Mostrando postagens com marcador economia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador economia. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Economia autista

Por favor se comentar deixe um email para contato.

Como para o autista Krugman (e praticamente todos como Joseph Stiglitz, Jeffrey Sachs, David Romer, Nouriel Roubini, etc) o que só importa é o crescimento e não outros padrões como demografia, cultura, sociedade, meio ambiente, ele está “conscientemente” pregando que o crescimento elevado deveria ser eterno, exponencial ao infinito, algo que só as bactérias e vírus perseguem num espaço finito.  É de uma estupidez tamanha que a grande surpresa não é ser proferida, mas seguida por todos.

A estagnação, concentração de riqueza, crises, falta de empregos, colapso planetário deve estar relacionada com outros fatores que escapam das análises dos economistas, por isso, eles nunca irão acertar, enquanto a análise continuar míope e restrita ao seu campo limitado de visão.

Esse vídeo ilustra bem como os economistas pensam





Description: Paul Krugman - New York Times Blog
May 7, 4:25 am Comment

Three Charts on Secular Stagnation

  •  Apologies for blog silence — stuff happened. Right now I’m in Oxford, preparing for a talk tonight on secular stagnation and all that; and I thought I’d share three charts I find helpful in thinking about where we are.
Secular stagnation is the proposition that periods like the last five-plus years, when even zero policy interest rates aren’t enough to restore full employment, are going to be much more common in the future than in the past — that the liquidity trap is becoming the new normal. Why might we think that?
One answer is simply that this episode has gone on for a long time. Even if the Fed raises rates next year, which is far from certain, at that point we will have spent 7 years — roughly a quarter of the time since we entered a low-inflation era in the 1980s — at the zero lower bound. That’s vastly more than the 5 percent or less probability Fed economists used to consider reasonable for such events.
Beyond that, it does look as if it was getting steadily harder to get monetary traction even before the 2008 crisis. Here’s the Fed funds rate minus core inflation, averaged over business cycles (peak to peak; I treat the double-dip recession of the early 80s as one cycle):
Description: http://graphics8.nytimes.com/images/2014/05/07/opinion/050714krugman1/050714krugman1-blog480.png
And this was true even though there was clearly unsustainable debt growth, especially during the Bush-era cycle:
Description: http://graphics8.nytimes.com/images/2014/05/07/opinion/050714krugman2/050714krugman2-blog480.png
The point is that even if deleveraging comes to an end, even stabilizing household debt relative to GDP would involve spending almost 4 percent of GDP less than during the 2001-7 business cycle.
Finally, the growth of potential output is very likely to be much slower in the future than in the past, if only because of demography:
Description: http://graphics8.nytimes.com/images/2014/05/07/opinion/050714krugman3/050714krugman3-blog480.png
Suppose that potential growth is one percentage point slower, and that the capital-output ratio is 3. In that case, slowing potential growth would, other things being equal, reduce investment demand by 3 percent of GDP.
So if you take the end of the credit boom and the slowing of potential growth together, we have something like a 7 percent of GDP anti-stimulus relative to the 2001-7 business cycle — a business cycle already characterized by low real rates and a close brush with the liquidity trap.
Predictions are hard, especially about the future — but as I see it, these charts offer very good reasons to worry that secular stagnation is indeed quite likely.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Economia continua contra o meio ambiente

Por favor se comentar deixe um email para contato.

O crecimento medido pelo PIB e aumento da economia material é rota de colisão com a Terra. Isso não pode continuar mais, a menos que tenhamos desistido de manter a vida nesse planeta.

Precisamos cortar os exageros, os desperdícios, as ineficiências e no limite estancar o crescimento absoluto (não relativo) de populações e estruturas.  Num planeta finito como a Terra, não só em serviços ecológicos, mas em água e solo para comportar tudo isso, o crescimento já virou decrescimento das bases de sustentação dos seres vivos e fim da qualidade de vida há muito tempo. 

Num novo modelo sem as ideologias dominantes, o foco seria distribuição, equilíbrio com os ecossistemas e qualidade de vida.

O que precisamos mais além de ficar sem água em São Paulo numa das anomalias mais grotescas no Brasil inteiro desde final de 2013 para acordar?

O fim da vida?  Essas análises da pressa da licença ambiental, não correspondem a realidade atual do planeta. Mas continuam dentro da teoria econômica pela qual os recursos da natureza são considerados totalmente irrelevantes para o processo econômico e isso ainda é ensinado até hoje (ver matéria abaixo). Nenhum dos lados está certo enquanto não houver um equilíbrio e uma escala de importância e acima de tudo uma avaliação dos resultados sociais e ambientais das atividades implementadas de forma coerente, coesa e sistêmica.

Hugo


Burocracia faz concessão de usina da Votorantim vencer antes de gerar energia
Na divisa entre SP e PR, a usina foi concedida por decreto presidencial em 1988 à Companhia Brasileira de Alumínio e, desde então, passou por três estudos de impacto ambiental, uma licença prévia suspensa e muitas mudanças no projeto
RIBEIRA (SP) E ADRIANÓPOLIS (PR) - Em quatro anos, a concessão da Hidrelétrica de Tijuco Alto, na divisa entre os Estados de São Paulo e Paraná, vai acabar sem que nenhum centímetro de barragem tenha sido erguido e nenhum megawatt de energia, gerado. Concedida em setembro de 1988, por meio de decreto presidencial, a usina é o exemplo do quanto é complexo e burocrático o processo para conseguir levantar um projeto no Brasil.
Durante 26 anos, a hidrelétrica - da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), do Grupo Votorantim - fez parte de uma verdadeira novela, com idas e vindas. Foram três estudos de impacto ambiental, uma licença prévia suspensa e várias mudanças no projeto para se adequar às exigências de órgãos ambientais, de patrimônio histórico e das comunidades. Ainda assim, não há uma posição concreta sobre a obra de R$ 600 milhões.
Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), o processo está com a análise técnica encerrada, mas a emissão da licença prévia depende de manifestação positiva da Fundação Cultural Palmares. Em 2012, a instituição deu parecer favorável ao empreendimento, de 144 MW. Mas, no mesmo ano, voltou atrás sob a alegação de que novas consultas deveriam ser feitas com as comunidades quilombolas na área de influência da usina. As reuniões, previstas para janeiro, ainda não foram feitas. Procurada, a fundação não respondeu à reportagem.
Calcula-se que a empresa já gastou mais de R$ 50 milhões em projetos, audiências públicas e compra de propriedades. Sem saber da dificuldade que enfrentaria para tirar o projeto do papel, a CBA comprou 60% (5.511 hectares) da área necessária para a construção da usina. Além disso, comprou equipamentos para a hidrelétrica, como grades das comportas do reservatório. Uma parte do material se perdeu. Outra está à espera da liberação da usina.
O canteiro de obras, onde cerca de 80 pessoas trabalharam para elaborar os estudos na década de 90, continua intacto na beira do Rio Ribeira de Iguape. Os escritórios ainda guardam materiais informativos da época das audiências públicas e os mapas com a localização da barragem, da casa de força e de toda a área de influência da usina.
Histórico. Os entraves na construção da hidrelétrica começaram em maio de 1994, três meses depois de a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo conceder a licença prévia. O Ministério Público Federal suspendeu a decisão, alegando que o licenciamento teria de ser feito pelo Ibama. A partir daí, teve início a novela que virou o empreendimento.
A cada ano que passava, uma nova exigência era feita e as posições iam mudando. Enquanto um órgão aprovava, o outro dava um passo atrás. Em 2007, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) deu parecer favorável ao projeto, enquanto o Instituto Chico Mendes, à época recém-criado, pediu mudanças para preservar as cavernas localizadas na região. No ano seguinte, o Iphan mudou de ideia e também solicitou novos estudos sobre as cavernas.
Um dos pontos de discórdia era a Gruta do Rocha, famosa na região e que foi classificada como grau máximo de relevância por ser hábitat de uma nova espécie de escorpião. Mas, segundo o presidente da Votorantim Energia, Otavio Rezende, esse problema já foi superado. Uma nova solução de engenharia foi criada para evitar que as cavernas fossem inundadas com a construção da hidrelétrica. Ele explica que um muro será construído para evitar qualquer tipo de prejuízo às grutas.
A solução, no entanto, não convence o exército de ambientalistas contrários ao empreendimento. O coordenador do Programa Vale do Ribeira do Instituto Socioambiental (ISA), Nilto Tatto, diz que há na região cerca de 500 cavernas com grande biodiversidade e que poderiam ser afetadas.
Na avaliação dele, o solo da região é sensível e, portanto, a solução de construir muros pode não ser eficaz. "Tijuco Alto tem uma série de problemas. Na origem, o termo de referência emitido pelo Ibama não contemplou o rio todo e, portanto, a empresa só fez os estudos ambientais de um trecho." Além disso, diz ele, as comunidades não foram informadas sobre todos os riscos do projeto, como o caso de contaminação da água por causa das antigas explorações de chumbo na região.
Para a CBA, projetos e programas especiais foram desenhados para resolver o problema e evitar a contaminação. "Todas as pendências foram resolvidas. Não há mais nenhum óbice ao projeto", diz Rezende, lembrando que a usina resolverá um dilema antigo dos moradores da região, que são as constantes enchentes no período de chuva.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Economic collapse

