Segue abaixo texto do João Pereira Coutinho e minha resposta.
Abraço a todos Hugo
JOÃO PEREIRA COUTINHO
Santos e pecadores
Não se pode transformar o aquecimento global em uma nova religião
SOU ALTAMENTE suspeito. Aquecimento global? Talvez exista. Cientistas vários garantem que o mundo aqueceu 0,5ºC desde 1975. Não duvido. Como não duvido que o mundo arrefeceu entre 1940 e 1975. Como não duvido que aqueceu entre 1920 e 1940. Como não duvido que arrefeceu, e arrefeceu brutalmente, entre os séculos 17 e 18. Como não duvido que aqueceu no século 11, proporcionando um período de verdadeira explosão demográfica, econômica e técnica na Idade Média que só seria repetida com a Revolução Industrial. E daí?
Variações climatéricas fazem parte da nossa história na Terra. Aliás, da nossa Pré-História. A questão está em saber se o aquecimento global é produto da ação humana e, em caso afirmativo, se repousa nas mãos dos homens a chave para salvar a nossa vida coletiva.
Acompanho os debates. Leio com interesse. Pondero. Uma única certeza: não existem certezas. E é literalmente impossível avaliar a real contribuição do homem para as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera (a natureza, por exemplo, é responsável pela maior parcela de emissões).
A juntar a tudo isso, alguns cientistas garantem que a atividade solar, variável em sua intensidade cíclica, tem uma palavra sobre o assunto. E não é de excluir que a estabilização da temperatura desde o início do presente século (um desconfortável mistério que tem dividido a comunidade científica) seja resultado direto dessas variações. Que fazer?
Um conselho: não transformar o aquecimento global em nova religião da humanidade. Não é fácil, eu sei: com o declínio das teologias tradicionais no Ocidente cristão, os homens sempre se apressaram a preencher o vazio ideológico com causas redentoras.
O marxismo foi uma delas, com a sua promessa de substituir o reino de Deus pelo reino do Proletariado.
Com a falência da utopia vermelha, veio a utopia verde. E com vantagens: o aquecimento global oferece, em linguagem "científica", algumas das pragas bíblicas mais entranhadas na consciência comum. Basta ouvir os catastrofistas para imaginar glaciares que derretem, águas que sobem. Só falta mesmo Noé e a arca.
O meu conselho final seria deixar para a ciência uma discussão que é sobretudo científica. Acontece que a ciência dá sinais de manipulação e fraude. No momento em que o mundo se prepara para discutir o futuro do clima em Copenhague, o sistema informático da Universidade de East Anglia foi atacado por "hackers" que divulgaram na internet cerca de mil e-mails e 3.000 documentos da reputada Unidade de Pesquisa do Clima.
Esclarecimento prévio: a Unidade de Pesquisa do Clima de East Anglia é o centro nevrálgico da discussão climatérica atual. É com base nas suas "pesquisas" e "projeções" que o aquecimento global entrou na agenda política das Nações Unidas e dos 192 países que se irão encontrar na capital da Dinamarca.
Infelizmente, as revelações são assustadoras (para dizer o mínimo).
Lendo os e-mails, cuja autenticidade não foi desmentida, encontramos "cientistas" que, em nome da sua "cruzada" (uso o termo no sentido próprio), manipulavam os dados para garantir um quadro de indesmentível aquecimento; que recusavam o acesso de outros cientistas às suas investigações (alegando, por vezes, perda ou destruição de dados); e que conspiravam para impedir a publicação de ensaios "céticos" sobre o aquecimento global em revistas da especialidade.
Todos sabemos que os cientistas não são santos, como dizia Marcelo Leite nesta Folha. Fato. Mas existe uma diferença entre não ser santo e pertencer à família Soprano.
E agora? Agora, o mundo prepara-se para reunir em Copenhague e garantir uma redução de 50% nas emissões de CO2 até 2050, tendo como referência os valores anteriores a 1990.
Não vale a pena repetir as consequências econômicas desastrosas que uma medida dessas teria para todos os envolvidos, e em especial para os países em vias de desenvolvimento: o uso de energias mais caras e "limpas" condenaria largas parcelas da humanidade a novos ciclos de pobreza, fome e doença.
O problema é mais básico e urgente: confrontados com um escândalo científico dessa proporção, qualquer decisão política e econômica sobre o aquecimento global antropogênico não pode ser tomada com base em falsidades.
