segunda-feira, 29 de março de 2010

Projeto de lei em tramitação na Assembleia prevê desmatamento de 1.076 hectares de vegetação nativa

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Comentário sobre o texto abaixo:

Essas compensações vão ser usadas para expropriar pessoas de lugares bonitos com belezas naturais para fazer licitações com empresas e explorar essas belezas do ponto de vista empresarial e econômico apenas, debaixo do rótulo falso de preservação ambiental com criação de parques lindos e caros, porém para poucos visitarem.

Tudo isso para produzir coisas e exportar coisas que nosso país não precisa e para países que já atingiram seu próprio colapso ambiental e estão agora exportando o desastre para o resto do planeta inteiro.

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Projeto de lei em tramitação na Assembleia prevê desmatamento de 1.076 hectares de vegetação nativa


POSTADO ÀS 14:23 EM 26 DE Março DE 2010
Está em tramitação na Assembleia Legislativa projeto de lei enviado pelo governo do Estado que prevê o desmatamento, de uma só vez , de 1.076 hectares de vegetação nativa no Porto de Suape.


São 893,4 ha de mangue, 17,03 ha de mata atlântica e 166,06 ha de restinga.


O objetivo é a ampliação da área do complexo portuário, entre Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, para a implantação de um estaleiro.


É o maior, asseguram ambientalistas, desmatamento de mangue já realizado no Brasil. Para se ter uma ideia da abrangência da devastação, a área que será suprimida equivale a mais de 1.000 campos de futebol. É que um campo corresponde a quase um hectare (10 mil metros quadrados).


A área a ser desmatada é maior do que o mangue que foi aterrado, na década de 80, para a implantação do próprio complexo: 600 hectares.


Se o procedimento é legal? É. A lei prevê esse tipo de ação, em caso de obras de utilidade pública ou interesse social, mediante decreto do governador, desde que se faça o replantio de área de igual tamanho. Como todo mundo sabe, não há mais área tão extensa disponível no litoral pernambucano. Mas, nesse caso, existe uma outra brecha legal: se não pode replantar, o empreendedor pode fazer a compensação ambiental promovendo a conservação de uma outra área de vegetação nativa.


E, também como todo mundo sabe, o governo tem maioria na assembleia. Ou seja, o projeto certamente será aprovado e virará lei.


Bem, fica a pergunta. Alguém já parou para mensurar a relação custo-benefício da geração de emprego e renda com o estaleiro e dos inumeráveis danos ambientais que serão causados com o corte, a uma só canetada do governador, de tanta vegetação?


Fonte: http://jc3.uol.com.br/blogs/blogcma/canais/noticias/2010/03/26/projeto_de_lei_em_tramitacao_na_assembleia_preve_desmatamento_de_1076_hectares_de_vegetacao_nativa_66962.php

quinta-feira, 25 de março de 2010

Do mundo do design ao design do mundo

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Do mundo do design ao design do mundo

Rosa Alegria

24/03/2010 -
Artigo originalmente publicado na Revista ESPM – Edição Janeiro e Fevereiro 2010 e reproduzido pelo Mercado Etico

http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/do-mundo-do-design-ao-design-do-mundo/

O título desse artigo é uma inevitável referência ao designer canadense Bruce Mau, criador do conceito Massive Change, que me restrinjo a traduzir como “Mudança Maciça”. Mas como as palavras muitas vezes reduzem o verdadeiro e pleno significado, vou tentar traduzi-lo no decorrer deste artigo e compartilhar com os leitores o que isso representa para a nossa mudança positiva na relação com o ambiente que nos envolve.

Estive com Bruce Mau em agosto, numa conversa entre amigos, e aquela figura corpulenta e aparentemente combativa, que já conhecia pela mídia, me surpreendeu com tanta doçura e sensibilidade a cada momento em que manifestava um entusiasmo quase juvenil, como se fosse um adolescente descobrindo um mundo de possibilidades pela vida que tem adiante.

Bruce Mau integra a categoria de designers, que trabalham com a “síntese entre artista, inventor, mecânico, economista objetivo e estrategista evolucionário”, atributos interdisciplinares preconizado por ele. Fundador da Bruce Mau Design Inc, com sede em Toronto, no Canadá, criou o conceito visual de vários projetos internacionais, incluindo a Tate Modern, em Londres, e o Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles, Bruce Mau expandiu seu pensamento pelo sucesso do livro Massive Change (ainda não traduzido em português), que traz o próprio conceito como orientador prático para agentes de mudança.

Normalmente concebemos o design no universo do tangível materializado. No entanto, o poder do design para transformar e impactar cada aspecto da vida diária está adquirindo consciência pública. Já não mais apenas associado com objetos e aparências, o design é cada vez mais entendido num sentido muito mais amplo, como por exemplo, a capacidade humana de planejar e produzir os resultados desejados. Criado para mapear a nova capacidade transformadora do design em nível planetário, Massive Change explora o paradigma da mudança de eventos, ideias e pessoas, investigando as capacidades e dilemas éticos do design na fabricação, transporte, urbanismo, guerra, saúde, vida, energia, mercados, materiais, a imagem e na informação.

A ideia do Massive Change nasceu de uma exposição realizada em 2002, em Toronto, e que veio propor o design como metodologia facilitadora da criação de soluções para as questões mais importantes do mundo, envolvendo o âmbito social, cultural, tecnológico e político. Este ambicioso esforço veio para tentar traçar a complexidade do nosso mundo, crescentemente interligado e por que não dizer, desenhado.

Bruce Mau dedicou-se a avaliar as capacidades e as limitações do esforço humano coletivo para mudar o mundo para melhor, trazendo-os constantemente a uma luz crítica. A exposição que marcou época no mundo do design foi estruturada em onze instalações multimídia tematizadas em: urbanização, informação, transporte, energia, imagens, mercados, materiais, manufatura, saúde, militarismo, riqueza e política. Os displays, expostos durante três meses na cidade canadense de Toronto, incluíam uma galinha depenada, geneticamente modificada para regiões tropicais, e um compartimento feito de material descartável, incluindo fitas VHS, teclados de computadores, bonecas, entre outros lixos da sociedade de consumo.

Como um crítico do design tradicional, Bruce Mau quis expor aquilo que chama da Teoria da Grande Unificação, que junta “disciplinas disparatadas”. Para ele, o design cada vez mais é compreendido como a capacidade humana de planejar e produzir desfechos desejáveis – “revelou-se uma das forças mais potentes do mundo”, diz.

A proposta da Mudança Maciça, desculpem a petulante tradução, diz respeito à maneira como as tecnologias, que evoluem rapidamente, criaram o potencial para que o design possa influenciar mudanças em escala global. O movimento promove ainda o pensamento crítico colaborativo em plataformas multimídia integrando redes sociais, blogs, eventos, livros, programa de rádio, fóruns online.

“Percebemos que o projeto Massive Change não tem a ver com o mundo
do design.Tem a ver com o design do mundo!”
Bruce Mau

Mas esse artigo não é para falar tanto de Bruce Mau. Quero apenas colocá-lo como referência expoente de uma revolução que está acontecendo nas bases criativas da sociedade, não somente numa dimensão global, mas também e principalmente, nos redutos hiperlocais, remotos e ocultos desse mundo. Comunidades, associações, escolas, organizações passam a incorporar o design para solucionar problemas diários e criar soluções práticas para tornar a vida melhor. No mundo dos especialistas e gênios da inovação, mentes criativas já estão saindo da própria caixa inventiva que antes os confinava no limitado mundo narcísico do próprio talento e aos poucos vai se abrindo e fazendo-os voar pelo mundo de múltiplas e infinitas possibilidades.

Não somente os designers, mas todos nós, seres que somos do “pensar e fazer”, estamos sendo desafiados em nossa própria inteligência, frente às ameaças e crises simultâneas que nos cercam: as mudanças climáticas mais do que alarmantes, a crise do sistema econômico que está dando seus últimos suspiros, a escassez dos recursos naturais (fauna, flora, ar puro, água e alimentos) em relação ao crescimento populacional, ou melhor dizendo, a falta de distribuição equitativa entre todos os que habitam o Planeta, e a busca acelerada por soluções alternativas de uma nova matriz energética, mais limpa, para que o mundo continue girando em seu sistema gerador de bens e serviços sem continuar a degradar o meio ambiente.

O design revelado numa outra versão da palavra

A palavra design deriva do latim designare, e há muito tempo foi adaptada para o inglês. Ainda continua imperando como um anglicismo em nossa língua pátria. Na concepção latina da palavra, designare tem dois significados: o primeiro: marcar, traçar, notar; no sentido artesanal ou manual; o segundo significado: planejar, imaginar, no sentido intelectual ou mental.

Desde a Revolução Industrial até o final do século 20, predominava o primeiro significado, aquele que relaciona o design com o artefato. Agora, às margens dos novos e turbulentos tempos, que requerem ação e criatividade em grande escala, estamos assistindo ao florescer do segundo significado, que define o design como o processo pelo qual passa a criação do artefato. A experiência fala mais alto do que o próprio resultado de uma criação, porque é nela que existe o espaço vazio da transformação dos modelos mentais, e da conexão do criador com os mais nobres propósitos daquilo que cria e que lhe dão sentido maior ao talento do qual é portador.

Recorrendo à História, o significado tradicional do design tem sido predominantemente relacionado aos aspectos físicos, que se relacionam aos objetos para trazer soluções aos usuários. Do ponto de vista do mercado, os atributos que têm influenciado os consumidores em suas decisões de compra ainda restringem-se ao que é bonito, prático, funcional, moderno, durável e útil. Do ponto de vista dos produtores, a forma tem um papel importante como construtora de imagem e como percepção de modernidade e qualidade.

Exemplos de objetivos que até então incluem-se nessa concepção que imperou no século passado, para que o sistema econômico no exercício da inovação aumentasse o seu nível de competitividade, são os eletrodomésticos, roupas, máquinas de produção, imagens, embalagens, interfaces digitais de software, elementos gráficos em peças de promoção, propaganda, em versões impressas e digitais, entre outros.

