quarta-feira, 27 de maio de 2009

NOVAS E MAIORES AGRESSÕES LEGAIS CONTRA O AMBIENTE

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Besteira lutar contra, deixem que destruam tudo, até o ponto que quando for tarde demais, um declínio populacional e de consumo dará conta do resto. Nesse momento, os economistas fecharão suas bocas servis.

VALOR 26/maio/2009

Editorial

NOVAS E MAIORES AGRESSÕES LEGAIS CONTRA O AMBIENTE

Medidas recentes tomadas pelo governo e pelo Congresso podem piorar o
já precário quadro ambiental brasileiro. Sob o motivo, justo e
necessário, de regularização fundiária da Amazônia, hoje uma
verdadeira terra de ninguém, o governo editou a MP 458, que
transferirá aos atuais ocupantes a posse definitiva de glebas que
pertencem à União. A MP sofreu péssimas emendas na Câmara - elas
escancaram a possibilidade de concessão de terras a grileiros. A
bancada ruralista continua pressionando por alterações no Código
Florestal, em que o alvo é reduzir a dimensão de área de proteção de
rios, nascentes e a reserva legal na Amazônia. Por último, o governo
entrou no vácuo legal criado por uma decisão do Supremo Tribunal
Federal sobre a contribuição ambiental e tornou o que antes era um
piso, 0,5% do valor total do empreendimento (derrubado pelo STF), em
teto. As leis ambientais não são cumpridas e os infratores ignoram as
sanções, quando elas são aplicadas. Uma das funções da ofensiva legal
nesta área é a de reduzir até mesmo a fiscalização, ao jogar para
dentro da lei o que já era produto de transgressões e sinalizar para
novas concessões.

Os congressistas agem como se não percebessem que, com a discussão de
um novo acordo para conter o aquecimento global em curso, medidas
levianas e potencialmente destrutivas em relação à Amazônia podem
desmoralizar o governo nos fóruns internacionais. É com base no
interesse mais imediatista, para pressupor apenas intenções
confessáveis, que a Câmara derrubou um item que proibia pessoas que já
tinham outros imóveis no país de requerer a posse de pedaços de terra
na Amazônia ("O Estado de S. Paulo", 24 de maio). Pela emenda, poderão
fazê-lo para estabelecimentos de até 1.500 hectares. As mudanças são
coerentes com a intenção de facilitar a concentração de terra e venda
rápida de bens que pertencem à União.

Uma legislação já polêmica tornar-se-á desfigurada se as alterações
forem mantidas. Pelo que a Câmara aprovou, não será preciso morar ou
trabalhar na terra objeto de pedido de posse para que se possa
comprá-la. As terras obtidas podem ser vendidas após três anos.
Pode-se avaliar o alto interesse em seguir os preceitos ambientais de
proprietários que já tem outras propriedades, não moram no local e
ainda podem vender as terras em tão pouco tempo. E, em algo que beira
o escárnio, os deputados estabeleceram que quem buscar legalizar
posses de até 400 hectares não deverá sofrer fiscalização para se
constatar que a própria posse foi pacífica.

Não há dúvida de que a regularização fundiária tornaria a
responsabilidade pelo desmatamento identificável e permitiria aos que
vivem na Amazônia a obtenção de crédito para a exploração da terra.
Mas para isso seria necessário, antes ou simultaneamente, que uma
ampla política integrada de ocupação da floresta, alicerçada por
zoneamento ecológico, estivesse claramente delineada. Da forma como
está, a legislação abre a possibilidade de grileiros obterem crédito
legal para continuar devastando florestas. Parece irrefutável o
argumento da ex-ministra e senadora Marina Lima. Para ceder terras da
União a particulares, diz ela, "há dois requisitos constitucionais:
quando se trata de altíssima relevância social e quando cumpre com a
função social da terra". As brechas abertas passam por cima deles.

Da mesma forma, a ofensiva contra as áreas de preservação visa levar
mais longe o espírito predador que caracterizou boa parte da
agricultura brasileira. A intenção de reduzir a área de reserva legal
de 80% para 50%, sem que se exija igualmente um zoneamento, visa pura
e simplesmente aumentar o desmatamento. Por outro lado, a iniciativa
do governo de transformar 0,5% do valor das obras de piso em teto (com
exclusão de alguns itens de custo) carece de lógica. O mesmo argumento
com o qual o STF derrubou um piso serve como uma luva para invalidar a
fixação de um teto. A compensação ambiental deve ser feita caso a
caso, enquanto que o governo procurou acabar com seu próprio arbítrio
na fixação da compensação, mas parece ter ido longe demais. A ampla
aliança governista é necessária para que o presidente Lula sagre seu
sucessor. Nesta barganha política, muita coisa ruim para o ambiente
pode vir a acontecer.

terça-feira, 26 de maio de 2009

A "reinvenção" do trabalho escravo no Brasil

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A "reinvenção" do trabalho escravo no Brasil
Por Leonardo Sakamoto em 20/05/2009
Fonte: Le Monde Diplomatique Brasil

Estima-se que milhares de pessoas, em diferentes regiões do Brasil, trabalhem em condições degradantes e estejam impedidas de romper com o empregador. É a escravidão contemporânea, que longe de ser um resquício de modos de produções arcaicos, é usada como forma de viabilizar a concorrência na economia globalizada

A cada ano, milhares de trabalhadores rurais vindos de regiões pobres do país são obrigados a trabalhar em fazendas e carvoarias. Submetidos a condições degradantes de serviço e impedidos de romper a relação com o empregador, eles permanecem presos até que terminem a tarefa para a qual foram aliciados, sob ameaças que vão de torturas psicológicas a espancamentos e assassinatos. No Brasil, essa forma de exploração é chamada de escravidão contemporânea, nova escravidão, ou, ainda, trabalho análogo ao escravo.

Sua natureza econômica difere da escravidão da Antiguidade clássica e da escravidão moderna, mas o tratamento desumano, a restrição à liberdade e o processo de “coisificação” são similares. O número de trabalhadores envolvidos é relativamente pequeno, porém não desprezível: de 1995 – quando o sistema de combate ao trabalho escravo contemporâneo foi criado pelo governo federal – a 2008, mais de 31 mil pessoas foram encontradas nessa situação, de acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Nesse mesmo período, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) registrou cerca de 50 mil denúncias sobre a utilização de mão de obra escrava.

A produção capitalista necessita de espaços não capitalistas para se desenvolver. Em função de sua natureza, não admite limitações na aquisição de matéria-prima e na criação de mercados. Vale lembrar que ao longo de séculos, países e corporações têm ido à guerra por esse motivo. Em um curto espaço de tempo, de acordo com uma sinalização de demanda pelos centros capitalistas nacionais e globais, os empreendimentos agropecuários são capazes de se expandir sobre áreas, na maioria das vezes, ocupadas por populações que vivem sob um modo de produção não capitalista. Em questão de anos, surgem grandes fazendas de gado, lavouras de soja, algodão e cana-de-açúcar, além de carvoarias, produzindo matériaprima e gêneros alimentícios, onde antes viviam populações indígenas, camponeses, comunidades quilombolas ou ribeirinhas.

Nessa expansão, coexistem tecnologia de ponta, vendida e financiada pelos mesmos centros capitalistas nacionais e globais, e formas ilegais de trabalho. O que parece contraditório na verdade expressa um processo fundamental para o desenvolvimento desses empreendimentos, acelerando sua capitalização e garantindo a capacidade de concorrência.

A utilização de trabalho escravo contemporâneo não é resquício de modos de produção arcaicos que sobreviveram provisoriamente à introdução do capitalismo, mas sim um instrumento utilizado pelo próprio capital para facilitar a acumulação em seu processo de expansão.

A superexploração do trabalho, da qual a escravidão é sua forma mais cruel, é deliberadamente utilizada em determinadas regiões e circunstâncias como parte integrante e instrumento do capital. Sem ela, empreendimentos mais atrasados em áreas de expansão não teriam a mesma capacidade de concorrer na economia globalizada.

Há condições sociais que facilitam a disponibilização de mão de obra para essa pilhagem constante da força de trabalho. Em verdade, elas são consequências do próprio sistema, como o crescimento do exército de reserva de mão de obra que resulta da progressiva redução da participação relativa do trabalho na composição do capital. Mas também do processo de grilagem e expulsão de posseiros e de outras populações tradicionais de suas terras na região de fronteira agrícola amazônica – frequente durante o regime militar nas décadas de 1970 e 1980 e que se mantém ainda hoje – que serve tanto para aumentar o contingente de mão de obra para o campo e as cidades, quanto para ampliar os territórios dos empresários.

Isso, estruturalmente, gera um excedente alijado de meios de produção e emprego, diminuindo o valor de mercado a ser pago por um serviço. Os trabalhadores são impelidos a aceitar a oferta de serviço do “gato”, mesmo não recebendo garantias de que as promessas dadas no momento do recrutamento serão cumpridas. Baseado nesse contexto de fragilidade social, promovido pelo próprio capital, o capitalista pode utilizar a mão de obra necessária pagando o montante que desejar. Que pode ser nada no caso do trabalho análogo ao escravo.

As propriedades rurais mais atrasadas do ponto de vista tecnológico tendem a compensar essa diferença por meio de uma constante redução da participação do “trabalho” no seu custo total. Simulam, dessa forma, uma composição orgânica do capital de um empreendimento mais moderno, em que a diminuição da participação do custo do trabalho se dá através do desenvolvimento tecnológico. Em outras palavras, há fazendeiros que retiram o couro do trabalhador para poder concorrer no mercado. Outros se aproveitam dessa alternativa não para gerar competitividade, mas para capitalizar-se durante um período de tempo (e depois trocar trabalhadores por colheitadeiras) ou aumentar sua margem de lucro.

Esse processo de acumulação capitalista baseado em formas não capitalistas de produção opera no momento de expansão do sistema, em que este consome formas exteriores para crescer. Depois, essas formas são introduzidas no capital, que continua seu avanço. Essa inserção não é automática, mas sim um processo que varia em tempo e intensidade, de acordo com o tipo de empreendimento e seu grau de modernização. Tal processo ocorre em três situações:

a) Há atividades que, por motivos técnicos – seja porque não é possível sua mecanização, seja porque a utilização de mão de obra demanda menor investimento inicial, continuam excessivamente dependentes de trabalho manual.

Um dos casos registrados de escravidão contemporânea está no desmatamento e limpeza de antigas áreas abandonadas para a introdução de empreendimentos agropecuáriosou extrativistas. A força de trabalho é utilizada para derrubada de mata nativa, construção de cercas, plantação de pastos, produção de carvão vegetal, e catação de raízes para possibilitar o cultivo da soja e do algodão. Dessa forma, esses empreendimentos são capazes de gerar recursos já no momento de sua abertura.

