quinta-feira, 28 de abril de 2011

E se a Amazônia morrer?

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Se a Amazônia morrer, nós morreremos.
Sem a Amazônia todos estaremos mortos.
Hugo


E se a Amazônia morrer?

MARCELO LEITE

Foi só com uns 40 anos de idade, ali por 1997, que tive o privilégio de ver o chão de um pedaço de floresta amazônica forrado com as flores do piquiá, no mês de setembro. Num livrinho de 2001 (A Floresta Amazônica, da série Folha Explica), registrei o desejo de que minhas filhas pudessem um dia ter a mesma visão da gigantesca árvore.

Elas já são adultas e não tiveram tal sorte, embora já tenham ido à Amazônia. Mas suas chances diminuem a cada dia.

É só uma possibilidade. Mas aprendi a temer a Lei de Murphy (algo como: "tudo que pode dar errado acaba dando errado").

Refiro-me a um artigo de pesquisadores britânicos e brasileiros publicados sexta passada no periódico "Science", sob a liderança de Simon Lewis, da Universidade de Leeds.

Mais uma peça no quebra-cabeças científico que anuncia a possibilidade, cada vez menos improvável, de que a floresta amazônica venha a perecer sob os rigores da mudança do clima. O grupo, que inclui integrantes da ONG de pesquisa Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), comparou assecas de 2005 e 2010 na região e concluiu: a do ano passado foi muito pior.

Provavelmente você ouviu falar mais da estiagem de meia década atrás. No entanto, os cálculos desse pessoal indicam que 37% das florestas da região, em 2005, sofreram deficiência grave de chuvas --contra 57% em 2010. Como muitas árvores já estavam debilitadas pelo estresse hídrico anterior, o time prevê que a mortalidade será muito maior, com potencial para emitir 5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera.

Essa quantidade é mais ou menos equivalente a tudo que os Estados Unidos, pior vilão do aquecimento global, liberam na atmosfera a cada ano como produto da queima de combustíveis fósseis. É carbono em quantidade para ninguém pôr defeito.

Lewis alerta que há muita incerteza envolvida nesses cálculos, mas eles combinam --e muito-- com o pior cenário imaginado para a Amazônia: a mortalidade progressiva dessa que é uma das florestas tropicais mais ricas do planeta, em quantidade de espécies.

A mortalidade de árvores acabaria por transformá-la numa fisionomia vegetal menos densa e diversa, mais parecida com um cerradão. Alguns modelos de computador sugerem que o processo pode tornar-se irreversível com um nível de destruição a partir de 40%. Quase 20% da floresta já foram para o saco no Brasil.

O cenário algo apocalíptico é conhecido como "dieback", em inglês. Surgiu de uma longa tradição de estudos em que desponta a figura do americano Tom Lovejoy, que passou muitos anos estudando o efeito da fragmentação da floresta amazônica perto de Manaus.

Ele ajudou a formar gente do valor de Daniel Nepstad (co-autor de Lewis no artigo), que dedicou anos de sua vida a pesquisas em Paragominas, na região do Tapajós e em Belém, sede do Ipam. Nepstad contribuiu, por sua vez, para formar muitos parceiros brasileiros de estudos, como Paulo Brando e Paulo Moutinho.

Foi na companhia de Moutinho, aliás, que topei com o pé de piquiá deitando flores. Durante uma caminhada para conhecer o projeto Seca-Floresta, experimento muito doido que o Ipam montou perto de Santarém (PA) justamente para simular os efeitos de secas prolongadas sobre a floresta, retirando dela a maior parte da água da chuva com auxílio de centenas de painéis de plástico.

Isso foi na década de 1990. Duas décadas depois, as piores hipóteses então investigadas chegam mais perto de virar realidade. Uma realidade que, se vingarem as previsões mais pessimistas, pode tornar a visão do piquiá cada vez mais rara, quiçá acabar com ela.

O que será de nós todos, no Brasil, se a Amazônia agonizar?