Por favor se comentar deixe um email para contato.


Meu comentário publicado no FT logo abaixo da matéria:


Sorry to say, but in this current economic model, jobs will not improve, just the opposite. While we do not have social companies, focused in promoting people´s freedom, participation, well being and while the current business model is  focused in destroy other´s people ways of lives, we are going nowhere.

What we need is a radical change from this economic model, that is socially destructive and it is also facing a huge setback for not respecting planet boundaries.

Humankind reached its worst moment in history.  What is being decided is not helping to revert the current disruption.  In fact, what governments are doing in keeping the same model is increasing the damages.  There is no future for an economic model based on eternal growth based mainly in stupid and unconscious consumption financed by debt viable by fiat money.   It was not always so, this happened to be the common way only in the last five decades.

We have a chance, but only if we tear up economic textbooks and decide to use real science to drive our future.  It is time for the economists stopping being so autists and to face that economic theories are a complete failure to explain reality, just for ignoring overlapping dimensions of our society.

It is not the economy, stupid. It is the theory that only is in place because pleases people less interested i n the future of humankind.

Hugo

sexta-feira, 16 de março de 2012

Cientistas querem unificar economia e susntentabilidade

Por favor se comentar deixe um email para contato.

http://info.abril.com.br/noticias/tecnologias-verdes/cientistas-querem-unificar-economia-e-sustentabilidade-01032012-32.shl?2 

Um grupo de especialistas mundiais em meio ambiente publicou um documento com recomendações para os líderes governamentais sobre ações necessárias e urgentes para compatibilizar desenvolvimento econômico com a sustentabilidade ambiental e social do planeta.
Intitulado Desafios ambientais e desenvolvimento: o imperativo para agir, o documento foi elaborado por 20 cientistas laureados com o Blue Planet Prize.
Concedido pela fundação japonesa Asahi Glass Foundation desde 1992 – por ocasião da realização no Rio de Janeiro da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, mais conhecida como ECO-92 –, o prêmio é considerado o “Nobel do Meio Ambiente”, dado que a máxima distinção científica concedida pela Fundação Nobel não premia essa área de pesquisa.
Entre as personalidades laureadas com o prêmio, cujo nome é inspirado na máxima “a Terra é azul”, cunhada pelo cosmonauta russo Yuri Gagarin (1934-1968) após viajar pelo espaço, em 1961, está Gro Harlem Brundtland.
A diplomata presidiu no início da década de 1980, quando era primeira-ministra da Noruega, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e coordenou a realização do documento nomeado Nosso futuro comum, publicado em 1987 e mais conhecido como Relatório Brundtland, que popularizou a expressão “desenvolvimento sustentável”.
O prêmio também foi concedido em 2008 a José Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), que era secretário do Meio Ambiente do Brasil durante a ECO-92.
Algumas das recomendações dos cientistas no documento são eliminar os subsídios em setores como os de energia, transporte e agricultura, que, na opinião dos autores, criam custos ambientais e sociais, e substituir o Produto Interno Bruto (PIB) como medida de riqueza dos países.
Na avaliação dos autores do artigo, o índice é incapaz de mensurar outros indicadores importantes do desenvolvimento econômico e social de um país, como seu capital social, humano e natural e como esses dados se cruzam. Por isso, poderia ser substituído por outras métricas, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
“O PIB só mede transações econômicas, que não é a única medida para se avaliar o progresso de um país. Há países como Cuba, que tem um desempenho econômico muito ruim e PIB e renda per capita baixos, mas cujo sistema educacional e de saúde são excelentes”, disse Goldemberg à Agência FAPESP.


Outras recomendações dos cientistas são conservar e valorizar a biodiversidade e os serviços do ecossistema e criar mercados que possam formar as bases de economias “verdes” e investir na criação e compartilhamento do conhecimento, por meio da pesquisa e desenvolvimento, que, na opinião dos autores, permitirão que os governos e a sociedade, em geral, “possam compreender e caminhar em direção a um futuro sustentável”.
“Em síntese, a mensagem do documento é que não se pode seguir uma trajetória de desenvolvimento cujo único parâmetro seja o crescimento econômico”, avaliou Goldemberg.
“Isso é muito comum no Brasil, por exemplo, onde os economistas dizem que a economia do país deve crescer 5% ao ano, mas se nesse processo a floresta amazônica for destruída, para muitos deles está tudo bem, porque o PIB está aumentando e gerando atividade econômica. Porém, se por um lado é gerado valor econômico, o país perde sua biodiversidade e futuro”, ponderou.
O documento foi apresentado em 20 de fevereiro aos ministros de mais de 80 países que participaram da 12ª Reunião Especial do Conselho de Administração do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e do Fórum Global de Ministros do Meio Ambiente em Nairóbi, no Quênia.
O cientista inglês Bob Watson, que coordenou a redação do documento e o apresentou em Nairóbi, presidiu o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e atualmente é o principal conselheiro científico do Reino Unido para questões ambientais.
Alerta para a RIO+20
De acordo com Goldemberg, um dos objetivos do documento é que a RIO+20, que será realizada no Rio de Janeiro de 20 a 22 de junho, resulte em resoluções concretas como as que emergiram na ECO-92, em que foi aprovada a Convenção do Clima.
“Os preparativos da conferência estão dando a impressão de que ela será mais um evento de natureza retórica, o que será muito ruim. Ainda não há nenhuma proposta de assinatura de uma nova convenção ou de protocolos”, afirmou.
Goldemberg participará em 6 de março da abertura do evento preparativo para a RIO+20 “BIOTA-BIOEN-Climate Change Joint Workshop: Science and Policy for a Greener Economy in the context of RIO+20”, que a FAPESP realizará nos dias 6 e 7 de março no Espaço Apas, em São Paulo.
Em sua palestra, na abertura do evento, Goldemberg abordará o papel da biomassa no contexto do desenvolvimento tecnológico e apresentará alguns pontos do documento.
O artigo Environment and development challenges: the imperative to act, de Golbemberg e outros, pode ser lido em http://www.scribd.com/doc/82268857/Blue-Planet-Synthesis-Paper-for-UNEP


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Desesperador

Por favor se comentar deixe um email para contato.

