terça-feira, 30 de setembro de 2014

Tecnologia viabiliza crescimento com menor impacto socioambiental... mais um oxímoro

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Tecnologia viabiliza crescimento com menor impacto socioambiental: isso é mais uma tese que choca não só pela crença, mas pela evidente dificuldade de se criticar ou mudar nosso modelo mental que nos trouxe até a situação de rota de colapso com a Terra, da qual não precisamos mais citar nenhum evento adicional para sua confirmação depois da notória perda de recursos hídricos em vários lugares do planeta, não só aqui no nosso quintal em São Paulo.

Lembro que nas nossas palestras muitos anos atrás comentamos que o maior risco do aquecimento global não era elevação dos oceanos ou aqueles cenários hollywoodianos de ruptura, mas o fim da água.  Hoje encontro pessoas que lembram esse comentário e como ele se tornou realidade. De nada adiantou, continuamos andando de automóveis e aviões, usando produtos descartáveis e gerando lixo aos bilhões de toneladas e todo mundo segue firme na crença que ser rico é ser feliz e como resultado disso, também devem acreditar que ao morrerem um monte de carro-forte “Brink” chegará antes na sua nova casa no Paraíso.

Tenho certeza que contra fatos não há argumentos e sigo Bertrand Russel que dizia para se ater aos fatos e não na realidade que gostaríamos de acreditar.  Gostaria de ouvir argumentos que derrubassem esse ponto:

Sobre a tecnologia, é mais um ferramental ideológico usado com o nosso modelo mental de crescimento moto contínuo gerando o mesmo resultado: mais pressão sobre os ecossistemas da Terra.  Um bom livro é o Huesemann & Huesemann, cujo título bem esclarecedor é “Technofix -  Why Technology Cannot Save Us or the Environment” [Por que tecnologia não pode nos salvar e o meio ambiente].  O uso da tecnologia é o mesmo de sempre: primeiro jogo um balde de lama na minha sala de visitas para depois uma máquina automaticamente limpar.  Nem se cogita, no modelo mental atual, não jogar o balde de lama na sala, pois economizaria tanto matéria (o balde e a lama) quanto a energia (no caso minha refeição diária que me deu força para esparramar a lama na sala).  Mas essa economia reduz o PIB. Daí vem a necessidade de mudar o cômputo do PIB que embora bem estudado jamais atingirá seu objetivo enquanto vigorar o modelo mental que não questionamos nunca. Somos como cachorros correndo atrás da cauda.

Isso é visto em todas as áreas.  Imagina um problema (produzir cosméticos desnecessários empurrados para todos via marketing) e a solução (obter matéria-prima para todo esse cosmético produzido na Malásia no lugar de florestas naturais via transporte transoceânico).  Como chamar essa atividade?  De sustentável?  Impossível, somente através de muita credulidade, matéria abundante entre os terráqueos, onde as crenças ainda não foram igualadas, mas estamos muito perto disso.  Por enquanto, para combater as emissões, sugerimos entupir os oceanos de algas turbinadas para coletar CO2, colocar na atmosfera espelhos para refletir a luz do sol no lugar das calotas polares e dessalinizar a água do mar. Essas e outras idéias brilhantes servem apenas para... aumentar o PIB, jamais revogar o modelo atual e transformar a Terra em uma tocha incandescente, nada mais.  Ah, como o gasto de energia é cavalar, nada como fazer tudo isso com energia nuclear. Depois chamar tudo isso de sustentabilidade é simples, fácil e indolor, embora a maior extinção da vida dos últimos 65 milhões de anos siga a passos céleres à nossa volta agora... Ah, os fatos...

Isso me faz lembrar um simpósio onde estava presente o Ray Anderson daquela famosa empresa de carpetes que explicava a sua intenção (nunca verificada) de devolver para a natureza tudo que a empresa dela tirava, lado a lado com a abertura de novas fábricas na China, expansão de negócios, de vendas, etc. etc. etc.  Até que uma pessoa do nosso grupo fez uma pergunta corajosa a ele, um dos maiores senão quase únicos baluartes da sustentabilidade empresarial: “Why the hell we need carpets?” [Por que raios precisamos de carpetes?]  Fiquei amigo dessa pessoa até hoje, embora a pergunta tenha passado despercebida para a maior parte dos presentes. Isso faz muitos anos, hoje sabemos que sustentabilidade empresarial não resolve o problema sistêmico, uma crítica pertinente, mas cegamente ignorada. Um baita sofisma de composição.