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O QUADRO ACELERADO DE LIBERAÇÕES DE OGMs NO BRASIL, O CONTROLE DA CADEIA AGROALIMENTAR E A SISTEMÁTICA VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

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Entre 2008 e 2010 o Brasil aprovou o uso comercial de 26 tipos de sementes transgênicas, mais 10 vacinas de uso animal e uma levedura GM de uso industrial. De um total de 28 variedades GM hoje liberadas, 21 sementes são para resistência a herbicidas. Não por acaso, em 2008 o Brasil passou a ser o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e, em 2009, o país com a segunda maior área cultivada com transgênicos. Além disso, a cadeia produtiva dos alimentos transgênicos está concentrada em apenas 6 grupos multinacionais, que controlam a produção de sementes e também de agrotóxicos.

Em março deste ano organizações da sociedade civil, movimentos sociais, pesquisadores e representantes do setor produtivo discutiram esse quadro de descontrole com o Secretario de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento Carlos Nobre, apresentando propostas e cobrando algumas medidas por parte do Ministério de Ciência e Tecnologia.

O documento elaborado por *AS-PTA* e *Terra de Direitos* e entregue ao MCT está agora disponível na íntegra e pode ser obtido em http://bit.ly/OGMsBrasil

<http://boletimtransgenicos.campanhasdemkt.net/registra_clique.php?id=H%7C221191%7C57486%7C3332&url=http%3A%2F%2Fbit.ly%2FOGMsBrasil>

*SUMÁRIO*

*1. Breve contexto*

- *Uso crescente de agrotóxicos* - Entre 2008 e 2010 o Brasil aprovou o uso comercial de 26 tipos de sementes transgênicas, mais 10 vacinas de uso animal e uma levedura GM de uso industrial. De um total de 28 variedades GM hoje liberadas, 21 sementes são para resistência a herbicidas. Em 2008 o Brasil passou a ser o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e, em 2009, o país com a segunda maior área cultivada com transgênicos. A soja, que a principal cultura transgênica no país, consome 46% de todo o veneno aplicado nas plantações.

- *Concentração da cadeia produtiva* - Apenas 6 grupos multinacionais controlam todo o setor de sementes transgênicas. Já no segundo ano de plantio de milho transgênico 75% das novas cultivares no mercado eram
transgênicas. Como essas 6 múltis são também as maiores sementeiras do mundo, manipulam o mercado de forma a reduzir as opções de sementes convencionais.

- *Contaminação* - As sementes transgênicas foram liberadas sem a criação de garantias efetivas de coexistência para os demais produtores. A contaminação vem ocorrendo tanto pelo fluxo de pólen como pela mistura de grãos ao longo da cadeia produtiva.

*2. Atuação da CTNBio*

- *Sigilo* - os processos na CTNBio há tempos tramitam sob sigilo. Mais recentemente até membros da Comissão têm sido impedidos de acesso à documentação. Há casos em que inclusive resultados de ensaios de campo
são classificados como de interesse industrial. A CTNBio tem vetado acesso de terceiros aos processos, atuando de forma pouco transparente e comprometendo o conteúdo das audiências públicas.

- *Ausência de estudos independentes* - as liberações comerciais são aprovadas quase que exclusivamente com base nas informações da empresa interessada, sendo que no geral os dados apresentados são falhos e incompletos e sem qualidade, por exemplo, para passar pelo crivo de uma publicação científica.

- *Papel das liberações planejadas* - os testes de campo são aprovados aos milhares de maneira quase automática. Estes que deveriam gerar informações de biossegurança em condições brasileiras limitam-se a testes agronômicos e até mesmo demonstração para produtores em feiras agropecuárias.

*3. Principais ilegalidades*

- *Avaliações em desacordo com a lei* - A liberação comercial de uma semente GM no geral vale irrestritamente para todo o país, mas sua avaliação prévia de risco não exige testes nos diferentes biomas. Os efeitos da tecnologia em larga escala só serão conhecidos se forem feitos estudos de seguimento, mas a CTNBio tem dispensado a aprovação de planos de monitoramento pós-liberação comercial.

- *Eventos piramidados* - 10 das 28 sementes GM liberadas comercialmente resultam do cruzamento de 2 ou mais OGMs. Essas plantas são de análise evidentemente mais complexa, mas estão recebendo tratamento quase de
aprovação automática. A CTNBio vem, caso a caso, dispensando a aplicação de suas regras internas para liberações comerciais.

