terça-feira, 29 de julho de 2008

Ninguém lamenta as descobertas de petróleo

Tudo indica que ainda iremos comemorar com descobertas de petróleo, ao invés de lamentá-las. Tudo indica que não entendemos ainda o risco de extinção que a queima de combustível fóssil na nossa finíssima atmosfera já provocou e continuará provocando. O aquecimento global não é o problema, mas um dos problemas, mas embora muitos considerem "o" problema, ainda vemos a sabedoria comum comemorando as descobertas do petróleo sem enxergar os grandes riscos que isso representa.

O nosso modelo mental está longe de mudar. Deriva de uma crise de valores seculares, apoiado por uma visão econômica alimentada por governos, empresas e finalmente por economistas, que não passa de uma teoria falsa, com resultados falsos e com uma clara tendência inequívoca ao colapso ou guerras.

Em primeiro lugar, o mais espantoso é ninguém falar do excesso de demanda de energia, da crescente demanda de energia, do desperdício, da ineficiência, pois sabemos claramente que se adotássemos consumo eficiente a demanda por energia no Brasil reduziria 50%, se atualizássemos tecnologicamente as usinas já existentes e as linhas de transmissão teríamos um ganho de oferta equivalente a 90% em um ano! Para quê, se podemos construir usinas nucleares e usinas hidrelétricas? A maior ameaça do aquecimento global é o fim da água e não é a única ameaça, precisamos frisar isso. A maior ameaça da destruição da Amazônia e do Cerrado é o fim da água, pois 95% dos recursos hídricos da região sudeste e do aqüífero Guarani dependem desses ecossistemas.

O mais estranho é que ninguém questiona uma visão pela qual assume que se há fome no mundo, é porque falta produção de alimentos e não desperdício, ineficiência e excesso de gente num planeta finito como a Terra, não só em recursos tangíveis, mas em serviços ecológicos irreproduzíveis por qualquer tecnologia e que sem os quais nenhuma forma de vida irá sobreviver. Um bom exemplo é a crise das abelhas do hemisfério norte. Nós somos totalmente dependentes da natureza, na verdade, todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos.
Mas o ataque ao planeta se justifica pelas enormes benesses sociais que irão ser geradas, sem percebermos que o emprego é um resultado tautológico da expansão econômica, sem a qual os empregos desaparecem e pior, o número de empregos não revela a situação de bem estar, de aprendizado, de liberdade e de independência dos trabalhadores. Desde 1970 os indicadores sociais dos países ricos vem caindo, lado a lado com concentração de riqueza recorde.

O ataque ao planeta não vai acontecer, antes disso iremos percer, porque replicar o modelo dos países ricos é impossível, posto que esses países só conseguiram ficar ricos sem causar um colapso planetário porque fizeram isso sozinhos. E quando esses países atingiram o seu próprio colapso ambiental local, começaram a exportar para o resto do mundo via comércio global, comemorado por todos, e a custo zero, porque no nosso sistema de preços - ratificado pela teoria econômica falsa - o custo ambiental e social é sempre zero. Agora estamos numa situação de desigualdade social enorme e o planeta acaba na hora que todos forem atrás do atraso, dentro do mesmo modelo econômico da economia do descarte, do desperdício, da ineficiência e da necessidade de crescer sempre, embora fisica e planetariamente isso seja uma rota suicida. Ou mudamos esse modelo, ou perecemos. Está na hora de mudar tudo: matriz energética, teoria econômica, modelo de produção e consumo, pois o tempo é mais do que curto, por conta do feedback positivo planetário, da mudança que pode ocorrer contra a vida não ser linear e sim abrupta e pelo fato de termos um inventário apavorante de atrasos ecológicos se intensificando com a continuidade dos mesmos processos de sempre que transformaram a Terra numa lixeira e conosco dentro. E vivos, o que é muito pior.

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