terça-feira, 25 de agosto de 2009

Desconexão

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Se pudéssemos refazer as contas, quanto do crescimento assombroso que a economia dos Estados Unidos exibiu na década de 90, antes de chegar nessa crise também assombrosa, poderia ser atribuído à dívida mal feita e excesso de endividamento das famílias? Quanto desse crescimento poderia ser atribuído a excessos de consumo injustificáveis, como por exemplo, o tamanho de casas três vezes maior para famílias cujo tamanho caiu pela metade nas últimas décadas? Quanto desse crescimento produziu acesso aos bens por famílias que menos precisavam deles, pois já estavam saturadas, ao lado de um mar de miseráveis dentro e fora dos Estados Unidos incapazes de ter o mínimo? Essas e outras perguntas nunca são feitas, mas se descontássemos isso tudo, não sobraria nada de um crescimento que foi também a razão de expansão das economias asiáticas, que por sua vez sugaram como os países ricos, os materiais e serviços da natureza de países exportadores como o Brasil. Toda a economia global foi sustentada por elos podres e por repartições nada satisfatórias dos benefícios gerados por esse crescimento.

É aqui que começamos a perceber quão falha é a ciência econômica. Os economistas acreditam que a economia é um pilar que cria a sustentabilidade social e ambiental. Riem interna e externamente com essa baboseira dos três pilares da sustentabilidade (economia, planeta e pessoas). Só que essa baboseira vem sendo discutida há décadas por grupos líderes da nossa sociedade e os economistas falham em perceber que quanto mais insistem no pilar econômico, mais insustentável se torna a sociedade e o meio ambiente (e sua capacidade de sustentar todas as formas de vida).

Essa falha conceitual não só nega vários avanços das ciências, como não fortalece o movimento de sustentabilidade que surgiu no mundo todo. Qualquer um ligado à sustentabilidade, quando busca apoio desses economistas tradicionais, a resposta é sempre a mesma: "o meio ambiente não tem nada a ver comigo." Ah não, então me diz o que dá para fazer hoje no mundo sem água, solo e petróleo? Outra resposta mais simpática é: "não se preocupa com isso, a economia irá resolver tudo".

Será mesmo? É isso que podemos constatar na realidade? Por que os Estados Unidos e o Reino Unido, após terem feito o que queremos fazer – atingir um nível de consumo estúpido – entraram em crise com poucas saídas dela? Por que estão às voltas com crise de energia?

Essa desconexão dos economistas com a realidade tem bases epistemológicas profundas, como explicou muito tempo atrás Nicholas Georgescu-Roegen. Sua descoberta foi ignorada e isso foi uma perda inestimável, pois é merito dele ter previsto que a “humanidade vai entregar o planeta ainda banhado em sol apenas para a vida bacteriana.” Sua previsão precedeu muitas das previsões das ciências da Terra.

Os caronistas de Roegen que se dizem heterodoxos elaboram idéias quase tão grotescas e catastróficas quanto as da teoria econômica vigente. Uma explicação para a falta de perfeita compreensão das idéias de Roegen é explicada por Aristóteles: “Quando nossos interesses estão em foco, somos os piores juízes das nossas ações.” Também se explica pela falta de consciência ou evolução, onde alguns cientistas trilham muito mais a sua própria vaidade, do que a compaixão pela vida interligada da Terra.

O respeito ao outro e a vida é o ponto de partida desse trabalho. Quando vamos começar?

Hugo Penteado

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