- *Mosquito transgênico* - Em dezembro passado a CTNBio aprovou teste de campo com /Aedes aegipity/ transgênicos para controle da dengue. Toda a informação disponível ao público resumia-se a experimentos sobre
"insetos GM - NB-2". Na verdade, milhares desses mosquitos já estão sendo soltos em cinco bairros de Juazeiro-BA sem o consentimento prévio informado da população local.

- *Levedura transgênica* - a CTNBio aprovou uma estirpe de /Saccharomyces cerevisae/ modificada para a produção de diesel a partir do bagaço de cana. Ocorre que a levedura foi criada a partir de técnicas de biologia sintética, para as quais não há uso regulamentado no país.

*4. Decisões COP 10 - MOP 5*

- Realizada em outubro passado no Japão, os encontros resultaram na aprovação de protocolo de avaliação de risos de OGMs que defendemos que seja incorporado pelo Brasil e reafirmou as moratórias internacionais às tecnologias genéticas de restrição de uso - GURTs, à geoengenharia e à biologia sintética.\

***

Estamos sempre tentando escamotear o problema com soluções inteligentes. Mas vamos colocar em perspectiva para fazer nossas escolhas:

SOLUÇÃO 1 - para produzir mais alimentos com menos agrotóxicos devemos fazer uso da tecnologia dos trangênicos e com isso diminuir o impacto sobre o ecossistema (aqui não podemos fazer uso do mito do quociente, pelo qual o uso de agrotóxicos por unidade de produto cai para uma produção que se multiplicou infinitamente, pois mesmo com a penetração forte dos trangênicos, o impacto nos ecossistemas continuará subindo...).

SOLUÇÃO 2 - a escassez de alimentos é um mito, dado três fatores: 1) o enorme desperdício de alimentos no ciclo produtivo inteiro; 2) dada a disseminação de hábitos voltados para alimentos intensivos em grãos (carne, leite e ovos) que aumentam muitas vezes o consumo de terra, água e insumos na produção obtendo o mesmo montante de calorias e 3) dada a produção competitiva de biocombustíveis para alimentar outro enorme desperdício de matéria e energia na área de transportes. Mudanças de hábitos na direção correta e fim do desperdício tornam desnecessário qualquer preocupação com equilíbrio ecológico, fim das abelhas, e outras evidências preocupantes e sem nexo causal claro que justificariam maior precaução da nossa parte.

Adicionalmente, com ou sem novas tecnologias para produzir mais alimentos, alguém tem que reconhecer a impossibilidade de se produzir cada vez mais alimentos para demandas cada vez mais estratosféricas, competitivas com milhares de outras áreas também inchadas sobre espaços territoriais e ecossistêmicos claramente esgarçados e finitos (a perda gritante de terras na China para urbanização e industrialização é um bom exemplo). A pressão sobre o planeta, no conceito de ecosfera onde a vida se desenvolve, já se traduziu no maior processo de extinção em massa de espécies animais e vegetais dos últimos 65 milhões de anos e isso deveria ser um alerta, pois é muita ingenuidade achar que essa extinção jamais irá se voltar contra os causadores. É o caso de ao invés de se buscar novas formas de de expandir produção de alimentos, começar a cortar os desperdícios e hábitos gananciosos.

Em última instância – e Roegen falava isso no problema de falta de terras do seu país natal, a Romênia – não há como resolver o problema sem estabilizar a população e suas demandas. Para o problema de falta de terras, era necessário uma reforma agrária, mas, no limite, o problema só estará resolvido com uma população estável e compatível com a sua capacidade ecológica de sustentação.

Enquanto continuarmos brincando com ausência de limites sistêmicos e com a economia inteira sendo um sistema isolado como o Universo, qualquer tecnologia só irá acelerar o passo em direção ao precipício. De forma divertida, o mesmo está cada vez mais próximo.