Antes de limpar o mundo, o mundo deveria exigir que os cientistas limpassem as suas cabeças primeiro. P.S. O colunista vai de férias em dezembro. Regressa dia 5 de janeiro.
jpcoutinho@folha.com.br
minha resposta
Prezado João Pereira Coutinho,
Você tem toda razão, aquecimento global não deve ser transformado em religião, até porque ele não é o nosso único problema nem o principal. Pouco se fala da maior extinção em massa de espécies animais e vegetais dos últimos 65 milhões de anos causada pela humanidade que, assim como a questão do clima, vem sendo estudada há décadas. Essa extinção é assustadora, porque de acordo com Stephe Jay Gould é muita ingenuidade achar que jamais irá se voltar contra os causadores. Por dia, perdemos dezenas senão centenas de espécies. Aqui na Terra todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos. Toda espécie animal que não for capaz de compartilhar o meio ambiente com as demais espécies está fadada ao desaparecimento, segundo a autora do livro Biomimicry. As civilizações anteriores desapareceram da Terra sem emitir um quilograma sequer de gases do efeito estufa.
Em relação à denúncia sobre os estudiosos do clima até agora não consegui verificar a veracidade dos fatos e acho que é seu dever buscar esse levantamento do que simplesmente acreditar naquilo que pode fazer parte de uma conspiração. Toda a indústria do carvão e de combustíveis fósseis já se levantou contra o assunto aquecimento global e mudança climática (ambos não são a mesma coisa e não necessariamente estão relacionados). Uma descoberta minha que me assustou foi a questão do buraco da camada de ozônio. Quando os cientistas provaram que eram os gases fluorcarbonetos (CFC) que causavam a destruição do ozônio, a indústria reagiu negando. O maior produtor mundial de CFC conseguiu através de campanhas e lobbies retardar a ação para evitar esse estrago durante 10 anos. Detalhe que não pode ser ignorado: se o Ozônio desaparecer da Terra, toda a vida desaparece, o DNA é destruído pela radiação ultravioleta que o ozônio filtra. Era isso que estava em jogo, tanto quanto na questão do aquecimento global: a vida na Terra.
Existe uma diferença muito grande em relação ao desaparecimento de civilizações anteriores, buraco do ozônio e aquecimento global: os colapsos ambientais anteriores foram locais e restritos a pequenos povos ou setores industriais. O problema ambiental atual não está apenas relacionado com o aquecimento global nem com questões de energia, mas com um sistema econômico que pretende ser maior que o planeta e que ignora a sua extrema dependência em relação à natureza, até porque se baseia numa teoria econômica falsa. O risco é agora global e ele vai acontecer se não mudarmos esse conflito entre o sistema econômico e o meio ambiente, cuja escala atual e contínuo crescimento de estruturas, coisas e pessoas significa o atual colapso dos 20 serviços ecológicos dos quais dependemos para viver. Não é só uma questão de aquecimento global e mesmo os que acreditam nele deveriam ficar sumamente preocupados, porque todo o resto (como a ruína da água e o fim das florestas) é mais assustador. A extinção da vida já em curso mostra isso.
Centrar o debate no aquecimento global é um erro maior do que duvidar dele.
Poderia escrever muito mais, mas convido-o para um almoço para conversarmos.
Variações climatéricas fazem parte da nossa história na Terra. Aliás, da nossa Pré-História. A questão está em saber se o aquecimento global é produto da ação humana e, em caso afirmativo, se repousa nas mãos dos homens a chave para salvar a nossa vida coletiva.
Acompanho os debates. Leio com interesse. Pondero. Uma única certeza: não existem certezas. E é literalmente impossível avaliar a real contribuição do homem para as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera (a natureza, por exemplo, é responsável pela maior parcela de emissões).
A juntar a tudo isso, alguns cientistas garantem que a atividade solar, variável em sua intensidade cíclica, tem uma palavra sobre o assunto. E não é de excluir que a estabilização da temperatura desde o início do presente século (um desconfortável mistério que tem dividido a comunidade científica) seja resultado direto dessas variações. Que fazer?
Um conselho: não transformar o aquecimento global em nova religião da humanidade. Não é fácil, eu sei: com o declínio das teologias tradicionais no Ocidente cristão, os homens sempre se apressaram a preencher o vazio ideológico com causas redentoras.
O marxismo foi uma delas, com a sua promessa de substituir o reino de Deus pelo reino do Proletariado.
