sexta-feira, 30 de maio de 2008

Como salvar a Amazônia

Andrea Augusto, uma das minhas leitoras, com toda razão pediu para eu colocar um post sobre como salvar a Amazônia.

Uma solução é mudar nosso modelo mental para mudar nossa atitude. Diminuir nossa ignorância sobre o estrago é a forma de mudar nosso modelo mental. Por isso primeiro precisamos mostrar o estrago, porque o tirano só tem poder com a ignorância de todos. Outra atitude fundamental é entender que quem destrói a Amazônia somos NÓS. Nós comemos carne em churrascarias às custas da destruição, nós compramos produtos sem perguntar a procedência. Nós votamos em políticos que não estão nem aí para essa devastação. Basta lembrar que nos governos FHC e LULA, durante meros 13 anos, ocorreu 33% de toda a destruição acumulada desde 1500. Somos nós os culpados. Vamos parar de apontar o dedo, vamos consumir certo, vamos reduzir o consumo, vamos votar melhor. Vamos cobrar.

Infelizmente saber esse horror que me tira o sono é fundamental. A primeira coisa que lembro quando acordo é que temos menos natureza no planeta, destruímos 42 campos de futebol em florestas no mundo a CADA MINUTO!!!! Quantas pessoas se dão conta dessa destruição contínua na Amazônia aqui no Brasil e no mundo? Quais pessoas sabem que isso é uma ameaça contra a humanidade e que não é a natureza que está sendo destruída e sim nós? QUASE NENHUMA. Qual é a importância que os empresários e nossos governantes dão para isso? NENHUMA. O governador do Mato Grosso, Blairo Magi, disse que para resolver o problema da fome do mundo é preciso desmatar e acabar com a Amazônia. Parece ignorar que se fizermos isso, aí sim, iremos todos morrer de fome, como podem inverter tanto a lógica? A produção de alimentos depende de serviços ecológicos que o ser humano não produz, sem eles iremos morrer de fome e de sede. Essa será a consequência dessa pressão sobre as florestas que sobraram e sobre o planeta. Nós estamos ameaçados, não a natureza. Somos totalmente dependentes da natureza.

Em primeiro lugar, quem disse que o Brasil é responsável pela fome do mundo e deve ser o celeiro do mundo às custas de sua natureza, sem trazer quase benefício algum aos brasileiros? Cada país que resolva seus problemas com seus recursos locais e pare de exportar seus colapsos ambientais para todo o planeta via custo zero do comércio global, como fazem a China, a Índia, os países ricos. E a fome precisa antes de mais nada ser resolvida com redução do desperdício (1/4 dos alimentos nos países ricos e em São Paulo terminam no lixo). Se há fome é porque falta produção de alimentos; se há falta de energia, é porque faltam hidrelétricas. ERRADO. SE há fome é porque há desperdício, má distribuição, corrupção e excesso de gente. SE falta energia é porque há desperdício, corrupção, concentração da fonte de energia em poucas empresas e total ineficiência. Nós não precisaríamos construir nenhuma usina hidrelétrica, mesmo mantendo esse modelo maluco de crescimento contínuo num espaço finito com a Terra somente através de ganhos de eficiência (50%) e de atualização tecnológica (mais uns 40%), segundo Washington Novaes e estudos da Unicamp. Mesmo assim, alguém tem que responder como pensa obter incrementos de 80% da oferta de energia a cada década e infinitamente. Quando suficiente é suficiente?

Precisamos urgentemente mudar nosso modelo mental. SE o sistema está todo voltado para deixar os ricos cada vez mais ricos (de cada 100 dólares adicionados à riqueza do mundo só 60 centavos chegam aos mais pobres, de acordo com a NEF - News Economics Foundation), não há como sermos sustentáveis. Precisamos de um sistema voltado para manter o progresso, preservar nossos laços com o planeta do qual dependemos e manter as gerações futuras. Nesse caso temos uma meta maior do que apenas dar benefícios para os que já os têm.

Isso não tem nada de marxista, quem dizia isso eram os neoliberais neoclássicos, que deram a formulação teórica do imposto sobre grandes fortunas: para que se atinja o máximo de bem estar coletivo é necessário que tenhamos o máximo de igualdade social possível. Precisamos de mecanismos menos invisíveis que produzam isso. Nas mãos do mercado será obtida uma desigualdade cada vez maior inerente ao sistema econômico e com isso haverá uma tendência de esfacelamento das democracias, quando as decisões políticas são voltadas para interesses particulares e contrárias ao bem comum e à toda sociedade. Corremos o risco de virar uma plutocracia atendendo interesses nada magnânimos. Corremos?

quinta-feira, 29 de maio de 2008

O que vc deveria saber sobre a Amazônia e não sabe...

  1. a cada 5 ou 14 segundos desaparece um campo de futebol da Amazônia e o ritmo tende a aumentar quanto maior é o crescimento econômico (existe uma estreita correlação entre taxas de crescimento do PIB e o ritmo de devastação).
  2. tudo indicava que os dados de 2007 iriam quebrar essa correlação com o crescimento econômico, mas foram fortemente revisados para cima pelo INPE, essa informação não está disponível e a divulgação foi adiada.
  3. já destruímos no total 740.000 km2 em florestas, essa área é maior que o território da França que tem 540.000 km2. Ou seja, a destruição da Amazônia já é bem maior que a França inteira!
  4. os 8 anos do governo FHC (152.000 km2) e os 5 anos do governo LULA (96.000 km2) foram responsáveis por 33,4% de toda essa destruição, isso em apenas 13 anos!!!!!! A taxa média anual de destruição do governo FHC foi menor que a do governo LULA.
  5. No governo LULA desapareceu uma área quase igual ao estado de Pernambuco (100.000 km2).
  6. 88% dessa área destruída virou deserto!!!!
  7. 95% da madeira produzida no Brasil é ilegal e predatória e 88% dessa madeira é consumida pelos brasileiros nos centros urbanos.
  8. ÚLTIMO, não MENOS importante: a ÁGUA da região sudeste (95% dela) depende da existência da Amazônia. Sem Amazônia, os primeiros a perder somos nós, os brasileiros.

Abaixo tabela com os dados compilados com base no site do INPE.

para melhor visualização, clique na imagem abaixo





quarta-feira, 28 de maio de 2008

We should be China!

A small comment about huge pollution in China

Some days ago, I sent a Time´s article about 6% of all babies in China with deformities because of pollution (the world rate is 0,1%, if I am not wrong...). Now this article below describes the problem with a polluted Olympics. Please, read it.

My clients always ask me why Brazil is not like China, growing so fast. Our president also envies China. And high rates of growth in China is considered a blessing to the world economy. I can not avoid being ironic here: we should be China. China is trying to be Europe and US. First step we need to destroy Amazon forest entirely, like they did. That stupid and useless forest encompasses 61% of Brazilian territory, it is too much, but we are being very successful in this area. Great!