Abraço


Hugo


O melhor caminho seria uma drástica mudança de hábitos alimentares, com maior consciência de todos, clareza a cada garfada do custo que foi a produção, tanto de sofrimento animal (humanos e não humanos) e ambiental. A expansão dos transgênicos vem da nossa inconsciência generalizada, tanto quanto pouco ligamos sobre como aquele pedaço de animal morto chegou no nosso prato, entre várias outras coisas. Sugiro todos lerem "Comer Animais", ou ver os vídeos "Terráqueos", "Meet your Meat", "A Carne É Fraca", entre outros. Para a alimentação vegetariana também há muito que pensar. Para os produtos industrializados, parece-me estranho produtos tão perecíveis durarem vários meses fechados em embalagens, quando mudam de cor e gosto em apenas uma semana dentro da geladeira (um bom experimento é moer alho ou espremer duas laranjas e colocar na geladeira e verificar se estão bons para consumo uma semana depois). Finalmente, "Skinny Bitch" é um bom livro sobre saúde e a política do lobby alimentar assustador à nossa volta.

À guisa de informação, minha cunhada vem de uma família de imigrantes italianos que até hoje muitos deles trabalham em fazendas de laranja e todos eles morrem de câncer ao redor dos 50 anos por conta da borrifação extenuada de agrotóxicos. As fumageiras que foram proibidas na Europa e nos Estados Unidos possuem sérios problemas à saúde humana (irônico: antes do tabaco chegar nas mãos dos fumantes já produz mortes).

Abraço

Hugo



quarta-feira, 20 de abril de 2011

Never believe anything until it has been officially denied

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Depois da defesa “científica” da energia nuclear por Monbiot, que alguns abraçaram com ardor e com o mesmo “cientificismo”, essa frase se aplica perfeitamente bem: “Never believe anything until it has been officially denied”. Gostaria de saber se Monbiot moraria na vizinhança de uma usina nuclear, cujos danos foram negados “em cima de informações precisas fornecidas por um dos regimes mais abertos do planeta, com pouquíssimas dificuldades de estabelecer elos causais e sem nenhuma influência lobbista”. Sim: é uma ironia.

Mas, mudando de assunto, eu nunca acreditei que o território dos países se expandisse, como pregam todas as escolas econômicas, mas fiquei em dúvida agora, parece que a disputa atual por terras está em choque com essa “verdade”.

A notícia abaixo é uma prova contundente que o território dos países é constante e que mesmo com aumento de produtividade, infinita substituição de recursos ou mesmo com a crença infantil de Robert Solow e Joseph Stiglitz que o capital “produzido” pelo homem (máquinas, equipamentos, etc.) é um perfeito substituto da natureza, diversas atividades competem por um espaço finito e esse fator está se tornando um grande limitador e escasso (ao que tudo indica o planeta não é um limitador para acúmulo de dejetos radiativos em fluxo exponencialmente crescente...):

Green Acres: China crop shortfalls

More signs of Green Acres, take a look at the Bloomberg News article, "China Crops In Short Supply As Fewer Farms Spur Food Prices." China's farmland shrank by 8.33 million hectares (20.6 million acres) in the past 12 years according to China's top agriculture adviser. Land under cultivation has almost fallen to the 120 million hectare limit set by the Chinese government. Farmland is being consumed by factories, housing, desertification and an effort to reforest the country side. The drop in farmland combined with rising food demand means China is less likely to feed itself. This will drive the price of Ag commodities higher as China increasely turns to global export markets to fill its foodstuff needs. Here are some tidbits from the Bloomberg article: 1) According to the UN's Food and Agriculture Organization, global food output will have to climb 70 percent between 2010 and 2050 as the world population swells to 9.1 billion people and rising incomes boost meat and dairy consumption and 2) China, the world's biggest grain producer, was a net exporter of soybeans until 1995. This year it's forecast to import 57 million tons, or almost 60 percent of global trade.

O texto acima revela que: 1) não será possível alimentar 9,1 bilhões de pessoas de forma sustentável; 2) cada vez mais provável que jamais chegaremos a esse número, totalmente ao contrário, possível retrocesso com o colapso energético-ambiental ligado aos enormes atrasos ecológicos e mudanças sistêmicas; 3) a única forma de aumentar a produção é ampliar a área cultivada para cima dos remanescentes florestais e outras áreas de grande interesse ecológico, como pântanos (vide exemplo do aumento na safra desse ano de 4.000.000 de hectares nos EUA em cima de hotspots como pântanos e áreas antes ambientalmente protegidas...).