Os números desses papers (link no fim do texto) só serão atingidos se o mundo do faz de conta dos economistas não for faz de conta e sim real.
Faz de conta que a produção brota do nata.
Faz de conta que a economia está totalmente separada da natureza, do tamanho do planeta, dos serviços ecológicos.
Faz de conta que o crescimento econômico jamais é deseconômico.
Faz de conta que o crescimento gera justiça social e bem estar e não guerras e devastação.
Faz de conta que poderemos dessalinizar e ressalinizar a água dos oceanos a um custo energético mínimo.
Faz de conta que a economia pode ser maior que o planeta.
Faz de conta que iremos usar terras de outros planetas para depositar nossas produções.
Faz de conta que a produção, a partir de um determinado ponto crítico, irá se tornar imaterial.
Faz de conta que as leis da termodinâmica são falsas.
Faz de conta que a economia não é uma pseudo-ciência autista que não se comunica com nenhuma outra descoberta científica relevante, como aquecimento global e a maior extinção em massa de espécies animais e vegetais dos últimos 65 milhões de anos causadas por nossa espécie.
Faz de conta que do ponto de vista da biologia não somos todos um e que o ser humano não faz parte dessa teia da vida sem a qual não teríamos água, ar para respirar, comida.
E para finalizar,
Faz de conta que todo esse faz de conta não rege universalmente todas as decisões governamentais e empresariais a nossa volta e que isso não irá causar a extinção da vida desse planeta e da nossa espécie animal.
Faz de conta.



sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A natureza é valiosa demais para ter preço

Por favor se comentar deixe um email para contato.

A abordagem dele parece bem intencionada, mas não resolve o problema de que é impossível dar preço para natureza, simplesmente porque não podemos substituí-la.

Basta lembrar a descoberta da pesquisa do Antonio Donato Nobre: a produção de 20 bilhões de toneladas de água diariamente pela transpiração das árvores da Amazônia que impede que o Brasil seja um enorme deserto para ser subsittuída precisaria da energia de 50.000 Itaipus.

Para ter noção da quantidade de água, o Rio Amazonas produz por dia 17 bilhões de toneladas de água.

Finalmente, sempre bom lembrar Roegen que dizia que a natureza não podia ser valorada, que os economistas precisam se conformar com o fato que certos itens da realidade simplesmente não podem ser valorados, por possuírem apenas valor intrinseco.

Acima de tudo, Roegen lembrou muito bem que os preços, as métricas, etc. não brotam do nada, mas de um conjunto de valores.

Em outras palavras, as tentativas de mudar as métricas serão inúteis enquanto não houver uma mudança geral de valores, uma mudança de paradigma, de entendimento sobre a realidade.

Quando surgiu a comissão Stiglitz (Senn-Fitoussi-Stiglitz) eu me apavorei com o nome do Stiglitz, que leio bastante e que agora inflama o peito para pedir crescimento em todas as suas frentes para salvar a economia e lembro a resposta que ele deu a Herman Daly na revista de Economia Ecológica. Ou seja, Stiglitz acredita que o planeta é um subsistema da economia e que a economia pode ser maior que o planeta e mesmo assim estava a frente de uma mudança de métricas que deveria ter como princípio uma mudança de paradigma. Não é à toa que seus trabalhos ignoraram a metodologia da pegada ecológica pelo seu viés contrário ao comércio internacional, justamente o vetor que permitiu aos países ricos e desenvolvidos, considerados limpos, a exportar sua sujeira para o resto do planeta inteiro, posto que as externalidades socioambientais dos seus sistemas são negociadas no comércio global como tudo nesse sistema a custo zero.

Enfim, a resposta do Stiglitz àquela memorável provocação de Daly com base na crítica de Roegen à teoria tradicional vale à pena ser lida. Vou tentar colocar nesse blog.

Hugo

11/08/2011 13:55:42

Natureza Visível

Redação Página 22

Pavan Sukhdev foi executivo-sênior do Deutsche Bank, liderou o estudo A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade e o principal autor do relatório Rumo à Economia Verde, publicado em fevereiro pelo programa de meio ambiente da ONU (Pnuma), do qual era assessor especial. Preside desde abril a consultoria Gist Advisory

O economista indiano Pavan Sukhdev largou em fevereiro uma bem-sucedida carreira como alto executivo no Deutsche Bank para se dedicar à missão de tornar a natureza visível aos olhos da economia – uma vez que ela ainda não é internalizada em cálculos econômicos como o do lucro das empresas e o do PIB. Se o capital natural ganhar luz, empresas e governos não mais poderão ignorá-lo na hora de orçar custos e ganhos de seus investimentos, propõe Sukhdev. Ele esclarece, ainda, que valorar água, fauna, flora, solo e polinização não significa necessariamente fixar preços para os recursos naturais. É, sim – insiste –, uma maneira de explicitar a contribuição do capital natural para a economia de uma empresa, ou mesmo de um Estado. Na entrevista concedida à Página22, em São Paulo, no final de maio, Sukhdev falou da guinada de 180 graus na sua trajetória profissional: de executivo mergulhado no mundo dos mercados à sua entrada em um seleto naipe de economistas influentes na discussão sobre uma nova economia, emissora de baixo carbono e harmônica com os limites ecossistêmicos. Contribuiu decisivamente nesse movimento a sua filha Mahima, que, aos 7 anos de idade, na década de 1990, fez com que ele se tornasse um observador de pássaros e passasse a conceber a natureza bem além de seus contornos físicos.

Como um bem-sucedido alto executivo de um banco global como o Deutsche Bank envolveu-se com a área ambiental?

De fato, foi uma combinação. Sempre fui afeiçoado pela natureza. Como alguém que trabalhava na área financeira, pude notar esse dilema entre o valor da natureza e o fato de que isso não entrava em nosso pensamento. Finalmente, uma amiga perguntou-me em Cingapura muito tempo atrás, há uns 14 anos: “Você, que é banqueiro, conte-me por que algumas coisas valem dinheiro e outras não”. O que ela estava querendo mesmo era que eu explicasse a diferença entre valor e preço. Percebi que essa era uma questão profunda. Comecei a ler e a escrever sobre o assunto. Lembro que, em meus estudos de economia na universidade, havia lido sobre externalidades. Dei-me conta de que a questão levantada por minha amiga tinha a ver com externalidades. Isto é, sobre o fato de que, na ciência econômica, a natureza – que é tão valiosa e fornece bem-estar e serviços à economia e às pessoas diretamente – não é internalizada nos nossos cálculos. Não é parte do Produto Interno Bruto (PIB), não é parte dos lucros privados. Então, a natureza fica economicamente invisível a maior parte do tempo.

O senhor está dizendo que, no pensamento econômico neoclássico, os problemas ambientais são externalidades?

É como a questão tem sido apresentada. A comunidade também é uma externalidade nessa concepção mais convencional. Observe os valores que você absorve de sua família, amigos, comunidade, sua vila, seu bairro, de pessoas que trabalham com o senso de bem-estar. Observe quão bem você trabalha com as pessoas. Esse bem-estar é um grande ativo social, bastante produtivo, mas também não entra no retrato do PIB ou dos lucros de uma empresa. As lentes econômicas mais usadas – crescimento do PIB para os países e lucros para companhias – ignoram completamente os dois ativos mais importantes, que são o capital natural, no caso da natureza, e o capital social, no caso da comunidade, porque são considerados externalidades. Voltamos novamente ao problema da riqueza pública, visto que sociedade e valores comunitários e naturais fazem parte da riqueza pública, não pertencem a um indivíduo privadamente.

