Por favor se comentar deixe um email para contato.
Miriam Leitão.
Em Copenhague, uma jornalista estrangeira quis saber: “É verdade que os três candidatos a presidente estão aqui na Conferência do Clima?” Confirmei, e ela perguntou: “Isso significa que esse assunto no Brasil tem prioridade?” Disse que não era bem isso. A candidatura de Marina Silva levou o presidente Lula a indicar Dilma chefe da delegação, e fez José Serra ir também para Dinamarca.
Essa foi a primeira mudança provocada por Marina.
Dentro do governo, o ministro Carlos Minc vinha brigando para que o Brasil assumisse metas de redução de gases de efeito estufa.
Antes dele, Marina tinha defendido essa posição, mas fora sempre derrotada pela coalizão Casa Civil-Itamaraty e Ciência e Tecnologia. O Brasil tinha ficado preso na posição envelhecida de que só os velhos emissores de gases estufa tinham que ter metas.
A posição nova que o Ministério do Meio Ambiente defendia é que o Brasil tinha virado um grande emissor e que, como a maior parte das nossas emissões vem do desmatamento, a mudança de posição seria antes de tudo boa para nós mesmos.
Além disso, daria ao Brasil prestígio internacional.
A então ministra Dilma Rousseff era uma das pessoas que se opunham às metas. Ela achava que isso impediria o crescimento do Brasil. Os países emergentes, não integrantes do Anexo I do Protocolo de Kyoto, não tinham que se comprometer com meta alguma.
Os defensores de que o Brasil tivesse metas argumentavam que seria apenas uma redução do ritmo de aumento das emissões, uma espécie de corte no mercado futuro dos gases poluentes. Houve um momento, numa reunião para fechar a posição brasileira, em que Minc e Dilma entraram numa discussão lateral. O presidente quase suspende as decisões sobre o assunto. Mas Lula acabou decidindo pela posição de Minc.
Houve um temor dentro do governo de que a agenda ambiental ganhasse muito peso com a
candidatura de Marina e isso tirasse votos de Dilma Rousseff, que sempre foi identificada como adversária da agenda verde.
— Não vou guerrear contra os fatos. Depois que a Marina anunciou sua candidatura ficou mais fácil ganhar as brigas dentro do governo — admitiu Carlos Minc numa conversa na semana passada. Foi para tentar mudar a imagem de antiambientalista que Dilma foi enviada a Copenhague, àquela altura já com as metas de redução de gases de efeito estufa. José Serra, que estava se adiantando na aprovação de uma Lei de Mudanças Climáticas em São Paulo, foi junto com um grupo de indústrias que tem começado a entender que sem a adesão a novos comportamentos na questão ambiental pode
perder mercado internacional.
Foi assim que o Brasil chegou a Copenhague com seus três candidatos. A pouca intimidade de Dilma com a agenda, e o fato de ela ter o temperamento que tem, produziu atritos fortes com assessores do Ministério do Meio Ambiente e aquele famoso ato falho: “O meio ambiente é um obstáculo ao desenvolvimento sustentado”, disse ela numa sala lotada de 700 pessoas em Copenhague.
Na BR-319, que contei aqui rapidamente na coluna dias atrás, a grande briga em torno da estrada foi travada por Minc, que defendia que, em vez de refazer a estrada dos militares, melhor seria se fossem feitas obras que garantissem uma hidrovia.
Para alavancar sua candidatura ao governo do Amazonas, Alfredo Nascimento, então ministro dos Transportes, exigiu que fosse feita a estrada. Numa reunião entre o presidente Lula, a então ministra Dilma Rousseff e Minc, Nascimento disse que sem a estrada não apoiaria a candidatura de Dilma. A propósito: ele acabou perdendo a eleição.
Minc fechou questão. Só aceitaria dar a licença prévia se antes fossem instaladas 28 unidades de conservação e parques nacionais ao longo dos mais de 400 quilômetros que são de floresta.
Ele conta hoje que fez isso pelo exemplo da BR-163.
— Marina deu licença prévia para a BR-163 e só depois negociou as unidades de conservação e parques.
O desmatamento na área triplicou. Eu não a culpo.