Em resumo, a tecnologia e a mudança de hábitos pode reduzir barbaramente a nossa pegada ecológica, gerar bem estar, mas para isso acontecer teremos que revogar o modelo mental atual, principalmente no âmbito empresarial, político e social. Mudar o PIB é mera consequência.  Enquanto pensamos em tecnologia, esquecemos do principal.  Criticar e revogar o pensamento econômico atual clientelista e mudar o modelo mental das pessoas de falsa superação dos limites da natureza, da qual nunca nos desvencilhamos. Muito ao contrário: Deus Perdoa sempre, os homens raramente, a natureza nunca.

Hugo Penteado

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Cadastramento rural ajuda a limitar as ocorrências

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Difícil.  A teoria econômica atrapalha muito.  Economia Verde é um mito.  Em relação à natureza não somos produtores, mas consumidores. Só a natureza produz. Não existe Economia Não Verde. Fico pasmo de ver o mito de separação da teoria econômica neoclássica que destruiu nosso planeta e nossa sociedade ser abraçado por aqueles que supostamente trabalham para resolver esse dilema.  Esse mito de separação declara que a total separação entre o sistema econômico e natural é uma hipótese que não prejudica nenhuma conclusão. 

Nesses moldes para um economista uma árvore só tem valor quando derrubada ao chão. Bom, isso vale para todo e qualquer serviço ecológico, considerado um brinde dos deuses, inatingível por qualquer uma das nossas ações.  Ou seja: brincam de faz de conta: faz de conta que a floresta não está sendo destruída, faz de conta que a floresta continuará prestando serviços essenciais como regeneração e produção da água e do solo e do clima, e por aí vai.

Nós economistas não temos uma só variável nos nossos modelos que contabilize qualquer contribuição da natureza, seja o que for.  É o mito da separação.  Há outros mitos, na verdade esse ramo virou uma fábrica de mitos.

Difícil mudar as consequências, quando não se muda as causas. Acho muito pouco provável que a destruição das florestas seja interrompida seja aqui ou no resto do mundo.  Iremos nos tornar uma Ilha de Páscoa Global. Basta ver o que as empresas sustentáveis de cosméticos estão causando de destruição ao importar óleo de palma da Ásia.  Isso é uma atividade, mas todas vão na mesma direção.  Por mais evidências à nossa volta, seguimos sem mudança de rota alguma e as variáveis críticas seguem na sua inabalável deterioração exponencial ininterrupta, enquando discutimos o sexo dos anjos.

Nem os paliativos (pagamentos de serviços ambientais, cadastramento rural, tributação ambiental, etc.) conseguem avançar.  Tudo é paliativo enquanto não mudamos nosso paradigma e nosso modelo mental.  Não somos deuses, somos só uma espécie animal a mais, entrelaçada e dependente do resto.