Moral da história: parece que o território dos países é de fato constante e não pode ser incrementado quando tiver sido totalmente ocupado (na verdade bem antes de ser totalmente ocupado, o colapso dos serviços ecológicos já se transformará em um enorme limitador).

A superclasse vai levar quanto tempo para descobrir que a Terra é um Titanic sem bote salva-vidas?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

CARTA DE BELÉM

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EM DEFESA DOS RIOS, DA VIDA E DOS POVOS DA AMAZÔNIA

Os participantes do seminário “Energia e desenvolvimento: a luta contra as hidrelétricas na Amazônia”, após ouvirem professores e pesquisadores de importantes universidades afirmarem que Belo Monte não tem viabilidade econômica, pois vai produzir somente 39% de energia firme, 4,5 mil MW dos 11 mil prometidos. Afirmarem ainda que a repotenciação de máquinas e equipamentos e a recuperação do sistema de transmissão existente poderiam acrescentar quase duas vezes o que esta usina produziria de energia média, investindo um terço do que se gastaria na construção de Belo Monte.

Após ouvirem o procurador do Ministério Público Federal (MPF) falar sobre a arquitetura de uma farsa jurídica: falta de documentação, oitivas indígenas que nunca existiram, licenças inventadas e ilegais, estudos de impacto
incompletos e que não atendem as exigências sociais, ambientais e da própria legislação.

Após ouvirem o povo akrãtikatêjê (Gavião da montanha), relatando a luta que até hoje travam contra a Eletronorte, que os expulsou de suas terras quando a hidrelétrica de Tucuruí começou a ser construída, tendo sua cultura
seriamente ameaçada, enfrentando doenças e problemas sociais que antes não conheciam. Mostrando que sua luta já dura mais de 30 anos, e que até hoje não conseguiram sequer direito a uma nova terra.

Após ouvirem os movimentos e organizações sociais denunciarem que os povos do Xingu, agricultores, ribeirinhos, pescadores, indígenas, extrativistas, entre outros grupos, estão sendo criminalizados e simplesmente ignorados.
Situação reconhecida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, que solicitou ao governo brasileiro que pare a construção de Belo Monte enquanto os povos indígenas não forem ouvidos.

Após verem os exemplos históricos dos grandes projetos na Amazônia, inclusive exemplos mais recentes como o das hidrelétricas no rio Madeira, onde foi verificado desde o não cumprimento dos direitos trabalhistas, até
mesmo trabalho escravo, levando os trabalhadores a se rebelarem contra a opressão que vinham há muito tempo sofrendo.

Afirmam que a UHE Belo Monte não tem nenhuma sustentabilidade social, econômica, ambiental, cultural e/ou política, por isso representa uma insanidade.

Afirmam que o governo brasileiro trata hoje Belo Monte de forma obsessiva, irracional, movido unicamente pela necessidade de atender a interesses políticos e econômicos, em especial os das grandes empreiteiras.

Afirmam que é possível impedir a construção da UHE Belo Monte, defendendo os rios, a floresta, as populações rurais e urbanas, a vida na Amazônia, no Brasil e no mundo.

Diante disso, os participantes deste seminário assumem os seguintes compromissos:

- Fortalecer uma grande frente contra o barramento dos rios da Amazônia;

- Fortalecer o movimento contra Belo Monte, inclusive criando novos comitês;

- Cobrar um grande debate no senado federal, com a presença dos senadores e povos do Xingu.

BELO MONTE NÃO!

TERRA SIM!

VIVA O RIO XINGU, VIVO PARA SEMPRE!

VIVA OS RIOS DA AMAZÔNIA, VIVOS PARA SEMPRE!


Belém, 12 de abril de 2011

quinta-feira, 14 de abril de 2011

As galinhas também amam

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Quando imobilizamos um bezerro, seu coração bate mais rápido, e a quantidade de adrenalina no seu sangue aumenta. Se a vaca, mãe do bezerro, observar a imobilização do filhote, seus batimentos cardíacos e a concentração de adrenalina também aumentarão, indicando que ela compartilha e está "preocupada" com o destino da cria. A descoberta da empatia entre mamíferos foi um dos argumentos usados para forçar os criadores de porcos e bovinos a adotar práticas "humanitárias" durante a criação e o abate desses animais.

