quarta-feira, 18 de junho de 2008

Etanol: trabalhando para o fim do mundo, também

Brasil é exemplo de desvantagem do etanol


A experiência do Brasil com o etanol pode servir como um exemplo para o mundo das desvantagens apresentadas pela suposta "revolução energética" criada pelos biocombustíveis, segundo uma análise publicada pelo jornal britânico The Independent nesta terça-feira.

O jornal diz que apesar de os biocombustíveis serem quase irresistíveis aos políticos que querem ser vistos como preocupados com os efeitos da mudança climática, a produção do etanol no Brasil tem, no fim das contas, um efeito negativo no combate ao problema porque tem gerado desmatamento e poluição.

"A indústria do etanol no Brasil está ligada à poluição do ar e da água em uma escala épica, ao desmatamento da floresta amazônica e da mata atlântica e à destruição da savana na América Latina", diz o vice-editor de assuntos internacionais do jornal, Daniel Howden.

Segundo o Independent, as conseqüências da "modesta redução" provocada pelo etanol na emissão de dióxido de carbono nas ruas das cidades brasileiras podem ser vistas nas "gigantescas cicatrizes das plantações de soja na Amazônia" e nas "nuvens negras dos campos de cana-de açúcar em chamas".

O jornal diz que o efeito final do etanol no combate às emissões que provocam as mudanças climáticas é negativo. "Apesar dos níveis modestos de industrialização na maior nação da América Latina, o Brasil passou a ser o quarto país do mundo em emissão de gases de efeito estufa", afirma o Independent.

Segundo o jornal, isso está sendo causado por um desmatamento desenfreado, um fenômeno que, por sua vez, segue os passos do aumento no preço dos produtos agrícolas. "Enquanto os preços dos produtos usados na produção de biocombustíveis aumentavam nos últimos 18 meses, as taxas de desmatamento quebraram todos os recordes", afirma o jornal.

O Independent diz que, ao mesmo tempo em que o mundo acorda para as ameaças da mudança climática, "incentivos perversos causam um ataque aos pulmões do planeta". Howden diz que o ambientalista brasileiro Fábio Feldman, que ajudou a passar a lei estipulando o mínimo de 23% de etanol a ser adicianado a todos os combustíveis, está agora preocupado com o legado da decisão.

"Algumas plantações de cana-de-açúcar são do tamanho de países europeus - essas monoculturas imensas têm substituído ecossistemas importantes", diz Feldman, segundo o jornal. O jornal conclui dizendo que a razão pela qual o argumento de que o mundo pode "plantar" o combustível que precisa parece muito bom para ser verdade é porque realmente é muito bom para ser verdade.

fonte: BBC Brasil

Um comentário:

Ricardo Peres disse...

Como todos os outros problemas correntes, trata-se de uma questão de escala, e não da cana-de-açucar em si. A natureza pode e deve cultivada, desde que a Biodiversidade não seja comprometida. Isso incorre em estratégias modulares, descentralizadas e não lineares de cultivo, onde os biomas podem ser preservados.

Ainda, existe um lobby pesado do cartel do petróleo contra o etanol brasileiro que carece de mais atenção e análise mais rigorosa. Se por um lado é verdade que o etanol brasileiro precisa evoluir do ponto de vista socioambiental, por outro lado também é verdade que o etanol de cana é o único substituto viável para uma parte significativa do mercado do petróleo. Esse debate precisa de mais cuidado para que o equilíbrio dos processos seja estabelecido de forma a servir de referência e inspirar as práticas de cultivo sustentável, tanto no Brasil como no exterior. O Brasil já é uma referência tecnológica nesse setor. Agora deve almejar tornar-se a referência ética e sustentável do setor.

Colaboradores