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sábado, 23 de maio de 2009

Ecologizar as crenças - II

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Ecologizar as crenças - II


Maurício Andrés Ribeiro (*)


Ecologizar as crenças é aplicar os conhecimentos das ciências ecológicas e a saebedoria da consciência ecológica àquilo em que se acredita. No campo ambiental, há muitos interesses controversos: temas como a energia nuclear, organismos geneticamente modificados, papel reciclagem de resíduos, são polêmicos. O papel reciclado, por exemplo, pode por um lado reduzir o corte de árvores; por outro , sua produção exige usar mais água, mais químicos para tirar a tinta; seria ele ecologicamente mais amigável que o papel branco, quando se computam os custos logísticos, as distâncias percorridas e a emissão de gases de efeito-estufa durante o seu recolhimento? A energia nuclear, muito tempo execrada pelos ambientalistas, tem sido resgatada por cientistas como James Lovelock, pelo fato de não emitir gases de efeito-estufa.


O temor, o medo, a busca da segurança se encontram na raiz de posturas ambientalistas prudentes. A crença é, então, escudo de proteção contra riscos ecológicos e ameaças. Assim, o movimento antinuclear se apóia no medo ao terror e ao lixo atômico; o movimento contra os organismos geneticamente modificados se apóia no princípio da precaução e na prudência ecológica, considerando temerário apostar em novos produtos e processos cujos impactos não se conhecem bem.


Nesse contexto de informações incompletas, como diferenciar o consumo consciente do consumo crente, ecoreligioso? A crença pode ser uma forma de auto-engano, de preferir negar ou não ver algo que para outros é evidente. Desconstruir, desmitificar crenças, desaprender, pode ser útil no caminho de aproximação do que seja mais verdadeiro. Há necessidade de ciência, de informação abalizada e de conhecimento técnico para evitar auto-enganos bem intencionados. A moral e a ética tendem a desaguar em uma pregação que pode ser enganadora, dogmática. A aceitação inquestionada, a fé, a crença, sem verificação ou consideração da verdade científica e apoio em conhecimentos, levam a logros e descréditos. Crenças ecológicas desinformadas levam a equívocos. Boa vontade, boa fé e boas intenções desinformadas levam a atitudes e comportamentos aparentemente virtuosos, porém inócuos ou contraproducentes, além de pouco sábios.

Corre-se a cada momento o risco de cometer equívocos, ter uma pseudoconsciência sem ciência, enganar-se por falta de embasamento.


Nesse contexto, algumas controvérsias são alimentadas por quem tem interesses específicos, que trata de se movimentar para fazer prevalecer um ponto de vista ou crença que o beneficie. Assim, por exemplo, uma empresa fabricante de papinha de nenê pode propagendear que o aleitamento materno não é tão importante assim. Ou que é substituível sem problemas e com vantagens.


Atualmente há grande confiança na ciência e na tecnologia, sobre as quais são depositadas expectativas de que dêem respostas verdadeiras e satisfatórias aos problemas causados pelas ações humanas. Como ter conhecimento sobre temas especializados, que necessitam de formação, capacitação, especialização? Num contexto de especialização crescente, a confiança e a difusão responsável e sistemática de informações tornam-se necessárias, pois não é possível conhecer a fundo cada tema. Por outro lado, segmentos da sociedade manifestam desconfiança nos cientistas e em sua capacidade de responder aos problemas; em parte porque, seres humanos falíveis, estão sujeitos a serem instrumentalizados por interesses econômicos. Nesse contexto, comportar-se a partir de bons padrões éticos e técnicos torna os especialistas confiáveis e lhes conferem credibilidade.


Há crenças que não podem ser provadas, e que levam a ações boas e ruins. Uma crença pode vir a mostrar-se verdadeira ou falsa. Enquanto ela não é comprovada ou refutada, pode-se acreditar, ter fé e por ela pautar atitudes. Uma crença independentemente de mostrar-se verdadeira ou falsa, tem, assim, conseqüências práticas, ao influenciar comportamentos ecológicos ou antiecológicos. Ecologizar as crenças é, portanto, uma forma de induzir mudanças de comportamentos e de conduzir a uma crescente ecologização da sociedade.


