De 9 a 11 de julho de 2012, pós Rio + 20.
terça-feira, 22 de maio de 2012
Green Economy Lab
De 9 a 11 de julho de 2012, pós Rio + 20.
terça-feira, 14 de junho de 2011
Uma semana inconveniente - Marina Silva
Este ano, a Semana de Meio Ambiente foi palco de importantes debates, mas com resultados terríveis para o meio ambiente. O mais polêmico é, sem dúvida nenhuma, o projeto de lei (PLC 30/2011) aprovado recentemente pela Câmara dos Deputados e que altera profundamente o Código Florestal.
Continue lendo:
http://www.minhamarina.org.br/blog/2011/06/uma-semana-inconveniente/
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
A pedido de Marina, Senado vai debater posição brasileira sobre clima
A pedido de Marina, Senado vai debater posição brasileira sobre clima
Brasília, 24 de novembro de 2010
A senadora Marina Silva (PV-AC) aprovou ontem, dia 23, dois importantes requerimentos na reunião da Comissão de Meio Ambiente do Senado. Serão promovidas audiências públicas sobre questões de alta relevância para a proteção do meio ambiente e para a qualificação do processo de desenvolvimento do país.
A pauta da primeira audiência pública aprovada aborda três pontos: a)a implementação da lei 12.187, de 29 de dezembro de 2009, que instituiu a Política Nacional sobre Mudança do Clima; b) os compromissos assumidos pelo governo brasileiro durante a Conferência das Partes da Convenção de Mudanças Climáticas (COP 15), que ocorreu
em Copenhagen (Dinamarca) em 2009; e c) as posições e os novos compromissos que serão assumidos pelo governo brasileiro durante a COP 16 que acontecerá no México, entre os dias 29 de novembro a 10 de dezembro deste ano.
Os debatedores convidados serão representantes do Ministério das Relações Exteriores, da Casa Civil da Presidência, do Ministério do Meio Ambiente, do Greenpeace e da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Em razão de a Conferência do México ter início na próxima semana, a audiência pública será realizada nesta quinta-feira, dia 25. O debate é aberto ao público e pode ser acompanhado pela internet (www.senado.gov.br). Quem quiser enviar perguntas para os
participantes poderá fazê-lo por meio do endereço eletrônico da senadora Marina Silva (marinasi@senado.gov.br). Algumas das questões serão sorteadas e encaminhadas aos debatedores.
A segunda audiência pública foi convocada por Marina para tratar do projeto de lei complementar nº 01/2010, que promove a regulamentação do artigo 23 da Constituição Federal.
O objetivo original do projeto, que foi encaminhado pelo governo federal em 2007, após amplo processo de debate, era o de deixar mais claras as atribuições da União, dos Estados e dos municípios na formulação e na gestão da política ambiental. Dessa forma, esperava-se dirimir os conflitos de competência, que muitas vezes acaba impondo prejuízos à aplicação da legislação e aos investimentos.
No entanto, o projeto original foi profundamente alterado durante a tramitação na Câmara dos Deputados e, caso seja aprovado como está, representará um grave retrocesso para a legislação ambiental e para a proteção dos recursos naturais. Isso porque, para além de fixar as competências entre os entes da federação, a proposta revisada pelos deputados altera dois pontos essenciais na legislação ambiental:
fragiliza o licenciamento ambiental e limita fortemente o poder de fiscalização do Ibama.
Para esta audiência, que deverá ocorrer na segunda semana de dezembro, os debatedores convidados pelos senadores são integrantes do Ministério do Meio Ambiente, da Associação Nacional dos Municípios e Meio Ambiente, do Instituto de Pesquisas da Amazônia e do Instituto Socioambiental (ISA).
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Clima na eleição
Miriam Leitão.
Em Copenhague, uma jornalista estrangeira quis saber: “É verdade que os três candidatos a presidente estão aqui na Conferência do Clima?” Confirmei, e ela perguntou: “Isso significa que esse assunto no Brasil tem prioridade?” Disse que não era bem isso. A candidatura de Marina Silva levou o presidente Lula a indicar Dilma chefe da delegação, e fez José Serra ir também para Dinamarca.
Essa foi a primeira mudança provocada por Marina.
Dentro do governo, o ministro Carlos Minc vinha brigando para que o Brasil assumisse metas de redução de gases de efeito estufa.
Antes dele, Marina tinha defendido essa posição, mas fora sempre derrotada pela coalizão Casa Civil-Itamaraty e Ciência e Tecnologia. O Brasil tinha ficado preso na posição envelhecida de que só os velhos emissores de gases estufa tinham que ter metas.
A posição nova que o Ministério do Meio Ambiente defendia é que o Brasil tinha virado um grande emissor e que, como a maior parte das nossas emissões vem do desmatamento, a mudança de posição seria antes de tudo boa para nós mesmos.
Além disso, daria ao Brasil prestígio internacional.
A então ministra Dilma Rousseff era uma das pessoas que se opunham às metas. Ela achava que isso impediria o crescimento do Brasil. Os países emergentes, não integrantes do Anexo I do Protocolo de Kyoto, não tinham que se comprometer com meta alguma.
Os defensores de que o Brasil tivesse metas argumentavam que seria apenas uma redução do ritmo de aumento das emissões, uma espécie de corte no mercado futuro dos gases poluentes. Houve um momento, numa reunião para fechar a posição brasileira, em que Minc e Dilma entraram numa discussão lateral. O presidente quase suspende as decisões sobre o assunto. Mas Lula acabou decidindo pela posição de Minc.
Houve um temor dentro do governo de que a agenda ambiental ganhasse muito peso com a
candidatura de Marina e isso tirasse votos de Dilma Rousseff, que sempre foi identificada como adversária da agenda verde.
— Não vou guerrear contra os fatos. Depois que a Marina anunciou sua candidatura ficou mais fácil ganhar as brigas dentro do governo — admitiu Carlos Minc numa conversa na semana passada. Foi para tentar mudar a imagem de antiambientalista que Dilma foi enviada a Copenhague, àquela altura já com as metas de redução de gases de efeito estufa. José Serra, que estava se adiantando na aprovação de uma Lei de Mudanças Climáticas em São Paulo, foi junto com um grupo de indústrias que tem começado a entender que sem a adesão a novos comportamentos na questão ambiental pode
perder mercado internacional.
Foi assim que o Brasil chegou a Copenhague com seus três candidatos. A pouca intimidade de Dilma com a agenda, e o fato de ela ter o temperamento que tem, produziu atritos fortes com assessores do Ministério do Meio Ambiente e aquele famoso ato falho: “O meio ambiente é um obstáculo ao desenvolvimento sustentado”, disse ela numa sala lotada de 700 pessoas em Copenhague.
Na BR-319, que contei aqui rapidamente na coluna dias atrás, a grande briga em torno da estrada foi travada por Minc, que defendia que, em vez de refazer a estrada dos militares, melhor seria se fossem feitas obras que garantissem uma hidrovia.
Para alavancar sua candidatura ao governo do Amazonas, Alfredo Nascimento, então ministro dos Transportes, exigiu que fosse feita a estrada. Numa reunião entre o presidente Lula, a então ministra Dilma Rousseff e Minc, Nascimento disse que sem a estrada não apoiaria a candidatura de Dilma. A propósito: ele acabou perdendo a eleição.
Minc fechou questão. Só aceitaria dar a licença prévia se antes fossem instaladas 28 unidades de conservação e parques nacionais ao longo dos mais de 400 quilômetros que são de floresta.
Ele conta hoje que fez isso pelo exemplo da BR-163.
— Marina deu licença prévia para a BR-163 e só depois negociou as unidades de conservação e parques.
O desmatamento na área triplicou. Eu não a culpo.
Na verdade, aprendi com essa experiência que tinha que garantir antes da licença prévia. Queria a implantação antes. Foi uma briga de um ano e dez meses, mas ganhei. O Exército está lá para começar a implantação da estrutura dos parques — contou Minc.
Com os institutos dando nas pesquisas eleitorais que Marina tinha ficado estagnada na altura dos 10% e que Dilma venceria no primeiro turno, o assunto sumiu da agenda de discussões da campanha.
Naquele discurso de Serra enviado como programa eleitoral havia apenas uma frase sobre meio ambiente; Dilma se limitou a repetir superficialidades sobre a questão. Ela nunca quis limites ambientais aos projetos que alavancou.
O governo aprovou uma lei de mudanças climáticas estranha, mas engavetou na Casa Civil. Nada foi regulamentado.
A votação forte da candidata verde elevou novamente o tema. Só que agora há uma compreensão maior, da imprensa e do país, de que a sustentabilidade não é uma palavra oca, mas sim uma nova forma de estruturar o projeto econômico. O assunto voltou ao debate. Uma das exigências do Partido Verde é de revisão do Código Florestal, contra o qual Marina Silva se bateu fortemente no Senado e perdeu. O Código, ao ser aprovado, teve votos dos dois lados em disputa agora no segundo turno.
Mas a causa ambiental bate de frente principalmente com os métodos Dilma de aprovação de obras.
Ela deixou testemunhos e provas suficientes de que vê com desprezo e obstáculo a agenda ambiental e climática.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Trilhas opostas
Essa é a razão pela qual esperamos que a Marina não apóie Dilma e se apoiar, a Dilma terá que dizer porque seus valores não conseguem entender a importância dos ecossistemas sem os quais não estaríamos aqui conversando.
