terça-feira, 7 de dezembro de 2010
A embriaguez da ciência econômica
Paul Krugman
Quando leio artigos tratando de Novas Ideias para a Economia, costumo sentir um certo déjà vu: já não passamos por tudo isso antes? Justin Fox se encarrega do trabalho braçal da pesquisa e descobre um artigo de 1988 a respeito de Novas Ideias que, com pequenos ajustes, poderiam muito bem ter sido propostas nos dias de hoje.
Neste caso, entretanto, o problema não está nas novas ideias de 1988, ainda vendidas como novidade no ano de 2010: em particular, Shiller tinha razão quanto à irracionalidade do mercado naquela época, e sua conclusão continua válida até hoje – exemplificada pelas duas bolhas cuja formação ele soube apontar corretamente.
Mas a pergunta que deveríamos fazer é: Por que os economistas profissionais têm resistido tanto em aceitar o óbvio?
Eu me lembro de 1988; 1988 foi um grande amigo meu. Quando 1988 chegou, o fracasso da teoria do equilíbrio no ciclo econômico já tinha se tornado óbvio. Shiller já tinha demonstrado contundentemente que o preço dos ativos era volátil demais para ser explicado pelos fundamentos da economia, e a quebra do mercado em 1987 consistiu numa lição objetiva sobre o tema do pânico. Vale lembrar que a bagunça dos empréstimos e poupanças ilustrava os problemas de uma regulação financeira inadequada.
E nada ocorreu. A teoria do ciclo econômico real continuou a prosperar, fortalecendo seu controle sobre as publicações do setor. As finanças comportamentais permaneceram na margem. Os discípulos do equilíbrio não aprenderam nada nem esqueceram coisa nenhuma; e quando chegamos a 2008, os devastadores efeitos do tempo reduziram muito, em relação a 20 anos atrás, o número daqueles que de fato compreendiam os choques de demanda.
Resumindo: nosso problema não está na falta de novas ideias engenhosas, e sim na recusa de um grande número de economistas em reconhecer o fato de que algumas de suas teorias favoritas simplesmente não funcionam – fato que se tornou óbvio há décadas.
A estupidez da ciência econômica
Krugman deveria ler Roegen (Krugman nunca respondeu um email meu, tentem escrever para ele, pkrugman@nyt.com). Herman Daly também o provocou num artigo histórico com as proposições do Roegen. Ele respondeu, mas melhor teria não ter respondido, pois se expôs ao ridículo. O que ele reclama dos seus pares, aplica-se a ele. Essa pseudociência –Economia – é uma cujo respeito entre os pares é o pior possível. Roegen também chamou atenção sobre isso.
Sua postura em muito se assemelha ao debate trazido à tona entre George Monbiot e uns farsantes, cujos nomes não merecem ser lembrados. Um deles disse em seu livro que todos deveriam ter a coragem de assumir um erro. Monbiot expôs um deles: segundo esse farsante, o banimento global do DDT, que nunca ocorreu, principalmente para questões de saúde, foi responsável pela morte de milhões de crianças. Ele jamais aceitou ter errado. Suas respostas também o expuseram ao ridículo.
O mesmo vemos em Krugman, com a sua teoria econômica enxovalhada na teoria neoclássica. Basta ler The Return of Depression Economics e sua enorme apologia da expansão fiscal e monetária para criar demanda, como se a oferta brotasse do nada e não houvesse restrições físicas e planetárias. Ou sua resposta ridícula e ridicularizada de forma perfeita por Herman Daly sobre seu erro de considerar os recursos produzidos pelo homem perfeitos substitutos da natureza. Andrei Cechin comenta isso no livro Economia do Meio Ambiente organizado por Peter May, um dos artigos mais interessantes do livro.
Krugman está entre os que acreditam que a economia pode ser maior que o planeta. Pior, ele vê o planeta como um subsistema da economia.
Sua visão de mundo – que é dominante – já causou a maior extinção da vida na Terra dos últimos 65 milhões de anos. Assusta, porque nada mudou e o projeto IIRSA (o primo-monstro do PAC no Brasil) está aí para chegar e destruir o pouco que resta do balanço natural da América do Sul, ao tentar transformar o nosso continente numa plataforma exportadora de produtos ao maior mercado consumidor “potencial” da Terra, a Ásia. Resta saber como uma economia como a China conseguirá a taxas de 8% ao ano dobrar em pouco tempo, sem que os problemas ambientais não se transforme em uma restrição e retrocesso. Jacques Cousteau dizia que a maior razão do desastre ambiental era o enorme aumento da população. Assunto esquecido, vivemos como pragas na Terra, o artigo “The Planet of Weeds” escolheu quatro pragas por características comuns: rato, pombo, barata e seres humanos. Nosso comportamento virótico só tem uma lástima: não somos capazes de matar o hospedeiro. Mal fazemos mossa ao planeta. O Titanic planetário não tem bote salva-vidas, outra questão eternamente esquecida.
Reza uma lenda que um país pobre exportava tudo que produzia, até o dia no qual um acidente natural bloqueou a saída das suas exportações. Desse momento em diante, a população tornou-se feliz, menos explorada e com uma produção que realmente lhes interessava... Pena que seja lenda...
Hugo Penteado
terça-feira, 22 de junho de 2010
Mais crescimento
quarta-feira, 19 de maio de 2010
LIMITES AO CRESCIMENTO ECONÔMICO
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Sobre "Nobel de Economia"
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Fluxo versus estoque
O planeta é finito, não comporta crescimento contínuo de estruturas vivas ou não e nem comporta esfacelamento ou interferências contínuas e exponencialmente crescentes nos ecossistemas e nos serviços ecológicos. Por isso a humanidade está em risco de extinção pela primeira vez na sua história. Antes houve sim colapsos locais, mas dessa vez, pela explosão de coisas e pessoas e pelo apego no crescimento contínuo dessas estruturas, atingimos o limite. Os países ricos só conseguiram atingir o nível estelar de consumo da sua sociedade porque fizeram isso sozinhos. Eles só conseguiram manter fluxos da natureza contiuamente sendo destruída para dentro de suas fronteiras através do comércio global onde o meio ambiente, como tudo na economia, segue gratuito e invisível trabalhando por todos nós. Se o resto do mundo for atrás da mesma idéia falsa que não existe o suficiente, estamos fritos. Se não focarmos na enorme concentração de riqueza que vem a reboque desse modelo, sem falar nas guerras, nas pressões políticas, etc., estamos realmente fritos. As empresas todas deveriam parar de focar em engordar as riquezas dos seus gordos donos e a sociedade em redor deveria parar de endeusar essa opulência, porque a nossa maior desgraça não são os ricos, os políticos e as celebridades. Nossa maior desgraça é nossa admiração por eles.
