quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Ecologizando a economia

Por Maurício Andrés Ribeiro (*)

Incluir a economia na ecologia é uma tarefa inadiável para evitar o desastre resultante da desvinculação de um e outro campo do conhecimento.
O divórcio entre economia e ecologia é denunciado por economistas com visão ecológica, que questionam os falsos pressupostos da economia e os indicadores econômicos, tais como o PIB- Produto Interno Bruto.
A partir dos trabalhos pioneiros de Nicholas Georgescu Roegen (A lei da entropia e o processo econômico), de James Tobin, de Herman Daly, de Ignacy Sachs, de José Eli da Veiga, ainda são poucos os que se dedicam a essa valiosa tarefa de desconstrução de mitos.
No Brasil, um desses economistas com visão ecológica é Hugo Penteado, que trata desses falsos pressupostos e propõe a harmonização entre as questões ecológicas e econômicas.
Aponta que todos os sistemas econômicos (indústria, agricultura, transportes, comércio, e seus derivados) são lineares (extrai-produz-descarta), são degenerativos e submetidos a crescimento exponencial infinito; e que a insustentabilidade tem sido mascarada pelo comércio global. Ele trata o sistema econômico (linear, infinito, degenerativo) como um subsistema da natureza (circular, finito, regenerativo) ao afirmar que a “economia é um subsistema da natureza. Por essa razão, tem que imitar o seu funcionamento. Qualquer empreendimento/projeto ou país para contribuir para o desenvolvimento sustentável tem que ser: circular, regenerativo e finito.”
Nessa mesma linha, o livro “Reconsiderar a riqueza”, de Patrick Viveret, recorre à origem grega das palavras economia e ecologia:
“Em grego, de fato, oikos nomos significa a organização, a lei, a ordem da casa. A função da economia, portanto, seria cuidar de nossas pequenas casas, aquelas que só podem perseverar em suas atividades se a teoria da grande casa – nosso planeta ou nossa biosfera – for capaz de abrigá-las. Ao mesmo tempo, é igualmente legítimo que a teoria da grande casa, oikos logos, ou, dito de outra maneira, a ecologia, seja a teoria primordial, da qual a oikos nomos constitui um dos pontos de aplicação. Assim, qualquer inversão que faça da ecologia o complemento anímico simpático-marginal da economia será propriamente suicida para a humanidade”. (Pg. 14)
Hugo Penteado aponta os três mitos da Teoria econômica tradicional: o mito mecanicista (que considera o sistema econômico neutro para o meio ambiente); o mito tecnológico (de que o meio ambiente é inesgotável) e o mito neoliberal, que difunde a idéia de que todas as benesses sociais dependem do crescimento.
Reportando-se ao caso do colapso da ilha de Páscoa, que ao destruir suas florestas se autodestruiu, ele considera que a questão desses limites é hoje global. (A ilha de Páscoa é caso estudado no livro Colapso, de Jared Diamond, que também fala da ilha de Tikopia, na qual a população soube a tempo tomar decisões para evitar o desastre). Hoje, a Terra pode ser vista como uma ilha no universo, com limites físicos bem definidos.
Hugo Penteado defende que a Sustentabilidade implica em:
· mudança de valores
· revisão do modelo e teoria econômicos, com abandono do mito da infinitude e do crescimento eterno
· promoção de atividades socioambientalmente sustentáveis
· inclusão nos preços do custo ambiental via tributação
· abandono da extração a favor da reciclagem
· abandono do desperdício a favor da reutilização
· mudança da matriz energética
· focar no estoque e não no fluxo
· focar em serviços e não na produção (desmaterializar a economia)
· estancar o crescimento econômico material e populacional
· desvincular os sistemas fiscais, empresariais, financeiros e políticos da necessidade de crescer sempre
· abandonar o grande a favor do pequeno, o global a favor do local
· adotar a sustentabilidade no núcleo de negócios ou atividades de cada um, de cada família, de cada empresa
· buscar equilíbrio entre gerações atuais e futuras, entre os seres humanos e os demais seres vivos, entre as nossas atividades e a natureza, ao invés de pensarmos apenas em crescimento, sem discutir suas conseqüências, como concentração de riqueza e destruição dos ecossistemas e dos empregos.
Ele mantém o Blog www.nossofuturocomum.blogspot.com
Essas idéias estão expostas em seu livro Ecoeconomia – Uma nova abordagem (2003) Ed. Lazuli, disponível para aquisição no site www.lazuli.com.br

(*) Autor de Ecologizar e Tesouros da Índia

WWW.ecologizar.com.br
mandrib@uol.com.br

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