terça-feira, 23 de dezembro de 2014

III Seminário do CEDE

Por favor se comentar deixe um email para contato.


Grupo Decrescimento:
Prezados participantes do grupo,
A Teresa, doutoranda em Economia na UFF, solicitou a participação de alguém do grupo no III Seminários do CEDE, mesa: Desigualdade, Sustentabilidade e Decrescimento. Por indisponibilidade de tempo de pessoa mais qualificada, prontifiquei-me a participar do evento, ocorrido em 12/11/2014, e gostaria de compartilhar com o grupo nossas impressões.
Os presentes eram poucos; talvez 10 pessoas. Eram doutorandos, mestrandos e professores da UFF de diferentes áreas. A Professora Claude Cohen fez uma introdução que contextualizou o uso do termo DECRESCIMENTO, como utilizado hoje, e seus principais divulgadores. Depois dela, foi a minha vez de participar. Tive dificuldade para preparar minha fala, pois, como leigo no assunto e simpatizante do DECRESCIMENTO, não sabia bem como abordar o tema para pessoas muito qualificadas em Economia, formação que não é a minha. Decidi, então, propor várias questões para a reflexão dos presentes e sugerir algumas possibilidades de respostas. As perguntas foram divididas em duas partes. A primeira sugeria o caráter destrutivo e concentrador de poder inerente à teoria econômica predominante, com base no livro Consciência e Abundância. A segunda compartilharia uma discussão ocorrida no nosso grupo sobre o nome adequado para o “movimento”:
DECRESCIMIENTO ou DESCRECIMIENTO. Reproduzo, abaixo, as perguntas e possibilidades de respostas sugeridas.
PRIMEIRA PARTE:
Por que DESIGUALDADE “entrou na moda”? R: porque, segundo alguns estudiosos, ela nunca foi tão intensa.
A Teoria Econômica Predominante teve (e tem) papel importante para esta Desigualdade sem precedentes? R: suspeito que sim; muito importante.
Então, a Desigualdade sem precedentes que experimentamos hoje é, em grande parte, decorrência do fracasso ou do sucesso da Economia? R: suspeito que do seu SUCESSO!
Por que a Desigualdade é, em grande parte, resultado do sucesso da Teoria Econômica Predominante? R: porque ela está fundamentada num conceito destrutivo e excludente.
Algo pode crescer sem que sua base se expanda? R: suspeito que não.
E qual é a base da Teoria Econômica Predominante? R: ESCASSEZ!
O que é necessário para que uma economia baseada na escassez cresça? R: o crescimento da escassez.
Crescimento da escassez é bom ou ruim? R: penso que ruim.
Qual é o objetivo de uma economia baseada na escassez? R: CONCENTRAÇÃO DE PODER!
Como uma economia baseada na escassez promove a concentração de poder? R: Com outra pergunta: o que acontece com o detentor de um recurso que se torna mais escasso? R: CONCENTRA PODER!
Qual é a conseqüência natural da concentração de poder? R: Suspeito que seja a desigualdade.
Logo, se uma economia concentradora de poder obtiver sucesso, nós teremos igualdade ou desigualdade? R: suspeito que desigualdade.
Se nós desejamos um mundo menos desigual, deveríamos estimular o crescimento ou o decrescimento de uma economia baseada na escassez? R: suspeito que DECRESCIMENTO.
SEGUNDA PARTE:
DECRESCIMENTO: um dos vários movimentos interessantíssimos que estão ocorrendo no Brasil e no mundo.
O que é o “movimento” DECRESCIMENTO? R: Até onde conheço, não existe consenso – vide brigas no grupo...rsrsrs.
O que eu gostaria de compartilhar hoje? R: discussão no grupo que participo sobre DECRESCIMENTO sobre o nome mais adequado para o movimento: DECRESCIMIENTO ou DESCRECIMIENTO. DECRESCIMIENTO seria, grosseiramente, reduzir PIB (profa. Cohen falou sobre esse entendimento na sua introdução). DESCRECIMIENTO seria se desvincular do PIB e da teoria que o suporta.
Qual seria o melhor entendimento? R: suspeito que seria “DESCRECIMIENTO”.
Por que”DESCRECIMIENTO” seria melhor? R: porque se harmoniza com a EBA! (Economia Baseada na Abundância), proposta no livro Consciência e Abundância, fundamentada em outra visão de mundo, que possui outro conceito de riqueza e que não vê a concentração de poder (base da desigualdade) “com bons olhos”.
Encerro minha partilha por aqui e estou disponível para conversas, debates, trocas etc.
MUITO GRATO!
Após minha participação, o prof. Emmanuel Boff, sobrinho do Leonardo Boff, fez sua apresentação alinhavando a introdução da profa. Cohen, minha partilha e sustentabilidade (conotação de preservação ambiental).
Comentário sobre o evento:
Gostei muito de participar, rever conhecidos e conhecer outros. Apesar das minhas significativas limitações, fui acolhido com tolerância e gentileza. Por isso, agradeço a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para que essa experiência se realizasse: organizadores do evento, Teresa (que solicitou participante), Edson (nosso moderador) e todos os demais membros deste grupo. MUITO GRATO A TODOS!
Também aproveito para pedir desculpas pelas minhas falhas e forma simplória pela qual conduzi minha participação. 
Grato pela atenção.
Abraços fraternais.
Paulo