Qual era sua principal incumbência no Deutsche Bank quando começou a prestar mais atenção aos temas ambientais?

Iniciei minha carreira no Deutsche Bank, na Índia, em 1994. Comandava a divisão de mercados globais na subsidiária do banco. Mudei para Cingapura em 1998 e tornei-me o principal executivo de operações da divisão de mercados globais para a Ásia.

Qual era a missão da divisão de mercados globais?

Gerar lucro provendo os clientes com soluções de gestão de risco em moeda estrangeira, renda fixa e emissões de títulos, basicamente para financiar serviços e desenvolver aqueles mercados financeiros, como o mercado de capitais. Era parte da minha missão pessoal (no banco) desenvolver aqueles mercados.

Nada a ver com meio ambiente?

Nada, apenas os negócios convencionais. Meio ambiente não estava na moda. Era como um hobby para mim.

Parece que o senhor já era um observador de pássaros na década de 1990.

Na época, tornei-me observador somente por causa de minha filha mais velha. Minha pequena Mahima, que tinha uns 6 ou 7 anos de idade na época, apreciava muito sair para observar pássaros. Isso me tocava muito, e ela abriu meus olhos para a natureza.

Suponho que nesse tempo sua carreira no banco e seu interesse pela natureza caminhavam separadamente. O que o senhor fez para aproximar economia e meio ambiente na sua atividade profissional? Fez alguma especialização, mestrado ou doutorado?

Minha formação inicial foi em Finanças e Economia, bastante convencional, aprendendo sobre externalidades. Mais à frente, tornei-me membro do conselho diretor do Grupo de Ação Ambiental de Mumbai (Beag, na sigla em inglês). Seu líder faleceu recentemente (Shyam Chainani era um dos principais ativistas ambientais da Índia). Gradativamente, fui ficando pessoalmente interessado em economia ambiental e contabilidade verde, porque via a Índia, meu país, movendo-se na direção da China, que tentava fomentar empregos e um elevado crescimento no PIB. Pude perceber que isso criaria um enorme problema com a modificação de nossa ecologia com a perda de florestas e de água doce.

Quando o senhor esteve mais envolvido com o Beag?

De 1994 a 1998, quando estava na Índia. Era diretor do Beag (sem remuneração).

Qual era o objetivo desse grupo?

O papel da organização é prevenir e corrigir danos ambientais. A Índia possui algumas das melhores leis ambientais no mundo. Mas também tem um péssimo resultado no cumprimento delas.

Como no Brasil?

Sim, como no Brasil. (risos)

A entidade trabalha pela mitigação de impactos ambientais da indústria e do governo?

Danos ambientais da indústria e, especialmente, do governo. O Beag já levou o governo indiano à Justiça por quase 150 vezes. Ganhamos todas as ações, exceto uma conhecida como caso Mill Lands, em Mumbai.

Do que se trata?

O que aconteceu foi que havia 243 hectares disponíveis para um projeto de revitalização em Mumbai que pertenciam à World Cotton Mills. A lei que fora aprovada em Mumbai previa que um terço do terreno ficaria disponível para parques e jardins, um terço para habitações populares e um terço para o desenvolvimento comercial. Mumbai teria conseguido seu segundo pulmão verde. Entretanto, por causa da corrupção, alguém alterou a lei para ela declarar que a divisão em três partes de um terço somente valeria para o espaço não construído. Obviamente, a maior parte de uma área ocupada por moinhos é construída, não é aberta. Além de moinhos, sempre há casas e fábricas, por exemplo. A modificação na linguagem da lei foi efetuada por conta de corrupção e propina, em minha opinião. Enfrentamos essa manobra na Justiça. Na Alta Corte de Mumbai, nós vencemos, mas eu penso que a propina foi usada na Suprema Corte da Índia e nós perdemos lá.

Quando o senhor começou a integrar aspectos ambientais a suas atividades no Deutsche?

À medida que me tornava consciente dos impactos ambientais de meus clientes. Quando regressei à Índia, no final dos anos 1990, comecei a conversar com clientes (sobre efeitos ambientais adversos de suas operações). Alguns deles passaram a me chamar para falar em suas empresas não só sobre negócios convencionais, mas também a respeito do meio ambiente, porque eles se davam conta de que eu era bom nesse tema. Até o grupo Tata me chamou para falar de meio ambiente.

O senhor se refere à fabricante do Nano, o pequeno e poluente automóvel?

Meu problema com o Nano é que ele poderia ter um nível de emissões mais baixo. Hoje ele libera 120 gramas de CO2 para cada quilômetro rodado. Penso que poderiam ter feito isso um pouco melhor, e reduzido as emissões de CO2 para menos de 100 gramas.

Nesse momento, o senhor passa a incorporar a dimensão ambiental em seu trabalho no banco de maneira mais formal?

Isso não ocorria em bases tão formais. Meu principal trabalho ainda era no mercado financeiro. Mas já conversava com pessoas dos mercados ambientais e de carbono, ajudando-os a fechar negócios. Essas atividades (na área de economia ambiental) eram realizadas principalmente por meio da ONG que eu e alguns parceiros fundamos em 2003, na Índia, o Green India States Trust (Gist), como ocupação não remunerada e durante meu tempo extrabanco.

Como o senhor financia as ações de sua ONG?

Se não tivesse um bom desempenho no Deutsche, não haveria dinheiro para investir na ONG. A maior parte dos recursos da ONG vinha do bônus anual que o banco me pagava. Deixei o banco em fevereiro e, desde abril, assumi o posto de principal executivo da consultoria Gist Advisory, fundada em 2008 pelo mesmo grupo que criou a ONG Gist. A consultoria doará 50% de seus lucros a entidades de pesquisa, inclusive à Gist, que faz um trabalho muito bom em contabilidade verde. Seu trabalho foi reconhecido pela Comissão Europeia e a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Quando a Comissão Europeia lançou, em 2008, a ideia do Teeb (sigla em inglês para A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade), eles me chamaram para coordenar o projeto por recomendação de Amartya Sen.

Há conexões entre suas ideias e o pensamento de Amartya Sen?

Um pouco, admiro Amartya, que encontrei recentemente em Estocolmo. Ele estava lá para um encontro de laureados com o Nobel e me perguntou sobre o que acontecera com a iniciativa da Comissão Europeia. Contei a ele que a pesquisa tinha ido muito bem e se tornado uma iniciativa das Nações Unidas, com a publicação de nosso relatório no ano passado.

O senhor continuou trabalhando para o banco enquanto atuava na produção do estudo do Teeb?

No início de 2008, na primeira fase do estudo, ainda trabalhava para o banco. Foi uma atividade paralela. Mas consegui uma licença não remunerada entre julho de 2008 e o final de 2010 para me concentrar na preparação dos relatórios do Teeb e da economia verde do Pnuma. Nesse período, fiquei lotado no Pnuma como assessor especial e diretor da Iniciativa de Economia Verde.

Com esse acúmulo de conhecimento e de atividades em contabilidade verde, o senhor conseguiu convencer seus chefes a implantar uma divisão para lidar com finanças ambientais no banco?

Um pouco. Como geralmente ocorre nos bancos, o Deutsche é organizado por produto, não por área de negócio. Há divisões para participações acionárias, gestão de ativos, mercados emergentes, e assim por diante. É muito difícil reorganizar tudo e criar uma divisão de meio ambiente, que é um tema que cruza todas as áreas. Pode haver aspectos ambientais a serem observados em quase todos os ângulos dos negócios. O que aconteceu no Deutsche Bank, e isso estava indo bem, foi a criação de áreas ambientais dentro de cada divisão. E isso se tornou interessante por levar a um nível diferente de consciência na direção do banco.