Míriam Leitão - Panorama Econômico O GLOBO 07-10-10
Trilhas opostas
A verdade é que elas nunca se entenderam na hora das decisões. Marina e Dilma são opostos. Os conflitos foram abundantes nos anos em que ambas conviveram no governo. Dilma mandou alagar a Mata Atlântica, aumentou a energia fóssil na matriz, ignorou a colega no PAC, iniciou obras controversas e afastou Marina do Plano Amazônia Sustentável. Dilma esqueceu dos conflitos por conveniência eleitoral, mas os registros ficaram nos jornais, nos relatos de testemunhas, nos documentos oficiais, nas decisões. Dilma fulminou com os depreciativos “minha filha” e “meu filho” todos os então assessores de Marina que a contrariaram. Alguns são da máquina pública. Alguns deixaram o governo depois de conflitos. Em Copenhague, o então ministro Carlos Minc foi destratado.
Hoje, Minc exibe uma amnésia conveniente, mas não pode pedir a quem esteve lá, como eu, que esqueça o que viu e ouviu. Um funcionário, experiente participante de Conferências do Clima, foi fulminado por Dilma numa reunião interna quando fazia sábias ponderações: “Olha menino, isso aqui não é coisa de amador, é para profissional.” A neófita no tema era ela. Ressentimentos podem ser superados. Mais difícil são as consequências de decisões tomadas. A BR-319 foi um dos motivos do embate entre as duas. Liga Manaus a Porto Velho e atravessa 700 km de terra de ninguém. Foi construída pelo governo Médici, mas foi retomada de volta pela floresta. O último ônibus que transitou por lá foi em 1978. O governo quis refazê-la para dar capital a Alfredo Nascimento. Marina queria que fosse criada uma rede de áreas protegidas no entorno para evitar que a rodovia incentivasse a grilagem e o desmatamento. O governo nunca implementou isso e, perto da eleição, contornou a falta de licença ambiental, mandando o Exército iniciar as obras. Hoje, já há focos de grilagem e desmatamento no sul do Amazonas por causa dela. Na BR-163, Marina coordenou, com o então ministro Ciro Gomes, o projeto para fazer da Cuiabá-Santarém uma estrada sustentável. Foram aprovadas unidades de conservação e instalação de postos de fiscalização e vigilância para proteger a região da grilagem, reduzindo o impacto ambiental. Marina ganhou a batalha, mas o governo não pôs em prática o prometido. Foi onde Minc capturou os bois piratas. Quem passou por lá recentemente viu que os bois voltaram. Barra Grande é uma hidrelétrica no Sul do país que foi construída com um EIARima fraudado, aprovado no governo anterior. Nele se dizia que na área a ser alagada havia um capoeirão. Na hora de fazer o lago, descobriu-se que era na verdade uma preciosa área de Mata Atlântica com Araucária. Dilma queria alagar a mata, Marina foi contra. A energia a ser gerada era pequena para tanto estrago e era convalidar um crime. José Dirceu, então chefe da Casa Civil, decidiu estudar um pouco mais o problema. Dilma quando assumiu o cargo mandou alagar a Mata. Nas usinas do Rio Madeira houve um embate amazônico. O presidente Lula debochou dizendo que a briga era por um bagre, mas a briga foi maior e de novo opôs Marina e Dilma, já na Casa Civil, mas sempre elétrica. O MMA queria proteção contra o meio ambiente, peixes, matas, qualidade da água, prevenção contra o mercúrio e estudo do impacto da sedimentação. Dilma assumiu a defesa das empreiteiras, Marina ficou com as ONGs e o Ibama. A então ministra do Meio Ambiente conseguiu impor exigências que aumentam a segurança ambiental. Se forem cumpridas. A diferença irreconciliável foi o PAC. Ele teria que ser feito junto com o Plano Amazônia Sustentável (PAS), para que as obras do século XXI não repetissem os crimes ambientais do governo militar. Dilma defendeu que o PAS fosse entregue ao então ministro Mangabeira Unger. O presidente Lula comunicou a decisão numa reunião ministerial, dizendo que Marina não poderia cuidar do Plano porque não era isenta. Foi o sinal verde para que o PAC passasse trator sobre os limites ambientais. Marina saiu do governo. O substituto Carlos Minc brigou algumas brigas, mas perdeu as principais. Resistiu à licença para Belo Monte. As pressões da ministra Dilma foram explícitas e estão documentadas. Os diretores de licenciamento e energia do Ibama saíram. Os novos aceitaram a imposição de prazo numa reunião na Casa Civil no dia 7 de janeiro, e deram a licença em primeiro de fevereiro, apesar de os funcionários terem escrito que não houve tempo para avaliar os riscos ambientais. Tive acesso a documentos oficiais e publiquei na coluna “Ossos do Ofício”, em 17 de abril. Vejam em meu blog. Os riscos ambientais e os fiscais de Belo Monte são imensos, mas ela é uma das obras do Plano de Aceleração da Candidatura de Dilma Rousseff. Na reunião com alguns dos líderes eleitos da sua base, divulgada pelo Blog do Noblat, Jacques Wagner disse que as trilhas de Marina e Dilma sempre foram próximas. Quem viu os fatos, e rejeita o modelo stalinista de reescrever a história, sabe que as trilhas sempre seguiram direções opostas.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Marcha dos Prefeitos - Marina Silva em Brasília
De: Marcio Bontempo :
caminhos). Foi imprudente, pois a terceira das 9 perguntas já deixava claro que ninguém da CNM está interessado em novo imposto. Então foi ensaiada uma vaia sutil, mas não completada. Nem Serra nem Dilma mostraram, como Marina, que a EC29 está trancada na Câmara, sendo que Marina foi mais valente e crítica colocando que isso acontece porque o governo não tem interesse em repassar mais verbas para a saúde. Marina foi brilhante, perfeita. Seguiu nossa sugestão de ser bastante incisiva, aplicar mais conteúdo crítico, manifestar-se com ênfase e
> determinação. Acho que tem a ver também com a orientação de Paulo de Tarso e do Capobianco. Consegui mostrar a ela, antes da fala, que o momento era mais político do que técnico e que precisávamos aproveitar o evento para sensibilizar os prefeitos. Marina é super inteligente e capta com presteza essas coisas. Foi fantástica. Dilma e Serra foram técnicos demais e este chegou a cansar a platéia com tantos números. Diferentemente dos outros dois que tiveram frequentemente o microfone cortado (cada um tinha 4 minutos apenas para responder), Marina terminou tudo no tempo certo e aproveitou para finalizar com brilhantismo, arrancando efusivos aplausos. Num momento que sensibilizou a todos, ela parou rapidamente de falar e chorou ao lembrar dos seus 30 anos de PT aos prefeitos do partido ali presentes. Aplausos irromperam e a senadora rapidamente retomou a palavra com excepcional verve. Sua fala foi marcada por frases de impacto e argumentos fortes, enaltecendo a necessidade de se evitar o tipo de política comum e se criar um novo modelo, unificado, sustentável, inteligente, com a participação de todos, dependentemente de partidos. Foi marcante quando ela afirmou que sua visão política e entendimento se baseiam aspectos ligados a valores e não a circunstâncias. Ao afirmar que os desastres naturais são efeitos do nosso comportamento, ela inovou esse entendimento, colocando uma abordagenm sui generis à questão. Num gran finale, convocou a todos para, juntos, trabalharmos por um novo Brasil e um novo momento na política brasileira. Depois na coletiva com a imprensa, com muitos reporteres, refletores, microfones, ela fechou a sua paticipação no evento com louvor. Carismática e simples, as pessoas a procuravam com muito carinho para transmitirem votos de sucesso. Líder perfeita, soube agradecer carinhosamente a nossa contribuição e a atuação do grupo. Coisa rara entre políticos.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Sobre a água
Ao comentar deixe um e-mail para contato.
Fiz um comentário a partir do texto da nossa ilustríssima senadora, Marina Silva. Muito poderia ser escrito sobre esse descaso monumental, o lixo, a poluição ininterrupta e exponencialmente crescente em cima dos ecossistemas e seus recursos hídricos e a forma como isso já produziu a maior extinção em massa das espécies animais e vegetais da Terra dos últimos 65 milhões de anos. Sem uma mudança radical do modelo econômico, de seus valores, das suas métricas, sem mostrar como a economia que rege o mundo à nossa volta não passa de uma teoria falsa, em desacordo com a realidade e com as ciências mais puras, não iremos evitar que essa extinção não se voltará contra os causadores, ou seja, nós. Por isso, o cientista Martin Rees e outros já declaram que as chances da humanidade terminar o século XXI são muito baixas, infelizmente.
Vamos à água que veio dos cometas. Basta lembrar que faz parte de um ciclo vivo, não pode ser estocada, porque sem as plantas e os bichos, a água desapareceria, é um fluxo constante. A água só existe porque existe a biodiversidade e seus ecossistemas e seus serviços. Na Amazônia, 50% da água existente vem da evaporação dos oceanos e a outra metade vem da transpiração das árvores. A água lá só existe porque existe a floresta e a floresta só existe porque existe a água. Elas são inseparáveis. E dessa água vem os rios aéreos que trazem água para o resto do Brasil, 90% da água da região sudeste é formada na Amazônia, de acordo com o Smithsonian Tropical Institute. Não é só a água que chega aqui, que é dependente da Amazônia, porque o pólen das árvores que vem em grande quantidade junto com ela é que permite ela se aglutinar e formar as chuvas, do contrário a água passaria reto sem cair sobre nossas cidades. Sem a Amazônia todos estaremos mortos, parafraseando a famosa frase do economista também cego em relação ao meio ambiente, John Maynard Keynes: não se preocupem com outras questões (sociais ou ambientais nem com as gerações futuras) porque “no longo prazo todos estaremos mortos”. É assim que todos os economistas pensam, apesar de todas as evidências em contrário.