Abraço


Hugo


Cadastramento rural ajuda a limitar as ocorrências

Por Timóteo Camargo | Para o Valor, de Boa Vista
Andre Penner/AP
"Não existe bala de prata contra o desmatamento", afirma Justiniano de Queiroz Netto, gestor do Programa Municípios Verdes (PMV) do governo do Pará, que tem como meta zerar o desmatamento no Estado até 2020. Mesmo distante da solução cabal - de agosto de 2013 a julho de 2014 o número de alertas de desmatamento aumentou em 22% no Estado - as ações do programa criado em 2011 têm bons resultados e ajudam o Pará a vislumbrar um horizonte mais claro em sua relação com a floresta.
Nos três primeiros anos do PMV, a retirada de cobertura vegetal nativa no Pará caiu 21%, enquanto a redução média na Amazônia Legal foi de 9%. De agosto de 2013 a janeiro de 2014, o recuo alcançou 30% no Estado, segundo dados do Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Um passo decisivo para a eficiência das ações de combate e contenção foi o avanço do Estado na adesão ao Cadastro Ambiental Rural (CAR), do Ministério do Meio Ambiente. Em 2013, cerca de 37 mil imóveis rurais ingressaram no cadastro, totalizando mais de 105 mil imóveis rurais - ou 60% da área cadastrável no Estado. O CAR possibilita a gestão in loco das ocorrências observadas por satélite e o controle dos limites das áreas produtivas e restritas em cada propriedade. "O desmatamento está aumentando e nós sabemos onde. (O combate) é uma agenda que depende de estratégias", diz Netto.
Dos 144 municípios paraenses, 104 aderiram ao Municípios Verdes e seis sairam da lista de desmatadores.
Em um Estado com área equivalente a duas vezes o território da França, a municipalização da gestão ambiental é a chave do programa. A proposta do PMV é articular municípios, sociedade civil, iniciativa privada, Ibama e os Ministérios Públicos Federal e Estadual no combate ao desmatamento e no incentivo à produção rural sustentável. "Tudo começa com um pacto com a sociedade local, que deve entender que desmatamento não é sinônimo de desenvolvimento; que o desenvolvimento está ligado à sustentabilidade", afirma Justiniano Netto.
A adesão ao programa é voluntária. Porém, o ingresso ocorre por meio da assinatura do 'Pacto pelo Desmatamento Zero', junto ao Ministério Público Federal, o que garante estabilidade jurídica e política para a continuidade do programa. "O município não pode desistir de forma unilateral", explica.
O secretário municipal de Meio Ambiente de Paragominas, Felipe Zagalo, afirma que o documento torna o compromisso do município impessoal: "A pressão pelo aumento de áreas é enorme, mas nenhum prefeito quer estar envolvido com o desmatamento", diz.
Dos 144 municípios paraenses, 104 aderiram ao Municípios Verdes. Seis conseguiram sair da lista dos desmatadores da Amazônia mantida pelo Ministério do Meio Ambiente. Outros cinco estão próximos de deixar o rol, que, entre outras penalidades, impede o acesso a financiamento e embarga o comércio da produção rural local.
O Programa Municípios Verdes atua em duas frentes: a articulação interinstitucional e a regulação ambiental. A articulação inicia com a criação de um comitê gestor para estabelecer metas e estratégias em cada município. Também envolve ações de impacto local, como o estabelecimento do licenciamento ambiental em nível municipal, o treinamento de pessoal e o acesso do município ao sistema de CAR da Secretaria do Meio Ambiente do Pará.
O PMV funciona como secretaria especial da Casa Civil e, do ponto de vista da regulação, atua na revisão e atualização das normas de sustentabilidade no estado. O Governo do Pará criou em 2013 o ICMS Verde, que repassa aos municípios parte da arrecadação com o tributo estadual, de acordo com critérios ambientais. Também no ano passado, um decreto governamental garantiu aos municípios participantes do programa acesso a um processo especial de regularização fundiária, condicionado ao cumprimento das metas do programa.
A experiência de Paragominas foi a inspiração para o PMV. O município de 103 mil habitantes no Leste do Pará ocupou o posto de maior desmatador do Brasil e em dois anos virou o jogo para se tornar referência em sustentabilidade. Para isso assumiu plenamente a gestão ambiental. "Depois da municipalização, todos os nossos problemas são resolvidos aqui e com mais agilidade", afirma Zagalo.
O sistema de emissão de licença ambiental por meio de audiências é um exemplo da inovação do município. O primeiro encontro é marcado para cerca de 20 dias após o processo ser protocolado pelo proprietário. Fábio Patto Kanegae, diretor administrativo da New Agro Comércio e Representações obteve em agosto a licença para um projeto da empresa. Ele afirma que, além de ajudar no planejamento, o procedimento traz segurança e evita problemas com fiscalização: "Todas as confrontações, limites e formas legais do projeto são tratados na audiência e você sai sabendo de fato o que pode fazer na propriedade", afirma. "Da entrada à liberação não deu 60 dias. Antes, quando era em Belém, chegava a levar mais de um ano", conta.
Nos próximos meses, o Programa Municípios Verdes se prepara para expandir a atuação, com foco sobretudo nos municípios menos povoados ou com dificuldades orçamentárias. O programa aprovou junto ao Fundo Amazônia do BNDES um projeto no valor de R$ 82,4 milhões para realizar e entregar ações direto ao produtor sem onerar o município. Da primeira parcela já na conta do programa, R$ 10 milhões serão licitados para a realização do CAR.
O projeto prevê a criação de 11 bases locais para atender de três a quatro municípios cada. "O Pará é grande e pretendemos ter essa capilaridade por meio de consultorias", explica Justiniano Netto.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Destruição da Amazônia: só vai terminar quando desmatarmos tudo