O novo século, marcado por desafios socioambientais de grande inflexão, requer que a indústria ressignifique o design como facilitador de processos de inovação sustentável, ou seja, amplie sua função de oferecer soluções práticas para facilitar a vida dos consumidores, e alcançar propósitos mais relevantes, que envolvam soluções regenerativas, restauradoras, para proteger e preservar os sistemas vivos, incluindo a nossa própria espécie.

O design para a sustentabilidade da vida

Os avanços gerados pela industrialização e tecnologias inovadoras permitiram métodos de trabalho e um padrão de vida jamais alcançado por qualquer outra civilização. Entretanto, estes avanços também são responsáveis por muitas das ameaças ecológicas e tensões sociais que sugerem, visivelmente, que a atividade humana foi além do que seria razoável. Para reverter este quadro de impactos negativos, precisamos de soluções inovadoras que não são tão simples de ser geradas e nem de fácil acesso.

A natureza complexa e multidimensional da situação atual exige, mais do que nunca, cooperação. Particularmente, a colaboração entre universidade e indústria. Investimentos e esforços significativos em pesquisa e desenvolvimento precisam ser direcionados a projetos que visem encontrar respostas às questões centrais em um ritmo acelerado e crescente. É necessário desafiar empresas, sociedade civil e a eficácia das políticas públicas para a mobilização. Se isto não acontecer, estarão sob risco a saudável coexistência das espécies e o compartilhamento e usufruto comum das principais conquistas desta civilização, que tornaram possível o avanço da ciência e inovação tecnológica. A questão central amplia e integra as funções do artefato e do processo, direcionando-os à sustentabilidade da vida (dos humanos, espécies vivas e ecossistemas).

O termo design sustentável surgiu com o advento do movimento da sustentabilidade para preservar o meio ambiente, mitigando os problemas da extração da matéria-prima e da energia necessárias para sua fabricação. Esse “novo design”, no entanto, não se restringe aos aspectos ambientais, mas alcança a condição de vida dos consumidores que, sob a ótica da justiça social e do bem estar, devem ter acesso a produtos acessíveis economicamente e seguros à sua saúde, cumprindo uma função de ordem planetária e humanista: trazer o bem-estar e a satisfação a quem os utiliza. Nesse sentido evolutivo, o design deve projetar qualquer tipo de solução sob a perspectiva do futuro, como um princípio norteador de criatividade no presente, pois as necessidades que o geraram devem considerar todos os impactos daquilo que se propõe a ser solução, hoje e amanhã.

A nova lógica industrial dos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) deve estar presente nos produtos desenvolvidos dentro da visão do design sustentável. Esses produtos, quando em sua fase de concepção, devem ser elaborados já para possíveis reutilizações para sua função principal. Com uma maior durabilidade que evite baixa utilização e uso de materiais que permitam a reciclagem.

A espaçonave Terra: lições da história e de um profeta da tecnologia

Há mais de setenta anos, na década de 30, Buckminster Fuller, um inventor norte-americano de vanguarda, falecido nos anos 80, já havia alcançado um nível elevado de consciência oferecendo ao mundo inovações sustentáveis. Buck, como era normalmente conhecido, tinha uma extraordinária visão de futuro e queria melhorar a condição de vida da humanidade preservando o meio ambiente através da arquitetura e do design. Ele argumentava que os recursos limitados da Terra poderiam ser superados pelas invenções que forneceriam ainda maiores opções e escolhas, embora usando cada vez menos quantidades de materiais. Ele preconizou que a “evolução é o resultado do desejo natural de cada espécie de viver além dos seus recursos”. Buck foi um dos primeiros inventores a propagar uma visão sistêmica da energia, da eficiência, da arquitetura, do design e da engenharia. Também como arquiteto, Buckminster Fuller buscou conciliar a nova era da industrialização e da produção em massa com a arquitetura e o design, produzindo obras que fossem de acordo com os rumos que a sociedade de sua época tomava, tendo, além disso, a preocupação em solucionar problemas como o da habitação e o do racionamento de recursos da Terra.

Fruto dessa criatividade consciente, Buck concebeu várias inovações no decorrer dos anos 30 e 40. Uma delas merece especial explanação, em virtude de estarmos vivendo um momento de grande transformação no setor automotivo. Em 1933, cerca de 80 anos atrás, ele desenvolveu o Dymaxion Car, um automóvel longo, com 6 metros de extensão, com três rodas e que pretendia transportar até onze passageiros e ser econômico, utilizando quantidade pequena de combustível e de matéria-prima na produção, indo de acordo com seu conceito de “mais com menos”. Escreveu 28 livros, um deles conhecido como “O Manual de Operação da Espaçonave Terra”, no qual ele trouxe uma metáfora utilizada até hoje pelos grandes pensadores e ambientalistas, que simboliza a coletividade humana dentro de um mesmo espaço e que deve ter essa consciência de unidade, porque estamos todos, ricos, pobres, negros, amarelos, brancos, islâmicos, cristãos, budistas, e toda a diversidade da civilização, numa mesma condição, como co-tripulantes de uma mesma espaçonave, co-habitantes de um mesmo planeta Terra, que dentro de toda a imensidão do cosmos, não é um planeta especialmente grande; é apenas mais um. Um ponto azul no universo. E dentro desse “co-habitar”, tripulantes que somos dessa espaçonave, devemos nos ajudar uns aos outros.

“O fato mais importante a respeito da espaçonave Terra é que ela
não vem com manual de instruções.”
Buckminster Fuller (Manual da Espaçonave Terra), década de 30

Laboratórios colaborativos e comunidades criativas desenhando os seus sonhos

Um outro brilhante visionário do design sustentável é o italiano Ezio Manzini, diretor da unidade de pesquisa em Design e Inovação para a Sustentabilidade (DIS), do Instituto Politécnico de Milão. Tem espalhado por vários centros do mundo o processo de design por meio de comunidades criativas. Buscando inspiração em iniciativas espontâneas de grupos que ele denomina de “comunidades criativas”, ele facilita processos de trabalhos colaborativos, para resolver problemas do dia a dia de cada cidadão.

Ezio Manzini sugere um novo caminho para o design sustentável do século 21: o de facilitar essas atividades colaborativas, através de um novo contexto social e econômico, distrubuindo unidades pelo mundo, para preservar e valorizar suas características locais. Mesmo sendo locais, não deixam de se comunicar com o resto do mundo, numa eficiente rede de troca de informações. Ainda que hoje sejam iniciativas alternativas e isoladas, são também focos de vida sustentável que, segundo Manzini, chegam, nos próximos anos, ao mainstream.

“Somente experiências colaborativas levariam a uma redução significativa
do consumo e estaria aí o futuro do design.”
Ezio Manzini

Marc Giget, reconhecido especialista europeu em inovação, argumenta que estamos na iminência de uma nova Renascença. O mundo dispõe hoje de grandes instituições de ensino e pesquisa, de desenvolvimento tecnológico de alto nível, de incentivos e mecanismos financeiros e novos instrumentos sendo criados todos os dias.

Sob esta ótica, o que é necessário, começando com a ideia de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável, é elaborar a síntese criativa de todas as possibilidades e recursos. Ou seja, novos acordos entre as instituições e atores industriais, tendo em mente os pressupostos da sustentabilidade, sobre os quais as novas “catedrais” do nosso tempo serão construídas.

Agora que nós podemos fazer qualquer coisa… o que nós vamos fazer?

Essa foi a pergunta que mobilizou várias plateias na última visita de Bruce Mau ao Brasil, que passou por São Paulo, a convite do São Paulo Fashion Week em parceria com a plataforma multimídia Crie Futuros. E essa pergunta, propõe ele, devemos nos fazer a cada dia, já que temos sido capazes de criar inovações extraordinárias e ao mesmo tempo, essa curva exponencial das grandes inovações confunde-se com a curva exponencial da destruição dos sistemas sócio-ambientais.

Rose Muraro, mais do que o ícone do feminismo nacional, reconhecida macro historiadora, física e pensadora futurista, em seu mais recente livro publicado pela Editora Vozes, “As inovações tecnológicas e o futuro da humanidade”, expõe com brilhante capacidade de síntese os dilemas e paradoxos das tecnologias. Nessa obra extraordinária, Rose propõe que a tecnologia seja vivida de maneira solidária, para servir e criar a vida.

“Não há deuses poderosos que resistam à ação dos povos que redescobrirem a solidariedade.”
Rose Muraro

Diante de tantas possibilidades e das chances que temos de revelar à nossa própria espécie que somos realmente inteligentes, capazes de restaurar o que destruímos, por um colapso em nossa consciência, de que somos interdependentes e de que precisamos de ar para respirar, água para beber e deixar o mundo habitável para os que vierem depois de nós, acredito que é chegado o momento de uma nova proposta civilizatória: a da síntese criativa entre o local e o global, uma espécie de aventura glocalizada. Ao embarcar nessa viagem, todos dentro da Espaçonave Terra, seres supostamente inteligentes, iremos dar a resposta derradeira ao chamado de um novo tempo. Revelaremos, numa acelerada mudança de atitudes e padrões mentais, que somos ainda necessários para restaurar os danos que nós mesmos provocamos, seremos capazes de recriar a vida que tanto menosprezamos, e desenvolver o design de um viver mais saudável, sustentável e humano.

Rosa Alegria é futurista, pesquisadora de tendências, comunicóloga e ativista de midia.

terça-feira, 23 de março de 2010

BNDES será notificado sobre co-responsabilidade de impactos da usina de Belo Monte

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Notificação extrajudicial será entregue nesta quarta-feira (24/3), às 11h, na sede do banco, no Rio de Janeiro.

http://ef.amazonia.org.br/index.cfm?fuseaction=noticia&id=349002

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que já se dispôs a ser o maior financiador da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu, em Altamira (PA), será advertido da co-responsabilidade pelos impactos da obra, que assumirá com a efetivação do empréstimo.

