e essa cegueira geral é reforçada pela atitude dos brasileiros, que não cobram do governo iniciativas que mostrem que o Brasil é capaz de fazer algo diferente dos países ricos e populosos, como a China e os Estados Unidos, que destruíram seu meio ambiente todo e que agora sugam a natureza de lugares como o Brasil a custo zero, colocando em risco principalmente a vida dos brasileiros. Estou escrevendo, vivendo, respirando por causa da Amazônia estar ainda funcionando como um organismo vivo. Todos nós dependemos da Amazônia e de outros ecossistemas brasileiros para viver. Não existem mundos artificiais e a única forma de consertar essa confusão toda e esse processo suicida é ensinar a interação homem natureza.

Estamos longe de uma mudança dessa natureza e os esforços de quase todos os homens poderosos desse país vão na direção de jogar todos nós em direção ao precipício, assim como o vôo AF447.

Por isso tudo posto e por todo conhecimento de mais de 50 anos de meio ambiente e economia ecológica que cientistas sérios realmente tentando mostrar caminhos verdadeiros e não os que apenas satisfazem interesses econômicos gananciosos de curto prazo, o NOSSO FUTURO COMUM apóia o ministro Carlos Minc.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Brasil precisa crescer igual à China ou mais...

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Artigo publicado na Agência Estado BROADCAST em 4 de junho de 2009:

O professor Nouriel Roubini disse ao Jornal O Estado de São Paulo no dia 21/05/2009 que o maior desafio do Brasil é elevar a média de crescimento econômico, que oscilou de 4% a 5% nos últimos dois anos, para uma taxa próxima da russa, chinesa e indiana, que variou de 8% a 10% no mesmo período. Essa colocação contém dois erros, um mais trivial e outro, menos.

O mais trivial é algo que os economistas não conseguem responder: como poderemos aumentar infinitamente a produção de carros, casas, cacarecos, todas as construções, armas bélicas, produtos das mais variadas espécies num espaço finito como a Terra? Por acaso não estamos sendo soterrados por essa contínua e exponencial produção e construção de coisas com uma total perda de foco? Uma perda de foco, por exemplo, é o enorme desperdício no consumo de materiais, bens finais e de geração de lixo, que se eliminados de imediato iriam mitigar violentamente o dano que impingimos ao planeta e que colocou nossa espécie animal na rota da extinção. Na verdade, já provocamos hoje a maior extinção global da vida desse planeta dos últimos 65 milhões de anos. Transformar a Terra numa lata de lixo, com a gente dentro, e promover desperdícios incomensuráveis, apenas porque decidimos acreditar que o planeta é inesgotável ou aumenta de tamanho ao longo da sua jornada no universo não tem sido uma decisão muito inteligente. Por quê? Vejamos...

Brasil tem que crescer igual à China...

É muito estranho esse argumento, porque na década de 70, o Brasil em seus estágios iniciais de desenvolvimento, similares aos da China de hoje, apresentou uma taxa de crescimento chinesa acima de 10% por muitos anos (em 1973 crescemos 14%). Agora nosso país está num estágio de desenvolvimento bem acima da China. Ao lado disso, temos a evidência que os países mais maduros possuem crescimento bem menor: EUA, com potencial de 3,0%, Reino Unido 2,5%, Eurolândia 2,0% e Japão 1,5%. Por que só o Brasil deveria crescer a taxas chinesas e os países desenvolvidos não e só eles podem crescer bem menos? Há uma diferença de ritmo de crescimento conforme o estágio de desenvolvimento? As evidências todas elas apontam que sim.