Modernização incompleta

Um exemplo são os pecuaristas proprietários de terras na região de influência do polo siderúrgico de Carajás, no Pará, que têm produzido carvão vegetal a partir do desmatamento (na maior parte das vezes, ilegal), realizado para implantação ou ampliação de pastagem. O carvão é vendido a usinas siderúrgicas do Maranhão e do Pará para a produção de ferro-gusa, matéria-prima do aço, exportado principalmente para os Estados Unidos. E a área fica limpa para a plantação de pastos. Os recursos obtidos na venda do carvão são usados para construir infraestrutura ou comprar gado. Nessas duas etapas – de carvoejamento e de introdução da pecuária – têm sido realizadas por trabalho análogo ao escravo. Há um gasto mínimo com a manutenção da mão de obra, superexplorada, enquanto a economia gerada pode viabilizar a concorrência ou aumentar o capital constante. Nesse caso, o ganho com a produção tem sido repassado a algumas usinas que aceitam a mercadoria mesmo com irregularidades.

B) Outra situação de escravidão contemporânea é encontrada em empreendimentos já implantados, mas que estão expandindo sua área, como as propriedades rurais em funcionamento que crescem em superfície cultivável a partir da derrubada de mata nativa, da limpeza de antigas áreas abandonadas, de mudanças de ramo de atividade econômica, entre outros contextos. Nesse caso, o trabalho escravo contemporâneo cumpre a função de motor de expansão em empreendimentos consolidados.

Empregadores utilizam tecnologia de ponta em uma área da produção, enquanto depreciam a mão de obra em outra. O grupo móvel de fiscalização do governo federal, responsável pela libertação de pessoas, encontrou 54 trabalhadores em condição análoga à de escravo na fazenda Peruano, em Eldorado dos Carajás, sudeste do Pará, em dezembro de 2001. Eles trabalhavam em atividades de ampliação da infraestrutura e do pasto nessa fazenda que produz gado e é considerada modelo no desenvolvimento de matrizes reprodutoras, inseminação artificial e comercialização de embriões.

O proprietário era um dos maiores criadores da raça nelore do estado. Esse não é o único caso: há diversos exemplos de fazendas de soja e algodão que utilizam tecnologia de ponta na produção de grãos e fibras, enquanto a preparação de solo e a ampliação de área são feitas de forma arcaica, com baixo investimento.

Em operação de fiscalização iniciada no dia 20 de novembro de 2003, foram libertados 22 trabalhadores que estavam em situação de escravidão na fazenda Entre Rios, produtora de arroz e soja, a 125 quilômetros do município de Sinop, norte do estado de Mato Grosso. A ação foi motivada por denúncias de maus-tratos e cerceamento da liberdade. Algumas pessoas não eram pagas há meses, recebendo apenas comida e alojamento – pequenas barracas de lona nas quais se amontoavam, em redes, famílias inteiras. A água que utilizavam era imprópria e servia ao mesmo tempo para consumo, banho e lavagem de roupa. Inicialmente, 40 pessoas haviam sido contratadas para a empreitada, mas como não suportaram as duras condições impostas, muitos fugiram antes de a fiscalização chegar. O proprietário, Manoel Barbosa Lopes Júnior, do grupo Rota-Oeste Veículos, representante da empresa Scania, tentou convencer os peões a voltarem para a Entre Rios durante a operação de fiscalização, afirmando que precisava dessa mão de obra para o serviço. Porém, apesar das alternativas de contratação oferecidas por ele, os trabalhadores se negaram a retornar – estavam com medo do comportamento violento e das constantes ameaças de espancamento de Clóvis, gerente da fazenda.

Segundo os auditores do Ministério do Trabalho e Emprego, os empregados também eram constantemente ameaçados pelos dois “gatos” da fazenda que, assim como o gerente, andavam armados. De acordo com Valderez Monte, auditora fiscal e coordenadora da operação, os trabalhadores sempre ouviam o gerente dizer que “maranhense tem que apanhar mesmo de facão”.

Dois modos de produção atuam de forma complementar e simultânea. O modo arcaico serve ao moderno para garantir uma expansão do capital (terras e benfeitorias), sem que seja necessário capitalizar grandes montantes de mais-valia provenientes da parte moderna, garantindo que esta mantenha sua competitividade no mercado enquanto cresce.

C) O mesmo vale para empreendimentos cujo processo de modernização é muito lento ou estagnou-se. Podem ser incluídos o plantio e a colheita de lavouras como café, cana-de-açúcar, pimenta-do-reino, frutas, arroz, tomate ou atividades de extração vegetal.

Assim, encontra-se trabalho escravo contemporâneo não apenas em atividades em área de expansão agropecuária, mas também em empreendimentos cuja modernização foi incompleta, em comparação com o restante do setor. Em outras palavras, o desenvolvimento capitalista de uma propriedade rural pode ter se estagnado e, sem aumento da produtividade do trabalho, ela deprecia o capital variável para continuar operando de forma viável.

Nas regiões de fronteira agrícola encontra-se a maior incidência de trabalho escravo, mas esse tipo de exploração não está restrito à Amazônia ou ao Cerrado. Não é de se estranhar que empreendimentos com modernização incompleta utilizem mão de obra análoga à de escravo, como nas lavouras de cana-de-açúcar em Campos dos Goitacazes, estado do Rio de Janeiro, ou em fazendas de extração de resina, no interior de São Paulo.

Esses dois momentos, o moderno e o arcaico, se chocam ou se completam devido à sua proximidade física. Durante uma ação de fiscalização em uma fazenda do Mato Grosso, os auditores fiscais do trabalho presenciaram aviões pulverizando o campo com agrotóxicos enquanto os catadores de raízes ainda estavam na área, deixando-os cobertos de veneno.

Em empreendimentos pecuaristas, os vaqueiros recebem do proprietário da fazenda e do gerente ou preposto tratamento melhor que os peões, muitas vezes com contratos de trabalho. Isso deve-se ao fato de os vaqueiros serem profissionais especializados e depositários de confiança por parte do proprietário. Em diversas ocasiões, o grupo móvel de fiscalização encontrou vaqueiros atuando na vigilância dos trabalhadores recrutados para o trato do pasto, evitando que fugissem antes do fim do serviço.

A utilização de formas extremas de exploração da força de trabalho, em que os custos com a manutenção da mão de obra são insuficientes para a reprodução social ou biológica do indivíduo, é restrita a uma parcela pequena da população economicamente ativa. A incidência de trabalho análogo ao escravo tem sido pequena comparada ao universo de trabalhadores rurais. Com isso, ele não é capaz, diretamente, de reduzir os preços de produtos em nível nacional e internacional, mas sim os custos individuais de capitalistas, quando estes vendem commodities, ou seja, mercadorias com padrão e preço comuns.

Porém, por ser um instrumento de redução individual de custos, contribui com a viabilização da implantação de novos empreendimentos e, portanto, facilita a expansão agropecuária sobre áreas não inseridas no modo de produção. Maior número de áreas de produção significa aumento da oferta de mercadorias.

A acumulação primitiva, adotada como instrumento de capitalização, foi usada em larga escala na Amazônia para a implantação de fazendas durante o período da ditadura militar. E não foi devido a uma suposta ausência estatal que essa forma de exploração teve condições de se desenvolver; pelo contrário, é a ação direta de setores cúmplices ou coniventes do Estado que permite e incentiva esse laissez-faire no campo. Historicamente, esses empreendimentos têm conseguido recursos por intermédio dos governos federal, estadual e municipal, garantindo um nível de capital constante que permite sua atuação no mercado. As placas que mostram o financiamento da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e do Banco da Amazônia (Basa), expostas nas porteiras das fazendas, provam que o Estado se faz presente na fronteira agrícola para o capital, através de incentivos fiscais, isenção de impostos, taxas e subsídios,

e de infraestrutura para os produtores rurais, e que há uma política pública apoiando aquelas práticas. Hoje, há uma política federal de negar empréstimos a quem foi flagrado com trabalho escravo, mas ainda é muito pouco considerando o que é oferecido a quem traz o “progresso” à região.

Escravos contemporâneos e trabalhadores assalariados, elementos antigos e novos, convivem dentro do capitalismo de forma complementar e para o bem desse sistema. Marx afirmava que o “morto apodera-se do vivo”. Com base em mais de um século de experiência capitalista, com a manutenção de antigas práticas dentro do sistema, constata-se que não são apenas as velhas formas que se inserem nas novas, mas que as novas também recorrem às velhas.

Erradicar o trabalho escravo contemporâneo requer uma mudança estrutural. Dado o nível de domínio do capital sobre a sociedade, e a falta de perspectivas de alteração do panorama visível, é necessário adotar uma postura pragmática. Há a possibilidade de atenuar o problema, diminuindo a incidência de trabalho escravo e mesmo de formas não contratuais de trabalho, por meio de alterações no modo de produção e na sua forma de expansão. Não se trata, aqui, de analisar as políticas de erradicação do trabalho escravo, mas sim de apontar que, para ter sucesso, tais políticas devem atingir de forma inequívoca a base econômica dessa estrutura.

A distribuição de terra não é a panacéia para o problema da exploração do trabalho no país, mas representa a mais importante mudança nessa estrutura e no modelo de expansão do modo de produção no campo brasileiro. A reforma agrária, ou seja, a socialização, pelo menos parcial, dos meios de produção no campo significaria um pesado golpe no capital que, direta ou indiretamente, se aproveita do exército reserva de mão de obra disponível para superexplorá-la.

* Leonardo Sakamoto, jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, é coordenador geral da ONG Repórter Brasil e membro da Comissão Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

"Desafio do Brasil é crescer como os demais países do Bric"

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O artigo do professor Nouriel Roubini abaixo contém dois erros, um mais básico e outro, menos percebido.

Brasil tem que crescer igual à China...

É muito estranho esse argumento, porque na década de 70, o Brasil em seus estágios iniciais de desenvolvimento, similares aos da China de hoje, sua taxa de crescimento ficou acima de 10% por muitos anos (em 1973 crescemos 14%). Agora nosso país está num estágio de desenvolvimento bem acima da China. Ao lado disso, temos a evidência que os países mais maduros possuem crescimento bem menores: EUA, com potencial de 3,0%, Reino Unido com potencial de 2,5%, Eurolândia com potencial de 2,0% e Japão com potencial de 1,5%. Porque só o Brasil deveria crescer a taxas chinesas e os países desenvolvidos podem crescer menos? Há uma diferença de ritmo de crescimento conforme o estágio de desenvolvimento? As evidências todas elas apontam que sim.

A teoria de crescimento de Robert Solow usa apenas capital produzido pelo homem (fábricas, equipamentos, etc.) e trabalho como fatores explicativos do crescimento. Na verdade Solow descobriu que essa especificação de modelo só explicava 20% do fenômeno de crescimento e o resíduo gerado foi batizado de avanço tecnológico ou resíduo de Solow, algo que fez os matemáticos tremerem, porque o correto seria questionar a especificação do modelo e não batizar o erro com seu próprio nome. Enfim, na China, um desses fatores explicativos do crescimento, o trabalho, deve crescer a uma razão de 30% ao ano, com o estoque de chineses marginalizados sendo absorvido pela migração rural urbana. Já no Brasil e nos países ricos, esse crescimento, ligado a uma dinâmica populacional diferente, é bem menor, nulo ou negativo. Essa é uma boa razão para entender como a transição demográfica e ausência de migrações populacionais explica em grande parte porque a dinâmica do crescimento é menor conforme o país é mais desenvolvido.