Nesta quarta-feira (24/3), os movimentos sociais de Altamira, com apoio de organizações nacionais, entregam ao BNDES uma notificação extrajudicial que adverte o banco sobre a fragilidade da licença ambiental expedida pelo Ibama. De acordo com o instrumento jurídico, a licença não oferece nenhuma garantia de que a obra é viável do ponto de vista socioambiental, uma vez que a avaliação técnica do órgão, que afirmou que “não há elementos suficientes para atestar a viabilidade ambiental do empreendimento”, foi desconsiderada no ato do licenciamento. Nesse sentido, o financiamento pelo banco seria ilegal, e se a obra vier a ser construída, ele será, de acordo com a legislação brasileira, responsabilizado pelos prejuízos socioambientais que não foram previstos.

Segundo a notificação, se os eventos danosos anunciados nos pareceres técnicos do Ibama vierem efetivamente a ocorrer, o BNDES seria passível de ser cobrado por todos os custos decorrentes dos impactos sobre a fauna, flora e pessoas da região, quaisquer que sejam os seus valores, e inclusive aqueles que são impossíveis de se valorar.

A notificação também aponta que, como gestor de recursos públicos, e comprometido, conforme seu estatuto social, a realizar “exame técnico e econômico-financeiro de empreendimento, projeto ou plano de negócio, incluindo a avaliação de suas implicações sociais e ambientais” para aprovar qualquer transação financeira, o BNDES tem o dever de considerar todas as variáveis que envolvem a obra. .

Impactos de Belo Monte

A notificação destaca o atropelo com que o Ibama concedeu a licença prévia de Belo Monte, desconsiderando as observações da equipe que fez o Parecer Técnico 06/2010, que não aceitava a solução proposta para alguns dos impactos socioambientais que afetarão a região.

Um dos importantes impactos que não foi considerado diz respeito à qualidade da água. Estudo realizado por especialistas da Universidade de Brasília (UnB), a pedido do Ibama, e entregue poucos dias antes da emissão da licença, afirma que a modelagem utilizada no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é equivocada e insuficiente para fazer prognósticos futuros de como ficará a qualidade da água. Afirma também que, ao contrário do que diz o estudo elaborado pela Eletrobrás, é alta a probabilidade de que a água ao longo de 144 km do rio Xingu fique “podre” (eutrofizada) e abaixo dos parâmetros mínimos exigidos pela Resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o que deveria impedir a expedição da licença.

Outro ponto importante diz respeito aos impactos na região da Volta Grande do rio Xingu, um trecho de mais de 100 km de rio, onde moram centenas de famílias, e que viverá uma “eterna seca” caso a obra seja construída, pois grande parte da água do rio será desviada para os canais a serem construídos. O problema é que a licença contrariou a decisão da equipe técnica do Ibama, que afirma que a quantidade de água que a Eletrobrás propõe liberar para esse trecho – e que foi aceita pela diretoria do órgão - é insuficiente para manter o modo de vida dessas pessoas, pois, com as alterações profundas no ciclo natural, não haveria mais como pescar ou navegar.

Além do BNDES, todos os demais financiadores também deverão ser notificados.

O ato

Nesta quarta-feira, 24, às 11 h, integrantes de movimentos sociais e ONGs, além de representantes das populações indígenas e ribeirinhas de Altamira, realizam uma manifestação criativa em frente à sede do BNDES, para acompanhar a entrega da notificação à direção do banco.

Local: Rua República do Chile, 100, no centro do Rio de Janeiro

Mais informações:
Renata Pinheiro, Movimento Xingu Vivo para Sempre – (21) 8782-3443
Raul do Valle, Instituto Socioambiental (ISA) - (61) 8155-7492
João Roberto Lopes, Plataforma BNDES – (21) 8648-1511
Roland Widmer – Programa Ecofinanças/Amigos da Terra Amazônia Brasileira - (11) 7457-7035


Cientistas inventam aparelho que dessaliniza pequenas porções de água

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Pelo jeito, é mais inteligente e é mais fácil dessalinizar o mar do que preservar a água doce do planeta...

Resolve-se um problema e cria-se outros, piores quase com certeza, dentro do cartesianismo de plantão.

22/03/2010 - 12h20

Cientistas inventam aparelho que dessaliniza pequenas porções de água

da Efe, em Londres

Cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) desenvolveram um aparelho capaz de transformar pequenas quantidades de água do mar em água potável graças a uma bateria, e de forma muito mais simples que os métodos de dessalinização existentes, publica a revista "Nature".

As técnicas de dessalinização usadas atualmente requerem um alto consumo energético e só são eficientes quando envolvem grandes quantidades de água. Por isso, é difícil utilizá-las em regiões afetadas pela pobreza ou por desastres naturais.

O aparelho, desenvolvido por cientistas do MIT liderados por Jongyoon Han, funciona mediante um fenômeno conhecido como "polarização por concentração de íons". Esse processo se produz quando uma corrente de íons circula através de um nanocanal que vai selecionando os íons.

O nanocanal se situa entre dois microcanais por onde circula a água salgada e, quando se aplica uma voltagem ao nanocanal, os íons se concentram em um extremo do nanocanal e se esvaziam no extremo oposto.

Em consequência desse processo, se repelem os íons salinos de água marinha próximos ao nanocanal.

Ao transformar um dos microcanais em dois canais próximos à zona de repulsão, apenas a água dessalinizada, que não tem carga iônica alguma, pode atravessar a zona carregada e passar assim a outro canal destinado à água potável.

O método permite eliminar os sais e as partículas de maior tamanho, como as células, os vírus e microorganismos, com tanta eficácia quanto as mais modernas usinas de dessalinização.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A falsa riqueza e a falsa intenção daqueles que menosprezam o meio ambiente e a sociedade

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A transformação do Brasil em celeiro do mundo, para abastecer povos que transbordaram suas necessidades ambienteis e entraram em colapso está longe de ser algo benigno ou benfazejo para o país. As atividades agropecuárias de larga escala no nosso país estão diretamente associadas com resultados sociais e ambientais incrivelmente ruins. Adicionalmente a isso, a monocultura reduziu 95% da oferta de alimentos a 21 espécies, 14 vegetais e 7 animais, todas monogênicas. Nunca, segundo a FAO, estivemos tão precários em segurança alimentar, esses espécies são muito vulneráveis e quase perdemos o trigo recentemente, não fosse uma nova espécie encontrada num altiplano asiático. O modelo defendido pela Kátia Abreu (ver artigo abaixo) e com respaldo “científico” e seu menosprezo pelas preocupações ambientais de pessoas que também são dotadas de conhecimento científico e não fundamentalismo, é um grande erro.

Vamos voltar somente ao primeiro ponto: a pressão por alimentos e carnes do resto do mundo, que não pode ser abastecida localmente, nada mais significa que a exportação do colapso ambiental para países como o Brasil, que alegremente abraçam a causa de se tornarem celeiros do mundo, sem cobrar nada pela transformação inevitável dos seus ecossistemas. Vamos voltar a outros pontos mais importantes:

1) O produtor sabe que sem solo e água não irá produzir, mas isso não impediu localmente perdas de produção e fugas ambientais em massa diversas vezes na nossa história; agora o risco é global.

2) Não é o produtor que produz, mas a natureza, não é o produtor que dá as regras, mas a natureza, a falsa noção de normalidade e controle será o fim da nossa espécie animal.

3) Porque produzir mais alimentos se jogamos no lixo 25% deles?

4) A intenção de transformar o resto dos ecossistemas em celeiros do mundo impede mudanças necessárias nos hábitos alimentares, como comer menos leites e carnes e mais vegetais (pressão sobre os ecossistemas despenca); cortar excesso de alimentação que colocou 1/3 da população dos países ricos em enorme obesidade; difundir produção de alimentos em áreas urbanas, como aconteceu durante a Grande Depressão com o exemplo da Leonor Roosevelt; aumentar eficiência produtiva onde puder; cortar o desperdício que responde por 25% da produção mundial.

5) A falsa noção que teremos alimentos abundantes com tecnologia e segurança alimentar impede enxergar o limite da Terra.

6) O modelo de crescimento eterno, com base científica, pode mesmo transformar Brasil em celeiros, mas como nós somos a última fronteira agropecuária planetária, é bastante óbvio que essas pessoas tem em mente que os próximos celeiros serão interplanetários ou intergalácticos.

Acho que esses são os primeiros pontos que me ocorrem. Os sofismas, pelo qual as pessoas acreditam estar revelando uma baita verdade, mas estão apenas alimentando sua enorme ignorância com seu interesse mesquinho próprio.

Hugo Penteado

O Estado de S. Paulo

Verdade ambientalista versus fundamentalismo

Kátia Abreu*
O que parecia impossível, acontece: estamos às vésperas de começar a conhecer, com precisão científica, o que o Brasil pode e não pode fazer com suas terras, seus rios, lagos, montanhas e florestas

O que parecia impossível, acontece: estamos às vésperas de começar a conhecer, com precisão científica, o que o Brasil pode e não pode fazer com suas terras, seus rios, lagos, montanhas e florestas. E mantendo o equilíbrio da natureza, preservando as manifestações de vida, animal e vegetal, e, a um só tempo, liderando a produção mundial de alimentos. Todo esse conhecimento será alcançado por cientistas e pesquisadores brasileiros da Empresa Brasileira de Pesquisa agropecuária (Embrapa) e das instituições parceiras, que começaram o trabalho e têm desde já os recursos necessários assegurados.

Ufa! Finalmente, a questão ambiental neste país se desloca da defesa fanática de dogmas para o conhecimento científico sistemático.
Quem está em campo sabe (e como sabemos e sofremos!) que o jogo do ambientalismo e da ecologia no Brasil é um vale-tudo. Não tem regras. Uns poucos se autodenominam defensores da natureza, conseguem franquias de ONGs internacionais ou criam as suas próprias, arrecadam muito dinheiro para definir o bem e o mal e lançar suas sentenças arbitrárias. Isso pode, isso não pode, decidem. Espalham avaliações, frequentemente difamatórias, contra quem escolhem para bode expiatório. O que decidem passa em julgado, sem apelação.

