quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Dez caminhos para expandir a consciência ecológica

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Maurício
Andrés Ribeiro (*)

O início do século XXI caracteriza-se por uma mudança no patamar de consciência ecológica. Bilhões de seres humanos aprendem que são parte de uma espécie cujas atividades influem sobre o planeta e alteram o rumo da evolução. Descobrem a existência da crise climática planetária e passam a perceber seu papel na evolução.

Nos últimos anos, houve um crescimento vertiginoso na consciência sobre as questões ecológicas em diversos públicos e segmentos sociais e nas práticas ambientais de indivíduos e organizações. Antes periférico, o tema tornou-se central.

A conscientização ecológica é um requisito superar a atual crise ambiental e climática, pois dela podem decorrer mudanças de comportamento e atitudes sociais e individuais.

Apesar de todos esses avanços ainda existe muita ecoalienação e um déficit de percepção e de compreensão.

Relacionam-se a seguir dez caminhos que promovem a expansão da consciência ecológica:

  1. Choques, catástrofes, colapsos e tragédias despertam indivíduos e sociedades de seu torpor e anestesia. A consciência ecológica é estimulada por tais desastres, que servem para questionar o modo de vida consumista, utilitarista, produtivista. A pedagogia do susto acorda o cidadão e torna-o consciente das conseqüências ambientais negativas de seus hábitos de consumo e de seu estilo de vida. Por meio da dor e do sofrimento causados pelos desastres, pessoas e coletividades aprendem a importância de adotar práticas ecológicas, que previnam e evitem novos desastres. Exemplos: o derramamento de óleo na baia de Guanabara, no ano 2000 provocou mudanças de leis, de práticas empresariais; o susto causado pelo buraco de ozônio sobre a Antártida impulsionou acordos para controlar os gases CFC; as enchentes em Santa Catarina evidenciaram os riscos do inadequado uso do solo e do desmatamento de encostas; o risco associado às mudanças climáticas desencadeia esforços para compreendê-las e atuar de forma responsável. A percepção e a compreensão de riscos à saúde física e psíquica também despertam a consciência.
  2. Incentivos e desincentivos econômicos são forma eficaz de induzir mudanças de comportamento no sentido de adotar práticas sustentáveis e ecologicamente responsáveis. Exemplo: as leis de ICMS ecológico. A aplicação de multas e penalizações pode levar a mudanças de comportamento. O corte de crédito para quem não adota praticas sustentáveis é uma forma de fechar a torneira e dificultar tais práticas. Exemplo: resolução do Banco Central que cortou crédito para produtores rurais predatórios na Amazônia. A internalização de externalidades negativas, de custos econômicos, dói no bolso de quem produz os danos e ajuda a construir a consciência ecológica.
  3. A regulação é relevante, por meio da criação de normas e padrões inseridos em contratos, licitações, concorrências, que contemplem a sustentabilidade.
  4. Os sentidos - Os incômodos sensoriais são um forte motivador da consciência ecológica e motivam a mobilização social por melhoria das condições ambientais, a saúde e a qualidade de vida. A visão, audição, olfato, paladar, o tato, nos dão uma percepção sensorial do ambiente e alertam para as poluições. Exemplos: mobilizações pela despoluição do ar ou ações contra a poluição sonora em cidades.
  5. A tecnologia estende os sentidos e a percepção, permite penetrar em outras dimensões do universo, detectar problemas ambientais não perceptíveis sem a ajuda de instrumentos. A percepção sensorial é insuficiente se desacompanhada de conhecimento; pode-se enxergar e não compreender, pois o sentido sem o saber é cego: um leigo que tenha um câncer de pele e que se observe ao espelho enxerga apenas uma pinta; o saber do especialista decifra o risco e previne o agravamento do dano, ao extirpar as células cancerosas. Com sua luneta, Galileu demonstrou que a Terra girava em volta do Sol. Hoje, telescópios potentes revelam dimensões até hoje desconhecidas do universo; microscópios poderosos penetram nos mistérios do muito pequeno e ampliam a compreensão sobre os processos ecológicos.
  6. A ciência é um forte motor para expandir a consciência. O avanço do conhecimento científico expande a compreensão do universo e da psicologia humana, bem como dos riscos a que estamos sujeitos. A sociedade consciente e responsável do século 21 precisará cada vez mais de aporte de conhecimentos e informações e de estar atenta aos temas ambientais para garantir sua própria saúde e qualidade de vida. Ainda que atualmente exista uma predisposição favorável à proteção ambiental, o déficit de saber e a ignorância dificultam a correta tomada de posição. Estamos afogados em informações, mas há uma escassez de sabedoria, observa o biólogo Edward O.Wilson, em seu livro Consiliência, que propõe a unidade do conhecimento. [1]A consciência da crise ecológica e climática vem sendo expandida com a divulgação da Avaliação Ecossistêmica do Milênio, de autoria de um painel de cientistas sob os auspícios da ONU; bem como dos relatórios do IPCC – Painel intergovernamental de cientistas sobre a mudança do clima.
  7. A formação e educação em todos os níveis e faixas etárias podem ecologizar cada uma e todas as disciplinas não só no campo do conhecimento técnico e científico, mas também no campo da sensibilidade, da ética e dos valores. A educação ambiental, a educação para a sustentabilidade e outras abordagens, buscam condicionar a consciência a valores ecológicos. As manifestações artísticas expandem a percepção por meio da sensibilidade estética, da criatividade e da imaginação e da emoção. O humor descobre ângulos inusitados para abordar questões ecológicas.
  8. A comunicação verbal ou escrita, interpessoal, social, a comunicação de massa, a TV, a internet, facilitam que bilhões de indivíduos tomassem conhecimento da crise climática. Organizações da sociedade civil se valem da comunicação e da mídia para repercutir seus conhecimentos e pressionar governos. Gestores ambientais têm na comunicação uma ferramenta para se fortalecerem diante de áreas pouco sensíveis. Em 2007, relatórios científicos disseminados pela mídia e pelo cinema provocaram um salto quantitativo na consciência humana sobre as mudanças climáticas.
  9. Ética ecológica – os valores morais ligados à solidariedade e à sustentabilidade são uma força poderosa para impulsionar a expansão da consciência ecológica. A espiritualidade intui dimensões supra-racionais da consciência, não detectadas pelos meios apenas racionais ou intelectuais. As crenças e valores morais e éticos podem impulsionar a consciência e induzir mudança de comportamentos. Assim, por exemplo, as tradições espirituais que acreditam na reencarnação tendem a induzir comportamentos ecológicos, no auto-interesse do ser, nesta e em suas próximas vidas.
  10. A meditação, a contemplação, técnicas que harmonizam e tranqüilizam a mente, permitem entrar em estados de consciência menos perturbados e dispersos, mais lúcidos. As abordagens e métodos de observação da realidade; de autoconhecimento e de reflexão, de controle da mente, são de grande valor para a expansão da consciência. No campo psíquico emocional ou mental, há práticas e exercícios que permitem expandir os limites humanos. Entre elas, as práticas de desenvolvimento da atenção e presença no agora, de criatividade por meio das artes e ciências, de meditação, algumas delas desenvolvidas por antigas tradições. A capacidade de concentrar a mente no essencial expande e aprofunda a consciência. A concentração é um método de condicionar a mente, concentrar a energia difusa e despertar poderes latentes. A necessidade, a demanda a crença e o desejo podem ser ecologizados e induzir atitudes e comportamentos ecológicos.