Com a falência da utopia vermelha, veio a utopia verde. E com vantagens: o aquecimento global oferece, em linguagem "científica", algumas das pragas bíblicas mais entranhadas na consciência comum. Basta ouvir os catastrofistas para imaginar glaciares que derretem, águas que sobem. Só falta mesmo Noé e a arca.
O meu conselho final seria deixar para a ciência uma discussão que é sobretudo científica. Acontece que a ciência dá sinais de manipulação e fraude. No momento em que o mundo se prepara para discutir o futuro do clima em Copenhague, o sistema informático da Universidade de East Anglia foi atacado por "hackers" que divulgaram na internet cerca de mil e-mails e 3.000 documentos da reputada Unidade de Pesquisa do Clima.
Esclarecimento prévio: a Unidade de Pesquisa do Clima de East Anglia é o centro nevrálgico da discussão climatérica atual. É com base nas suas "pesquisas" e "projeções" que o aquecimento global entrou na agenda política das Nações Unidas e dos 192 países que se irão encontrar na capital da Dinamarca.
Infelizmente, as revelações são assustadoras (para dizer o mínimo).
Lendo os e-mails, cuja autenticidade não foi desmentida, encontramos "cientistas" que, em nome da sua "cruzada" (uso o termo no sentido próprio), manipulavam os dados para garantir um quadro de indesmentível aquecimento; que recusavam o acesso de outros cientistas às suas investigações (alegando, por vezes, perda ou destruição de dados); e que conspiravam para impedir a publicação de ensaios "céticos" sobre o aquecimento global em revistas da especialidade.
Todos sabemos que os cientistas não são santos, como dizia Marcelo Leite nesta Folha. Fato. Mas existe uma diferença entre não ser santo e pertencer à família Soprano.
E agora? Agora, o mundo prepara-se para reunir em Copenhague e garantir uma redução de 50% nas emissões de CO2 até 2050, tendo como referência os valores anteriores a 1990.
Não vale a pena repetir as consequências econômicas desastrosas que uma medida dessas teria para todos os envolvidos, e em especial para os países em vias de desenvolvimento: o uso de energias mais caras e "limpas" condenaria largas parcelas da humanidade a novos ciclos de pobreza, fome e doença.
O problema é mais básico e urgente: confrontados com um escândalo científico dessa proporção, qualquer decisão política e econômica sobre o aquecimento global antropogênico não pode ser tomada com base em falsidades.
Antes de limpar o mundo, o mundo deveria exigir que os cientistas limpassem as suas cabeças primeiro. P.S. O colunista vai de férias em dezembro. Regressa dia 5 de janeiro.
jpcoutinho@folha.com.br
minha resposta
Prezado João Pereira Coutinho,
Você tem toda razão, aquecimento global não deve ser transformado em religião, até porque ele não é o nosso único problema nem o principal. Pouco se fala da maior extinção em massa de espécies animais e vegetais dos últimos 65 milhões de anos causada pela humanidade que, assim como a questão do clima, vem sendo estudada há décadas. Essa extinção é assustadora, porque de acordo com Stephe Jay Gould é muita ingenuidade achar que jamais irá se voltar contra os causadores. Por dia, perdemos dezenas senão centenas de espécies. Aqui na Terra todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos. Toda espécie animal que não for capaz de compartilhar o meio ambiente com as demais espécies está fadada ao desaparecimento, segundo a autora do livro Biomimicry. As civilizações anteriores desapareceram da Terra sem emitir um quilograma sequer de gases do efeito estufa.
Em relação à denúncia sobre os estudiosos do clima até agora não consegui verificar a veracidade dos fatos e acho que é seu dever buscar esse levantamento do que simplesmente acreditar naquilo que pode fazer parte de uma conspiração. Toda a indústria do carvão e de combustíveis fósseis já se levantou contra o assunto aquecimento global e mudança climática (ambos não são a mesma coisa e não necessariamente estão relacionados). Uma descoberta minha que me assustou foi a questão do buraco da camada de ozônio. Quando os cientistas provaram que eram os gases fluorcarbonetos (CFC) que causavam a destruição do ozônio, a indústria reagiu negando. O maior produtor mundial de CFC conseguiu através de campanhas e lobbies retardar a ação para evitar esse estrago durante 10 anos. Detalhe que não pode ser ignorado: se o Ozônio desaparecer da Terra, toda a vida desaparece, o DNA é destruído pela radiação ultravioleta que o ozônio filtra. Era isso que estava em jogo, tanto quanto na questão do aquecimento global: a vida na Terra.