Crescimento ilimitado e cego como única solução de todos os problemas

Os erros não terminam aí, porque tudo isso é teoria neoclássica, que ignora que tal crescimento ocorre dentro de um sistema não crescente que é o planeta. Não é possível um sistema se manter crescente num sistema não crescente. O fim do crescimento é inevitável, como revelou já há décadas o grupo Meadows do MIT (financiados pela Fundação Volkswagen, cujos trabalhos jamais foram refutados). Basta lembrar a questão física, como o espaço territorial finito e a questão ecológica, como por exemplo, sem a Amazônia que é continuamente destruída, poucos brasileiros irão sobreviver. E essa não é a nossa única vinculação ecológica com o planeta, por isso somos tão vulneráveis e estamos tão ameaçados nesse século, que pode ser o nosso último.

Em síntese, apesar de tantas evidências, a questão do crescimento é encarada de forma muito simplista, ninguém endereça os descalabros ambientais gerados, nem os excessos, nem os desperdícios e nem a falsa noção de uma eterna escassez, simplesmente porque é assumido na teoria econômica que as necessidades humanas são ilimitadas, embora durante o processo, segundo a FORDHAM University e o New Economics Foundation, quanto mais as economias crescem, piora se torna o atendimento das necessidades humanas sociais, principalmente nas economias ricas, onde há uma concentração de riqueza crescente e extrema. A contradição assustadora entre crescimento econômico e resultados sociais, cada vez mais negativos, deveria levar a busca de um novo consenso acerca dessa idéia estranha, ao contrário das palavras de Roubini, onde não sabemos ainda por qual evidência, ele conclui que quanto mais melhor, embora mais esteja virando menos em vários lugares do mundo. Países que mais crescem, que foram considerados um sucesso até o dia derradeiro da crise, acabam em falências sistêmicas como as que estamos vendo nas economias maduras. Por tudo isso posto temos motivos de sobra para questionar a enorme convicção sobre essa idéia de acreditar que o crescimento é sempre benigno e sem efeitos colaterais ou externalidades negativas. Seria hora de questionar também a sua possibilidade eterna...

Hugo Penteado

''Desafio do Brasil é crescer como os demais países do Bric''

Para isso, diz o economista Nouriel Roubini, o País precisa investir mais na infraestrutura e na educação

Ricardo Leopoldo – OESP 22.05.09
O economista Nouriel Roubini, professor da New York University, disse ontem, em São Paulo, que o maior desafio do Brasil é elevar a média de crescimento econômico, que oscilou de 4% a 5% nos últimos dois anos, para uma taxa próxima da russa, chinesa e indiana, que variou de 8% a 10% no mesmo período.

"O Brasil tem grande potencial de expansão, uma quantidade extraordinária de recursos naturais, mas precisa elevar o crescimento para um nível próximo do das outras nações do Bric", comentou, referindo-se ao acrônimo formado pelas iniciais desses quatro países.

Ao discursar no evento "Perspectivas da Economia Mundial - Visão Geral e os Impactos no Brasil", promovido pela Serasa Experian, Roubini relacionou os fatores que vão potencializar o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) do País: ampliação dos investimentos em infraestrutura, melhora da qualidade do ensino e reformas capazes de dar mais eficiência ao setor público e estimular as empresas a ampliar a Formação Bruta de Capital Fixo.

No geral, Roubini fez avaliações positivas do Brasil. Ele destacou a "estabilidade macroeconômica, que perdura por vários anos", promovida de forma significativa pelo Banco Central (BC), "que tem independência" para controlar a inflação. "Isso fez com que o País apresente hoje resiliência, o que não permitirá que ocorra o risco de crise financeira, ao contrário do que aconteceu em 1999 e 2002."

O acadêmico atribuiu o bom desempenho do País, em meio à recessão mundial, a outros elementos, como os resultados das contas externas, que não apresentam déficit de transações correntes elevado, e a solidez dos bancos, o que, para ele, está relacionada com a adequada regulação do sistema financeiro pelo governo. Ele usou o exemplo do País para defender a ação do Estado sobre a atividade das instituições financeiras em todo o planeta.

"Os governos devem agir sobretudo para evitar desequilíbrios macroeconômicos", comentou ele, acrescentando que isso também deveria ocorrer para coibir a expansão de bolhas de ativos financeiros. "A crise nos EUA, por exemplo, não afetou só o mercado de hipotecas subprime, mas todo o sistema de crédito", disse.

"Não foi à toa que surgiu todo um abecedário de ativos financeiros que visavam a lastrear operações com diversos títulos, como os CDOs", disse, referindo-se à sigla em inglês das Obrigações de Dívida Colateralizada, que dão ao portador o direito de ficar com o ativo dado como garantia, caso as obrigações não sejam honradas. "A atual crise mostrou que estão errados os que defendem o laissez-faire, pois o livre mercado, da forma como vimos até recentemente, causou problemas graves à economia mundial."



FRASES

Nouriel Roubini
Economista

"A atual crise mostrou que estão errados os que defendem o laissez-faire, pois o livre mercado, da forma como vimos até recentemente, causou problemas graves à economia mundial."

sábado, 23 de maio de 2009

Ecologizar as crenças - II

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Ecologizar as crenças - II


Maurício Andrés Ribeiro (*)


Ecologizar as crenças é aplicar os conhecimentos das ciências ecológicas e a saebedoria da consciência ecológica àquilo em que se acredita. No campo ambiental, há muitos interesses controversos: temas como a energia nuclear, organismos geneticamente modificados, papel reciclagem de resíduos, são polêmicos. O papel reciclado, por exemplo, pode por um lado reduzir o corte de árvores; por outro , sua produção exige usar mais água, mais químicos para tirar a tinta; seria ele ecologicamente mais amigável que o papel branco, quando se computam os custos logísticos, as distâncias percorridas e a emissão de gases de efeito-estufa durante o seu recolhimento? A energia nuclear, muito tempo execrada pelos ambientalistas, tem sido resgatada por cientistas como James Lovelock, pelo fato de não emitir gases de efeito-estufa.


O temor, o medo, a busca da segurança se encontram na raiz de posturas ambientalistas prudentes. A crença é, então, escudo de proteção contra riscos ecológicos e ameaças. Assim, o movimento antinuclear se apóia no medo ao terror e ao lixo atômico; o movimento contra os organismos geneticamente modificados se apóia no princípio da precaução e na prudência ecológica, considerando temerário apostar em novos produtos e processos cujos impactos não se conhecem bem.


Nesse contexto de informações incompletas, como diferenciar o consumo consciente do consumo crente, ecoreligioso? A crença pode ser uma forma de auto-engano, de preferir negar ou não ver algo que para outros é evidente. Desconstruir, desmitificar crenças, desaprender, pode ser útil no caminho de aproximação do que seja mais verdadeiro. Há necessidade de ciência, de informação abalizada e de conhecimento técnico para evitar auto-enganos bem intencionados. A moral e a ética tendem a desaguar em uma pregação que pode ser enganadora, dogmática. A aceitação inquestionada, a fé, a crença, sem verificação ou consideração da verdade científica e apoio em conhecimentos, levam a logros e descréditos. Crenças ecológicas desinformadas levam a equívocos. Boa vontade, boa fé e boas intenções desinformadas levam a atitudes e comportamentos aparentemente virtuosos, porém inócuos ou contraproducentes, além de pouco sábios.

Corre-se a cada momento o risco de cometer equívocos, ter uma pseudoconsciência sem ciência, enganar-se por falta de embasamento.


Nesse contexto, algumas controvérsias são alimentadas por quem tem interesses específicos, que trata de se movimentar para fazer prevalecer um ponto de vista ou crença que o beneficie. Assim, por exemplo, uma empresa fabricante de papinha de nenê pode propagendear que o aleitamento materno não é tão importante assim. Ou que é substituível sem problemas e com vantagens.


Atualmente há grande confiança na ciência e na tecnologia, sobre as quais são depositadas expectativas de que dêem respostas verdadeiras e satisfatórias aos problemas causados pelas ações humanas. Como ter conhecimento sobre temas especializados, que necessitam de formação, capacitação, especialização? Num contexto de especialização crescente, a confiança e a difusão responsável e sistemática de informações tornam-se necessárias, pois não é possível conhecer a fundo cada tema. Por outro lado, segmentos da sociedade manifestam desconfiança nos cientistas e em sua capacidade de responder aos problemas; em parte porque, seres humanos falíveis, estão sujeitos a serem instrumentalizados por interesses econômicos. Nesse contexto, comportar-se a partir de bons padrões éticos e técnicos torna os especialistas confiáveis e lhes conferem credibilidade.


Há crenças que não podem ser provadas, e que levam a ações boas e ruins. Uma crença pode vir a mostrar-se verdadeira ou falsa. Enquanto ela não é comprovada ou refutada, pode-se acreditar, ter fé e por ela pautar atitudes. Uma crença independentemente de mostrar-se verdadeira ou falsa, tem, assim, conseqüências práticas, ao influenciar comportamentos ecológicos ou antiecológicos. Ecologizar as crenças é, portanto, uma forma de induzir mudanças de comportamentos e de conduzir a uma crescente ecologização da sociedade.


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(*) Autor de Ecologizar e de Tesouros da Índia

WWW.ecologizar.com.br mandrib@uol.com.br


1 Ken O'Donnell, Caminhos para uma Consciência Elevada, Editora Gente, São
Paulo, 1996

Economistas e ambientalistas criticam taxa de compensação ambiental de 0,5%

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Fonte: Eco-Finanças - (21/05/2009)
Link: http://www.eco-financas.org.br

Decreto que estipula taxa de compensação ambiental em 0,5% coloca o país na contramão da história, na opinião de economistas ligados às questões ambientais

Bruno Calixto

Ambientalistas criticaram o decreto assinado pelo presidente Lula na última sexta-feira que define uma taxa de 0,5% como o teto para a compensação de obras de impacto ambiental.

Para a senadora Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, a medida é ilegal. A senadora questionou a constitucionalidade da fixação de uma alíquota máxima para a compensação ambiental. "Cada vez mais os setores dentro do governo ligados a áreas como energia e transportes assumem um protagonismo quase total na agenda de meio ambiente", disse Marina ao jornal Valor.

O diretor da organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira Roberto Smeraldi concorda. "O decreto reflete bem o peso que meio ambiente tem na economia, na opinião deste governo: 0,5%, quando for muito". Smeraldi critica o conceito de se estipular um teto para esse tipo de taxa. "O próprio conceito de teto não guarda qualquer sentido, na medida em que o Supremo já decidiu que o valor deveria ser proporcional aos impactos e os impactos não têm teto algum".