A descoberta de que uma galinha é capaz de sofrer ao observar o sofrimento de outros membros de sua espécie é um bom argumento para quem defende melhores condições de criação e abate para os milhões de frangos que são produzidos, mortos e devorados pelo Homo sapiens a cada semana.

É incrível a necessidade de pesquisas para mostrar o óbvio...


Carlos Eduardo Lessa Brandão


http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110414/not_imp706007,0.php

São Paulo, 14 de abril de 2011

O Estado de São Paulo – VIDA – página A27

As galinhas também amam

Fernando Reinach – Biólogo

Poucas pessoas acreditam que um pé de alface sofre quando seu vizinho de horta é arrancado e devorado, ainda vivo, em uma salada. No outro extremo, ninguém duvida que uma mãe se preocupa e compartilha o sofrimento de seu filho. Apesar de a palavra amor fazer pouco sentido quando usada fora do contexto das relações entre seres humanos, a empatia - definida como a capacidade de um animal de ser afetado e compartilhar o sofrimento de outro membro da sua espécie - foi demonstrada em muitos mamíferos.

Para os estudiosos do comportamento animal, a empatia existe quando é possível demonstrar que um indivíduo, ao observar o sofrimento ou desconforto de um outro indivíduo, desenvolve reações semelhantes às de quem está sofrendo sem que as causas desse sofrimento estejam presentes. Ratos que observam seus filhotes sendo ameaçados por um predador desenvolvem reações semelhantes às apresentadas pelos filhotes ameaçados.

Quando imobilizamos um bezerro, seu coração bate mais rápido, e a quantidade de adrenalina no seu sangue aumenta. Se a vaca, mãe do bezerro, observar a imobilização do filhote, seus batimentos cardíacos e a concentração de adrenalina também aumentarão, indicando que ela compartilha e está "preocupada" com o destino da cria. A descoberta da empatia entre mamíferos foi um dos argumentos usados para forçar os criadores de porcos e bovinos a adotar práticas "humanitárias" durante a criação e o abate desses animais.

Nas aves, cujo cérebro é muito mais simples do que o dos mamíferos, a empatia nunca havia sido demonstrada. O cientistas acreditavam que o comportamento de uma galinha ao chamar os pintinhos no terreiro ou cobrir seus filhotes com as asas era totalmente automático e instintivo, não havendo a possibilidade dos sentimentos de um animal contagiar o outro por meio da observação visual. Agora isso mudou: foi demonstrado que uma galinha, ao observar o desconforto de seus pintinhos, sofre alterações metabólicas e comportamentais.

Trinta e duas galinhas foram estudadas nas semanas seguintes ao nascimento de suas ninhadas de pintinhos. O comportamento das galinhas foi analisado em quatro condições experimentais. Em todos os casos, os animais foram colocados em um pequeno cercado dividido ao meio por uma placa de vidro. De um lado ficava a galinha e do outro, os pintinhos. No primeiro experimento, os animais simplesmente ficavam separados. No segundo experimento, além de separados, uma pequena mangueira soprava "pufes" de ar a cada 30 segundos sobre as penas da galinha, o que causa um pequeno desconforto no animal (os pintinhos não eram incomodados). No terceiro caso, o ar era soprado em "pufes" sobre os pintinhos e a galinha não era incomodada. No quarto experimento, somente o barulho do ar era ouvido a cada 30 segundos, mas o ar não agitava as penas de nenhum deles.

Durante o tempo em que os animais ficavam em cada uma dessas situações, os cientistas mediram o batimento cardíaco das galinhas (usando monitores remotos), a temperatura da crista da galinha e de seus olhos (usando câmaras digitais sensíveis à temperatura) e o comportamento das galinhas (filmando todo o experimento e analisando as imagens).

O que foi observado é que, nas situações controle (sem ar assoprando ou somente com o barulho do ar), nenhum dos parâmetros medidos se alterou. Galinhas e pintinhos ficaram felizes, um observando o outro através da parede de vidro. Mas quando o ar soprava sobre a galinha, a temperatura dos olhos e das cristas da galinha mãe diminuía (uma indicação de estado de alerta). Ela parava de ciscar, tomando uma postura de cabeça levantada, também um sinal de alerta, mas seus batimentos cardíacos não se alteravam. O mais interessante foi o resultado obtido quando a galinha não estava sendo incomodada, mas simplesmente observava o ar soprando sobre os pintinhos. Nesse caso, a temperatura dos olhos e da crista também diminuíam, a postura de alerta ficava mais frequente e, além disso, os batimentos cardíacos ficavam mais rápidos e menos regulares. A galinha também emitia com mais frequência o piado típico de "venham para perto, pintinhos".

