segunda-feira, 31 de março de 2014

Amazônia está longe de estar salva

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Painel IPCC alivia previsões para Amazônia (ver matéria abaixo), mas aponta riscos que podem não mudar o seu cenário, dada a falta de decisão política para evitá-los nos Brasil e demais países sul-americanos.  Sem falar na pressão advinda do projeto patrocinado por interesses econômicos, chamado de IRSA (Integração Regional Sul-Americana).  Esse projeto é patrocinado por uma ideologia aina dominante que não vê valor algum na floresta em pé.   Será que nós economistas esquecemos que nos ensinam na escola que uma árvore só tem valor quando derrubada ao chão?  Ou que em todos os livros de macroeconomia ensinados até hoje e não na Idade Média está escrito que “os recursos da natureza são totalmente irrelevantes para o processo econômico”, apesar de ser uma teimosia nada científica completamente em desacordo com a realidade?  E que os físicos sabem que tudo à nossa volta são recursos da natureza regidos por leis que não controlamos?  A física é uma ciência, enquanto a economia não passa de fantasias voltada para solidificar o status quo dos que menos precisam de recursos, mas os que mais conseguem obtê-los, tanto na esfera social, como nacional e global.

A notícia do painel é boa, mas muito pouco animadora, porque mudança climática não é “o” problema, mas um deles, e nem o mais grave.  E se o cenário mais ameno só vai acontecer se não houver desmatamento, fogo, especulação, avanço da fronteira agrícola, então esse cenário não é provável. Não há nenhum arcabouço institucional instalado nessa região sem lei capaz de impedir essas mazelas.  Enfim, falta firmeza e decisão política para defender a floresta – e nossas vidas.  Falta entender que sem a Amazônia estaremos todos mortos.

Quando nossos interesses estão em foco somos os piores juízes das nossas ações. Nós não mudamos simplesmente porque não queremos ou nem sentimos a necessidade de.

Falta barrar a especulação imobiliária, o fogo, com firmeza, mas com uma atuação 360 graus, dando àqueles que fazem isso outra opção de participar do sistema econômico, que não agir em desespero próprio.  Nossas cidades, por exemplo, são motores de destruição contínua dos ecossistemas.  Transporte de lixo, de alimentos, de matérias primas da Ásia para empresas de cosméticoserradamente consideradas sustentáveis,  é tanta coisa errada que nem dá para pensar por onde começar. É por tudo.

É o que mais falta no nosso sistema e é o maior entrave para realmente mudarmos: vivemos um sistema que as oportunidades são distribuídas para poucos, enquanto a vasta maioria fica sem nada e isso só tem piorado.  E esses poucos ainda viram líderes de uma sustentabilidade que inexiste. Nada mudou. Pior, nosso sistema só favorece pessoas no poder que tenham natureza psicopata, segundo estudos de universidades britânicas.

Para salvar o lado ambiental, é necessário salvar primeiro o lado social.  Mas isso é mudar como lidamos com o poder. O poder foi feito para servir e não para se servir dele.  Estamos longe disso. De um pensamento integrado. Nas mãos de pessoas que nem percebem isso.   Se tivéssemos nascido na favela do Alemão não estaríamos pensando na Amazônia – quem acredita em reencarnação deve temer as próximas, dada a situação de penúria social que bilhões já vivem. Se é que as próximasreencarnações ainda poderão ser nesse planeta. Como Nicholas Georgescu-Roegen vaticinou muito antes das descobertas científicas das últimas décadas: “Se a economia do descarte e do desperdício imediato dos bens continuar, seremos capazes de entregar a Terra ainda banhada em sol apenas à vida bacteriana.”  Continuou de forma explosiva e exponencial como mostram os trabalhos do grupo de Meadows e a atualização do seu trabalho Limites ao Crescimento, com colocações extremamente válidas até hoje.  Não adiantou nada os alertas da década de 1970. O que fará adiantar os alertas atuais?