Second step, we have to grow forever and pollute everything, like they did. Economists declare that a tree only can be valued when is changed into logging activities and wood. Great. What we are waiting to log the whole Amazon forest? After this, we can try to reforest and get carbon credits and sell in the international market... A small problem would be a similar situation that Europeans, Australians, British, Japanese and North-americans faced: they were not able to recover their forests or what they lost and need from Nature. They started to buy from other places, like Brazil and Africa. Great, but for us, we are not rich for that and there is no other Brazil to continue to buy the Nature we lost. Africa already belongs to China. Forget it. But, why be worried? We first create the problem, later we try to find a solution that will be always profitable, of course.

written by Hugo Penteado
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Beijing Pollution Registers `Hazardous' With Olympics Nearing
2008-05-28 02:20 (New York)

By Wing-Gar Cheng
May 28 (Bloomberg) -- As the Olympics countdown clock in Tiananmen Square ticked down to 73 days yesterday, the pollution reading in Beijing climbed to ``hazardous.'' Smog in the capital city -- stoked by dust blowing in from other provinces -- reached a level yesterday that Beijing's
authorities bracketed in the second-worst of eight categories. The International Olympic Committee has threatened to postpone events if athletes are at risk from pollution during the Aug. 8-24 Games. Beijing's environmental agency issued a health warning because of yesterday's haze, raising further doubts about the prospect of clean air at the Olympics. ``People who are vulnerable should avoid outdoor activities, and relevant industries should take note and avoid creating more particle matters,'' Beijing's environmental protection agency said in a statement yesterday. ``The relevant departments must also clean roads in a timely manner to avoid more pollution.''

For all Beijing's plans to limit traffic and stop building, inaction from neighboring provinces is hampering its efforts to curb pollution, officials said. Much of the gunk that smothered the city yesterday came from Inner Mongolia and sandstorms from other regions, the agency said in the statement. ``Beijing has neglected to take a regional approach in controlling pollution,'' Wen Bo of Pacific Environment, a U.S.- based environmental group, said in Beijing today. ``The city will have to implement stronger short-term measures.'' 400 Over Target Beijing's pollution reading at the Olympic zone yesterday reached 500 -- five times the city's benchmark. By its own scale, that represented ``heavily polluted'' air.

The state environmental monitoring center recorded air quality for the city as ``hazardous,'' according to figures released by state news agency Xinhua. While today's reading was forecast at between 130 and 160, visibility in central Beijing remained restricted. World record holder Haile Gebrselassie of Ethiopia won't race the marathon at the Olympics because he fears for his health. As many as 25 percent of Olympic athletes suffer from asthma, like Gebrselassie, according to team doctors.

Beijing has spent 120 billion yuan ($17 billion) on measures to improve air quality. From July 20, the city will cut almost half the cars from the roads, limit production at factories and halt construction. Vice Mayor Ji Lin said in March: ``You can be assured of clean air in August.''
Editors: Grant Clark, Dan Baynes
To contact the reporter on this story:
Wing-Gar Cheng in Beijing at +86-10-6535-2311 or
wgcheng@bloomberg.net
To contact the editor responsible for this story:
Grant Clark at +65-6212-1101 or gclark@bloomberg.net

terça-feira, 27 de maio de 2008

Deus perdoa sempre. Os homens raramente. A natureza nunca.(autor desconhecido)

Malthus está se provando certo... esse comentário me remeteu a outra idéia que queria escrever aqui. Em primeiro lugar, crescimento populacional contínuo num planeta finito é parte do problema, a outra parte é nosso materialismo, que cresce seis vezes mais rápido que o crescimento populacional. Somos os únicos bichos exossomáticos, que vivemos com coisas fora do nosso corpo (exo, fora, soma, corpo). Mesmo que o tamanho da população estanque, isso não significa que não teremos maiores desafios. Aí vejo o pessimismo da Cláudia Chow bem justificado. Se os chineses atingirem o nível de consumo per capita dos asiáticos, mesmo nesse caso, eles irão consumir nesse momento a produção mundial de quase tudo. O nível per capita dos asiáticos é superior ao dos chineses, que são na média muito pobres e muito, mas muito inferior ao dos europeus, britânicos, europeus e estadunidenses. Não há a menor possibilidade da China atingir o nível de consumo per capita dos países ricos, declarou os analistas do Barclays em uma palestra em Londres que deixou os investidores ouvintes atônitos. Os desafios só aumentam... quando começamos a analisar mais profundamenta a encruzilhada na qual a humanidade está.

Malthus errou não porque preveu mais a capacidade de aumentarmos a produção de alimentos para atender demandas esganiçadamente maiores. Ele dizia que a produção de alimentos crescia numa progressão aritmética e a população numa produção geométrica. A produção na verdade cresceu mais do que o necessário para atender as populações cada vez maiores e a teoria malthusiana fracassou, caiu em descrédito. Mas é Nicholas Georgescu Roegen que faz o resgate, também contrário às idéias de Malthus. Segundo Rogen, Malthus não errou porque não previu a capacidade de aumentar a produção de alimentos de acordo com o tamanho da população, Malthus na verdade errou ao dizer que a população humana poderia crescer sempre, desde que crescesse muito devagar. Ou seja, as populações humanas poderiam aumentar infinitamente, desde que respeitassem o crescimento devagar dos alimentos...

Meu amigo Márcio Jappe me falou de uma teoria que preciso estudar: quanto maior a oferta de alimentos, maior a população. Sei que é uma armadilha dizer isso, difícil inverter a relação, mas isso quer dizer que a transformação de natureza, animais e vegetais em seres humanos é um processo que se possibilitou, que se viabilizou até agora, mas isso não significa que não irá sofrer um revés tremendo. Deve sofrer, por conta do que significa isso para o equilíbrio planetário. O que está acontecendo agora é que estamos atingindo esse limite que nós infringimos, mas isso não significa que a teoria malthusiana estava certo. Ela nunca esteve, pelo motivo exposto por Roegen e beira o argumento idiota do Julian Simon que dizia que a humanidade poderia ser um trilhão de pessoas. Pode, igual as células cancerígenas e as cepas de vírus. É de alarmar que um opositor do planeta, o Bjorn Lomborg, um estatístico que resolveu dar palpite no conhecimento das ciências da terra, acabou se convertendo nisso que ele é hoje após ler um livro de Julian Simon. Julian Simon, Malthus e Lomborg têm todos algo em comum: a litania do eterno crescimento, do desmazelo com o simples fato que somos e sempre seremos eternamente dependentes da natureza.

