Valor, 12/11/08.
Daniela Chiaretti
De Exeter e Londres
O arquipélago das Maldivas, um paraíso na Terra a sudoeste da Índia, nunca cravou ao certo o número de suas ilhotas - sempre foi "algo próximo" a 1.200. A oscilação do nível do mar explica a imprecisão: a altura média das ilhas é de 1,5 metros, a porção mais alta de terra mede 2,4 metros. Se o mar subir 59 cm até 2100, confirmando as previsões dos cientistas, o país some do mapa. Ontem, o presidente das Maldivas Mohamed Nasheed tomou posse anunciando sua primeira medida: investir boa parte da bilionária receita que o país consegue com turismo comprando terras na Índia, no Sri Lanka e na Austrália. A idéia é contornar o inevitável: que seus 380 mil habitantes se tornem refugiados ambientais sem terra em conseqüência do aquecimento global.
A história estava na primeira página do "The Guardian", um dos principais jornais do Reino Unido, abrindo a semana e dividindo espaço com a notícia dos próximos passos do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Mudança climática é tema constante no noticiário inglês, ao lado da forte preocupação com a crise financeira e a expectativa de recessão.
Nos corredores do departamento de Relações Exteriores, o Foreign Commonwealth Office, políticos acreditam que uma nova economia verde pode produzir emprego num momento em que a crise financeira global dispara processos recessivos. No Reino Unido a discussão não parece ser marginal, sinaliza um processo transformador. Mexe, inclusive, com dogmas econômicos. "Não há uma atitude não intervencionista em resposta à mudança climática", reconhece John Ashton, um dos parlamentares mais reconhecidos pelo trabalho com o tema. "É preciso que exista um novo tipo de economia política", continua.
Há novos índices aparecendo. "Se quisermos estabilizar as emissões de carbono e continuar com o crescimento econômico só temos uma escolha", diz um relatório detalhado sobre combater a mudança do clima e ao mesmo tempo sustentar a economia, elaborado pela consultoria McKinsey. "Trata-se de aumentar dramaticamente o nível da 'produtividade de carbono' na economia", prossegue o relatório. A produtividade do carbono é o resultado da divisão do Produto Interno Bruto (PIB) pelas emissões de gases-estufa de um país. A previsão é a seguinte: para conseguir reduzir emissões e manter o crescimento econômico a tal da produtividade do carbono terá que crescer dez vezes entre 2005 e 2050. Isso para responder ao que a ciência sugere - que será necessário reduzir as emissões em 76% em 2050, em relação a 2000, para minimizar os riscos do aumento da temperatura.
"O desafio da revolução do carbono é similar à transformação econômica que o mundo viveu com a Revolução Industrial", diz Ed Petter, gerente de relações exteriores e de mudança climática da McKinsey. "Mas teremos que fazer em 40 anos o que, na Revolução Industrial, se fez em 120".
Na semana que vem, Richard Betts, o chefe da divisão de impactos climáticos do Hadley Centre do Met Office, um dos mais respeitados centros meteorológicos do mundo, baseado em Exeter, a quatro horas de Londres, encontrará representantes do Ministério da Ciência e Tecnologia e das Relações Exteriores esclarecendo resultados de estudos que vem fazendo junto com os brasileiros Carlos Nobre e José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE-CpTEC). Não levará nenhuma boa notícia na maleta. "O consenso científico parece ser que a Amazônia ficará cada vez mais seca", diz ele, com cautela e reticência. "Isto aumenta o risco de incêndios na floresta", prossegue, comentando o potencial explosivo da combinação entre um ambiente mais seco e o tradicional uso do fogo para limpar áreas que serão ocupadas por gado ou por agricultura.
A parceria britânica com o Brasil rumo a economias de baixo carbono, pode se ampliar com a troca de tecnologias limpas ou de seqüestro de carbono, mas não chega à doação de recursos financeiros para o Fundo Amazônia, como fez a Noruega. Já ocorreram conversas entre os dois governos, mas não deve se esperar nada para já. (DC)
A repórter viajou a Londres a convite do governo do Reino Unido
A história estava na primeira página do "The Guardian", um dos principais jornais do Reino Unido, abrindo a semana e dividindo espaço com a notícia dos próximos passos do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Mudança climática é tema constante no noticiário inglês, ao lado da forte preocupação com a crise financeira e a expectativa de recessão.
Nos corredores do departamento de Relações Exteriores, o Foreign Commonwealth Office, políticos acreditam que uma nova economia verde pode produzir emprego num momento em que a crise financeira global dispara processos recessivos. No Reino Unido a discussão não parece ser marginal, sinaliza um processo transformador. Mexe, inclusive, com dogmas econômicos. "Não há uma atitude não intervencionista em resposta à mudança climática", reconhece John Ashton, um dos parlamentares mais reconhecidos pelo trabalho com o tema. "É preciso que exista um novo tipo de economia política", continua.
Há novos índices aparecendo. "Se quisermos estabilizar as emissões de carbono e continuar com o crescimento econômico só temos uma escolha", diz um relatório detalhado sobre combater a mudança do clima e ao mesmo tempo sustentar a economia, elaborado pela consultoria McKinsey. "Trata-se de aumentar dramaticamente o nível da 'produtividade de carbono' na economia", prossegue o relatório. A produtividade do carbono é o resultado da divisão do Produto Interno Bruto (PIB) pelas emissões de gases-estufa de um país. A previsão é a seguinte: para conseguir reduzir emissões e manter o crescimento econômico a tal da produtividade do carbono terá que crescer dez vezes entre 2005 e 2050. Isso para responder ao que a ciência sugere - que será necessário reduzir as emissões em 76% em 2050, em relação a 2000, para minimizar os riscos do aumento da temperatura.
"O desafio da revolução do carbono é similar à transformação econômica que o mundo viveu com a Revolução Industrial", diz Ed Petter, gerente de relações exteriores e de mudança climática da McKinsey. "Mas teremos que fazer em 40 anos o que, na Revolução Industrial, se fez em 120".
Na semana que vem, Richard Betts, o chefe da divisão de impactos climáticos do Hadley Centre do Met Office, um dos mais respeitados centros meteorológicos do mundo, baseado em Exeter, a quatro horas de Londres, encontrará representantes do Ministério da Ciência e Tecnologia e das Relações Exteriores esclarecendo resultados de estudos que vem fazendo junto com os brasileiros Carlos Nobre e José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE-CpTEC). Não levará nenhuma boa notícia na maleta. "O consenso científico parece ser que a Amazônia ficará cada vez mais seca", diz ele, com cautela e reticência. "Isto aumenta o risco de incêndios na floresta", prossegue, comentando o potencial explosivo da combinação entre um ambiente mais seco e o tradicional uso do fogo para limpar áreas que serão ocupadas por gado ou por agricultura.
A parceria britânica com o Brasil rumo a economias de baixo carbono, pode se ampliar com a troca de tecnologias limpas ou de seqüestro de carbono, mas não chega à doação de recursos financeiros para o Fundo Amazônia, como fez a Noruega. Já ocorreram conversas entre os dois governos, mas não deve se esperar nada para já. (DC)
A repórter viajou a Londres a convite do governo do Reino Unido
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