terça-feira, 27 de agosto de 2013

O ministro verde - comentário

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Um ministro “verde” comanda o Itamaraty
seg, 26/08/13
por andre trigueiro
Luiz Alberto Figueiredo estreou na “ala verde” do Itamaraty assessorando o então Ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, durante a Conferência Internacional da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92). De lá para cá, assumiu funções cada vez mais importantes na condução dos trabalhos que nortearam a posição oficial do governo brasileiro em diferentes conferências internacionais das Nações Unidas.
Como negociador-chefe do Brasil na COP-15 (a maior e mais importante de todas as Conferências do Clima realizadas até hoje, em Copenhagen, na Dinamarca) Figueiredo teve de interromper reuniões de trabalho com os colegas diplomatas para assessorar diretamente a então pré-candidata à Presidência da República Dilma Rousseff, que apareceu por lá para marcar pontos na corrida eleitoral juntamente com os demais pré-candidatos Marina Silva e José Serra. Dilma ficou marcada pela gafe cometida durante uma entrevista coletiva quando disse que “o meio ambiente é um obstáculo ao desenvolvimento sustentável”. Pano rápido. E cara de paisagem para Figueiredo demais autoridades presentes.
A mais importante atribuição conferida a Luiz Alberto Figueiredo até ser nomeado hoje Ministro das Relações Exteriores foi a de coordenador-geral dos preparativos da Rio+20, o maior encontro da História da ONU em número de países. Ele organizou uma reunião com jornalistas semanas antes do evento para explicar os objetivos da Conferência, esclarecer dúvidas e manifestar com clareza as posições dele – e não apenas do país – em relação a várias questões.
Era comum ouvi-lo dizer que os negociadores dos países ricos “não eram ambientalistas”, e que as questões puramente econômicas preponderavam nos círculos diplomáticos. Defendia o direito de o país crescer de forma sustentável, desde que as nações mais ricas também assumissem compromissos nessa direção. 
Com o tempo, Figueiredo aprendeu o “ecologês” e tomou gosto pelos assuntos ambientais. Em momentos de descontração, compartilhava suas expectativas mais sinceras de acordos multilaterais amplamente favoráveis à sustentabilidade, mesmo sabendo que isso seria impossível.
Agora Ministro, no comando do Itamaraty, Figueiredo terá a chance de qualificar melhor a posição do Brasil em duas agendas internacionais que convergirão em 2015. No calendário das negociações do clima, 2015 será o ano em que os países deverão apresentar prazos e metas para a mitigação e a adaptação das mudanças do clima. Também daqui a dois anos, as nações do planeta deverão apresentar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que substituirão as Metas do Milênio da ONU, resultado direto da Rio +20, organizada por ele.
Pode-se dizer que ele é hoje o diplomata mais preparado para assumir a condução dessas negociações estratégicas. Como ministro, é apenas um servidor direto da Presidência da República, mas que pode influenciar as canetadas da exigente chefe.
Não quero ser pessimista nem maniqueísta, mas o comentário da presidente Dilma que o meio ambiente é um obstáculo para o desenvolvimento sustentável é a visão geral dos economistas e das lideranças. Quando a bandeira do meio ambiente entra no debate, ou é através de muito radicalismo ou apenas enfeite. O extremo ambientalista e o econômico são do ponto de vista da lógica idênticos: um só vê a economia, o outro só o meio ambiente, nenhum dos dois vê as pessoas. Surreal, posto que são as pessoas que podem construir um futuro diferente desse presente horrendo no qual estamos.
Acho muito difícil qualquer pauta verde vicejar enquanto ela for verde, separada, não fizer parte de uma visão sistêmica com o conhecimento dos riscos envolvidos e dos objetivos reais do atual sistema que é o de enriquecer os ricos, distanciar umas pessoas das outras, destruir o emprego e ignorar por completo a ameaça que as perdas dos serviços ecológicos irão impor a toda vida desse planeta.
Enfim, uma mudança radical de paradigma é o que vai tornar nosso futuro melhor. Todos e principalmente as lideranças têm que entender que só é possível ser feliz se todos forem, que o símbolo de sucesso das pessoas não pode ser o distanciamento material um dos outros, mas a proximidade, que um líder tem que ser escolhido pela capacidade maior que tem de ajudar todos e que nós não valemos pelo que somos (beleza ou inteligência) nem pelo que temos (riqueza ou poder) mas pelo que fazemos uns aos outros e a toda natureza.
É isso. Fora disso, o futuro segue do mesmo jeito que o presente.
Hugo

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