sexta-feira, 20 de junho de 2008

Adeus Amazônia e Cerrado e o debate do etanol...

Esse é um debate extenso. Minha postagem anterior foi sobre os riscos do etanol serem feitos de forma descuidada num país como o nosso, extremamente vulnerável por causa da fragilidade e da nossa dependência em relação a dois biomas, o Cerrado, que todo mundo esquece, e a Amazônia.

Durante os 8 anos do governo FHC e os 5 anos do governo LULA ocorreu 35% de toda destruição acumulada da Amazônia desde o descobrimento em 1500 até 2007. A destruição da Amazônia acelerou 2.985% durante o período FHC+LULA. Agora entra a demanda por alimentos do mundo todo que está vendo mudanças estruturais lado a lado com colapsos ligados a mudança climática e atrasos ecológicos. Adeus Amazônia e Cerrado, não será a primeira vez que a humanidade irá passar fome e passar por um enorme exôdo ambiental por conta de destruições dos biomas. A conquista da agricultura moderna atual tem um preço: o colapso novamente e dessa vez de forma bastante suicida. Não será a primeira vez que um país para se desenvolver terá acabado com suas florestas, Europa (destruiu 99,7%) e Estados Unidos (99%). A difernça entre os países que se desenvolveram antes com esse modelo suicida é que eles fizeram isso sozinhos e quando esgotaram tudo, continuaram importando via comércio global, onde também, o custo ecológico é nulo. Para os economistas uma árvore só tem valor quando derrubada ao chão.

Ricardo Peres, amigo e leitor, deu a seguinte contribuição para o debate que se abre: "Como todos os outros problemas correntes, trata-se de uma questão de escala, e não da cana-de-açúcar em si. A natureza pode e deve ser cultivada, desde que a biodiversidade não seja comprometida. Isso incorre em estratégias modulares, descentralizadas e não lineares de cultivo, onde os biomas podem ser preservados. Ainda, existe um lobby pesado do cartel do petróleo contra o etanol brasileiro que carece de mais atenção e análise mais rigorosa. Se por um lado é verdade que o etanol brasileiro precisa evoluir do ponto de vista socioambiental, por outro lado também é verdade que o etanol de cana é o único substituto viável para uma parte significativa do mercado do petróleo. Esse debate precisa de mais cuidado para que o equilíbrio dos processos seja estabelecido de forma a servir de referência e inspirar as práticas de cultivo sustentável, tanto no Brasil como no exterior. O Brasil já é uma referência tecnológica nesse setor. Agora deve almejar tornar-se a referência ética e sustentável do setor. "
Tudo isso é verdade, mas temos problemas de sustentabilidade apesar disso. O etanol não é gratuito como muitos pensam, brota de três recursos naturais finitos: água, solo e serviços ecológicos. O etanol dentro do modelo de crescimento mental falso dos economistas é apenas uma alavanca na direção do colapso. Pode ser minimamente considerado como uma solução bem paliativa, como uma aspirina para um paciente terminal. O que trouxe o etanol para a viabilidade financeira foi a elevação do custo do petróleo. A extração de petróleo na Alberta e no Alaska, às custas de desastres ambientais homéricos também foi alcançada pelo preço. O sistema de preços funciona assim: quanto mais viável for economicamente, mais inviável é ambientalmente. Nessa regra entra todas as novas formas de extrair petróleo (de areia, do fundo dos oceanos), da retomada do uso do carvão, os biocombustíveis, etc. O sistema de preços não detém o saque plantário e a rota suicida, ao contrário, acelera. É nesse contexto ainda que entrou os biocombustíveis. E o etanol.

Já em relação ao lobby do petróleo, eles não precisam de lobby nenhum, não há substituto para o petróleo até onde a vista alcance. Faltar petróleo também é difícil, não exploramos nem 1% da crosta terrestre. As medidas corretas deveriam ser imediatamente estancar crescimento econômico e populacional, atingir 100% de eficiência na produção, geração e consumo de energia, fazer uso de combustíveis que não carbonizam a terra, como nuclear, biocombustíveis, etc. até acharmos uma tecnologia descentralizada em larga escala a base do hidrogênio ou do sol. Os biocombustíveis e a energia nuclear não são a solução e sim a falta da solução.
A questão de falta de energia no modelo mental dos economistas - que o governo aplaude - é sempre na direção de precisamos produzir mais. No Brasil é ridículo pensarmos em construir usinas, quando podemos aumentar a oferta de energia em 90% apenas com ganhos de eficiência no consumo e com atualização tecnológica das linhas de transmissão e das linhas já existentes. Esse modelo de desenvolvimento de grandes obras é uma das maiores burrices humanas, se é que existe algum exemplo de inteligência em tudo isso que estamos fazendo e que já colocou a vida desse planeta na maior rota de extinção dos últimos 65 milhões de anos. Essa rota é perigosa, esquecemos com isso que todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos.
O segundo passo seria acelerar a transformação da produção centralizada em unidades individuais de produção de energia a partir de elementos veiculares (pessoas, carros, bicicletas) e das construções, incluindo moradias. O metrô da Inglaterra vai capturar o calor das pessoas nas estações para sua própria energia. Esse é o lobby maior a ser vencido: os governos têm que trabalhar para desconcentrar a produção de energia que ficam nas mãos de pouquíssimas empresas, desinteressadas em ajudar e mudar, apesar do risco iminente que estamos enfrentando.
O poder de alguns poucos vem do controle da energia e dos alimentos, mas o poder foi feito para servir e não para se servir dele. Uma sociedade humana sem poder está sendo gradativamente destruída, pois as pessoas na vasta maioria perderam sentido de viver, liberdade, bem estar, autonomia e conhecimento. O sistema sem as pessoas - e o meio ambiente - também será destruído. Isso é auto-fágico, espero que a elite iluminada que quer mudar o mundo sem mudar a si mesma, perceba que também faz parte de uma espécie animal ameaçada e que nessa rota, no futuro, não haverão vencedores. Espero que perceba isso a tempo: que o modelo dos países ricos e o modelo dos ricos da nossa sociedade é egoísta, depredador, suicida, anti-social, anti-econômico e precisa ser revisto. Não há sustentabilidade sem simplicidade e solidariedade.
Não dá para se dizer sustentável e ter casas que não usamos, carros que não usamos, bens que não usamos e riqueza que não usamos. Essa é uma questão ampla. O debate ainda não fechou. Espero que feche antes de nos tornarmos uma China totalmente poluída, sem luz do sol e sem céu azul.

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