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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Avaliação do desempenho deve levar em conta as circunstâncias

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Por força das circunstâncias, Lula até aqui não foi provado como bom peão, pois quase que só montou touros mansos, com revelada preferência por cavalos de parada e desfiles por aí. Só enfrentou um ano de crise externa, e aí caiu do bicho, recebendo nota zero de PIB, ao contrário do ocorrido em países como a China e a Índia, que superaram a crise sem maiores pinotes, sustentados por altas taxas de investimento.

Já FHC domou quase um Bandido, o ferocíssimo touro Inflação, pai e filho de muitos outros males. E FHC cumpriu também seu tempo em cima do da Previdência, do Ajuste Fiscal e de muitos outros ferozes. Quanto ao touro Cambial, nenhum dos dois se saiu bem, e ele segue por aí a dar cabeçadas na indústria e no turismo do País.

Comparar homens junto com suas circunstâncias parece não passar pelo crivo de marqueteiros e outros estrategistas políticos. Mas, certamente, essa comparação ocupará lugar na História, pois serão muitos a narrá-la sem os vieses dos que hoje difundem e absorvem a visão dominante, a de dois peões avaliados sem levar em conta a braveza de seus touros nos rodeios da vida.


Carlos Eduardo Lessa Brandão


http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100902/not_imp604084,0.php

O Estado de São Paulo

São Paulo, 2 de setembro de 2010

OPINIÃO - pág. A2

FHC e Lula - dois peões comparados

Roberto Macedo

Há tempos Lula - e, neste período eleitoral, também sua fideicomissária Dilma - realça, com impressionante desfaçatez, estatísticas econômico-sociais comparativas de períodos presidenciais distintos - o de Fernando Henrique Cardoso e o dele -, atribuindo as mais favoráveis ao governo atual e às virtudes pessoais de seu presidente. Honesto seria enfatizar que a maior parte dos acontecimentos econômicos não decorre de vontades presidenciais e que os dois enfrentaram circunstâncias radicalmente diferentes. Elas se evidenciam nas condições internas que cada um encontrou no início do seu governo. E, principalmente, nas da economia mundial nos respectivos mandatos.

FHC, cujo trabalho começou no governo Itamar Franco, encontrou a economia fragilizada por uma década e meia de fraco crescimento, uma inflação indomada por sucessivos e fracassados planos de "estabilização", uma dívida externa agravada pelas crises mundiais de 1973 e 1979 e, depois, pelas de 1995, 1997 e 1998, quase sempre em renegociação, e contas públicas desajustadas. Estas não apenas na sua capacidade de gerar impostos, como na dificuldade de sustentar uma dívida pública de prazos e custos condizentes com uma boa gestão financeira. A inflação vinha tanto das desvalorizações cambiais ligadas às dificuldades externas como dessa desordem nas contas públicas.

Exceto pelas contas externas, que não se resolveram porque a economia mundial não oferecia então espaço para ampliar fortemente nossas exportações, e para trazer investimentos capazes de junto com elas fortalecer o fluxo de recursos externos e o estoque de reservas, FHC deixou a casa muitíssimo mais em ordem do que a encontrou. Em particular, domou a inflação, reestruturou as contas públicas, e deu início à política de valorização do salário mínimo. Sob a liderança de dona Ruth Cardoso, avançou também com programas sociais que sob Lula, com muito mais recursos dados pelas circunstâncias que o beneficiaram, foram consolidados no Bolsa-Família. FHC ousou também ao contrariar interesses corporativos, como em mudanças na Previdência Social e no programa de privatizações.

Lula entrou queixando-se de herança maldita, mas foi tão bendita que logo a adotou, como na política monetária que passou a Henrique Meirelles, deputado federal eleito em 2002 pelo PSDB de Goiás e logo recrutado para o Banco Central. Manteve também o câmbio flutuante e a ênfase no superávit fiscal primário, hoje enganoso, como mostrei no meu último artigo (19/8).