Paulo,


Crescimento do PIB só produz destruição da natureza, destruição dos empregos (e todo seu caráter social, como criatividade, liberdade, etc.) para apenas um objetivo: concentrar riqueza e poder nas mãos de cada vez menos pessoas.

Gostei muito, por isso escrevi essa frase que antes era: crescimento do PIB só produz concentração da riqueza, destruição da natureza e destruição dos empregos.

Depois do que você escreveu, os dois primeiros são os meios e o último é o objetivo.  Você está certo: a escassez foi inventada. Ela só existe através de uma série de maus atos.  Sem eles, sim, haveria a abundância.  Teríamos que cortar os maus atos, focar nos elos. Sair da economia dos invisíveis (produção global de marcas via transporte excessivo) para a economia dos visíveis (produção local de pessoas conhecidas com enormes interações sociais).  A idéia de migrar do invisível para o visível me parece ainda mais interessante no sentido que é impossível colocar uma grande corporação na cadeia.  Os maus atos são também inatingíveis e o “accountability” é praticamente impossível.  Nos invisíveis não temos a menor idéia como é produzida, que ecoterrorismo está associado e que destruições sociais estão sendo impingidas.  Vez ou outra aparece um caso, mas o todo nunca saberemos.  Pelo estado da água, do lixo, da saúde física e psíquica de todos, além do clima colapsando na Terra dá para se ter uma idéia, embora tudo pareça uma normose.

Mas isso é uma armadilha: justamente aqueles que podem mudar esse sistema, são os que mais se beneficiam dele.  A mudança só poderia vir de baixo (o número de desalentos está ficando grosseiro).  Como disse outro dia aqui nesse espaço: hoje uma empresa que produz 10% da demanda por televisores do mundo tem só três turnos de 15 funcionários cada... Os economistas tradicionais comemoram, chama “robolution” ou destruição acelerada de empregos. Só faltou se preocupar com o assalariado que vai comprar os produtos num consumo que precisa crescer exponencialmente.

Esse sistema tem sido muito bem sucedido nisso. Só que já sabemos e isso é fato: irá colapsar, mas não apenas para alguns. Dessa vez para todos.

Nunca estivemos tão perto do colapso como agora. O fim da água em São Paulo e em outros lugares é uma prova do erro fatal da teoria econômica tradicional que fundamenta a idéia estúpida e falsa de crescimento do PIB.

Abraço

Hugo

Café de máquinas residenciais com cápsulas

Por favor se comentar deixe um email para contato.


Querido amigo Hugo,

Caramba, virou moda já, mas não é que descobri que essas cápsulas de café tem dois problemas sérios, óbvios mas não tão óbvios, porque vivemos na inconsciência. Voilà:

1)      o que fazer com o resíduo? (  ) Mandar para marte? ( ) Acumular mais esse lixo num planeta já soterrado por lixo (como por exemplo resíduo da energia nuclear que não tem destino final até hoje) (  ) Fingir que somos sustentáveis e atirar tudo no oceano? (  ) Por que não podemos tratar a Terra como uma lixeira, que mal há nisso? (  ) Ajudar na contaminação da água num país que trata quase nada do seu esgoto? (  ) Todas as alternativas, sempre que só houver custo para o contribuinte otário...