Contramão da história
Para o professor da Universidade de São Paulo (USP) José Eli da Veiga, essa decisão coloca o país na "contramão da história". "Qualquer sociedade que esteja procurando o rumo ao desenvolvimento sustentável deve fazer com que sua estrutura institucional de incentivos passe a ser orientada à promoção de atividades econômicas que favoreçam a conservação dos recursos naturais".

Para Eli da Veiga, como uma das mais poderosas dimensões dessa estrutura institucional é o sistema tributário, a linha de conduta "só pode ser a de aumentar a taxação de danos aos ecossistemas e de usar a decorrente arrecadação não apenas para a proteção ambiental, mas sobretudo para lançar incentivos fiscais à criatividade, seja ela baseada em CT&I (ciência, tecnologia e inovação), ou em conhecimento tácito".

O decreto
A definição da taxa para compensação ambiental é polêmica no governo. A taxa foi inicialmente estipulada no ano 2000, e era um piso de 0,5%. Em abril de 2008, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucional a parte de lei que definia o piso, alegando que a compensação deveria ser proporcional ao impacto ambiental causado por cada empreendimento.

De acordo com o novo texto, fica estipulado um teto de 0,5% sobre parte da obra. Antes, o piso era 0,5% do valor total da obra.

A nova medida beneficia empreendimentos como construção de rodovias, usinas hidrelétricas e exploração de petróleo no pré-sal.

Taxas ambientais
Investidores em infraestrutura comemoraram a nova taxa. Como a cobrança era feita, em muitos casos, quando as obras já estavam em andamento, o setor considerou uma conquista o estabelecimento do limite, que permite eliminar custos não planejados com o meio ambiente.

Os ambientalistas, no entanto, rejeitam a tese de que taxações maiores no setor produtivo podem prejudicar a economia, mesmo em tempos de crise.

O economista Hugo Penteado, autor do livro Eco-economia, explica que a taxação só se justifica através de uma mudança de paradigma. "Precisamos reconhecer que o sistema produtivo não é uma parte destacada do meio ambiente, mas uma parte dependente do meio ambiente. Quando fazemos esse ajuste no modelo de pensamento econômico tradicional para a realidade, essa colocação torna-se totalmente falaciosa - taxar atividades que prejudicam o meio ambiente ao invés de prejudicar, viabiliza o setor produtivo".

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Ecologizar a crença - I

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Maurício Andrés Ribeiro (*)

Acreditar em algo e não o viver é desonesto

Mahatma Gandhi


Crenças existem e têm eficácia ao influir em comportamentos. Acreditemos ou não na crença a ou b , gostemos ou não, elas estão aí. Já que são um dado da realidade e que algumas tem efeitos ecológicos positivos e outras tem efeitos destrutivos, cabe fazer com que se ecologizem.

Crenças funcionam para legitimar e justificar atitudes e comportamentos. “Eu acredito nisso, portanto, me comporto assim ou assado”. Agir em desacordo com a própria crença provoca desconforto, conflitos pessoais, sentimentos de culpa, dor na consciência. Aqueles que acreditam, mas que não têm comportamentos coerentes com sua fé ou crença, sofrem de autocomplacência, perda de auto-estima e de amor próprio, por não serem fortes o suficiente para alinhar sua prática com aquilo em que acreditam. “A lacuna que separa o ideal da prática atinge a todos nós em maior ou menor extensão e deixa bem clara a diferença entre satisfação e frustração. A felicidade pessoal está relacionada com a coerência entre o que acredito ser verdade e minhas ações.1

A hipocrisia desconecta aquilo que se pensa e fala daquilo que se faz. “A teoria na prática é outra”; “faça o que eu digo e não o que eu faço” são frases populares que expressam esse tipo de atitude.


Crer, acreditar, move energias e motiva para o esforço, a obra e o projeto coletivo, um mito ou sonho que se transforma em realidade: “ A fé remove montanhas”.


No seu livro A biologia da crença, Bruce Lipton explica como as células do corpo são influenciadas pelo pensamento e mostra o mecanismo pelo qual elas recebem e processam as informações. A biologia da crença estuda a relação entre a vida, o ambiente, o pensamento, as percepções e os vários níveis de consciência.


O impacto das ações de quem acredita em algo pode ser diferente dos impactos das ações de quem não acredita no que faz. Crer influi na consciência e nas ações; não crer também influi no pensamento e nas ações decorrentes. Assim, acreditar na reencarnação pode ajudar a conservar o meio ambiente, pois, no autointeresse, ele deve ter boa qualidade para ser habitado nesta e em outras vidas.


Acreditar na eficácia da homeopatia ou da acupuntura ajuda a usar tratamentos alternativos e pode torná-los mais eficazes. Acreditar nas mudanças climáticas e crer que o ser humano tenha responsabilidade nelas ajuda a induzir atitudes ecologicamente responsáveis. Acreditar que comer carne é ruim para o ambiente ajuda a forjar hábitos alimentares vegetarianos. O fato de se acreditar em tais coisas e de tentar agir coerentemente com tais crenças traz resultados ecologicamente amigáveis.

Há quem prefira não acreditar nas mudanças climáticas e na responsabilidade humana sobre elas. Assim, não se sentem compromissados a mudar hábitos e estilo de vida; não se sentem culpados por um problema ecológico que tem conseqüências danosas ou negativas. O cético desobriga-se, perante sua própria consciência, de autolimitar suas atitudes predatórias; evita assim qualquer drama de consciência. O ceticismo pode significar um apego ao conforto, uma forma de comodismo e de não desejar abrir mão de hábitos.


As crenças constituem freios ecológicos que colocam limites ao comportamento humano. Pescadores deixam de sair à pesca quando um passaro específico canta ou quando uma mulher grávida entra no barco. Acreditam que isso não lhes trará boa sorte. Pessoas cuidam melhor do ambiente quando crêem na reencarnação, por um senso de auto interesse ampliado que se estende às próximas gerações e reencarnações. Trata-se da solidariedade não apenas com as próximas gerações, mas para com as próximas reencarnações.

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(*) Autor de Ecologizar e de Tesouros da Índia

WWW.ecologizar.com.br mandrib@uol.com.br

Dicas

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A situação é tão séria, que muitos concluem que vamos todos morrer ou não tem mais jeito. Essa visão é muito ruim. Causa depressão, letargia, desistência e pior, já que vai acabar, então deixa eu usufruir o pouco que resta. Será?

Tudo isso deriva da nossa necessidade de controle e de prever o futuro, embora não tenhamos em nossas mãos nenhuma das duas coisas. O futuro não foi feito para ser previsto, mas para ser criado, como escreveu Erwin Laszlos. Mas criar dentro das limitações sociais, biológicas, físicas e planetárias que não iremos jamais revogar.

As dicas, portanto, são: não se preocupe com o que vai acontecer nem o que os outros vão fazer ou deixar de fazer, isso não é problema seu, nem pode ser definido por você. Somente faça a sua parte. Também não se preocupe muito se a sua parte é perfeita ou não, porque nada nem ninguém será. Faça o que você achar melhor, partindo sempre do princípio que você faz porque acredita e sente que tudo e todos a sua volta é interdependente e belo demais para ignorar as consequências e não se sentir responsável. Ame e preserve, pois sua vida depende de outras vidas que dependem de você. Nessa crise espiritual atual, o melhor caminho para atingir a paz é fazer a sua parte sem reticências.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Custo da poluição

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''Custo da poluição'' é de R$ 14 por segundo

Valor se refere a tratamentos respiratórios e cardiovasculares

Fernanda Aranda e Alexandre Gonçalves

Os custos da poluição, pela primeira vez, foram mapeados fora das fronteiras de São Paulo. Estudo obtido pelo Estado mostra que são R$ 14 gastos por segundo (R$ 459,2 milhões anuais) para tratar sequelas respiratórias e cardiovasculares de vítimas do excesso de partícula fina - poluente da fumaça do óleo diesel . O valor é dispensado por unidades de saúde públicas e privadas de seis regiões metropolitanas do País.

A mesma pesquisa, produzida pelo Laboratório de Poluição da USP e seis universidades federais, mostra que, além dos paulistas, respiram ar reprovado pelos padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS) as regiões do Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e Recife. "A poluição não é mais privilégio de São Paulo e os impactos são diretos na saúde cardiovascular do brasileiro", diz Antônio Carlos Chagas, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Pelo ensaio científico, 8.169 pessoas são internadas anualmente com problemas cardíacos atribuídos à partícula fina. Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição da USP, explica que a substância funciona "como uma espécie de Sedex de outras impurezas no organismo e é um dos poluentes que mais afeta a saúde".

Os dados mostram ainda que obter o título de maior frota de veículos do Brasil também rende liderança ainda mais expressiva na categoria "prejuízos". São Paulo concentra 61% das mortes relacionadas à poluição, apesar de responder por 57% da quantidade de carros que existe nos locais estudados.

Além do excesso de gases tóxicos emitidos pelos escapamentos, outro fator que contribui para o primeiro lugar paulista, avaliam os especialistas, é a produção científica sobre os males da poluição. Ensaios recentes já produziram um inventário sobre os problemas em decorrência dos gases em São Paulo. As publicações associam que desde o trato respiratório é afetado - com asma, bronquite e sinusite -, passando pelo sistema cardiovascular, atingindo as funções metabólicas (diabete, pressão alta) e chegando até ao sistema reprodutivo, com associação à infertilidade.

As pesquisas em São Paulo incentivaram a produção em outras metrópoles. O cardiologista Evandro Mesquita, da Universidade Federal Fluminense, começou a cruzar os dados de arritmia e enfarte em dias marcados pelo excesso de poluentes. Quando o Instituto do Coração de SP (Incor) fez teste parecido no ano passado, encontrou aumento de 11% de morte por ocorrência cardíaca.

No Rio, a pesquisa da USP mostra que são 1.434 pacientes do coração internados por ano. A reportagem teve acesso ao estudo na ação civil pública que o Ministério Público de São Paulo move contra a Petrobrás e 13 montadoras de veículos pedindo indenização para vítimas da poluição. Segundo o promotor do Meio Ambiente do MP, José Isamel Lutti, o valor indenizatório terá "como parâmetro" a pesquisa.

Além das internações, também foram calculadas as mortes nas regiões: 11.559 pessoas com mais de 40 anos (31 vidas por dia).

A Petrobrás, por meio de assessoria de imprensa, informou que não foi notificada sobre a ação, ajuizada em março deste ano.

