O termo ambientalista ganhou uma conotação quase messiânica, frenética. É geralmente associado com pessoas do bem, honestas, interessadas no bem comum, na coletividade. Reza a lenda que a imortalização da alma não é garantia para todos e que no planeta da única chance, muitos não terão esse benefício. Mas, claro, existe uma regra maior que a do karma para transformar uma alma errante no universo (os cientistas vão negar tudo isso) em um ser imortal. A imortalidade não garantida tornaria seres já tão hostis ao bem comum piores ainda. Talvez por isso pouco se fala. Mais do que a lei de causa e efeito do karma, pouco compreendida, o caminho para a imortalização vem da capacidade (genuína, natural) de se preocupar com o outro.
Os ricos do planeta Terra não têm claramente essa preocupação, quando para atingir seu objetivo incansável de enriquecimento desnecessário, passam por cima do bem estar de bilhões de pessoas que seriam mais felizes do que cada um deles com a bilionésima parte das suas fortunas. Isso é o transcorrer do tempo – imanente, imaterial, inesquecível – que resolverá, dentro da aura da última chance. Mas a vinculação dos ambientalistas com uma aparente bondade esmaece por completo quando vemos sua perseguição de comunidades sem diálogo algum para simplesmente instalar obras faraônicas como hotéis, parques, lojas de conveniência, e ignorar por completo a vida das pessoas que ali estão. Quando os ambientalistas mentem dizendo que lutam pelo bem dos demais criando estruturas como parques nacionais que não respeitam a individualidade, o direito individual nem o meio ambiente, ficamos chocados, mas é isso exatamente o que fazem. Quando nos escritórios das empresas, nos departamentos de sustentabilidade, vemos pessoas ansiosas para ter uma SUV, ao invés de ir e vir de bicicletas pelas ruas, felizes por não gerar gás carbônico e rindo dos veículos parados, o mais novo oximoro da nossa modernidade repleta de oximoros: sistema educacional ignorante, sitema de transporte paralisador com veículos parados, sistema de comunicação sem conteúdo, sistema de saúde para doentes, sistema de alimentação desnutritiva...
Oximoros, mas o maior deles é dos oportunistas entitulados ambientalistas. Está mais do que na hora desse termo falso, errado, mal aplicado ser abandonado. Dizer que alguém é ambientalista é o mesmo que dizer que alguém tem dois olhos, uma boca, uma cabeça, etc. Todos somosambientalistas. Separar os ambientalistas, ditos bons e muitos não são, dos não ambientalistas, é fazer uso de mitos e mitos e mitos que abundam o consciente coletivo. Todos somos ambientalistas, não dá para tirar isso da regra de vida de todos, assim como não dá para tirar as leis do sol e da lua que regem nossos ciclos, amplamente ignorados pelo vulgo. Ir para seminários de sustentabilidade de helicóptero ou sonhar com uma SUV e trabalhar num departamento de desenvolvimento sustentável é um oximoro surreal. Eles existem aos borbotões. Sem entendimento algum da situação real do planeta, o fato de sermos todos um e, finalmente, de idéias estapafúrdias convergirem sempre para o mesmo modus operandi que jogou a humanidade na direção de um precipício. Como se isso não importasse para a classe dirigente, mas até eles estão nesse bonde e fazem parte da nossa espécie animal ameaçada de extinção, vai ser engraçado ver o bonde cair e essas pessoas, que poderiam ter escolhido outro rumo para a nossa vida coletiva, descobrirem que estamos todos no mesmo bonde, com o mesmo destino, inseparável, da nossa vida coletiva. A classe dirigente também está ameaçada. Incrível, a hecatombe ambiental global será extremamente democrática.
A classe dirigente além de tudo é corrupta em vários sentidos, porque trabalha para fazer uso do poder em seu benefício, mas, o poder foi feito para servir e não para se servir dele, como escreveu um filósofo da Antiga Grécia (ah os filósofos esquecidos em um erro de milhares de anos, onde nas escolas assuntos como filosofia, ecologia, educação sexual são tabus para um sistema que quer nos prender a todos, pelo sexo que é endeusado, junto com o consumo que assume nossa espécie animal se comportando como vírus num hospedeiro que não pode ser aniquilado).
Então, caros amigos ambientalistas benevolentes, ao invés de manterem atitudes tão discrepantes, parem de se autoentitular ambientalistas e passem a andar de bicicletas nas ruas, de consumir menos, de pregar uma vida simples e comunitária, de fortalecer os eixos democráticos para decisões que sejam cada vez mais em prol de todos e não de alguns interesses particulares que não são nem maiores nem mais importantes que o da nossa coletividade. Abandonem imediatamente a arrogância de não entender o outro lado, ou sequer ouvi-lo, de impor regras sem diálogo onde a única conversa é concordar com o que se pensa sobre determinado assunto. Os tais ambientalistas não podem ser tão oportunistas quanto os saqueadores do nosso planeta e do nosso futuro animal, nem tão cegos a ponto de achar que a simples criação de parques nacionais e de negociação de carbono com os mitos de economia de baixo carbono ou energia limpa serão suficientes para reformular nossa existência sócio-econômica e impedir o pior que cada vez mais se avizinha contra todos nós.
É isso, o recado é esse. Eu sou ambientalista, como todos os terráqueos e animais. É realmente necessário eu avisar isso? Quem precisa falar isso, porque será? A vida das pessoas não deveria estar pautapa pelas ações e não pelas palavras?
Hugo Penteado
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