Carta aberta ao presidente Lula

Prezado Presidente Lula,
Já escrevi no site do Palácio do Planalto mas não obtive resposta. Até pedi uma audiência, esperava ter a chance de falar com o senhor coisas diferentes que os economistas tradicionais devem falar toda hora em Brasília. Eles sem perceber quanto mais pregam a sua ladainha, mais as coisas pioram. E quanto mais as coisas pioram, mas eles insistem na ladainha, é como um cachorro correndo atrás da própria cauda. Quando os problemas não estão resolvidos, precisamos de mais crescimento, eles dirão com toda convicção. Precisamos mudar essa visão míope do mundo, onde as externalidades são ignoradas, adiadas, jamais revistas. Onde os problemas ambientais e sociais não são parte da equação dos economistas. Onde a única coisa que importa é o crescimento econômico medido por uma métrica completamente errada, como o PIB. Onde não se discutem indicadores sociais de forma clara. Número de emprego não quer dizer nada, é óbvio que crescimento econômico mobiliza a mão de obra à disposição, mas isso não significa que essas pessoas vivem melhor, mais livres e mais plenas. E se o crescimento sumir, a mão de obra está dispensada. Quantos nesse modelo conseguem ter casa própria, independência, liberdade ao invés de submissão, medo e trabalho maçante sem evolução de conhecimento? A vasta maioria senão quase todos.
Estive com o senhor no debate do Estadão em 2002 e perguntei se o Brasil seria capaz de promover um modelo diferente dos países ricos, pois esse modelo só causou destruição do emprego, concentração de riqueza extrema, esgarçamento da natureza e guerras. Lembro que a resposta dirigiu à Amazônia, porque eu lembrei que os Estados Unidos e a Europa destruíram a quase totalidade das suas florestas. O problema está no modelo em si mesmo e ele precisa ser modificado e os economistas, infelizmente, não só não sabem como resolver o problema, como ignoram os conhecimentos da física moderna e desconhecem completamente os limites físicos intransponíveis da produção e do crescimento econômico, ainda visto como panacéia para todos os nossos males no mundo inteiro. São vários institutos importantes que revelam isso há mais de 40 anos. De cada 100 dólares do crescimento econômico mundial, só 60 centavos contribui para reduzir a pobreza mundial. Os resultados do crescimento são inequivocamente contraditórios e não deveria jamais ser uma meta em si mesma e nem deveria ser mensurado da forma que é.
Na verdade o planeta inteiro é um santuário, não só a Amazônia, e isso inclui todas as cidades, o meio ambiente e nossa dependência em relação a ele. Tudo e toda toda forma de vida é um santuário. O milagre inexplicável da vida de todos os seres vivos extremamente interligados é um santuário ou dá para ignorar que o meu coração e o de todos só batem porque há um ser vivo na Terra que armazena a luz do sol? Ou dá para ignorar que a comida chega no nosso prato por causa das abelhas? Ou mesmo ignorar que nossos pulmões se enchem de ar graças ao fitoplâncton dos oceanos? Esses e tantos outros elos são importantes para lembrar que somos uma espécie animal como outra qualquer, totalmente dependentes da natureza e que apesar de toda a maquinaria e parafernália que inventamos, continuamos dependentes e vulneráveis aos caprichos da natureza como todo sempre. Ignorar isso tem sido o nosso maior erro.
Realmente, os países ricos destruíram tudo e só não atingiram um colapso ambiental porque continuam tirando recursos de outros lugares do mundo. Mas isso de forma alguma significa que podemos fazer o mesmo com o planeta, porque simplesmente não podemos, se insistirmos nesse erro, iremos todos perecer e sem exceção, porque num futuro assim não haverão vencedores. Por exemplo, a floresta amazônica é a base de praticamente todos recursos hidrícos da região sudeste brasileira, ela não é um santuário apenas para o mundo, mas principalmente para nós brasileiros, pois ela é um recurso sem o qual a região mais desenvolvida e povoada do Brasil irá se transformar em um deserto, sem pessoas e coisas, sem nada, porque sem água não fazemos nada.
A água, embora os economistas ignorem isso, é um recurso finito e não totalmente renovável, porque grande parte das águas que usamos não tem taxa de reposição. O solo também é finito. Até os dias de hoje conseguimos ignorar a finitude na extração dos demais recursos porque eles eram e são praticamente infinitos, como metais, petróleo, minerais etc. Por um motivo muito simples: a espécie humana não explorou nem 1% da crosta terrestre ainda. Na verdade, o planeta nunca foi uma restrição como fornecedor de recursos, mas sim como absorvedor do impacto das nossas atividades crescentes. Como nenhum custo ambiental dessa sangria de recursos poluidores e esfaceladores de ecossistemas inteiros é colocado no preço, seguimos inundando a Terra com nossa produção sem ninguém arcar diretamente com nenhum custo. Óbvio que esses custos aparecem e pressionam as contas públicas, ainda mais agora que atingimos a estratosférica cifra de quase 7 bilhões de pessoas cada vez mais sugadoras do planeta, onde em um ano produzimos mais bem e serviços do que em 100 anos. As externalidades não são mais invisíveis e acabam se tornando uma questão ética, moral e humana urgentíssima.