Já a sociedade, perplexa e generosa, preocupada com a qualidade de vida, as mudanças climáticas e a própria sobrevivência do planeta, submete-se a toda sorte de exageros, superstições e invencionices, até mesmo porque as opiniões arbitrárias vêm sempre mescladas com as melhores e mais comoventes prescrições. As próprias leis ambientais brasileiras, mesmo as consensuais, revelam generosidade e ignorância, pois, em sua maioria, não têm nenhuma base científica e experimental.

Por outro lado, ONGs exploram a insegurança, a debilidade institucional e a antropofagia política de uma nação que tardiamente, mas efetivamente, está driblando as suas contradições e avançando no bom caminho da ordem democrática. Os paradigmas que nos querem impor refletem o remorso, a hipocrisia e, principalmente, o poder econômico dos povos até agora ditos desenvolvidos e que através de milênios de História desconstruíram suas paisagens e não têm mais condições de recompô-las. Desta vez, porém, sofrerão um contra-ataque que não esperavam, num país tropical e exótico, como nos olham.

Estou escrevendo sobre o Projeto Biomas, a ser conduzido pela Embrapa, envolvendo 240 pesquisadores de várias instituições e uma história de sucessos - descobertas, invenções, experimentações - que tornaram o Brasil o terceiro maior exportador mundial de alimentos (na verdade, o segundo, pois a União Europeia, hoje em segundo lugar, não é um país, mas a soma de 27 países). O Projeto Biomas é a oportunidade de ouro para a agropecuária brasileira, escorada no conhecimento científico, mostrar seus compromissos éticos e produzir sem medo.

Escolhidos por algumas ONGs, na impostura ecologista que encenam impunemente, para o papel de Judas em Sábado de Aleluia, os produtores rurais apostam na verdade. Por intermédio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), estão contribuindo com R$ 20 milhões para que a Embrapa, com independência e autoridade acadêmica, desenvolva o Projeto Biomas.

Fui tão longe e esqueci o que devia ter sido o começo da conversa: biomas. O que são biomas? Uma palavra nova, criada há pouco mais de 50 anos - formada por bio, vida, e oma, conjunto -, designa áreas que apresentam uniformidade de paisagens, clima, solo, subsolo e predomínio de espécies vegetais e animais. No Brasil temos seis biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. O Projeto Biomas pretende reunir, em seis vitrines tecnológicas de 5 milhões de metros quadrados cada (uma em cada bioma), conhecimentos e experiências para consolidar uma espécie de bula, apresentação minuciosa das paisagens e dos solos de cada bioma nos 851 milhões de hectares do Brasil, acompanhada de indicações e modo de usar, apresentando a forma de uso da terra compatível com o potencial ambiental.

O Projeto Biomas tornará disponíveis informações tecnológicas para todos, democrática e gratuitamente, em especial para os pequenos e médios agricultores, que não podem pagar por elas. E contarão, também, com 350 instrutores treinados pelo sistema CNA/Senar (o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) para orientá-los - são os transferidores de tecnologia. Será a primeira iniciativa que inclui os agropecuaristas como protagonistas de uma importante ação ambiental.

O Projeto Biomas agrega, não alimenta conflito. Vai substituir as opiniões, intuições e a absurda orientação ideológica que transforma dogmas em legislação sobre quantos metros a mais ou a menos de margens de rios e topos de morros devem ser preservados. Agora, prevalecerá a orientação científica, pesquisada e experimentada. É a nossa opção pela ciência e uma declaração da nossa confiança na Embrapa e nos pesquisadores do Brasil.

Os produtores sabem que não há produção sem água ou em solos degradados. Sabem que nada cresce sem o equilíbrio da biodiversidade, tão importante para o controle de pragas e doenças.

Ou, como ouvi outro dia de um velho pesquisador, adaptando inconscientemente um jargão do seu passado socialista à regra de ouro que resultará do Projeto Biomas: A cada bioma, segundo as exigências de preservação da sua natureza; a cada agropecuarista, nos limites estabelecidos para uso econômico das suas propriedades. A utopia fundamentalista não se cumpriu, mas a verdade ambientalista no Brasil será realidade.

*SENADORA (DEM-TO), É PRESIDENTE DA CNA


sexta-feira, 19 de março de 2010

A lenga-lenga da economia do baixo carbono: Alice no país das maravilhas?

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O comentário abaixo está relacionado aos 2 textos que podem ser baixados nos links a seguir:





A lenga-lenga da economia do baixo carbono: Alice no país das maravilhas?

O seminário de "O caminho do baixo carbono", comentado pelas jornalistas Amelia Gonzalez e Martha Nelva Moreira (ver anexo), merece comentários adicionais. Em prmieiro lugar, já assisti palestras do Eduardo Gianetti da Fonseca para o mercado financeiro nas quais a litania é sempre a mesma: "CRESCER, CRESCER, porque não crescemos como a China", diz ele de alto brado... E propunha reformas para isso, uma bobagem de dar dó, segundo Andy Xie, um economista inteligente independente que criticou essa lenga-lenga toda no seu último artigo (ver anexo). O surreal é que tudo indica que a idéia de crescimento econômico foi campanha da guerra fria, que alguns desavisados, como Robert Solow, tomaram como séria.

É apavorante ver o "framework" dos economistas tradicionais que só contempla produção por valores monetários e ignora os avanços das ciências mais puras, crítica ignorada e totalmente aplicável feita pelo Nicholas Georgescu-Roegen há mais de 40 anos atrás. Pena ele não ter sido ouvido.

O que mais apavora nessa questão toda enquanto afundamos na lama é a forma como os iluminados de plantão não entendem que o problema crucial não é o de energia, mas de matéria.

Vamos brincar de planeta-sala, onde fazemos nossas palestras. Fora das salas temos o cândido universo. O planeta-sala possui falta de energia o que deixa seus presentes e o palestrante-vaidoso-sofista muito preocupado. No final, por meio de um passe de mágica, atingimos a economia do baixo carbono e temos milagrosamente algo que a humanidade nunca terá: uma fonte segura, facilmente distribuída, barata e inesgotável de energia. Todos do planeta sala já esfregam as mãos: vamos aumentar o número de cadeiras de 300 para 600, mas de repente se dão conta que só será possível fazer isso se empilharmos cadeiras e pessoas, dado que o espaço disponível é obviamente finito...

Poderíamos adicionar o problema no planeta-sala da necessidade para os presentes de comida e água, destino do lixo, manutenção do ar puro, biodiversidade, etc., mas por hipótese ad hoc os seres do planeta-sala são intangíveis e imateriais, como se estivessem no Jardim do Éden, basta pensar e estão saciados. Mesmo assim, o problema das cadeiras segue sem solução...

É tão óbvio quanto isso. A expansão quantitativa que atingimos só será viável quando retroceder ao ponto necessário de restabelecer o equilíbrio planetário e isso ocorrerá com ou sem a humanidade, posto que não somos nós que ditamos as regras e sim o planeta. Essa falsa idéia de comando e controle também faz parte dos erros coletivos atuais que nos fazem correr o risco pela primeira vez de total desaparecimento da nossa espécie.

Hugo Penteado

quinta-feira, 18 de março de 2010

Evento - Manaus

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Evento em Manaus com palestra do Hugo.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Carta aberta à Marina Silva

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Prezada Senadora Marina Silva,

No mundo real as monstruosidades vão continuar cheia de justificativas falsas.

No mundo ideal – que não é o real – o caminho correto seria atualizar tecnologicamente as turbinas das usinas já existentes, renovar as linhas de transmissão e reduzir o desperdício. Com essas medidas não muito impactantes conseguiríamos aumentar a oferta relativa de energia em quase 100%. Nada precisaria ser construído.

No mundo mais do que ideal conseguiríamos abandonar a idéia de crescimento eterno dos economistas cegos e investir num modelo voltado para as pessoas, que seriam colocadas acima de tudo como principais agentes transformadores do mundo futuro que desejamos.

Não adianta abraçar árvores, sem abraçar homens e mulheres, sem promover uma clara re-integração do ser humano com a natureza, cuja dependência nunca desapareceu e essa desconexão provocou já um sério risco para nossa sobrevivência na Terra. As pessoas precisam de participação, importância, todos nós somos igualmente importantes para nosso futuro como espécie.

Não fazemos nem cócegas para o planeta, que não possui o menor interesse na nossa insignificante espécie animal. Eu posso dizer que eu nunca morri, posto que escrevo esse email. O fato de eu nunca ter morrido, não significa que eu não vá morrer um dia. Essa lógica errada é aplicada ao planeta, mas o fato da Terra nunca ter expulsado o homo sapiens ou toda as formas de vida por nossa própria culpa, não significa que não o fará.

O mais assustador são as tendências continuarem as mesmas de sempre, no modelo do passado, como alertou muito bem no seu artigo “Pandora é aqui”. Já provocamos a maior extinção em massa de espécies animais e vegetais dos últimos 65 milhões de anos, a terceira mais forte registrada em nosso planeta de 4,5 bilhões de anos. É muita ingenuidade achar que essa extinção jamais irá se voltar contra os causadores, ainda mais aqui, onde a interligação é tão robusta que podemos dizer que todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos.

Sem a Amazônia todos estaremos mortos, por exemplo.

No mundo real, para atender a demanda de energia dos brasileiros que nada tem, alguns amigos meus me contrariam dizendo que Belo Monte será ambientalmente melhor do que oito usinas termo-elétricas no Nordeste. O modelo esbanjador e consumista continua o mesmo. Eu ando de bicicleta pelas ruas de São Paulo correndo risco de vida e não me importo, quando todos que conheço andam de carros gigantes ou SUVs.

O difícil mesmo é mudar o mundo real e os interesses e convicões arraigados. A luta é enorme. Brasil é a Pandora dos chineses e dos países ricos e os economistas ainda ficam agraciados por isso, clamando por saldos comerciais maiores, onde custos socioambientais são nulos e externalizados pela sua pseudo-ciência. A conta planetária já chegou.

Continuo a lhe desejar muita sorte nas eleições, como minha candidata e única, pois não votarei em mais ninguém.