Cada um dos abastados pode aceitar que não precisa de mais e que passou da hora de devolver os recursos que tirou ao planeta e à sociedade. Tudo que existe à nossa volta só existe porque adotamos um modelo econômico onde as transformações são qualityless (não geram mudanças qualitativas no meio ambiente). Com isso as externalidades são invisíveis e se fossem visíveis ou incluídas, não sobraria quase nada daquilo que chamamos de melhora de vida, bem estar e prosperidade. Ficaria muito claro que tudo não passa de um saque planetário, de uma enorme injustiça social e de uma horrível submissão total das pessoas a um sistema que tirou de cada um de nós qualquer possibilidade de se sentir feliz e útil aos outros.
Parecemos bem intencionados, tentamos aparar as arestas, mas a sensação de perda é hoje muito grande hoje, parece que não temos mais nada a perder. Esse problema é da humanidade toda, não dá mais para trabalhar a idéia de salvadores ou de capitães resolvendo esses problemas. Todos são e serão igualmente importantes e essa é a questão principal: inclusão de todos. As estruturas empresariais atuais cuspindo produtos e coisas e construções a cada minuto, um carro a mais a cada segundo, isso dá calafrios. A cegueira é tanta ao ponto de ninguém se incomodar com o soterramento das nossas condições de vida, da paz, tudo com enorme falta de justiça e equidade, elementos que em muitos momentos da história humana norteou as lutas e que agora acabaram nesse teatro mal intencionado à nossa volta.
O poder foi feito para servir e não para se servir dele. Deve ser horrível estar na pele dessas pessoas que excluem a humanidade da sua própria história. Não dá para imaginar o karma que construíram para si, mas tudo indica que só descobrirão isso tarde demais.
Hugo Penteado
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Um economista tradicional jamais responderá uma questão de sustentabilidade
Hugo Penteado
domingo, 7 de junho de 2009
NOSSO FUTURO COMUM APÓIA CARLOS MINC
Carlos Minc é ministro do meio ambiente. Seu problema é que na equação dos governos do mundo todo o meio ambiente não é levado em conta em nenhum lugar. Por uma série de mitos, sancionados pelos economistas tradicionais, a natureza é vista como um subconjunto da economia. A realidade é justamente o inverso: a economia é que é um subconjunto da natureza e do planeta. Por causa desse mito, a necessidade de desenvolvimento está inviabilizando a capacidade da Terra continuar sustentando todas as formas de vida na Terra, inclusive a nossa, nesse infinitesimal espaço temporal do planeta. A vida inviabiliza agora, por nossas próprias atitudes, mas isso não será o fim, pois para o planeta e sua história de bilhões de anos, esse fato e nós mesmos não temos relevância alguma.
Somos nós, nossa espécie animal, e as inocentes, que irão perder com isso. Causamos por conta dessa cegueira dos demais ministérios que combatem a visão sistêmica de Minc a maior extinção em massa de espécies animais e vegetais dos últimos 65 milhões de anos. E é muita ingenuidade achar que essa extinção jámais irá se voltar contra os causadores.
O FIM DA AMAZÔNIA é o fim do Brasil e o único ministro do governo Lula que sabe isso e quiçá uma das poucas pessoas do governo inteiro que sabe isso é o Carlos Minc. Minc é uma ovelha na toca dos leões e essa cegueira geral é reforçada pela atitude dos brasileiros, que não cobram do governo iniciativas que mostrem que o Brasil é capaz de fazer algo diferente dos países ricos e populosos, como a China e os Estados Unidos, que destruíram seu meio ambiente todo e que agora sugam a natureza de lugares como o Brasil a custo zero, colocando em risco principalmente a vida dos brasileiros. Estou escrevendo, vivendo, respirando por causa da Amazônia estar ainda funcionando como um organismo vivo. Todos nós dependemos da Amazônia e de outros ecossistemas brasileiros para viver. Não existem mundos artificiais e a única forma de consertar essa confusão toda e esse processo suicida é ensinar a interação homem natureza.
Estamos longe de uma mudança dessa natureza e os esforços de quase todos os homens poderosos desse país vão na direção de jogar todos nós em direção ao precipício, assim como o vôo AF447.
Por isso tudo posto e por todo conhecimento de mais de 50 anos de meio ambiente e economia ecológica que cientistas sérios realmente tentando mostrar caminhos verdadeiros e não os que apenas satisfazem interesses econômicos gananciosos de curto prazo, o NOSSO FUTURO COMUM apóia o ministro Carlos Minc.
quarta-feira, 18 de março de 2009
Sinais da crise planetária
Estou doente, com gastrite em casa, enjoado até dizer chega, gastrite que eu adquiri tomando café demais. Tomei café demais por nervoso, talvez. É tudo, a crise econômica e a cegueira à nossa volta, tudo me aflige. O dia de ontem enquanto deitado na cama me sentia como se estivesse nauseado num navio, vi a chuva forte, protegido, mas rezando baixinho, sabia que não era assim que as coisas estavam lá fora.
Acordei nauseabundo ainda, com a gastrite e assisti quatro vídeos no uol. Abaixo os endereços dos vídeos e os comentários que fiz.
Chuva em São Paulo: vídeo 1, vídeo 2 e vídeo 3
Isso mostra que o homem não manda na natureza, é limitado por ela, dependente do planeta e da natureza e agora, pela sua alucinação coletiva, irá colher os piores desastres enquanto os governos do Brasil e do mundo todo insistem no erro de manter a idéia de crescimento econômico infinito como se isso fosse feito pelo bem da coletividade, sem prestar atenção que o crescimento econômico é um mecanismo de diferenciação social e opressão que deixa só os ricos mais ricos e a natureza cada vez mais vingativa. É hora de abolir essas idéias retrógradas e voltar vários passos para trás, se quisermos salvar parte da humanidade. Do jeito que vai, com mais carros, mais construções, mais pessoas, sempre aumentando num espaço finito, um dia São Paulo não vai parar apenas por um dia, vai parar de vez. Espero que a gente possa mudar nossa consciência antes disso. Hugo Penteado
Frangos morrem por falta de energia: vídeo 4
Por isso parei de comer carne, a crueldade a qual são submetidas as criaturas de Deus, que não sei porque razão achamos que não sentem dor e podem ser "usadas por nós" é um dos maiores horrores que existem na nossa civilização atual. O frango industrializado, confinado, cheio de hormônios é visto como causador de doenças e nas mulheres câncer de mama. Se ao invés de comermos tanta carne, comêssemos mais vegetais, a oferta de alimentos aumentaria muitas vezes, porque não comemos a vida dos bichos, comemos a sua morte. A vida horrenda, aterrorizante e karmática que eles viveram ficaram para eles. E nós não temos falta de alimentos, temos excesso de gente, ainda alguém vai ganhar um prêmio nobel ao lembrar que o território dos países é constante e não aumenta de tamanho. Porque então podemos aumentar a produção de coisas, pessoas, bens, casas, carros, infinitamente se o espaço é finito? E pelo bem de quem isso é feito? Nosso? Hugo Penteado
sábado, 14 de março de 2009
O fracasso da economia acadêmica
O fracasso da economia acadêmica
Antonio Delfim Netto
10/03/2009
Em 1609, Galileu Galilei, (1564-1642) depois de ter aperfeiçoado um instrumento construído um pouco antes por óticos holandeses, produziu uma luneta que chamou de "Perspicillum". Com ela deu origem a uma revolução na astronomia. Por isso, a União Astronômica Internacional e a Unesco elegeram 2009 como o Ano Internacional da Astronomia. Qual é a profunda importância de Galileu? A resposta é simples, como nos informa o ilustre prof. Antonio Augusto Passos Videira (revista "Ciência Hoje", jan./fev. 2009: 18): "Suas descobertas contribuíram para minar a primazia da concepção aristotélica do cosmo, baseada na beleza dos corpos celestes e na imutabilidade dos céus. Em longo prazo, suas ideias - sustentadas pela matemática, por medidas e por uma retórica afiada - ergueram uma visão do mundo na qual se buscavam leis para os fenômenos naturais".