Já em relação ao solo e água que são finitos, não tem como escamotear a pressão da demanda mundial sobre eles, tanto na produção de alimentos quanto de energia e biocombustíveis. Esses são um dos pontos dos 1700 cientistas e mais de 100 prêmios Nobel que assinaram um alerta para a humanidade em 1992 e uma das medidas preconizadas por eles era o imediato estancamento do crescimento populacional. Naquele ano a população era mais de 5 bihões, hoje é de quase 7 bilhões. A cada dia a população mundial aumenta 200.000 pessoas já descontados os mortos. Alguém ainda vai ganhar um prêmio nobel ao lembrar que o território dos países é finito e que os seres humanos não são nada imateriais. E mesmo que consigamos obter uma fonte infinita de energia neutra, não tem como obter matéria infinita porque solo e água são e serão sempre finitos.
Os habitantes da Amazônia e de todos os lugares demandam cada vez mais bens e serviços, mas isso não pode se dar num planeta territorialmente finito e ecologicamenve vulnerável, infelizmente essa é a verdade. A China jamais irá atingir o nível de desenvolvimento dos países ricos, não há recurso para isso, a melhor forma de atender as demandas é dentro de um modelo totalmente diferente daquele observado nos países ricos. Temos que começar cortando o crescimento de coisas e pessoas, trabalhando em cima de estoques e não em cima de fluxos, respeitando os limites da Terra e não fazendo de conta que eles não existem. Depois precisamos reduzir a concentração de riqueza e o consumo, tornando o sistema muito mais eficiente e sem desperdícios. É incrível saber que a maior queda de mortalidade e desnutrição infantil na Europa ocorreu durante as duas grandes guerras, pois a eficiência foi ao máximo e a corrupção cortada na raiz. Com muito menos eles conseguiram muito mais. A regra que precisamos de mais quantidade para ter mais qualidade é totalmente errada. O mais nem sempre significa mais, ao contrário, significa menos: menos saúde, menos bem estar, menos paz, menos liberdade.
Devemos lembrar que o ser humano infelizmente não produz nada, não produz nem matéria nem energia que é a base de tudo à nossa volta e por isso tudo à nossa volta vem da natureza e de nenhum outro lugar e de nenhuma outra tecnologia. O bolsa-família seria bem mais razoável se fosse embutido nele um planejamento familiar, o mesmo vale para o movimento sem terra. De nada adianta distribuir terras que são finitas a populações crescentes, como de nada adianta manter um crescimento econômico contínuo em cima de espaços finitos com recursos e serviços naturais importantíssimos também finitos. Vamos soterrar a humanidade inteira com nosso crescimento material, sob o pretexto que com isso estamos fazendo o bem. Nada poderia ser mais errado e falso do que isso.
A minha pergunta no debate do Estadão de 2002 continha a esperança que começaríamos a discutir essas questões humanas importantíssimas sobre o modelo econômico, levando para essa pauta de negociação internacional os erros já feitos pelos países desenvolvidos e que são reconhecidos por vários cientistas do mundo. Uma negociação que deveria pôr fim na forma como o Brasil para atender a China e os países ricos está expoliando seus recursos naturais e ecológicos às custas da sua própria população e tudo isso a custo zero, porque para o nosso sistema econômico uma árvore só tem valor quando derrubada ao chão. Os Estados Unidos e a China e vários outros países só crescem porque tiram recursos naturais de outros lugares através do comércio global, do contrário já teriam entrado em colapso ambiental há muito tempo. O comércio global está acelerando a destruição do planeta, precisamos avisar aos economistas que firmemente acreditam que nós somos capazes de produzir matéria e energia que não teremos outro planeta disponível para explorar. Paul Krugman parece que descobriu isso, mas só falou da consequência, não disse nada sobre a causa, talvez ele acredite nos investimentos que brotam do nada, na produtividade e ecoeficiência infinitas, outros mitos usados para tentar negar que o planeta é realmente finito e que nunca conseguiremos produzir bens, serviços e pessoas a partir do nada e com impacto nulo.
Na verdade, quando atingirmos o limite planetário, o resultado final será o nosso desaparecimento, porque nesse processo somos nós que estamos ameaçados, não fazemos nem cócegas para o planeta e para sua história de bilhões de anos. E já estamos nesse caminho, colocamos a Terra no maior processo de extinção da vida dos últimos 65 milhões de anos. Ao repetir os erros do modelo econômico dos países ricos só estamos conseguindo que os ricos fiquem cada vez mais ricos, porque o crescimento econômico é acima de tudo um mecanismo de diferenciação social, que tira as liberdades individuais, posto que a liberdade é diretamente proporcional ao nível de renda de cada um. Nós estamos perseguindo metas e modelos que não são parte da solução, mas parte do problema. Vários estudiosos de várias ciências, inclusive da malsinada economia sabem isso há mais de 40 anos e hoje a probabilidade do ser humano chegar até o fim do século XXI é de 50%. O aquecimento global não é o problema, é apenas um dos vários problemas que criamos transformando a Terra em uma lixeira, num sistema do descarte e desperdício imediato dos bens, submetido a crescimento exponencial de coisas e pessoas.
Enquanto não atacarmos as causas de problemas que não brotaram do nada e sim das nossas medidas, políticas, visões de mundo e ações diárias, nós só iremos caminhar de colapso em colapso. Nem todos são culpados, mas todos somos responsáveis e agora precisamos de novas propostas, cujos resultados deixem de ser questionáveis e fundamentados por premissas falsas como aquelas encontradas na teoria econômica.
Atenciosamente,
Hugo Penteado, economista, é autor do livro Ecoeconomia: uma nova abordagem (Editora Lazuli, 2003)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Que pode mudar no meio ambiente? - Washington Novaes