Por isso em todos os modelos econômicos da atualidade, não há uma só variável que contabilize a contribuição inigualável e irreproduzível da água. Na macroeconomia aplicada que é seguida por todos os governos, desde Fernando Henrique Cardoso, Lula, Serra e Dilma, não há nenhum tratamento digno da contribuição da natureza para tudo que existe à nossa volta inclusive nossas vidas. Na macroeconomia moderna a conclusão que vigora até hoje é que os recursos da natureza são completamente irrelevantes para explicar os processos econômicos e podem ser perfeitamente substituídos pelo capital produzido pelo homem (máquinas, equipamentos, construções, etc.). É um erro teórico tão monumental que pode ser ilustrado da seguinte forma: na cozinha dos economistas, eles podem preparar uma refeição apenas com panelas, colheres e fogão, sem precisar em nenhum momento da farinha, do leite e dos ovos.
A crença absurda na inesgotabilidade da água e a abundância da água do Brasil na bacia amazônica não tem fundamento científico algum. A água que existe nesse planeta em grande parte chegou aqui através do bombardeamento contínuo de cometas compostos de água congelada. Isso nos primórdios da criação do nosso planeta e sistema solar há bilhões de anos e a paz cósmica só chegou a partir do surgimento de Jupíter, que por ser um planeta infinitamente maior que o Brasil, virou a esponja do nosso sistema solar, absorvendo todos os cometas e asteróides através da sua enorme gravidade. Para a quantidade de água aumentar na Terra é necessário um cometa bater contra a Terra e como isso seria o equivalente a várias bombas nucleares explodindo, é um evento extremamente indesejável. Sem Jupíter presente no sistema solar da Terra, não estaria agora escrevendo esse texto e essa é apenas mais uma das incríveis peculiaridades universais que permitiu a existência da vida na Terra. Nós estamos destruindo a mais básica de todas que é a nossa relação com o meio ambiente e a nossa incrível dependência, onde todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos, fato que no excesso de individualismo atual segue amplamente ignorado. Para restabelecer essa relação do homem com o meio ambiente é fundamental que onde for possível essa relação seja restaurada.
Dia da vida
Marina Silva
SEM ÁGUA não existe vida, saúde ou desenvolvimento sustentável. Se a água for mal tratada e mal gerida, pode ser morte, doença e desigualdade social. E, a cada ano que passa, torna-se maior o complexo desafio para o homem tratar da questão da água em um cenário de industrialização, de urbanização e de mudanças climáticas.
Todos os cenários vislumbrados para o Brasil, no âmbito das mudanças climáticas, apontam para alteração do padrão de chuvas no ano. Avaliando-se o que já acontece hoje em todas as regiões do país, é de se esperar que aumentem os efeitos desastrosos desses fenômenos naturais.
Historicamente, temos tratado a água como um recurso inesgotável.
Embora vivamos em um planeta cuja superfície é ocupada por cerca de dois terços de água, esquecemos que apenas 0,09% dessa água pode ser aproveitada para consumo do homem. E há uma parte significativa que já foi poluída ou degradada pela ação humana.
O Brasil é favorecido com o maior volume de água doce do planeta. Entretanto, difundiu-se aqui, desde Pero Vaz de Caminha, a falsa ideia de abundância. É enganosa a ideia, uma vez que a distribuição é desigual e a maior parte da água está concentrada na bacia amazônica.
Como destino natural das águas de chuvas em um território, os rios, os lagos e os mares trazem em suas entranhas as marcas e os reflexos das atividades humanas. Os rios traduzem, assim, as virtudes e as mazelas de nossa relação com o meio ambiente. Viram o melhor indicador do gerenciamento e da consciência ambiental de uma sociedade. Sob essa perspectiva, há pouco a festejar e muita preocupação com o Dia Mundial da Água, celebrado hoje. Para se ter uma ideia, a maior parte do esgoto gerado nas cidades é despejado sem tratamento nos cursos d’água.
Nas últimas décadas, o Brasil avançou na criação de um aparato legal e institucional que permite gerenciar, de forma adequada, as águas do país. É um sistema que exige a participação cidadã e a consideração das diferentes situações regionais.
Com esse sistema implantado, certamente o Brasil estaria mais bem preparado para enfrentar os desafios que se avizinham. No entanto, o batalha é ainda imensa, já que a questão da água ainda não ocupa a prioridade que deveria ter para os gestores públicos.
Fizemos o Plano Nacional de Recursos Hídricos com intensa participação da sociedade. Agora precisamos enfrentar o grande desafio de implementá-lo. Saneamento básico é a prioridade, investimento obrigatório para quem deseja uma sociedade que sabe cuidar das suas águas em benefício de seus cidadãos.
Publicado na Folha de São Paulo em 22/03/2010.
quinta-feira, 11 de março de 2010
Carta aberta à Marina Silva
Prezada Senadora Marina Silva,
No mundo real as monstruosidades vão continuar cheia de justificativas falsas.
No mundo ideal – que não é o real – o caminho correto seria atualizar tecnologicamente as turbinas das usinas já existentes, renovar as linhas de transmissão e reduzir o desperdício. Com essas medidas não muito impactantes conseguiríamos aumentar a oferta relativa de energia em quase 100%. Nada precisaria ser construído.
No mundo mais do que ideal conseguiríamos abandonar a idéia de crescimento eterno dos economistas cegos e investir num modelo voltado para as pessoas, que seriam colocadas acima de tudo como principais agentes transformadores do mundo futuro que desejamos.
Não adianta abraçar árvores, sem abraçar homens e mulheres, sem promover uma clara re-integração do ser humano com a natureza, cuja dependência nunca desapareceu e essa desconexão provocou já um sério risco para nossa sobrevivência na Terra. As pessoas precisam de participação, importância, todos nós somos igualmente importantes para nosso futuro como espécie.
Não fazemos nem cócegas para o planeta, que não possui o menor interesse na nossa insignificante espécie animal. Eu posso dizer que eu nunca morri, posto que escrevo esse email. O fato de eu nunca ter morrido, não significa que eu não vá morrer um dia. Essa lógica errada é aplicada ao planeta, mas o fato da Terra nunca ter expulsado o homo sapiens ou toda as formas de vida por nossa própria culpa, não significa que não o fará.
O mais assustador são as tendências continuarem as mesmas de sempre, no modelo do passado, como alertou muito bem no seu artigo “Pandora é aqui”. Já provocamos a maior extinção em massa de espécies animais e vegetais dos últimos 65 milhões de anos, a terceira mais forte registrada em nosso planeta de 4,5 bilhões de anos. É muita ingenuidade achar que essa extinção jamais irá se voltar contra os causadores, ainda mais aqui, onde a interligação é tão robusta que podemos dizer que todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos.
Sem a Amazônia todos estaremos mortos, por exemplo.
No mundo real, para atender a demanda de energia dos brasileiros que nada tem, alguns amigos meus me contrariam dizendo que Belo Monte será ambientalmente melhor do que oito usinas termo-elétricas no Nordeste. O modelo esbanjador e consumista continua o mesmo. Eu ando de bicicleta pelas ruas de São Paulo correndo risco de vida e não me importo, quando todos que conheço andam de carros gigantes ou SUVs.
O difícil mesmo é mudar o mundo real e os interesses e convicões arraigados. A luta é enorme. Brasil é a Pandora dos chineses e dos países ricos e os economistas ainda ficam agraciados por isso, clamando por saldos comerciais maiores, onde custos socioambientais são nulos e externalizados pela sua pseudo-ciência. A conta planetária já chegou.
Continuo a lhe desejar muita sorte nas eleições, como minha candidata e única, pois não votarei em mais ninguém.
Minhas mais sinceras e cordiais saudações,
Hugo Penteado
Quinta, 4 de fevereiro de 2010
Pandora é aqui?
Marina Silva
De Brasília (DF)
Pandora é aqui? Marina Silva
O Ibama concedeu a licença prévia para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Trata-se de um projeto muito polêmico, localizado no rio Xingu, no Pará, próximo ao município de Altamira, numa região conhecida como Volta Grande do Xingu. O nome deve-se ao desenho do rio que, visto de cima, assemelha-se a uma "ferradura".
Por meio de barragens, as águas do rio serão desviadas para um canal que unirá as pontas mais próximas dessa "ferradura". Ao final desse canal, as águas passarão pelas turbinas antes de retornarem ao seu curso normal.
Como tudo na Amazônia, os números que envolvem a obra são gigantescos. A quantidade de terra e pedra que será retirada na escavação do canal é cerca de 210 milhões de m³ - um pouco menor da que foi removida na construção do Canal do Panamá. E ainda nem se definiu qual a destinação desse material.
Pelo leito do rio Xingu passa uma vazão de 23.000 m³/s de água no período de cheia. Um volume correspondente a quatro vezes a vazão, também nos períodos de cheia, das Cataratas do Iguaçu.
Os impactos socioambientais também terão essa mesma ordem de grandeza. E ainda não foram concluídos. Só sobre a fauna, segundo dados coletados durante o Estudo de Impacto Ambiental, podemos ter uma idéia. Na área existem 440 espécies de aves (algumas ameaçadas de extinção, como a arara-azul), 259 espécies de mamíferos (40 de porte médio ou grande), 174 de répteis e 387 de peixes.
Apenas a eficiência energética da usina não será tão grande. Uma obra colossal que custará certamente mais de R$ 30 bilhões - se somados todos os gastos, como o custo e a extensão da linha de transmissão, por exemplo - terá uma capacidade instalada de gerar, em média, 4.428 MW, em razão do que poderá ser suportado pelo regime hídrico do rio, nesta configuração do projeto. E não os 11.223 MW que estão sendo equivocadamente anunciados.
A energia média efetiva entregue ao sistema de distribuição será de 39% da capacidade máxima de geração, enquanto a recomendação técnica indica que essa eficiência seja de pelo menos 55%.
Para que Belo Monte possa apresentar um grau de eficiência energética compatível com as recomendações técnicas, seria necessária a construção de outras três hidrelétricas na bacia do rio Xingu, que teriam a função de regularizar a vazão do rio. Por ora, a construção dessas usinas foi descartada pelo governo porque estão projetadas para o coração da bacia, onde 40% das terras pertencem aos indígenas.