Os cientistas acreditam que isso demonstra que as galinhas mães, ao observarem visualmente o que estava acontecendo com os pintinhos, tiveram uma reação semelhante à que apresentavam quando eram incomodadas pelo mesmo tipo de estímulo. Isso demonstra que existe algum tido de empatia entre as galinhas e seus pintinhos.

Esta é a primeira vez que o "sentimento" de empatia e "preocupação" é formalmente demonstrado em aves. Tudo indica que as aves são capazes de uma forma primitiva de amor. A descoberta de que uma galinha é capaz de sofrer ao observar o sofrimento de outros membros de sua espécie é um bom argumento para quem defende melhores condições de criação e abate para os milhões de frangos que são produzidos, mortos e devorados pelo Homo sapiens a cada semana.

Mais informações em: Avian Maternal Response to Chick Distress. Proc. R. Soc B doi:10.1098/rspb.2010.2701 2011

Resumo:

http://rspb.royalsocietypublishing.org/content/early/2011/03/03/rspb.2010.2701.abstract?sid=88586d7e-b814-4fe9-99e0-72d422fb348e&cited-by=yes&legid=royprsb;rspb.2010.2701v1

Artigo na íntegra:

http://rspb.royalsocietypublishing.org/content/early/2011/03/03/rspb.2010.2701.full.pdf

terça-feira, 5 de abril de 2011

Conversa com o filho

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Tive a seguinte conversa com meu filho de 8 anos, com quem na escola foi discutido assuntos de energia limpa.

Papai, papai, a produção de energia eólica e solar é limpa?

Não, filho, todas elas dependem de uma série de materiais que precisam ser produzidos, escavados, trocados ao longo do tempo, como baterias de lítio, minérios, e no caso da energia ligada a vento, se o vento faltar, não há outra alternativa senão queimar combustíveis. Além de ser uma solução tecnológica pobre para uso em larga escala.

Mas papai, papai, essa é a moda agora, a produção de energia eólica e solar não significa a não-produção de energia com base em combustíveis fósseis, como petróleo, gás e carvão? Melhor dizendo, para cada uma nova usina eólica e solar construída, destrói-se uma usina baseada na queima de petróleo, gás ou carvão?

Não, as usinas eólicas, biocombustíveis, solar, nuclear, etc. estão sendo adicionadas às usinas existentes.

Papai, papai, supondo por uma fantasia na imaginação das pessoas, que as novas usinas ditas limpas emitam zero carbono, isso significa que não haverá redução alguma de emissão absoluta de carbono na atmosfera, como demandam os cientistas?

Sim, mas na verdade, irá aumentar. Só o quociente de emissão por unidade de produto é que irá cair, mas em termos absolutos, sim vai aumentar e aumentar os riscos de mudança climática numa hora péssima, porque o sol chegou com uma atividade... bom, deixa prá lá.

Papai, papai, isso significa que vai aumentar a demanda por matérias-prima, solo, território e isso para gerar energia para as pessoas continuarem na farra da matéria e energia, viajando para lá para cá, consumindo que nem umas malucas como se não houvesse amanhã? E pior, um grupo pequeno, mais ou menos 10% da população humana fazendo uso de 90% dessa energia e matéria?

Sim.

Papai, papai, se não é energia limpa, não significa continuidade da carbonização da nossa estreitíssima atmosfera?

Sim.

Papai, papai, quer dizer que energia limpa, economia neutra em carbono não passam de mitos para manter a mesma falta de noção de limites planetários e de ignorar os riscos de sobrevivência da nossa espécie humana na Terra se continuarmos a acelerar a economia ao invés de focar na distribuição, na circularidade, no fim do desperdício?

Sim, nada a adicionar.

E as pessoas ainda escrevem e fazem palestras sobre isso?

Sim.

