sexta-feira, 13 de junho de 2008

ECONOMIA DOS EUA ESTÁ NO LIMIAR DA RECESSÃO


São Paulo, 13 - A economia dos Estados Unidos está no limiar da recessão, disse há pouco o economista-chefe e estrategista do Banco Real Asset Management, Hugo Penteado. No entanto, o foco do Federal Reserve deve se voltar daqui para frente para os riscos de inflação e a autoridade monetária poderá aumentar os juros já no segundo semestre deste ano, salientou o economista.

Os números do índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos, divulgados hoje, confirmaram a pressão crescente dos preços na economia. O CPI subiu 4,2% em maio ante maio de 2007, o nível mais alto desde janeiro. "A inflação nos Estados Unidos está ligada ao excesso de demanda global por commodities e a inflação das commodities deve continuar", avaliou ao AE Broadcast Ao Vivo.

A demanda por commodities vem principalmente da Ásia. Se China e Índia não desacelerarem o ritmo, os bancos centrais dos países desenvolvidos vão ter que apertar a política monetária. "China e Índia não mostram menor sinal nem de vontade nem de capacidade de desacelerar suas economias. Então, todo o esforço de resolver o problema de inflação global está recaindo sobre os desenvolvidos, como os Estados Unidos", disse. "Se até meados do terceiro trimestre as taxas de inflação continuarem se deteriorando, isso vai exigir uma resposta mais incisiva dos BCs, que levará a uma queda da atividade, o que no caso dos Estados Unidos é preocupante", disse.

Segundo Penteado, atualmente os países desenvolvidos enfrentam inflação alta com atividade fraca, enquanto os emergentes estão com inflação alta e atividade aquecida. Para o economista, a ação dos BCs este ano poderá levar a uma desaceleração da China e Índia no início de 2009, conseqüência de uma menor demanda dos desenvolvidos, que correspondem a 60% das exportações chinesas.

Um crescimento menor para esses dois países, segundo Penteado, seria um PIB em 7% ou 7,5%, "saindo do atual 10%". "A regra de bolso na China é a seguinte: se crescer abaixo de 6% estaria em recessão. A regra de bolso para economia mundial é que crescer abaixo de 3% seria uma recessão mundial As réguas de crescimento variam muito de país", explicou.

Penteado estima que os EUA crescerão 1% este ano e deve rever para abaixo sua projeção atual de PIB em 2% ou 2,5% em 2009, para 1% ou 1,5% por causa do problema inflacionário global.

Penteado acredita que a ajuda fiscal do governo norte-americano, com devolução de impostos aos contribuintes e os efeitos do ciclo de afrouxamento monetário agressivo promovido pelo Fed podem evitar o pior cenário para a economia. "As perspectivas para a economia estão acima da linha d'água, mas os riscos são para baixo".

O economista afirmou que o fim da crise nos Estados Unidos depende do fim da crise no setor imobiliário americano. "Mas o pior da crise imobiliária ainda não chegou e não existe resposta clara sobre o fim dessa crise", comentou.

FOMOS ATROPELADOS POR INFLAÇÃO GLOBAL

São Paulo, 13 - O Brasil tem sido surpreendido negativamente pela inflação, disse hoje o economista-chefe e estrategista do Banco Real Asset Management, Hugo Penteado. "Fomos atropelados pela inflação global. Tivemos uma deterioração aguda do IPCA. Isso cria dificuldade adicional para o BC", disse o economista ao AE Broadcast Ao Vivo.

Segundo ele, a inflação global, via commodities, é um dos argumentos para alta de juros no Brasil e deve afetar ainda mais a economia caso a China desacelere a partir de um aperto monetário nos países desenvolvidos. "O Brasil vai crescer menos, mas não será nada dramático", disse.

Para o economista, o Brasil deverá ter uma expansão de 5% este ano e 4,5% no ano que vem. Mas Penteado admite que por conta das surpresas recentes com a inflação, esse crescimento poderá cair para 3,5% ou 4% em 2009.

Penteado, no entanto, acredita que o BC tem a situação sob controle. "Com a ata divulgada ontem, ficou claro que o BC está satisfeito em manter o ritmo (de alta de juros)", avaliou. Penteado estima que o Copom elevará a Selic em doses de 0,50 ponto porcentual para 14,25%, mas essa aposta tem agora um "viés para cima".

O economista disse ainda que "não vale" no momento a discussão se o Banco Central ficou "atrás da curva" com a decisão de elevar a Selic em 0,50pp na semana passada para 12,25%. "O BC não tem que controlar os preços dos ativos no mercado internacional. A variável de controle da demanda interna, que ele tem enfrentado bem", avaliou.

(Luciana Xavier e Lucinda Pinto)
O áudio com a íntegra da entrevista estará disponível, em instantes, no seguinte endereço:
www.ae.com.br/broadcast/entrevistas

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