No entanto, a insistência em manter o projeto nessa dimensão (apesar de haver alternativa de barragem com quase metade da capacidade instalada e perda de pouco mais de 15% na potência média gerada) provoca forte desconfiança, tanto dos analistas como das comunidades e dos movimentos sociais envolvidos, de que a desistência de construir as outras três hidrelétricas seja apenas temporária.
A população indígena - são mais de 28 etnias naquela região - ficará prensada entre as cabeceiras dos rios que formam a bacia, hoje em processo acelerado de exploração econômica e com alto nível de desmatamento acumulado. E a barragem, além de interromper o fluxo migratório de várias espécies, vai alterar as características de vazão do rio.
É incrível que um empreendimento com esse nível de interferência em ambientes sensíveis seja idealizado sem um planejamento adequado quanto ao uso e à ocupação do território.
A solução de problemas dessa dimensão não pode ser delegada exclusivamente a uma empresa com interesse específico na exploração do potencial hidrelétrico, com todas as limitações conhecidas do processo de licenciamento.
Com a obra, são esperadas mais de 100 mil pessoas na região. Não há como dar conta do adensamento populacional que será provocado no meio da floresta amazônica, sem um planejamento para essa ocupação e um melhor ordenamento do território. Isso só pode ser alcançado através da elaboração de um Plano de Desenvolvimento Sustentável na região de abrangência da obra.
Essa foi uma grande omissão nesse processo, mas não a única. Não temos como deixar de indagar se não há outros aproveitamentos hidrelétricos que seriam mais recomendados, sob o ponto de vista dos impactos ambientais ou da eficiência energética.
No entanto, não há projetos com estudo de viabilidade técnica e econômica prontos para serem submetidos ao licenciamento ambiental. Apesar de o diagnóstico ser conhecido desde 2003, apenas em meados do ano passado foram finalizadas as primeiras revisões de inventário de bacia hidrográfica, como a do Tapajós.
Com isso, projetos polêmicos e com grandes impactos têm que ser analisados em prazos muitas vezes incompatíveis com o grau de rigor que deveriam ter, numa clara demonstração de como, muitas vezes, os ativos ambientais são afetados pela falta de planejamento de outros setores de governo.
Porém, nada foi mais afetado do que nosso compromisso ético frente à responsabilidade com o futuro de povos e culturas. Não foram sequer feitos estudos sobre os impactos que os povos indígenas terão. Só para exemplificar, o que significará para eles ter a vazão reduzida significativamente num trecho de 100km em função do desvio das águas para o canal? O plano de condicionantes tampouco menciona a regularização de duas Terras Indígenas (Parakanã e Arara), já bastante ameaçadas.
Estas e outras comunidades indígenas manifestam inconformidade por não terem sido ouvidas adequadamente, segundo os preceitos da Resolução 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificada pelo Brasil, mas nunca implementada para valer.
O Brasil possui um importante potencial de geração de energia hidrelétrica a ser desenvolvido. Mas as dificuldades em retomar o planejamento do setor na velocidade que possibilite escolhas e uma análise segura por parte do setor ambiental, somada à indisposição em discutir uma proposta de desenvolvimento sustentável para as obras de infraestrutura localizadas na Amazônia, à percepção de que o governo não faz o suficiente para melhorar a eficiência energética do sistema (não só na geração) e para desenvolver as energias alternativas, acaba por produzir conflitos agudos e processos equivocados, que poderiam ser evitados.
Apesar dos discursos em contrário, ainda estamos operando no padrão antigo, que considera o meio ambiente como entrave ao desenvolvimento. Temos ainda um longo dever de casa a ser feito para ingressarmos definitivamente no século 21. Quem pensa que a história relatada no filme Avatar só pode ocorrer em outro planeta, engana-se: Pandora também pode ser aqui.
Marina Silva é professora de ensino médio, senadora (PV-AC) e ex-ministra do Meio Ambiente.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Filha do Brasil
Folha de S.Paulo, Sexta 5 de fevereiro de 2010, página A2
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Educação sentimental
SÃO PAULO - O programa do PV, exibido ontem à noite em rede nacional
de TV, marcou a estreia de Marina Silva como candidata à Presidência.
O grande público pôde vê-la pela primeira vez neste ano. Ao final de
10 minutos, fica-se com a sensação de que o PT teria com o que se
preocupar se as condições da disputa não fossem tão desiguais.
O que fez o PV? Um programa em grande parte dedicado à importância
estratégica da educação. Mas associou a defesa dessa bandeira à
biografia da sua candidata, de tal forma que as coisas se confundissem
num enredo comum. Marina aparece na tela como a melhor personagem da
sua mensagem.
A identificação e o contraponto com Lula não poderiam ser mais
cristalinos. Nascida no interior do Acre, negra, pobre, analfabeta até
os 16 anos, Marina também é uma legitima "filha do Brasil".
Mas, contra todas as adversidades, depois de ter sido humilhada pela
professora diante dos colegas no primeiro dia de aula, reuniu forças
para se alfabetizar: "A minha vontade de aprender era tamanha que em
15 dias eu já estava alfabetizada". Concluiu o supletivo, passou no
vestibular, cursou história e se especializou em psicopedagogia.
"Tudo o que aconteceu na minha vida foi graças à oportunidade que tive
de estudar, ainda que tardiamente", diz, orgulhosa. É como se
dissesse: Lula nos trouxe até aqui, para dar o próximo passo é preciso
estudar -apresentando-se, ela própria, como o espelho do futuro.
Merece atenção a referência elogiosa que Marina faz a Lula e a FHC, de
maneira equânime. Ao mesmo tempo em que se coloca como herdeira dos
dois, ela vocaliza a ideia de que representa uma ruptura. Sem se
definir, o programa oscila habilmente entre mensagens de continuidade
e mudança, evolução e revolução, passado e futuro.
Ouvimos de Marina expressões como "virada histórica", "grande
transformação", "nova consciência" e "utopia". Mas ninguém precisa ter
medo. A fala mansa está ali para nos sugerir que ela é só um Lula que
estudou até o fim, direitinho.
domingo, 6 de dezembro de 2009
Por que Marina Silva?
Por que Marina Silva?
Porque é a única candidata e está entre os poucos políticos desse país capaz de se preocupar com o meio ambiente de forma sistêmica, como um problema econômico, social, como parte das nossas atividades e através da busca de um diálogo, saindo do lugar comum que basta a economia crescer que tudo estará bem, como vemos presente nas idéias e discursos de Dilma Roussef, José Serra, Lula, Fernando Henrique Cardoso, Paulo Maluf, Orestes Quércia e tantos outros.
O crescimento deveria ser um subproduto não buscado do modelo de desenvolvimento, cuja finalidade maior deveria ser o equilíbrio social e ambiental local, acima do global e acima dos interesses dos grandes centros econômicos e políticos. Até porque mesmo esses grandes centros tem sua sustentação dependente do que vamos fazer de agora em diante para reverter a enorme degradação social e ambiental à nossa volta – ou alguém ainda acha normal um jovem, um ser humano semelhante a nós, entrar num ônibus e jogar uma bomba para explodi-lo numa cidade que foi escolhida como sede das Olímpiadas? Ou alguém acha normal o Brasil ser sede das Olímpiadas quando a maior parte das escolas públicas não tem nem quadra poli-esportiva para serem usadas e os professores de educação física arcam com equipamentos do próprio bolso? Pois é, precisamos mostrar como anda a situação de esportes para os jovens das escolas públicas, só o ufanismo de termos sido escolhidos para sediar os jogos não basta.
A proposta de lei do Cristovam Buarque de obrigar os políticos a colocar seus filhos na escola pública (http://nossofuturocomum.blogspot.com/2009/11/projeto-de-lei.html) tem que se apoiada. Mais que isso: o transporte e os hospitais públicos deveriam ser obrigatórios para todos os políticos. A merenda escolar deveria ser entregue também para os filhos dos políticos: essa é a única forma deles provarem que prestam um bom serviço à população.
Só vamos melhorar o Brasil e a qualidade dos serviços públicos que o governo nos oferece e ao mesmo tempo mudar o modelo de desenvolvimento econômico que entrega de graça nossas florestas ao resto do mundo ganancioso e já em colapso, como a China e os Estados Unidos, com uma pessoa como a Marina Silva. Ela tem um histórico e um rico conhecimento sobre o quanto é importante redimensionar as idéias malucas dos economistas que acreditam ainda que o planeta é um subsistema das economias e que a economia pode ser maior que a Terra e preconizam o crescimento eterno esfacelador de todos os serviços ecológicos que nos sustentam como solução para todos os nossos males.
Sim, Marina Silva agora é a nossa única esperança. Quando penso na morte da Amazônia, que pode acontecer de uma hora para outra se insistirmos no seu desmatamento contínuo e na política de desenvolvimento suicida que já criou um deserto maior que a França e o Reino Unido dentro da nossa floresta, lembro imediatamente da Marina Silva, na sua ligação com Chico Mendes, na sua atitude heróica. A Amazônia é continuamente destruída e a cada dia amanhecemos com menos florestas, o mesmo ritmo de destruição dos países como a China e os Estados Unidos, que esgotaram tudo e só não entraram em colapso por conta do comércio internacional, que lhes dá acesso gratuito aos recursos da natureza de países cegos como o nosso, que não mudam o debate internacional cego à nossa volta e ainda elogiam suas investidas contra nós e nosso meio ambiente.
