terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Não somos únicos

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Essa apologia do crescimento precisa ser revogada, pois um dia, falar de crescimento será considerado crime contra a humanidade. Essa idéia aniquilou tanta vida, tanto futuro, tanto bem estar, que seu efeito é pior mil vezes que a soma de todas as guerras cruéis que o nosso egoísmo gerou. O crescimento econômico em primeiro lugar baseia-se em uma teoria econômica falsa, com axiomas e princípios de conservação mecânicos de 200 anos atrás, pelos quais os economistas e sua clientela interesseira acreditam que a natureza não só é inesgotável, como também um subsistema da economia. Na verdade, concluem eles corajosamente que a economia pode ser maior que o planeta. O pior de tudo é que embora seja inegável que o crescimento econômico é impossível de se concretizar num planeta fechado e finito como a Terra, sem causar extinção de todas as formas de vida, ele segue sendo pregado aos quatro ventos, porque muitas pessoas acreditam que essa é a única forma de acabar com a miséria. Isso já foi negado por mais de duas centenas de estudos a respeito dos resultados sociais do crescimento por universidades e instituições de renome, como o NEF e a Fordham University. O crescimento econômico ao invés de resolver problemas sociais, acentua todos eles, não passa de um mecanismo poderoso de concentração de riqueza e poder e de diferenciação social em definitivo e, acima de tudo, onde quer que tenha gerado resultados sociais favoráveis, sempre ocorreram às custas de exploração de meio ambiente e mão de obra barata em lugares estrangeiros. Além disso, de forma universal, todos os benefícios sociais como empregos são apenas temporários e efêmeros, posto que o crescimento só se justifica através de mais crescimento, sendo um fim em si mesmo. O crescimento também é um grande causador da extinção cultural que tantos serviços adaptativos prestou à humanidade. A extinção cultural ocorre ao tentar impor, até agora com sucesso, um modo único de produção e consumo para todos. Ou seja, a idéia de crescimento está associada com a extinção da vida e das culturas, com um futuro sombrio para todos nós, uma vez que dessa vez esse Titanic não terá botes salva-vidas nem para a primeira classe, porque nossa civilização conseguiu a proeza de se transformar numa ilha de Páscoa global, via comércio entre as nações, onde as transferências físico-ambientais são invisíveis e permitiu às nações usurpadoras evitar seu próprio colapso local, exportando-o para o resto do mundo. Não é à toa que vivemos a maior extinção da vida dos últimos 65 milhões de anos, ignorada por todos, porque todos, quase sem exceção, ignoram que do ponto de vista da biologia somos todos um.

Hugo Penteado

Míriam Leitão - Panorama Econômico O GLOBO 14/12/2010

Não somos únicos

O crescimento da América Latina este ano mostra que o bom desempenho do Brasil não é fato isolado: a região deve crescer 6% em 2010, segundo a Cepal, depois de cair 1,8% no ano passado. O crescimento do Brasil será o quinto maior, atrás de Paraguai, Uruguai, Peru e Argentina. Assim como aqui, o desemprego caiu e a inflação subiu. As exportações foram beneficiadas pela alta dos preços das commodities.

Alguns países nem chegaram a terminar o ano de 2009 com PIB negativo, como foi o caso do Uruguai. Cresceu 2,9% em 2009 e este ano terá o segundo melhor resultado da região, com alta de 9%. Em primeiro lugar, aparece o Paraguai, com previsão de crescimento de 9,7%. Mas assim como o Brasil, que terminou o ano passado com recessão de 0,6%, parte do crescimento paraguaio deste ano é recuperação do ano passado, quando o país terminou com queda de 3,8% do PIB. Peru e Argentina são dois outros países que conseguiram terminar 2009 com crescimento, de 0,9% em ambos os casos, e este ano vão crescer mais que o Brasil:8,6%, o Peru, e 8,4%, a Argentina. A previsão da Cepal para o Brasil é de crescimento de 7,7%.

´O crescimento observado em 2010 é a consolidação da recuperação que a maior parte das economias da região experimenta desde a segunda metade de 2009, impulsionadas pelo impacto das medidas anticíclicas que vários países implementaram, complementadas pela recuperação da economia internacional`, disse a Cepal, em relatório.

A Venezuela será o único país da região a ter dois anos seguidos de recessão. Caiu 3,3% em 2009, e cairá 1,6% este ano. E isso mesmo com a valorização de 32% no preço do petróleo. A previsão para o ano que vem também é modesta: alta de 2%. O caso da Venezuela é um mistério que só a péssima administração chavista explica. Na lanterna da região está o Haiti, devastado pelo terremoto do início do ano que deixou mais de 220 mil mortos, com recessão projetada de 7%. A boa notícia é que para o ano que vem espera-se a maior taxa de crescimento da região: 9%. Já o Chile, também atingido por um terremoto,conseguirá manter um crescimento de 5,3%.

Os números mostram tendências muito parecidas entre o Brasil e o resto da América Latina e Caribe: o desemprego cairá este ano - de 8,2% para 7,6%; e a inflação subirá, em grande parte por causa dos preços dos alimentos, cotados internacionalmente, e combustíveis. A previsão da Cepal é de que os preços aos consumidores subam de 4,7% no ano passado para 6,2% este ano. As semelhanças não param por aí. Crédito, renda e mercado de trabalho têm sido o motor do crescimento do consumo interno:

´A evolução dos indicadores de mercado de trabalho, o aumento do crédito e a melhora generalizada das expectativas contribuíram para impulsionar o crescimento do consumo privado que, junto com um significativo aumento dos investimentos em máquinas e equipamentos, constitui um dos principais motores em que se assentou o crescimento da demanda.`

Se por um lado o aumento dos preços dos produtos agrícolas foi ruim para a inflação, por outro, contribuiu para melhorar a balança comercial devários países exportadores. Itens como café, cacau, trigo e soja tiveram valorização principalmente a partir do segundo semestre deste ano. A mesma coisa aconteceu com as commodities metálicas. Entre janeiro a outubro, o cobre teve aumento de 52%, o alumínio, 35%, e o ouro, 27%. Com isso, a Cepal estima um crescimento de 25% das exportações, em valor, depois de uma queda de 22% no ano passado.

Para 2011, a previsão também é de um PIB mais fraco, assim como no Brasil. De 6% para 4,2%. A desaceleração é motivada pela piora no cenário internacional - leia-se Europa -, pelo fim dos estímulos econômicos dos governos e também pelo esgotamento da ocupação da capacidade ociosa.

A região recebe a mesma advertência da Cepal que caberia perfeitamente ao Brasil: o risco de que o crescimento aprofunde muito o déficit em transações correntes. A região já se queimou no passado exatamente por manter por tempo demais o rombo externo.

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