Algumas vezes essa ideia de tema transversal é muito bonita no discurso, mas de operacionalização muito difícil. Se não há um departamento ou uma área para lidar com aspectos ambientais do negócio, as divisões especializadas não podem ficar perdidas às vezes para tratar de assuntos ecológicos?

Em algumas vezes elas realmente podem se perder, mas o que ocorre mais frequentemente é que a abordagem ambiental fica compartimentalizada quando conduzida separadamente pelos departamentos de um banco. A análise ambiental será desenvolvida pela área de participações ou de fusões e aquisições ou qualquer que seja a divisão. A mesma ideia às vezes é desenvolvida para um grupo de florestas, tendo já sido feita pelo grupo de carbono para um projeto de Redd+ (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação, incluindo conservação e gestão sustentável da floresta).

Como essas abordagens alimentam as diferentes divisões da instituição com conhecimento e treinamento em meio ambiente? Não há um enfoque integrado para o banco como um todo?

É por isso que é desafiante. Podem-se fazer bons negócios em termos de comércio de carbono, negócios florestais ou na área de cimento. Mas é muito difícil otimizar esse conhecimento pela cadeia, porque você necessita de um domínio muito amplo de conhecimentos. Não se trata de domínio estreito, como nos casos das indústrias de cimento e aço ou em funções específicas como as da tecnologia da informação ou dos bancos.

É possível superar o problema da compartimentalização do conhecimento ambiental em um banco?

Creio que nos bancos ocorrem situações em que se criam polos de conhecimento, tais como o de microfinanças, que se parece muitíssimo com um tipo de atividade típica de uma ONG. Mas meio ambiente tem a ver com a riqueza pública. Dessa forma, penso que o melhor lugar para criar uma divisão ambiental é em um banco do setor público ou de desenvolvimento. Meio ambiente e desenvolvimento são dois lados da mesma moeda. O que está no meio ambiente, sobretudo o capital natural, é a riqueza dos pobres. Os pobres não possuem conta em banco, mas têm a natureza, que proporciona nutrientes, água doce, solo fértil, lavouras, florestas, pescado nos rios e no mar, tudo isso gratuitamente. Capital natural e riqueza pública são ideias muito próximas, relacionadas. Muito do capital natural é de fato riqueza pública. Se você tenta pensar em que tipo de banco deveria observar essa dimensão, que deveria ter uma divisão de serviços ambientais, esse banco seria uma instituição do setor público.

Por que o senhor enfatiza o setor público quando menciona essa divisão de serviços ambientais?

Meu ponto é que precisamos ver qual é a classe subjacente desse ativo. Nesse caso, a classe subjacente é o ativo ambiental, a riqueza pública. Para realmente focar na riqueza pública em uma instituição financeira, precisa ser um banco do setor público. Infelizmente, os bancos são privados em sua maioria. Pouquíssimos negócios privados estão atentos ao meio ambiente, exceto em seus próprios contextos. Você encontrará uma companhia de cimento tentando melhorar impactos nos recursos hídricos para reduzir custos. Achará uma empresa que tenta diminuir sua pegada de carbono, porque deseja provar que é ambientalmente correta e, portanto, conquistar uma nova linhagem de consumidores.

Por que é tão difícil tornar os bancos transparentes quando tratamos de temas socioambientais? Frequentemente pedimos aos bancos para detalhar como analisam projetos enquadrados nos Princípios do Equador (PE). A resposta é sempre a mesma, de que não podem publicar tais informações em razão da cláusula de confidencialidade nos seus contratos com as empresas. (Os PE preveem padrões mínimos para a avaliação pelos bancos de riscos socioambientais em grandes projetos industriais e de infraestrutura)

Penso que a confidencialidade é parte do negócio do banco. Não se pode evitar isso. O que pode ser feito é questionar se o capital do banco está comprometido com projetos socialmente danosos. É possível questionar como acionista, como governo, ou apenas como cidadão. Se há prejuízos sociais, então alguém é responsável por isso no banco ou numa empresa e deveria explicar por que está causando tal impacto. Essa cobrança precisa ser praticada. É por isso que é importante termos cidadãos e ONGs fortes.

O que acha da ideia de estabelecer uma pegada ecológica máxima para cada habitante do planeta? Caso a pessoa ultrapassasse a pegada, teria de pagar um imposto ambiental, por exemplo. Se não utilizasse a pegada completa, poderia receber alguma compensação.

A questão é que neste exato momento eu e você já estamos pagando um imposto sobre nossa vida e a vida das crianças. Porém, o beneficiário do imposto é alguma outra pessoa. Talvez a pessoa que dirige uma Ferrari, que emite muito gás carbônico. Ou a pessoa que compra aparelhos complicados que liberam uma quantidade grande de carbono e consomem muita água.

Como estamos pagando por isso?

Observe a quantidade de subsídios no mundo. Para favorecer a venda de combustíveis fósseis, gastam-se US$ 650 bilhões em subsídios anualmente. Dos US$ 650 bilhões, US$ 550 bilhões são para reduzir os preços e US$ 100 bilhões para apoiar a produção. De onde você pensa que vem esse dinheiro? Dos impostos que eu e você pagamos. Já estamos sendo tributados pela indústria do petróleo. Há, ainda, US$ 275 bilhões em subsídios anuais para a agricultura. Essa cifra é da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). O primeiro número é da AIE (Agência Internacional de Energia). E a pesca oceânica também é subsidiada. Aproximadamente um terço do valor global de US$ 85 bilhões gerados pela pesca anualmente é subsídio. Por que conceder tantos subsídios à pesca, à agricultura, aos combustíveis fósseis? Combustíveis fósseis não são como a Madre Teresa de Calcutá, como uma pequena entidade de caridade na Índia. Não são necessários subsídios para manter vivas companhias de petróleo e carvão.

Para cortar subsídios, parece haver dois desafios: mudar estilos de vida e fazer acordos internacionais.

Por que mudar estilos de vida? Apenas pague-se o preço correto pelo petróleo. Se uma pessoa dirige uma Ferrari, por que eu e você temos de pagar os custos dessa opção? Eu não entendo isso.

Como chegar a esse novo sistema de preços, sem subsídios aos combustíveis fósseis e à agricultura?

É muito simples. Primeiramente, devem ser tornadas públicas as fontes dos subsídios. Isso significa revelar o que se paga de tributos para bancar os subsídios.

Boa parte dos subsídios é concedida pelos países desenvolvidos, que respondem pela maior parte das emissões históricas de gases de efeito estufa. Veja os Estados Unidos, onde o presidente Barack Obama sofreu muito tentando aprovar a Lei de Clima no Congresso para estimular investimentos em energia renovável. Como mudar esse quadro? Parece uma tarefa muito difícil.

Certamente é complicada. Os interesses financeiros das grandes corporações são um dos principais obstáculos. Elas não querem ver seus lucros declinarem. Querem que os subsídios sejam altos. Obviamente, as grandes corporações estão entre os maiores apoiadores de campanhas eleitorais. Isso acontece em todos os lugares, nos Estados Unidos, na Índia, no Brasil. Portanto, os partidos políticos dependem das corporações para financiar suas campanhas. Além disso, seus eleitores também lhes pedem medidas para gerar empregos que façam o PIB crescer, para financiar o déficit fiscal.

A maioria dos países apresenta déficit fiscal e ele é financiado com os impostos pagos pelas corporações. Essa é a razão do forte nexo entre corporações e governos. A única saída para quebrar esse nexo é a população dizer aos políticos que seu papel não é apenas beneficiar as corporações. O trabalho deles é também apoiar os cidadãos. E os cidadãos querem um ambiente limpo, que os tributos sejam investidos na saúde pública. O dinheiro público deveria ser gasto na riqueza pública, e não nos subsídios ao petróleo. Essa riqueza compreende o capital natural, a infraestrutura ecológica, rodovias, ferrovias, pontes, educação, saúde.