Stephen Jay Gould ao falar da maior extinção em massa de espécies animais e vegetais dos últimos 65 milhões, avisou que seria muita ingenuidade achar que essa extinção jamais se voltaria contra os causadores.  Também avisou que nem faremos mossa à vida bacteriana, o que mostra a sabedoria também em biologia de Roegen.
  

Relatório de 2007 falava em catástrofe e savana; cientistas sugerem agora que é possível proteger a vegetação dos danos climáticos

Giovana Girardi - Enviada especial/O Estado de S. Paulo
YOKOHAMA (Japão) - Há pelo menos uma boa notícia, se é que se pode dizer assim, no novo relatório do IPCC (o painel científico da ONU sobre mudanças climáticas): a Amazônia não corre mais o risco de virar uma savana até o final do século. Essa era uma das principais previsões feitas no relatório anterior, de 2007, do IPCC.
Na época, modelos climáticos apontavam que o aumento da temperatura e as mudanças climáticas levariam a uma nova configuração da vegetação em busca de um reequilíbrio com o clima diferente. Assim, em vez de permanecer como uma floresta densa chuvosa, a Amazônia responderia apresentando um menor porte, menor diversidade, menor biomassa -- mais semelhante com o nosso cerrado. Isso acabou conhecido como savanização e foi um dos pontos de maior crítica ao IPCC.
Sete anos depois, e com mais estudos disponíveis, o cenário ficou menos pessimista. É o que se pode concluir de uma versão preliminar do relatório completo do grupo de trabalho 2 do IPCC (que fala sobre impactos, vulnerabilidade e adaptação) que vazou na internet nos últimos dias. O material será chancelado no final da semana em plenária do IPCC em Yokohama, no Japão.
No capítulo que fala sobre ecossistemas terrestres, e teve como um dos autores o americano Daniel Nepstad, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), que há 30 anos estuda a floresta, o IPCC pontua que o novo conhecimento sobre a dinâmica da floresta melhorou e a probabilidade de ela sofrer essa transformação é bem menor que o que se imaginava anteriormente. "Apesar de que uma diminuição das chuvas e secas mais severas são esperadas no leste da Amazônia", escrevem.
O cenário do colapso da floresta foi duramente criticado alguns meses após o lançamento da segunda parte do relatório 4 do IPCC, em 2007. Na época ele se baseava em uma modelagem climática, feita pelo Hadley Center, da Inglaterra, que projetava um aumento de um ciclo vicioso: o desmatamento alimentaria uma seca, que interagiria com as mudanças climáticas e o aumento da presença de gás carbônico na atmosfera, levando a colapso de metade da floresta até o final do século 21.
O modelo, porém, nunca acertou direito o regime atual de chuvas da floresta, sempre estimava para baixo. Falava em uma média de 1.400 a 1.500 mm quando a medida nas estações meteorológicas ficava em mais de 1.700 mm. Esse erro na modelagem inicial acabou levando aos resultados mais catastróficos.
Além de os modelos terem melhorado, vários estudos experimentais conduzidos na própria floresta ao longo da última década mostraram um cenário um pouco diferente. A floresta continua sendo ameaçada por períodos de seca intensa, mas seu grande inimigo talvez seja o fogo.
"A melhor notícia trazida pelos últimos estudos é que, mesmo com a mudança climática, o homem pode mitigar os seus efeitos ao controlar o uso do fogo na agricultura", comenta o pesquisador Britaldo Soares-Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais e especialista na dinâmica da floresta.
O fogo é ainda é um recurso bastante usado por agricultores para limpar o terreno. Mas num momento de seca ele pode se espalhar com potencial realmente danoso para a floresta. "Sem esse combate, há realmente o risco de perder a floresta, com mudança do clima ou não. É o grande gatilho para empobrecer a floresta", diz Britaldo. "Mas o clima pode agravar isso. Agora estamos em um ano muito chuvoso em Rondônia, no Acre, mas em Roraima o fogo está tomando conta. E tivemos duas grandes secas, de 2005 e 2010. A variabilidade está aumentando, a princípio", complementa.
Experimentos conduzidos por Nepstad em que trechos da floresta foram secados com painéis solares observaram o limiar da resistência à seca, com a morte de grandes árvores. "As secas naturais que tivemos depois em 2005 e em 2010 validaram o estudo: 1 bilhão de toneladas de carbono foi liberada com a morte das árvores por seca natural."
Depois foi investigado o potencial do fogo. Uma parcela da floresta queimada intencionalmente no Mato Grosso, nas cabeceiras do Xingu, teve uma mortalidade de 50% das árvores num momento de temperatura mais alta e ventos fortes.
"É possível evitar que o fogo entre na floresta. Por outro lado, o Brasil está conseguindo reduzir o desmatamento. Se essa conquista se consolidar e evitarmos o fogo, dá para manejar o que a mudança climática tem de pior a jogar no Brasil", diz Nepstad.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Texto pavoroso do Rodrigo Constantino da Veja