A combinação dessas abordagens de aprendizagem por meio de vivências, do conhecimento sociocultural, de incentivos econômicos, do controle social, pode expandir a consciência ecológica e induzir mudanças de comportamentos individuais e coletivos.

(*) Autor de Ecologizar, de Tesouros da Índia e de Ecologizando a cidade e o planeta.

WWW.ecologizar.com.br mandrib@uol.com.br



Um comentário:

Leonardo la Janz disse...

Excelente, Hugo!

Muito bom mesmo. E curiosamente, acabo de escrever um singelo texto sobre este ponto abordado "Estamos afogados em informações"... :)

No mais, concordo quase que inteiramente com o texto, não fosse a descuidada exortação referente á tecnologia. Esta com certeza pode expandir os nossos sentidos, todavia, creio que haja mais em relação a obnubilar a consciência, e não o contrário.

Uma coisa é termos conhecimento sobre (informação) já outra é tomarmos consciência a respeito (que se converte em ação). Pelo muito que tenho lido, quer-me parecer que o aumento exagerado da tecnologia nos tira cada vez mais do ambiente real, e, por conseguinte, tende a diminuir a nossa sensibilidade como um todo, e não aliás.

Creio que dentro de uma semana e irei replicar o texto no meu Blog também. Abração. LJ.

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