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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A crise hídrica

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A realidade atual não está reinvindicando a posição otimista dos adoradores do crescimento, nem dos verdadeiros que acreditam na teoria neoclássica e seus erros epistemológicos, nem dos falsos que dizem ter alterado a rota, mas continuam com propostas na mesma direção de aumento do consumo absoluto de matéria e energia e da nossa pegada ecológica global que já ultrapassa a capacidade do planeta em 50% e segue em crescimento.

Os pessimistas foram demonizados, claro, porque parece mais fácil viver numa casa com a sala pegando fogo e fingir que nada está acontecendo do que encarar a realidade nua e crua a nossa volta e mudar nosso modelo mental.

A realidade reinvindicou a posição dos pessimistas, jogando na vala comum do vazio todas as discussões de alternativas ao modelo econômico atual.   Ficamos sem avanço algum esses anos todos, exceto o da destruição crescente das bases de sustentação da vida causada por nossas economias, que segue inabalável diante dos nossos olhos.  Por tudo isso posto, a crise da água é uma oportunidade e acho que precisamos de um movimento mais amplode debate e propostas aplicadas.  Temos ouvido no rádio e a partir da fala dos dirigentes políticos as seguintes informações desde quando começou essa crise medonha:

1)      a crise hídrica foi causada pela seca;
2)      a chuva irá resolver o problema;
3)      não haverá racionamento; e mais recentemente,
4)      a única solução é a chuva dado que as “obras” ficarão prontas só em 2016.

Lamentável.  Alguns pontos:

1)      o adensamento populacional da região metropolitana de São Paulo e suas cidades satélites reduz a disponibilidade de água per capita a níveis de regiões semi-áridas: menos de 200 litros por pessoa por dia, quando o mínimo seguro é 2000 (Brasil tem muito mais).  O erro histórico é deixar a população paulista e paulistana esbanjar água quando a realidade é outra há muito tempo.

2)      a destruição de 80% da vegetação em mananciais e nascentes contribuiu bastante pela perda da água e nada se fala sobre isso.

3)      a coleta do esgoto é de 70% do total e desta o tratamento é menos de 30%, ou seja, a maior parte do esgoto dos quase 20 milhões é jogada in natura nos nossos rios, isso reduz a oferta de água dramaticamente.

4)      a perda nos canos é uma incógnita, mas é sabidamente elevada, outro absurdo.

5)      os reservatórios estavam em queda franca desde 2011, algum planejamento antes da seca de 2014 deveria ter sido adotado para evitar perder a impermeabilização com o uso do volume morto, nada explica chegarmos ao ponto que chegamos, exceto a má gestão, a falta de investimentos e as ineficiências administrativas, além da negação total do problema.

6)      se a chuva não vier, não há como abastecer 20.000.000 com caminhões-pipa, nem com poços, nem há alternativa, ou seja, se não chover caminhamos para um cenário MAD MAX aterrador.

7)      a destruição contínua do Cerrado e da Amazônia irá transformar o Brasil num enorme deserto não importa o que façamos localmente, o risco sistêmico nacional da destruição dos nossos ecossistemas precisa ser contornado.

8)      falo nas minhas palestras desde 1997 que a maior ameaça do aquecimento global é o fim da água e esse outro risco sistêmico global está pior a cada dia.

9)      o modelo mental do crescimento econômico baseado em uma teoria econômica falsa precisa ser revogado, porque a oferta da água é finita e mesmo que consigamos preservar 100% e adotar tecnologias de eficiência ao extremo, não há como manter uma demanda crescente sobre um recurso finito, assim como é impossível manter um crescimento infinito exponencial num planeta finito em espaço, água e serviços ecológicos (quem acredita nisso ou é um louco ou é um economista e sobre esse ponto, tema de estudo há décadas, disso com fartos argumentos convincentes apesar disso escamoteado por uns, ignorado por quase todos).

Como atacar os oito pontos acima?  Se atacarmos os oito pontos acima, o último naturalmente se resolve ou é forçado a tanto, embora os adoradores do crescimento (falsos e verdadeiros) ainda irão lutar para não largar o osso, mas de qualquer forma, contra eles e essa visão estúpida, o fim da água em São Paulo e alhures é uma prova do erro fatal da teoria econômica tradicional baseada no crescimento do PIB e apenas nisso.  Se conseguirmos evitar o cenário MAD MAX aterrador, essa é talvez a única  e última oportunidade de salvar a humanidade do colapso.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

"Que os desmoronamentos enterrem"

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Recebi esse texto do grupo ECOECOBRASIL, "Que os desmoronamentos enterrem", e fiz esse comentário abaixo.

