quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Marina Silva fechada para balanço

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(Artigo exclusivo)

Por André Trigueiro

Conversei com Marina Silva por telefone neste fim de semana. Ela estava no Acre, entretida com inúmeros encontros políticos, numa rotina que vai se intensificar nos próximos dias. Marina corre contra o tempo para realizar consultas e decidir se aceita concorrer à Presidência da República ano que vem pelo PV.

Os verdes formalizaram o convite há mais de uma semana. Na oportunidade, mostraram uma pesquisa feita por telefone que indicava que Marina contaria com 12% da preferência do eleitorado se concorresse ao cargo. "Não estou preocupada com números ou pesquisas", me disse a senadora petista, que manifestou o desejo de incluir na campanha eleitoral o debate sobre sustentabilidade. "Eu quero que o tema faça parte da agenda estratégica para o país. Tem que ser uma plataforma básica de compromissos", disse ela, reconhecendo que o convite do PV foi o suficiente para gerar um clima de enorme instabilidade nas hostes petistas. Marina já recebeu ligações do presidente do partido, Ricardo Berzoini, do governador da Bahia, Jaques Wagner, do senador José Eduardo Dutra, do deputado federal José Eduardo Cardozo, e de inúmeros cardeais petistas que se apressam em pedir-lhe que fique no partido.

Não deixa de ser curioso o fato de o partido do presidente Lula estar tão interessado na permanência de Marina, depois de impor à ex-ministra sucessivas derrotas quando ela ainda respondia pela área ambiental no país. É bom lembrar que Marina Silva pediu demissão do cargo sem aviso prévio, e na véspera da chegada ao Brasil da chefe do governo alemão, Angela Merkel,cuja visita oficial ao país tinha como principal motivo os assuntos ambientais. Na época, em outra entrevista, Marina reconheceu os constrangimentos impostos à ela, mas de forma elegante, preferiu não criticar o presidente Lula.

"Não quero demorar muito para tomar uma decisão porque sei do desgaste que isso provoca tanto do PT quanto no PV". A simples hipótese de Marina Silva se candidatar à presidência gera preocupação nas demais candidaturas postas no tabuleiro político. Em relação à Dilma Roussef, Marina Silva representa obstáculo à medida que também é mulher, egressa do PT, e ainda muito respeitada no partido. Além do que, é sabido que Marina foi estigmatizada no governo por "atrasar obras do PAC", menina dos olhos do governo Lula que tem a Dilma Roussef como regente.

O presidenciável José Serra é forte junto aos segmentos mais esclarecidos da população - especialmente nas regiões sudeste e sul - onde os assuntos da sustentabilidade encontram mais ressonância e prestígio. Como Dilma e Serra são bastante identificados com o mesmo modelo desenvolvimentista, Marina corre por fora como aquela que lembra a importância do desenvolvimento sustentável como premissa de ação, não como retórica de campanha.

Há ainda a possibilidade de a candidatura de Marina catalizar votos de protesto de quem não se identifique com nenhum outro candidato e, mesmo sem nutrir maiores simpatias pela senadora acreana, queira se manifestar contra "tudo isso que está aí" votando nela.

Marina está fechada para balanço. Seu silêncio, entretanto, se faz ouvir pelo país com a mesma intensidade que os urros patéticos das últimas sessões do senado federal.

Ouça André Trigueiro na CBN: Eventual candidatura de Marina Silva ressalta o debate ambiental na pauta política. Áudio disponível: CBN

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