Publicado no jornal "O Estado de São Paulo": http://txt.estado.com.br/editorias/2008/05/23/opi-1.93.29.20080523.1.1.xml

É quase impossível acreditar que não figurasse nas possibilidades antevistas pelo presidente da República - ao nomear outro ministro para coordenar o Plano Amazônia Sustentável, sem o conhecimento e a concordância da ex-ministra Marina Silva - a possibilidade de esta se demitir do Meio Ambiente. Por que terá ele escolhido esse caminho? Com o propósito de forçar sua saída? É possível que assim tenha sido. Para evitar, por exemplo, atritos com vários governadores (Mato Grosso, Rondônia, Pará) e com a quase totalidade da corporação político-econômica da Amazônia, com ela em confronto, em ano eleitoral. Há quem acredite que entre as razões se incluiria o início do processo de licenciamento da hidrelétrica de Belo Monte, no Baixo Xingu, mais problemática que as do Rio Madeira (basta ver o primeiro conflito com índios que protestavam esta semana contra a usina, entre eles a índia Tuíra, que, no final da década de 80, quando se discutia o mesmo projeto, encostou um facão no pescoço de um diretor da Eletronorte). Há também quem suponha que se tratou de prevenir um confronto com áreas militares no caso da demarcação contínua da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em que já se antevê possibilidade de algum recuo do governo federal. Há quem veja a oposição da ministra à usina de Angra 3 e a outras nucleares que o governo decidiu implantar.
E que acontecerá a partir da saída da ministra e da ascensão de Carlos Minc? Será complicado. O presidente já decidiu manter na coordenação-geral do Plano Amazônia Sustentável o ministro Mangabeira Unger, e não outra pessoa, como anunciara o novo ministro. Não haverá novos recursos para chegar ao “desmatamento zero” naquele bioma (foi negada a Minc a liberação de R$ 1 bilhão contingenciados de royalties de hidrelétricas e empresas de saneamento) - e isso quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais confirma o aumento em curso do desmatamento e quando o Ministério continua a contar com pouco mais de 0,5% do orçamento federal para todas as suas atividades, inclusive a de montar estruturas de regulação fundiária, monitoramento e fiscalização em milhões de quilômetros quadrados. Será difícil ainda obter apoio do Executivo no Congresso para impedir que ali se aprovem medidas como o projeto que, na prática, reduziria de 80% para 50% em cada propriedade a reserva legal em áreas de florestas. E ainda ter fôlego para a discussão sobre asfaltamento da BR-163, saneamento, “transversalidade” no governo. É muito.
Pode-se tentar ver mais de perto o licenciamento da hidrelétrica de Belo Monte, projetada para gerar 11,5 mil MW, mas que, segundo especialistas, na época de seca só teria água para 4,6 mil MW (o que levaria, após o primeiro licenciamento, à estratégia de implantar outros reservatórios de novas hidrelétricas a montante, no mesmo rio, para garantir o armazenamento de água para a estiagem). Outros argumentos têm sido alinhados, como o da desnecessidade dessa implantação, diante de estudos que mostram a possibilidade de reduzir em até 50% o consumo nacional de energia, com investimento muitas vezes menor. A tecnologia de bulbos, prevista para a obra, também seria temerária.
O problema maior da ex-ministra parece haver sido o retorno de taxas maiores de desmatamento na Amazônia, embora muitos críticos atribuam a queda anterior não a méritos do Ministério do Meio Ambiente, mas em grande parte à baixa das cotações da soja e da pecuária durante três anos. Mas ela sofreu também derrotas em temas nos quais a posição de seu Ministério era a mais adequada para o País. Por exemplo, na aprovação dos alimentos transgênicos, com derrota no Congresso articulada pelo próprio Executivo e pelo partido a que pertence a ex-ministra. Ou na importação de pneus usados, em que prevaleceu a posição do Itamaraty. Ou no licenciamento (por um Ibama retalhado) das hidrelétricas do Rio Madeira, exigido pelo Ministério de Minas e Energia. Poderiam até ser motivo de orgulho para a ex-ministra essas derrotas. O problema está em haver aceitado derrotas articuladas por seus aliados no mais alto nível.
Há outros pontos questionáveis. Na transposição de águas do São Francisco, por exemplo, quando a ex-ministra deu entrevistas aprovando o projeto antes de licenciado pelo Ibama, a ela subordinado. Também no projeto de lei de gestão de florestas públicas, que recebeu críticas contundentes de muitos cientistas, nunca respondidas. Ou ainda na decisão de repassar a competência para licenciar desmatamentos a governos estaduais que não têm estruturas para tanto e são mais vulneráveis a pressões políticas e econômicas locais (o novo ministro anunciou que pretende continuar com essa política). Em alguns dos Estados onde houve o repasse, como Mato Grosso, Rondônia, Pará, o desmatamento voltou a crescer.
Ainda seria possível mencionar que se levou anos para criar no Ministério uma secretaria de mudanças do clima e que ainda não temos política definida para essa área crucial, fortemente relacionada com a Amazônia, já que 75% das nossas emissões, que nos colocam como o quarto país mais poluente, se devem a desmatamentos, queimadas e mudanças no uso da terra. Da mesma forma, a escassez de ações no bioma Cerrado, que está perdendo 22 mil quilômetros quadrados por ano.
Mais difícil que tudo, provavelmente, será conseguir o novo ministro que o País tenha uma estratégia territorial que lhe permita não apenas formular uma política adequada para a Amazônia, o Cerrado, o clima, mas principalmente colocar recursos e serviços naturais como o centro de todo o planejamento brasileiro. Eles - tem sido dito aqui - são hoje o fator escasso no mundo: biodiversidade, território, insolação, recursos hídricos, energias renováveis, “limpas” e alternativas (solar, eólica, marés, biomassas). São a nossa melhor possibilidade.
Washington Novaes é jornalista
E-mail: wlrnovaes@uol.com.br

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Economia ecológica e a vida bacteriana

Chame um economista para conversar sobre meio ambiente e eles imediatamente dirão que isso nada tem a ver com eles. A convicção sobre isso é tão difundida, que até hoje nos livros de Macroeconomia, a importância dos recursos naturais para o crescimento é considerada irrelevante (ler a esse respeito na seção 1.8 do capítulo 1 do livro Macroeconomia de David Romer, um importante conselheiro do Ben Bernanke do FED nos Estados Unidos).

Uma das freqüentes alegações para explicar a insignificância dos recursos naturais é a sua exígua participação no custo da produção. Por representar tão pouco do custo, os recursos naturais são considerados desimportantes para o processo produtivo. A importância do recurso não está diretamente relacionada com o seu custo. Se fossem tão irrelevantes assim, precisaríamos pôr isso em prática, por exemplo, interrompendo de uma vez por todas a produção de gases do efeito estufa que causa aquecimento global, fenômeno nada irrelevante e também pôr um fim na pressão da China e dos países ricos sobre as florestas tropicais para obter recursos do solo e da água, cada vez mais escassos por uma razão óbvia: são finitos. Melhor ainda, já que recursos naturais são irrelevantes, vamos fechar os portos dos países ricos e da China para todos os recursos naturais importados, seja em que forma for, bem final ou matéria-prima bruta, pois essa seria a forma mais eficiente de provar na prática o que os economistas dizem na teoria.

Infelizmente, esse é o teor da discussão pobre que temos hoje em relação à vinculação do sistema econômico-humano com os recursos da natureza indispensáveis para a sua concretização e sustentabilidade. A resposta é sempre a mesma: “isso não tem nada a ver comigo.” A boa notícia é que já há tantos institutos e cientistas renomadíssimos dizendo o contrário. Está cada vez mais difícil sustentar essa resposta, podemos dizer que ela se tornou ridícula.

O erro dessa análise é maior, pois a discussão de recursos naturais até agora sempre esteve em cima apenas da sua tangibilidade ou do seu papel como matéria-prima bruta, quando na verdade o problema nunca esteve na Terra como fornecedor de recursos, mas sim como absorvedor do impacto das nossas atividades (não exploramos ainda nem 1% da crosta terrestre). Isso nos coloca frente a frente com o aspecto sistêmico ou a forma como a extração dessas matérias-primas dilacera os ecossistemas e seus serviços ecológicos irreproduzíveis. Isso não seria problema algum se nossa economia tivesse a escala de 100 anos atrás e nossa população fosse de apenas 1 bilhão de pessoas. Mas quando produzimos em um ano mais que em 100 anos, para atender demandas materias de sete bilhões de pessoas das quais mais da metade vive em condições materiais precaríssimas, isso não é só um problema, é um enorme desafio. Sem uma mudança de visão de mundo, esse desafio pode se transformar em colapso civilizatório.

Se o menosprezo sobre a tangibilidade dos recursos naturais já é monumental, o que dizer de outros serviços que a natureza nos presta gratuitamente? Isso sequer é considerado nem precificado ou preservado. Os serviços ecológicos foram assumidos como inesgotáveis e incapazes de sofrer alteração, são processos considerados previsíveis, reversíveis através de axiomas e princípios de conservação que abrangem todas as vertentes teóricas da economia. Essa construção teórica simplesmente não condiz com a realidade. Hoje algumas estimativas colocam o valor dos serviços ecológicos considerados gratuitos pela teoria e prática num montante igual ao do PIB mundial. São eles: o clima, a fertilização do solo, a regeneração da água, a polinização natural, a biodegradação de materiais lançados no ambiente, a biodiversidade, a produção de matéria orgânica animal e vegetal, etc. Podemos calcular quanto eles valem, mas não são necessariamente reproduzíveis por alguma atividade ou tecnologia fabricadas.