Megaeventos como esses ocorriam de décadas em décadas e não todos os anos. Agora temos uma sucessão de eventos anuais ou quase mensais (2008 Florianópolis, 2009 Angra, Ilha Grande, São Luiz de Paraitinga, 2010 Região Serrana do Rio). Um registro de variações erráticas como secas seguidas de enchentes, tradição na Austrália e na Amazônia, mas não no modo atual, 13 anos de seca que virou desertificação no caso da Austrália, seguido de enorme enchente. A anomalia está bastante clara e as causas muito relacionadas à ação humana, tanto na área global - clima - quanto na área local - excesso de gente, desmatamento, etc. Fica bem claro que é o planeta que dá as regras, como Deus pergunta a Joh numa passagem bíblica: "Por ventura foste tu que deste lei à luz da manhã?" Se o planeta dá as regras, só podemos nos ajustar a elas. Foi tudo que não fizemos, principalmente nos últimos 150 anos de economia industrial global, com uma aceleração histórica num planeta finito e fechado como o nosso. Nicholas Georgescu-Roegen estava certo ao escrever: "se a economia do descarte imediato dos bens e do desperdício continuar, seremos capazes de entregar a Terra ainda banhada em sol apenas à vida bacteriana." A economia do descarte e do desperdício não só continuou como é enaltecida, desigual, além de suicida e insustentável, passou a ser o modelo dos BRICs de onde nos esperam mega projetos, o IRSA (integração regional industrial da América do Sul para transformar o continente em plataforma exportadora da nossa natureza na forma de commodities - que não precisamos - para os países que já não a possuem mais, por terem destruído tudo).

La nave va, já sabemos para onde. Esses episódios são apenas o começo, a ponta do iceberg, estranha muito a repetição sombria dos mesmos não chamar atenção de mais ninguém, enquanto a mídia corre para fazer paralelos e transformar as anomalias em normalidade, em luta contra o conhecido ou o repetido, embora não o seja, trata-se do terrível desconhecido diante de nós, a colheita que faremos das nossas ações do passado e que de uma forma geral recairão sobre os ombros menos merecidos e favorecidos.

Perdi um meu conhecido, com a esposa grávida e a sogra, soterrados em Nova Friburgo, uma vida terminada repentinamente. Seu último texto no facebook foi "chove muito". Acho que não imaginava o que iria acontecer. Sua casa era sólida, mas no sopé do morro não sobrou nada. Os corpos foram achados demoradamente.

O que nos espera em 2011?

Hugo Penteado


QUE OS DESMORONAMENTOS ENTERREM

também

AS INCONVENIENTES PROPOSTAS DO ALDO REBELO! (e BANCADA)

As violentas enchentes que predominavam ocorrer apenas entre as encostas dos Aparados da Serra Geral e o litoral de Santa Catarina nas décadas de 70, 80 e 90 passaram nesta nova década do século XXI para o Estado do Rio de Janeiro e São Paulo, porém não esquecendo Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Recife e Pernambuco. Não tínhamos conhecimento sobre a tragédia de Caraguatatuba no litoral norte de São Paulo, em 1967, com 436 mortos e no Rio de Janeiro, na Serra das Araras, com 1700 mortos, porém
tínhamos o registro da tragédia de 1974 que matou 199 pessoas só na cidade de Tubarão em Santa Catarina, totalizando 250 mortos incluindo as bacias do Araranguá e Mampituba. Todavia, esta ocorrência na região serrana do Rio de Janeiro poderá ser a segunda maior tragédia climática do país.

Mais de 600 pessoas praticamente ''enterradas vivas'', milhares de desabrigados com sérios transtornos sociais e traumas para o resto da vida, reais possibilidades de adquirirem doenças contagiosas e imensuráveis prejuízos materiais às famílias, ao Estado e a União. Isto é inconcebível, uma catástrofe que certamente poderia ter sido
amenizada se houvesse planos e programas específicos para eventos extremos do clima, no qual estamos apontando desde a ocorrência do inédito Furacão Catarina. Convenhamos que não houve de fato um ''alerta adequado/seguro de perigo real e imediato para a evacuação da população'', porém se houve os responsáveis pela omissão deverão ser
processados criminalmente.

Precipitações maiores que estas ocorreram na Austrália e Portugal, porém a sinistra contabilidade de mortos foi bem menor. Na manhã em que ocorreu o Furacão Catarina, o então governador se utilizou de uma cadeia de rádio e televisão para comunicar (''assustar'') a população do sul de SC, talvez por isso tenha havido pouquíssimas
vítimas pela dimensão destruidora do violento evento climático - o primeiro do Atlântico Sul, enquanto que as superprecipitações já vêm ocorrendo nos últimos anos, portanto, era para haver mais investimentos em sistemas de prevenção e de adaptação, tanto na área científica quanto na defesa civil. OBS. Talvez quem sabe, seja necessário criar uma associação das vítimas prejudicadas pelas tragédias do clima, com objetivo de desenvolverem programas de prevenção e adaptação locais/regionais, como também de fiscalizar os rotundos recursos destinados a recuperação dos danos que são vergonhosamente desviados pelas administrações públicas.