E aquele moço, o Monbiot, que agora se diz a favor da energia nuclear e vendo a confusão que Japão vai passar com a contaminação irremediável de 5% do território japonês? E ainda não sabemos o que podemos fazer com o fluxo de resíduos radioativos, cujos estoques estão aumentando sobre um planeta finito, não é um erro, não seria melhor cortar o desperdício de energia?

Sim, o desperdício de energia na Terra só não é percebido pelos $%#@*&$. Só a luzinha do seu computador acesa e do resto dos aparelhos da casa consomem 10% da energia produzida na Terra e elas estão acesas inutilmente. Se essas luzinhas fossem eliminadas, só com esse gesto, não seria necessário nenhuma energia nuclear no planeta inteiro.

Mas papai, papai, o fato de não ter havido um acidente nuclear que complicasse bastante a vida na Terra não vai na mesma linha da humanidade achar que porque o planeta nunca nos expulsou, jamais o fará?

Sim filho, essa é a filosofia do nunca morri, estou conversando com você agora e portanto nunca morri. Isso não significa que jamais morrerei, mas algumas pessoas $#@&%&* assumem isso. Vale para a nuclear e o planeta: nunca um grande evento ocorreu e aí assumem corajosamente que isso nunca acontecerá.

Papai, papai, somos uma espécie animal inteligente?

Bom filho, se você imaginar uma espécie animal onívora que come toneladas de carne que simplesmente apodrecem no intestino e para esse hábito provocam um enorme desmatamento de florestas, uma crueldade impensável contra os bichos e tornam as pessoas vulneráveis a doenças degenerativas, degradação ambiental, bom, se você olhar por esse prisma, pode ser burrice ou inconsciência ou os dois. Se você olhar o hábito de andar para lá e para cá sozinhos em carros que pesam três toneladas, numa velocidade média urbana inferior ao passo de uma galinha, fica difícil associar inteligência a isso. Somos inteligentes sim, mas estamos dando poucas provas disso, estou tentando ser generoso aqui... Agora é hora de dormir filho e esperar o dia de amanhã.


P.S.: Caso não tenha ficado claro, essa é uma obra de ficção quaisquer semelhança com acontecimentos reais terá sido mera coincidência.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Entropy, Negentropy and Our Moral Imagination

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Texto interessante:

http://ervinlaszlo.com/forum/2011/03/25/entropy-and-moral-imagination/#comment-8738

Dear James,

Wonderful text. Based on consciousness, we do not need more than a small house, we do not need a car, we can use a bike and our feet to go on, we can eat less and no meat, we do not need useless trips to foreign countries just to see, instead of learn new cultures or contribute, we do not need to have more than the others, we do not need to envy the richest, politicians or celebrities, unless they do real good for humankind (but they don´t do). Maybe a consciousness jump will happen, but meanwhile what we see is no change in mind that can stop the madness we created. Maybe the superclass that rules the world will realize that Earth is a Titanic with no lifeboats. Maybe the superclass will understand that on Earth we are all one and everyone is equally vulnerable.

The rest of us is just trying to survive accordingly to oppressive rules in a world comanded by militarized plutocracies. Who is going to be able to change the rules, except the superclass? And what are superclass goals, except boost economic wealth concentrated entropic growth in a finite world, despite of Nicholas Georgescu Roegen and Ilya Prigogine?

The only solution is downsize us, cut the huge waste (in food, in energy, in everything), stop the throwaway economic system, stop population growth (each day more than 200 thousand people in the planet dining room), abolish immoral human poverty by a new system. We are very away from this change.

What can stop the mechanic myths embedded in every economic school and the ingenuous belief that economic system can be bigger than Earth, a stupid idea defended by Joseph Stiglitz, Paul Krugman and many others? What can knock down the idea of unlimited Nature and territories through technologies, intended to be Nature dominant? A huge global catastrophe? Because environmental collapses never happened in rich developed countries, like US, because international trade enable to export at a null cost this collapse for the entire world.

After changing ourselves, we have to pray for a real change in our world that effectively depend on each one.

Regards,

Hugo from Brazil where Amazon forest is being burned alive here and in many South American countries to supply with raw materials and ecological services the environmental exhausted rich and overpopulated countries

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