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Se você quiser ler o texto do Rodrigo Constantido, você encontra aqui.

Foto: Tony Hall  (CC By BY-ND 2.0)

Não gostei quase nada do texto de Rodrigo Constantino, sem falar que me pareceu um ataque pessoal desnecessário, quando devemos nos prender às idéias. 

Não deve ser nem tanto ao céu nem tanto à Terra, mas foi muito maniqueísta. O lucro obtido a custo de extrema concentração de riqueza, perda de liberdades, destruição da natureza, corrupção de governos que engraxam os sapatos das empresas contra interesses socias e segurança de todos é um problema sim do sistema atual, seja ele qual nome tenha.  A resposta a um sistema que não entregou o que prometia a maior parte das pessoas é ter esquerdas quase tão ruins quanto o sistema anterior que tentavam mudar.  São ditaduras ideológicas ambos.  Num há perda de liberdades políticas, noutro econômicas porque vá viver nos centros urbanos ocidentais sem recursos para ver o que é liberdade. Em ambos há total falta de solidariedade, justiça, eficiência, criatividade e acima de tudo oportunidades para os mais jovens.  Estamos caminhando por um terreno cada vez mais seco e estéril, à alusão a essa seca hedionda pela qual passamos por dois anos consecutivos sem que o governo tenha tomado qualquer providência para nos proteger.

Ontem fui pegar minha bicicleta e a moça que cuida do bicicletário estava sentada num banquinho olhando para o nada e eu estranhei. Ele fica lá presa naquela gaiola das 12 horas até 22 horas, para ganhar 900 reais. E ainda por cima, tem que vir no sábado trabalhar das 8 às 16 horas. Ela não vê nada nem ninguém o dia todo, exceto na hora de pico de entrada e saída e um ou outro ao longo do dia.  Pensei sugerir para ela trazer algo para ler.  Lógico que ela perde horas para chegar na casa dela onde tem família esperando cuidados.

Isso é capitalismo. Ou socialismo. Ou seja o que for. A perda de criatividade e liberdade das pessoas está presente em todos. Precisamos de algo novo, mais solidário, mais humano, mais harmonizado com o planeta onde sobrevivemos algumas décadas.  É claro que estamos longe disso.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Água

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Temos várias razões para perda de fé no Brasil. A questão da água e do clima são suficientemente sérias senão assustadoras.

Foto: Steve Garner (CC by 2.0)
O que os climatologistas apontam é que a negação das alterações climáticas não pode ser feita com o argumento de “esse extremo já foi observado 30-40 anos atrás”, porque tem a questão difusa.  Na parte difusa, o que tem sido anormal é o número de extremos climáticos acontecendo todos ao mesmo tempo no planeta: seca no Brasil durante a temporada de chuvas, frio extremo nos EUA e Inglaterra debaixo de água, etc. tudo ao mesmo tempo.

O Brasil vive a combinação nefasta de má gestão política dos recursos com dependência enorme da estabilidade climática hoje cada vez menor.