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Vamos fazer que nem os países ricos. Só vamos parar de desmatar quando atingirmos destruição de quase 100% como foi o caso deles.  É por isso que eles alegam não desmatar nada hoje: não dá para desmatar mais que 100%!!! 

No nosso caso isso é um risco tremendo, por conta do que já sabemos de contribuição da Amazônia para o país todo.  Mas enquanto esse modelo continuar, não devemos esperar resultados diferentes.
Resultados diferentes só ocorrerão quando mudarmos o modelo.

Não só não mudamos o modelo, como reforçamos sua tendência atual suicida com nomes pomposos como Economia Verde, Economia do Meio Ambiente, Energia Limpa, Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, Energia Nuclear Limpa, tudo com letra maiúscula mesmo simbolizando nomes próprios (essas idéias podem até ser usadas reconhecendo suas limitações, mas de nada adiantam sem uma revisão total do paradigma vigente). Não só não mudamos o modelo, como estamos pisando o pé no acelerador.  Existe uma quantidade gigantesca de atividades se sobrepondo não para resolver esse problema, mas porque aumentam o PIB, dentro da mesma lógica atual.

Isso porque mudar o modelo significa vencer interesses arraigados difíceis de serem vencidos.  Talvez e se tivermos sorte e o Permafrost permitir, um evento cataclísmico pode ter a força de acordar a todos e salvar o que resta.

Agora só dá para salvar o que restar.  Dos ecossistemas e da vida na Terra. 