Na verdade, aprendi com essa experiência que tinha que garantir antes da licença prévia. Queria a implantação antes. Foi uma briga de um ano e dez meses, mas ganhei. O Exército está lá para começar a implantação da estrutura dos parques — contou Minc.
Com os institutos dando nas pesquisas eleitorais que Marina tinha ficado estagnada na altura dos 10% e que Dilma venceria no primeiro turno, o assunto sumiu da agenda de discussões da campanha.
Naquele discurso de Serra enviado como programa eleitoral havia apenas uma frase sobre meio ambiente; Dilma se limitou a repetir superficialidades sobre a questão. Ela nunca quis limites ambientais aos projetos que alavancou.
O governo aprovou uma lei de mudanças climáticas estranha, mas engavetou na Casa Civil. Nada foi regulamentado.
A votação forte da candidata verde elevou novamente o tema. Só que agora há uma compreensão maior, da imprensa e do país, de que a sustentabilidade não é uma palavra oca, mas sim uma nova forma de estruturar o projeto econômico. O assunto voltou ao debate. Uma das exigências do Partido Verde é de revisão do Código Florestal, contra o qual Marina Silva se bateu fortemente no Senado e perdeu. O Código, ao ser aprovado, teve votos dos dois lados em disputa agora no segundo turno.
Mas a causa ambiental bate de frente principalmente com os métodos Dilma de aprovação de obras.
Ela deixou testemunhos e provas suficientes de que vê com desprezo e obstáculo a agenda ambiental e climática.
Mostrando postagens com marcador dilma roussef. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador dilma roussef. Mostrar todas as postagens
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Trilhas opostas
Por favor se comentar deixe um email para contato.
Essa é a razão pela qual esperamos que a Marina não apóie Dilma e se apoiar, a Dilma terá que dizer porque seus valores não conseguem entender a importância dos ecossistemas sem os quais não estaríamos aqui conversando.
Míriam Leitão - Panorama Econômico O GLOBO 07-10-10
Trilhas opostas
A verdade é que elas nunca se entenderam na hora das decisões. Marina e Dilma são opostos. Os conflitos foram abundantes nos anos em que ambas conviveram no governo. Dilma mandou alagar a Mata Atlântica, aumentou a energia fóssil na matriz, ignorou a colega no PAC, iniciou obras controversas e afastou Marina do Plano Amazônia Sustentável. Dilma esqueceu dos conflitos por conveniência eleitoral, mas os registros ficaram nos jornais, nos relatos de testemunhas, nos documentos oficiais, nas decisões. Dilma fulminou com os depreciativos “minha filha” e “meu filho” todos os então assessores de Marina que a contrariaram. Alguns são da máquina pública. Alguns deixaram o governo depois de conflitos. Em Copenhague, o então ministro Carlos Minc foi destratado.
Hoje, Minc exibe uma amnésia conveniente, mas não pode pedir a quem esteve lá, como eu, que esqueça o que viu e ouviu. Um funcionário, experiente participante de Conferências do Clima, foi fulminado por Dilma numa reunião interna quando fazia sábias ponderações: “Olha menino, isso aqui não é coisa de amador, é para profissional.” A neófita no tema era ela. Ressentimentos podem ser superados. Mais difícil são as consequências de decisões tomadas. A BR-319 foi um dos motivos do embate entre as duas. Liga Manaus a Porto Velho e atravessa 700 km de terra de ninguém. Foi construída pelo governo Médici, mas foi retomada de volta pela floresta. O último ônibus que transitou por lá foi em 1978. O governo quis refazê-la para dar capital a Alfredo Nascimento. Marina queria que fosse criada uma rede de áreas protegidas no entorno para evitar que a rodovia incentivasse a grilagem e o desmatamento. O governo nunca implementou isso e, perto da eleição, contornou a falta de licença ambiental, mandando o Exército iniciar as obras. Hoje, já há focos de grilagem e desmatamento no sul do Amazonas por causa dela. Na BR-163, Marina coordenou, com o então ministro Ciro Gomes, o projeto para fazer da Cuiabá-Santarém uma