Existe uma diferença muito grande em relação ao desaparecimento de civilizações anteriores, buraco do ozônio e aquecimento global: os colapsos ambientais anteriores foram locais e restritos a pequenos povos ou setores industriais. O problema ambiental atual não está apenas relacionado com o aquecimento global nem com questões de energia, mas com um sistema econômico que pretende ser maior que o planeta e que ignora a sua extrema dependência em relação à natureza, até porque se baseia numa teoria econômica falsa. O risco é agora global e ele vai acontecer se não mudarmos esse conflito entre o sistema econômico e o meio ambiente, cuja escala atual e contínuo crescimento de estruturas, coisas e pessoas significa o atual colapso dos 20 serviços ecológicos dos quais dependemos para viver. Não é só uma questão de aquecimento global e mesmo os que acreditam nele deveriam ficar sumamente preocupados, porque todo o resto (como a ruína da água e o fim das florestas) é mais assustador. A extinção da vida já em curso mostra isso.
Centrar o debate no aquecimento global é um erro maior do que duvidar dele.
Poderia escrever muito mais, mas convido-o para um almoço para conversarmos.
Abraço
Hugo
5 comentários:
Acho que para percebermos o aquecimento global, ou como prefiro dizer, a "desorganização climática global", é mais simples optarmos pela primeira etapa de qualquer análise, a observação.
E ao observarmos o planeta é evidente que furacões no sul do Brasil é um fato novo, assim como a quantidade das chuvas no sudeste, e assim por diante.
Poderíamos enumerar no mundo todo mudanças climáticas relevantes e que estão ocorrendo agora simultâneamente, porém é desnecessário pois basta pesquisar.
Por isso acredito que, mais relevante do que discutir números (que podem ser manipulados)é refletirmos sobre o que vemos e constatamos junto com os milhares de moradores destas regiões afetadas.
junyorpalhares@hotmail.com
Quem emite opiniões como a do Coutinho não é do ramo e não consegue entender que os prejuízos econômicos da não-ação, de deixar tudo como está, serão muito maiores do que os eventuais custos de transformar a economia atual numa economia "limpa", inclusive e principalmente em países como o Brasil. É só ver os custos que já temos no sul e sudeste do Brasil com as mudanças climáticas:
http://matasnativas.wordpress.com/2009/11/24/o-temporal-de-19-de-novembro-em-imbe-e-tramandai/
E isso não ficará por aí, com os prejudicados aceitando passivamente os prejuízos decorrentes da externalização generalizada de custos ambientais por parte dos agentes econômicos, com o beneplácito do poder público. Já há indivíduos e grupos organizando-se para pleitear indenizações do estado e dos grupos econômicos por prejuízos decorrentes da deterioração ambiental. Quando este movimento se transformar em tsunami, o estado vai quebrar. Simples assim!
Monika Naumann
Eng. Florestal / Gestora Ambiental
http://matasnativas.wordpress.com
Observação ,eis uma coisa simples que nós todos podemos fazer...Observar.
Nosso futuro comum está pautado na percepção,ou mudamos o modo de olhar...ou já eramos.
É mudar ou mudar,enquanto escassiarmos a natureza em prol da economia,baseada no consumo exagerado,os olhos estarão vendados,objetiva e subjetivamente estaremos corroborando com o sistema,pois as falsas desculpas se amontoam tentando cegar-nos ainda mais...Ou abrimos os olhos e os braços já...ou desapareceremos simulaneamente à constatação do aquecimento global.
Olá, Hugo. Farei uma matéria sobre o Aquecimento Global e gostaria de poder contar com sua participação, se possível, para o jornal Cidadão do Mundo, impresso e distribuído gratuitamente em BH. É possível comentar o documentário a Farsa do Aquecimento Global, que encontra-se no You Tube? Preciso de opiniões contrárias para compor uma síntese pessoal. Obrigado , Gusthavo Corrêa
Gustavo, manda urgente então um email para hugopenteado@uol.com.br. Estou indo viajar hoje e lá não tenho acesso nem a meu celular nem a email. Caso não consigamos falar ainda hoje para travar esse contato, manda um email para tatianaclauzet@hotmail.com que ela me avisa, mas manda seus dados para eu poder entrar em contato.
Abraço Hugo
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