Ecologizar as crenças - II
Maurício Andrés Ribeiro (*)
Ecologizar as crenças é aplicar os conhecimentos das ciências ecológicas e a saebedoria da consciência ecológica àquilo em que se acredita. No campo ambiental, há muitos interesses controversos: temas como a energia nuclear, organismos geneticamente modificados, papel reciclagem de resíduos, são polêmicos. O papel reciclado, por exemplo, pode por um lado reduzir o corte de árvores; por outro , sua produção exige usar mais água, mais químicos para tirar a tinta; seria ele ecologicamente mais amigável que o papel branco, quando se computam os custos logísticos, as distâncias percorridas e a emissão de gases de efeito-estufa durante o seu recolhimento? A energia nuclear, muito tempo execrada pelos ambientalistas, tem sido resgatada por cientistas como James Lovelock, pelo fato de não emitir gases de efeito-estufa.
O temor, o medo, a busca da segurança se encontram na raiz de posturas ambientalistas prudentes. A crença é, então, escudo de proteção contra riscos ecológicos e ameaças. Assim, o movimento antinuclear se apóia no medo ao terror e ao lixo atômico; o movimento contra os organismos geneticamente modificados se apóia no princípio da precaução e na prudência ecológica, considerando temerário apostar em novos produtos e processos cujos impactos não se conhecem bem.
Nesse contexto de informações incompletas, como diferenciar o consumo consciente do consumo crente, ecoreligioso? A crença pode ser uma forma de auto-engano, de preferir negar ou não ver algo que para outros é evidente. Desconstruir, desmitificar crenças, desaprender, pode ser útil no caminho de aproximação do que seja mais verdadeiro. Há necessidade de ciência, de informação abalizada e de conhecimento técnico para evitar auto-enganos bem intencionados. A moral e a ética tendem a desaguar em uma pregação que pode ser enganadora, dogmática. A aceitação inquestionada, a fé, a crença, sem verificação ou consideração da verdade científica e apoio em conhecimentos, levam a logros e descréditos. Crenças ecológicas desinformadas levam a equívocos. Boa vontade, boa fé e boas intenções desinformadas levam a atitudes e comportamentos aparentemente virtuosos, porém inócuos ou contraproducentes, além de pouco sábios.
Corre-se a cada momento o risco de cometer equívocos, ter uma pseudoconsciência sem ciência, enganar-se por falta de embasamento.
Nesse contexto, algumas controvérsias são alimentadas por quem tem interesses específicos, que trata de se movimentar para fazer prevalecer um ponto de vista ou crença que o beneficie. Assim, por exemplo, uma empresa fabricante de papinha de nenê pode propagendear que o aleitamento materno não é tão importante assim. Ou que é substituível sem problemas e com vantagens.
Atualmente há grande confiança na ciência e na tecnologia, sobre as quais são depositadas expectativas de que dêem respostas verdadeiras e satisfatórias aos problemas causados pelas ações humanas. Como ter conhecimento sobre temas especializados, que necessitam de formação, capacitação, especialização? Num contexto de especialização crescente, a confiança e a difusão responsável e sistemática de informações tornam-se necessárias, pois não é possível conhecer a fundo cada tema. Por outro lado, segmentos da sociedade manifestam desconfiança nos cientistas e em sua capacidade de responder aos problemas; em parte porque, seres humanos falíveis, estão sujeitos a serem instrumentalizados por interesses econômicos. Nesse contexto, comportar-se a partir de bons padrões éticos e técnicos torna os especialistas confiáveis e lhes conferem credibilidade.
Há crenças que não podem ser provadas, e que levam a ações boas e ruins. Uma crença pode vir a mostrar-se verdadeira ou falsa. Enquanto ela não é comprovada ou refutada, pode-se acreditar, ter fé e por ela pautar atitudes. Uma crença independentemente de mostrar-se verdadeira ou falsa, tem, assim, conseqüências práticas, ao influenciar comportamentos ecológicos ou antiecológicos. Ecologizar as crenças é, portanto, uma forma de induzir mudanças de comportamentos e de conduzir a uma crescente ecologização da sociedade.