Esse descaso começa já na classificação dos bens econômicos – considerados escassos e passíveis de apropriação - e bens naturais - abundantes, mas não passíveis de apropriação. Como a teoria só se interessa pela escassez para atender as necessidades humanas ilimitadas (outro erro), os bens naturais nem sequer fazem parte do seu corpo teórico. É uma tarefa impossível tentar conciliar economia com o meio ambiente, quando as teorias dominantes partem da hipótese que o sistema econômico é independente da natureza e que a natureza é inesgotável. Sem a revisão desse erro epistemológico, conforme foi proposto pelo Nicholas Georgescu Roegen mais de 40 anos atrás, não tem como alinhar a economia com os maiores desafios que agora se impõem para a humanidade.

A crítica de Roegen (1906-1994) nunca foi refutada, simplesmente porque é irrefutável. Os bastiões da economia desde aquela época não conseguiram desmontar essa crítica, por isso resolveram ignorá-la, o que é muito incomum entre os nossos pares, pois esta é uma ciência onde se observa os maiores embates científicos ou ideológicos. Está mais do que na hora de conhecer os trabalhos de Roegen e aprofundá-los. Esse atraso de 40 anos foi uma perda irreparável para a humanidade, pois muito antes das primeiras conclusões das ciências da Terra sobre os riscos agora evidentes, Roegen antecipou que a rota de colisão do nosso sistema econômico com a natureza iria preservar uma vida humana perdulária apenas por um tempo, para depois entregarmos o planeta apenas para a vida bacteriana. Algo que a paleontologia e os climatologistas já sabem.

Saída da Marina Silva

A princípio a saída da Marina Silva foi um choque. Ela era uma grande esperança. Estive com ela no dia 1 de outubro de 2007, numa reunião com empresários. Uma das suas falas foi: "pela primeira vez não estou sendo encostada na parede." E ela começou seu discurso explicando sua atuação na Amazônia, a questão dos bagres, das usinas. Fiquei impressionado, estava diante de uma das pessoas mais inteligentes que conheci. E sincera.

A sua saída indica que existe como sempre existiu uma contradição entre nosso modelo de desenvolvimento e a questão social e ambiental. Enquanto esse modelo não for revisado nas suas bases mais fundamentais e isso inclui a teoria econômica, essa contradição irá continuar.

Todas as pessoas e os empresários têm que se convencer que não dá para copiar os erros do passado e nem o sistema das nações mais avançadas. Só é possível revogar o velho modelo a favor de um novo, no qual as variáveis sociais e ambientais não estariam mais esquecidas ou ignoradas. O modelo dos países ricos não poderá ser replicado pelos países atrasados, simplesmente porque não tem recurso tangível ou ecológico para isso. Só será possível atingir equilíbrio e bem estar geral com um novo modelo.

É preciso também reconhecer aquilo que podemos e o que não podemos fazer. Não podemos destruir a Amazônia, embora façamos isso a um ritmo de um campo de futebol a cada 8 ou 10 segundos, dependendo do ritmo do crescimento econômico. Não podemos focar também só na Amazônia, temos que focar em todo o meio ambiente, que é tudo à nossa volta e no bem estar das pessoas, para o qual estamos todos trabalhando. Devemos lembrar que todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos.

Para os economistas uma árvore só tem valor quando derrubada ao chão. O PIB é uma métrica tão ruim, que uma governadora da região norte disse que se combater o desmatamento, o PIB do estado dela cai.

A questão física e espacial e seus limites são intransponíveis, teremos que mudar a métrica do nosso sistema, temos que mudar nossos objetivos, nosso modelo, temos que ter uma visão realista e abandonar a fantasia que o planeta é inesgotável e que não somos totalmente dependentes da natureza.

Esse é o caminho da mudança e o bom sinal é que tudo isso está sendo discutido e apesar da saída da Marina Silva, ninguém pode esquecer seu trabalho como senadora e nem a estatura do Carlos Minc. A saída pode ter resultados positivos, porque a cobrança irá aumentar e não diminuir com a saída de uma das pessoas mais importantes do governo brasileiro. Disso podemos ter certeza, mas cabe cada um de nós mudar nosso consumo, nossa mentalidade e nossa forma de ver as decisões políticas que dizem respeito ao nosso futuro.

O nosso futuro não depende de mim, nem do leitor, mas de todos. Isso significa que não podemos deixar de fazer a nossa parte.

Dedo podre - É preciso adotar política eficaz para acabar com o desmatamento criminoso na Amazônia e no cerrado

Folha de S. Paulo - 2007
São Paulo - Brasil

Dedo podre
20/01/08

Rubens Ricupero
http://www.rubensricupero.com/artigos/2008/folha_2008_20_01.htm]

terça-feira, 20 de maio de 2008

Porque desligar os microcomputadores e monitores após o expediente?

São várias razões, mas a primeira delas é custo. Aumenta o consumo de energia da empresa desnecessariamente.

Se essa razão por si só não é suficiente, temos outras razões importantes.

Já extinguimos 75% das opções de alimentos vegetais e 7.000 espécies animais que seriam úteis para adaptar nossa produção de alimentos à mudança climática agora em curso.

Todos os seres vivos vão enfrentar uma enorme adaptação ao clima cada vez mais quente. E todos os seres vivos da Terra dependem de todos os seres vivos da Terra, é uma teia fortemente interligada.

Hoje quase toda alimentação humana vem de apenas 12 vegetais e 14 animais. Cada vez que desperdiçamos energia dessa forma, estamos contribuindo para a extinção da vida na Terra e diminuindo opções para nossa alimentação futura.

Portanto, a produção de energia tem um custo ambiental, que não vale a pena ser desperdiçado, porque irá se voltar contra nós.
Pense nisso.
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fonte: FAO´s Natural Resources Management

segunda-feira, 19 de maio de 2008

18/05/2008 Ação de Dilma junto a Lula foi decisiva para queda de Marina

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

Ler em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/brasiliaonline/ult2307u402986.shtml

Querida Marina - por Frei Betto

Querida Marina
FREI BETTO
Caíste de pé! Tu eras um estorvo àqueles que comemoram, jubilosos, a tua demissão, os agressores do meio ambiente. CAÍSTE DE pé! Trazes no sangue a efervescente biodiversidade da floresta amazônica. Teu coração desenha-se no formato do Acre e em teus ouvidos ressoa o grito de alerta de Chico Mendes. Corre em tuas veias o curso caudaloso dos rios ora ameaçados por aqueles que ignoram o teu valor e o significado de sustentabilidade.