MORTES E CUSTOS

São Paulo: 7.187 mortes/ano e R$ 335 mi com internação

Rio: 2.975 mortes e R$ 68,7 mi

Porto Alegre: 722 mortes e R$ 27,6 milhões

Curitiba: 389 mortes e R$ 15,9 milhões

Belo Horizonte: 180 mortes e R$ 9,7 milhões

Recife: 106 mortes e R$ 2,6 mi

quarta-feira, 20 de maio de 2009

China, colapso ambiental

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Nenhuma palavra sobre as péssimas condições de trabalho, sobre as questões ambientais, sobre a falta de direitos civis, humanos, sobre o que foi feito e revelado pelas associações de direitos humanos durante as Olimpíadas, sobre o fato também das cidades não terem mais céus azuis por causa da poluição e, acima de tudo, não existe a menor evidência de redução do desastre ambiental e da poluição via ganhos de eficiência, porque nossa ênfase tem que ser números totais e não números relativos. É de se admirar que as pessoas não se preocupem com um sistema sempre crescente (economia) dentro de um sistema não crescente (planeta) e não perceber o flagelo que isso representa. Sem a Amazônia e o Cerrado, poucos brasileiros irão sobreviver, só para levantar uma das várias questões.

China assim como os países ricos já vive um colapso ambiental, que está sendo escamoteado via comércio global, sugando recursos dos demais países da Terra a custo ambiental zero, determinado pelo nosso conjunto de valores.


China 1 X 0 América Latina
Por Giuliana Napolitano | 15/05/2009 - 19:33
"Faltam chineses na América Latina." Foi o que disse Charles Munger, o sócio de Warren Buffett na empresa de investimentos Berkshire Hathaway, no dia seguinte à reunião anual da companhia, em maio. Numa entrevista para poucos jornalistas, feita num hotel em Omaha, ele explicou por que é tão otimista com a Ásia - e a China em particular -, mas parece não ter tanto interesse assim na América Latina.
"A China tem uma política econômica que favorece o desenvolvimento: quando eles decidem fazer algo, realmente fazem. Além disso, formam muita gente capacitada por ano. Há muitos engenheiros chineses de alto nível. Em parte, isso se deve à grande população, mas também pode ser creditado a um esforço mais amplo de educação e dedicação das pessoas. A história da população chinesa é muito difícil, de luta pela sobrevivência. Isso molda pessoas acostumadas a trabalhar duro. Pode ser que ocorra lá o que ocorreu no Japão no pós-guerra." E foi bem direto, como é seu perfil: "Na América Latina, não há nada disso. A cultura é totalmente diferente. Acho que faltam chineses na região."
Para Munger, uma empresa como a BYD - e fabricante chinesa de baterias de celulares e carros elétricos que recebeu 230 milhões de dólares da Berkshire no fim de 2008 - "dificilmente aconteceria na América Latina".
É, soa como um balde de água fria mesmo. Mas isso quer dizer que a dupla não colocaria um centavo na América Latina? Pessoas próximas a eles dizem que não. Para a biógrafa de Buffett, Alice Schroeder, países como o Brasil estão, sim, no radar, dos gurus. "Eles nunca dizem claramente o que estão fazendo." A conferir.
Este post saiu de uma parte da apuração que fiz na visita a Omaha no começo de maio, para cobrir a reunião anual da Berkshire, e não entrou na reportagem de capa desta edição da Exame. Vou colocar outras entrevistas, fotos e curiosidades sobre a reunião - que é realmente impressionante - nos próximos dias.

terça-feira, 19 de maio de 2009

O todo-poderoso yuan?

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Roubini, como todo economista tradicional, tem uma visão parcial do sistema. Isso até o século XXI era possível, agora não mais. Existem algumas condições que fizeram os Estados Unidos substituírem a Grã-Bretanha como potência e emissor de moeda universal. A primeira delas foi se transformar no maior produtor mundial, como fez China hoje. A condição seguinte foi criar uma classe consumidora emergente que fez o país sair da sua posição dependente mundial (modelo produtor-exportador) para influenciar o resto do mundo (modelo consumidor-importador). Daí a chegar no emissor universal para financiar seus gastos é um pequeno passo. Tem uma última condição sempre olvidada: ser capaz de implementar esse modelo com externalidades ambientais crescentes, sem causar colapso planetário e sem estar próximo do limite ao crescimento, além de não incorrer em internalizações dos custos socioambientais de forma imposta ou voluntária em nenhum momento durante o processo.

Vamos analisar a situação da China. A China não tem uma classe consumidora emergente para mudar o modelo produtor-exportador para um modelo consumidor-importador. Falta essa peça. Nos Estados Unidos, as pessoas detinham condições para consumir, só não tinham vontade, mas foi fácil converter os religiosos poupadores americanos do final do século XIX em consumidores individualistas inconscientes do século XX. Bastou buscar fundamentos psicológicos para as campanhas de marketing: o que mais agrada o ser humano é a desgraça alheia, o que mais frustra é o sucesso alheio. Para vender, basta colocar pessoas felizes ao lado dos produtos. Como a aquisição material não produz felicidade, esse vício de consumir nunca é exterminado, por mais saturadas as pessoas estejam. Se precisar, consumidores doentes se endividarão até os ossos para conseguirem aquilo que outros felizes possuem e elas não. Esse é o sistema criado. Os chineses até querem virar consumidores contumazes, mas não detêm ainda condições para consumir, com péssimo arcabouço trabalhista, com falta de saúde e previdência. Enquanto a China não mudar seu modelo de exportadora para consumidora, ela não sai da posição de financiadora do resto do mundo para ser financiada, via emissão de moeda universal. Mas claro que ela vai tentar fazer isso e pode até conseguir, se apertar os botões certos, mas falta um problema final a ser resolvido. As demandas econômicas e populacionais já excedem aquelas que podem ser atendidas pelo planeta. Portanto, muito antes da China emergir como potência e emissora universal de moeda, a crise vai ser outra e bem mais séria e o colapso no consumo mundial via exaustão de ecossistemas e serviços ecológicos de sustentação da vida será hediondo.

Enfim, acreditar que a mesma mecânica do passado irá explicará o futuro, sem descobrir que análises fragmentárias como essas falham em reconhecer riscos e causalidades muito mais prementes, não servirão de norte para ninguém que esteja ciente disso. No curto prazo, vale surfar na onda, afinal, que tal usufruir um pouco mais do saque que estamos fazendo contra nossa própria espécie animal? Porque para o planeta, não fazemos nem cócegas...

Segue texto do Roubini sobre a China (grifos meus):


O todo-poderoso yuan?

Nouriel Roubini*, THE NEW YORK TIMES
O século 19 foi dominado pelo Império Britânico, o século 20, pelos Estados Unidos. Podemos agora estar testemunhando o início do século asiático, dominado pela ascensão da China e sua moeda. Apesar de o status do dólar como principal moeda das reservas internacionais não correr o risco de desaparecer da noite para o dia, não podemos mais dar como certa a sua manutenção. Mais cedo do que pensamos, o dólar pode ser desafiado por outras moedas, principalmente pelo yuan chinês. Isso teria um custo alto para os Estados Unidos, implicando o fim da nossa capacidade de financiar os déficits orçamentário e comercial a um custo baixo.

Tradicionalmente, os impérios responsáveis por cunhar a moeda das reservas internacionais são também credores internacionais líquidos. O Império Britânico entrou em declínio - e a libra perdeu o status de principal moeda das reservas internacionais - quando a Grã-Bretanha se tornou uma devedora líquida, durante a 2ª Guerra Mundial. Hoje, os Estados Unidos estão numa posição semelhante. O país está incorrendo em déficits orçamentários e comerciais e depende da boa vontade dos inquietos credores internacionais, que começam a se sentir inseguros em relação ao acúmulo de um número ainda maior de ativos em dólar. Por isso, o declínio do dólar pode ser apenas uma questão de tempo.

Mas que moeda poderia substituir o dólar? A libra britânica, o iene japonês e o franco suíço continuam sendo moedas menores nas reservas internacionais - e esses países não são grandes potências. O ouro ainda é uma relíquia bárbara, cujo valor aumenta somente quando a inflação é alta. O euro está agrilhoado à preocupação em relação à viabilidade da União Monetária Europeia no longo prazo. Isso nos deixa o yuan (ou renminbi).

A China é um país credor com grandes superávits em conta corrente, um pequeno déficit orçamentário, uma dívida pública equivalente a uma proporção do Produto Interno Bruto (PIB) muito menor que a americana e um crescimento sólido. Além disso, o país já está adotando medidas no sentido de desafiar a supremacia do dólar. Pequim pediu a criação de uma nova moeda para as reservas internacionais de acordo com o modelo dos direitos especiais de saque do Fundo Monetário Internacional ( fundo composto por dólares, euros, libras e ienes). A China logo vai querer que a sua própria moeda seja incluída nesse fundo, além de ver o yuan sendo utilizado como forma de pagamento no comércio bilateral.

Entretanto, no momento, o yuan ainda tem um longo caminho a percorrer antes de estar pronto para o status de moeda das reservas internacionais. Primeiro, a China terá de relaxar as restrições à entrada e saída de dinheiro do país, tornar sua moeda totalmente cambiável para tais transações, dar prosseguimento às reformas financeiras domésticas e aumentar a liquidez dos seus mercados de títulos. Assim, levaria muito tempo para que o yuan se tornasse uma moeda das reservas internacionais, mas isso pode, de fato, acontecer. A China já fez uma demonstração de força ao estabelecer swaps cambiais com diversos países (entre eles Argentina, Bielo-Rússia e Indonésia) e ao permitir que as instituições de Hong Kong emitam títulos denominados em yuans, o primeiro passo no sentido da criação de um profundo mercado doméstico e internacional para a sua moeda.

Se a China e outros países tomassem a iniciativa de diversificar as reservas internacionais optando por moedas diferentes do dólar - e em algum momento isso deve acontecer -, os EUA sofreriam as consequências.

Obtivemos benefícios financeiros significativos por ser o dólar a moeda das reservas internacionais. Em especial, o forte mercado do dólar permite que os americanos paguem juros baixos pelos empréstimos que contraem. Fomos, assim, capazes de financiar déficits maiores durante mais tempo e pagando taxas de juros menores, conforme a demanda estrangeira manteve baixo o rendimento dos títulos do Tesouro. Pudemos emitir títulos de dívida na nossa própria moeda, sem ter que recorrer a uma moeda estrangeira, transmitindo para os nossos credores as perdas resultantes da queda do valor do dólar. O fato de o preço das commodities ser definido em dólar também significou que uma queda no valor do dólar não levaria a um aumento no preço das importações.

CONSEQUÊNCIAS

Imagine agora um mundo no qual a China pudesse tomar e fazer empréstimos internacionais na sua própria moeda. O yuan, em vez do dólar, poderia, afinal, se tornar uma forma de pagamento no comércio e uma unidade contábil empregada no estabelecimento do preço das importações e exportações, além de ser uma fonte de riqueza para os investidores internacionais. O preço seria pago pelos americanos.

Teríamos de gastar mais para obter os artigos que importamos e as taxas de juros aumentariam tanto na dívida pública quanto na privada. O custo privado mais alto dos empréstimos poderia levar a um enfraquecimento no consumo e no investimento e a um crescimento mais lento.

