Li certa vez, e isso alguém com mais tempo pode checar, que a existência do aqüífero Guarani depende do Cerrado. Guarani, o maior do mundo, já está bem contaminado, diga-se de passagem, pelos dejetos de uma agricultura moderna absolutamente insustentável, que tantos defendem. Li também - e alguém pode checar - que do Cerrado já foi destruído 57%. Washington Novaes está certíssimo: meio ambiente não é só Amazônia, na verdade é tudo.
Como esse dado é antigo, podemos falar em números maiores que 57%, uma vez que, caro leitor, a destruição da natureza é contínua e quando acordo nesse mundo que eu desacredito, meu primeiro pensamento é: "amanhecemos com menos natureza de novo, hoje."
Enquanto a natureza vai sendo devastada, vários intelectuais ficam chafurdando nas suas vaidades, muitas vezes confundida com cegueiras incomensuráveis, sempre em lugares bonitos, arborizados e protegidíssimos dos seus egos e das suas faculdades mentais, totalmente distantes das necessidades da vida desse planeta e sem proposta alguma viável que dê certo para deter o processo que nessa rota terminará com todos nós.
REPÓRTER ECO -- TV CULTURA/SP
domingo - 15/06/08
Cerrado
Washington Novaes, jornalista, é supervisor geral do Repórter Eco.
É muito preocupante que um dos primeiros atos do novo ministro do Meio Ambiente tenha sido o de excluir os proprietários rurais de 100 municípios do Cerrado onde está sendo mais forte o desmatamento da proibição de receber créditos oficiais, que fora estabelecida por portaria do Banco Central.
A alegação do ministro é de que esses municípios estão fora do bioma amazônico. E fica então a pergunta: quer dizer que no Cerrado pode Desmatar?
Mas onde fica o conhecimento científico de que é muito forte a inter-relação entre os biomas, que um depende do outro? Onde fica a informação de que o Cerrado contribui com parte importante das águas que correm na bacia amazônica? Ou o fato de que um terço da rica biodiversidade brasileira está no Cerrado? Ou ainda a de que 40% das emissões brasileiras que contribuem para mudanças climáticas provêm de queimadas e desmatamentos no Cerrado?
É tudo muito grave, quando se sabe que esse segundo maior bioma brasileiro já perdeu a vegetação em 800 mil quilômetros quadrados e perde mais 22 mil a cada ano. São muito poucos - menos de 5% dos fragmentos totais - os que têm possibilidade de sobreviver, com mais de 2 mil hectares contínuos.
Seria uma ilusão pensar que essa exclusão do Cerrado daquela portaria nada tem a ver com a expansão do plantio da soja e da cana, bem como das pastagens. Ela favorece claramente essa expansão desordenada, que deveria ser submetida a regras claras, como as que têm sido prometidas pelo governo federal mas não acontecem.
E será tudo ainda mais preocupante se se lembrar que o Ministério do Meio Ambiente continua a contar com recursos insignificantes, em torno de meio por cento do orçamento federal. E isso faz com que o Ibama, por exemplo, só tenha 400 fiscais para fiscalizar mais de um milhão e meio de hectares de unidades de conservação, reservas e outras áreas públicas.
Quando é que vamos levar a sério essas coisas?
Washington Novaes, jornalista, é supervisor geral do Repórter Eco. Foi consultor do primeiro relatório nacional sobre biodiversidade. Participou das discussões para a Agenda 21 brasileira. Dirigiu vários documentários, entre eles a série famosa "Xingu" e, mais recentemente, "Primeiro Mundo é Aqui", que destaca a importância dos corredores ecológicos no Brasil.
Um comentário:
Hugo, o q eu sei é q nascentes de vários rios q abastacem o sudeste e o nordeste estão localizadas no cerrado. As três maiores bacias hidrográficas da América Latina recebem águas do Cerrado. A bacia amazônica (Araguaia-Tocantins) tem 78% de suas nascentes no Cerrado.
A bacia do Paraná-Paraguai é formada por 48% de suas nascentes no Cerrado, enquanto a bacia do São Francisco dispõe de quase 50% de seu volume de água proveniente do Cerrado. Conhecido como "berço das águas", o Cerrado possui uma malha de nascentes, córregos e rios de fundamental importância para o país.
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