Folha, Segunda-feira 15set14

LEÃO SERVA

Amazônia queima sem notícia

Inpe atrasa vários meses a divulgação da informação sobre desmatamento e só o faz por imposição legal
A divulgação em meio ao tiroteio eleitoral escondeu o resultado do monitoramento da destruição da floresta amazônica. Entre agosto de 2012 e julho de 2013, o desmatamento foi 29% maior do que nos 12 meses anteriores (2011-12), segundo o programa Prodes, que o Inpe devia ter divulgado em maio mas só revelou na última quarta, com quatro meses de atraso.
Outro projeto de acompanhamento da degradação da Amazônia, chamado Deter, mostra que em junho e julho de 2014 os alertas de desmatamento foram 9% maiores que no mesmo período de 2013. Os resultados combinados revelam que a degradação cresce há dois anos, revertendo a redução ocorrida entre 2008 e 2012. É notícia grave, mas a imprensa, distraída com a eleição, não viu.
O Inpe tem dois programas de avaliação da destruição de nossa maior floresta. O mais antigo, Prodes, é feito desde 1988, com imagens produzidas de agosto a julho de cada ano. Os resultados são divulgados em maio do ano seguinte, quando a destruição detectada já é irreversível. Por isso, em 2004, foi criado o Deter, menos preciso (ele detecta sinais de calor) mas com resultados mensais, serve para que os órgãos públicos possam agir enquanto um ataque à floresta está em curso.
Os dois sistemas fornecem à sociedade a informação para reagir contra a redução da floresta, que influencia o clima no resto do país e no continente. O ressecamento da Amazônia é determinante para a falta de chuvas em São Paulo, por exemplo, como explicou o cientista Philip Fearnside à Folha, em março (leia emhttp://folha.com/no1431548).
Este ano, os resultados dos dois programas foram divulgados com atrasos inéditos, com implicação eleitoral. O Prodes só saiu no dia 10 deste mês porque a ONG Instituto Socioambiental interpelou o Inpe com base na Lei de Acesso a Informação. Já o Deter atrasou dois meses.
O governo federal considera nevrálgica o dado do aumento da destruição da floresta, indicadora de que perdeu o controle do desmatamento. Por isso preferiria não vê-la publicada. Nunca antes na história deste país o relatório atrasou tanto, sem que algo de anômalo se abatesse sobre o Inpe.
A repercussão na eleição é óbvia: a redução do desflorestamento aconteceu no governo Lula quando Marina Silva era ministra do Meio Ambiente; com Dilma presidente, a tendência se inverteu. Agora as duas são candidatas. A preocupação com a floresta é maior entre eleitores das grandes cidades, onde Dilma tem mais rejeição e Marina, eleitorado maior.
É também relevante para compor o quadro (do desmatamento e da omissão dos dados) a informação de que o principal polo de destruição florestal é a região de Altamira, no Pará, onde é construída a hidrelétrica de Belo Monte. É o que mostra análise de vários dados do período 2010-13 (leia em http://goo.gl/vbgxHE).
A presidente Dilma se empenhou na aprovação da usina prometendo que ela não seria vetor de destruição ambiental massiva. Mas a destruição em torno da rodovia BR-163, que cruza a região, mostra que não há controles oficiais na área.
"Não há nada de novo sob o sol", diz o bíblico "Eclesiastes": na Amazônia, o desmatamento é a regra. O que se acrescenta --e que tampouco é novo-- é a sonegação de uma informação de grande interesse social, aparentemente motivada por seus impactos eleitorais. É grave. Quem se preocupa com a Amazônia deve abrir bem os olhos.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Quando nossos interesses estão em foco...

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...tendemos a menosprezar quaisquer problemas eventuais com as idéias mirabolantes que criamos.  A começar pela energia limpa, solar, etc.  Mas essa do shale gas é sensacional. Endeusada por todos como a grande salvação tecnológica global para ter a energia mais suja jamais imaginada, com o prêmio de poder contaminar terminantemente vastas reservas de água, a realidade começa a despontar.

Gerar mais energia (mesmo que limpa) ao invés de cortar o desperdício de energia (estimado em 73% pelo NEF) é uma das idéias mais anti-ecológicas e estúpidas que inventamos para alimentar outra idéia também estúpida: medir a nossa prosperidade pelo PIB...

Vide artigo do FT.  A necessidade de usar água para produzir shale gas/oil num momento em que esse recurso vital está se tornando escasso, bem como o risco de contaminação das águas do solo não parecem promissoras, para dizer o mínimo.

