Maurício Andrés Ribeiro (*)
A segunda metade do século XX iniciou-se nos anos 50 com os valores da frugalidade, pois a reconstrução depois da segunda guerra mundial impunha limites e prioridades claros. Éramos três bilhões de habitantes.
No Brasil, a educação para a economia doméstica postulava valores frugais. Não devíamos deixar alimentos no prato, porque havia gente passando fome; não devíamos sair de um quarto sem antes apagar a luz; a torneira devia ficar aberta somente o suficiente, para não desperdiçar água. As roupas dos irmãos mais velhos eram aproveitadas pelos mais novos, assim como os livros escolares, que eram usados em anos sucessivos. Hortas, galinheiros e quintais complementavam o abastecimento alimentar.
O consumismo se impôs a partir dos anos 60, mas, já em 1968, movimentos alternativos questionavam a sociedade consumista. Em 1972, na Conferência de Estocolmo sobre o Ambiente Humano, o tema ambiental foi colocado na pauta. O início da década de 90 foi um período efervescente devido à Eco-92, aos avanços legais e institucionais, à mobilização da sociedade. No final dos anos 90 empresários começaram a buscar sustentabilidade e ecoeficiência, racionalizando processos de produção, ao mesmo tempo em que externalizavam para a sociedade seus custos ambientais e sociais.
Nos primeiros anos do século XXI, ocorreu a Rio+10, Conferência da ONU em Johanesburgo. Ultrapassamos os seis bilhões de habitantes. Foram definidas as metas do milênio; a Carta da Terra foi aprovada pela UNESCO; desenvolveram-se indicadores de sustentabilidade, tais como o da pegada ecológica; a Avaliação ecossistêmica do milênio indicou o colapso de sistemas de suporte da Terra; aprovou-se a implementação do Protocolo de Kyoto sobre mudanças climáticas. Forte onda de informações sobre as mudanças climáticas influenciou a percepção e a consciência de indivíduos, setores de atividades, nações. Produziram-se evidências de que são causadas pela atividade humana. Seus autores foram reconhecidos com o Prêmio Nobel da Paz.
O ano de 2007 foi especialmente intenso na divulgação de novos conhecimentos e na introdução da consciência ecológica em amplos públicos e segmentos sociais. Bilhões de pessoas perceberam que pertencem a uma espécie que provoca alterações no clima e no ambiente.
Gradualmente a economia abre-se à articulação com a ecologia. Gestores públicos aos poucos modificam sua cultura e internalizam valores e comportamentos ecologizados. Mas em 2008, contraditoriamente, há movimentos na contramão da economia ecológica e da prudência em relação ao clima: uma das respostas à crise financeira e econômica tem sido salvar empresas ineficientes e reduzir impostos para impulsionar o consumo.
O economista Herman Daly, voz respeitada pela sua sensibilidade ecológica, pergunta e responde: “O que está nos provocando a sistematicamente emitir mais CO2 na atmosfera? É a mesma coisa que nos leva a emitir mais e mais de todos os tipos de resíduos na biosfera, ou seja, nosso apego irracional ao crescimento exponencial contínuo num planeta finito sujeito às leis da termodinâmica. Se superarmos a idolatria do crescimento poderíamos avançar e perguntar questões inteligentes: “Como podemos desenhar e gerir uma economia estável, que respeite os limites da biosfera?”
Ele propõe, antes da busca pela ecoeficiência, valorizar a frugalidade em primeiro lugar, por meio de reforma tributária ecológica que onere o uso de recursos naturais. Assim, por exemplo, um imposto sobre o carbono provocaria, como resposta adaptativa a combustíveis mais caros, a eficiência e a redução de desperdícios. Onerar o uso de recursos naturais estimularia a frugalidade, refreando a demanda. Ele defende que primeiro se adote a frugalidade para então, como conseqüência, ter a eficiência. Pois na política energética e climática “quanto mais se aumenta a eficiência das máquinas, maior o incentivo para que sejam mais usadas, maiores mercados terão e o resultado é que o efeito e impacto agregados, ao invés de diminuir, aumentarão.”
Na contramão do consumismo, é necessário o resgate de propostas de simplicidade voluntária, dos valores do conforto essencial, da sobriedade, modéstia, simplicidade, da austeridade feliz proposta por Pierre Dansereau.
Frugalidade é sobriedade, temperança, parcimônia, simplicidade de costumes, de vida. Na sociedade ecologizada, a frugalidade significa uma mudança de consciência e de ação prática, abraçando valores por muito tempo esquecidos.