Na Esplanada dos Ministérios, como ministra do Meio Ambiente, tu eras a Amazônia cabocla, indígena, mulher. Muitas vezes, ao ouvir tua voz clamar no deserto, me perguntei até quando agüentarias. Não te merece um governo que se cerca de latifundiários e cúmplices do massacre de ianomâmis. Não te merecem aqueles que miram impassíveis os densos rolos de fumaça volatilizando a nossa floresta para abrir espaço ao gado, à soja, à cana, ao corte irresponsável de madeiras nobres.
Por que foste excluída do Plano Amazônia Sustentável? A quem beneficiará esse plano, aos ribeirinhos, aos povos indígenas, aos caiçaras, aos seringueiros ou às mineradoras, às hidrelétricas, às madeireiras e às empresas do agronegócio? Quantas derrotas amargaste no governo? Lutaste ingloriamente para impedir a importação de pneus usados e a transformação do país em lixeira das nações metropolitanas; para evitar a aprovação dos transgênicos; para que
se cumprisse a promessa histórica de reforma agrária.

Não te muniram de recursos necessários à execução do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia Legal, aprovado pelo governo em 2004. Entre 1990 e 2006, a área de cultivo de soja na Amazônia se expandiu ao ritmo médio de 18% ao ano. O rebanho se multiplicou 11% ao ano. Os satélites do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) detectaram, entre agosto e dezembro de 2007, a derrubada de 3.235 km2 de floresta.
É importante salientar que os satélites não contabilizam queimadas, apenas o corte raso de árvores. Portanto, nem dá para pôr a culpa na prolongada estiagem do segundo semestre de 2007. Como os satélites só captam cerca de 40% da área devastada, o próprio governo estima que 7.000 km2 tenham sido desmatados.

Mato Grosso é responsável por 53,7% do estrago; o Pará, por 17,8%; e Rondônia, por 16%. Do total de emissões de carbono do Brasil, 70% resultam de queimadas na Amazônia. Quem será punido? Tudo indica que ninguém. A bancada ruralista no Congresso conta com cerca de 200 parlamentares, um terço dos membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. E, em ano de eleições municipais, não há nenhum indício de que os governos federal e estaduais pretendam infligir qualquer punição aos donos das motosserras com poder de abater árvores e eleger ($) candidatos.

Tu eras, Marina, um estorvo àqueles que comemoram, jubilosos, a tua demissão, os agressores do meio ambiente, os mesmos que repudiam a proposta de proibir no Brasil o fabrico de placas de amianto e consideram que "índio atrapalha o progresso". Defendeste com ousadia nossas florestas, nossos biomas e nossos ecossistemas, incomodando quem não raciocina senão em cifrões e lucros, de costas para os direitos das futuras gerações. Teus passos, Marina, foram sempre guiados pela ponderação e pela fé.

Em teu coração jamais encontrou abrigo a sede de poder, o apego a cargos, a bajulação aos poderosos, e tua bolsa não conhece o dinheiro escuso da corrupção. Retorna à tua cadeira no Senado Federal. Lembra-te ali de teu colega Cícero, de quem estás separada por séculos, porém unida pela coerência ética, a justa indignação e o amor ao bem comum. Cícero se esforçou para que Catilina admitisse seus graves erros: "É tempo, acredita-me, de mudares essas disposições; desiste das chacinas e dos incêndios. Estás apanhado por todos os lados. Todos os teus planos são
para nós mais claros que a luz do dia.

Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o nosso?" Faz ressoar ali tudo que calaste como ministra. Não temas, Marina. As gerações futuras haverão de te agradecer e reconhecer o teu inestimável mérito.

Países ricos sugadores de países pobres como o Brasil

Existe uma confusão enorme sobre dados de florestas, porque há um foco apenas no fluxo (taxa corrente de destruição) e nunca no estoque, mas isso é puramente ideológico. Estados Unidos e Europa destruíram a quase totalidade das suas florestas naturais. Estados Unidos e Europa só mantém seu progresso e seu crescimento porque continuam sugando recursos naturais de outros lugares do planeta onde ainda eles existem, do contrário já teriam vivido o seu próprio colapso ambiental civilizatório, ao invés de exportá-lo continuamente para todos os cantos do planeta, tendo criado pela primeira vez na história da humanidade risco de colapso ambiental global - e não mais local como outras civilizações viveram.

Essa ideologia diz que os países hoje que mais destroem florestas são os países pobres e atrasados como o Brasil. Solução: enriqueçam os países pobres. Nada poderia ser mais cego que isso e falha no principal: criticar o modelo per se das nações avançadas, que por sinal, jamais será possível ser atingido por todos, antes disso o planeta pára de sustentar todas as formas de vida, incluindo a nossa. Somos tão dependentes da natureza como todo sempre, nossos corações só batem porque há um ser vivo na Terra que aprisiona a luz do sol, outros pequenos seres que produzem o oxigênio que respiramos, até as abelhas, sem elas não teríamos a comida nos nossos pratos.

Nossa atitude depredatória em relação à natureza não mudou em absoluto, é milenar, a única diferença atual é nosso ganho de escala e o comércio global para satisfazer os interesses de nações que de outra forma não seriam capazes mais de se sustentar social e ambientalmente. Aí devemos incluir a China, que perde 700.000 hectares de solo fértil todos os anos por conta da enorme pressão de ter que alimentar 22% da população mundial com apenas 7% da terra arável disponível do mundo. O governo chinês já está financiando e estimulando os produtores a comprar terras estrangeiras, afinal os seus governantes lembram bastante bem da grande fome da década de 70 no qual uma população equivalente a do México inteiro (70 milhões) morreram de fome. A segurança alimentar da China está cada vez mais vulnerável. Quando lembro que a água é um recurso finito (não aumenta de quantidade, isso vale para o solo também) e que nem toda água é renovável, porque não possui taxa de reposição fico alarmado, porque a demanda pela água e pelo solo é sempre crescente. A cada dia adicionamos 200.000 pessoas no planeta, já descontados os mortos, por ano são 8 milhões na China a mais, para ter uma idéia de magnitude, os Estados Unidos adicionam quase 3 milhões e o Brasil 1,5 milhão.

Os países muito populosos e muito ricos são os que deixaram bem evidente o conflito com o planeta e são sistemas inviáveis, cujo desastre é exportado hoje para o resto do mundo. O Brasil entrega sua natureza de mão beijada, comemorando, como se isso fosse um suposto bem para o país e para os brasileiros. Ao invés de entrar no discurso criticando o modelo econômico cego dos países ricos que está sendo copiado e que reduziu a probabilidade da humanidade escapar da sua própria extinção em 50% até o fim do século XXI. A maior ameaça do aquecimento global não é a elevação do nível dos oceanos, mas o fim da água. Estamos copiando os mesmos erros daqueles que chegaram na frente desse progresso que ocorreu às custas da vida na Terra e das gerações futuras. Não é à toa que o planeta está hoje no maior processo de extinção da vida dos últimos 65 milhões de anos.