Só Marina Silva reduziria a pressão para construção de usinas hidrelétricas totalmente desnecessárias, pois basta cortar o desperdício e fazer atualização tecnológica da infra-estrutura de energia já existente (a Folha de São Paulo publicou várias matérias a esse respeito) e a oferta dobraria sem ser necessário nem Rio Madeira nem Belo Monte. É o planeta que dá as regras e não nós e há um limite que ainda não enxergamos para nossas atividades, bem como há uma total falta de sentido em manter um sistema econômico no qual de cada 150 dólares adicionados à riqueza mundial só 60 centavos chegam aos mais pobres. Ou alguém ainda acha que o crescimento econômico está voltado à liberdade e o desenvolvimento individual, à criação de empregos permanentes bem remunerados e não apenas temporários? Quando alguém vai entender que o emprego só se justifica quando a economia cresce e desaparece imediatamente no contrário e que não importa qual nível material a economia atinja, ele só se justifica se a economia for capaz de atingir um nível maior. Isso é um absurdo físico e planetário que assusta os cientistas, porque podemos deixar a Terra ainda banhada em sol entregue apenas à vida bacteriana se continuarmos nessa rota.
Só Marina Silva é capaz de entender e revogar esses absurdos. Mais ninguém. Os demais políticos e candidatos querem acabar com o Cerrado e a Amazônia e com o pouco que nos resta, para exportar o que não precisamos para nosso consumo próprio e manter a megalomania de nações que ainda não entenderam que a conta chegou através das atuais mudanças climáticas, da contínua extinção da vida (a maior dos últimos 65 milhões de anos) e da ruína dos serviços ecológicos, como polinização e água.
Só Marina Silva.
Hugo Penteado
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
“Marina vê o meio ambiente como oportunidade, Lula como empecilho”
Por José Paulo Kupfer
O paulista Guilherme Peirão Leal, 59 anos, não é um cristão novo na defesa das questões ambientais e do desenvolvimento sustentável. Leal é um dos três co-presidentes da Natura, gigante brasileira do setor de cosméticos e higiene pessoal, com presença de destaque em mercados latino-americanos. A Natura, que opera no sistema de venda porta-a-porta e conta com um milhão de vendedoras, é mundialmente conhecida pela preocupação com o uso sustentável dos recursos naturais – e, mais do que isso, pela difusão ativa de um modelo de negócios em que as questões sócio-ambientais ocupam lugar central.
Um dos 12 brasileiros na lista de bilionários da revista Forbes, Guilherme Leal, com formação em administração de empresas, fez fortuna relativamente rápido. Hoje, afastado do dia-a-dia da Natura, despacha num elegante escritório, decorado com móveis escuros de linhas contemporâneas e tapetes persas, que ocupa dois andares num prédio imponente, situado em área comercial nobre da zona sul de São Paulo.
Durante uma hora, na semana passada, Guilherme Leal conversou com blog sobre eleições, política, economia e, obviamente, meio ambiente e Marina Silva.
Leia a entrevista aqui.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Preferir Marina - Por José Eli da Veiga
São Paulo, quinta-feira, 01 de outubro de 2009
Preferir Marina
JOSÉ ELI DA VEIGA
A PROFUNDA convicção de que o Brasil só se tornará uma nação desenvolvida se vier a ser simultaneamente competitivo e ambientalmente sustentável é o que move todos os que já veem na senadora Marina Silva a melhor solução pós-Lula. E, para explicar os motivos dessa aposta, são unânimes em também enfatizar valores de vida e de convivência consagrados na sexagenária Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Porém, alguns revelam duas sérias propensões a dúvidas ou restrições.
Por um lado, que a espiritualidade de Marina possa trazer prejuízos ao racionalismo iluminista que vem ajudando a sociedade a se livrar de inúmeras superstições e preconceitos limitadores de autonomia individual e de liberdades cívicas.
Por outro, que as inescapáveis circunstâncias políticas da viabilização de sua candidatura não ofereçam as imprescindíveis condições de governabilidade.
Na primeira tendência chega a haver insinuações de atitude obscurantista pelo fato de Marina Silva não ser categórica sobre meia dúzia de questões: acesso legal das mulheres ao aborto, direito de usar drogas leves, conquistas da comunidade LGBT, educação científica separada da religiosa nas escolas confessionais e normas de biossegurança para cultivos transgênicos ou pesquisas com células-tronco.
Antes de tudo, não se deve esquecer que são questões sobre as quais há sérias controvérsias ético-científicas que racham a sociedade brasileira. Podem ser ótimas para inquirir a senadora, porque ela assume sua condição de evangélica.
Mas, fosse ela tão hipócrita quanto exigem as práticas mais costumeiras da política, tais polêmicas nem seriam lembradas. Muito menos usadas em tentativas de estigmatizá-la ou tachá-la de fundamentalista.
Pois bem, eu sou ateu há mais de 40 anos e radical adepto do darwinismo generalizado. Entendo as religiões como frutos da adaptação cultural.
Por isso, não tenho dúvida em optar pelos valores humanos que guiam a senadora. Pois eles são infinitamente superiores àqueles preferidos por materialistas vulgares e que servem até para justificar toda a nojeira que tem sido praticada no Senado e na Câmara dos Deputados pelos dois oligopólios partidários.
Por que deveria eu ter aversão a uma crente que nutre mais respeito pela diversidade cultural e pelas liberdades civis do que todas as raposas políticas juntas? Apenas uma lembrança: as que agora bajulam o ilegítimo e horrendo regime iraniano.
Sobre a segunda tendência, como estimar as chances de governabilidade? A base de apoio de um governo Marina será necessariamente construída pela atração daquilo que há de melhor no PT e no PSDB, alijando do poder os arranjos que foram montados por oligarcas com o propósito de chantagear os presidentes FHC e Lula. Só Marina poderá isolar essa corja.
Se der Ciro ou Dilma, o poder será exercido em parceria com esquema bem semelhante ao que está sendo regido por Sarney, Renan, Temer & Cia. Ltda. Se der Serra ou Aécio, esse mesmo arranjo será recauchutado sob a égide dos demos.
Por isso, a pergunta básica ao eleitor bem informado é: o que será melhor para a sociedade brasileira? Um governo de rude gerência executiva, necessariamente refém de sinhozinhos que organizam e comandam fisiológicos e oportunistas de todas as siglas e regiões, ou uma coalizão entre social-democratas e verdes conduzida por meiga, firme e serena seringueira negra com larga experiência política senatorial e ministerial?
Além disso, não será melhor que a chefia do Estado siga rigorosamente código de ética em que a sustentabilidade ambiental seja algo intrínseco?
Ou seria melhor que ficasse para quem já foi capaz de falsificar méritos universitários e ignora os riscos que corre a espécie humana, por falta de precaução com uma dezena de problemas usualmente classificados de "ambientais", mas que, a rigor, são de segurança e tão sérios quanto a violência alimentada pelo narcotráfico ou por todas as máfias e gangues que põem em xeque o Estado de Direito?
Enfim, está mais do que na hora de parar com esse besteirol de dizer que a alternativa verde seria "ambientalista". O que a distingue de candidaturas vermelhas, rosas ou de colorida plumagem não é qualquer apego romântico à preservação da natureza. Ao contrário, é a consciência de que não haverá desenvolvimento se o crescimento econômico minar a sustentabilidade ambiental. De que crescer sem conservar é cavar a própria cova.
JOSÉ ELI DA VEIGA , 61, é professor titular da Faculdade de Economia da USP. www.zeeli.pro.br
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Marina Silva, um futuro sustentável para o Brasil
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quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Apoio de petistas a Sarney é insustentável, diz Marina
Apoio de petistas a Sarney é insustentável,
diz Marina
Senadora compara disputa contra candidatura do PT a luta entre Davi e Golias
Ela diz que nunca defendeu o criacionismo e, ao falar da descriminalização do aborto, afirma que questões de fé devem ser respeitadas
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dos argumentos que a senadora Marina Silva (AC) ouviu para não sair do PT foi que o lançamento de sua candidatura à Presidência poderia inviabilizar o "projeto histórico" do partido no qual militou por quase 30 anos. Lançou mão de personagens da Bíblia para comparar a candidatura Dilma Rousseff e uma candidatura pelo PV à luta entre o gigante Golias e Davi. Na Bíblia, Davi vence. Marina, 51, insiste em que a decisão sobre sua eventual candidatura só será anunciada em 2010.
FOLHA - Antes de mudar de partido, a sra. mudou de religião, de católica para evangélica. No ano passado, equiparou a teoria da evolução de Charles Darwin ao criacionismo, que atribui a origem da vida a Deus. Entre fé e ciência, a sra. fica com a fé?
MARINA SILVA - Houve um completo mal-entendido. Fui dar palestra em uma universidade adventista, que é uma faculdade confessional. A legislação brasileira permite as escolas e as faculdades confessionais, que têm o direito de fazer a abordagem do ensino a partir da perspectiva religiosa. Um jovem me perguntou o que eu achava de as escolas adventistas ensinarem o criacionismo. Respondi que, desde que ensine também a teoria da evolução, não vejo problema.
A partir daí, as pessoas começaram a dizer que eu estava defendendo o criacionismo. Sou professora, nunca defendi essa tese e nem me considero criacionista. Porque o criacionismo é uma tentativa de explicação como se fosse científica para responder a questão da criação em oposição ao evolucionismo. Apenas acredito em Deus, é uma questão de fé. Nunca tive dificuldade em respeitar e me relacionar com os ateus, com pessoas que professam outras crenças ou outra forma de pensar diferente da minha.
FOLHA - E essa fé a impede de discutir questões como a descriminalização do aborto?
MARINA - Questões de fé e as convicções de cada um devem ser respeitadas. Não me envergonho de dizer que sou cristã e jamais tergiversaria sobre minha fé para ganhar simpatia de quem quer que seja. Seria capaz de perder todos os votos, de nunca mais ser eleita, mas nunca faria um discurso fácil.
FOLHA - O PV já prepara festa para a sua filiação no dia 30. A sra. já disse que todos os partidos têm problemas. Qual é o maior do PV?
MARINA - O primeiro deles é que o partido teve de se abrir para evitar perder o registro. Algumas pessoas se filiaram e até se elegeram sem identidade programática.