Mas qual a importância disso agora, há de perguntar-se, irritado, um daqueles economistas que se pensa portador da "verdadeira" ciência econômica? Eu também uso a matemática! A pequena diferença é que o seu "tipo" de conhecimento tem muito mais a ver com Aristóteles esteticamente matematizado do que com Galileu. Em lugar de tentar entender como funciona o sistema econômico, tenta ensiná-lo como deveria funcionar em resposta à beleza dos seus axiomas...
Essa é uma crítica antiga, mas que a corrente majoritária dos economistas (que à falta de nome melhor chama-se a si mesma de neoclássica) recusava-se a considerar diante do aparente sucesso da sua teoria na "explicação" do mundo dos últimos 25 anos. A cavalar crise financeira (em parte produzida pelos equívocos propagados pela própria "teoria") desconstruiu essa ilusão. Um grupo de oito importantes economistas (todos um pouco mais ou um pouco menos críticos, mas sem dúvida, competentes membros do "mainstream" e senhores da mais sofisticada matemática e econometria) acabam de publicar um trabalho, "A Crise Financeira e o Fracasso Sistêmico da Economia Acadêmica" 1. É um verdadeiro réquiem de corpo presente para a economia pré-galileliana, que foi dominante na última geração.
A síntese do artigo (em tradução livre) é a seguinte:
"A profissão dos economistas parece ter ignorado a longa construção que terminou nesta crise financeira internacional e ter significativamente subestimado as suas dimensões quando ela começou a manifestar-se. Na nossa opinião, essa falta de entendimento foi devida à má alocação dos recursos de pesquisa na economia. Fixamos as raízes profundas desse fracasso na insistência da profissão em produzir modelos que - por construção - ignoram elementos fundamentais que controlam os resultados no mundo dos mercados reais. A profissão falhou, lamentavelmente, na comunicação ao público das limitações e fraquezas e, mesmo, dos perigos que caracterizam os modelos de sua preferência. Esse estado de coisas deixa claro a necessidade de uma fundamental reorientação das pesquisas que devem ser feitas pelos economistas e, também, do estabelecimento de um código de comportamento ético, que exija deles o conhecimento e a comunicação (para o público) das limitações e dos maus usos potenciais possíveis de seus modelos".
O final do trabalho é ainda mais preocupante:
"Acreditamos que a teoria econômica caiu numa armadilha de um equilíbrio subótimo, no qual o grosso do esforço de pesquisa não foi dirigido para as mais angustiantes necessidades das sociedade. Paradoxalmente, um efeito retroativo, que se autorreforça dentro da profissão, levou à dominância de um paradigma que tem base metodológica pouco sólida e cuja performance empírica é, para dizer o menos, apenas modesta. Pondo de lado os mais prementes problemas da moderna economia e fracassando na comunicação das limitações e das hipóteses contidas nos seus modelos mais populares, a profissão dos economistas tem certa responsabilidade na produção da crise atual. Ela falhou na sua relação com a sociedade. Não produziu tanto conhecimento quanto seria possível sobre o comportamento da economia e não a alertou dos riscos implícitos nas inovações que criava. Além do mais, relutou em enfatizar as limitações da sua análise. Acreditamos que o seu fracasso em sequer antecipar os problemas gerados pela crise do sistema financeiro e a sua incapacidade de prover qualquer sinal antecipado dos eventos que iriam se passar exigem uma reorientação fundamental dessas áreas e uma reconsideração de suas premissas básicas".
Trata-se de um trágico "requiescat in pace", não para a teoria econômica, mas para o "mainstream" pré-galileliano, que se apropriou dela com imensa irresponsabilidade. Podemos voltar agora à modesta e útil economia política?
1 Os autores são David Colander, Katarina Inlesuis, Alan Kirman e outros
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento. Escreve às terças-feiras
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Baixaria sobre o aquecimento global
Baixaria sobre o aquecimento global
JOSÉ ELI DA VEIGA e PETTERSON VALE
BASTA UM pouco de conhecimento histórico para saber que a evolução cultural da humanidade passou por três saltos decisivos, com o domínio do fogo, da agricultura e da máquina a vapor. E não é preciso muito esforço imaginativo para prever que a quarta tarefa de Prometeu será a descoberta de novas fontes de energia que não sejam fósseis. Com ou sem aquecimento global, a esperança de continuidade do progresso material da espécie humana dependerá de utilizações mais diretas da energia solar.
Também se sabe que a chamada revolução agrícola do Neolítico não esperou que terminassem as fontes de caça e de coleta e que o aproveitamento do carvão mineral foi bem anterior a um possível desaparecimento da lenha. Aguardar comodamente a intensificação do processo de esgotamento das reservas de carvão, petróleo e gás só servirá para tornar ainda mais freqüentes e trágicos os conflitos bélicos motivados pelas crescentes desigualdades de acesso a tais recursos.
Assim, longe de ser opção apenas econômica, é eminentemente ética a necessidade de drástico direcionamento das atividades de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) para o que tem sido chamado de "energias alternativas". E purairresponsabilidade etiquetar de desperdício o atual gasto mundial nessa área. Ao contrário, os baixíssimos investimentos em CT&I para a superação da era dos fósseis só atestam o atraso e a miopia das elites dirigentes.
Mesmo os mais recalcitrantes "céticos", que insistem em negar o aquecimento global ou que ele seja provocado por atividades humanas, deveriam apoiar investimentos na busca de novas fontes energéticas.