Bendita ainda mais foi a sorte grande que veio de fora para dentro, na forma de uma economia mundial cujos crescimento e comércio explodiram a partir de 2003. Recorde-se que no governo de FHC, entre 1995 e 2002 o comércio mundial, medido pelas exportações, passou de valores em torno de US$ 400 bilhões por mês a US$ 600 bilhões, um crescimento de 50% nesses sete anos. Em seis anos de Lula, entre 2003 e 2008, esse comércio chegou a US$ 1,4 trilhão no período imediatamente anterior à crise mundial, um crescimento de 133%!

Ora, isso favoreceu enormemente as exportações e o PIB brasileiros, gerando duas benesses formidáveis para Lula. Da primeira vieram impostos que abriram espaço para gastar muito mais, beneficiando de famílias bolsistas a "boquinhas" para companheiros. E economizou nos investimentos, uma das maiores carências do País. Da segunda vieram receitas e investimentos externos que geraram grandes reservas, dando fim ao antigo e crônico problema de escassez de divisas. Outro impulso à economia veio da expansão do crédito interno, mas mesmo esta não teria ocorrido na mesma dimensão sem o fim da inflação, assegurado por FHC, e pelos menores juros que se seguiram.

Em contraste com essas diferentes circunstâncias, e com a continuidade de políticas fernandistas, a propaganda lulista, reforçada agora no período eleitoral, atribui-lhe ambas as benesses, como se tudo fosse do sujeito e sem historicidade.

Poderia passar agora a aspectos filosóficos do papel do homem e das circunstâncias na vida dos dois presidentes, recorrendo, por exemplo, ao pensador Ortega y Gasset. Mas optei por uma comparação inspirada pela Festa do Peão de Barretos, encerrada recentemente.

Nela e noutras do ramo fica clara a relação entre o peão e as circunstâncias, em particular no desafio maior, o do touro, montado sem arreio e escorregadio por natureza. O desempenho do peão é avaliado relativamente ao do touro: se este não salta dentro dos padrões esperados, o peão não recebe pontuação. Tem novas chances até que venha um touro dos "bons". O melhor até hoje foi um de nome Bandido, que virou até artista de novela.

Por força das circunstâncias, Lula até aqui não foi provado como bom peão, pois quase que só montou touros mansos, com revelada preferência por cavalos de parada e desfiles por aí. Só enfrentou um ano de crise externa, e aí caiu do bicho, recebendo nota zero de PIB, ao contrário do ocorrido em países como a China e a Índia, que superaram a crise sem maiores pinotes, sustentados por altas taxas de investimento. Já FHC domou quase um Bandido, o ferocíssimo touro Inflação, pai e filho de muitos outros males. E FHC cumpriu também seu tempo em cima do da Previdência, do Ajuste Fiscal e de muitos outros ferozes. Quanto ao touro Cambial, nenhum dos dois se saiu bem, e ele segue por aí a dar cabeçadas na indústria e no turismo do País.

Comparar homens junto com suas circunstâncias parece não passar pelo crivo de marqueteiros e outros estrategistas políticos. Mas, certamente, essa comparação ocupará lugar na História, pois serão muitos a narrá-la sem os vieses dos que hoje difundem e absorvem a visão dominante, a de dois peões avaliados sem levar em conta a braveza de seus touros nos rodeios da vida.

Economista (UFMG, USP e Harvard), Professor Associado à Faap, é Vice-Presidente da Associação Comercial de São Paulo

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

PT: Qual a Grande Transformação?

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PT: Qual a Grande Transformação?

Leonardo Boff

Não sou membro do PT mas um cidadão que se interessa pelos destinos
do nosso pais, nos últimos sete anos moldados pelo governo Lula.