Temos também a falha da teoria econômica, que considera água e a natureza bens livres, ou seja, são e serão sempre externalidades (bens livres não são passíveis de apropriação econômica). A questão da água em São Paulo onde as perdas na distribuição por falta de investimentos no encanamento são grandes, vemos o quanto a teoria econômica disfuncional explica o caso.  Para a empresa de saneamento, a água não tem custo algum, pagamos apenas pela entrega, então, o fato da água vazar 30-40% pelos canos até seu destino final tem custo zero para a empresa, ou seja, é uma externalidade, não impacta suas receitas.  Mas se a empresa decidir consertar os canos, isso é um passivo imediato, aumenta os gastos.  Se a eficiência for obrigatória por lei usando dispersores em chuveiros e torneiras e vasos sanitários eficientes, o consumo de água despenca, o que reduz a receita da empresa.

Num recurso tão indispensável quanto a água o sistema premia o desperdício, as perdas e a ineficiência, colocando em risco a vida de todos na Terra.  É assustador, porque a água não pode ser produzida, cada gota de água que olhamos num copo existe há 15 bilhões de anos no Universo e é, pelo menos na vida tal como a conhecemos, o elemento vital da sua formação.  Um corpo humano não aguenta uma semana sem água, embora aguente um mês sem comida.

Nova Iorque caminhava para uma crise de falta de água sem precedentes no final dos anos 1990, mas o pagamento de serviços ambientais resolveu o problema, ao manter as matas e florestas das fontes, a água se recuperou e ao reduzir a demanda com eficiência, o equilibrio foi restaurado. No final, temos que respeitar os limites ecológicos para nosso sistema, mas nessa fase intermediária precisamos começar a agir para evitar o pior com o apoio da precificação ambiental, tecnologia, eficiência e tudo que estiver disponivel.  Não podemos ficar sem água e de comida, ninguém estará a salvo disso, mesmo os mais ricos, porque tudo depende da natureza e continuamos tão dependentes dela quanto o homem de Neardental. 

No Brasil desmatar terras por onde se rasgam novas estradas para especulação imobiliária ainda é o grande motor de destruição das nossas florestas.  Sem a Amazônia estaremos todos mortos, isso é uma certeza científica: são 21 bilhões de toneladas de águas produzidas diariamente via vapor que sai das folhas de 600 bilhões de árvores, um volume maior que o do rio Amazonas, maior do mundo, que gera 19 bilhões diariamente. A fonte desse dado é a palestra no TEDxAmazônia do Antonio Donato Nobre, com relato emocionante dos serviços biológicos dessa floresta, que são vários: a floresta Amazônica tem um estoque de carbono equivalente as emissões totais da revolução industrial até hoje, o que, possivelmente, com a sua morte, iria abalar e muito nossa atmosfera. Não é só seu estoque ainda ignorado de biodiversidade e de fonte para vários benefícios à humanidade e sua saúde, mas é o risco que estamos atingindo: segundo Smithsonian se 25% do total da floresta for destruído, pode ser seu ponto de ruptura, a partir do qual ela não é mais capaz de autogerar as condições da sua sobrevivência.  Não sou especialista, mas sou fascinado pela Amazônia e pelos ecossistemas do nosso país, como o Cerrado.   Só consigo entender a destruição desenfreada pela ignorância e imediatismo de alguns e pelo erro atroz da teoria econômica, um dos maiores erros científicos da história da humanidade.

Precisamos de pessoas e políticos que comecem a olhar isso de cima, a população de uma forma geral vive alheia e não tem noção do perigo, pois estão lutando para sobreviver e receberam estímulos errados ligados a questões menos importantes que não lhes garante nada, nem a felicidade ou sua liberdade.  Sempre desejamos que a população tome poder do seu destino com a ajuda de todos, para viverem plenos, mas isso está longe de ser possível, ainda mais no Brasil. Dependemos dos políticos, dos decisores e formadores de opinião de forma extrema, mas eles todos encontram-se ausentes e com raríssimas exceções vemos alguma claridade.  Precisamos de ação antes que seja tarde demais. Espero que já não seja.  Mas o fato é que até agora nenhuma ação foi feita para mudar a rota de colisão da humanidade com a Terra.

Hugo

Colaboradores