Por isso, chega a ser escandalosa a desonestidade intelectual dos que repetem como papagaios que já teriam sido gastos US$ 50 bilhões em tentativas de provar a influência climática das emissões antrópicas de CO2.
Por enquanto, a despesa total do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, na sigla em inglês) só atingiu uma minúsculafração desse montante: US$ 34,2 milhões, de 2001 a 2007.
Quem criou a lenda dos US$ 50 bilhões foi o paleontólogo australiano Robert M. Carter, porque é contra os esforços em CT&I focados na procura de usos mais diretos da energia solar. Prefere que se continue a esbanjar recursos fósseis e não lamenta os US$ 3 trilhões jáqueimados na Guerra do Iraque.
Na contramão desse tipo de baixaria, está despontando aquilo que o jornalista Thomas L. Friedman havia apelidado de "green new deal" e agora chama de "revolução verde". Elétrons abundantes, baratos, limpos e confiáveis poderão solucionar cinco dos principais problemas contemporâneos: oferta e demanda de energia e de recursos naturais, ditaduras petroleiras, mudança climática, perda de biodiversidade e pobreza energética.
As nações que liderarem tal mudança serão detentoras da maior fonte de valor agregado deste século. E, nessa corrida, terão mais sucesso as que anteciparem políticas públicas e instituições capazes de induzir a nova onda das energias limpas. O que exigirá a combinação de pelo menos quatro instrumentos: precificação do carbono por impostos e contingenciamentos, subvenções às inovações, regulação da eficiência energética e educação para a mudança de hábitos.
É claro que a economia global também poderia ser impulsionada por uma nova onda bélico-tecnológica, como parecem preferir alguns dos detratores do IPCC. Mas essa é uma ética tão reacionária quanto a dos que teriam preferido continuar no Neolítico até que se manifestasse a escassez de pedras.
Neoliberalismo desvirtuado e em pedaços
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Os "prejuízos" trilionários em Wall Street estão simplesmente anulando seus "ganhos" ilusórios. Nenhuma quantidade de salvamento federal ou impressão de dinheiro pode preencher o buraco negro de expectativas irrealistas criadas por uma economia enganosa.
A regulação no interesse público é hoje reconhecida como urgente [em função dos] excessos de Wall Street: transferir riscos sociais, custos e destruição ambiental para contribuintes e gerações futuras.
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Video didático em (humor) inglês.
"Como os mercados realmente funcionam":
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Verdades esquecidas pela nossa ganância...
A pergunta é: você está consciente dos riscos?
A Inflação dos Alimentos e o Meio Ambiente
Por Mauro Kahn e Pedro Nóbrega em 14/08/2008
ENTRE A FOME, A SEDE E OS CARROS - capítulo II
Quando nos deparamos com alguma crise, nossa atenção tende sempre a recair sobre relações de causalidade direta. Ao se falar, por exemplo, na crise da água, é natural que transbordem campanhas apelando para a redução do consumo doméstico. No entanto, ao assumirmos este tipo de abordagem, ignoramos outros hábitos que, postos em números, demonstram-se muito mais prejudiciais. Neste artigo, nos dedicamos a analisar um deles - o alto consumo de recursos naturais para produção de carne bovina - que consiste em um pequeno capricho na nossa dieta, porém um grande impacto em nosso meio ambiente.
Pesquisas apontam para um explosivo aumento per capita no consumo de carne no lugar de vegetais, e estima-se que até 2020 esse aumento seja de mais 50% (em especial graças às adesões de China e Índia aos hábitos alimentícios do Ocidente). Nossa razão para preocupação vai muito além de uma alimentação saudável: engloba os expressivos gastos envolvidos na produção da carne. Ainda permanecendo na questão da água, é suficiente lembrar que, para produzir-se 3 kg de carne bovina, gasta-se tanta água quanto uma pessoa tomando um banho diário (de chuveiro), durante cinco minutos, por um ano.
A partir de estimativas do Conselho Mundial de Água (CMA), para produzirmos um quilo de batata gastamos de 100 a 200 litros de água (lembrando que é possível produzir mais de 23.000 kg por hectare de batata no Brasil). Entretanto, se desejamos carne bovina acompanhando a batata, devemos nos preparar para consumir em média 13.000 litros por quilo (com uma produção em torno de apenas 47 kg de carne equivalente-carcaça/ha). A situação se agrava ao analisarmos a energia gasta através de todo o processo. Fora os gastos com combustível para transportar os grãos que alimentam o gado, é necessário manter em funcionamento tratores, caminhões e equipamentos para preparar o gado até ele chegar em nossas mesas. Ao confrontar estes aspectos, enxergamos com maior nitidez o impacto que o aumento do petróleo causa na inflação dos alimentos.
Outro ponto de interesse para nós é a poluição causada pela criação de gado. Segundo um relatório das Nações Unidas de 2006, o gado é responsável pela emissão de 18% dos gases poluentes. Além disso, a pecuária também apresenta altos índices de esgotamento do solo. Sabe-se, por exemplo, que um terço de todo o território próprio para cultivo dos EUA foi definitivamente perdido por erosão.
A poluição das águas é um caso à parte. Estima-se que a quantidade de resíduos gerados pela agropecuária (durante todos os níveis do processo) supere todas as fontes industriais e municipais combinadas. Segundo a Embrapa, a poluição gerada pelo gado entre os anos 1990 e 1994 praticamente igualou a poluição gerada pelo setor energético.
Embora não seja de maneira alguma a pretensão de nossos argumentos formular uma sociedade vegetariana - seria exagero propor a exclusão da carne de nossa dieta - não é difícil constatar que existe um excesso em nosso consumo, desnecessário e prejudicial para todos: para nossa saúde, nosso meio ambiente e nossa economia. Percebam que com a entrada no mercado de milhões de novos consumidores asiáticos, a situação se desenha de maneira perturbadora.
Se no passado muitas vezes não havia solução senão caçar (quando não era tempo de colheita, etc.) - e mesmo assim nossos ancestrais consumiam muito menos carne (além de não precisarem alimentar sua caça) - hoje temos uma vasta gama de possibilidades de nutrição, consideravelmente mais adequadas para a quantidade de pessoas que habitam o planeta e para os novos bilhões que habitarão em um futuro próximo. A plantação de frutas e vegetais - os quais demandam gastos naturais mínimos e são compostos de um importante valor nutritivo - em larga escala é um exemplo. Outros são a soja, o trigo e assim por diante. Em um mundo sem alimentos, fica a dúvida: é válido gastar 7 quilos de soja para gerar um quilo de carne?
Mauro Kahn & Pedro Nóbrega - Clube do Petróleo - Leia outros artigos acessando o site www.clubedopetroleo.com.br
sábado, 9 de agosto de 2008
Dia de luto, mais uma guerra
Se você não enxergar Deus no próximo ser que cruzar seu caminho, pode desistir de procurar por ele. Gandhi
Essa foto fala mais do futuro da humanidade do que qualquer teoria econômica que nada diz sobre nós, nossa sociedade, nosso planeta.
