terça-feira, 22 de julho de 2008

Nosso presidente Lula e nossas adversidades

Em tempo, Lula diz que a Amazônia não é um santuário e ele tem razão. Não é a Amazônia que é um santuário, mas o planeta inteiro, o espaço inteiro que nos foi dado. A Amazônia não é um caso geral de problema ambiental, mas particular. Assim como o aquecimento global não é "o" problema ambiental, mas um dos problemas.

Quando vejo o G8 e outros cientistas falando em tecnologias para recapturar o carbono, fico de cabelo em pé. Em primeiro lugar, caros leitores, vamos entender o que é emissão de carbono: é um dos vários processos anti-naturais que o sistema econômico-humano criou ao transformar o planeta finito numa lixeira conosco dentro - e vivos o que é muito pior. Para ter uma noção até onde vai a ignorância dos nossos governantes e das suas políticas, esse carbono não estava presente no planeta em centenas de milhões de anos, porque durante um processo geológico de billhões de anos materiais foram depositados na crosta terrestre e não fazem parte de nenhum dos processos de regeneração da natureza. Por isso, quando introduzimos carbono na atmosfera (e outras coisas, porque como disse, esse é apenas um dos processos antinaturais que criamos), estamos atrapalhando a natureza no seu trabalho de manter as condições que sustentam a vida desse planeta, incluindo a nossa, porque nós não somos deuses, somos uma espécie animal como outra qualquer, totalmente vulnerável.

Eu fico horrorizado, portanto, quando ouço nosso presidente dizer que os amazonenses precisam de carro, televisão e celular, não porque eles não merecem, mas porque esses produtos precisam ser limitados, porque seu ciclo é antinatural, porque não é solução de vida, bem estar e felicidade para ninguém, exceto para quem anda de helicóptero sobrevoando o caos urbano ou respira em condições satisfatórias longe dos 300 gramas de poluição que cada cidadão dessa cidade recebe diariamente. Moro em São Paulo desde 1984 e praticamente no mesmo endereço perto da Avenida Paulista. Hoje a deterioração do ar, da cidade, da urbanização e da sociedade são chocantes. Eu mal consigo respirar quando caminho à pé da minha casa por cinco quadras até o banco. Isso é o resultado da idéia falsa que precisamos de carro, celular e televisão.

O nível de inconsciência e ignorância das pessoas para deter ou mudar as decisões do governantes é limitadíssimo pela falta de liberdade que as condições de trabalho precárias do nosso sistema atual criaram. No sistema econômico atual a liberdade de cada um é determinada por dois fatores: coragem e conhecimento e renda. A renda é a mais estringente das duas, mas coragem não. A liberdade é diretamente proporcional à renda, mas podemos mudar essa regra com imaginação. E não devemos pensar que eles são nossos inimigos, mas devemos pensar em como fazer para nossa sociedade, incluindo nossos governos, nossas empresas, irá construir um sistema econômico realmente sustentável, que preserve nosso equilíbrio, com o planeta, com as pessoas e com as nações.

Será que preciso dizer muito sobre as coisas horrendas que somos obrigados a assistir diariamente para concluir que a visão dos governos e dos economistas é parte do problema e que parecem que eles preferem que o problema continue existindo, para que eles, com suas soluções falsas e mirabolantes também continuem existindo? O vício do problema lembra muito a fábula do rinoceronte de Monteiro Lobato: numa determinada cidade fugiu um rinoceronte e imediatamente foi criado o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social para recapturar o bicho. A única finalidade desse conselho era jamais achar o bicho, para não perder a necessidade de continuar existindo.

É para isso que serve nosso sistema, para aumentar os problemas e justificar a existência de pessoas iluminadas e salvadoras que supostamente irão resolver problemas que cabe a cada um resolver, através da solidariedade, conhecimento, busca de liberdade e conscientização. Essa sociedade de consumo desenfreado e de crescimento econômico e populacional não tem futuro algum e irá perecer. Nas palavras de Leonardo Boff, ou mudarmos, ou perecemos.

Termino com um comentário do Ricardo Peres: Se depender desse sistema atual nós vamos acabar dividindo o território terrestre em dois: metade para pastos de gado e metade para estacionamentos de carro, aliás, análogos estruturais da doença letal chamada falta de imaginação.

Hugo Penteado

Um comentário:

Claudia Chow disse...

É Hugo, faço minhas as suas palavras... Nem tem o q complementar.
É desesperador!

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