A teoria de crescimento de Robert Solow usa apenas capital produzido pelo homem (fábricas, equipamentos, etc.) e trabalho como fatores explicativos do crescimento. Na verdade Solow descobriu que essa especificação de modelo só explicava 20% do fenômeno de crescimento e o resíduo gerado foi batizado de avanço tecnológico ou resíduo de Solow, algo que fez os matemáticos tremerem, porque o correto seria questionar a especificação do modelo e não batizar tamanho erro com seu próprio nome. Enfim, na China, um desses fatores explicativos do crescimento, o trabalho, deve crescer a uma razão de 30% ao ano, com o estoque de chineses marginalizados sendo absorvido pela migração rural urbana. Já no Brasil e nos países ricos, esse crescimento, ligado a uma dinâmica populacional diferente, é bem menor, nulo ou negativo. Essa é uma boa razão para entender como a transição demográfica e ausência de migrações populacionais explica em grande parte porque a dinâmica do crescimento é menor conforme o país é mais desenvolvido. Conclusão: de acordo com a teoria tradicional de crescimento, só faz sentido falar em crescimento tão elevado quanto o da China se o país estiver em estágios baixos de desenvolvimento.

Crescimento ilimitado e cego como única solução de todos os problemas

Os erros dessa análise não terminam aí, porque Solow e todas as vertentes do pensamento econômico neoclássico ignoram que o crescimento das economias e suas populações ocorre dentro de um sistema não crescente que é o planeta. Não é possível um sistema crescente num sistema não crescente sem atingir um limite (que é imposto pela nossa total dependência em relação à natureza, jamais revogada). O fim do crescimento é inevitável, como revelou já há décadas o grupo Meadows do MIT (financiados pela Fundação Volkswagen, cujos trabalhos jamais foram refutados). Basta lembrar a questão física, como o espaço territorial finito e a questão ecológica, como por exemplo, sem a Amazônia que é continuamente destruída, poucos brasileiros irão sobreviver. E essa não é a nossa única vinculação ecológica com o planeta, por isso somos tão vulneráveis e estamos tão ameaçados nesse século, que pode ser o nosso último.

Adicionamente a isso, por uma sucessão de erros ligados à origem da teoria econômica, os economistas e seus modelos ignoram a importância da natureza e a nossa total dependência material e biológica em relação a ela. Isso é suicida. Em síntese, apesar de tantas evidências, a questão do crescimento é encarada de forma muito simplista, ninguém endereça os descalabros ambientais gerados, nem os excessos, nem os desperdícios e nem a falsa noção de uma eterna escassez, simplesmente porque é assumido na teoria econômica que as necessidades humanas são ilimitadas, embora durante o processo, segundo a FORDHAM University e o New Economics Foundation, quanto mais as economias crescem, piora o atendimento das necessidades humanas e sociais, principalmente nas economias ricas, onde há uma concentração de riqueza crescente e extrema.

O crescimento econômico é a causa do colapso econômico, ambiental, social e planetário que vivemos à nossa volta. É a causa do colapso econômico, porque por ser um fim em sim mesmo e sempre depender de mais crescimento para se justificar, o processo se autoliquida a qualquer momento que as variáveis esquecidas (situação social, situação financeira dos agentes econômicos, perdas não reconhecidas nem fiscalizadas, externalidades ambientais, etc.) se materializam. É a causa do colapso ambiental, porque é fisica, ecologica e biologicamente impossível manter um sistema crescendo – a economia – dentro de um sistema não crescente e finito como o planeta Terra e isso sempre será uma verdade inescapável, não importa que proeza nossas tecnologias serão capazes de realizar. Robert Solow escreveu o capital humano produzido pelo homem é um perfeito substituto da natureza e isso mostra o nível de incompreensão ou talvez cegueira, porque não existe absolutamente nada produzido pelo homem.