Em que medida os relatórios Teeb e Rumo à Economia Verde, do Pnuma, ambos coordenados pelo senhor, podem contribuir para uma mudança nesse sistema de preços, tributos e subsídios que favorecem setores da economia do carbono?

O componente mais importante da riqueza pública é o capital natural. Hoje, contudo, a maioria dos governos o ignora, porque é economicamente invisível. É por essa razão que o capital natural não está no coração das políticas públicas. Se ele fosse visível, seria parte de qualquer política, seja ela a tributária, seja ela a destinada à construção de estradas e pontes, com objetivo de gerar emprego. Algo importante para o Teeb é como tornar a natureza visível por meio de cálculos, valorações, pelo diálogo com os formuladores de políticas e empresas. Se a tornarmos visível, os governos não mais poderão ignorá-la.

Há formadores de opinião influentes na área de sustentabilidade no Brasil que manifestam preocupação com uma suposta monetarização da natureza quando os questionamos sobre novos estudos que tentam calcular o valor dos recursos naturais. Qual sua opinião sobre isso?

Parte dessa preocupação existe por causa da escola neoclássica de economia e de setores vinculados ao chamado Consenso de Washington de duas décadas atrás (conjunto de reformas liberalizantes destinadas a tirar os países em desenvolvimento da crise por meio da privatização e da liberalização do comércio internacional). O Teeb desacreditou esse ultrapassado pensamento colonialista. Como você bem sabe, e o Teeb diz claramente, ele não tem um argumento reducionista. O relatório não possui enfoque baseado na ideia de custo e benefício para a proteção do planeta.

Ao contrário, o estudo vê a “valoração” como uma instituição humana, que pode ser efetuada nos níveis religioso ou espiritual, social, econômico, ou englobar todos esses aspectos. Não é nosso argumento igualar valor a preço. Na verdade, é bem o oposto. Nunca nos cansamos de esclarecer que os bens e serviços públicos têm imenso valor, mas não preço. Os mercados precificam produtos e serviços privados – não bens e serviços públicos. Isso explica por que eles não recebem o tratamento merecido nas contas da sociedade, tais como a poupança nacional e o PIB. E essa invisibilidade econômica de fato reduz o argumento a favor da conservação, porque usos extrativos, contrários aos usos da conservação, sempre possuem preço, são da esfera privada. O Teeb argumenta que algumas coisas podem ser valoradas sem ser medidas, algumas podem ser medidas sem ser monetarizadas. Outras, ainda, podem ser monetarizadas, mas não mercantilizadas. Menos coisas, ainda, podem ser mercantilizadas.

Fui a um seminário do Instituto Ethos sobre economia verde no final de fevereiro, realizado poucos dias após a publicação do relatório do Pnuma sobre o mesmo assunto, e ouvi algumas críticas à suposta ênfase na ideia de crescimento e timidez do estudo quanto a questionar os estilos de vida nas sociedades afluentes. O senhor vê sentido nessas críticas?

O relatório trata mais do lado da produção do que do consumo. Mas não é apenas sobre crescimento. É errado pensar assim. Digo isso categoricamente porque eu o escrevi. Todos esses países ricos, que se localizam na Europa e na América do Norte, terão de se mexer para serem sustentáveis. Isso significa que sua pegada ecológica terá de declinar com redução no consumo per capita ou no seu impacto ambiental. Essas são coisas que os economistas precisam começar a pensar, em vez de seguirem cegamente o PIB.

(Página 22)

sábado, 9 de julho de 2011

Economia Mecânica: como se o sistema econômico estivesse em Marte

Por favor se comentar deixe um email para contato.

Quando eu li o livro "O quê os economistas pensam sobre sustentabilidade" de Ricardo Arnt, uma das entrevistas que mais me assombrou foi a do Delfim. Ao ser perguntado sobre os riscos contra a vida de todos, ele respndeu que não estará aqui para presenciar, por ser muito velho. A noção do coletivo - e da nossa responsabilidade - como meros locatários desse planeta foi totalmente perdida. Esse é apenas um exemplo. Naquele fim de semana, ao ler a opinião dos magistrais para escrever a resenha para o jornalista Ricardo Arnt, os que realmente se salvavam com um pensamento completo, eram apenas os bem conhecidos Ricardo Abramovay e José Eli da Veiga. André Lara Resende um quase convertido. Eduardo Giannetti da Fonseca ainda mergulhado na economia neoclássica, sem nenhum insight.

O texto abaixo do professor Delfim, embora tenha no título a Amazônia, não passa da mera demonstração da mecânica implícita nessa estonteante visão manca do mundo. A Amazônia aí foi uma ironia contra os modelos PAP ("pencil and paper"), dos economistas, como ridicularizava Roegen, que hoje são de computadores. É a única ciência que ridiculariza a si mesma e os petardos ricocheteiam como bumerangues contra justamente quem os lançou. O gráfico mecânico do texto, não se assustem, realmente lembra uma máquina, que pode estar em marte e as conclusões seriam as mesmas.

Um dia, tarde demais, os economistas descobrirão que só no caso da Amazônia seriam necessárias 380.000 Itaipus para substituir o serviço gratuito que ela nos presta. Ah, e não percam tempo, coloquem preço em apenas esse item - 19 bilhões de toneladas de vapor de água diários que estabiliza o clima, forma chuvas e água para agricultura - e depois apresentem a fatura a quem de direito. Tenho certeza absoluta que vai ter uma fila infinita de pessoas querendo pagar por essas 380.000 Itaipus e Roegen vai ver realmente estava errado ao dizer que para certos itens da realidade, teriamos que nos conformar, a valoração é inútill, porque só possui valor intrinseco. E talvez, esteja errado também ao avisar que o sistema de preços não brota do nada, mas do nosso conjunto de valores e que de nada adianta a Comissão Stiglitz estudar novos sistemas de preços sem uma mudança geral de valores.

Ele estava errado, Roegen, embora as evidências apontem todas a favor dele e ele avisou muito antes delas terem acontecido.

A taxa de juro natural e a Amazônia

Antonio Delfim Netto | De São Paulo

21/06/2011 VALOR

http://www.valoronline.com.br/sites/default/files/crop/imagecache/media_library_default/254/9/677/848/sites/default/files/gn/11/06/arte21opin-101-espe-a16.jpg

A mais óbvia razão pela qual os economistas não foram capazes de antecipar a tragédia que se preparava no mercado financeiro internacional, e que se concretizou em 2008, talvez resida no fato que a Teoria Macroeconômica e a Teoria da Economia Financeira foram separadas, a ponto de se ignorarem, contrariamente ao sugerido por Keynes e Fisher. James Tobin chamou a atenção para isso em meados dos anos 80 do século passado. Uma provocação curiosa a respeito dessa questão. Aquela separação não encontrou eco na conflagrada economia marxista (Hilferding, Luxemburgo, etc.). Marx, aliás, já advertira que "quando há um colapso total do crédito, nada mais conta, só o pagamento em moeda...e que legislações bancárias como a de 1844-45 (na Inglaterra) podem intensificar a crise monetária. Profeticamente, acrescentou, "nenhuma legislação bancária pode eliminar a crise", como mais um século depois estamos aprendendo...

O Brasil está vivendo um momento interessante depois de ter superado muito bem a crise. Há, entretanto, uma dúvida ampla, geral e irrestrita sobre: 1) a natureza do processo inflacionário que atinge, em grau maior ou menor, todos os países do mundo e 2) as consequências no longo prazo da supervalorização do Real que está destruindo a sofisticada indústria nacional.