A campanha eleitoral se iniciará oficialmente dentro de pouco. Há o
grande risco de que predomine um espírito menor, diria quase infantil,
de uma campanha plebicistária entre os feitos do governo de FHC e
daquele de Lula. Seria a disputa tola entre o ontem e o anteontem ou
entre o atrasado e o velho, como preferem alguns ecologistas. Pois
ambos os contendores, na relação desenvolvimento e natureza, manejam o
mesmo paradigma, sob severa crítica mundial, por conter o veneno que
nos pode matar. Isso só serviria para distrair os eleitores dos
verdadeiros problemas que o Brasil e o mundo irão enfrentar.

Uma disputa eleitoral séria, à altura da fase planetária da humanidade
e da importância fundamental do Brasil dentro dela, não deveria estar
voltada para o passado a ser continuado mas, sim, para o futuro a ser
construido coletivamente. Quem apresenta o melhor projeto de Brasil
para o nosso povo e em sua relação para com a nascente sociedade
mundial? Que contribuição essencial podemos dar face aos cenários
dramáticos que se desenham no horizonte?

Permito-me apresentar três sugestões para animar a discussão interna
do PT. O lema do encontro nacional - A Grande Transformação - nos
remete Karl Polanyi com o clássico livro do mesmo título (1944) no
qual mostra como a sociedade virou uma sociedade de mercado,
transformando tudo em mercadoria. Não será essa a Grande Transformação
pensada pelo PT. Para que seja outra coisa, o partido deve assumir
seriamente este fato irrecusável: A Terra mudou porque já estamos
dentro do aquecimento global. A roda não pode mais ser parada, apenas
diminuir-lhe a velocidade. Se o termômetro da Terra subir para mais de
dois graus Celsius, nos próximos decênios, como previstos pelos
melhores centro de pesquisa, enfrentaremos no Brasil e no mundo a
tribulação da desolação. Muitos projetos já concluidos do PAC poderão
ser anulados. Não incluir em todos os planejamentos este dado é
mostrar falta de inteligência prática e irresponsabilidade histórica.
Do contrário teremos que aceitar a maldição de nossos filhos e filhas
e de nossos netos e netas.

Outro dado não menos perturbador é: a insustentabilidade do
sistema-Terra. A partir de 23 de setembro de 2008 ficamos sabendo que
o planeta Terra ultrapassou em 30% sua capacidade de repor os bens e
serviços necessários para a vida. Estamos consumindo hoje o que
precisaremos amanhã. Se quisermos universalizar o nivel de consumo das
classes médias mundiais, incluidos os oitenta milhões de brasileiros,
precisaríamos já agora de três Terras iguais a esta. Este modelo de
crescimento, como parece subjacente ao PAC, mostra a sua inviabilidade
a médio e a longo prazo. Não é que deixemos de produzir. Devemos
produzir mas dentro de um outro paradigma menos depredador do
sistema-Terra, com um acordo de respeito à suportabilidade de cada
ecossistema e com uma ampla inclusão social, imbuidos todos de uma
ética do cuidado, da responsabilidade universal e da busca do bem
viver para todos.

Por fim, o PT precisa conscientizar o fato de que o Brasil é,
seguramente, o pais-chave para o equilibrio do Planeta. Ele é a
potência das águas, o detentor das maiores florestas, as grandes
sequestradoras de dióxido de carbono e reguladoras dos climas, com
imensa biodiversidade e vastas terras agricultáveis, podendo ser a
mesa posta para as fomes do mundo inteiro, com capacidade incomparável
de gerar energias alternativas e com um povo altamente criativo, que
fez um ensaio civilizatório dos mais significativos, não imperialista,
e com uma visão encantada do mundo que lhe permite, no meio das
contradições. celebrar suas festas, torcer por seus times e dançar
seus carnavais, características essas decisivas para conferir um rosto
humano à mundialização em curso.

O futuro passa por nós. Não percebê-lo por ignorância ou distração é
não escutar os apelos da Mãe Terra e é defraudar seus filhos e filhas,
nossos irmãos e irmãs que apenas pedem singelamente viver com
decência.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Marina Silva, um futuro sustentável para o Brasil

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No sábado, dia 29 de agosto, um grupo se reuniu, sem alarde, num hotel paulistano para pensar o Brasil. E contribuir com ideias para a plataforma de um eventual governo da candidata do PV.