estrada sustentável. Foram aprovadas unidades de conservação e instalação de postos de fiscalização e vigilância para proteger a região da grilagem, reduzindo o impacto ambiental. Marina ganhou a batalha, mas o governo não pôs em prática o prometido. Foi onde Minc capturou os bois piratas. Quem passou por lá recentemente viu que os bois voltaram. Barra Grande é uma hidrelétrica no Sul do país que foi construída com um EIARima fraudado, aprovado no governo anterior. Nele se dizia que na área a ser alagada havia um capoeirão. Na hora de fazer o lago, descobriu-se que era na verdade uma preciosa área de Mata Atlântica com Araucária. Dilma queria alagar a mata, Marina foi contra. A energia a ser gerada era pequena para tanto estrago e era convalidar um crime. José Dirceu, então chefe da Casa Civil, decidiu estudar um pouco mais o problema. Dilma quando assumiu o cargo mandou alagar a Mata. Nas usinas do Rio Madeira houve um embate amazônico. O presidente Lula debochou dizendo que a briga era por um bagre, mas a briga foi maior e de novo opôs Marina e Dilma, já na Casa Civil, mas sempre elétrica. O MMA queria proteção contra o meio ambiente, peixes, matas, qualidade da água, prevenção contra o mercúrio e estudo do impacto da sedimentação. Dilma assumiu a defesa das empreiteiras, Marina ficou com as ONGs e o Ibama. A então ministra do Meio Ambiente conseguiu impor exigências que aumentam a segurança ambiental. Se forem cumpridas. A diferença irreconciliável foi o PAC. Ele teria que ser feito junto com o Plano Amazônia Sustentável (PAS), para que as obras do século XXI não repetissem os crimes ambientais do governo militar. Dilma defendeu que o PAS fosse entregue ao então ministro Mangabeira Unger. O presidente Lula comunicou a decisão numa reunião ministerial, dizendo que Marina não poderia cuidar do Plano porque não era isenta. Foi o sinal verde para que o PAC passasse trator sobre os limites ambientais. Marina saiu do governo. O substituto Carlos Minc brigou algumas brigas, mas perdeu as principais. Resistiu à licença para Belo Monte. As pressões da ministra Dilma foram explícitas e estão documentadas. Os diretores de licenciamento e energia do Ibama saíram. Os novos aceitaram a imposição de prazo numa reunião na Casa Civil no dia 7 de janeiro, e deram a licença em primeiro de fevereiro, apesar de os funcionários terem escrito que não houve tempo para avaliar os riscos ambientais. Tive acesso a documentos oficiais e publiquei na coluna “Ossos do Ofício”, em 17 de abril. Vejam em meu blog. Os riscos ambientais e os fiscais de Belo Monte são imensos, mas ela é uma das obras do Plano de Aceleração da Candidatura de Dilma Rousseff. Na reunião com alguns dos líderes eleitos da sua base, divulgada pelo Blog do Noblat, Jacques Wagner disse que as trilhas de Marina e Dilma sempre foram próximas. Quem viu os fatos, e rejeita o modelo stalinista de reescrever a história, sabe que as trilhas sempre seguiram direções opostas.
Essa é a razão pela qual esperamos que a Marina não apóie Dilma e se apoiar, a Dilma terá que dizer porque seus valores não conseguem entender a importância dos ecossistemas sem os quais não estaríamos aqui conversando.
Míriam Leitão - Panorama Econômico O GLOBO 07-10-10
Trilhas opostas
A verdade é que elas nunca se entenderam na hora das decisões. Marina e Dilma são opostos. Os conflitos foram abundantes nos anos em que ambas conviveram no governo. Dilma mandou alagar a Mata Atlântica, aumentou a energia fóssil na matriz, ignorou a colega no PAC, iniciou obras controversas e afastou Marina do Plano Amazônia Sustentável. Dilma esqueceu dos conflitos por conveniência eleitoral, mas os registros ficaram nos jornais, nos relatos de testemunhas, nos documentos oficiais, nas decisões. Dilma fulminou com os depreciativos “minha filha” e “meu filho” todos os então assessores de Marina que a contrariaram. Alguns são da máquina pública. Alguns deixaram o governo depois de conflitos. Em Copenhague, o então ministro Carlos Minc foi destratado.