Todo processo inflacionário se explica por uma combinação variável de três causas: 1) um desequilíbrio persistente entre a oferta e a demanda global de bens e serviços; 2) uma desancoragem (por múltiplas razões, inclusive a anterior) da "expectativa" inflacionária, e 3) um "choque de oferta" interno ou externo. No caso brasileiro é preciso incluir a indexação ainda generalizada que sobrou como resíduo do bem-sucedido Plano Real e para cuja eliminação se fez muito pouco (de fato, acrescentou-se mais veneno) nos últimos oito anos.

"Temos hoje, praticamente, uma taxa de câmbio fixa. Trata-se de um mecanismo de legítima defesa."

No regime de câmbio flutuante, quando o choque externo é um grande aumento das relações de troca, ele é "filtrado" por uma valorização da taxa de câmbio. O cabo de guerra estabelecido entre os "falcões" e o governo parece estar amainando, com o reconhecimento que o ajuste dos juros pelo Banco Central (BC) será suficientemente prolongado para promover a convergência da taxa de inflação para o centro da meta de 2012.

Aparentemente isto está sendo conseguido: a taxa de juros real produzida pela Selic (que importa mais para o custo da dívida pública) tem sido elevada moderadamente, mas a taxa de juros real do setor privado que controla o consumo e boa parte dos investimentos (não privilegiado por programas especiais), tem se elevado mais fortemente. Este ano a despesa com juros da dívida pública deve beirar a R$ 180 bilhões, uma respeitável Bolsa-Rentista.

A comunicação do Banco Central deve ser dirigida à sociedade e não apenas ao sistema financeiro. No fundo, os seus clientes são os cidadãos comuns que só podem ser informados por meio da mídia. São eles (e não apenas os analistas financeiros) que lhe conferem credibilidade. É fundamental para o sucesso da política econômica a informação preventiva, rápida, transparente e honesta do Banco Central, para contrarrestar a natural diversidade de opiniões.

Há muitos anos os economistas reconheceram as estreitas relações que existem entre o movimento de capitais, os regimes da taxa de câmbio e a autonomia monetária de cada país. Teorizando sobre situações limites: 1) liberdade absoluta ou controle absoluto dos movimentos de capitais nas relações externas; 2) taxa de câmbio absolutamente flutuante ou taxa de câmbio absolutamente fixa; 3) liberdade absoluta ou constrangimento absoluto para que a política monetária atenda às condições econômicas domésticas e estabilize a economia; e 4) adicionando a hipótese que os agentes são absolutamente racionais e exploram qualquer oportunidade de lucro que possa ser apropriado pela livre arbitragem, demonstra-se, logicamente, que a política econômica de um país não pode satisfazer, simultaneamente, mais do que duas, das três primeiras condições expostas acima. Essa construção lógica constitui o já velho e famoso trilema que condiciona o exercício da política econômica.

"A ascensão social da última década produz um desequilíbrio entre a demanda e a oferta."

Em outras palavras, ela pode incorporar quatro situações resumidas a seguir:

1) Liberdade de movimento de capitais e câmbio fixo. Nessa circunstância, o país não pode ter uma política monetária que cuide dos seus interesses internos. Para que haja equilíbrio no longo prazo, a sua taxa de inflação deve ser igual à externa e a taxa real de juros deve ser igual à do "resto do mundo". Se a taxa de juros interna for maior do que a externa, a acumulação de reservas produzida pela entrada de capital precisa ser neutralizada com o aumento crescente da dívida pública (e do seu custo) e, no limite, será monetizada, criando as condições para a emergência de um processo inflacionário;

2) Controle do movimento de capitais e câmbio fixo. Nesse caso há plena liberdade para a política monetária perseguir os interesses internos do país. Nestas circunstâncias, a taxa de câmbio fixo deve ser o preço relativo que equilibra o valor do fluxo dos bens e serviços exportados com os importados. Se a taxa de inflação gerada pela política monetária autônoma for sistematicamente maior do que a do mundo, a taxa real de câmbio sofre uma lenta valorização e, mais dia, menos dia, acumula-se um déficit em conta corrente. Este regime induz a política monetária a perseguir uma taxa de inflação parecida com a do "resto do mundo". Trata-se do sistema construído originalmente no Acordo de Bretton Woods que foi erodido pela dominança abusiva do dólar como unidade de conta internacional e moeda reserva;

3) Liberdade de movimento de capitais e câmbio flutuante. Nesse caso a política monetária precisa manter a taxa real de juros interna igual à externa para construir o equilíbrio de longo prazo. Para reduzir a volatilidade da taxa de câmbio ele deve manter também sua taxa de inflação parecida com a de seus parceiros internacionais; e

4) Controle do movimento de capitais e taxa de câmbio flutuante. Nesse caso pode-se ter uma política monetária que atenda aos interesses internos do país. A taxa de câmbio flutuante volta a ser o velho preço relativo que equilibra o valor do fluxo de bens e serviços exportados com o valor do fluxo de bens e serviços importados.

A experiência mostra que nenhum país pratica políticas econômicas com a "pureza" suposta na construção lógica do "trilema". Todos tendem a acomodar (de acordo com as circunstâncias que enfrentam dentro e fora do país e dos interesses do poder incumbente), uma combinação variável da liberdade do movimento de capitais, do regime cambial e da política monetária.

Assistimos isso agora no Brasil. Com três instrumentos de intervenção, o Banco Central transformou o regime cambial. Temos hoje, praticamente, uma taxa de câmbio fixa. Trata-se de um mecanismo de "legítima defesa" justificado pela destruição interna causada pela supervalorização do Real. Ninguém discute que a tendência do Real é de valorizar-se, se não por outras causas, apenas pela velha teoria e empiricamente reconhecida relação da taxa de câmbio real com a elevação do Produto Interno Bruto (PIB) per capita. No momento essa tendência é ajudada pela enorme melhoria das relações de troca (enquanto durarem). O que se discute é a "super" valorização causada pelo imenso diferencial entre as taxas de juros reais interna e externa.

O "trilema" não é apenas uma proposição logicamente deduzida. Pesquisas empíricas que se vão acumulando, mostram sua relevância. É preciso insistir que não importa qual seja a combinação escolhida pela nossa política econômica: é pouco provável que ela seja exitosa no longo prazo se a taxa de juro real interna continuar 4 vezes maior que a externa!

Há dezenas de explicações para tal "fenômeno" produzidas por sofisticados e tecnicamente bem apetrechados economistas, às vezes apoiados numa econometria de "pé quebrado". Em algumas de suas "regressões" só não acrescentaram, ainda, como variável "explicativa", os quilômetros quadrados desmatados na Amazônia. Todo o resto já foi tentado".

Do nosso ponto de vista a melhor explicação para o fato é a que tem sido trabalhada e promovida há muito tempo, entre outros, pelo ilustre professor Yoshiaki Nakano: continuamos a praticar as regras operacionais que, também em "legítima defesa", inventamos no período de hiper-inflação e que foram funcionais naquele momento. Para começar a desmontá-las precisamos reduzir o financiamento da dívida pública com títulos remunerados à taxa Selic, exatamente o objetivo perseguido pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN). É preciso criar condições e estímulos para que o mercado reduza em seu portfólio os papéis remunerados pela taxa Selic, o que será muito positivo, inclusive, para aumentar a potência da política monetária convencional.

A notícia mais importante do Plano Anual de Financiamento (PAF) da STN para 2011, é que existe tal possibilidade durante o atual mandato da presidente Dilma Rousseff: 80% da dívida remunerada em Selic vence entre 2011 e 2014. Como afirma a STN, o ajustamento será lento, cauteloso e oportunístico, refletindo o "desenvolvimento do mercado financeiro". O fundamental é saber que a janela está aí e que o seu aproveitamento depende, apenas, de uma forte coordenação entre um seguro esforço fiscal e uma fina política monetária que deem musculatura à STN para fechá-la.

