O MEIO AMBIENTE É PARA SER RESPEITADO
Clóvis Cavalcanti
Economista ecológico e pesquisador social
Na data de hoje transcorre o Dia Mundial da Ecologia e do Meio Ambiente. Infelizmente, no Brasil, não temos muito que celebrar na ocasião. Pelo contrário, são diversos os motivos de preocupação quanto aos sistemas e recursos naturais no país. A recente decisão dos deputados de ferir uma conquista nacional como é o Código Florestal em vigor contribui para isso. Não que se deva considerar a natureza intocável. É necessário modificá-la, usá-la, adaptá-la para atendimento das necessidades humanas. A questão é como fazer isso. Ora, digamos que a reforma do Código Florestal tenha sido resultado de uma necessidade. Mas que necessidade é essa que coloca, por exemplo, o MST, a SBPC, a Academia Brasileira de Ciências e muitas organizações da sociedade civil contra, sobretudo, do outro lado, o agronegócio? Será que quem se opõe ao parecer do deputado comunista Aldo Rebelo não têm consciência dos interesses nacionais? O problema é que a Natureza no Brasil é vista como um poço inesgotável de favores gratuitos a ser explorado à exaustão. Não se adota o princípio da precaução para saber quando se deve parar nesse processo. A Mata Atlântica, em Pernambuco, só tem 3-4% da cobertura que havia em 1500 – e não se pára de derrubá-la. O que se pretende é mais liberdade para prosseguir na rapina que dura há 500 anos.
Falta ao brasileiro uma atitude de reverência à natureza – e de prudência no seu uso. O Japão, no século XVII, tinha uma área de florestas de menos de 20% do território. Foi decidido então refazer os bosques. Resultado: o país, hoje, com 127 milhões de habitantes, 380 mil km2, super-industrializado e urbanizado, tem 74% de superfície coberta por matas. A China, desde 1998, diante de desastres naturais causados pelos desmatamentos, proibiu a derrubada de árvores. Aqui se quer relaxar uma lei que protege encostas de morro e matas ciliares, levando de roldão a massa de agentes econômicos que cometeu crimes ambientais e deve multas ao Estado. Ora, se nós, que estacionamos em local proibido e somos multados pesadamente, temos que pagar pelo ônus da infração, por que endinheirados produtores rurais que rasgaram leis devem ser perdoados?
Tive o privilégio de visitar no dia 1º deste mês de junho o túmulo de S. Francisco em Assis (Itália). S. Francisco é o padroeiro da ecologia. Seu amor à natureza é exposto no belo “Cântico das Criaturas”, que ele compôs no leito de morte, exaltando o irmão Sol, a irmã Lua, o irmão Vento, a irmãzinha Água, a mãe Terra. Ora, dirão os pragmáticos, isso é coisa de beato. Só que, sem a mãe Terra – a Pachamama dos povos andinos (que agora está inscrita na Constituição nova da Bolívia e do Equador) – não se pode fazer nada. Que o digam os habitantes da Ilha de Páscoa e o povo Maia, cujo fim foi o resultado de ações contra o princípio da precaução no uso da Natureza. Vendo a lista de deputados – alguns em que até já votei – que mostraram como sua visão de mundo se distancia da perspectiva de São Francisco, tenho não só a lamentar, mas a pedir que não votemos mais neles.
Um comentário:
É como mudar a lei e colocar todos os criminosos na rua.
Uma vergonha pra humanidade.
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