Essa segunda foto fala mais do que nós somos capazes de fazer contra a vida, do que qualquer idéia errada concebida a nosso respeito.
Essas fotos, essas guerras, esse sistema irá cair sobre todos nós, sem exceção.
Enquanto continuamos vendo as Olímpiadas do governo cruel da China como se isso não tivesse nada a ver conosco, enquanto vemos os outros sendo cruelmente açoitados pelo destino, como se isso não tivesse nada a ver conosco, o mundo vai descendo fundo até o limite de não ter mais volta alguma. Para ninguém.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
A falsa dicotomia entre economia e meio ambiente
Quando iremos mudar tudo isso, virar a mesa, para fazer entender que não é uma coisa ou outra, são as duas, que não é economia e meio ambiente, são os dois, que não existe opção aí e sim cegueira total e suicídio coletivo?
Em entrevista, Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente da República, diz que
"A cabeça de Lula é a do peão do ABC. O núcleo da preocupação do presidente é com emprego e salário. Vejo isso todo dia. Assim, se o banqueiro tiver lucro, tudo bem. Ele diz: 'Eu prefiro que esses caras tenham lucro do que fazer um Proer para eles depois'. Mesmo em relação à reforma agrária, eu não sinto que ele se empenhe tanto, quanto por salário e emprego. Nem quanto ao ambiente."
"Vou ser bem claro aqui: ele acha importante a preservação, mas, entre um cerradinho e a soja, ele é soja."
"O ambiente é uma questão importante, mas não é decisiva. O que é decisivo é a economia. Gilberto Carvalho afirma também que, para assuntos considerados importantes o governo conta com a mão forte da ministra Dilma Roussef, da Casa Civil, para acelerar os processos, como no caso da "guerra" com a Ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, para que houvesse o leilão das hidrelétricas do Rio Madeira"
Veja, 2/7, p.11 a 15.
Crise da teoria econômica e dos resultados
Infelizmente, está apenas em inglês.
America’s Addiction and the New Economics of Strategy
Posted by Umair Haque on July 28, 2008 1:58 PM
Troublingly, the macroeconomic crisis that’s engulfed the world shows no signs of ending. Why not - why is it grinding on with the grim relentlessness of a drought? Because it’s not a simple financial crisis: it’s a broader economic one. What are the contours of that broader crisis?
We’re not just addicted to cheap oil, as Tom Friedman and Al Gore have eloquently argued. There’s a deeper economic truth at work here. We’re addicted to consumption. Let’s re-examine the house of cards that is the global financial system. Emerging markets seek export-led growth: they undervalue their currencies, so their exports are more competitive purely in terms of price. That’s essentially a subsidy to consumers on the other side of the table – those in the developed world. As emerging markets accumulate surpluses, they recycle them: they lend them back to the US and UK in the form of government and mortgage debt, stabilizing their economies, and amplifying the existing consumption subsidy through leverage.
Amplifying that artificial cheapness is the simple fact the true costs of production haven't been factored in - until now: very real costs like pollution, community fragmentation, and abusive labour standards. So we’ve been able to consume mercilessly and remorselessly – with no regard for the human, social, or environmental consequences, to us or to others.
It’s not just cheap oil we’re addicted to: it’s cheap everything. And the world we’re entering isn’t really of Peak Oil as it is one of Peak Consumption. But consumption wasn’t the only choice we could have made. We could have chosen, instead, to invest. In what? In anything: anything would have been a more sensible choice than naïve consumption – education, energy, healthcare, transportation, even a more sensible and rational kind of finance.
Why didn’t we? Part of the reason is surely deregulation. But a larger part is strategy itself: our economy is built on firms whose very purpose is to sell; to relentlessly push people into endlessly consuming, without ever considering the long-run consequences.
In a world where consumption itself must slow, the boardroom faces tough choices. Does it continue to hawk stuff that “satisfies” largely artificial needs? Or does it choose to do something authentic, meaningful, and purposive – something that makes us all radically better off than we were before?
And that leads us squarely back to strategy: because the addiction has left us strung-out. At the heart of next-generation advantage is, paradoxically, being able to break yesterday’s maladaptive consumption addiction – not fuel it. It is firms who can shift past nihilistic, meaningless industrial-era corporate purpose – beyond acting as mere pushers of an addiction – who will power the next global financial system.
Companies like this are tomorrow’s revolutionaries – companies, as tiny and fumbling as their steps may be, as diverse as Whole Foods, Threadless, Google, and Marks & Spencer. Let’s track down more companies that are living this set of next-generation economics already. Fire away in the comments and suggest some – or fire away with questions, challenges, and your own thoughts.
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Filantropia sem mudar o sistema é um erro
Os defensores desta abordagem, apelidados de "filantropo-capitalismo", para abreviar, acreditam que os princípios dos negócios podem ser combinados com sucesso com a busca da transformação social. Não há dúvidas de que se trata de um fenômeno importante. Grandes somas estão sendo geradas para a filantropia, especialmente na indústria financeira e na indústria de informática.
Apesar do seu grande potencial, esse movimento é falho tanto nos meios que propõe quanto nos fins prometidos. Ele vê os métodos dos negócios como resposta aos problemas sociais, mas oferece poucas evidências ou análises rigorosas para embasar essa alegação e ignora as fortes evidências que indicam o contrário. Os negócios continuarão a ser uma parte essencial da solução dos problemas globais e alguns métodos dos negócios certamente têm muito a contribuir.
Mas os negócios também serão causa de problemas sociais. Como Jim Collins, autor de “Good to Great”, concluí em um livro recente "devemos rejeitar a idéia, bem-intencionada, mas totalmente errônea, de que o caminho principal para a grandeza dos setores sociais é se tornarem mais como o setor de negócios". [1]
A outra promessa do filantropo-capitalismo é alcançar transformações de grande escopo resolvendo problemas sociais arraigados, ainda assim, sua falta de compreensão de como ocorrem as mudanças mostra que essa promessa provavelmente não será cumprida. Existe um grande abismo entre o modismo que cerca essa nova filantropia e seu impacto potencial. Alguns dos mais novos filantropos já perceberam isso e mostraram tanto humildade quanto vontade de aprender sobre as complexidades da mudança social, mas muitos outros permanecem vítimas do modismo.
O filantropo-capitalismo tem uma peça importante do quebra-cabeças de como alinhar democracia e mercado, mas corre o risco de se colocar como a solução total, minimizando a importâncias dos custos e das perdas de se estender os princípios do mercado à transformação social. Meu argumento é que:
• O modismo que cerca o filatropo-capitalismo é muito maior do que sua capacidade de conseguir resultados reais. É hora de mais humildade.