Que o sistema político brasileiro está vencido não é novidade alguma. Que a polarização da próxima disputa à presidência da República provoca bocejos, idem. Serra, o mal humorado, ou Dilma, a destemperada? Você prefere um gerente burocrata para nosso país que use calças ou saias? Totalmente inconformado com esse cenário desolador, que se pretende inescapável, um grupo de pessoas se reuniu nesse sábado no hotel Georges V, em São Paulo, disposto a interferir nessa paisagem.

Durante o sábado inteiro empresários, economistas, cientistas sociais, professores, lideranças políticas e sindicais, jovens estudantes, catedráticos da GV e da USP, jornalistas – éramos cerca de 40 pessoas – vivenciamos, num ambiente informal, denso de ideias e superdemocrático, um debate de princípios seguido da firme convicção de que podemos mudar o Brasil.

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terça-feira, 11 de agosto de 2009

“Vocês não precisam me acompanhar. Permaneçam no PT”, diz senadora Marina Silva a aliados

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Durante as 32 horas que permaneceu em Rio Branco (AC) para ouvir familiares, amigos e aliados políticos a respeito do convite para trocar o PT pelo PV, o comportamento da senadora Marina Silva (PT-AC), ex-ministra do Meio Ambiente, deixou em todos os interlocutores a certeza de que será mesmo candidata a presidente da República.

Foram horas marcadas por ansiedade, choro e ranger de dentes. Em várias ocasiões, a senadora e seus aliados não conseguiram controlar a emoção. Choraram ao relembrar de fatos que foram permeados por apelos para que permaneça no PT.

Leia mais aqui.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

EU VOTO NA MARINA SILVA PARA PRESIDENTE

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Duas matérias sobre sua provável candidatura em 2010.
FOLHA DE S. PAULO

TENDÊNCIAS/DEBATES
A hipótese Marina
ALFREDO SIRKIS

É COMPREENSÍVEL que a possibilidade de uma candidatura da senadora e ex-ministra do meio ambiente Marina Silva cause, por um lado, entusiasmo e excitação e, por outro, preocupação.
Milhões de brasileiros sensíveis à causa ecologista, à sustentabilidade ambiental e social de nosso modelo econômico, aos destinos do planeta ameaçado pelo aquecimento global, à devastação de nossos ecossistemas e à qualidade de vida nas nossas cidades vivem na expectativa de dispor de uma voz própria, eloquente, na campanha presidencial -até agora arena exclusiva dos defensores do desenvolvimentismo clássico dos anos 60.

Por outro lado, entende-se que haja políticos inquietos, cada qual fazendo seu cálculos: afinal, uma eventual candidatura da Marina Silva me ajuda ou me atrapalha? Quanto ajuda? Quanto atrapalha? Bombardear? Não bombardear?

É curioso que as reações políticas e a maioria das análises jornalísticas gravitem em volta desses cálculos pragmáticos enquanto escamoteiam o essencial: Marina representa ideias e aspirações hoje compartilhadas por milhões de brasileiros.

Não será legítimo e até importante para a democracia brasileira que elas estejam representadas em uma eleição de dois turnos? Numa dimensão minimalista, teríamos uma campanha altamente instrutiva e educativa, não apenas naquele discurso clássico, defensivista, do ambientalismo (deter a destruição da Amazônia e de sua biodiversidade, a contribuição das suas queimadas em emissões de CO2 etc.) mas também na didática daquilo que as vertentes hegemônicas do desenvolvimentismo clássico não conseguem perceber: o futuro econômico e social do Brasil, hoje, depende de mergulharmos de cabeça numa economia verde!