Hoje, Minc exibe uma amnésia conveniente, mas não pode pedir a quem esteve lá, como eu, que esqueça o que viu e ouviu. Um funcionário, experiente participante de Conferências do Clima, foi fulminado por Dilma numa reunião interna quando fazia sábias ponderações: “Olha menino, isso aqui não é coisa de amador, é para profissional.” A neófita no tema era ela. Ressentimentos podem ser superados. Mais difícil são as consequências de decisões tomadas. A BR-319 foi um dos motivos do embate entre as duas. Liga Manaus a Porto Velho e atravessa 700 km de terra de ninguém. Foi construída pelo governo Médici, mas foi retomada de volta pela floresta. O último ônibus que transitou por lá foi em 1978. O governo quis refazê-la para dar capital a Alfredo Nascimento. Marina queria que fosse criada uma rede de áreas protegidas no entorno para evitar que a rodovia incentivasse a grilagem e o desmatamento. O governo nunca implementou isso e, perto da eleição, contornou a falta de licença ambiental, mandando o Exército iniciar as obras. Hoje, já há focos de grilagem e desmatamento no sul do Amazonas por causa dela. Na BR-163, Marina coordenou, com o então ministro Ciro Gomes, o projeto para fazer da Cuiabá-Santarém uma estrada sustentável. Foram aprovadas unidades de conservação e instalação de postos de fiscalização e vigilância para proteger a região da grilagem, reduzindo o impacto ambiental. Marina ganhou a batalha, mas o governo não pôs em prática o prometido. Foi onde Minc capturou os bois piratas. Quem passou por lá recentemente viu que os bois voltaram. Barra Grande é uma hidrelétrica no Sul do país que foi construída com um EIARima fraudado, aprovado no governo anterior. Nele se dizia que na área a ser alagada havia um capoeirão. Na hora de fazer o lago, descobriu-se que era na verdade uma preciosa área de Mata Atlântica com Araucária. Dilma queria alagar a mata, Marina foi contra. A energia a ser gerada era pequena para tanto estrago e era convalidar um crime. José Dirceu, então chefe da Casa Civil, decidiu estudar um pouco mais o problema. Dilma quando assumiu o cargo mandou alagar a Mata. Nas usinas do Rio Madeira houve um embate amazônico. O presidente Lula debochou dizendo que a briga era por um bagre, mas a briga foi maior e de novo opôs Marina e Dilma, já na Casa Civil, mas sempre elétrica. O MMA queria proteção contra o meio ambiente, peixes, matas, qualidade da água, prevenção contra o mercúrio e estudo do impacto da sedimentação. Dilma assumiu a defesa das empreiteiras, Marina ficou com as ONGs e o Ibama. A então ministra do Meio Ambiente conseguiu impor exigências que aumentam a segurança ambiental. Se forem cumpridas. A diferença irreconciliável foi o PAC. Ele teria que ser feito junto com o Plano Amazônia Sustentável (PAS), para que as obras do século XXI não repetissem os crimes ambientais do governo militar. Dilma defendeu que o PAS fosse entregue ao então ministro Mangabeira Unger. O presidente Lula comunicou a decisão numa reunião ministerial, dizendo que Marina não poderia cuidar do Plano porque não era isenta. Foi o sinal verde para que o PAC passasse trator sobre os limites ambientais. Marina saiu do governo. O substituto Carlos Minc brigou algumas brigas, mas perdeu as principais. Resistiu à licença para Belo Monte. As pressões da ministra Dilma foram explícitas e estão documentadas. Os diretores de licenciamento e energia do Ibama saíram. Os novos aceitaram a imposição de prazo numa reunião na Casa Civil no dia 7 de janeiro, e deram a licença em primeiro de fevereiro, apesar de os funcionários terem escrito que não houve tempo para avaliar os riscos ambientais. Tive acesso a documentos oficiais e publiquei na coluna “Ossos do Ofício”, em 17 de abril. Vejam em meu blog. Os riscos ambientais e os fiscais de Belo Monte são imensos, mas ela é uma das obras do Plano de Aceleração da Candidatura de Dilma Rousseff. Na reunião com alguns dos líderes eleitos da sua base, divulgada pelo Blog do Noblat, Jacques Wagner disse que as trilhas de Marina e Dilma sempre foram próximas. Quem viu os fatos, e rejeita o modelo stalinista de reescrever a história, sabe que as trilhas sempre seguiram direções opostas.
terça-feira, 20 de abril de 2010
Carta Aberta à Dilma Roussef
Por favor se comentar deixe um email para contato.
