domingo, 14 de junho de 2009

Ecologizar o Capital – II

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Ecologizar o Capital – II

Maurício Andrés Ribeiro (*)

Na antiguidade, a espécie humana aprendeu a domesticar os animais e criou o pastoreio; domesticou as plantas e criou a agricultura. Com as práticas orgânicas, ecologizou essa atividade. Domesticou as águas por meio de obras de infra-estrutura, aquedutos, diques, barragens. Em seguida, dominou os minerais: o cobre no ano 3 mil antes de Cristo, o bronze no segundo milênio antes de Cristo e viveu a idade do Ferro no ano mil antes de Cristo.

Na atualidade, o grande desafio é ecologizar o capital e direcioná-lo para finalidades construtivas, pois sua força, como a das águas, é altamente destrutiva, se estiver desregulada ou descontrolada.

A Resolução n.3545 do Conselho Monetário Nacional restringiu, a partir de julho de 2008, o crédito oficial a produtores rurais sem comprovação de regularidade fundiária e ambiental. Ela incidiu sobre os interesses econômicos dos que não cumprem a legislação ambiental e despertou reações fortes. Levou governadores dos estados da Amazônia a pedirem o adiamento do início de sua aplicação, para permitir aos fazendeiros, sojicultores, pecuaristas, se adequarem à legislação ambiental. Restrições de crédito para quem destrói e devasta a natureza são instrumentos de ação que ecologizam o capital.Uma única resolução do Conselho Monetário Nacional tem mais força para obrigar o cumprimento da lei do que muitas operações de fiscalização ambiental, que não afetam de forma estruturante os interesses econômicos e cujos efeitos são fugazes.

Em 2009, o desmatamento na Amazônia mostra que são insuficientes os esforços de fiscalização e controle ambiental, caso os bancos de desenvolvimento continuem a conceder empréstimos a atividades da cadeia produtiva da carne. O esforço da fiscalização ambiental sem a ecologização da regulação do capital equivale a enxugar o chão mantendo a torneira aberta.

A internalização da perspectiva ecológica não pode ficar restrita à área ambiental do poder executivo, lutando contra a corrente. Ela precisa ocorrer em toda a administração.

Outras instâncias, como o poder judiciário, tem um importante papel. Assim por exemplo, à medida que evoluiram o conhecimento cientifico e a consciência social e quando se acumularam evidências científicas sobre seu papel nocivo ao clima, o CO2 foi incluído entre os gases poluidores em 2009 pela EPA- Agência Ambiental Americana a partir de determinação da Suprema Corte Americana, em 2007.

A atual crise econômica oferece possibilidades para que o estado, ao socorrer bancos e empresas endividadas, condicione essa ajuda a critérios ecológicos. Para que tal oportunidade não se perca, os tomadores de decisão na política econômica precisam se ecologizar. Para ecologizar o capital, é vital o uso dos mecanismos de controle e monitoramento ao longo das cadeias produtivas de cada bem ou serviço.

Ecologizar o capital é aplicar os conhecimentos das ciências ecológicas e a sabedoria da consciência ecológica a todas as decisões relacionadas ao seu estoque e fluxo, aos tributos, créditos, empréstimos, financiamentos.

(*) Autor dos livros Ecologizar, de Tesouros da Índia e de Ecologizando a cidade e o planeta

www.ecologizar.com.br

mandrib@uol.com.br

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