FOLHA - O presidente do PV disse ter feito o convite à sra. para ser candidata ponderando que haveria muitas limitações de dinheiro e de espaço na televisão. Com quanto dinheiro se faz uma campanha?
MARINA - Não sou candidata ainda, isso é em 2010. E tenho consciência dessas limitações. Inclusive, quando alguns companheiros me perguntavam como eu me sentiria se, porventura, a minha saída inviabilizasse o projeto histórico do PT, sobretudo na questão da inclusão social, eu dizia: acho que vocês estão superestimando. Se comparar o tempo de TV da candidatura do PT -o que significa o Bolsa Família, o PAC, o Luz para Todos, o que significa (o programa) Minha Casa, Minha Vida, ter um presidente com 80% de credibilidade, ter palanques de A a Z em 5.000 municípios, com uma militância de 1,6 milhão de filiados- com a de um partido pequeno, com menos de dois minutos na TV, sem palanques, é como se fosse uma luta de Golias contra Davi.
Como não imagino que a candidatura do PT é Golias e nem tenho a pretensão de ser o Davi, só posso imaginar que a minha funda vai se lançar contra o Golias da desesperança, do pragmatismo. Tenho experiência nisso. Se fosse fazer cálculo em termos pragmáticos, nunca teria feito nada. O esforço é por aquilo que significa em termos de semeadura.
FOLHA - O que não é sustentável hoje no Brasil?
MARINA - O próprio modelo de desenvolvimento, que tem origem numa visão equivocada de que os recursos naturais eram infinitos. Temos de aprender a lidar com essa limitação no sentido de criar novas práticas, novas oportunidades, nova relação de produção e consumo.
FOLHA - É sustentável o apoio do PT a José Sarney?
MARINA - Isso já se mostrou insustentável por tudo o que está acontecendo com o Congresso, com o governo, com o PT, e com o próprio presidente Sarney. No meu entendimento, o melhor para a crise era o seu afastamento temporário, inclusive como forma de preservar a figura histórica de Sarney.
FOLHA - Como entram na agenda da sustentabilidade os juros altos e a independência do Banco Central?
MARINA - Os juros altos não são sustentáveis, obviamente, sobretudo em um país que precisa continuar crescendo. O Banco Central, na realidade do Brasil, já tem essa independência.
FOLHA - A hidrelétrica de Belo Monte e BR-319 são sustentáveis?
MARINA - Belo Monte está passando por um processo de licenciamento, que verificará se ela é sustentável. A BR-319, eu considero economicamente, ambientalmente e socialmente insustentável.
FOLHA - O programa nuclear brasileiro é sustentável?
MARINA - Nós temos outras fontes de energia. Alega-se que são caras. E, na verdade, são. Mas a nuclear também é cara. Com uma diferença: a energia eólica e da biomassa são caras mas são seguras, a nuclear é cara e não é segura.
FOLHA - Quão sustentável é o Bolsa Família?
MARINA - É um programa importante na promoção da inclusão social. O problema apontado, com razão, é a questão da porta de saída, para que as pessoas tenham uma integração produtiva e não dependam da bolsa. Mas só é possível falar em porta de saída porque teve porta de entrada.
Uma vez, uma pessoa reclamava que não quiseram fazer uma faxina pelo valor que ela se dispunha a pagar. "A culpa é dessa Bolsa Família", dizia. Fiquei feliz, porque, se não tivesse o Bolsa Família, a pessoa se aviltava a receber qualquer valor por seu trabalho.
FOLHA - O pré-sal é sustentável?
MARINA - Os combustíveis fósseis são insustentáveis. O pré-sal tem de ser visto com os cuidados para que não façamos a apologia do recurso em si. É preciso que parte dos recursos obtidos sejam drenados para compensar os danos ambientais das emissões de CO2.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Marina Silva fechada para balanço
(Artigo exclusivo)
Por André Trigueiro
Os verdes formalizaram o convite há mais de uma semana. Na oportunidade, mostraram uma pesquisa feita por telefone que indicava que Marina contaria com 12% da preferência do eleitorado se concorresse ao cargo. "Não estou preocupada com números ou pesquisas", me disse a senadora petista, que manifestou o desejo de incluir na campanha eleitoral o debate sobre sustentabilidade. "Eu quero que o tema faça parte da agenda estratégica para o país. Tem que ser uma plataforma básica de compromissos", disse ela, reconhecendo que o convite do PV foi o suficiente para gerar um clima de enorme instabilidade nas hostes petistas. Marina já recebeu ligações do presidente do partido, Ricardo Berzoini, do governador da Bahia, Jaques Wagner, do senador José Eduardo Dutra, do deputado federal José Eduardo Cardozo, e de inúmeros cardeais petistas que se apressam em pedir-lhe que fique no partido.
Não deixa de ser curioso o fato de o partido do presidente Lula estar tão interessado na permanência de Marina, depois de impor à ex-ministra sucessivas derrotas quando ela ainda respondia pela área ambiental no país. É bom lembrar que Marina Silva pediu demissão do cargo sem aviso prévio, e na véspera da chegada ao Brasil da chefe do governo alemão, Angela Merkel,cuja visita oficial ao país tinha como principal motivo os assuntos ambientais. Na época, em outra entrevista, Marina reconheceu os constrangimentos impostos à ela, mas de forma elegante, preferiu não criticar o presidente Lula.
"Não quero demorar muito para tomar uma decisão porque sei do desgaste que isso provoca tanto do PT quanto no PV". A simples hipótese de Marina Silva se candidatar à presidência gera preocupação nas demais candidaturas postas no tabuleiro político. Em relação à Dilma Roussef, Marina Silva representa obstáculo à medida que também é mulher, egressa do PT, e ainda muito respeitada no partido. Além do que, é sabido que Marina foi estigmatizada no governo por "atrasar obras do PAC", menina dos olhos do governo Lula que tem a Dilma Roussef como regente.
O presidenciável José Serra é forte junto aos segmentos mais esclarecidos da população - especialmente nas regiões sudeste e sul - onde os assuntos da sustentabilidade encontram mais ressonância e prestígio. Como Dilma e Serra são bastante identificados com o mesmo modelo desenvolvimentista, Marina corre por fora como aquela que lembra a importância do desenvolvimento sustentável como premissa de ação, não como retórica de campanha.
Há ainda a possibilidade de a candidatura de Marina catalizar votos de protesto de quem não se identifique com nenhum outro candidato e, mesmo sem nutrir maiores simpatias pela senadora acreana, queira se manifestar contra "tudo isso que está aí" votando nela.
Marina está fechada para balanço. Seu silêncio, entretanto, se faz ouvir pelo país com a mesma intensidade que os urros patéticos das últimas sessões do senado federal.
Ouça André Trigueiro na CBN: Eventual candidatura de Marina Silva ressalta o debate ambiental na pauta política. Áudio disponível: CBN
terça-feira, 11 de agosto de 2009
“Vocês não precisam me acompanhar. Permaneçam no PT”, diz senadora Marina Silva a aliados
Durante as 32 horas que permaneceu em Rio Branco (AC) para ouvir familiares, amigos e aliados políticos a respeito do convite para trocar o PT pelo PV, o comportamento da senadora Marina Silva (PT-AC), ex-ministra do Meio Ambiente, deixou em todos os interlocutores a certeza de que será mesmo candidata a presidente da República.
Foram horas marcadas por ansiedade, choro e ranger de dentes. Em várias ocasiões, a senadora e seus aliados não conseguiram controlar a emoção. Choraram ao relembrar de fatos que foram permeados por apelos para que permaneça no PT.
Leia mais aqui.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
EU VOTO NA MARINA SILVA PARA PRESIDENTE
TENDÊNCIAS/DEBATES
É COMPREENSÍVEL que a possibilidade de uma candidatura da senadora e ex-ministra do meio ambiente Marina Silva cause, por um lado, entusiasmo e excitação e, por outro, preocupação.
Milhões de brasileiros sensíveis à causa ecologista, à sustentabilidade ambiental e social de nosso modelo econômico, aos destinos do planeta ameaçado pelo aquecimento global, à devastação de nossos ecossistemas e à qualidade de vida nas nossas cidades vivem na expectativa de dispor de uma voz própria, eloquente, na campanha presidencial -até agora arena exclusiva dos defensores do desenvolvimentismo clássico dos anos 60.
Por outro lado, entende-se que haja políticos inquietos, cada qual fazendo seu cálculos: afinal, uma eventual candidatura da Marina Silva me ajuda ou me atrapalha? Quanto ajuda? Quanto atrapalha? Bombardear? Não bombardear?
É curioso que as reações políticas e a maioria das análises jornalísticas gravitem em volta desses cálculos pragmáticos enquanto escamoteiam o essencial: Marina representa ideias e aspirações hoje compartilhadas por milhões de brasileiros.
Não será legítimo e até importante para a democracia brasileira que elas estejam representadas em uma eleição de dois turnos? Numa dimensão minimalista, teríamos uma campanha altamente instrutiva e educativa, não apenas naquele discurso clássico, defensivista, do ambientalismo (deter a destruição da Amazônia e de sua biodiversidade, a contribuição das suas queimadas em emissões de CO2 etc.) mas também na didática daquilo que as vertentes hegemônicas do desenvolvimentismo clássico não conseguem perceber: o futuro econômico e social do Brasil, hoje, depende de mergulharmos de cabeça numa economia verde!
Nenhum outro país está tão bem posicionado quanto o Brasil para atrair investimentos para um ecodesenvolvimento, muito embora insistamos em monoculturas, na devastação da biodiversidade para estender mais e mais a fronteira pecuária, em subsidiar veículos poluentes e emissores de carbono, em novas termoelétricas a carvão e novas rodovias no coração da floresta.
No entanto, Marina tem um potencial além do eloquente discurso de primeiro turno para depois arrancar compromissos programáticos.