Minhas mais sinceras e cordiais saudações,

Hugo Penteado

Quinta, 4 de fevereiro de 2010
Pandora é aqui?

Marina Silva
De Brasília (DF)

Pandora é aqui? Marina Silva

O Ibama concedeu a licença prévia para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Trata-se de um projeto muito polêmico, localizado no rio Xingu, no Pará, próximo ao município de Altamira, numa região conhecida como Volta Grande do Xingu. O nome deve-se ao desenho do rio que, visto de cima, assemelha-se a uma "ferradura".

Por meio de barragens, as águas do rio serão desviadas para um canal que unirá as pontas mais próximas dessa "ferradura". Ao final desse canal, as águas passarão pelas turbinas antes de retornarem ao seu curso normal.

Como tudo na Amazônia, os números que envolvem a obra são gigantescos. A quantidade de terra e pedra que será retirada na escavação do canal é cerca de 210 milhões de m³ - um pouco menor da que foi removida na construção do Canal do Panamá. E ainda nem se definiu qual a destinação desse material.

Pelo leito do rio Xingu passa uma vazão de 23.000 m³/s de água no período de cheia. Um volume correspondente a quatro vezes a vazão, também nos períodos de cheia, das Cataratas do Iguaçu.

Os impactos socioambientais também terão essa mesma ordem de grandeza. E ainda não foram concluídos. Só sobre a fauna, segundo dados coletados durante o Estudo de Impacto Ambiental, podemos ter uma idéia. Na área existem 440 espécies de aves (algumas ameaçadas de extinção, como a arara-azul), 259 espécies de mamíferos (40 de porte médio ou grande), 174 de répteis e 387 de peixes.

Apenas a eficiência energética da usina não será tão grande. Uma obra colossal que custará certamente mais de R$ 30 bilhões - se somados todos os gastos, como o custo e a extensão da linha de transmissão, por exemplo - terá uma capacidade instalada de gerar, em média, 4.428 MW, em razão do que poderá ser suportado pelo regime hídrico do rio, nesta configuração do projeto. E não os 11.223 MW que estão sendo equivocadamente anunciados.

A energia média efetiva entregue ao sistema de distribuição será de 39% da capacidade máxima de geração, enquanto a recomendação técnica indica que essa eficiência seja de pelo menos 55%.

Para que Belo Monte possa apresentar um grau de eficiência energética compatível com as recomendações técnicas, seria necessária a construção de outras três hidrelétricas na bacia do rio Xingu, que teriam a função de regularizar a vazão do rio. Por ora, a construção dessas usinas foi descartada pelo governo porque estão projetadas para o coração da bacia, onde 40% das terras pertencem aos indígenas.

No entanto, a insistência em manter o projeto nessa dimensão (apesar de haver alternativa de barragem com quase metade da capacidade instalada e perda de pouco mais de 15% na potência média gerada) provoca forte desconfiança, tanto dos analistas como das comunidades e dos movimentos sociais envolvidos, de que a desistência de construir as outras três hidrelétricas seja apenas temporária.

A população indígena - são mais de 28 etnias naquela região - ficará prensada entre as cabeceiras dos rios que formam a bacia, hoje em processo acelerado de exploração econômica e com alto nível de desmatamento acumulado. E a barragem, além de interromper o fluxo migratório de várias espécies, vai alterar as características de vazão do rio.

É incrível que um empreendimento com esse nível de interferência em ambientes sensíveis seja idealizado sem um planejamento adequado quanto ao uso e à ocupação do território.

A solução de problemas dessa dimensão não pode ser delegada exclusivamente a uma empresa com interesse específico na exploração do potencial hidrelétrico, com todas as limitações conhecidas do processo de licenciamento.

Com a obra, são esperadas mais de 100 mil pessoas na região. Não há como dar conta do adensamento populacional que será provocado no meio da floresta amazônica, sem um planejamento para essa ocupação e um melhor ordenamento do território. Isso só pode ser alcançado através da elaboração de um Plano de Desenvolvimento Sustentável na região de abrangência da obra.

Essa foi uma grande omissão nesse processo, mas não a única. Não temos como deixar de indagar se não há outros aproveitamentos hidrelétricos que seriam mais recomendados, sob o ponto de vista dos impactos ambientais ou da eficiência energética.

No entanto, não há projetos com estudo de viabilidade técnica e econômica prontos para serem submetidos ao licenciamento ambiental. Apesar de o diagnóstico ser conhecido desde 2003, apenas em meados do ano passado foram finalizadas as primeiras revisões de inventário de bacia hidrográfica, como a do Tapajós.

Com isso, projetos polêmicos e com grandes impactos têm que ser analisados em prazos muitas vezes incompatíveis com o grau de rigor que deveriam ter, numa clara demonstração de como, muitas vezes, os ativos ambientais são afetados pela falta de planejamento de outros setores de governo.

Porém, nada foi mais afetado do que nosso compromisso ético frente à responsabilidade com o futuro de povos e culturas. Não foram sequer feitos estudos sobre os impactos que os povos indígenas terão. Só para exemplificar, o que significará para eles ter a vazão reduzida significativamente num trecho de 100km em função do desvio das águas para o canal? O plano de condicionantes tampouco menciona a regularização de duas Terras Indígenas (Parakanã e Arara), já bastante ameaçadas.

Estas e outras comunidades indígenas manifestam inconformidade por não terem sido ouvidas adequadamente, segundo os preceitos da Resolução 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificada pelo Brasil, mas nunca implementada para valer.

O Brasil possui um importante potencial de geração de energia hidrelétrica a ser desenvolvido. Mas as dificuldades em retomar o planejamento do setor na velocidade que possibilite escolhas e uma análise segura por parte do setor ambiental, somada à indisposição em discutir uma proposta de desenvolvimento sustentável para as obras de infraestrutura localizadas na Amazônia, à percepção de que o governo não faz o suficiente para melhorar a eficiência energética do sistema (não só na geração) e para desenvolver as energias alternativas, acaba por produzir conflitos agudos e processos equivocados, que poderiam ser evitados.

Apesar dos discursos em contrário, ainda estamos operando no padrão antigo, que considera o meio ambiente como entrave ao desenvolvimento. Temos ainda um longo dever de casa a ser feito para ingressarmos definitivamente no século 21. Quem pensa que a história relatada no filme Avatar só pode ocorrer em outro planeta, engana-se: Pandora também pode ser aqui.

Marina Silva é professora de ensino médio, senadora (PV-AC) e ex-ministra do Meio Ambiente.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Usinas em Tapajós: profusão de idéias dentro do modelo de crescimento infinito num planeta finito é infinita

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PODE SER LIDO EM: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_entrevistas&Itemid=29&task=entrevista&id=30383

As cinco hidrelétricas no Rio Tapajós. ''Nenhum rio, no mundo, suporta isso''. Entrevista especial com Telma Monteiro

“Nenhum rio, no Brasil e no mundo, pode suportar a construção de cinco hidrelétricas, ou até menos, em sequência. Hidrelétricas causam prejuízos imensuráveis à biodiversidade”, afirma a coordenadora de Energia e Infra-Estrutura Amazônia da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé.

Confira a entrevista.

“Nenhum rio, no Brasil e no mundo, pode suportar a construção de cinco hidrelétricas, ou até menos, em sequência. Hidrelétricas causam prejuízos imensuráveis à biodiversidade”, desabafa Telma Monteiro no início da entrevista que concedeu à IHU On-Line, por telefone. Ela critica o projeto de construção do complexo de hidrelétricas do rio Tapajós, onde estão previstas cinco hidrelétricas em sequência. “O governo e seus aliados conseguiram passar as usinas do rio Madeira pela sociedade. Eles estão conseguindo passar com um trator por Belo Monte, embora estejamos resistindo bravamente. E se passarem Belo Monte, não vão ter qualquer dificuldade para aprovarem as hidrelétricas do Tapajós e todas as outras que forem planejadas para suprir a necessidade de obras para as grandes empreiteiras e de energia para as grandes eletro-intensivas”, disse ela.

Telma Monteiro é coordenadora de Energia e Infra-Estrutura Amazônia da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O rio Tapajós suportará a construção das cinco hidrelétricas?

Telma Monteiro – Nenhum rio, no Brasil e no mundo, pode suportar a construção de cinco hidrelétricas, ou até menos, em sequência. Hidrelétricas causam prejuízos imensuráveis à biodiversidade, imagine cinco e em sequência. Neste caso se criariam cinco grandes lagos na região da bacia do Rio Tapajós em sequência. Isto transformaria esses rios em uma espécie de sistema lacustre.

IHU On-Line – Quais são as principais falhas no projeto do Complexo de Tapajós?

Telma Monteiro – Além daqueles que apontamos para todas as outras hidrelétricas, como foi a falha do processo de licenciamento do Rio Madeira, e estão sendo as falhas do processo de licenciamento de Belo Monte no Rio Xingu, no caso das hidrelétricas do Tapajós, os impactos seriam muito grandes. Inclusive na questão de atingir terras indígenas, que afetaria o povo Munduruku. Os munduruku estão na região do Tapajós e serão diretamente afetados. A relação desses índios com o ambiente natural é muito estreita, e, no próprio inventário hidrelétrico do Rio Tapajós, isto está muito claro.

A preservação e o desenvolvimento dessas culturas irão depender fundamentalmente da manuntenção desses grupos indígenas e de seus territórios. A continuidade de suas relações com o meio ambiente é muito importante. Quando você agride toda essa biodiversidade que irá servir aos povos indígenas, está fazendo com que morra a alma antes do corpo, que é a forma mais rápida de destruição das identidades étnicas. Acho que isso reflete muito bem o que esses grandes projetos de infraestrutura podem causar à Amazônia, em especial, nesses povos que já estão sendo afetados.