Nenhum outro país está tão bem posicionado quanto o Brasil para atrair investimentos para um ecodesenvolvimento, muito embora insistamos em monoculturas, na devastação da biodiversidade para estender mais e mais a fronteira pecuária, em subsidiar veículos poluentes e emissores de carbono, em novas termoelétricas a carvão e novas rodovias no coração da floresta.
No entanto, Marina tem um potencial além do eloquente discurso de primeiro turno para depois arrancar compromissos programáticos.

Ela pode contribuir para a superação dessa abissal fenda da política brasileira: a compulsória aliança das duas vertentes da social-democracia com as oligarquias políticas na busca da governabilidade. PT e PSDB disputam, como lucidamente notou em certa ocasião o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, "quem vai liderar o atraso".

No instável sistema político-institucional produto do nosso "voto jabuticaba", proporcional personalizado, ambos dependem do clientelismo e do fisiologismo profissional para governar. Melhor fariam em se aliar em algum momento, mas, como a disputa central se dá entre eles, isso dificilmente acontecerá, e a rivalidade entre eles é feroz.

Nós, verdes, nos relacionamos com ambos e reconhecemos o papel que respectivamente tiveram nos inegáveis avanços econômicos e sociais vividos pelo Brasil desde 1994. Marina é bem talhada para promover uma nova governabilidade com ambas as vertentes que, enfim, supere essa polarização bizarra, isole o atraso e abra caminho para uma reforma do nosso sistema eleitoral, secando sua dependência do clientelismo, do fisiologismo e do assistencialismo, fontes maiores da corrupção, do excesso de cargos comissionados, do mau uso da máquina pública e da compra de votos, direta ou via centros assistenciais.

O direito de ter um sonho de país e lutar para tirá-lo do papel é inalienável. Os verdes não abrem mão dele, mas também reconhecem que isso transcende suas limitadas fileiras. Nesse momento, é impossível saber, de fato, se Marina será ou não candidata. É uma decisão difícil, de fé íntima, que há que aguardar. O caminho político, no entanto, é claro: não é anti-PT. Nossa fraternidade, muito particularmente com o PT do Acre, remonta a Chico Mendes.

Também não é antitucanos. Certamente não é anti-Lula, embora não possamos abrir mão de criticar sua atitude frequentemente atrasada e deseducativa na questão ambiental.
Pode, eventualmente, vir a ser pós-Lula...
ALFREDO SIRKIS, 58, é vereador pelo PV no Rio de Janeiro, presidente do Partido Verde do Rio e vice-presidente nacional de seu partido. É autor, entre outras obras, de "Os Carbonários".

MIRIAM LEITÃO
Coluna no Globo 09/AGO/09
Para além do verde
Espaço existe. Pode aparecer uma candidatura ou um programa de governo que vão além da mesmice dos potenciais candidatos a presidente em 2010. Marina Silva pode ou não ser essa pessoa, mas, ao surgir, ajuda a vislumbrar como pode ser verde o eixo de uma campanha. Hoje, a questão ambiental virou climática, ganhou dramaticidade, urgência e transbordou. Foi além do verde.

Pode ser outra candidatura, ou uma transformação convincente de um atual candidato. Mas espaço existe. Hoje, o desafio posto sobre o planeta e sobre o Brasil é como construir a saída da crise ficando diferente; como injetar dinamismo na economia por mudar o modelo. Isso leva a programas transformadores e escolhas novas em todas as áreas. O desafio climático atingiu o patamar de dar coerência a um novo programa de desenvolvimento.

O desenvolvimentismo do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) tem vários problemas. O mais grave dele é ser velho. Ele ecoa ainda um "governar é abrir estradas", do mais remoto e arcaico Brasil; recorda a ideologia dos "projetos de impacto" do governo Médici. Não há, nunca houve, no programa de obras com o qual a possível candidata Dilma Rousseff pretende concretar sua subida pela rampa do Planalto, a menor sombra de atualidade. É impossível conciliar a esta altura o carro-chefe da ministra Dilma com o crescimento sustentável. Eles são opostos.