Ela pode contribuir para a superação dessa abissal fenda da política brasileira: a compulsória aliança das duas vertentes da social-democracia com as oligarquias políticas na busca da governabilidade. PT e PSDB disputam, como lucidamente notou em certa ocasião o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, "quem vai liderar o atraso".
No instável sistema político-institucional produto do nosso "voto jabuticaba", proporcional personalizado, ambos dependem do clientelismo e do fisiologismo profissional para governar. Melhor fariam em se aliar em algum momento, mas, como a disputa central se dá entre eles, isso dificilmente acontecerá, e a rivalidade entre eles é feroz.
Nós, verdes, nos relacionamos com ambos e reconhecemos o papel que respectivamente tiveram nos inegáveis avanços econômicos e sociais vividos pelo Brasil desde 1994. Marina é bem talhada para promover uma nova governabilidade com ambas as vertentes que, enfim, supere essa polarização bizarra, isole o atraso e abra caminho para uma reforma do nosso sistema eleitoral, secando sua dependência do clientelismo, do fisiologismo e do assistencialismo, fontes maiores da corrupção, do excesso de cargos comissionados, do mau uso da máquina pública e da compra de votos, direta ou via centros assistenciais.
O direito de ter um sonho de país e lutar para tirá-lo do papel é inalienável. Os verdes não abrem mão dele, mas também reconhecem que isso transcende suas limitadas fileiras. Nesse momento, é impossível saber, de fato, se Marina será ou não candidata. É uma decisão difícil, de fé íntima, que há que aguardar. O caminho político, no entanto, é claro: não é anti-PT. Nossa fraternidade, muito particularmente com o PT do Acre, remonta a Chico Mendes.
Também não é antitucanos. Certamente não é anti-Lula, embora não possamos abrir mão de criticar sua atitude frequentemente atrasada e deseducativa na questão ambiental.
Pode, eventualmente, vir a ser pós-Lula...
MIRIAM LEITÃO
Coluna no Globo 09/AGO/09
Para além do verde
Pode ser outra candidatura, ou uma transformação convincente de um atual candidato. Mas espaço existe. Hoje, o desafio posto sobre o planeta e sobre o Brasil é como construir a saída da crise ficando diferente; como injetar dinamismo na economia por mudar o modelo. Isso leva a programas transformadores e escolhas novas em todas as áreas. O desafio climático atingiu o patamar de dar coerência a um novo programa de desenvolvimento.
O desenvolvimentismo do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) tem vários problemas. O mais grave dele é ser velho. Ele ecoa ainda um "governar é abrir estradas", do mais remoto e arcaico Brasil; recorda a ideologia dos "projetos de impacto" do governo Médici. Não há, nunca houve, no programa de obras com o qual a possível candidata Dilma Rousseff pretende concretar sua subida pela rampa do Planalto, a menor sombra de atualidade. É impossível conciliar a esta altura o carro-chefe da ministra Dilma com o crescimento sustentável. Eles são opostos.
Um exemplo: a BR-319 tem sido defendida com o mesmo autoritarismo e falta de sentido da Transamazônica do governo militar. Não se sabe por que fazer a estrada, não se conhece estudo de modal alternativo, nem de viabilidade econômica. A ideia é apenas rasgar a floresta, num ponto nevrálgico, para levar as hordas de sempre de grileiros, especuladores, que abrirão novas cidades, que viverão dos repasses da União e repetirão a tragédia de atraso e violência. Está sendo usada a mesma técnica de pôr o Exército, como se fosse uma empreiteira, para tocar a obra enquanto a licença não vem. É a estratégia do fato consumado usada na transposição do Rio São Francisco. Dilma ainda vê o ambientalismo como inimigo a ser derrotado.
O dilema hamletiano da oposição tucana se agrava. O ser-não-sendo-candidato do governador de São Paulo, José Serra, tem vários defeitos. O pior deles é deixar espaço vazio, o que em política pode ser fatal. Se Serra tem uma ideia na cabeça, se ele tem um programa diferente, não se sabe. Ele vai disputar a mesma embalagem de bom gerente na qual se enrola a ministra da Casa Civil. Com uma vantagem: Serra já testou com sucesso o modelo da pessoa que faz acontecer em vários níveis de governo, em vários cargos. A Dilma é mais recente nesta vestimenta e tem contra si as evidências dos erros gerenciais do governo e as estatísticas de baixo desempenho do PAC. Se o candidato tucano for o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, ele também, até agora, mostrou que quer disputar o modelo do bom gerente com obras a apresentar. A grande divergência que Serra tem com o governo é a política cambial e monetária. A mesma que tinha quando as bases dessa política foram implantadas no governo tucano. Isso já era velho em 2002 e apequena qualquer campanha.
Houve um tempo em que o verde era apenas verde e o tema só fazia sucesso no gueto. Hoje, mudou radicalmente o conceito de progresso. Hoje, ele se desdobra em várias áreas: uma política externa que dará ao Brasil liderança na questão climática; uma política econômica de desenvolvimentismo moderno que mude a forma de produzir e usar energia; novas escolhas nos financiamentos públicos; na transformação da indústria. Significa ainda mudança de comportamentos; investimentos maciços em ciência e tecnologia; novos eixos da política de saúde pública; uma educação voltada para o que será exigido no futuro que começa agora, um mercado de trabalho que criará empregos ligados a novas tecnologias de energia e produção.
Uma proposta de governo que trate a questão climática-ambiental com a seriedade devida terá de enfrentar a falta de respeito à lei na Amazônia e isso será um avanço civilizatório. O combate ao atraso de uma parte do agronegócio abrirá novos mercados ao Brasil. O verde pode ser o veio central de uma proposta coerente em todas as áreas e atualizada com o que de mais moderno se conversa no mundo. O conhecimento do assunto se aprofundou tanto que os candidatos que usarem o nome da "sustentabilidade" em vão serão desmascarados como impostores. Não há clima para improvisos e maquiagem.
Se a senadora Marina Silva (PT-AC) for a candidata deste programa tem muito a fazer. Primeiro, precisa ir além da própria origem. Os passos que a levaram à militância política partiram do extrativismo. Isso é pequeno. Não dá nem para o começo da construção de um programa robusto. Precisará absorver o que está acontecendo no mundo e terá sim "enfrentamento". Inevitável. O Brasil atrasado e arcaico está em plena ofensiva contra o meio ambiente, como a própria senadora denunciou na aprovação da MP da grilagem. Não há composição possível com quem acha natural um programa decenal de energia que prevê 82 termelétricas a combustível fóssil. É preciso denunciar o que já caducou, contrariar interesses, enfrentar o velho.
Essa possibilidade pode não ser percebida pelos partidos que estão muito ocupados com as cenas de pugilato verbal e de degradação em que se transformou o ambiente político. Se a questão climática não tiver a atenção que merece, o Brasil terá uma campanha eleitoral, na segunda década do século XXI, discutindo ainda o século XX.
terça-feira, 9 de junho de 2009
Carta aberta ao Presidente da República
Carta aberta ao Presidente da República
Brasília, 04 de junho de 2009
Exmo. Sr. Luiz Inácio Lula da Silva
DD Presidente da República
Sr. Presidente,
Vivemos ontem um dia histórico para o país e um marco para a Amazônia, com aprovação final, pelo Senado Federal, da Medida Provisória 458/09, que trata sobre a regularização fundiária da região. Os objetivos de estabelecer direitos, promover justiça e inclusão social, aumentar a governança pública e combater a criminalidade, que sei terem sido sua motivação, foram distorcidos e acabaram servindo para reafirmar privilégios e o execrável viés patrimonialista que não perde ocasião de tomar de assalto o bem público, de maneira abusiva e incompatível com as necessidades do País e os interesses da maioria de sua população.
Infelizmente, após anos de esforços contra esse tipo de atitude, temos, agora, uma história feita às avessas, em nome do povo mas contra o povo e contra a preservação da floresta e o compromisso que o Brasil assumiu de reduzir o desmatamento persistente que dilapida um patrimônio nacional e atenta contra os esforços para conter o aquecimento global.
O maior problema da Medida Provisória são as brechas criadas para anistiar aqueles que cometeram o crime de apropriação de grandes extensões de terras públicas e agora se beneficiam de políticas originalmente pensadas para atender apenas aqueles posseiros de boa-fé, cujos direitos são salvaguardados pela Constituição Federal.
Os especialistas que acompanham a questão fundiária na Amazônia afirmam categoricamente que a MP 458, tal como foi aprovada ontem, configura grave retrocesso, como aponta o Procurador Federal do Estado do Pará, Dr. Felício Pontes: “A MP nº 458 vai legitimar a grilagem de terras na Amazônia e vai jogar por
terra quinze anos de intenso trabalho do Ministério Público Federal, no Estado do Pará, no combate à grilagem de terras”.
Essa é a situação que se espraiará por todos os Estados da Amazônia. E em sua esteira virá mais destruição da floresta, pois, como sabemos, a grilagem sempre foi o primeiro passo para a devastação ambiental.
Sendo assim, Senhor Presidente, está em suas mãos evitar um erro de grandes proporções, não condizente com o resgate social promovido pelo seu governo e com o respeito devido a tantos companheiros que deram a vida pela floresta e pelo povo Amazônia. São tantos, Padre Jósimo, Irmã Dorothy, Chico Mendes, Wilson Pinheiro – por quem V. Excia foi um dia enquadrado na Lei de Segurança Nacional – que regaram a
terra da Amazônia com o seu próprio sangue, na esperança de que, um dia, em um governo democrático e popular, pudéssemos separar o joio do trigo.
Em memória deles, Sr. Presidente, e em nome do patrimônio do povo brasileiro e do nosso sonho de um País justo e sustentável, faço este apelo para que vete os dispositivos mais danosos da MP 458, que estão discriminados abaixo.