O declínio do dólar pode durar mais de uma década, mas pode ocorrer antes, se não pusermos ordem nas nossas finanças domésticas. Os EUA precisam controlar os gastos e empréstimos e buscar um crescimento que não se apoie em bolhas de crédito e ativos. Durante as duas últimas décadas, o país gastou mais que a sua renda, aumentando suas obrigações estrangeiras e incorrendo em dívidas que se tornaram insustentáveis. Um sistema no qual o dólar foi a principal moeda mundial permitiu que nós prolongássemos nossos empréstimos irresponsáveis.

Agora que a posição do dólar não se mostra mais tão sólida, precisamos alterar nossas prioridades. Isso envolve o investimento na nossa decadente infraestrutura, nas fontes energéticas alternativas e renováveis e no capital humano produtivo - em vez de moradias desnecessárias e da inovação financeira tóxica. Essa será a única maneira de desacelerar o declínio do dólar e manter a nossa capacidade de influenciar as questões globais.

*Nouriel Roubini é professor de economia na Escola de Administração Stern da Universidade de Nova York e presidente de uma empresa de consultoria econômica.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A Economia e suas "irmãs"

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Texto do José Eli da Veiga na Página 22 de Maio.

Comentário do Hugo:

A economia deveria ter sido uma irmã siamesa da Biologia, a humanidade agora precisa muito do conhecimento dos biólogos e de outras ciências. Alfred Marshall era o defensor dessa ciência jovem nascer a partir da biologia. Vencido, no final virou uma irmã siamesa da física e não era tão mal assim, até pelos avanços da física moderna, mas os economistas ignoraram a simbiose com a física da qual todo seu conhecimento depende e mantiveram um sistema de idéias falso que agora domina, comanda e leva o mundo a um colapso iminente.

O bicho dos economistas - essa é uma boa figuração - é assim: não tem boca nem estômago (de onde vem os recursos pouco importa), não tem intestino nem reto (para onde vão os resíduos pouco importa também). Esse bicho esquisito só tem sistema circulatório e não tem contato algum com o meio ambiente nem com as outras formas de vida da qual tudo e todos nós dependemos. Um bicho desses está fadado a morrer e morrerá, porque aqui na Terra, somos todos interdependentes. Todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos.

Os biólogos, matemáticos e físicos têm que derrubar os economistas do seu pedestal que assim, quando mais humildes, irão pedir ajuda. É uma vergonha seguirem com idéias contra a vida e contra as ciências mais fortes que há nesse planeta. Como alguém pode defender idéias contra a vida e dormir tranquilo?

Hugo Penteado

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A lógica do sistema

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A lógica do nosso sistema é composta de quatro ideologias:

- NIMB - not in my backyard - o colapso ambiental planetário não vai acontecer no meu quintal (Jesus, é planetário, onde essas pessoas - a grande maioria - acha que vive? Em Marte?). Derivação da filosofia NIMB: eu não preciso fazer nada, porque os governos e as instituições irão cuidar de tudo. Cruzes, aí morre o perigo: governo e instituições são nosso superego, eles fazem, agem e controlam a situação de acordo com o que pensamos. Essa é a Era da Responsabilização: todos somos responsáveis. Nós somos eles, se eles fazem coisa errada, somos nós que fazemos.

- SEJA FELIZ SOZINHO - embora os cientistas digam que todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos e, além disso, se as florestas e a vida do planeta continuarem sendo massacradas por nós, iremos sumir do mapa, a gente acredita nessa baboseira que nunca é concretizada. Ah, não podemos ser felizes, se formos felizes, paramos de consumir. Enquanto isso, ninguém lembra que nossos corações só batem porque há um ser vivo capaz de armazenar a luz do sol para nós, que a comida chega no nosso prato através das abelhas, que a água existe por causa da vida desse planeta, o oxigênio vem dos fitoplâncton dos oceanos e por aí vai...

- O PLANETA É INESGOTÁVEL - os economistas tradicionais (não os despertos) acreditam que a economia é totalmente independente do planeta e pode ser maior que ele. Cruzes - estamos fritos, porque por interesse próprio todos acreditam nessa baboseira. Com essa baboseira os economistas criaram um bicho chamado economia que não tem boca nem estômago (de onde vem os recursos pouco importa), não tem intestino nem reto (para onde vão os residuos pouco importa). Esse bicho da economia só tem sistema circulatório... E aí fizeram-nos por exemplo acreditar que tudo é mágica, inclusive o lixo, embora no planeta Terra não exista o Jogar Fora...

- HÁ ESCASSEZ POR TODOS OS LADOS - apesar de haver alimentos para alimentar 12 bilhões de pessoas, temos 1 bilhão de famintos e 4 bilhões de obesos. Dizer que há fome no mundo é muito útil, além de justificar transgênicos, transformação do Cerrado e da Amazônia em celeiros do mundo (mesmo que sem esses dois ecossistemas os cientistas avisam que poucos brasileiros irão sobreviver...), justifica mais produção. A regra é: se há fome no mundo ou falta de energia, não é porque há má distribuição, ineficiência e desperdício é porque falta produção disso ou daquilo. No Brasil aumentaríamos 100% a oferta de energia apenas com eficiência tecnológica e no consumo, mas não, preferimos construir novas usinas... Construir, construir e construir, como se o planeta fosse inesgotável é a regra e teimosamente ignoramos que 50% de tudo que produzimos ou é desnecessário ou é desperdício e pior, não produz liberdade, bem estar e desenvolvimento... E o planeta de qualquer forma é finito e não pode comportar um carro sendo cuspido na Terra a cada segundo...

Muito fácil atrelar desenvolvimento as estruturas cuspindo estruturas a cada segundo... o difícil mesmo é ter coragem para mudar tudo isso antes que seja tarde demais e o planeta decida continuar sua viagem no universo sozinho...

Hugo Penteado

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A rush on Arctic...

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When people will realize that the economic system can not be bigger that the planet, that planet and ecological equilibrium is deadly threatened and is much more valuable than many trillions of tons of oil or GDP? When people are going to address the real problems around us, for instance, excess of demand and excess of wastening? Almost 50% of energy produced in the world is wastened. A growing system like the world economies can not grow forever in a non growing system like the planet. I understand why many fail to recognize this: average US citizens ecological footprint indicates that this country is using 75.000.000 km2 of the world, while they only have 9.300.000 km2. Why is this country not in an environmental collapse? By just one reason: if US was alone in the world with no country or territory available to be exploited through global commerce at a zero ecological cost, they would be in an environmental collapse many decades ago.

Hugo Penteado

An awkward absence

May 14th 2009
From The Economist print edition

America is missing out by being stand-offish towards the law of the sea. So is the sea

YOU do not see many milestones on the floor of the ocean, but one was passed this week. May 13th was the deadline for the submission of new claims to the seabed, and from pole to pole coastal states have been asserting ownership of vast chunks of continental shelf in a rush for territory unrivalled since the scramble for Africa at the end of the 19th century (see article). The treasure this time is not ivory or cocoa beans but petroleum, or at least the promise of it, and perhaps amazing fuels and wonder drugs, as well as gold, silver and other minerals. The claims will now be accepted or rejected by a United Nations commission, but one big maritime power will, by choice, be absent: the United States. It should not be.

Unlike 156 other countries, America has never ratified the 27-year-old UN Convention on the Law of the Sea, under which this carve-up is taking place. That is no worse than unfortunate: the deadline applies only to states that acceded to the treaty more than ten years ago and America still has time to make its claims. But first it will have to ratify the treaty. This the Obama administration, like its two most recent predecessors, wants to do, as probably does most of the Senate, which must provide its advice and consent. A determined minority, however, wants to block it, and finding the time for the necessary procedure may prove difficult.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

As divergências entre economistas sobre a sustentabilidade

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José Eli da Veiga
Valor, Terça 12 de Maio de 2009
A palavra mágica sustentabilidade já vence o Bombrill por ter muito mais de 1001 utilidades. Todavia, é imprescindível saber que entre economistas só há três posições sobre seu possível sentido científico: a convencional, a ecológica e a busca de uma terceira via.
Para a primeira, que permanece dominante, além de largamente majoritária, a recuperação começaria a sobrepujar a degradação ambiental quando a renda per capita de um país estivesse ao redor de U$ 20 mil. A partir desse patamar de desempenho econômico, passaria a haver mais melhorias ambientais que deteriorações, como ocorrido nas fases anteriores. Por isso, o melhor caminho para se conseguir sustentabilidade seria maximizar o crescimento econômico por toda a parte. Os formuladores dessa tese - G.M. Grossman e A.B. Krueger – a chamaram de “Curva de Kuznets Ambiental” devido à sua notável semelhança com a hipótese sobre a distribuição de renda lançada por Simon Kuznets em 1954, que exigiu quatro décadas para que fosse esquecida.
Do lado oposto, a anterior emergência da economia ecológica se apoiara na idéia de que só pode haver sustentabilidade naquela condição erroneamente denominada pelos clássicos de “estacionária”. Um regime no qual a qualidade de vida de uma sociedade segue melhorando sem que isso continue a exigir significativo aumento físico de seu subsistema econômico. Para os economistas ecológicos, as nações que já atingiram altos níveis de desenvolvimento deveriam começar a planejar uma transição para esse modo mais avançado de prosperidade. E simultaneamente contribuir, é claro, para que os países que ainda precisarão crescer possam fazê-lo com estilos ambientalmente menos agressivos. O mais importante formulador dessa tese - Herman E. Daly – preferiu chamá-la de “steady state economy”, tanto para superar o tropeço semântico dos clássicos, quanto para enfatizar a semelhança com o conceito termodinâmico.
O que não faltou nos últimos 35 anos foi quem espinafrasse a tese de Daly, fosse conservador ou progressista, de direita, de esquerda, ou do pântano. Alguns alegando que qualquer tipo de condição estável seria a própria negação do sistema capitalista. Outros enfatizando mais sua incompatibilidade com a democracia. Além dos que simplesmente contestam a própria necessidade de qualquer restrição ao crescimento econômico.
Como não poderia deixar de ser, boa parte dos poucos economistas que não desdenham a questão lançou-se à procura de uma terceira via. Basicamente por considerarem que a posição ecológica é impraticável, e que a convencional é inconsistente com as grandes questões ambientais globais, bastando lembrar a ruptura climática. Apostam, então, em progressiva reconfiguração do processo produtivo na qual a oferta de bens e serviços tenderia a ganhar em eco-eficiência: desmaterializando-se e ficando cada vez menos intensiva em energia. A economia poderia assim continuar a crescer sem que limites ecológicos fossem rompidos, ou recursos naturais viessem a se esgotar.
Esse raciocínio - que tem sido chamado de “descasamento” (decoupling), em analogia a outro conceito da física cosmológica - é a essência das abordagens que tentam evitar o dilema do crescimento, por um caminho do meio entre o otimismo panglossiano dos convencionais e o circunspecto pessimismo dos ecológicos. E era essa terceira postura a que parecia estar ganhando mais terreno, com inestimável apoio do Banco Mundial, até que no início de Abril o panorama fosse radicalmente alterado pelo lançamento de um relatório que certamente aumentará o poder persuasivo da segunda tese: “Prosperity without growth? – The transition to a sustainable economy”, elaborado por Tim Jackson para a Comissão de Desenvolvimento Sustentável do governo britânico, disponível em http://www.sd-commission.org.uk/pages/redefining-prosperity.html
À luz de muitas evidências históricas sobre o uso de energia e minerais metálicos, o relatório mostra que ganhos de eficiência não reduzem escalas. Mesmo fortes quedas da intensidade ecológica por unidade de produto - “descasamentos” relativos – não levam a reduções absolutas do consumo. Ao contrário, o mais comum é que sejam acompanhadas de aumentos, porque o emprego de poupança obtida pela redução da intensidade tende a elevar seu consumo por novos investimentos em outras atividades. Um efeito chamado de “ricochete” (“rebound effect”), principalmente em economia da energia.
Não há como escapar, portanto, do dilema do crescimento. E seu debate exigirá rompimento mental com uma macroeconomia inteiramente centrada no ininterrupto aumento do consumo, em vez de um keynesianismo pretensamente esverdeado por propostas de eco-eficiência. Algo que jamais poderá deter o aumento da pressão sobre os recursos naturais.
Será necessária uma macroeconomia para sustentabilidade que, além de reconhecer os sérios limites naturais à expansão das atividades econômicas, rompa com a lógica social do consumismo. Infelizmente, é forçoso constatar que inexiste essa macroeconomia. Não há nada que possa ser apontado como um pensamento econômico cujo impacto tenha algum paralelo com a ascensão da macroeconomia keynesiana em resposta à miséria intelectual dos anos 1920.
Os economistas ecológicos até obtiveram algum êxito na crítica ao pensamento econômico convencional, no qual coexistem várias teorias que compartilham a mesmíssima visão de um sistema econômico fechado, que não depende da biosfera. Pior: têm a mesmíssima ética voltada à uma suposta maximização do bem estar da população atual, sem quaisquer considerações sobre limites ecológicos e sobre o bem estar de gerações futuras. Esse é o denominador comum a todas as escolas, das mais ortodoxas às mais heterodoxas.
Todavia, mesmo a crítica da economia ecológica ao cerne do pensamento convencional só foi até agora assimilada por uma ínfima minoria. E uma das razões está justamente nessa incipiência da formulação de alternativa que supere o que há de mais comum nas várias teorias macroeconômicas em voga.

