E isso porque a destruição ambiental no litoral pernambucano é um dos exemplos mais lamentáveis da irresponsabilidade ecológica das políticas para promoção do que, afrontando o léxico, se chama de “desenvolvimento”. A decisão de construir o complexo de Suape, por exemplo, embutia uma lógica destruidora. Na época em que o projeto foi lançado, era total o desrespeito das iniciativas governamentais ao meio ambiente. Uma reação de ambientalistas pioneiros em 1975 chamou a atenção do público para o fato. Houve reações raivosas a esses opositores de Suape – entre os quais eu me incluía – e a propagação da idéia de que ser contra o complexo era um desserviço a Pernambuco (o mesmo dogma continua prevalecendo). Compreende-se a exploração do ufanismo infantil de quem vê na indústria, nos complexos portuários, na exploração do pré-sal, etc. a grande saída para os desafios do nosso desenvolvimento. Mas até que ponto isso faz sentido numa perspectiva de muito longo prazo – que é quando interessa discutir a sustentabilidade do progresso? A civilização do petróleo talvez esteja mais perto do fim do que estamos do surgimento do projeto de Suape. Em lugar dela teremos que caminhar para um paradigma com base na energia solar. Quando a era das tecnologias limpas tiver que prevalecer, os grandes projetos pernambucanos perderão validade – e teremos ficado também sem os cajus e as mangabas insubstituíveis. Um empobrecimento eterno.
No domingo passado (8.11.09), diante da explosão urbana de Casa Forte, o Diario trouxe reportagem sobre a perda de identidade desse bairro recifense (caderno Vida Urbana). Entre os assuntos abordados, a partir de uma pesquisa da Unicap, ressaltava-se que a maior parte do patrimônio verde de Casa Forte “está nos jardins e quintais de suas casas”. É o que se observa na Fundação Gilberto Freyre, nos Maristas de Apipucos, na Fundação Joaquim Nabuco (graças a isso, consigo ainda apanhar cajus para meu hábito de combiná-los com cachaça). O quintal da Casa de Saúde S. José, na av. 17 de Agosto, acaba de ser exterminado para dar lugar, sob a aprovação dos poderes competentes (sic) a um shopping. Mais uma contribuição para o desaparecimento de nossas frutas inigualáveis. Vitória – não definitiva, porém – da vida artificial sobre a perfeição da natureza.
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