Permita-me também, Senhor Presidente, e com a mesma ênfase, lhe pedir cuidados especiais na regulamentação da Medida Provisória. É fundamental que o previsto comitê de avaliação da implementação do processo de regularização fundiária seja caracterizado pela independência e tenha assegurada a efetiva participação da sociedade civil, notadamente os segmentos representativos do movimento ambientalista e do movimento popular agrário.
Por tudo isso, Sr. Presidente, peço que Vossa Excelência vete os incisos II e IV do artigo 2º; o artigo 7º e o artigo 13.
Com respeito e a fraternidade que tem nos unido, atenciosamente,
Senadora Marina Silva
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Excelente. O fim da Amazônia é o fim dos brasileiros, é o fim do Brasil. Faltou lembrar que agora, quando envio esse email, isso só é possível porque a Amazônia existe: eu respiro, vivo e falo graças à Amazônia e aos seres vivos. É ela - e os nossos ecossistemas terrestres - que abastece meu corpo de todos os elementos vitais, principalmente a água. É ela que permite um clima apropriado para agricultura. Não viveremos sem a Amazônia, da qual já perdemos um território maior que França e Reino Unido juntos, área destruída que virou um deserto. Essa destruição contínua e incansável pode alcançar o limite de resiliência da floresta e ela entrar em auto-destruição. Estamos como nação caminhando nessa direção ao copiar o modelo dos países ricos, que destruíram quase a totalidade das suas florestas naturais. Precisamos apoiar as novas idéias da economia em busca de um novo paradigma, pois estamos nesse exato momento extremamente ameaçados.
Divulguem.

Hugo
sábado, 23 de maio de 2009
Economistas e ambientalistas criticam taxa de compensação ambiental de 0,5%
Fonte: Eco-Finanças - (21/05/2009)
Link: http://www.eco-financas.org.br
Bruno Calixto
Ambientalistas criticaram o decreto assinado pelo presidente Lula na última sexta-feira que define uma taxa de 0,5% como o teto para a compensação de obras de impacto ambiental.
Para a senadora Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, a medida é ilegal. A senadora questionou a constitucionalidade da fixação de uma alíquota máxima para a compensação ambiental. "Cada vez mais os setores dentro do governo ligados a áreas como energia e transportes assumem um protagonismo quase total na agenda de meio ambiente", disse Marina ao jornal Valor.
O diretor da organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira Roberto Smeraldi concorda. "O decreto reflete bem o peso que meio ambiente tem na economia, na opinião deste governo: 0,5%, quando for muito". Smeraldi critica o conceito de se estipular um teto para esse tipo de taxa. "O próprio conceito de teto não guarda qualquer sentido, na medida em que o Supremo já decidiu que o valor deveria ser proporcional aos impactos e os impactos não têm teto algum".
Contramão da história
Para o professor da Universidade de São Paulo (USP) José Eli da Veiga, essa decisão coloca o país na "contramão da história". "Qualquer sociedade que esteja procurando o rumo ao desenvolvimento sustentável deve fazer com que sua estrutura institucional de incentivos passe a ser orientada à promoção de atividades econômicas que favoreçam a conservação dos recursos naturais".
Para Eli da Veiga, como uma das mais poderosas dimensões dessa estrutura institucional é o sistema tributário, a linha de conduta "só pode ser a de aumentar a taxação de danos aos ecossistemas e de usar a decorrente arrecadação não apenas para a proteção ambiental, mas sobretudo para lançar incentivos fiscais à criatividade, seja ela baseada em CT&I (ciência, tecnologia e inovação), ou em conhecimento tácito".
O decreto
A definição da taxa para compensação ambiental é polêmica no governo. A taxa foi inicialmente estipulada no ano 2000, e era um piso de 0,5%. Em abril de 2008, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucional a parte de lei que definia o piso, alegando que a compensação deveria ser proporcional ao impacto ambiental causado por cada empreendimento.
De acordo com o novo texto, fica estipulado um teto de 0,5% sobre parte da obra. Antes, o piso era 0,5% do valor total da obra.
A nova medida beneficia empreendimentos como construção de rodovias, usinas hidrelétricas e exploração de petróleo no pré-sal.
Taxas ambientais
Investidores em infraestrutura comemoraram a nova taxa. Como a cobrança era feita, em muitos casos, quando as obras já estavam em andamento, o setor considerou uma conquista o estabelecimento do limite, que permite eliminar custos não planejados com o meio ambiente.
Os ambientalistas, no entanto, rejeitam a tese de que taxações maiores no setor produtivo podem prejudicar a economia, mesmo em tempos de crise.
O economista Hugo Penteado, autor do livro Eco-economia, explica que a taxação só se justifica através de uma mudança de paradigma. "Precisamos reconhecer que o sistema produtivo não é uma parte destacada do meio ambiente, mas uma parte dependente do meio ambiente. Quando fazemos esse ajuste no modelo de pensamento econômico tradicional para a realidade, essa colocação torna-se totalmente falaciosa - taxar atividades que prejudicam o meio ambiente ao invés de prejudicar, viabiliza o setor produtivo".
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Com a palavra a Senadora Marina Silva:
No Brasil, vemos atualmente uma situação estranha, que marcha na contramão da História e dos movimentos das demais nações do mundo. O movimento ambiental começou a ganhar força no mundo após a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em 1972, em Estocolmo, na Suécia. E, aqui no Brasil, após a Constituição de 1988, a partir da comprovação, cada vez mais cabal e alarmante, de que a forma como as atividades econômicas vinham sendo desenvolvidas estavam provocando danos graves e muitas vezes irreparáveis ao meio ambiente e à saúde das populações.
Neste segundo mandato do Presidente Lula, declarações de diversas autoridades públicas, bem como a manifestação de diversos representantes da área econômica nacional, estão buscando cunhar um novo diagnóstico: no lugar do meio ambiente, vítima das atividades econômicas malconduzidas, são as atividades econômicas que estariam sendo prejudicadas devido ao excesso de proteção do meio ambiente.
Essa inversão a gente vai percebendo no discurso, na narrativa, nas atitudes e nos encaminhamentos práticos que, mais adiante, vou mencionar. As evidências disso estão por toda parte. Podemos vê-las nas declarações públicas de algumas das mais altas lideranças
políticas empresariais deste País, de vários setores das atividades produtivas e também de autoridades públicas, como, por exemplo, o Ministro da Agricultura, dos Transportes, das Minas e Energia, da Pesca, de Assuntos Estratégicos. Todos parecem buscar formar na
sociedadea percepção de que foi um erro, ou talvez um deslize, terem sido criadas as leis e as instituições que têm a finalidade de proteger o meio ambiente. Alguns deles dizem abertamente que "a legislação ambiental do País foi criada para atender a interesses de estrangeiros ou a interesses escusos não confessos". Essa declaração foi do Ministro Mangabeira Unger; saiu em jornais do País e não foi desmentida.
Não faltam matérias na mídia em que representantes dos segmentos do agronegócio, da infraestrutura se revezam em um jogral de satanização das conquistas ambientais que a sociedade brasileira conseguiu inscrever no arcabouço legal de nosso País. Como exemplo, posso citar o caso de alguns segmentos do agronegócio. Agora estão imbuídos em "convencer" a sociedade brasileira de que a legislação que protege o que restou da floresta, que protege a nossa biodiversidade e as margens dos rios é a maior inimiga para o crescimento e expansão da agricultura no País.
Essa inversão é nefasta, porque é exatamente o contrário. A proteção das florestas, da biodiversidade é a maior responsável pela proteção e pelo crescimento sustentável da agricultura, tão necessária ao desenvolvimento de nosso País. Basta ver que, para se produzir um quilo de frango, fazendo um cálculo bem subestimado, precisa-se de dois mil litros de água. Para um quilo de grãos, precisa-se de cerca de uma tonelada de água. Portanto, a proteção das florestas como responsável pela garantia e preservação dos cursos d'água não pode ser confundido como algo nefasto à agricultura.
Aproveitam para dramatizar ainda mais, dizendo que isso vai aumentar os preços dos alimentos e provocar escassez e fome. Com esse argumento, mudou-se a legislação ambiental no Estado de Santa Catarina - inclusive uma legislação estadual mudando uma lei federal, o que é claramente inconstitucional.
Quero ainda ressaltar, Sr. Presidente, que essa desdita, essa difamação que vem sendo feita da legislação ambiental brasileira é sempre acompanhada, seguida, de um conjunto de medidas que vão na direção de mudanças na legislação, em prejuízo dos acúmulos já alcançado.
Segundo declarações recentes do próprio Presidente Lula, o Brasil tem 60 milhões de hectares de terras agrícolas degradadas que precisam ser recuperadas. Note bem, Sr. Presidente, 60 milhões de hectares de terras agrícolas, agricultável degradada que precisam ser recuperadas.
Como essas terras ficaram degradadas? Com certeza não foi em função da ação da legislação ambiental. Foi exatamente o contrário: ações permissivas de modelos de desenvolvimento predatório levaram essas áreas a se tornarem inteiramente improdutivas. E para se tornarem
novamente produtivas serão necessários altos investimentos.
Se os cuidados tivessem sido tomados à época, com certeza isso não teria acontecido. Na ocasião, talvez, não se tivesse o conhecimento técnico-científico, o conhecimento político e a sensibilidade social para o problema da degradação ambiental e, consequentemente, da degradação dos solos. Naquele época não tínhamos, ainda, atentado para esses aspectos. Agora, não há nenhuma justificativa para se continuar defendendo o mesmo modelo predatório em prejuízo de uma ação preventiva que nos leve a um novo paradigma de desenvolvimento para todos os setores da sociedade.
O SR. PRESIDENTE
A SRª MARINA
Por último, Sr.
Concedo o aparte a V.Exª, Senador Garibaldi Alves Filho.