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(*) Autor de Ecologizar e de Tesouros da Índia

WWW.ecologizar.com.br mandrib@uol.com.br


1 Ken O'Donnell, Caminhos para uma Consciência Elevada, Editora Gente, São
Paulo, 1996

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Ecologizar a crença - I

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Maurício Andrés Ribeiro (*)

Acreditar em algo e não o viver é desonesto

Mahatma Gandhi


Crenças existem e têm eficácia ao influir em comportamentos. Acreditemos ou não na crença a ou b , gostemos ou não, elas estão aí. Já que são um dado da realidade e que algumas tem efeitos ecológicos positivos e outras tem efeitos destrutivos, cabe fazer com que se ecologizem.

Crenças funcionam para legitimar e justificar atitudes e comportamentos. “Eu acredito nisso, portanto, me comporto assim ou assado”. Agir em desacordo com a própria crença provoca desconforto, conflitos pessoais, sentimentos de culpa, dor na consciência. Aqueles que acreditam, mas que não têm comportamentos coerentes com sua fé ou crença, sofrem de autocomplacência, perda de auto-estima e de amor próprio, por não serem fortes o suficiente para alinhar sua prática com aquilo em que acreditam. “A lacuna que separa o ideal da prática atinge a todos nós em maior ou menor extensão e deixa bem clara a diferença entre satisfação e frustração. A felicidade pessoal está relacionada com a coerência entre o que acredito ser verdade e minhas ações.1

A hipocrisia desconecta aquilo que se pensa e fala daquilo que se faz. “A teoria na prática é outra”; “faça o que eu digo e não o que eu faço” são frases populares que expressam esse tipo de atitude.


Crer, acreditar, move energias e motiva para o esforço, a obra e o projeto coletivo, um mito ou sonho que se transforma em realidade: “ A fé remove montanhas”.


No seu livro A biologia da crença, Bruce Lipton explica como as células do corpo são influenciadas pelo pensamento e mostra o mecanismo pelo qual elas recebem e processam as informações. A biologia da crença estuda a relação entre a vida, o ambiente, o pensamento, as percepções e os vários níveis de consciência.


O impacto das ações de quem acredita em algo pode ser diferente dos impactos das ações de quem não acredita no que faz. Crer influi na consciência e nas ações; não crer também influi no pensamento e nas ações decorrentes. Assim, acreditar na reencarnação pode ajudar a conservar o meio ambiente, pois, no autointeresse, ele deve ter boa qualidade para ser habitado nesta e em outras vidas.


Acreditar na eficácia da homeopatia ou da acupuntura ajuda a usar tratamentos alternativos e pode torná-los mais eficazes. Acreditar nas mudanças climáticas e crer que o ser humano tenha responsabilidade nelas ajuda a induzir atitudes ecologicamente responsáveis. Acreditar que comer carne é ruim para o ambiente ajuda a forjar hábitos alimentares vegetarianos. O fato de se acreditar em tais coisas e de tentar agir coerentemente com tais crenças traz resultados ecologicamente amigáveis.

Há quem prefira não acreditar nas mudanças climáticas e na responsabilidade humana sobre elas. Assim, não se sentem compromissados a mudar hábitos e estilo de vida; não se sentem culpados por um problema ecológico que tem conseqüências danosas ou negativas. O cético desobriga-se, perante sua própria consciência, de autolimitar suas atitudes predatórias; evita assim qualquer drama de consciência. O ceticismo pode significar um apego ao conforto, uma forma de comodismo e de não desejar abrir mão de hábitos.


As crenças constituem freios ecológicos que colocam limites ao comportamento humano. Pescadores deixam de sair à pesca quando um passaro específico canta ou quando uma mulher grávida entra no barco. Acreditam que isso não lhes trará boa sorte. Pessoas cuidam melhor do ambiente quando crêem na reencarnação, por um senso de auto interesse ampliado que se estende às próximas gerações e reencarnações. Trata-se da solidariedade não apenas com as próximas gerações, mas para com as próximas reencarnações.

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(*) Autor de Ecologizar e de Tesouros da Índia

WWW.ecologizar.com.br mandrib@uol.com.br

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