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(*) Autor de Ecologizar e de Tesouros da Índia
WWW.ecologizar.com.br mandrib@uol.com.br
1 Ken O'Donnell, Caminhos para uma Consciência Elevada, Editora Gente, São
Paulo, 1996
O temor, o medo, a busca da segurança se encontram na raiz de posturas ambientalistas prudentes. A crença é, então, escudo de proteção contra riscos ecológicos e ameaças. Assim, o movimento antinuclear se apóia no medo ao terror e ao lixo atômico; o movimento contra os organismos geneticamente modificados se apóia no princípio da precaução e na prudência ecológica, considerando temerário apostar em novos produtos e processos cujos impactos não se conhecem bem.
Nesse contexto de informações incompletas, como diferenciar o consumo consciente do consumo crente, ecoreligioso? A crença pode ser uma forma de auto-engano, de preferir negar ou não ver algo que para outros é evidente. Desconstruir, desmitificar crenças, desaprender, pode ser útil no caminho de aproximação do que seja mais verdadeiro. Há necessidade de ciência, de informação abalizada e de conhecimento técnico para evitar auto-enganos bem intencionados. A moral e a ética tendem a desaguar em uma pregação que pode ser enganadora, dogmática. A aceitação inquestionada, a fé, a crença, sem verificação ou consideração da verdade científica e apoio em conhecimentos, levam a logros e descréditos. Crenças ecológicas desinformadas levam a equívocos. Boa vontade, boa fé e boas intenções desinformadas levam a atitudes e comportamentos aparentemente virtuosos, porém inócuos ou contraproducentes, além de pouco sábios.
Corre-se a cada momento o risco de cometer equívocos, ter uma pseudoconsciência sem ciência, enganar-se por falta de embasamento.
Nesse contexto, algumas controvérsias são alimentadas por quem tem interesses específicos, que trata de se movimentar para fazer prevalecer um ponto de vista ou crença que o beneficie. Assim, por exemplo, uma empresa fabricante de papinha de nenê pode propagendear que o aleitamento materno não é tão importante assim. Ou que é substituível sem problemas e com vantagens.
Atualmente há grande confiança na ciência e na tecnologia, sobre as quais são depositadas expectativas de que dêem respostas verdadeiras e satisfatórias aos problemas causados pelas ações humanas. Como ter conhecimento sobre temas especializados, que necessitam de formação, capacitação, especialização? Num contexto de especialização crescente, a confiança e a difusão responsável e sistemática de informações tornam-se necessárias, pois não é possível conhecer a fundo cada tema. Por outro lado, segmentos da sociedade manifestam desconfiança nos cientistas e em sua capacidade de responder aos problemas; em parte porque, seres humanos falíveis, estão sujeitos a serem instrumentalizados por interesses econômicos. Nesse contexto, comportar-se a partir de bons padrões éticos e técnicos torna os especialistas confiáveis e lhes conferem credibilidade.
Há crenças que não podem ser provadas, e que levam a ações boas e ruins. Uma crença pode vir a mostrar-se verdadeira ou falsa. Enquanto ela não é comprovada ou refutada, pode-se acreditar, ter fé e por ela pautar atitudes. Uma crença independentemente de mostrar-se verdadeira ou falsa, tem, assim, conseqüências práticas, ao influenciar comportamentos ecológicos ou antiecológicos. Ecologizar as crenças é, portanto, uma forma de induzir mudanças de comportamentos e de conduzir a uma crescente ecologização da sociedade.
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(*) Autor de Ecologizar e de Tesouros da Índia
WWW.ecologizar.com.br mandrib@uol.com.br
1 Ken O'Donnell, Caminhos para uma Consciência Elevada, Editora Gente, São
Paulo, 1996
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