2)      o café ali depositado, que desmatou uma floresta, consumiu água, solapou biodiversidade, queimou lotes e lotes de combustível para o transporte estúpido em caminhões, desse total que há na cápsula, 1/3 não é utilizado. Abra uma e veja você mesmo... Devíamos doar as cápsulas usadas para os necessitados.

Sabe esse monte de TV pendurado nas paredes de tudo quanto é canto dos espaços públicos, hotéis, hospitais, necrotérios, etc., ligados para ninguém ver ou ouvir ou usufruir? Então os exemplos de desperdício são a única forma agora desse sistema colapsado sobreviver um pouco mais.

O desperdício é nosso rei, junto com a obsolescência e o convencimento de consumir aquilo que não precisamos.  Realmente somos uma espécie que parte do princípio que não há mais amanhã ou que talvez acreditam que não precisamos do amanhã.  Estamos sem norte e sem modelo crível que funcione. A caminho do colapso agora de forma frenética, Paris não vai dar em nada, o tratado do Kyoto e os créditos do carbono previsivelmente terminaram em nada e em fraudes.  Sensacional! 

Mas existe trabalho grande daqueles que querem otimizar esse sistema a caminho do precipício com suas idéias ainda dentro do mesmo esquema da teoria neoclássica, pela qual o sistema econômico é um sistema isolado equivalente ao universo.  Mudança? Não, apenas desenvolvimento sustentável. Até a OCDE assina esse capricho... alguma frase em mente? A do Einstein: querer fazer sempre o mesmo esperando resultados diferentes...

O sucesso é medido pelo distanciamento material uns dos outros (só seremos bem sucedidos se comprarmos uma casa de 3.000 metros quadrados igual a da Gisele Bunchen ou do Luciano Hulk), não pelo bem que podemos fazer uns aos outros.  Esse distanciamento material é muito menor nas celebridades ou cenourinhas como Gisele Bunchen ou Luciano Hulk, do que quando olharmos os capitães do processo ou a superclasse de poucos indivíduos.

E esse distanciamento material só é obtido através da única forma de avaliar as economias: crescimento do PIB.  Pelo menos 80% do PIB é ineficiência, desperdício e coisas desnecessárias e eu estou impressionado com o assassinato do bom senso nesse planeta, mesmo nos lugares onde ainda não há guerras, como na Syria (e lá o motivo foi falta de água durante cinco anos, um pouco talvez de ponta do iceberg do que pode acontecer com o resto do mundo se não revorgarmos a teoria neoclássica, se a megalomania e a ganância não for estancada e se não dermos atenção às ciências dignas na Terra...).

Não sou católico, mas lhe desejo um bom Natal.  Tenta beber um pouco, eu sei que você não bebe, mas acho que é hora de beber um pouco,

Seu amigo idoso que o admira muito,

Virasin Ohmin

PS: Descarte sua máquina de café de cápslas, se você fez a burrice de comprar e volte para o coador de pano da vovó… Ah, transformar energia elétrica em calor (é o que esse troço faz) é extremamente ineficiente, prometo que aquecer água com o seu gás encanado é muito melhor...

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Fim da água em São Paulo à vista?

Por favor se comentar deixe um email para contato.

Amigos,


A entrevistada é do Instituto Socioambiental, que faz parte da Aliança pela Água (www.aguasp.com.br).

Meus comentários:

A questão da água é resultado direto de uma teoria econômica que ignora os elos do sistema econômico – e sua dependência – com a natureza.  Nicholas Georgescu Roegen mostrou mais de 50 anos atrás porque através de um erro epistemológico sério os economistas assumiram corajosamente a total separação entre o sistema econômico e o ambiental.   Mesmo assim, a explicação esquisofrênica em defesa desse modelo econômico é que a regra de escassez e os mercados irão resolver o problema ambiental (e social).  Na verdade com esse erro, os mercados só agravam a situação, o modelo teórico e mental que precisa ser revisto, do contrário, suicídio coletivo.