September 2, 2014 6:45 pm

Water shortages pose larger than expected threat to shale gas

By Pilita Clark in London and Ed Crooks in New YorkAuthor alerts

Shale oil rigs in Patagonia, Argentina
Water shortages pose a bigger threat to the global shale oil and gas industry than is widely realised, according to one of the most detailed studies to date of how much water is available at some of the world’s most promising shale sites.
More than a third of commercially viable shale gas deposits worldwide are in areas that are either dry or have water supply constraints, according to a study by the Washington DC-based World Resources Institute, an environmental think-tank.
The process of hydraulic fracturing, or fracking, used to extract shale gas can require 7m-23m litres of water, according to the study. The total varies from well to well.
Of the 20 countries with the largest shale gas resources, eight have deposits in areas that are arid or face high to extremely high water stress, including China, Algeria, Mexico and South Africa.
Similarly, eight of the 20 countries with the largest reserves of tight oil, including shale oil, have them in regions that are arid or with high water-stress, including China, Mexico and Pakistan.
Overall, 38 per cent of viable shale gas deposits worldwide are in areas where water supplies are a potential problem. Of those with the biggest shale reserves 40 per cent have severely limited freshwater supplies.
The boom in first gas and then oil production in the US has encouraged hopes that other countries with substantial shale reserves – some larger than those in the US – will be able to establish similar industries.
Paul Reig, who leads the WRI’s work mapping water availability, said the wide variation in conditions between different shale regions could be a significant challenge for development.
“If any company is basing its expectation of managing demand for water on its experience in the US, it could be in for a big surprise,” he said.
The WRI says its study is the first publicly open assessment of water availability at all potential commercial shale gas and tight oil resources worldwide.
In the US, hydraulic fracturing and drilling accounts for only a tiny percentage of all water withdrawals, but some shale reserves are in areas where competition for water is very high.
In Johnson County, Texas, for example, water withdrawals for shale gas development in 2008 were responsible for almost one third of the county’s freshwater use, the WRI study said.
Many shale companies use fresh water in their operations but the WRI study underlines the importance of looking at alternatives such as brackish or recycled water, said Dr Cal Cooper, director of special projects and emerging technologies at Apache Corporation, a US gas and oil group. “It’s important to find something other than just fresh water,” he said.
Melissa Stark, managing director for new energy at Accenture, the consultancy, said water use was slowing down shale developments in China. Efforts were under way to make more use of waste water from industry or homes.
In Argentina, she added, plans had been made to build pipelines to take water to the Vaca Muerta shale formation, but a chicken-and-egg problem emerged: the water pipeline would be worth building only if it were clear that production would be on a large scale. However, development would be difficult without the pipeline.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Development without Deforestation - Desenvolvimento sem Desmatamento

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Vai para minha lista de leitura num futuro espero não muito distante.

Espero que o texto tenha respondido a seguinte pergunta:

Não é possível desenvolvimento, nos moldes atuais, baseado em crescimento econômico eterno de estruturas e populações humanas, sem desmatamento desenfreado à luz do que já ocorre hoje em várias partes do mundo, com os últimos ataques indo para Ásia, África, Canadá e ainda Brasil, cuja pretensão do setor agrícola é expandir a fronteira agrícola na Amazônia, conforme afrouxamento de legislação pertinente e seminários promovidos pelo “agribusiness”.  Ou seja, tal resultado só é possível com uma revisão total do modelo e teoria econômicos que não enxergam nenhum limite ecológio ou físico para suas pretensões de expansão contínua.

Os únicos lugares sem desmatamento na Terra hoje são onde já se desmatou tudo que era possível e agora conseguem manter e reflorestar com matas secundárias com a ajuda do comércio global, transferindo produção suja para países sem compliance ambiental algum, como se os mapas dos países realmente existissem sobre o nosso planeta, que na verdade é uno e não há salvação ambiental enquanto os estragos ecológicos não forem atribuídos aos seus principais responsáveis e todos enxergarem os limites planetários.

Portanto, fim do desmatamento somente quando sairmos da economia submetida a crescimento exponencial, baseada em desperdício e ineficiência, cujas tecnologias só servem para piorar as varáveis críticas.  Precisamos usar as tecnologias existentes mas esquecidas para reverter o ataque da humanidade contra os ecossistemas e estabilizar os danos dos quais já teremos consequências inevitáveis, devido ao atraso e a permanência do estrago feito no planeta. 

Dessa guerra contra os ecossistemas jamais sairemos ilesos, vide a maior extinção em massa de espécies animais e vegetais da história desse planeta em curso hoje e é muita ingenuidade achar que tal extinção não irá se voltar contra os causadores.  O pior desse extinção é que ela é endógena, não é um asteróide que está para colidir com a Terra, está sendo fabricada pelo nosso sistema econômico linear, degenerativo e infinito, dentro de um planeta finito, regenerativo e circular.  Está sendo mantido por uma mentalidade econômica ensinada para 100% dos estudantes de economia, pela qual se acredita corajosamente que a Terra é um subsistema da economia.  Nem precisamos dizer que a finalidade tautológica do crescimento pelo crescimento não tem como objetivo nenhum trazer ganhos sociais e ambientais para a humanidade, o que é mais pecaminoso.

