segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Só falta a pá de cal

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Que estamos todos entregues às baratas, já sabíamos. Que o mercado mais lucrativo do mundo sempre foi a estupidez humana já sabíamos. O que não sabíamos até agora é que só falta a pá de cal e mesmo assim, as pessoas agem como se nada estivesse acontecendo.

Para se manter firme na mídia convencional, temos que fingir que nada está acontecendo. As previsões sobre o planeta, sobre as forças que sustentam as formas de vida na Terra, inclusive a nossa, são assombrosas, mas temos que fazer de conta que tudo vai bem no melhor dos mundos, como Leibniz.

Temos que fingir que as decisões corretas estão sendo tomadas. Dá vontade até de rir ao pensar nisso. Enquanto destruímos 42 campos de futebol em florestas por minuto, enquanto achamos que símbolo de sucesso econômico é construir, produzir, aumentar, vender, sem ver que isso só é possível via destruição, destruição, aniquilação e destruição. No final, deixaremos a Terra apenas à vida bacteriana, como previu Roegen. Quando nossa economia estará baseada em estoques e não em fluxos? Quando os economistas irão perceber que o território dos países não aumenta de tamanho e vai diminuir agora com o aquecimento global?

A crise, disseram alguns, pelo menos vai impedir maior destruição do meio ambiente. Outros, bem intencionados, disseram que é tolice preservar o meio ambiente às custas de um maciço desemprego, como se não pudéssemos optar: ou destruímos o meio ambiente ou mantemos um maciço desemprego. Em outras palavras: não dá para manter o emprego sem destruir o meio ambiente. Será? Se isso for verdade, acho que devemos aderir ao “kidsfree movement” (movimento sem filhos) que preferiu optar pela extinção voluntária da humanidade, ao invés de esperar pela extinção inevitável.

Nossa sina não pode ser essa. Ambos estão erradíssimos. Estão erradíssimos em dizer que não se ganha nada ambientalmente com a crise econômica, porque, de fato se ganha. O meio ambiente no modelo atual é sacrificado em prol dos tão propalados benefícios do sistema econômico, sempre submetido a crescimento exponencial, meta de todos os economistas sem exceção (na prática, essa visão é universal). Portanto, quando o crescimento desaparece numa crise econômica, isso até pode incomodar alguns, mas fato é que o meio ambiente agradece, pois diminui a velocidade com a qual transformamos a Terra em uma lixeira e o processo pelo qual tolamente insistimos em achar que a economia pode de fato ser maior que a Terra.

Deveria ser hora de pensar o que fazer a partir de então: recuperar a economia através do mesmo modelo destruidor do meio ambiente e acelerar o carro na direção do precipício que se avizinha cada vez mais ou mudar esse modelo de vez por todas? Será que não conseguimos dar emprego permanente, função permanente às pessoas que aqui estão e ao mesmo tempo preservar o meio ambiente para as gerações futuras? Se isso não for possível então estamos fritos. A resposta deveria ser: claro que é possível. Se cortarmos todas as gorduras das nossas mentes emburrecidas, se mudarmos todas as idéias estapafúrdias sobre comércio global, economia global, consumo e mundo empresarial, veremos que temos como fazer isso. Só não queremos fazer, por uma razão muito simples: somos egocêntricos demais para nos ocupar do próximo, somos cruéis demais para nos sentir obrigados a preservar a vida da Terra. Somos egocêntricos e arrogantes, essa é a raiz de todo mal. E pior, queremos mais, não importa quantos iates, fazendas, casas temos, mesmo que a maioria não tenha quase nada, nossa ganância não muda: queremos mais. Mesmo sabendo que a vida é curta, iremos ficar aqui apenas algumas décadas e que individualmente não temos valor algum, insistimos nesse modelo de sucesso. Somos a única espécie animal coisificada e isso é um horror, imagine os pingüins que lutam no frio extremo do pólo para sobreviver a um inverno glacial. Basta apenas dois deles naquela massa de indivíduos decidirem que o seu espaço material deveria ser 1000 vezes maior do que dos demais pingüins. Não se manteriam aquecidos e todos morreriam e é assim que todos morreremos. Em relação ao planeta nada será mais democrático que um colapso ambiental sistêmico.

O mais triste da crise global, que é uma crise de valores e uma repetição dos mesmos erros do passado, é que ainda não serviu para ninguém acordar para uma mudança real, exceto para aplicar a mesma dosagem de remédios que está envenenando o doente. Estamos caminhando para o apocalipse sem saber que em algum momento pode ser tarde demais para fazer algo. O pior de tudo é o exercício de lógica das mentes brihantes que nos guiam: “As crises sempre foram sucedidas por calmaria e nunca houve uma crise insuperável.” Chamar de crise o fato da humanidade ter decretado guerra contra o planeta Terra, guerra que jamais irá ganhar, é um eufemismo. Achar que uma crise insuperável jamais pode acontecer é o mesmo que dizer: “Nunca morri, portanto nunca morrerei.”

Parabéns a todos os economistas: a solução para o mundo é outra onda de consumismo, a mesma estúpida que houve nos Estados Unidos, onde 68 milhões de famílias possuem 190.000.000 casas. O tamanho das casas, para piorar, triplicou nas últimas décadas, apesar do número de pessoas por família ter caído de 10 para quatro. Ou seja: quanto mais estúpido o consumo, mais rica (e vulnerável) a economia, embora desapareça rapidamente a capacidade do planeta sustentar todas as formas de vida na Terra, inclusive a nossa (opa, nós somos uma forma de vida como outra qualquer e não uma divindade, desculpa ter que lembrar isso). Nunca sairemos dessa armadilha? E para quê ou para quem estamos fazendo isso, qual é o contrato social do crescimento? Que decisões os governos do mundo todo estão tomando para alterar isso?

Hugo Penteado

2 comentários:

Eduardo Neco disse...

Hugo, acredito que a propagação do American Way of Life que tanto seduz o mundo é um pouco responsável pela degradação do planeta e pela perpetuação da teoria que reza a cartilha do "ter mais para ser mais feliz". Conheço algumas pessoas que vão ao mercado a pé para economizar gasolina e poupar o "meio ambiente", mas que no fds ligam o motor de seus barcos de 30, 40 pés para sair pelo litoral próximo recolhendo garrafas e um punhadinho de sacolas de plásticos. E falam dessa atividade com orgulho, como se soubessem o que realmente fazem. Tá aí o American Way of Life: ter um monte de coisas inúteis, sem ter consciência do que fazer com elas...pura estupidez.

Eduardo Neco disse...

Hugo, acredito que a propagação do American Way of Life que tanto seduz o mundo é um pouco responsável pela degradação do planeta e pela perpetuação da teoria que reza a cartilha do "ter mais para ser mais feliz". Conheço algumas pessoas que vão ao mercado a pé para economizar gasolina e poupar o "meio ambiente", mas que no fds ligam o motor de seus barcos de 30, 40 pés para sair pelo litoral próximo recolhendo garrafas e um punhadinho de sacolas de plásticos. E falam dessa atividade com orgulho, como se soubessem o que realmente fazem. Tá aí o American Way of Life: ter um monte de coisas inúteis, sem ter consciência do que fazer com elas...pura estupidez.

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