É a causa do colapso social porque o sistema econômico atual não tem como objetivo atender as demandas das sociedades e lado a lado com esse crescimento pujante estamos produzindo uma degradação social constrangedora: 4 bilhões de marginalizados, concentração de riqueza recorde principalmente nos países ricos, onde a única renda que teve elevação nos últimos 25 anos foi justamente as do 1% mais ricos, que praticamente dobrou, ao passo que a dos pobres caiu e a da classe média estagnou. A contradição assustadora entre crescimento econômico e resultados sociais, cada vez mais negativos, deveria levar a busca de um novo consenso acerca dessa idéia estranha, ao contrário das palavras de Roubini, onde não sabemos ainda por qual evidência ainda conclui que quanto mais melhor, embora mais esteja virando menos em vários lugares do mundo e principalmente do Brasil, com ecossistemas continentais super ameaçados.

O crescimento econômico é a causa do colapso planetário iminente por conta do comércio global que transfere os exageros ambientais das sociedades mais consumidores (seja por excesso de prosperidade, seja por excesso de populações) para os demais países. Se os países ricos estivessem sozinhos no mundo, sem nenhum território ou país adicional, já teriam entrado em colapso ambiental há muito tempo. A pegada ecológica dos países ricos excede em muitas vezes os seus próprios territórios e não fosse a capacidade de sugar recursos naturais tangíveis (petróleo, metais, etc.) e intangíveis (processos geoquímicos, água, clima, etc.) do resto do mundo, já teriam vivido seu próprio colapso.



Os países que mais cresceram, que foram considerados um sucesso até o dia derradeiro da crise, acabam em falências sistêmicas como as que estamos vendo nas economias maduras. Por tudo isso posto temos motivos de sobra para questionar a enorme convicção sobre essa idéia de acreditar que o crescimento é sempre benigno e sem efeitos colaterais ou externalidades negativas. Em função dos descalabros ambientais em todas as áreas onde a humanidade está presente, seria hora de questionar também a sua possibilidade eterna. Conclusão: é muito complicado defender a idéia de crescimento econômico com base nas teorias econômicas tradicionais e ignorar por completo as evidências contrárias da realidade socioambiental à nossa volta, bem como as críticas já feitas e nunca refutadas pelo grupo Meadows, Manfred Max-Neef, Nicholas Georgescu-Roegen, Herman Daly, David Korten, etc.

Está mais do que na hora de um novo paradigma. Literatura, evidências e idéias sobre isso não faltam. O que falta?

Hugo Penteado

ADEUS GENERAL MOTORS

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*Por Michael Moore
Tradução livre
Original em www.michaelmoore.com

Escrevo na manhã que marca o fim da toda-poderosa General Motors. Quando chegar a noite, o Presidente dos Estados Unidos terá oficializado o ato: a General Motors, como conhecemos, terá chegado ao fim.

Estou sentado aqui na cidade natal da GM, em Flint, Michigan, rodeado por amigos e familiares cheios de ansiedade a respeito do futuro da GM e da cidade. 40% das casas e estabelecimentos comerciais estão abandonados por aqui. Imagine o que seria se você vivesse em uma cidade onde uma a cada duas casas estão vazias. Como você se sentiria?

É com triste ironia que a empresa que inventou a “obsolescência programada” – a decisão de construir carros que se destroem em poucos anos, assim o consumidor tem que comprar outro – tenha se tornado ela mesma obsoleta. Ela se recusou a construir os carros que o público queria, com baixo consumo de combustível, confortáveis e seguros. Ah, e que não caíssem aos pedaços depois de dois anos. A GM lutou aguerridamente contra todas as formas de regulação ambiental e de segurança. Seus executivos arrogantemente ignoraram os “inferiores” carros japoneses e alemães, carros que poderiam se tornar um padrão para os compradores de automóveis. A GM ainda lutou contra o trabalho sindicalizado, demitindo milhares de empregados apenas para “melhorar” sua produtividade a curto prazo.