O fim do desperdício de alimentos que terminam no lixo, por exemplo, já seria suficiente para alimentar 2 bilhões de pessoas por um ano.  Disseminação de nutrição saudável e de produção local de alimentos com princípios bio-orgânicos tem o poder de reduzir em 80% o impacto nos ecossistemas e alimentar muito mais pessoas.

Revisão do sistema de transportes, saindo do extremo da economia global (produção há milhares de quilômetros) para produção local, com o fim de viagens aéreas e no lugar vídeo-conferências, além de trocar turismo global por turismo local com a finalidade das comunidades se conhecerem mais e se preservarem tem um poder de redução do impacto sobre os ecossistemas não menor.

O fim do lixo, que é mantido graças aos lucros polpudos que abastecem empresas e empreiteiras, também teria o poder de reduzir o impacto de forma vultosa.

Enfim, é preciso achar outro modelo no lugar do modelo atual da casa-carro-viagem-ao-exterior que determina as vidas sem sentido e comezinhas da população humana que vive esse modelo e
daqueles muitos ou a maioria que desejam vivê-lo, sem saber que jamais conseguirão, por mais que eudeusem as celebridades inventadas.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Impossível crescer num planeta finito, mas...

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Mais um para o imaginário frequente de (i) temos um problema com a impossibilidade de manter crescimento infinito num planeta finito, mas (ii) temos a solução, qual seja, basta mudar a forma do crescimento e não a idéia em si mesma: http://www.oeco.org.br/guardian-environment-network/28594-nao-tema-o-crescimento-ele-nao-e-mais-o-inimigo-do-planeta.  Se para a primeira colocação não há muita dúvida entre os que se dizem “novos economistas”, para a segunda há visões completamente distintas, na sua maior parte ilusórias, sobre como tratar essa questão.  Os conceitos são tão vagos e tão descolados do conhecimento científico verdadeiro na física, na biologia, na tecnologia, na ecologia, que apesar de evidente contradição com os resultados apontados pela realidade, essa visão distorcida da realidade sobrevive e se dissemina, alimentada claro por algo que Aristóteles já tinha avisado a todos: “Quando nossos interesses estão em foco, somos os piores juízes das nossas ações.”

O texto do The Guardian replicado para o O ECO é esse tipo de argumento que afasta de vista qualquer crítica ao paradigma de crescimento e modelo de consumo. Podemos continuar crescendo e consumindo que nem loucos suicidas, sem apreço algum pela coletividade, porque estamos tendo ganhos de eficiência, sinais de mercado e novas tecnologias.   Seguem acreditando que o planeta é infinito, que a oferta brota do nada e que a tecnologia, nas palavras de Roegen, irá recriar o Jardim do Éden na Terra.  Apesar dessa crença infundada, não há um só estudo de variáveis críticas planetárias que não mostre deterioração contínua até hoje.   Desde o Millenium Ecossystem Assessment, Limits to Growth e outros estudos importantes, alguns secretos que só agora estão vazando, a situação só tem piorado.   Será que eficiência resolve e podemos ignorar que as florestas que sobraram como as de Borneo estão sendo destruídas?  A de Borneo está sendo solapada para produzir óleo de palma para a indústria de coméstico global.  Podemos crer que eficiência e tecnologia resolve tudo apesar da água estar desaparecendo de vastas regiões importantes de produção agrícola, desde a China, até Brasil e Estados Unidos?

No texto alucinado publicado no The Guardian, extraio alguns comentários interessantes:

Huhne claims: "The UK economy has doubled in real terms since 1985, but total energy consumption is exactly the same as it was in that year."  This is in fact dead wrong. "Official statistics indicate that the UK's greenhouse gas emissions have fallen over the last twenty years - partly because it now produces more electricity from gas than coal. But a new report from government adviser the Committee on Climate Change (CCC) finds that once imports and exports are taken into account, the country's emissions are 80 per cent higher."

A esse respeito lembro de ter lindo um livro brasileiro de autor brasileiro que falava a mesma besteira. Corrigiu, acrescentando que realmente não há evidências de tal melhora.  Esse segundo comentário é bem mais direto:

Where to begin?