O projeto ainda nem começou, mas, pela simples menção de sua construção, esses povos já estão sendo afetados. Quando se tem uma ocupação, como no caso do Rio Madeira, esse precedente já é transferido para um novo local quando se anunciam a construção de novas hidrelétricas. Começam a fluir pessoas para esses locais, que passam a ocupar essa região de forma desordenada, e os municípios não estão preparados para esse processo migratório para a região. Na hora em que se tem a divulgação da questão das hidrelétricas nos rios Madeira, Xingu e Tapajós, é possível perceber que as pessoas já se mobilizam para chegarem a esses lugares e começarem a ocupar o espaço em busca de oportunidades de trabalho. Aí começa o caos na infraestrutura da região.

IHU On-Line – Já se sabe qual será a potência total de geração de energia do Complexo de Tapajós?

Telma Monteiro – Os estudos de viabilidade já estão prontos e estão sendo analisados. Esses estudos indicam que o potencial previsto é de 14.245 megawatts, isso para um conjunto de aproveitamento em cascata nos rios Tapajós e Jamanchim. Lógico que estão neste projeto os mesmos que estão nos outros projetos. Foi a CNEC engenharia, uma empresa da Camargo Correa, que fez os estudos. Inclusive a própria empresa Camargo Correa não objetiva gerar energia, mas construir obras. A Camargo Correa é que vai construir Jirau, está pretendendo participar do leilão de Belo Monte e também já está envolvida nos estudos do Rio Tapajós.

Na questão do Complexo de Tapajós, temos outro precedente. Lá estão as mesmas empreiteiras, cujo fim é apenas fazer obras, e não gerar energia. Na verdade, na falta de grandes obras de infraestrutura no Brasil durante algum tempo, estamos vendo agora uma verdadeira indústria de construção de barragens nos rios, em especial, na Amazônia.

As empresas começam a buscar uma forma original de apresentar as hidrelétricas para a sociedade. No caso do Complexo do Tapajós, é muito interessante: eles criaram uma nova figura, e isso foi um exercício da Eletrobrás, a da usina-plataforma.

IHU On-Line – A quem se destina toda a energia que será produzida nessas cinco hidrelétricas?

Telma Monteiro – Temos as grandes usinas eletrointensivas, que são aquelas cujo produto final requer um insumo maior de energia. Temos o beneficiamento do alumínio, primeiro com a extração da bauxita, que beneficia o alumínio. Antigamente, o Brasil exportava toneladas de material mineirado. Hoje, o país exporta quilos de alumínio. O que essas grandes empresas eletrointensivas como a Vale precisam? Precisam extrair a bauxita e beneficiar o alumínio, e isso acontece usando a energia hidrelétrica. O custo menor para elas é manter essas indústrias que beneficiam o minério perto de usinas hidrelétricas. Onde estão essas explorações? Estão justamente na Amazônia, a região com a maior riqueza mineral do planeta. E o que essas grandes empresas eletro-intensivas querem? Querem explorar toda essa riqueza. Veja que algumas já têm uma planta pronta para uma indústria em Altamira para beneficiar a indústria de alumínio.

IHU On-Line – O que está por trás da contratação das empresas Camargo Correa e Odebrecht?

Telma Monteiro – O que é a Odebrecht? Antes de mais nada, ela é uma grande empreiteira. Embora elas sejam empresas que detenham outras em diferentes setores, sua atividade principal são obras de grande porte. O que é uma grande barragem? É um conjunto imenso que utiliza concreto, é uma construção pesada, que necessita de muitas escavações em rochas e tudo isso não se consegue fiscalizar. Isso custa muito dinheiro! Quando você faz um conjunto de cinco hidrelétricas numa região como a do rio Tapajós e com uma tecnologia nova, como é que essas empreiteiras vão ser fiscalizadas, se aquele custo que elas apresentaram para a construção não pode ser fiscalizado? Por isso, grandes obras dão muito dinheiro para esse tipo de empresa. Essas empresas vivem disso, e não de gerar energia.

Belo Monte vive outro grande problema seríssimo, porque a energia que pretendem gerar lá é de 4500 megawatts médios. Isso é mentira. Há um estudo de 2006 que diz que é impossível gerar esse nível de energia, a não ser que se construam mais três energias hidrelétricas.

IHU On-Line – Querem construir no Rio Tapajós usina-plataforma. O que é isso?

Telma Monteiro – É um novo conceito revolucionário em hidrelétricas, como diz a Eletrobrás. A ideia é que a hidrelétrica será construída sem que se faça desmatamento. É isso que eles estão planejando. A Petrobrás até lançou uma cartilha com um material especial feito para que as comunidades se apropriem dessa nova “técnica” de usina-plataforma, que tem relação com plataformas de exploração de petróleo no mar. Nós não sabemos como isso pode ser transferido para o meio da floresta. Se diz que a usina-plataforma será feita sem que haja necessidade de canteiros de obras para os trabalhadores fazerem a usina, e esses trabalhadores serão levados e trazidos através de helicópteros no meio da mata. Segundo declarações do presidente Lula e do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, essas usinas-plataformas não ampliariam o desmatamento. Esta é uma coisa muito interessante, pois não se imagina como se pode fazer um reservatório de uma grande usina hidrelétrica, no meio da Amazônia, sem desmatamento. Temos duas opções: Ou o reservatório é virtual, ou ele paira.

IHU On-Line – O que significa a construção de dois projetos considerados “mega” como o do rio Tapajós e o de Belo Monte?

Telma Monteiro – Significa que, na esteira desses dois projetos, que vão afetar terras indígenas, a biodiversidade, a vida dos ribeirinhos, o custo-benefício-social não foi divulgado. Na realidade, não sabemos qual é o custo para a sociedade dos peixes que deixarão de fazer a migração para a reprodução. Essas externalidades não estão sendo consideradas e, se estão sendo consideradas, os números não estão aparecendo. Significa, portanto, que na esteira desses projeto há outros tantos, como bem disse nosso Ministro Edison Lobão, numa reunião em Brasília, que temos um potencial de desenvolvimento para gerar energia hidrelétrica inclusive em áreas preservadas e que até esses lugares estão no plano do governo de exploração.Justificar

O governo e seus aliados conseguiram passar as usinas do rio Madeira pela sociedade. Eles estão conseguindo passar com um trator por Belo Monte, embora estejamos resistindo bravamente. E se passarem Belo Monte, não vão ter qualquer dificuldade para aprovarem as hidrelétricas do Tapajós e todas as outras que forem planejadas para suprir a necessidade de obras para as grandes empreiteiras e de energia para as grandes eletro-intensivas.

IHU On-Line – Com tantos alertas e demonstrações que provam os riscos desses empreendimentos, por que, em sua opinião, os projetos continuam avançando? Quem pode impedir que essas barragens sejam construídas?

Telma Monteiro – Temos que repensar o planejamento energético brasileiro. Estão esquecendo de uma série de medidas que deveriam ser tomadas antes de se pensar em contruir megahidrelétricas no Brasil. Primeiro: quais são as perdas efetivas? Onde estão as contas que demostram quais as perdas que existem no sistema de transmissão do país? Ninguém fala disso. O próprio professor Célio Berman demonstrou, através de um estudo com a WWF, a necessidade de detectar quais as usinas que precisam de repotenciação. Porque você acha que a energia eólica não “pegou” ainda no Brasil? Porque não interessa às empreiteiras deixar que a eólica seja uma fatia substancial de geração de energia no país. Eólica não precisa de concreto, não tem barragem, não tem escavações. Então, enquanto tiver o lobby das grandes empreiteiras querendo fazer megabarragens, nós não teremos a necessidade de desenvolver hábitos de economia de consumo, por exemplo.

terça-feira, 9 de março de 2010

Hidrelétrica Belo Monte

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Comentário ao texto de Leonardo Boff sobre Belo Monte

Realmente assustador o texto abaixo do Leonardo Boff do Jornal do Brasil. Envio a vocês para conhecimento.

Podemos creditar o mérito dessa monstruosidade a todos que se calam diante da falsa sabedoria comum dos economistas e principalmente daqueles que pretendem ter um pensamento diferente.

O Brasil é hoje o planeta Pandora (do filme Avatar) dos chineses e dos países ricos e nós ainda nos agraciamos com isso e ainda dizemos que a sugação de recursos naturais e serviços ecológicos de países que não tem água suficiente nem para alimentar sua população pode ser um exemplo de "sustentabilidade" a ser copiada por todos.

Os "iluminados" não perceberam que a espoliação ambiental a custo zero pode ser feita entre países, mas não dos países todos contra o planeta. E que isso logicamente gera as várias guerras de terror que explodem à nossa volta.

Difícil dizer o que é mais irritante nesse debate à beira do precipício: se os economistas tradicionais ou se os economistas iluminados travestidos de sabedoria científica que pensam muito valer, mas que mais valeriam se estivesse mortos e enterrados com sua sabedoria inútil que não muda a vida dos bilhões de seres humanos soterrados vivos pelo crescimento econômico.

A humanidade está sendo soterrada viva pela idéia estúpida do crescimento econômico baseada na expansão ilimitada de estruturas fixas e móveis, como usinas de energia, carros e construções de todos os tipos, num planeta territorialmente finito e com serviços ecológicos indispensáveis, irreproduzíveis e muito vulneráveis diante dessa alteração ecossistêmica.

Com isso, a vida e todas as suas formas se encontra duramente ameaçada e no maior processo de extinção dos últimos 65 milhões de anos.

Essa idéia estúpida fez parte da propaganda da guerra fria e alguns economistas carentes de inteligência acreditaram nisso. Passou a ser o denominador comum de todas as economias e mensurado por outro conceito mais estúpido ainda, o PIB, também criado para fins de guerra.

Não importa que hoje um número significativo de países esteja sofrendo queda na produção de alimentos, nem que os riscos planetários que se amontoam a nossa volta sejam assustadores. Tanto os economistas cegos tradicionais quanto os iluminados de plantão não mudarão uma vírgula sequer desse modelo destruidor, pelo menos enquanto os céus assim não o determinarem.

Tudo indica que estamos muito perto da quebra desse paradigma, mas será uma mudança forçada. O sistema todo já parece ter atingido um nível de estresse tão grande que retrocederemos da pior forma possível, contra nossa vontade e com risco de extinção.