No começo da década de 80, quando a GM estava obtendo lucros recordes, milhares de postos de trabalho foram movidos para o México e outros países, destruindo as vidas de dezenas de milhares de trabalhadores americanos. A estupidez dessa política foi que, ao eliminar a renda de tantas famílias americanas, eles eliminaram também uma parte dos compradores de carros. A História irá registrar esse momento da mesma maneira que registrou a Linha Maginot francesa, ou o envenenamento do sistema de abastecimento de água dos antigos romanos, que colocaram chumbo em seus aquedutos.
Pois estamos aqui no leito de morte da General Motors. O corpo ainda não está frio e eu (ouso dizer) estou adorando. Não se trata do prazer da vingança contra uma corporação que destruiu a minha cidade natal, trazendo miséria, desestruturação familiar, debilitação física e mental, alcoolismo e dependência por drogas para as pessoas que cresceram junto comigo. Também não sinto prazer sabendo que mais de 21 mil trabalhadores da GM serão informados que eles também perderam o emprego. Mas você, eu e o resto dos EUA somos donos de uma montadora de carros! Eu sei, eu sei – quem no
planeta Terra quer ser dono de uma empresa de carros? Quem entre nós quer ver 50 bilhões de dólares de impostos jogados no ralo para tentar salvar a GM? Vamos ser claros a respeito disso: a única forma de salvar a GM é matar a GM. Salvar a preciosa infra-estrutura industrial, no entanto, é outra conversa e deve ser prioridade máxima.

Se permitirmos o fechamento das fábricas, perceberemos que elas poderiam ter sido responsáveis pela construção dos sistemas de energia alternativos que hoje tanto precisamos. E quando nos dermos conta que a melhor forma de nos transportarmos é sobre bondes, trens-bala e ônibus limpos, como faremos para reconstruir essa infra-estrutura se deixamos morrer toda a nossa capacidade industrial e a mão-de-obra especializada?

Já que a GM será “reorganizada” pelo governo federal e pela corte de falências, aqui vai uma sugestão ao Presidente Obama, para o bem dos trabalhadores, da GM, das comunidades e da nação. 20 anos atrás eu fiz o filme “Roger & Eu”, onde tentava alertar as pessoas sobre o futuro da GM. Se as estruturas de poder e os comentaristas políticos tivessem ouvido, talvez boa parte do que está acontecendo agora pudesse ter sido evitada.

Baseado nesse histórico, solicito que a seguinte ideia seja considerada:

1. Assim como o Presidente Roosevelt fez depois do ataque a Pearl Harbor, o Presidente (Obama) deve dizer à nação que estamos em guerra e que devemos imediatamente converter nossas fábricas de carros em indústrias de transporte coletivo e veículos que usem energia alternativa. Em 1942, depois de alguns meses, a GM interrompeu sua produção de automóveis e adaptou suas linhas de montagem para construir aviões, tanques e metralhadoras. Esta conversão não levou muito tempo. Todos apoiaram. E os nazistas foram derrotados. Estamos agora em um tipo diferente de guerra – uma guerra que nós travamos contra o ecossistema, conduzida pelos nossos líderes corporativos.

Essa guerra tem duas frentes. Uma está em Detroit. Os produtos das fábricas da GM, Ford e Chrysler constituem hoje verdadeiras armas de destruição em massa, responsáveis pelas mudanças climáticas e pelo derretimento da calota polar. As coisas que chamamos de “carros” podem ser divertidas de dirigir, mas se assemelham a adagas espetadas no coração da Mãe Natureza. Continuar a construir essas “coisas” irá levar à ruína a nossa espécie e boa parte do planeta.

A outra frente desta guerra está sendo bancada pela indústria do petróleo contra você e eu. Eles estão comprometidos a extrair todo o petróleo localizado debaixo da terra. Eles sabem que estão “chupando até o caroço”. E como os madeireiros que ficaram milionários no começo do século 20, eles não estão nem aí para as futuras gerações. Os barões do petróleo não estão contando ao público o que sabem ser verdade: que temos apenas mais algumas décadas de petróleo no planeta. À medida que esse dia se aproxima, é bom estar preparado para o surgimento de pessoas dispostas a matar e serem mortas por um litro de gasolina. Agora que o Presidente Obama tem o controle da GM, deve imediatamente converter suas fábricas para novos e necessários usos.