• A concentração cada vez maior de riqueza e poder entre os filantro-capitalistas é prejudicial à saúde da democracia. É hora de mais responsabilização.
• O uso da lógica dos negócios e do mercado pode prejudicar a sociedade civil, que é crucial para a transformação política e social democrática da sociedade. É hora de diferenciar as duas e reafirmar a independências da ação cívica mundial.
• O filantropo-capitalismo é sinônimo de um mundo desordenado e profundamente desigual. Ele ainda não demonstrou que pode fornecer a cura.
É justificável a empolgação com as possibilidades de avanço na saúde, agricultura e acesso a microcrédito para os pobres do mundo, estimulados pelos enormes investimentos da Fundação Gates, Clinton Global Initiative e outras. Novos empréstimos, sementes e vacinas certamente são importantes, mas não existe vacina contra o racismo que nega terra aos dalits (os assim chamados intocáveis) na Índia, nenhuma tecnologia pode propiciar a infra-estrutura de saúde para combater o HIV e nenhum mercado pode organizar as relações disfuncionais entre as diferentes religiões e outros grupos sociais que reforçam a crescente violência e insegurança.
Atacando os sintomas e não a causa
O filantropo-capitalismo pode alegar que ataca as "grandes desigualdades" da sociedade, mas elas são causadas pela natureza de nosso sistema econômico e a incapacidade da política alterá-la. As disparidades de riqueza e educação são sintomas desses problemas e reaparecerão em todos os lugares em que as causas não forem resolvidas. O conceito não reconhece essa lição básica da história e corre o risco de mascarar a verdadeira natureza das tarefas que enfrentamos.
Apenas os mais visionários filantropo-capitalistas têm incentivo suficiente para transformar um sistema dos quais eles se beneficiaram enormemente.
Será que o filantropo-capitalismo teria ajudado a financiar o movimento dos direitos civis nos Estados Unidos? Espero que sim, mas esse movimento não era "dirigido pelos dados", não operava através da concorrência, não gerava muita receita e não media seu impacto em termos de números de pessoas beneficiadas a cada dia. Mas ainda assim ele mudou o mundo para sempre.
O filantropo-capitalismo é importante? Certamente que sim, mas poderá se mostrar mais efêmero do que os seus proponentes alegam. Os objetivos que eles mesmos definiram serão alcançados? Provavelmente não, embora algum bem, sem dúvida, será feito ao longo do caminho. Ele vai avançar os esforços de outros para alavancar mudanças profundas na sociedade? Não, a menos que decida mudar de rumo e aprender a aceitar que existem custos e contradições na mistura de negócios com objetivos sociais.
Hora de um novo tipo de debate
Se as bases deste movimento são tão fracas, por que não deixar que ele se queime como tantos outros modismos antes dele? Não se trataria de "apenas mais um imperador que está nu", esperando que alguém corajoso ou tolo reconheça sua nudez em público? Acredito que este seria um grave erro porque não podemos ignorar o que eu chamo de "pergunta de 55 trilhões de dólares" - a quantidade estimada de recursos filantrópicos a serem gerados apenas nos Estados Unidos nos próximos 40 anos.
Vamos usar esses imensos recursos na busca de transformações sociais ou apenas desperdiçá-los gastando-os nos sintomas? Se ignorarem essa pergunta, os filantropos podem acabar sendo vítimas da mesma reação adversa que receberam as concentrações anteriores de riqueza e poder.
Então, o que fazer? Acho que chegou a hora para um tipo diferente de conversa, menos dominada pelos modismos e mais aberta a vozes diferentes e dissidentes. O resultado será, sem dúvida nenhuma, confuso e descômodo para alguns, mas será mais democrático e muito mais eficaz em nutrir novas estratégias ousadas da mudança social e econômica. A sociedade civil deve participar deste debate como um parceiro igual e independente, orgulhoso de suas realizações e suas conquistas, e sem medo de rejeitar ou criticar modelos de negócios que sejam inadequados aos seus propósitos. O resultado seria, sem dúvida, um mundo transformado.
* Michael Edwards é autor de vários livros e artigos sobre o papel da sociedade civil mundial. Na publicação deste artigo, ele é Diretor de Governança e Sociedade Civil da Fundação Ford, mas escreve inteiramente na capacidade de indivíduo e quer agradecer à Fundação Ford por permitir que ele estivesse de licença quando escreveu este artigo. Os pontos de vista expressos neste artigo não devem ser tomados como representando as opiniões nem as políticas da Fundação Ford.
[1] Jim Collins (2006), “Good to Great and the Social Sectors”, Century.
Para pedir ou baixar
O novo folheto de Michael Edwards, Just Another Emperor? The myths and realities of philanthrocapitalism está disponível no Amazon ou para download gratuito nos seguintes sites: http://www.demos.org/_, http://www.youngfoundation.org/_ e http://www.futurepositive.org/_.
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Da série: querida acho que destruí o mundo! Capítulo 2
Por isso escrevi uma carta ainda sem resposta para esse economista. Ver abaixo a versão em inglês e em português (sem tempo para maiores correções de texto):
Dear Mr. Krugman,
I have three requests to you.
First one, I would like you to prove that economic growth, like US did, it is possible to be done for all world nations without creating a planetary collapse. It seems to me that US and advanced nations progress was planetary possible just because they did this alone. And after advanced nations got their local environmental collapse, they started to export to other places of the world through global commerce at a null cost. I would like to see what is going to happen to the planet if the BRICs try to catch up. I also see that in economic theory, the role of natural resources is until today absolutely dismissed. If it is so irrelevant, why US do not stop importing them? And why US do not stop doing wars for them? Economists only think about tangible natural resources, they even care about natural non-irreproducible services, like polinization. This are some points I would like you to use in your response. In sum, my question is: infinite economic growth is planetary possible, without putting humankind in the risk of its own extinction (considering that we already created the biggest life extinction of the last 65 millions of years)?
Second, I am not convinced that job creation and social benefits are a direct result from economic growth, I think they are just tautological results. If economy growth accelerates, job will be there; otherwise, if growth decelerates, say good bye to the jobs. Wealth concentration is at the records mainly in advanced nations. Moreover, I am not sure if current economic statistics, like GDP and unemployment rates capture the real human situation at work (if they are happy, if they are free, if they are learning, if they have plan B instead of being scared of being fired, etc.). Nordhan University Social Health index and other studies showed very different results, very bad ones. That is very important, because the planet devastation is justified by social benefits created by the eternal economic growth.
Last, not the least, do you think we need Nature?
Tks in advance for your attention, I will be glad to see your thoughts about these questions.
Best wishes,
Hugo Penteado from Brazil, where during the last 13 years (FHC and Lula mandates) Amazon forest destruction accelerated 3.000% and we are just copying the same economic model from US (that destroyed 99% of its natural forests) and Europe (99,7%).