JOSÉ ELI DA VEIGA, professor titular do departamento de economia da FEA-USP e autor de diversos livros sobre desenvolvimento sustentável, escreve mensalmente às terças. Página web: www.zeeli.pro.br

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Mídia sobre economia

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Mídia sobre economia

Deveria causar estranheza as notícias de mídia sobre extração do petróleo do pré-sal, porque nenhuma delas falava sobre o petróleo ser hoje o vilão do aquecimento global e ser parte do problema e não da solução. A resposta que recebi sobre esse meu questionamento é que tal matéria falou o que tinha que ser dito e não tem obrigação de vincular com mais nada. Uma amiga me disse hoje na hora do almoço que essa é a praxe, certa ou errada, é assim que é feito: não há intersecção alguma das notícias de economia com os problemas de meio ambiente, cujas entrevistas por falta de lugar vão para o caderno de cultura. Até quando? Até o planeta não sustentar mais a vida na Terra? Para piorar, uma pesquisa com jovens mostra que uma das últimas das suas preocupações é meio ambiente e uma das primeiras é o aquecimento global. Ou seja, incrivelmente não relacionam uma coisa com a outra. A gente vai brincar de faz de conta até quando?

Governos e economistas não relacionam economia com meio ambiente, o público jovem não relaciona aquecimento global com meio ambiente, ou seja, nada se relaciona com nada, é tudo coeteris paribus que faz os economistas só errarem suas projeções. O meio ambiente não tem voz, deveria entrar na campanha do PETA pelos animais com o mesmo mote: "Give a voice to the voiceless" (Dê uma voz aos que não têm).

Vale a dúvida?

Na segunda-feira observamos ventos de 90 km/h na cidade de São Paulo. Eu imagino que isso não deve ser muito natural: velocidade foi acima do que define uma tempestade tropical no oceano (ver tabela abaixo). Ou seja: não deve ser um evento comum para uma cidade no planalto. Eu vi aqui do lado como as árvores de uns 50 anos caíram no chão e do 19o. andar do nosso prédio o Rio Tietê tinha ondas, dava para surfar um jacaré nele, se não fosse tão sujo. O céu preto como azeviche dissipou sem chuvas, só ventos. Uma telha do Shopping D&D se soltou e parte dela se esmigalhou em pedaços que chegaram lá debaixo até aqui no 19o. andar. Ouvi falar de granizo na região da Paulista. Estranho ou não?

terça-feira, 5 de maio de 2009

Ambientalismo banqueiro

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Troca de cartas eletrônicas: Ambientalismo banqueiro
(alguns nomes foram omitidos)

Carta 1


Professor,

Estive agora com o grupo do IFC para discutir investimento sustentável (sustanaible investing) e eles falaram que na crise a maior parte dos bancos dos EUA fecharam as divisões de sustentabilidade.

Ou seja: era só uma boutique, nunca esteve ligado ao centro dos negócios nem a um profundo reconhecimento do tema e da sua necessidade. Segundo eles, isso se deve à visão imediatista que ainda vigora.

Um mito: estive com uns investidores milionários de Londres aqui no Brasil e perguntei: "Quem dentre vocês acredita no aquecimento global?" A maioria levantou a mão. Aí fiz a segunda pergunta: "Quem dentre vocês mudou a forma de investir por causa do aquecimento global?" Quase ninguém levantou a mão, na verdade pude contar: foram três num grupo de 80 pessoas.

Abraço

Hugo

Carta 2

Esta notícia, de terceira mão, me parece não comprovável dai. Seria melhor indagar alguém trabalhando com o setor aqui mesmo. É óbvio que tentam reduzir custos, pessoal e overhead, mas eliminar totalmente uma linha que foi adotado como política me parece leviano demais.


Carta 3

Prezados professores,

A informação é essa, vários bancos dos EUA durante a crise fecharam as divisões de sustentabilidade, levianos ou não, foram o que aparentemente fizeram.

Falei que parece ser uma boutique, pois um dos mitos fortes da aplicação dessas políticas, é vê-las em áreas separadas, destacadas. E eu constato isso empiricamente, pois participo de vários grupos que atuam nas empresas e vejo a aplicação dessas idéias. Já fiz mais de 200 palestras de economia ecológica e sustentabilidade em empresas, bancos, universidades e aos clientes dos bancos desde 2003. Desde o ano de 2007, as críticas vem se amontoando em relação aos resultados e as conquistas nessa área. Não tenho tempo de fazer um acompanhamento, mas recebi muitos textos bem interessantes sobre isso.

Também não disse que toda a sustentabilidade é boutique, isso vale apenas para os bancos que resolveram fechar suas divisões de sustentabilidade, dando uma nítida sensação que tratavam o assunto como boutique e não como inserção ou estratégia. Achei que estava claro no meu texto que me referia a esse fato isolado. Também não foi uma reunião secreta, do contrário, não teria sido transmitida. A resposta do *******, bem lúcida, diz que se isso de fato aconteceu, é uma falta de noção de estratégia. É esse o ponto, não faz sentido por causa da crise não abraçar a sustentabilidade, deveria ser o oposto.

Se vocês conseguirem mais informações sobre esse assunto, ficaria grato se partilhassem comigo, mas é hora de buscar a verdade sobre o que realmente aconteceu nos Estados Unidos com as divisões de sustentabilidade dos bancos durante a crise. Será que elas eram vistas como custo ou como estratégia de negócios e de futuro? Se elas eram vistas como custo, faz sentido terem sido eliminadas.

Abraço

Hugo

Carta 4

Empresas de todos os setores, nos EUA, no Brasil e outros países mudaram seu enfoque quanto a "sustentabilidade", porque chegou o momento da população provocar o judiciário com ações coletivas para pressionar setor privado e o setor público a cumprir preceitos legais que estão sendo desrespeitados. Passou o período de permitir uma postura voluntária diante do meio ambiente. Para tanto o judiciário e o ministério público brasileiro, por exemplo que não possuem especialização nas áreas que atuam precisam modificar a estrutura de seus quadros para que seus quadros funcionais não padeçam do mesmo grau de superficialidade, oportunismo e falta de consistência que o tema ambiental têm sido tratado pelo setor público e privado.

A segunda resposta dada ao Hugo, um dos poucos profissionais desta que sobreviveram no Brasil com um cargo relacionado a sustentabilidade, só traduz que aqueles que os milionários de Londres assim o fazem, talvez porque não tenham a alternativa fácil de investimentos em agropecuária extensiva, petróleo e construção de hidrelétricas e estradas. Afinal, talvez lhe sobrem como oportunidades "negócios ambientais".

Contudo, se a mesma pergunta fosse direcionada a milionários brasileiros? Certamente há um inegável retrocesso quanto a investimentos e modus operandi das corporações privadas no Brasil que de forma infantil pode justificar tal atitude pelo exemplo de um setor público que comemora o Dia do Trabalho iniciando a exploração do Pré-Sal, se tornou fã de carteirinha da atividade agropecuária extensiva, elegeu o licenciamento ambiental como o vilão dos "empreendimentos e do progresso" e que dá aulas ao setor financeiro como se
financiar com a dívida alheia.

Desde 1981, com a legislação de política ambiental, o Brasil tornou-se ícone na área ambiental e não somente por sua vocação natural. Até o início da década de 90 do último século houve avanços, mas em meados da década o ritmo desacelerou e parou em 2001, de lá para cá perdeu-se totalmente o ritmo legislativo e de fiscalização. Demonstrando que somente políticas de Estado com continuidade, educação e o exercício de cidadania não colocam uma sociedade às trevas, a mercê de políticas de governo e de um setor privado que elege a imagem, em detrimento da reputação.

Talvez seja uma boa idéia que Zygmunt Bauman escreva sobre a "política ambiental líquida" para os políticos e "sustentabilidade líquida" para empresários, espero que a capacidade de "oposição e crítica" da academia e das ONGs também não seja "líquida".