Um exemplo: a BR-319 tem sido defendida com o mesmo autoritarismo e falta de sentido da Transamazônica do governo militar. Não se sabe por que fazer a estrada, não se conhece estudo de modal alternativo, nem de viabilidade econômica. A ideia é apenas rasgar a floresta, num ponto nevrálgico, para levar as hordas de sempre de grileiros, especuladores, que abrirão novas cidades, que viverão dos repasses da União e repetirão a tragédia de atraso e violência. Está sendo usada a mesma técnica de pôr o Exército, como se fosse uma empreiteira, para tocar a obra enquanto a licença não vem. É a estratégia do fato consumado usada na transposição do Rio São Francisco. Dilma ainda vê o ambientalismo como inimigo a ser derrotado.

O dilema hamletiano da oposição tucana se agrava. O ser-não-sendo-candidato do governador de São Paulo, José Serra, tem vários defeitos. O pior deles é deixar espaço vazio, o que em política pode ser fatal. Se Serra tem uma ideia na cabeça, se ele tem um programa diferente, não se sabe. Ele vai disputar a mesma embalagem de bom gerente na qual se enrola a ministra da Casa Civil. Com uma vantagem: Serra já testou com sucesso o modelo da pessoa que faz acontecer em vários níveis de governo, em vários cargos. A Dilma é mais recente nesta vestimenta e tem contra si as evidências dos erros gerenciais do governo e as estatísticas de baixo desempenho do PAC. Se o candidato tucano for o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, ele também, até agora, mostrou que quer disputar o modelo do bom gerente com obras a apresentar. A grande divergência que Serra tem com o governo é a política cambial e monetária. A mesma que tinha quando as bases dessa política foram implantadas no governo tucano. Isso já era velho em 2002 e apequena qualquer campanha.

Houve um tempo em que o verde era apenas verde e o tema só fazia sucesso no gueto. Hoje, mudou radicalmente o conceito de progresso. Hoje, ele se desdobra em várias áreas: uma política externa que dará ao Brasil liderança na questão climática; uma política econômica de desenvolvimentismo moderno que mude a forma de produzir e usar energia; novas escolhas nos financiamentos públicos; na transformação da indústria. Significa ainda mudança de comportamentos; investimentos maciços em ciência e tecnologia; novos eixos da política de saúde pública; uma educação voltada para o que será exigido no futuro que começa agora, um mercado de trabalho que criará empregos ligados a novas tecnologias de energia e produção.
Uma proposta de governo que trate a questão climática-ambiental com a seriedade devida terá de enfrentar a falta de respeito à lei na Amazônia e isso será um avanço civilizatório. O combate ao atraso de uma parte do agronegócio abrirá novos mercados ao Brasil. O verde pode ser o veio central de uma proposta coerente em todas as áreas e atualizada com o que de mais moderno se conversa no mundo. O conhecimento do assunto se aprofundou tanto que os candidatos que usarem o nome da "sustentabilidade" em vão serão desmascarados como impostores. Não há clima para improvisos e maquiagem.

Se a senadora Marina Silva (PT-AC) for a candidata deste programa tem muito a fazer. Primeiro, precisa ir além da própria origem. Os passos que a levaram à militância política partiram do extrativismo. Isso é pequeno. Não dá nem para o começo da construção de um programa robusto. Precisará absorver o que está acontecendo no mundo e terá sim "enfrentamento". Inevitável. O Brasil atrasado e arcaico está em plena ofensiva contra o meio ambiente, como a própria senadora denunciou na aprovação da MP da grilagem. Não há composição possível com quem acha natural um programa decenal de energia que prevê 82 termelétricas a combustível fóssil. É preciso denunciar o que já caducou, contrariar interesses, enfrentar o velho.

Essa possibilidade pode não ser percebida pelos partidos que estão muito ocupados com as cenas de pugilato verbal e de degradação em que se transformou o ambiente político. Se a questão climática não tiver a atenção que merece, o Brasil terá uma campanha eleitoral, na segunda década do século XXI, discutindo ainda o século XX.

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