Conforme apontado por Paulo Roberto da Silva, como a regra de escassez só se aplica aos bens econômicos (oferta limitada e sujeita a apropriação) e não se aplica aos bens livres (inesgotáveis e não sujeitos a apropriação e inclui aqui todos os itens da natureza e seus serviços), a escassez desses últimos jamais é observada (finitude planetária ou da natureza) e as leis do mercado (preços mais altos como limitador do consumo) não valem aqui.  Ao contrário, como já escreveu várias vezes Hugo Penteado, quanto mais viável for economicamente uma atividade, mais inviável ela é do ponto de vista ambiental (e social).  Esse conflito não foi resolvido, porque para tal, é necessário a revogação dos erros da teoria econômica tradicional, algo que a Economia do Meio Ambiente que conhecemos, em grande parte ligada a essa visão neoclássica, também não resolveu (e o tratado de Kyoto expirou em 2012 sem nenhuma grande fanfarra...).

Na prática vivemos um suicídio coletivo progressivo.  Conforme se retira  mais água de reservatórios que vão sendo degradados (desmatamento, poluição, mudança climática), não há nenhum estímulo de demanda para evitar o seu consumo e o extremo desperdício dos paulistas e paulistanos.  Todos seguem lavando a calçada com mangueira e construindo piscinas, não há limitação alguma para outorga de água, mesmo que seja em sacrifício de atividades e populações do interior.  O desperdício galopante se observa em regiões como a de São Paulo cidade e satélites, mesmo com uma proporção per capita de água comparada a regiões semi-áridas (ou desertos), de apenas 200 litros /dia (à guisa de comparação, o estado tem 2800, Brasil 8200 e a ONU recomenda como limite mínimo 2000).   Portanto, toda a distribuição, usinas de filtragem, estações de tratamento, conexões de reservatórios, etc. disponibilizaram uma oferta acima do que rezava a finitude desse recurso na região a ponto de criar a possibiilidade de um colapso total que irá requerer que 20 milhões de habitantes sejam evacuados, porque sem água, a única opção é caminhão-pipa, mas a magnitude é impensável. Dos 13 hospitais da região da Paulista, só um, o Hospital das Clínicas requer 350 caminhões pipa por dia...

Além da água, o fim das reservas pesqueiras é um exemplo idêntico.  Você começa retirando peixes com cada vez maior frota de pesqueiros. O preço cai e a demanda sobe, culminando com nova alta de preços.  Aumenta a frota e retira-se mais peixes. O ciclo vai se repetindo até a reserva pesqueira colapsar com uma quantidade grotesca de barcos acima da linha do mar à toa.  As atividades ganham subsídios do governo para piorar.  Das 17 reservas pesqueiras mundiais, 11 entraram em colapso e as outras já estão bem encaminhadas na mesma direção. A indústria pesqueira mundial suicida tem rede suficiente para embalar a Terra sete vezes.  O mais assustador é que mesmo após a proibição da pesca em lugares importantes, não houve melhora, o colapso foi irreversível.  Mas essa “falsa escassez” fomentou uma outra atividade, nociva à saúde humana (uso de antibióticos, hormônios, tintas, metais pesados) que é a cultura de peixes fora do mar.  Salmão cultivado foi relatado num artigo do Guardian Sustainability Blog como um dos alimentos mais nocivos à saúde humana do mundo, senão o pior.

Jamais foi impedida pelo mercado e pela escassez a morte do solo em regiões agrícolas como no vale do Paraíba do Sul com o ferro e fogo arrasador na Mata Atlântica braslieira e o café, seguido por um êxodo e fuga ambiental de porte elevado na nossa história.  Nada se tirava do solo de alimentos, essa destruição é visível até os dias de hoje.  O modelo econômico opera até o colapso, não há nenhuma regra pertinente ao uso dos recursos da natureza que detenha esse suicídio ou que produza ganhos de eficiência, tecnologia, contenção da demanda que deveria engerar o limite ecológico.  Isso porque outro erro dessa teoria autista é que os bens da natureza são considerados substituíveis, o que podemos chamar de mito tecnológico e da substituição perfeita ou quase perfeita dos fatores.