Carta 5

Se isso de fato aconteceu (fechamento das divisões de sustentabilidade), sem dúvida demonstra falta de estratégia de longo prazo. Aqui no Brasil, o Citi e 6 outros bancos privados endossaram o Protoco Verde da Febraban, que vai na direção de incluir e padronizar diretrizes socioambientais mínimas para todos os bancos privados. Escrevemos sobre isso no seguinte post do nosso blog:
http://negociossustentaveis.blogspot.com/2009/04/bancos-privados-adotam-o-protocolo.html

Ainda aqui no Brasil, nesta semana, o Itaú Unibanco lançou sua nova política de governança de sustentabilidade, sobre a qual também escrevemos:
http://negociossustentaveis.blogspot.com/2009/04/itau-unibanco-reforca-estrategia-de.html

E na Europa, em meio à crise, o banco Sttandard Chartered reforçou sua estratégia de sustentabilidade, ao implantar diretrizes para lidar com as
questões socioambientais no financiamento de setores com mais alto impacto.:
http://negociossustentaveis.blogspot.com/2009/04/em-meio-crise-banco-standerd-chartered.html

Carta 6

A quem possa interessar: posso dar os nomes das pessoas do IFC para detalharem mais a informação sobre o fechamento dos departamentos de sustentabilidade nos bancos dos EUA durante a crise. Eu apenas reproduzi o que me disseram. Nosso objetivo aqui é saber o que está acontecendo do ponto de vista institucional e não pessoal. Eu não sou responsável pelos fatos que tomei conhecimento.

Em relação à criação de áreas de sustentabilidade, enquanto for anexa a recursos humanos ou marketing e totalmente separada do centro de negócios, algo está muito errado, pois a sustentabilidade abrange tudo e deveria ser base de todos os negócios da empresa. O conceito investimento sustentável (SRI, sustainable investing) supõe que se parte dos investimentos financeiros são sustentáveis, podemos imediatamente inferir que o resto é insustentável (e aceitável). Portanto, ainda buscamos agregar valor ao investidor através de investimentos não sustentáveis e para aliviar, criamos uma pequena modalidade chamada de sustentável. O conceito tem que abranger toda a linha de produtos e o evento com os milionários de Londres foi revelador quando fiz aquelas duas perguntas e ninguém pareceu preocupado em mudar a forma de investir, apesar do conhecimento disponível hoje. Cristina D´Arce estava junto nesse dia é outra testemunha ocular do ocorrido, assim como me convidou para discutir sustentabilidade em um banco onde a apresentação de sustentabilidade mostrou o centro de negócios totalmente separado da divisão da sustentabilidade. Além do fechamento das divisões de sustentabilidade, temos também problemas de conceitos nas que foram criadas que as tornam também inoperantes ou pouco eficazes.

Sei que tudo isso é uma amostra que não necessariamente representa o universo, mas vale pesquisar, pois trabalho com mercados financeiros e posso dizer com segurança que a penetração da sustentabilidade ainda é muito exígua, para não dizer nula. Os preços não refletem o desastre ambiental que vem pela frente e a decisão de investir de forma realmente sustentável é mais ética do que quantitativa. Temos um problema monumental de precificação e métrica na hora de investir, que ainda não foi resolvido e os caminhos encontrados viram espuma. Isso não é questão trivial.

A sustentabilidade também carece de uma visão macro, sistêmica, a abordagem que quase todos apóiam é estritamente micro e incompleta. Por isso, se cada empresa perseguir individualmente a sustentabilidade, não podemos esquecer que a agregação das ações de cada uma dessas empresas não necessariamente será sustentável do ponto de vista planetário, macro. Como Roegen escreveu em seus livros: muitas coisas que individualmente fazemos podem ser racionais, mas coletivamente são completamente irracionais. O resultado do todo é diferente do resultado das partes e infelizmente, ainda temos uma visão imediatista do tipo: "não abro mão do lucro, mas abro mão do planeta". A questão é como pretendemos ser sustentáveis mantendo um sistema crescendo exponencialmente, que é a economia, dentro de um sistema não crescente do qual depende, que é o planeta. Esse é um ponto surrado de análise, muitas vezes teimosamente esquecido ou escamoteado pela cornucópia tecnológica que não ataca as causas, apenas as consequências.

Voltamos ao ponto de origem: existe ainda hoje um problema mundial sério de definição de sustentabilidade. O primeiro conceito, antigo, da Comissão Bruntland, é bastante vago e abrange qualquer idéia, mas é consenso ser mais do que urgente um conceito mais preciso. Eu fiz na minha lista de grupo de emails um pedido para me mandarem o conceito de sustentabilidade que acreditam, definiram ou conheceram e recebi uma variedade enorme de idéias, absolutamente nada claras e muito vagas. Ali cabe tudo o que quisermos e mais alguma coisa. Se não soubermos exatamente qual conceito estamos seguindo não iremos avançar. Esse tipo de conhecimento econômico sistêmico precisa ter aplicação prática, não pode ser apenas um devaneio mental enquanto cada um faz o que bem entender e nossa capacidade de sobreviver junto com o resto dos seres vivos decai.

A idéia ao falar isso ao professor José Eli da Veiga foi tratar esse assunto com coragem e de forma investigativa e, acima de tudo, de forma institucional e científica, como deve ser. Afinal, qual é a real aplicação prática do conceito de sustentabilidade no mundo dos negócios, qual o conceito ou definição utilizados e qual a eficácia para reverter a total insustentabilidade que nosso sistema econômico atingiu?

Hugo Penteado

sábado, 2 de maio de 2009

Petróleo agora é a salvação do Brasil...

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Na matéria abaixo, a jornalista Denise Luna e a editora Camila Moreira devem viver em outro planeta que não a Terra: em nenhum momento elas mencionaram a necessidade de se migrar da energia obtida de combustíveis fósseis, que causa o aquecimento global, que é a maior ameaça jamais enfrentada pela humanidade inteira. Em nenhum momento elas mencionaram que o petróleo é uma energia que deveria ser evitada, por ser degenerativo e causar uma transformação da nossa finíssima atmosfera. Enfim, a matéria parece datada dos anos 50, quando nenhuma das preocupações climáticas e atmosféricas ainda não eram sequer conhecidas.

Atenciosamente,

Hugo Penteado

Pode ser lida aqui:

http://economia.uol.com.br/ultnot/reuters/2009/05/01/ult29u67283.jhtm

ou abaixo:

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, comemorou a extração com sucesso do primeiro óleo do campo de Tupi, no pré-sal da bacia de Santos, nesta sexta-feira.

"Começou a produção e está muito bem, fluindo como o esperado, é um óleo muito bom, de 28 graus API", disse Gabrielli, que entregou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um barril contendo o primeiro óleo extraído, que marca a primeira exploração em águas ultra-profundas da região.

O campo de Tupi, o primeiro que será desenvolvido dos 10 blocos já descoberto na bacia de Santos, vai produzir durante o Teste de Longa Duração entre 14 mil e 15 mil barris diários, e não mais 30 mil barris diários como planejado anteriormente.

"O teste deve chegar a 14 mil, 15 mil, porque temos a limitação do 'flare' (queima de gás)", informou o executivo. O preço de extração, segundo ele, é inferior ao preço do petróleo no mercado internacional atualmente.

A Agência Nacional do Petróleo limita o volume de gás natural que uma empresa pode queimar durante a operação.

Gabrielli informou que o teste vai durar 15 meses em dois poços, e o resultado vai "depender da evolução dos poços, vamos testar 3 meses um, 6 meses outro, tudo como o planejado", afirmou.

"Estamos iniciando realmente uma nova etapa, a descoberta foi feita em 2006, nenhuma outra descoberta desse tamanho teve o primeiro óleo em 3 anos", destacou.

"É uma demonstração da capacidade da Petrobras de realmente desenvolver essa área", afirmou Gabrielli.

A Petrobras prevê produzir 100 mil barris diários de petróleo em Tupi no Plano Piloto, que será iniciado em 2010, e projeta para 2020 cerca de 1,8 milhão de barris diários em Tupi e outros blocos que serão desenvolvidos, praticamente o mesmo volume produzido atualmente pela companhia .

(Por Denise Luna, Edição de Camila Moreira)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

NOTA DE 12 ENTIDADES SOBRE O PROCESSO DE LICENCIAMENTO DA BR 319

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NOTA DE 12 ENTIDADES SOBRE O PROCESSO DE LICENCIAMENTO DA BR 319

O asfaltamento da BR-319 é uma obra sem viabilidade ou justificativa comprovadas e desconectada de qualquer projeto de desenvolvimento regional. A prioridade dada a essa estrada atende a interesses eleitoreiros e à apropriação ilegal de terras públicas. Isso contraria a implementação do modelo de desenvolvimento sustentável desejado pela sociedade e assumido nos discursos governamentais.

A região mais remota e preservada da Amazônia será aberta à ocupação desordenada, seus moradores tradicionais expulsos, destruindo a possibilidade do uso sustentável dos recursos florestais. Além disto, a forte pressão migratória irá inchar e deteriorar os serviços disponíveis em Manaus e municípios vizinhos.

Historicamente, 75% dos desmatamentos da região ocorreram ao longo das rodovias pavimentadas. O simples anúncio do asfaltamento da BR-319 foi suficiente para incluir pela primeira vez um município do estado do Amazonas - Lábrea, na lista dos municípios com maior índice de desmatamento.

Economicamente, a re-construção da BR-319 também não se justifica! Um estudo de viabilidade econômica da estrada divulgado recentemente estima para os próximos 25 anos um prejuízo econômico de, no mínimo, R$ 315 milhões. No cenário que considera também os danos ambientais, os prejuízos do projeto serão de R$ 2,2 bilhões! Para cada real investido, seriam gerados apenas R$ 0,065 de benefícios. O dinheiro público será utilizado para o enriquecimento de poucos, financiando a destruição social e ambiental da região.

Essa iniciativa se contrapõe à meta de reduzir o desmatamento em 70% até 2017, assumida pelo governo brasileiro no Plano Nacional de Mudanças Climáticas. O investimento em obras de infraestrutura que geram desmatamento é incoerente com a captação de recursos feita pelo próprio governo federal e também o governo Amazonas para iniciativas de desenvolvimento sustentável e proteção da Amazônia.

O processo de licenciamento e de audiências públicas não foi conduzido de forma transparente. Não houve prazos para a leitura, entendimento e análise destas mais de 3000 páginas que compõe o EIA-RIMA. Não foi respeitada a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho sobre a consulta às populações tradicionais. As audiências realizadas não são legítimas!

Este processo ilegítimo e ditatorial não se baseia em um plano de desenvolvimento discutido com a sociedade. Queremos ver as alternativas de desenvolvimento sustentável para a Amazônia sendo colocadas em prática!

Grupo de Trabalho AmazÔnico - REDE GTA
Conselho Nacional dos Seringueiros - CNS
AMIGOS DA TERRA AMAZÔNIA BRASILEIRA
CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL
Centro dos Direitos Humanos da Arquidiocese de Manaus - CDH
Fundação Vitória Amazônica - FVA
Greenpeace
INSTITUTO CENTRO DE VIDA - ICV
Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas - IDESAM
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL - ISA
instituto de pesquisa ambiental da amazônia - IPAM
PRESERVE AMAZôNIA

Colaboradores