(*) Autor de Ecologizar, de Tesouros da Índia e de Ecologizando a cidade e o planeta. WWW.ecologizar.com.br mandrib@uol.com.br
No Brasil, a educação para a economia doméstica postulava valores frugais. Não devíamos deixar alimentos no prato, porque havia gente passando fome; não devíamos sair de um quarto sem antes apagar a luz; a torneira devia ficar aberta somente o suficiente, para não desperdiçar água. As roupas dos irmãos mais velhos eram aproveitadas pelos mais novos, assim como os livros escolares, que eram usados em anos sucessivos. Hortas, galinheiros e quintais complementavam o abastecimento alimentar.
O consumismo se impôs a partir dos anos 60, mas, já em 1968, movimentos alternativos questionavam a sociedade consumista. Em 1972, na Conferência de Estocolmo sobre o Ambiente Humano, o tema ambiental foi colocado na pauta. O início da década de 90 foi um período efervescente devido à Eco-92, aos avanços legais e institucionais, à mobilização da sociedade. No final dos anos 90 empresários começaram a buscar sustentabilidade e ecoeficiência, racionalizando processos de produção, ao mesmo tempo em que externalizavam para a sociedade seus custos ambientais e sociais.
Nos primeiros anos do século XXI, ocorreu a Rio+10, Conferência da ONU em Johanesburgo. Ultrapassamos os seis bilhões de habitantes. Foram definidas as metas do milênio; a Carta da Terra foi aprovada pela UNESCO; desenvolveram-se indicadores de sustentabilidade, tais como o da pegada ecológica; a Avaliação ecossistêmica do milênio indicou o colapso de sistemas de suporte da Terra; aprovou-se a implementação do Protocolo de Kyoto sobre mudanças climáticas. Forte onda de informações sobre as mudanças climáticas influenciou a percepção e a consciência de indivíduos, setores de atividades, nações. Produziram-se evidências de que são causadas pela atividade humana. Seus autores foram reconhecidos com o Prêmio Nobel da Paz.
O ano de 2007 foi especialmente intenso na divulgação de novos conhecimentos e na introdução da consciência ecológica em amplos públicos e segmentos sociais. Bilhões de pessoas perceberam que pertencem a uma espécie que provoca alterações no clima e no ambiente.
Gradualmente a economia abre-se à articulação com a ecologia. Gestores públicos aos poucos modificam sua cultura e internalizam valores e comportamentos ecologizados. Mas em 2008, contraditoriamente, há movimentos na contramão da economia ecológica e da prudência em relação ao clima: uma das respostas à crise financeira e econômica tem sido salvar empresas ineficientes e reduzir impostos para impulsionar o consumo.
O economista Herman Daly, voz respeitada pela sua sensibilidade ecológica, pergunta e responde: “O que está nos provocando a sistematicamente emitir mais CO2 na atmosfera? É a mesma coisa que nos leva a emitir mais e mais de todos os tipos de resíduos na biosfera, ou seja, nosso apego irracional ao crescimento exponencial contínuo num planeta finito sujeito às leis da termodinâmica. Se superarmos a idolatria do crescimento poderíamos avançar e perguntar questões inteligentes: “Como podemos desenhar e gerir uma economia estável, que respeite os limites da biosfera?”
Ele propõe, antes da busca pela ecoeficiência, valorizar a frugalidade em primeiro lugar, por meio de reforma tributária ecológica que onere o uso de recursos naturais. Assim, por exemplo, um imposto sobre o carbono provocaria, como resposta adaptativa a combustíveis mais caros, a eficiência e a redução de desperdícios. Onerar o uso de recursos naturais estimularia a frugalidade, refreando a demanda. Ele defende que primeiro se adote a frugalidade para então, como conseqüência, ter a eficiência. Pois na política energética e climática “quanto mais se aumenta a eficiência das máquinas, maior o incentivo para que sejam mais usadas, maiores mercados terão e o resultado é que o efeito e impacto agregados, ao invés de diminuir, aumentarão.”
Na contramão do consumismo, é necessário o resgate de propostas de simplicidade voluntária, dos valores do conforto essencial, da sobriedade, modéstia, simplicidade, da austeridade feliz proposta por Pierre Dansereau.
Frugalidade é sobriedade, temperança, parcimônia, simplicidade de costumes, de vida. Na sociedade ecologizada, a frugalidade significa uma mudança de consciência e de ação prática, abraçando valores por muito tempo esquecidos.
(*) Autor de Ecologizar, de Tesouros da Índia e de Ecologizando a cidade e o planeta. WWW.ecologizar.com.br mandrib@uol.com.br