segunda-feira, 30 de junho de 2008

Mercado Aberto - Polêmica sobre hidrelétrica chega à Espanha

Folha de S. Paulo
26/6/2008

Um representante das comunidades ribeirinhas do rio Madeira conseguiu "furar" a reunião anual do conselho de acionistas do Santander, na Espanha, no fim de semana passado, para fazer denúncia contra o licenciamento da usina hidrelétrica de Santo Antônio.

O espanhol Santander participa do consórcio vencedor que construirá as usinas e responde por 20% do financiamento das obras, orçadas em US$ 9 bilhões. Na reunião, a RedeBrasil, ONG presidida por Luis Novoa Garzon, professor da Universidade Federal de Rondônia, diz ter conseguido que Emilio Botín, presidente mundial do Santander, montasse uma equipe para avaliar as denúncias. Segundo Garzon, no projeto, o consórcio vencedor subestimou as indenizações e reduziu o total de famílias afetadas pela inundação para construção da barragem de 3.000 para 760.
Marcos Madureira, diretor de comunicação do Santander para a América Latina, afirma que o banco irá apurar as denúncias feitas por Garzon. "O Santander jamais permitirá que aconteça algo fora dos parâmetros legais," diz. "O banco se comprometeu a analisar essas questões."

Garzon também diz que o consórcio estaria fazendo pressão para que as famílias aceitem as indenizações. "Querem chegar ao Ibama com os acordos fechados para acelerar a liberação da licença de instalação da usina", diz Garzon. "O processo de licenciamento ambiental está sub judice e uma articulação desse tipo poderia direcionar as investigações."

A participação de Garzon no encontro anual se deveu a uma manobra entre acionistas do Santander que pressionam o banco a adotar uma posição socioambiental correta. Para isso, cederam seu direito a voz. O objetivo é não só forçar o banco a assinar os Princípios do Equador (que obrigam instituições financeiras a só liberar financiamentos a projetos ecologicamente responsáveis) como criar entre os acionistas uma consciência ambiental. Essa posição se reforçou com a compra do ABNAmro Real, que obedece a padrões da sustentabilidade. Com a aquisição, ainda não está clara qual será a política predominante, especialmente no Brasil. Em resposta, o Santander diz ter uma política socioambiental rígida.

O ABN tornou-se conhecido por ter uma das políticas mais rigorosas na concessão de crédito, recusando financiamentos a grupos cujos projetos apresentam problemas nos licenciamentos ambientais.

Os acionistas espanhóis teriam se surpreendido com as notícias, segundo Garzon. As intervenções dos ambientalistas estão na ata da reunião e Botín pediu ao secretário do conselho, Ignacio Benjumea, que separasse as posições de ONGs das considerações dos acionistas que levantam polêmicas sobre impactos do projeto.

Um comentário:

Ricardo Peres disse...

Tudo indica que o Sr. Fábio Barbosa saberá encaminhar essa frente. Ao menos essa é a expectativa de todo observador avisado que não mais se ocupa com opiniões, mas apenas os FATOS que apontam à realidade inequívoca da Amazônia, incluindo a necessidade imediata para que líderes no setor financeiro assumam o papél que lhes cabe. Afinal de contas, algumas pessoas ainda mantêm a sanidade que só a matemática e o bom senso pode trazer. Essa é a esperança.

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