Prezado Sr. Krugman,
Eu tenho três solicitações para você.
Primeiro, eu gostaria que você provasse que o crescimento econômico, igual ao dos Estados Unidos, é possível para todas as nações do mundo sem provocar um colapso planetário. Tudo indica que o progresso dos Estados Unidos e das nações desenvolvidas só foi planetariamente possível porque eles fizeram isso sozinhos. Depois que os países ricos atingiram seu colapso ambiental local, eles começaram a exportá-lo para outros lugares do mundo através do comércio gloabal a custo zero. Eu gostaria de antecipar o que vai acontecer ao planeta se os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) tentarem fazer o mesmo. Eu também percebi que na teoria econômica o papel dos recursos naturais é até os dias de hoje completamente ignorado. Se é tão irrelevante, porque os Estados Unidos não páram de importá-los? E porque os Estados Unidos não param de fazer guerra por eles? Economistas só pensam em recursos naturais na sua tangibilidade, eles nem se preocupam em analisar os serviços naturais irreproduzíveis, como a polinização natural. Esses são alguns pontos que eu gostaria que você usasse em sua resposta. Em suma, minha questão é: crescimento econômico infinito é planetariamente possível, sem colocar a humanidade no risco da sua própria extinção (considerando que já criamos a maior extinção da vida dos últimos 65 milhões de anos)?
Segundo, eu não estou convencido que criação de empregos e benefícios sociais são um resultado direto do crescimento econômico, eu acho que são resultados tautológicos. Se crescimento econômico se acelera, os empregos estarão lá; se o crescimento desacelera, diga adeus aos empregos. Concentração de riqueza é recorde principalmente nas nações desenvolvidas. Acima de tudo, eu não estou tão seguro se as estatísticas econômicas convencionais, como PIB e taxa de desemprego, capturam a situação humana real no trabalho (se eles são felizes, se eles são livres, se eles estão aprendendo, se eles têm um plano B, ao invés de recearem uma demissão, etc.). O Índice de Saúde Social do Nordhan University e outros estudos mostram resultados muito diferentes, muito ruins. Isso é muito importante, porque a devastação planetária é justificada pelos benefícios sociais criados pelo crescimento econômico eterno.
Último, mas não menos importante, você acha que nós precisamos da natureza?
Obrigado antecipadamente pela sua atenção, ficarei feliz em ver seus pensamentos sobre essas questões.
Cordiais saudações,
Hugo Penteado do Brasil, onde durante os últimos 13 anos (governos FHC e Lula), a destruição da floresta Amazônica acelerou 3.000% e nós estamos apenas copiando o mesmo modelo econômico dos Estados Unidos (que destruíu 99% das suas florestas naturais) e da Europa (99,7%).
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Grau de investimento do Brasil: uma vitória e três problemas
sábado, 28 de junho de 2008
Mudar a métrica sem mudar os valores
Por exemplo, apesar do crescimento econômico retumbante de muitos países, vários indicadores mostraram deterioração, como por exemplo, o percentual de pessoas que se consideram felizes, o percentual da população masculina encarcerada, suicídios, abandono das escolas, mortalidade infantil, alcoolismo, abrangência dos planos de saúde, idosos em pobreza, doenças, acidentes de trânsito, etc. Ficou bastante claro que os indicadores de saúde social progridem junto com o crescimento econômico até certo ponto, a partir do qual decaem notoriamente. E não estamos falando de países em desenvolvimento, e sim dos países ricos que nos servem de modelo.
Apesar dessa constatação, chocante para muitos, os países atrasados copiam o modelo econômico e tecnológico atual dos países ricos, que é extremamente concentrador de renda e de riqueza. De acordo com o News Economic Foundation de Londres, de cada 160 dólares adicionados a riqueza mundial per capita, apenas 60 centavos chegam aos mais pobres. Ao copiar esse modelo não vamos observar nem a fase na qual a correlação entre bem estar e crescimento pode existir. Na verdade, vamos entrar direto na fase atual dos países ricos, no qual o crescimento econômico não entrega as tão prometidas benesses sociais, como também (e não menos importante) dilacera as condições planetárias de sustentação de todas as formas de vida.
Nada poderia ser mais dramático que isso. Mas existe um algo mais, sempre. Os países ricos, nossa miragem atual, só conseguiram atingir o seu atual nível de progresso acumulado e de crescimento de fluxos (PIB) porque fizeram isso sozinhos. A partir do momento que todos seguirem pela mesma rota, isso não será mais planetariamente possível e essa escolha da humanidade só poderá terminar em uma das duas opções a seguir: colapso planetário ou guerra seguido de colapso planetário. Adicionalmente, os países ricos e os muito populosos como a China, só conseguiram escamotear o colapso ambiental local que atingiram com seu enorme progresso ou populações, através da crescente importação de bens e serviços, que não só lhes dá o suprimento necessário de recursos naturais, como também lhes economiza água, solo, serviços ecológicos às custas de outros lugares. Claro que tudo isso também à custo zero, uma vez que nosso sistema de valores - e a teoria econômica tradicional até os dias de hoje - não inclui o custo ecológico nas suas análises.
A sociedade e o seu equilíbrio com o planeta e os demais seres vivos estão sendo completamente desmantelados pelo nosso sistema econômico. A métrica PIB faz parte dessa dinâmica suicida e destruidora e também impede que esse modelo mental e a teoria econômica equivocada sejam corrigidos. Por essa razão, temos várias iniciativas para mudar a métrica: o Índice Canadense de Bem-estar (CIW), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, o Índice de riqueza do Banco Mundial, o Índice do Progresso Genuíno (GPI), o Índice de Felicidade Nacional do Butão (GNH) e os Indicadores de Qualidade de Vida Calvert-Henderson e Índice de Saúde Social da Nordham University, Teoria do Umbral de Max-Neef e outras que desconheço. A mais recente e louvável iniciativa é do presidente francês Nicolas Sarkozy que solicitou a Joseph Stiglitz e Amartian Sen (participou da formulação do IDH na ONU) uma revisão do conceito do PIB como medidor do bem estar social. Apesar dessas iniciativas serem interessantíssimas, porque levantam os erros de análise econômica atual, como por exemplo a mania de crescimento e a mania do PIB, devemos continuar céticos. Tentar mudar a métrica, sem mudar nosso conjunto de valores, sem mudar a teoria econômica tradicional, é como querer tratar um paciente de câncer com aspirinas.