Na prática é o que vemos na proposta do governo estadual e federal: na crise hídrica atual as três obras propostas (usina de reúso, canais transposição da água dos rios São Lourenço e Paraíba do Sul) são como se fossem substitutos para água.  Vamos imaginar que por conta do desmatamento, poluição, comprometimento de nascentesm, etc. a água não seja mais produzida nesses rios. As obras “substitutas” irão criar uma estrutura que não poderá ser usada.  A água é insubstituível e ela vem da natureza. Ponto. Podem construir as usinas e canais cinzas, eles podem ficar secos.  Isso tudo antes da morte da Amazônia e da mudança climática. Ou seja, como não fazemos nada como espécie animal, o pior ainda está por vir...

No limite, somente com finitude da demanda ou sua redução (decrescimento de matéria e energia e não do PIB, que já deveria ter sido abolido há décadas) conseguiremos amenizar a situação.  Não é mais possível revertê-la, isso era possível décadas antes, não agora com uma pegada ecológica global acima da capacidade terrestre, de 1,5 planeta (hoje mesmo li uma matéria que até 2050 o número de carros no Brasil irá quadruplicar, não só é uma cegueira total, como estamos copiando o modelo carrocentrista monodirigido que claramente não pode ser replicado para todos).  O quadro de alterações planetárias é irreversível e tudo indica que estamos levando o sistema para o limite, onde não podemos mais descartar cenários possíveis de ruptura.

Tudo isso para dizer que apesar dessa evidência – o fim da água - contrária ao pensamento tradicional, os economistas seguem acreditando que a água vai ser regulada pela escassez e pelos mercados, mas não explicam porque mesmo com essas regras pré-existentes não se conseguiu evitar a situação extrema que temos diante dos nossos olhos em várias áreas, as mais importantes, água, energia e clima.   Hoje existe um risco palpável de colapsar o reservatório da Cantareira até o terceiro volume morto e acabar totalmente a água se o regime de chuvas for tão ruim quanto em 2013-2014 ou se a perda de impermeabilidade for muito mais severa do que se imagina (uma vez que o fim do primeiro volume morto e o esgotamento do segundo e seu efeito sobre o eservatório nunca foi observado antes).  Quando isso acontecer, gostaria de ser o primeiro a perguntar aos economistas onde estão o mercado e a escassez que iriam evitar esse colapso? Por que não funcionaram?  Será que irão sustentar as suas falsas teorias mesmo após isso? Ou vão fazer como os mafiosos: só assumem a culpa por alguma coisa quando podem atribuir a alguém...

O volume morto guardava o selo da impermeabilidade da Cantareira, mas com o seu fim hoje 80% do fundo do reservatório está exposto a céu aberto e totalmente craqueado.  Apesar de tudo isso, a única estratégia do governo é esperar chuvas que tragam 75% da vazão no mínimo da média histórica para recuperar o reservatório para 10% acima dos dois volumes mortos já utiilizados.  Todas as três obras – que não são solução – só ficarão prontas depois do próximo ano hídrico (de outubro de 2014 a setembro de 2015).  A relação chuva e vazão pode ter quebrado, ou seja, para a mesma quantidade de chuva de antes, não se produz a mesma vazão histórica, ou seja, os reservatórios podem não encher mesmo com chuvas acima ou na média histórica.  Finalmente, a aposta de chuvas já não deu certo: outubro e novembro teve chuvas e vazão ridiculamente baixas (tanto por poucas chuvas quanto por falta de impermeabilidade nos reservatórios).  Dezembro vai pelo mesmo caminho.  Se janeiro a março continuar assim, evacuação das cidades à vista ou paralisação de todo o trânsito motor da cidade para deixar apenas centenas de milhares de caminhões-pipa circularem. Ah, e quem vai pagar a conta deles? Qual vai ser seu preço? Porque aí a escassez dos economistas autistas se aplica: quantos caminhões-pipa existem para movimentar água na cidade?

Virasin Ohmni

Colaboradores