Prezada Exma. Sra. Ministra Dilma Roussef,
Sem o Cerrado, o aquífero Guarani morre e sem ele a agricultura morre. Não tem como mirar em uma só variável e uma só métrica, pois o problema é sistêmico e o desastre ambiental global não é causado apenas pelo aquecimento global e sim por uma série de riscos e pressões em várias frentes e por uma visão de mundo que ignora a contribuição da natureza e seus serviços para tudo existir.
O Guarani já está bem comprometido com contaminação, contas futuras que deixamos de herança para todos os netos de todos os netos. Eu não sou especialista, posso achar alguém na minha rede de contatos que possuo para detalhar mais isso, mas a situação do Cerrado e do Guarani é assustadora. Estive com um especialista em Bauru, um cientista, que falava comovido sobre o assunto. Como ele há vários, jamais ouvidos. Eles precisam ser ouvidos.
Os economistas precisam corrigir seu paradigma, porque essa ciência possui erros epistemológicos seríssimos identificados há mais de 60 anos. Os economistas acreditam que o sistema econômico é totalmente desvinculado do meio ambiente e que a economia pode ser maior que o planeta. Ou que o planeta é um subsistema da economia e que todos os processos econômicos, além de reversíveis, são neutros para o meio ambiente. Ou que os serviços ecológicos e recursos naturais, mesmo os tangíveis, como petróleo, metais e água, são desprezíveis e irrelevantes para explicar o crescimento econômico - e prevêem preço zero para eles, uma distorção de mercado que só será corrigida por uma mudança geral de valores que, mesmo entre os mais despertos, está ainda longe de acontecer. O nosso atual conjunto de valores determina que quanto mais viável economicamente for uma atividade, menos viável ambientalmente ela é. Estamos perdendo muito com isso.
Esses mitos de separação da economia (e de atividades como agricultura) e meio ambiente andam a todo vapor e a rota de colisão com a Terra, cuja resposta pode ser o fim da nossa espécie animal, segue infrene. Os ecossistemas não estão aí apenas para serem lugares de expansão agrícola e econômica, eles fornecem os 20 serviços ecológicos sem os quais não estaríamos vivos, são reguladores químicos do solo, do ar e da água, sem os quais a Terra seria uma tocha incandescente. É um equilíbrio dinâmico e vivo. Como economista de formação e atuante estou profundamente convencido da necessidade de conhecermos as demais ciências, as puras, como química, física e matemática, para depois entendermos o que podemos fazer. Precisamos inclusive discutir essa conta ambiental com a comunidade internacional, porque não há um só exemplo no mundo de desenvolvimento econômico que não tenha devastado os ecossistemas e não tenha transbordado essa destruição para além de suas fronteiras, via comércio global. Esse processo já causou a maior e mais veloz extinção da vida em massa na Terra dos últimos 65 milhões de anos. É muita ingenuidade achar que essa extinção jamais irá se voltar contra os causadores.
No futuro não haverão vencedores, posto que todos nós estamos no mesmo planeta e pertencemos a mesma espécie animal, numa teia viva onde todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos. A tarefa é árdua, parabéns pelo seu trabalho e preocupação com o futuro.
Atenciosamente,
Hugo Penteado
Prezada Exma. Sra. Ministra Dilma Roussef,
Sem o Cerrado, o aquífero Guarani morre e sem ele a agricultura morre. Não tem como mirar em uma só variável e uma só métrica, pois o problema é sistêmico e o desastre ambiental global não é causado apenas pelo aquecimento global e sim por uma série de riscos e pressões em várias frentes e por uma visão de mundo que ignora a contribuição da natureza e seus serviços para tudo existir.
O Guarani já está bem comprometido com contaminação, contas futuras que deixamos de herança para todos os netos de todos os netos. Eu não sou especialista, posso achar alguém na minha rede de contatos que possuo para detalhar mais isso, mas a situação do Cerrado e do Guarani é assustadora. Estive com um especialista em Bauru, um cientista, que falava comovido sobre o assunto. Como ele há vários, jamais ouvidos. Eles precisam ser ouvidos.