Em suma, inventar uma nova métrica tem sido relativamente fácil, o difícil é usarem-na. O PIB de Kusnetz foi um sucesso e não é à toa, porque ele adere aos interesses atuais e à visão míope da nossa sociedade. Ele se adere a uma falsa convicção humana sobre a sua relação com a natureza, onde nossa enorme vulnerabilidade é ignorada, onde poucas pessoas lembram que o coração de cada um só bate porque tem um ser vivo na Terra que armazena a luz do sol. Sem as abelhas, a comida não chegaria no nosso prato, até isso é esquecido, apesar de todo o aparato moderno, porém insustentável, da agricultura moderna.
Não existe o menor incentivo para mudar a métrica, pois o PIB não subtrai, apenas soma e os prejuízos sociais e ambientais na ladainha dos economistas transformam-se em oportunidades de novos negócios e mais lucros, como se os serviços da natureza pudessem ser substituídos por capital humano, como afirmou Robert Solow. O mais estranho é ouvir falar que precisamos fazer investimentos ambientais, como se eles existissem, mostrando uma ignorância profunda, pois todos os investimentos são ambientais, não existe nada sem o meio ambiente. A ideologia segue inalterada: "nós vamos fazer todos os ambientes necessários para o progresso do povo, mas não se preocupem, iremos também fazer investimentos ambienteis" (!?!). "Precisamos crescer", arrematam.
A iniciativa de Sarkozy é louvável realmente, mas não consigo esquecer a resposta que Joseph Stiglitz deu ao Herman Daly quando foi perguntado sobre os limites do planeta e da teoria econômica que causa a rota de colisão atual. Ele se recusa a aceitar um limite e ainda bem que o Stiglitz já tem certa idade (65 anos) e não vai presenciar o legado que essas idéias estranhas irão deixar na Terra. Herman Daly é que deveria comandar esse projeto, um mentor de um pensamento que inclui uma visão sistêmica de Economia Ecológica, que parte do princípio que precisamos antes de mais nada reformular todo o pensamento econômico, que continua se disseminando na mente dos estudantes como uma fórmula para a humanidade crescer sempre, melhorando sempre, embora isso não seja verdade e seja impossível física e planetariamente. Enquanto a discussão inane da nova métrica continua, perdemos 21 campos de futebol em florestas e biodiversidade a cada minuto. Grande parte dessa perda da natureza é irrecuperável, como alertou Nicholas Georgescu-Roegen quase 40 anos atrás, vaticinando tudo que estamos vivendo hoje e por uma lástima seu alerta foi ignorado por Stiglitz e tantos outros economistas.
A imaginação é mais importante que o conhecimento, escreveu Einstein. No mundo atual o conhecimento é abundante, a imaginação é escassa e o óbvio, por essa razão, é totalmente perdido. A elite precisa parar de querer mudar o mundo, sem antes mudar a si mesma. E temos que parar de achar que temos tempo de sobra para inúmeras elocubrações que nunca ganharam o mundo prático. O mundo prático continua fazendo "business as usual" e a destruição da Amazônia segue a mesma sina das florestas da Europa (99,7% do total destruído) e dos Estados Unidos (99% destruído, dados do World Resource Institute). Mais alarmante nessa cegueira toda é que nos governos Lula e FHC dos últimos 13 anos foi destruído 35% de toda a destruição acumulada da Amazônia, um território perdido quase metade do tamanho da França. Ao final de 2010, teremos 42% da destruição acumulada da Amazônia apenas nos últimos 16 anos, igual ao território do Reino Unido e da França juntos. Grande parte desse território destruído (80 a 90%) terminará em deserto.
Enquanto relatórios robustos vão sendo feitos, esse é o processo que está por trás da crise planetária atual: a cada minuto temos menos natureza disponível para cada vez mais gente. Mudar a métrica faz sentido só após mudar o modelo mental de Sarkozy e Stiglitz e tantos outros. Na prática, tudo deve continuar como no velho ditado francês: quanto mais as coisas mudam, mais elas continuam as mesmas. E o paciente continua sendo tratado com aspirina enquanto o câncer se espalha violentamente pelo mundo. Nada como fazer a humanidade perder cada vez menos chances ao direcionar nossos esforços para bem longe das causas desse desastre: crescimento populacional absoluto contínuo, crescimento econômico exponencial contínuo e uma teoria econômica falsa que os ratifica.
Hugo Penteado Economista com graduação e mestrado pela USP Autor do livro Ecoeconomia - Uma nova abordagem (Ed.Lazuli, 2003) www.nossofuturocomum.blogspot.com
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Cenário externo & doméstico, um resumo
A crise econômico-financeira dos EUA rapidamente atingiu a Eurolândia, o Reino Unido e o Japão. A Bovespa ignorou o tremor e é hoje a única bolsa do mundo que acumula ganhos no período de novembro/07 a junho/08. Motivo: nosso trem agora não são os EUA, mas a Chíndia. Apesar da crise dos países desenvolvidos, a Chíndia não mostrou sinais de desaceleração, mantendo demanda alta por commodities, aliadas a restrições de oferta na área do petróleo, papel e celulose, alimentos, mineração e siderurgia. Quase 50% do Ibovespa está ligado a commodities. Apelidamos esse cenário de descolamento parcial, onde a recessão branda nos EUA não produziria uma recessão no mundo. Bom para a bolsa: abril e maio registrou quase 20% de valorização.
Agora tudo mudou: a não desaceleração da Chíndia determina uma dinâmica de crescimento forte do resto da Ásia emergente e da América Latina, que é exportadora líquida de commodities. A Chíndia, por sua vez, é a principal responsável pelo aumento de demanda mundial por commodities e isso explica a inflação global persistente. A reviravolta dos números de inflação foi no mundo todo: acabou o período de crescimento acelerado com inflação moderada. No Brasil, o IPCA, projetado em 4,3% no início do ano, agora está em 6,1% para 2008. IGPM idem, foi revisto de 4,5% para 10%.
A surpresa negativa da inflação global colocou em xeque as políticas monetárias frouxas dos países ricos para socorrer suas economias fragilizadas. Temos agora um cenário apelidado de estagflação falsa, no qual a inflação global manterá commodities em alta no 2S08. O esforço de desinflar as commodities não recairá sobre a Chíndia, países que não têm nem vontade nem instrumento de política eficaz para isso. Esse esforço recairá sobre os países ricos e temos dois cenários possíveis: alta de juros para produzir menor crescimento e demanda por commodities e forçar queda nos preços no 1S09 ou queda da atividade por conta das crises no 2S08, eliminando a necessidade dos bancos centrais dos EUA, Eurolândia e Reino Unido elevarem as taxas. Em qualquer um dos cenários, estamos frente a frente com uma economia global mais fraca e com queda dos preços das commodities. Ruim para bolsa, porque ela deve antecipar?
Finalmente, por falta de espaço, não falei de estagflação verdadeira via choque de oferta clássico e o risco de guerra entre Israel e Irã... fica para a próxima, mas isso é incerteza e mercados não precificam incertezas, bem como questões de longo prazo.