1. GDP is rigged. Some jurisdictions are including prostitution, and not just the financial kind.
2. GDP "increase" is going to the richest, not the median.
3. Lots of things are more energy efficient, true. But most are not repairable, and must be thrown away every few years. That costs energy too.
4. The world is heating.
5. The oceans are dying.
6. The manufacturing centres are highly polluted.
7. Not to worry - correcting these things will increase the GDP.
8. The electric grid will not tolerate the higher loads which would result from every vehicle being electric. Somebody will have to improve that. Read copper.
9. Every industrial commodity is getting harder to extract. More steel for a drilling platform, more oil to transport lower grade ore. That is an exponential process, and it is exponentially bad.

But not to worry, you have made me feel SO good.

A esse respeito, não só Piketti, mas Janet Yellen no seu testemunho do Senado ouviu a seguinte pergunta de um senador: “A senhora não se incomoda com o fato de 99% da expansão da renda no período pós-recessão (desde junho de 2009) ter sido apropriada pelo 1% mais rico?”  Não preciso comentar mais nada.  Lógico que essa concentração de renda não preocupa quem está sendo beneficiado por ela e que, não por acaso, desconhece que não há um só exemplo na história da humanidade de tal processo não ter causado um colapso social.

Essa lógica tem uma equação que não fecha: a maturidade atual de economias saturadas que transferiram produção pesada e de energia para países poluidores não pode ser replicada por vastas populações carentes do Brasil, da China, da Índia que querem copiar seus modelos de carros, casas, viagens aos exterior e consumo desenfreado de qualquer coisa inútil e desnecessária que inventaram para nosso deleite (nem vamos comentar que as tecnologias que fariam uma lâmpada durar 100 anos e um pneu de carro durar 1000 anos foram destruídas, assim como a obsolescência programada está funcionando a todo vapor nessa economia do jogar fora que transformou a Terra, nossa casa maior, em uma enorme lixeira...).

Sei que é óbvio, mas o que está acontecendo em um país não necessariamente é possível de ser extrapolado para o planeta inteiro. E o argumento é muito simples.  Se os países ricos tivessem que produzir tudo que precisam (100%) dentro dos seus territórios, já estariam vivendo um colapso ambiental à la Ilha de Páscoa há muitas décadas.  Imaginem EUA e Reino Unido como únicos territórios da Terra e o resto só oceano e pensem: como esses países estariam, tendo destruido quase 100% das suas florestas, consumindo vastas quantidades dos recursos inclusive água de outros territórios que agora, nesse planeta hipotético não tem como ser suprido?  O colapso ambiental das economias maduras só foi evitado pela exportação dos descalabros ambientais para além das suas fronteiras e com até alguma economia recente, como se o planeta Terra não fosse uno...  Essa contrapartida das suas importações tem visibilidade zero no nosso sistema de preços derivado do nosso sistema de valores torpes. Transformar a Amazônia em monocultura tem custo zero na ideologia dominante atual, embora só um serviço seu, formação de água da América do Sul, requer energia equivalente a de 50.000 Itaipus. Imagina a fila de “consumidores” pagando por isso tudo.

Podemos até escamotear a realidade com idéias absurdas e seguir acreditando nelas, mas não conseguiremos mudar os resultados.  Caminhamos para um colapso civilizatório com risco de fim da vida na Terra enquanto mantivermos a idéia de medir nossas atividades por mais atividades, por crescimento que se justifica apenas por mais crescimento.  Enquanto medirmos bem estar pela quantidade de bens e comida que passam pelas mãos dos seres humanos ou sua satisfação pela renda e por aí vai, a lista de erros de crenças é infinda, além das soluções propostas serem cada vez mais inadequadas.  O bem estar humano além de não estar assegurado por essas vias, agora corre um rismo maior, por esfacelar as bases de sustentação da vida.

Sugiro a leitura de Serge Latouche e Erik Assadourian.  Do Erik Assadourian, esse texto muito mais lúcido mostra essa diferença de visões:  http://archleague.org/2013/10/degrowing-our-way-to-genuine-progress/

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