Os economistas precisam corrigir seu paradigma, porque essa ciência possui erros epistemológicos seríssimos identificados há mais de 60 anos. Os economistas acreditam que o sistema econômico é totalmente desvinculado do meio ambiente e que a economia pode ser maior que o planeta. Ou que o planeta é um subsistema da economia e que todos os processos econômicos, além de reversíveis, são neutros para o meio ambiente. Ou que os serviços ecológicos e recursos naturais, mesmo os tangíveis, como petróleo, metais e água, são desprezíveis e irrelevantes para explicar o crescimento econômico - e prevêem preço zero para eles, uma distorção de mercado que só será corrigida por uma mudança geral de valores que, mesmo entre os mais despertos, está ainda longe de acontecer. O nosso atual conjunto de valores determina que quanto mais viável economicamente for uma atividade, menos viável ambientalmente ela é. Estamos perdendo muito com isso.
Esses mitos de separação da economia (e de atividades como agricultura) e meio ambiente andam a todo vapor e a rota de colisão com a Terra, cuja resposta pode ser o fim da nossa espécie animal, segue infrene. Os ecossistemas não estão aí apenas para serem lugares de expansão agrícola e econômica, eles fornecem os 20 serviços ecológicos sem os quais não estaríamos vivos, são reguladores químicos do solo, do ar e da água, sem os quais a Terra seria uma tocha incandescente. É um equilíbrio dinâmico e vivo. Como economista de formação e atuante estou profundamente convencido da necessidade de conhecermos as demais ciências, as puras, como química, física e matemática, para depois entendermos o que podemos fazer. Precisamos inclusive discutir essa conta ambiental com a comunidade internacional, porque não há um só exemplo no mundo de desenvolvimento econômico que não tenha devastado os ecossistemas e não tenha transbordado essa destruição para além de suas fronteiras, via comércio global. Esse processo já causou a maior e mais veloz extinção da vida em massa na Terra dos últimos 65 milhões de anos. É muita ingenuidade achar que essa extinção jamais irá se voltar contra os causadores.
No futuro não haverão vencedores, posto que todos nós estamos no mesmo planeta e pertencemos a mesma espécie animal, numa teia viva onde todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos. A tarefa é árdua, parabéns pelo seu trabalho e preocupação com o futuro.
Atenciosamente,
Hugo Penteado
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Carta aberta a Dilma Roussef
Por favor se comentar deixe um email para contato.
Prezada Exma. Sra. Ministra Dilma Roussef,
Atenciosamente,
Hugo Penteado
Prezada Exma. Sra. Ministra Dilma Roussef,
Sem o Cerrado, o aquífero Guarani morre e sem ele a agricultura morre. Não tem como mirar em uma só variável e uma só métrica, pois o problema é sistêmico e o desastre ambiental global não é causado apenas pelo aquecimento global e sim por uma série de riscos e pressões em várias frentes e por uma visão de mundo que ignora a contribuição da natureza e seus serviços para tudo existir.
O Guarani já está bem comprometido com contaminação, contas futuras que deixamos de herança para todos os netos de todos os netos. Eu não sou especialista, mas a situação do Cerrado e do Guarani é assustadora. Estive com um especialista em Bauru, um cientista, que falava comovido sobre o assunto. Como ele há vários, jamais ouvidos. Eles precisam ser ouvidos.
Os economistas precisam corrigir seu paradigma, porque essa ciência possui erros epistemológicos seríssimos identificados há mais de 60 anos. Os economistas acreditam que o sistema econômico é totalmente desvinculado do meio ambiente e que a economia pode ser maior que o planeta. Ou que o planeta é um subsistema da economia e que todos os processos econômicos, além de reversíveis, são neutros para o meio ambiente. Ou que os serviços ecológicos e recursos naturais, mesmo os tangíveis, como petróleo, metais e água, são desprezíveis e irrelevantes para explicar o crescimento econômico - e prevêem preço zero para eles, uma distorção de mercado que só será corrigida por uma mudança geral de valores que, mesmo entre os mais despertos, está ainda longe de acontecer. O nosso atual conjunto de valores determina que quanto mais viável economicamente for uma atividade, menos viável ambientalmente ela é. Estamos perdendo muito com isso.