A nossa situação cambial é ainda mais delicada devido à extrema liquidez proporcionada pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) para acelerar a taxa de crescimento dos EUA, sem o que não haverá solução para sua dívida interna. O problema dos EUA é que sua política econômica não conseguiu, até agora, conquistar credibilidade e reduzir o nível de incerteza que continua a cercá-la. O gráfico tenta mostrar nossas dificuldades.

A falta de confiança tem levado a uma recuperação lenta de economia americana (particularmente no nível de emprego). Isso produziu uma política monetária extremamente laxista - o "quantitative easing" 1 e 2 (QE1 e QE2) - que levou a taxa de juro nominal a zero, o que tende a desvalorizar o dólar. Como ele é a unidade de conta no mercado internacional, a sua desvalorização aumenta ainda mais os preços nominais das commodities (petróleo, metais e alimentos), já pressionados por uma aceleração da demanda global dos emergentes (China, Índia etc.). O aumento do petróleo por sua vez, corta a renda dos americanos e diminui o consumo de outros bens, dificultando ainda mais a recuperação. Além do mais, deteriora o saldo comercial dos EUA e exige maior desvalorização do dólar.

Quais os efeitos disso sobre a nossa taxa de câmbio? Primeiro, uma valorização do Real pela melhoria das nossas relações de troca. Paralelamente, os preços externos são internalizados pela taxa de câmbio. Quando o câmbio não pode mais valorizar-se pelo estrago que está produzindo, aumenta a taxa de inflação interna. Isso leva o Banco Central a aumentar a taxa de juro real, o que estimula ainda mais o fluxo de capitais que vem arbitrar a diferença de juros e reforça a valorização do Real. A arbitragem não termina porque o juro real interno não cai devido à política monetária que absorve os reais vendendo papéis do governo à taxa Selic. Estamos presos numa armadilha. Ela se agravará ainda mais se o FED, diante da fraqueza da economia americana, decidir por um terceiro "quantitative easing" (QE3).

Com relação à inflação, a política econômica destina-se a controlar diretamente a demanda global e ajustá-la à oferta global, e, indiretamente (por sua credibilidade), fixar a expectativa de inflação que ancora a formação dos preços e dos salários. Trata-se de um processo não trivial, cheio de armadilhas conceituais e largamente determinado pelas crenças sobre o estado da economia e sobre as respostas dos agentes à própria política (o efeito do déficit fiscal nominal, os efeitos da relação dívida/PIB os efeitos das manobras de juros etc.), de forma que os efeitos diretos e indiretos se auto-estimulam.

Choques internos, rapidamente superados, como é o caso de uma quebra de safra em que os preços têm a tendência de retornar à média, precisam de um tratamento cauteloso porque, se incorporados pela indexação aos salários, elimina-se o papel principal do aumento dos preços que é cortar temporariamente a demanda física para ajustá-la à oferta física. O mesmo acontece quando se trata de desequilíbrios estruturais produzidos por uma redistribuição de renda que altera a demanda de serviços. É exatamente o aumento dos seus preços relativos que estimulará a expansão da oferta para atendê-la. Logo, o ajuste deve ser acompanhado por ações não monetárias ("estruturais") que ajudem e acelerem o efeito das manobras com a taxa de juros.

Toda mudança de preços relativos exerce uma pressão sobre a inflação devido à rigidez para baixo de todos os preços. Um movimento de ascensão social como vimos vivendo na última década, tende a produzir um desequilíbrio qualitativo entre a demanda e a oferta de serviços e nos preços dos produtos consumidos pelas classes em ascensão. Imagine a destruição de PIB, do emprego e o aumento da pobreza que seriam necessários para desconstruir aquele processo civilizatório apenas com manobra da taxa de juros.

Um problema interessante com relação à escassez de mão de obra refere-se, por exemplo, à engenharia. Devido à pequena demanda e baixos salários da profissão nos anos 90 do século passado, quase 40% do estoque de nossos engenheiros trabalham fora da sua especialidade, principalmente na administração e finanças. Para trazê-los de volta (e estimular a formação de novos) o sistema de preços já está funcionando e os salários deverão ajustar-se relativamente às outras atividades. Isso, entretanto, também não é "prova" de que exista um desajuste sério entre a demanda e a oferta globais de mão de obra, o que exigiria uma redução da taxa de crescimento do PIB. É preciso pensar em outras soluções, inclusive estimular a volta ao trabalho dos engenheiros que se aposentaram e dos que abandonaram o País por falta de oportunidades. E por que não importar profissionais estrangeiros oferecendo-lhes condições adequadas de vida e de trabalho como fazem vários países? Isso fez inteligentemente o Canadá (inclusive conosco).

O Brasil está com sinais vitais bastante razoáveis. Seu problema principal, entretanto, é preparar a nossa estrutura produtiva interna para dar emprego de boa qualidade a 145 milhões de brasileiros - com idade entre 15 e 64 anos - em 2030. Isso não será feito apenas com o nosso modelo agrominerador extremamente eficiente, mas induzido e dependente do crescimento externo. Não tenhamos ilusões. Com tempo suficiente (e que não será coisa muito superior a 4 anos ou 5 anos) a oferta mundial de alimento e petróleo criada pelos próprios países que hoje exercem a pressão de demanda, crescerá estimulada pelo aumento dos preços. Aí tudo mudará.

É hora, portanto, de aproveitar o tamanho e estimular a expansão do nosso mercado interno para ampliar o setor industrial e o de serviços (sem desestimular a agricultura e a mineração) para atender ao crescimento inclusivo que nos impõe a própria Constituição de 1988. Para atender ao aumento da oferta demográfica de mão de obra, o Brasil precisa de um crescimento anual nos próximos 20 anos, da ordem de 5% ao ano, com estabilidade interna e externa.

Para consegui-lo temos de fazer muita coisa. Fundamentalmente, elevar a taxa de poupança interna para qualquer coisa parecida como 24% a 25% do PIB (com um déficit em conta corrente não maior do que 1%), o que exige estímulo à poupança privada e um grande aumento da poupança governamental (sem aumentar a carga tributária), ou seja, cumprir o que foi anunciado pela presidente Dilma: "Fazer um pouco mais com um pouco menos". Em poucas palavras, gerir mais eficientemente o setor público.

http://static.valoronline.com.br/sites/default/files/imagecache/media_library_bigimage/gn/11/06/arte21opin-102-espe-a16.jpg

Pode parecer pedestre (e até enganoso), mas todos os nossos problemas (inclusive o cambial) podem ser minorados com tal programa. Ao fim e ao cabo - como insiste em dizer um velho amigo -, tudo se resume em: 1) ter uma rigorosa política fiscal (equilíbrio fiscal cíclico e relação dívida/PIB estritamente controlada; 2) melhorar a qualidade da gestão pública e reduzir o crescimento dos gastos de custeio e transferências abaixo do crescimento do PIB; 3) assegurar a boa regulação concorrencial do mercado e coordenar, com ele, o papel do Estado-Indutor com o uso de estímulos adequados; e 4) resistir à permanente sedução (que costuma cegar o poder incumbente), de tentar violar as identidades da contabilidade nacional.

O resto é creme chantilly para enfeitar a receita...

Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.

Este é o sexto de uma série de artigos sobre a conjuntura econômica atual, com foco maior nos problemas de câmbio, juros e inflação, feitos por renomados economistas a pedido do 'Valor'. Amanhã publicaremos o artigo de Luiz Gonzaga Belluzzo.

Colaboradores