segunda-feira, 19 de maio de 2008

Países ricos sugadores de países pobres como o Brasil

Existe uma confusão enorme sobre dados de florestas, porque há um foco apenas no fluxo (taxa corrente de destruição) e nunca no estoque, mas isso é puramente ideológico. Estados Unidos e Europa destruíram a quase totalidade das suas florestas naturais. Estados Unidos e Europa só mantém seu progresso e seu crescimento porque continuam sugando recursos naturais de outros lugares do planeta onde ainda eles existem, do contrário já teriam vivido o seu próprio colapso ambiental civilizatório, ao invés de exportá-lo continuamente para todos os cantos do planeta, tendo criado pela primeira vez na história da humanidade risco de colapso ambiental global - e não mais local como outras civilizações viveram.

Essa ideologia diz que os países hoje que mais destroem florestas são os países pobres e atrasados como o Brasil. Solução: enriqueçam os países pobres. Nada poderia ser mais cego que isso e falha no principal: criticar o modelo per se das nações avançadas, que por sinal, jamais será possível ser atingido por todos, antes disso o planeta pára de sustentar todas as formas de vida, incluindo a nossa. Somos tão dependentes da natureza como todo sempre, nossos corações só batem porque há um ser vivo na Terra que aprisiona a luz do sol, outros pequenos seres que produzem o oxigênio que respiramos, até as abelhas, sem elas não teríamos a comida nos nossos pratos.

Nossa atitude depredatória em relação à natureza não mudou em absoluto, é milenar, a única diferença atual é nosso ganho de escala e o comércio global para satisfazer os interesses de nações que de outra forma não seriam capazes mais de se sustentar social e ambientalmente. Aí devemos incluir a China, que perde 700.000 hectares de solo fértil todos os anos por conta da enorme pressão de ter que alimentar 22% da população mundial com apenas 7% da terra arável disponível do mundo. O governo chinês já está financiando e estimulando os produtores a comprar terras estrangeiras, afinal os seus governantes lembram bastante bem da grande fome da década de 70 no qual uma população equivalente a do México inteiro (70 milhões) morreram de fome. A segurança alimentar da China está cada vez mais vulnerável. Quando lembro que a água é um recurso finito (não aumenta de quantidade, isso vale para o solo também) e que nem toda água é renovável, porque não possui taxa de reposição fico alarmado, porque a demanda pela água e pelo solo é sempre crescente. A cada dia adicionamos 200.000 pessoas no planeta, já descontados os mortos, por ano são 8 milhões na China a mais, para ter uma idéia de magnitude, os Estados Unidos adicionam quase 3 milhões e o Brasil 1,5 milhão.

Os países muito populosos e muito ricos são os que deixaram bem evidente o conflito com o planeta e são sistemas inviáveis, cujo desastre é exportado hoje para o resto do mundo. O Brasil entrega sua natureza de mão beijada, comemorando, como se isso fosse um suposto bem para o país e para os brasileiros. Ao invés de entrar no discurso criticando o modelo econômico cego dos países ricos que está sendo copiado e que reduziu a probabilidade da humanidade escapar da sua própria extinção em 50% até o fim do século XXI. A maior ameaça do aquecimento global não é a elevação do nível dos oceanos, mas o fim da água. Estamos copiando os mesmos erros daqueles que chegaram na frente desse progresso que ocorreu às custas da vida na Terra e das gerações futuras. Não é à toa que o planeta está hoje no maior processo de extinção da vida dos últimos 65 milhões de anos.

O progresso dos países ricos e da China desapareceria imediatamente se fechássemos os portos dos seus países para todos os recursos que importam, sejam em bens finais ou em matéria bruta. Queria ver os Estados Unidos parando de produzir energia poluidora no México para se abastecer. Queria ver os países ricos colocando nos preços da gasolina o custo da poluição, mortes humanas e fim da estabilidade do clima. Queria ver eles todos manterem seu progresso com os portos fechados para materiais que os economistas teimam em dizer que não são nada relevantes, porque representam muito pouco do custo econômico. Desde quando a relevância é função direta do seu custo? Aplicamos a mesma regra monetária para questões físicas que aplicamos à sociedade e por isso a liberdade de cada um é diretamente proporcional ao nível de renda. A regra monetária acima de tudo, não a regra do bem estar, da solidariedade, da liberdade.

Se isso não mudar o quanto antes, será tarde demais descobrir que não poderemos comer dinheiro.

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