Esses mitos de separação da economia (e de atividades como agricultura) e meio ambiente andam a todo vapor e a rota de colisão com a Terra, cuja resposta pode ser o fim da nossa espécie animal, segue infrene. Os ecossistemas não estão aí apenas para serem lugares de expansão agrícola e econômica, eles fornecem os 20 serviços ecológicos sem os quais não estaríamos vivos, são reguladores químicos do solo, do ar e da água, sem os quais a Terra seria uma tocha incandescente. É um equilíbrio dinâmico e vivo. Como economista de formação e atuante estou profundamente convencido da necessidade de conhecermos as demais ciências, as puras, como química, física e matemática, para depois entendermos o que podemos fazer. Precisamos inclusive discutir essa conta ambiental com a comunidade internacional, porque não há um só exemplo no mundo de desenvolvimento econômico que não tenha devastado os ecossistemas e não tenha transbordado essa destruição para além de suas fronteiras, via comércio global. Esse processo já causou a maior e mais veloz extinção da vida em massa na Terra dos últimos 65 milhões de anos. É muita ingenuidade achar que essa extinção jamais irá se voltar contra os causadores.
No futuro não haverão vencedores, posto que todos nós estamos no mesmo planeta e pertencemos a mesma espécie animal, numa teia viva onde todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos. A tarefa é árdua, parabéns pelo seu trabalho e preocupação com o futuro.
O Guarani já está bem comprometido com contaminação, contas futuras que deixamos de herança para todos os netos de todos os netos. Eu não sou especialista, mas a situação do Cerrado e do Guarani é assustadora. Estive com um especialista em Bauru, um cientista, que falava comovido sobre o assunto. Como ele há vários, jamais ouvidos. Eles precisam ser ouvidos.
Os economistas precisam corrigir seu paradigma, porque essa ciência possui erros epistemológicos seríssimos identificados há mais de 60 anos. Os economistas acreditam que o sistema econômico é totalmente desvinculado do meio ambiente e que a economia pode ser maior que o planeta. Ou que o planeta é um subsistema da economia e que todos os processos econômicos, além de reversíveis, são neutros para o meio ambiente. Ou que os serviços ecológicos e recursos naturais, mesmo os tangíveis, como petróleo, metais e água, são desprezíveis e irrelevantes para explicar o crescimento econômico - e prevêem preço zero para eles, uma distorção de mercado que só será corrigida por uma mudança geral de valores que, mesmo entre os mais despertos, está ainda longe de acontecer. O nosso atual conjunto de valores determina que quanto mais viável economicamente for uma atividade, menos viável ambientalmente ela é. Estamos perdendo muito com isso.
Esses mitos de separação da economia (e de atividades como agricultura) e meio ambiente andam a todo vapor e a rota de colisão com a Terra, cuja resposta pode ser o fim da nossa espécie animal, segue infrene. Os ecossistemas não estão aí apenas para serem lugares de expansão agrícola e econômica, eles fornecem os 20 serviços ecológicos sem os quais não estaríamos vivos, são reguladores químicos do solo, do ar e da água, sem os quais a Terra seria uma tocha incandescente. É um equilíbrio dinâmico e vivo. Como economista de formação e atuante estou profundamente convencido da necessidade de conhecermos as demais ciências, as puras, como química, física e matemática, para depois entendermos o que podemos fazer. Precisamos inclusive discutir essa conta ambiental com a comunidade internacional, porque não há um só exemplo no mundo de desenvolvimento econômico que não tenha devastado os ecossistemas e não tenha transbordado essa destruição para além de suas fronteiras, via comércio global. Esse processo já causou a maior e mais veloz extinção da vida em massa na Terra dos últimos 65 milhões de anos. É muita ingenuidade achar que essa extinção jamais irá se voltar contra os causadores.
No futuro não haverão vencedores, posto que todos nós estamos no mesmo planeta e pertencemos a mesma espécie animal, numa teia viva onde todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos. A tarefa é árdua, parabéns pelo seu trabalho e preocupação com o futuro.
Atenciosamente,
Hugo Penteado
Assinar:
Postagens (Atom)