A elaboração de um mapa das regiões onde tem havido com mais frequência e intensidade a ocorrência de eventos considerados extremos pela violência das águas, deve ser acompanhado de dados e informações orientadoras, pois as populações afetadas pelas tragédias do clima querem respostas!!! A ciência da meteorologia não consegue mais
fazer a adequada leitura da climatologia da Terra, tanto nas previsões, como também não consegue explicar as dinâmicas que estão promovendo o desequilíbrio do clima. Na verdade, as imagens de satélite é que orientam os meteorologistas e se não fossem elas estaria em cheque a credibilidade da meteorologia.

Estudos mais profundos com ajuda de outras ciências como a geofísica, oceanografia, sociologia, entre tantas outras que poderiam avançar em pesquisas em conjunto com investimentos em radares e supercomputadores de alta tecnologia, que tem alta capacidade de monitorar iminentes ameaças com antecipação e que viessem a orientar a população em geral, mas principalmente as mais afetadas que vivem em área de risco
decorrentes de super precipitações e de locais vulneráveis a violência dos ventos. Estudos idôneos e independentes, porém comprometidos com a verdade, não ficam apenas restritos a escritórios, mas vão a campo colher informações com o imaginário popular que vive diretamente com a natureza, que sente o seu impacto quando responde as agressões com violência. No dia que um degradador ''sentir na pele a força da
natureza'' ele certamente passará a ver o mundo de outra forma.

Como um dos principais fatores que facilitam os desmoronamentos em encostas de morros é a ausência de vegetação nativa (que assegura o solo com suas raízes ao mesmo tempo em que infiltra/absorve a água da chuva, evitando maior quantidade de água nos leitos dos rios, que por sua vez já não possuem mais mata ciliar que tem a função de proteger os cursos d'água de intempéries que provocam o assoreamento da calha original), o desmatamento em APP tem que ser considerado crime. Observando, no entanto, que quando a precipitação é muito violenta, ela pode arrastar tudo, mesmo as encostas não desmatadas ou ocupadas, destruindo até mesmo as matas ciliares bem compostas, como por exemplo, a catástrofe/tragédia de Figueira no município de Timbé do Sul/SC, quando na noite de Natal de 1995 o choque de duas nuvens provocou o
maior desmoronamento de terra e vegetação na história do país, nas encostas dos Aparados da Serra Geral: http://www.deslizamento-timbedosul-sc.blogspot.com

Alguns céticos podem contestar que sempre existiu a ocorrência de fenômenos naturais, que não existe aquecimento global, ou seja, que as mudanças climáticas são invenções de ambientalistas, porém não podem contestar a intensa frequência da ocorrência de eventos extremos do clima nas últimas décadas no planeta Terra.

Entendemos que três fatores estão contribuindo para aumentar a frequência e a intensidade destes fenômenos naturais e as respectivas consequências:

1. Primeiro é o resultado do desequilíbrio da protetora camada de ozônio ''que não sabe mais o que fazer'' com tanto CO², surgindo o efeito estufa, não permitindo a saída de ar quente para a atmosfera, resultando assim no inconveniente aquecimento global, do qual a queima de combustíveis fósseis é a principal causadora em nível mundial, seguida das queimadas do desmatamento na Amazônia, por exemplo.

2. Segundo é a ocupação desordenada de Áreas de Preservação Permanentes (APP) em encostas de morro e margens de rios, desmatamento e assoreamento dos córregos e rios, ou seja, desenvolvimento a qualquer custo, porém quem paga, na grande maioria, são os pobres excluídos ambientais.

3. As pessoas estão se acostumando com as desgraças alheias (os políticos oportunistas mais ainda!) no que denominamos de ''normose'', resultante da ganância infecciosa do capitalismo e da frieza do socialismo.

Se com uma legislação abrangente e rígida as tragédias acontecem, imaginem então se flexibilizarem as leis deste país como os políticos e governantes catarinenses fizeram ao instituir o Código Ambiental, mesmo após a tragédia de novembro de 2008 no Vale do Itajaí/SC. O mesmo processo está contaminando as mentes da bancada ruralista no Congresso Nacional, com as inconvenientes propostas do Aldo Rebelo de alterar o Código Florestal, que deveriam ser enterradas com a lama dos desmoronamentos por este país afora.

www.tadeusantos.blogspot.com

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