Por ventura foste tu que deste lei à luz da manhã? - perguntou Deus a Jó, cuja resposta de todos os cientistas é não. Aparentemente, por profunda ignorância e desconexão dos nossos elos naturais, dizemos sim e pagaremos com nossas vidas por tamanha arrogância.

Hugo Penteado

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Belo Monte: a volta triunfante da ditadura militar?
Leonardo Boff, Jornal do Brasil
RIO - O governo Lula possui méritos inegáveis na questão social. Mas na questão ambiental é de uma inconsciência e de um atraso palmar. Ao analisar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) temos a impressão de sermos devolvidos ao século 19. É a mesma mentalidade que vê a natureza como mera reserva de recursos, base para alavancar projetos faraônicos, levados avante a ferro e fogo, dentro de um modelo de crescimento ultrapassado que favorece as grandes empresas à custa da depredação da natureza e da criação de muita pobreza. Este modelo está sendo questionado no mundo inteiro por desestabilizar o planeta Terra como um todo e mesmo assim é assumido pelo PAC sem qualquer escrúpulo. A discussão com as populações afetadas e com a sociedade foi pífia. Impera a lógica autoritária; primeiro decide-se, depois se convoca a audiência pública. Pois é exatamente isso que está ocorrendo com o projeto da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu, no estado do Pará.

Tudo está sendo levado aos trambolhões, atropelando processos, ocultando o importante parecer 114/09 de dezembro de 2009, emitido pelo Ibama (órgão que cuida das questões ambientais) contrário à construção da usina, a opinião da maioria dos ambientalistas nacionais e internacionais que dizem ser este projeto um grave equívoco com consequências ambientais imprevisíveis.

O Ministério Público Federal, que encaminhou processos de embargo, eventualmente levando a questão a foros internacionais, sofreu coação da Advocacia Geral da União (AGU), com o apoio público do presidente, de processar os procuradores e promotores destas ações por abuso de poder.

Esse projeto vem da ditadura militar dos anos 70. Sob pressão dos indígenas apoiados pelo cantor Sting em parceria com o cacique Raoni foi engavetado em 1989. Agora, com a licença prévia concedida no dia 1º de fevereiro, o projeto da ditadura pôde voltar triunfalmente, apresentado pelo governo como a maior obra do PAC.

Neste projeto tudo é megalômano: inundação de 51.600 hectares de floresta, com um espelho d'água de 516 km2, desvio do rio com a construção de dois canais de 500 metros de largura e 30 quilômetros de comprimento, deixando 100 quilômetros de leito seco, submergindo a parte mais bela do Xingu, a Volta Grande e um terço de Altamira, com um custo entre R$ 17 e 30 bilhões, desalojando cerca de 20 mil pessoas e atraindo para as obras cerca de 80 mil trabalhadores para produzir 11.233 MW de energia no tempo das cheias (quatro meses) e somente 4 mil MW no resto do ano, para, por fim, transportá-la até 5 mil quilômetros de distância.

Esse gigantismo, típico de mentes tecnocráticas, beira à insensatez, pois, dada a crise ambiental global, todos recomendam obras menores, valorizando matrizes energéticas alternativas, baseadas na água, no vento, no sol e na biomassa. E tudo isso nós temos em abundância. Considerando as opiniões dos especialistas podemos dizer: a usina hidrelétrica de Belo Monte é tecnicamente desaconselhável, exageradamente cara, ecologicamente desastrosa, socialmente perversa, perturbadora da Floresta Amazônica e uma grave agressão ao sistema-Terra.

Este projeto se caracteriza pelo desrespeito: às dezenas de etnias indígenas que lá vivem há milhares de anos e que sequer foram ouvidas; desrespeito à Floresta Amazônica cuja vocação não é produzir energia elétrica mas bens e serviços naturais de grande valor econômico; desrespeito aos técnicos do Ibama e a outras autoridades científicas contrárias a esse empreendimento; desrespeito à consciência ecológica que, devido às ameaças que pesam sobre o sistema da vida, pedem extremo cuidado com as florestas; desrespeito ao bem-comum da Terra e da humanidade, a nova centralidade das políticas mundiais.

Se houvesse um Tribunal Mundial de Crimes contra a Terra, como está sendo projetado por um grupo altamente qualificado que estuda a reinvenção da ONU sob a coordenação de Miguel d'Escoto, expresidente da Assembleia (2008-2009), seguramente os promotores da hidrelétrica Belo Monte estariam na mira deste tribunal.

Ainda há tempo de frear a construção desta monstruosidade, porque há alternativas melhores. Não queremos que se realizem as palavras do bispo Dom Erwin Kräutler, defensor dos indígenas e contra Belo Monte: "Lula entrará na história como o grande depredador da Amazônia e o coveiro dos povos indígenas e ribeirinhos do Xingu".

Leonardo Boff, além de teólogo, é representante e co-redator da Carta da Terra.
23:18 - 28/02/2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

UMA TERRA DE NINGUÉM?

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Jornal *O Estado de S.Paulo* - Domingo, 7 de março de 2010

UMA TERRA DE NINGUÉM?

Para cosmólogo, a pior catástrofe não são os terremotos, mas a onda de desleixo que avassala o planeta

*MARTIN REES*
em entrevista para Christian Carvalho Cruz


Terremotos, inundações, nevascas, tsunamis e outros desastres naturais matando tantas pessoas pelo mundo seriam sinais do início do fim dos tempos?

Não há evidência sólida de que esses eventos sejam mais frequentes agora do que no passado. Mas é claro que as consequências são mais severas, porque há mais pessoas e por causa da maneira como nós vivemos nas cidades.

Gelo diminuindo no Ártico, iceberg que se desprende da Antártida. O sr. crê em aquecimento global?

Acho que há indícios bastante fortes de que o mundo está se aquecendo por causa das atividades humanas. Mais importante: nós sabemos que a concentração de dióxido de carbono no ar é maior hoje do que foi por centenas de milhares de anos e, se continuarmos a depender da energia
de combustíveis fósseis, no final deste século essa concentração terá duas ou até três vezes o nível observado no período pré-industrial. A física simples sugere, então, que há um risco alto e real de mudanças climáticas graves e irreversíveis.

A capacidade do ser humano de se adaptar a condições de vida adversas impede que ele reaja e faça algo para evitar o próprio fim?

Sim, nós podemos nos adaptar. Mas será que, em vez disso, não deveríamos tentar impedir que o mundo se altere a ponto de o meio ambiente ser irreversivelmente degradado e a biodiversidade,
destruída? O mundo desenvolvido precisa ser mais eficiente no uso da sua energia. Uma enorme quantidade de calor é desperdiçada por ineficiência das edificações e (especialmente nos Estados Unidos) por conta do excessivo transporte rodoviário, extravagante na utilização de combustível. Temos de embarcar nas novas tecnologias do século 21 e garantir que o resto do mundo evite os erros cometidos pelos Estados Unidos e pela Europa.

Ainda temos tempo para evitar o fim ou devemos nos resignar?

A aplicação prudente da ciência e a distribuição justa dos benefícios da globalização entre o mundo desenvolvido e o mundo em desenvolvimento reduziriam o risco de danos à nossa civilização. A crise financeira nos fez lembrar do perigo de acontecimentos imprevisíveis - eles têm baixa probabilidade de acontecer, mas, quando acontecem, as consequências podem ser desastrosas. A ação internacional foi eficaz na prevenção de um colapso financeiro completo. Mas o foco sobre os bancos destacou as injustiças sociais decorrentes das enormes desigualdades em termos de riqueza. A crescente desigualdade, especialmente entre a elite financeira e o resto, é socialmente corrosiva. O prestígio dos banqueiros deve ser reduzido ao dos corretores de imóveis ou dos vendedores de automóveis.

Por que o sr. diz que temos 50% de chance de sobreviver ao século 21?

Eu não digo exatamente isso. Eu acredito que iremos sobreviver, mas há 50% de chance de nossa civilização sofrer um sério revés até lá. É difícil prever em que grau estará a evolução tecnológica 25 anos adiante. Lembre-se que décadas atrás a internet, o iPhone e a navegação por satélite (GPS) pareceriam bruxaria. Precisamos garantir que as inovações tecnológicas que virão sejam usadas para o bem, como essas que citei têm sido. E temos que aceitar que os riscos e os desafios éticos da biologia sintética sejam tratados por um acordo internacional. Acima de tudo há o desafio político para evitar conflitos em um mundo no qual será cada vez mais difícil obter
equilíbrio entre o autoritarismo e a anarquia.

Por que o sr. acredita nisso?

Porque pequenos grupos criminosos ou dissidentes (ou mesmo indivíduos) estarão mais habilitados pela tecnologia moderna, podendo causar perturbações muito maiores. Vai ser mais difícil preservar as liberdades tradicionais.

O sr. também diz que, se sobrevivermos, um futuro glorioso nos espera.
Que futuro é esse?

Como astrônomo, eu sei que o Sol não está nem sequer na metade de sua existência. Levou 4 bilhões de anos para que nós evoluíssemos desde o primeiro sinal de vida. Mas, tendo em vista o que resta de tempo ao Sol, ainda há pelo menos 5 bilhões de anos pela frente para uma evolução "pós-humana", sobre ou fora da Terra. Os seres humanos não são o ponto culminante da evolução, assim como não o era o primeiro peixe que rastejou para a terra seca.

O que é evolução pós-humana?

Não há mais tempo pela frente do que o tempo que foi necessário para evoluirmos até aqui, a partir do lodo primitivo. Assim, a vida pós-humana poderia ser diversa e maravilhosa - e tão diferente de nós como nós somos de um inseto.

Quais os três maiores perigos que enfrentaremos neste século?

Primeiro: que os seres humanos, coletivamente, devastem a biosfera, destruam a biodiversidade e mudem o clima de maneira nociva. Segundo: que possa haver uma guerra nuclear entre novas superpotências. Terceiro: que alguma tecnologia nova possa apresentar risco se for usada de modo equivocado ou por terroristas.