2. Não coloque mais US$30 bilhões nos cofres da GM para que ela continue a fabricar carros. Em vez disso, use este dinheiro para manter a força de trabalho empregada, assim eles poderão começar a construir os meios de transporte do século XXI.

3. Anuncie que teremos trens-bala cruzando o país em cinco anos. O Japão está celebrando o 45o aniversário do seu primeiro trem bala este ano. Agora eles já têm dezenas. A velocidade média: 265km/h. Média de atrasos nos trens: 30 segundos. Eles já têm esses trens há quase 5 décadas e nós não temos sequer um! O fato de já existir tecnologia capaz de nos transportar de Nova Iorque até Los Angeles em 17 horas de trem e que esta tecnologia não tenha sido usada é algo criminoso. Vamos contratar os desempregados para construir linhas de trem por todo o país. De Chicago até Detroit em
menos de 2 horas. De Miami a Washington em menos de 7 horas. Denver a Dallas em 5h30. Isso pode ser feito agora.

4. Comece um programa para instalar linhas de bondes (veículos leves sobre trilhos) em todas as nossas cidades de tamanho médio. Construa esses trens nas fábricas da GM. E contrate mão-de-obra local para instalar e manter esse sistema funcionando.

5. Para as pessoas nas áreas rurais não servidas pelas linhas de bonde, faça com que as fábricas da GM construam ônibus energeticamente eficientes e limpos.

6. Por enquanto, algumas destas fábricas podem produzir carros híbridos ou elétricos (e suas baterias). Levará algum tempo para que as pessoas se acostumem às novas formas de se transportar, então se ainda teremos automóveis, que eles sejam melhores do que os atuais. Podemos começar a construir tudo isso nos próximos meses (não acredite em quem lhe disser que a adaptação das fábricas levará alguns anos – isso não é verdade)

7. Transforme algumas das fábricas abandonadas da GM em espaços para moinhos de vento, painéis solares e outras formas de energia alternativa. Precisamos de milhares de painéis solares imediatamente. E temos mão-de-obra capacitada a construí-los.

8. Dê incentivos fiscais àqueles que usem carros híbridos, ônibus ou trens. Também incentive os que convertem suas casas para usar energia alternativa.

9. Para ajudar a financiar este projeto, coloque US$ 2,00 de imposto em cada galão de gasolina. Isso irá fazer com que mais e mais pessoas convertam seus carros para modelos mais econômicos ou passem a usar as novas linhas de bondes que os antigos fabricantes de automóveis irão construir.

Bom, esse é um começo. Mas por favor, não salve a General Motors, já que uma versão reduzida da companhia não fará nada a não ser construir mais Chevys ou Cadillacs. Isso não é uma solução de longo prazo. Cem anos atrás, os fundadores da General Motors convenceram o mundo a desistir dos cavalos e carroças por uma nova forma de locomoção. Agora é hora de dizermos adeus ao motor a combustão. Parece que ele nos serviu bem durante algum tempo. Nós aproveitamos restaurantes drive-thru. Nós fizemos sexo no banco da frente – e no de trás também. Nós assistimos filmes em cinemas drive-in, fomos à corridas de Nascar ao redor do país e vimos o Oceano Pacífico pela primeira vez através da janela de um carro na Highway e agora isso chegou ao fim. É um novo dia e um novo século. O Presidente – e os sindicatos dos trabalhadores da indústria automobilística – devem aproveitar esse momento para fazer uma bela limonada com este limão amargo e triste.

Ontem, a último sobrevivente do Titanic morreu. Ela escapou da morte certa naquela noite e viveu por mais 97 anos. Nós podemos sobreviver ao nosso Titanic em todas as “Flint – Michigans” deste país. 60% da General Motors é nossa. E eu acho que nós podemos fazer um trabalho melhor.

*o autor é cineasta e escritor.

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