sexta-feira, 20 de junho de 2008

Cenário externo & doméstico, um resumo

A crise do setor imobiliário começou em abril de 2006. Até agora sem fim à vista. A crise do subprime começou em fevereiro de 2007. Ambas foram consideradas pelo FED incapazes de abalar a economia e o mercado financeiro. Errou. A relação entre ciclo imobiliário e econômico dos países desenvolvidos é muito estreita para não haver contaminação, isso era apenas uma doença com uma incubação longa, até o sintoma aparecer. Em novembro de 2007 os reguladores obrigaram os bancos a trazer estruturas financeiras fora do balanço para dentro. As perdas foram expressivas, a ponto de meses depois terem revogado a precificação a mercado desses ativos. Por isso em novembro de 2007 começou o abalo dos mercados acionários globais, com perdas acumuladas desde então. O setor imobiliário atingiu a economia de cheio – e vai continuar atingindo – quando em dezembro de 2007, pela primeira vez na história dos EUA, os preços dos imóveis caíram nacionalmente.

A crise econômico-financeira dos EUA rapidamente atingiu a Eurolândia, o Reino Unido e o Japão. A Bovespa ignorou o tremor e é hoje a única bolsa do mundo que acumula ganhos no período de novembro/07 a junho/08. Motivo: nosso trem agora não são os EUA, mas a Chíndia. Apesar da crise dos países desenvolvidos, a Chíndia não mostrou sinais de desaceleração, mantendo demanda alta por commodities, aliadas a restrições de oferta na área do petróleo, papel e celulose, alimentos, mineração e siderurgia. Quase 50% do Ibovespa está ligado a commodities. Apelidamos esse cenário de descolamento parcial, onde a recessão branda nos EUA não produziria uma recessão no mundo. Bom para a bolsa: abril e maio registrou quase 20% de valorização.

Agora tudo mudou: a não desaceleração da Chíndia determina uma dinâmica de crescimento forte do resto da Ásia emergente e da América Latina, que é exportadora líquida de commodities. A Chíndia, por sua vez, é a principal responsável pelo aumento de demanda mundial por commodities e isso explica a inflação global persistente. A reviravolta dos números de inflação foi no mundo todo: acabou o período de crescimento acelerado com inflação moderada. No Brasil, o IPCA, projetado em 4,3% no início do ano, agora está em 6,1% para 2008. IGPM idem, foi revisto de 4,5% para 10%.

A surpresa negativa da inflação global colocou em xeque as políticas monetárias frouxas dos países ricos para socorrer suas economias fragilizadas. Temos agora um cenário apelidado de estagflação falsa, no qual a inflação global manterá commodities em alta no 2S08. O esforço de desinflar as commodities não recairá sobre a Chíndia, países que não têm nem vontade nem instrumento de política eficaz para isso. Esse esforço recairá sobre os países ricos e temos dois cenários possíveis: alta de juros para produzir menor crescimento e demanda por commodities e forçar queda nos preços no 1S09 ou queda da atividade por conta das crises no 2S08, eliminando a necessidade dos bancos centrais dos EUA, Eurolândia e Reino Unido elevarem as taxas. Em qualquer um dos cenários, estamos frente a frente com uma economia global mais fraca e com queda dos preços das commodities. Ruim para bolsa, porque ela deve antecipar?

Finalmente, por falta de espaço, não falei de estagflação verdadeira via choque de oferta clássico e o risco de guerra entre Israel e Irã... fica para a próxima, mas isso é incerteza e mercados não precificam incertezas, bem como questões de longo prazo.

Um comentário:

Maurício "ToNTo" Clauzet disse...

ala aeh Hugo.
Muito legal o blog, tá aqui anotado.
Assinei ele em RSS, se não souber o que for pergunte para a sua amiga, hahaha.
Abrazo

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