Afora as pessoas muito religiosas, gostamos de acreditar que a ciência sempre será a nossa salvação, sempre encontrará maneiras de nos manter aqui, num razoável bem-estar. Quando leio seus textos fico com a sensação de que a ciência, na verdade, possa se tornar o nosso maior
algoz. O sr. é um cientista que teme o que a ciência pode fazer?

Eu tenho grandes esperanças, e também grandes medos. Acredito que a resposta para os problemas do mundo não seja parar a ciência, mas prosseguir com ela e conduzi-la melhor. As tecnologias que alimentam o crescimento econômico hoje - miniaturização, tecnologia da informação e medicina - são benéficas no modo como estão poupando energia e matérias-primas e beneficiam tanto os ricos quanto os pobres.

A ciência deve ser controlada? Quem estabeleceria os limites?

Os limites são fixados pela prudência e pela ética. As decisões sobre esses limites não devem ser feitas só por cientistas, mas pelo grande público em geral. É por isso que é importante que todos tenham algum interesse pela ciência. Do contrário não há debate político sério sobre os problemas (e há cada vez mais deles) nos quais a ciência desempenha um papel, como meio ambiente, energia, saúde, segurança.

A humanidade precisava da ovelha Dolly?

Nós não queremos a reprodução humana por clonagem, mas podemos obter reais benefícios médicos e agrícolas a partir da biotecnologia moderna. Na ciência sempre há riscos quando fazemos algo pela primeira vez. Mas, obviamente, devemos aceitar alguns desses riscos. Do
contrário não avançamos.

O sr. mantém a aposta de que um evento bioterrorista ou de bioterror fará 1 milhão de vítimas até 2020?

Eu tenho esperança de perder essa aposta. Mas o risco é real.

Os ambientalistas repetem que a Terra não terá recursos suficientes para manter uma população mundial de 8 bilhões de pessoas em 2050. O sr. concorda?

A "capacidade de carga" do mundo depende do nosso estilo de vida. Ela nunca será sustentável se 8 bilhões de pessoas viverem como os americanos. Mas podemos viver de forma civilizada, com base nas novas tecnologias. Certamente seria melhor se, após 2050, a população mundial começasse a diminuir em vez aumentar. Há uma preocupação especial com o crescimento rápido na África, onde será difícil escapar da "armadilha da pobreza" a menos que as taxas de fecundidade caiam para os níveis de outras partes do mundo.

O que o fim da Terra e da raça humana significará para o Universo?

Depende se a vida inteligente é algo raro ou comum. Se é uma exclusividade da Terra, nossa destruição seria uma catástrofe cósmica. Se ela está generalizada no Universo, seria uma catástrofe para a humanidade, mas uma trivialidade em perspectiva cósmica.

Nós devemos pensar em como manter a vida sem uma Terra para viver? Que opções teríamos?

Espero que algumas pessoas que vivem hoje possam caminhar em Marte. Mas acho que isso será alcançado por meio de um programa de alto risco e custo baixo (em vez do estilo atual da Nasa, mais voltado para a questões de segurança e, por isso, caro demais). As primeiras pessoas a irem a Marte poderão ter um bilhete só de ida e nunca mais voltar. Em qualquer lugar no espaço o ambiente é mais inclemente do que na Antártida ou nos picos dos Andes. Só os aventureiros vão querer ir.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Derretimento do Ártico pode custar US$ 24 tri até 2050

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Piada claro. No mundo atual, a única notícia positiva é a fantasia abraçada por um bando de iluminados incapazes de enxergar a realidade a um palmo de seus narizes, tudo com muita elegância científica, uma herança antiga dos sofistas.

Enquanto o mundo natural e social se esfacela por completo, eles pavoneiam por aí como arautos de empregos verdes (falta dar exemplo de emprego não verde e se é desejável), economia do baixo carbono (como se tivéssemos só problema de energia e tecnologia disponível para reduzir o quociente de uso da carbono para unidade de produto em 99%), energia limpa (como se fosse possível plantar cana nas nossas cabeças), sustentabilidade (que nada mais significa vender mais para aumentar lucros, tudo com mais consciência) e outro conjunto de pataquadas inúteis que só servem para uma única finalidade: JAMAIS MUDAR O STATUS QUO!!!!!!!

Abaixo, mais uma da séria: “Querida, acho que destruí o mundo”.

Hugo

06/02/10 - 12h16 - Atualizado em 06/02/10 - 12h16

Segundo estudo, derretimento do Ártico pode custar US$ 24 tri até 2050

Causas seriam aumento do nível do oceano, enchentes e ondas de calor.
Danos principais seriam à agricultura, aos imóveis e às seguradoras.

Da Reuters

Um estudo divulgado na última sexta-feira (5) afirma que o derretimento das geleiras no Ártico poderá custar de US$ 2,4 trilhões a US$ 24 trilhões até 2050.

Os danos seriam relativos à agricultura global, aos imóveis e às seguradoras. As causas principais seriam o aumento do nível dos oceanos, enchentes e ondas de calor.

"Todos ao redor do mundo irão arcar com esses custos", afirmou Eban Goodstein, um economista do Bard College, no Estado de Nova York, e co-autor do estudo chamado "Tesouro Ártico, Ativos Mundiais Derretendo".

Ele afirmou que o relatório, revisado por mais de uma dezena de cientistas e economistas e financiado pelo Pew Environment Group, um braço do Pew Charitable Trusts, é a primeira tentativa de calcular o tamanho das perdas de uma das regiões mais importantes para o clima mundial.

"O Ártico é o ar-condicionado do planeta e ele está começando a entrar em colapso", disse.

O derretimento de gelo e neve no Oceano Ártico já custa ao mundo de US$ 61 bilhões a US$ 371 bilhões anualmente, principalmente devido a ondas de calor, enchentes e outros fatores, disse o estudo.

As perdas podem aumentar, pois um Ártico mais quente tende a soltar grandes quantidades de metano. O gás teria um impacto 21 vezes maior que o dióxido de carbono no aquecimento global.

O derretimento do gelo no Oceano Ártico já está causando um aumento de temperaturas, pois a água escura, resultante do gelo derretido, absorve mais energia solar, afirmou. Isso pode causar derretimentos de mais geleiras e aumentar o nível dos oceanos.

Enquanto boa parte da Europa e dos Estados Unidos têm sofrido com nevascas e temperaturas abaixo do esperado neste inverno, as evidências aumentam de que o Ártico está em risco devido ao aquecimento.

Os gases geradores do efeito estufa saídos de escapamentos e chaminés levaram as temperaturas do Ártico, na última década, ao maior nível em pelo menos 2 mil anos, revertendo uma tendência natural de resfriamento, informou uma equipe internacional de pesquisadores no jornal Science, em setembro.

As emissões de metano do Ártico subiram 30% nos últimos anos, disseram cientistas no mês passado.

quarta-feira, 3 de março de 2010

No modelo de crescimento econômico atual - mesmo com a ladainha obtusa da sustentabilidade e energia limpa - a Amazônia estará perdida para sempre

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No modelo de crescimento econômico atual - mesmo com a ladainha obtusa da sustentabilidade e energia limpa - a Amazônia estará perdida para sempre.
Sem a Amazônia todos estaremos mortos.
No pequeno artigo abaixo não comentaram a sempre conclusiva abordagem do Smithsonian Tropical Institute sobre os estúpidos projetos de investimentos no Brasil e na Venezuela, cujos resultados são extremamente danosos.
Por que não investir se i=f(t), i para investimento e t para tempo e p=f(t)=0, p para perdas? Ou seja as perdas relacionadas a investimentos que se expandem continuamente até o infinito são consideradas nulas...

Amazônia só tolera mais 3% de desmate

Publicado por Manoel Mendes em 02/02/2010, Novidades.

Se o desmatamento da Amazônia -que já consumiu 17% da floresta- atingir a marca de 20%, o aquecimento global se encarregará de destruir o que sobrou, afirma uma compilação de estudos sobre a região feita pelo Banco Mundial. As conclusões do documento, que reúne vários estudos publicados nos últimos anos, levam em conta simulações do comportamento da Amazônia em diferentes cenários projetados pelo IPCC (painel do clima da ONU). Os cientistas identificaram que o efeito conjunto de incêndios, desmatamento e mudança climática empurra a floresta para um estado onde ela perde sua “massa crítica” para sobrevivência.
Como as árvores tropicais são importantes para regulação do clima e do regime de chuvas, forma-se uma espécie de efeito dominó que afeta todo o bioma. No pior cenário, a floresta da Amazônia encolhe 44% até 2025. O volume das precipitações tende a aumentar durante o período de chuvas e diminuir nos de seca, afetando a vazão dos rios de toda a bacia.
O leste da Amazônia -que é contíguo ao Nordeste- terá as consequências mais graves. O período de seca aumentará e o clima mais quente contribuirá para o avanço da vegetação típica do semiárido. Até 2025, a região poderá perder 74% de sua atual área de floresta. Já no sul da Amazônia, pelo menos 30% dessa área de floresta tropical terá sido substituída por cerrado até 2025.
Assim como a caatinga, esse tipo de vegetação tem árvores menores, que absorvem menos gás carbônico da atmosfera. Mais carbono no ar, então, contribui para o aquecimento global, expandindo os impactos para o resto do país. No Nordeste, por exemplo, as estiagens devem se tornar ainda mais prolongadas, prejudicando a agricultura e a geração de energia elétrica na região.
“É a primeira vez que um trabalho avalia esses abalos (aquecimento global, incêndios e desmatamento) conjuntamente. A situação é grave. Precisamos tomar medidas imediatas”, avalia Thomas Lovejoy, presidente do Comitê Científico Consultivo Independente do relatório do Banco Mundial.
Embora indique que parte das perdas na Amazônia sejam inevitáveis, o documento propõe ações de reflorestamento como solução. Estudioso da região há mais de 30 anos, Lovejoy afirma que elas são “imprescindíveis” e devem começar pela Amazônia oriental.
Para Carlos Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o reflorestamento é importante, mas insuficiente. “Não adianta nada se os países não diminuírem as emissões de gases-estufa”, diz.
(Fonte: Folha de S. Paulo)

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