O progresso dos países ricos e da China desapareceria imediatamente se fechássemos os portos dos seus países para todos os recursos que importam, sejam em bens finais ou em matéria bruta. Queria ver os Estados Unidos parando de produzir energia poluidora no México para se abastecer. Queria ver os países ricos colocando nos preços da gasolina o custo da poluição, mortes humanas e fim da estabilidade do clima. Queria ver eles todos manterem seu progresso com os portos fechados para materiais que os economistas teimam em dizer que não são nada relevantes, porque representam muito pouco do custo econômico. Desde quando a relevância é função direta do seu custo? Aplicamos a mesma regra monetária para questões físicas que aplicamos à sociedade e por isso a liberdade de cada um é diretamente proporcional ao nível de renda. A regra monetária acima de tudo, não a regra do bem estar, da solidariedade, da liberdade.

Se isso não mudar o quanto antes, será tarde demais descobrir que não poderemos comer dinheiro.

domingo, 18 de maio de 2008

Economia ecológica: A fazenda e o pardal

Li todos os comentários do meu blog. O da Viviane e de outros dizendo que não podemos mais ignorar o meio ambiente, como é feito pelo governo e pelos economistas, em prol de um suposto bem. Certíssimos os primeiros, erradíssimos os segundos.

Acordei de manhã em uma fazenda de um grande amigo. Estou olhando através das janelas o verde das árvores e da grama. A fazenda produtora de café e cana depende do meio ambiente como qualquer um dos pardais que vem à minha janela me olhar curiosamente para saber o que eu estou fazendo, como que perguntando por não estar pisando descalço na grama. Já vou fazer isso.

Estou sempre pensando e coletando argumentos para todos nós despertarmos. Recebi um email elogioso de uma pessoa que me disse: "Espero que você atinja seus objetivos". Meus objetivos? O pronome "meu" e seus correlatos devem ser abolidos. O objetivo não é meu, é de todos. Não depende de mim, mas de todos. Nada conseguiremos, se a humanidade toda não sair da rota da economia egoísta, individualista, destruidora do consumo e descarte para uma outra rota, totalmente diferente. Quanto mais insistirmos nessa rota, mais agravaremos nossos problemas.

Sem uma mudança coletiva não iremos nos salvar.

O mais impressionante é como estamos reféns da natureza que não deixa bem claro o que estamos fazendo. Estamos como na parábola dos sapos: um sapo é colocado numa panela de água fria que é aquecida lentamente e morre. Outro sapo é colocado numa panela com água quente, salta e se salva. Somos os primeiros sapos, a natureza na sua capacidade de regeneração criou a resiliência da natureza e os atrasos ecológicos que evitam mudanças abruptas até determinado ponto e nós todos continuamos fazendo os estragos com uma perigosa sensação de normalidade. Cabe ao ser humano entender isso e usar sua inteligência o mais rápido possível, prevendo que se esgotarmos essa capacidade da natureza, iremos provavelmente desaparecer da Terra.

Está na hora de pararmos de viver em cima de fluxos (crescimento, construção, vendas, carros, aviões, demanda...) e olharmos para os estoques. Diga-se de passagem, focar em estoques é crédito de Sylvio de Castro, um amigo de outrora onde discutíamos como nunca essas questões que preenchiam e preenchem nosso dia a dia de investimentos, já sabendo que isso tudo é insustentável e que no futuro ninguém será capaz de comer o dinheiro.

Sim, Viviane, não é o planeta que está ameaçado. Somos nós. Não fazemos nem cócegas ao planeta.

Um domingo verde a todos e meus mais profundos sentimentos de respeito por todas as formas de vida na Terra, inclusive o pardalzinho que me chama agora...

Tudo que vive merece viver (Gandhi). A vida de todos os seres depende da vida de todos os seres. E de alguns, depende da responsabilidade e do conhecimento que já adquirimos para entender o que é certo e o que é errado.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O problema da economia é crescer, o problema do meio ambiente é uma boa política ambiental

Com essa frase os economistas definem a separação total entre economia e meio ambiente. O mais chocante não foi ter visto a política industrial do governo totalmente focada em crescimento - impossível, desnecessário e concentrador de riqueza. O mais chocante foi saber através do Carlos Minc que o plano industrial não contou com a participação do meio ambiente. Isso é revelador.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Saída de Marina é golpe para futuro do planeta, diz jornal

http://noticias.uol.com.br/bbc/reporter/2008/05/15/ult4904u543.jhtm

Política e saída da ministra Marina Silva

Não é o meio ambiente que está indo para o ralo, somos nós, é muita ingenuidade achar que o que está no ralo é o planeta e não a humanidade! A cada dia destruímos mais e mais de um recurso finito em matéria (tangível) e em serviços da natureza (intangível). A cada minuto destruímos 42 campos de futebol em florestas. Mas isso é fluxo. Do estoque que já existiu, os Estados Unidos e a Europa são os campeões da destruição. E ainda hoje, os países ricos só mantém seu progresso e crescimento porque exaurem recursos do resto do planeta onde há uma vasta maioria de pessoas vivendo em condições míseras e ainda com natureza a ser explorada.

A saída da Marina Silva apenas revela como é praticamente impossível conciliar as metas desse modelo econômico inútil e cego baseado em crescimento com a preservação daquilo que nos deveria ser mais precioso: as bases naturais de sustentação da vida no planeta, algo que o ser humano não criou e não será capaz de reproduzir.

Ontem estava assistindo a propaganda do PSDB com o José Serra na televisão. É assustador e chocante: você ouve várias vezes a palavra MAIS, MAIS e MAIS e CRESCIMENTO, CRESCIMENTO e CRESCIMENTO. Mais obras, mais empregos, mais escolas, mais estradas. Tudo isso num planeta finito. E ainda isso vindo de pessoas inteligentes, porém cegas. Alguém tem que lembrar os políticos que quando as obras terminam, os empregos terminam junto. E só teremos empregos realmente permanentes se cogitarmos a possibilidade de construir outro planeta. Isso é de uma cegueira profunda. Com as evidências que temos (sociais e ambientais), só dá para votar em políticos com um discurso muito diferente desse.

A Marina Silva saiu por causa do embate com a usina do Rio Madeira. Os erros estão povoando o cenário à nossa volta: transposição do Rio São Francisco, rodoanel na APA Bororé aqui na cidade de São Paulo onde estão os mananciais de água, porto em outra APA em Ilhéus, usinas gigantes na Amazônia e nesse caso é um grande equívoco: com ganhos de eficiência e atualização tecnológica a oferta de energia do país praticamente dobraria sem precisar construir mais nada.

A nossa arrogância será nosso fim, se não mudarmos o mais rápido possível.

A Marina foi e é a pessoa mais importante para o Brasil e para o mundo hoje, por conta da sua preocupação em conciliar economia e meio ambiente, algo que os economistas mais importantes do mundo ignoram por cegueira ou clientelismo.

Colaboradores