quinta-feira, 24 de junho de 2010
Isso não é normal
terça-feira, 22 de junho de 2010
Mais crescimento
terça-feira, 15 de junho de 2010
Tudo está interligado
Tudo está interligado, continuem destruindo, principalmente com o consumo das cidades inconsciente.
Não tem como não pagarmos as contas, nós, nossos filhos e nossos netos.
Oito bacias hidrográficas do Brasil nascem no cerrado
Hidrelétrica de Itaipu não existiria sem as nascentes que brotam no cerrado.
CLÁUDIA GAIGHER Brasília
Campos de árvores baixas, mata fechada, um emaranhado de folhas. O cerrado é mesmo surpreendente! É difícil abrir passagem. A Reserva Ecológica do IBGE no Distrito Federal tem árvores altas e muita umidade. E quem imaginaria que as folhas mortas que caem lá e cima é que vão garantir a vida dos rios que brotam no cerrado?
A doutora em ecologia e bióloga da Universidade de Brasília (UnB) Mercedes Bustamante explica: "Quando essas folhas produzidas na mata entram na águam, elas começam a sofrer o processo de decomposição, pelo qual vão liberando gradativamente esses nutrientes na água".
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segunda-feira, 14 de junho de 2010
O conto da vacina suína
Isso é reflexo de um sistema econômico e um pensamento econômico que não está voltado para as pessoas, mas apenas para o lucro e a concentração crescente das riquezas.
Não há um só exemplo na história da humanidade onde tal tendência – concentração de riqueza e devastação ambiental – não tenha produzido um colapso civilizatório.
As evidências do colapso são muitas e em muitas áreas infelizmente.
09/06/2010-00h02
O conto da vacina suína
O Congresso Nacional anda muito ocupado em representar os interesses da bancada ruralista. Não fosse isso, bem que poderia investigar a atuação do Ministério da Saúde no combate à gripe pandêmica, ou suína, causada pelo vírus influenza A (H1N1).
É o que está fazendo o Conselho da Europa (não confundir com o Parlamento Europeu) com a OMS (Organização Mundial da Saúde) e as autoridades de saúde de seus 47 Estados-membros. Um relatório devastador as acusa de favorecer a indústria farmacêutica no enfrentamento da nova gripe.
A investigação parece necessária, no Brasil, não tanto para desencavar corrupção, preferência nacional, mas o possível desperdício de ao menos parte do R$ 1,3 bilhão na compra de 113 milhões de doses da vacina antigripe. Foram imunizados até a semana passada 73,2 milhões de brasileiros, 37% da população.
Até 8 de maio, 2.115 mortes haviam sido atribuídas no país ao H1N1. Muito menos que as 140 mil vítimas (0,4% de 35 milhões de infectados) que chegaram a ser aventadas na imprensa, depois que a declaração de pandemia pela OMS --exatamente um ano atrás-- lançou o mundo numa espiral de previsões alarmistas.
Para comparação: os Estados Unidos vacinaram 24% da população e estimam as mortes em 12.470. A França imunizou 8% e teve meros 312 óbitos. No mundo todo houve cerca de 18 mil vítimas do H1N1, uma cifra baixa, de ordem comparável ao número de mortes causadas pelas gripes sazonais.
O Ministério da Saúde apresenta os números brasileiros como indicadores do sucesso de sua estratégia. Mas eles também sugerem outras hipóteses: 1) Não parece haver relação direta entre cobertura vacinal e proporção de mortes pelo H1N1; 2) Nações desenvolvidas podem ter reagido de modo tecnicamente mais adequado à real gravidade da pandemia.
França X Polônia
Não é fácil tomar decisões no calor da hora. Sobretudo quando entra em cena o espectro da gripe espanhola de 1918, com dezenas de milhões de mortos. O instinto de sobrevivência do político sempre fala mais alto.
O governo francês chegou a contratar a compra de 94 milhões de doses da vacina. Diante da progressão lenta da doença e da letalidade similar à da gripe sazonal, conseguiu cancelar a compra de 50 milhões de doses, que terão sido destinadas a outros países. O Brasil, quem sabe?
Mais sangue frio teve a ministra da Saúde da Polônia, destaca o documento do Conselho da Europa. Médica, Ewa Kopacz chegou a identificar um grupo de risco com 2 milhões de pessoas e reservou fundos para comprar o número correspondente de vacinas. Logo recuou, contudo, diante das condições leoninas dos fabricantes.
Em primeiro lugar, só o governo poderia adquirir as vacinas. Em segundo, ele teria de se responsabilizar sozinho por possíveis efeitos colaterais. Por fim, o preço seria duas a três vezes maior que o de vacinas para a gripe sazonal.
A França micou com uma conta de R$ 800 milhões pelas vacinas. Imunizou só 5,7 milhões de pessoas. Tem 25 milhões de doses em estoque cujo prazo de validade vai só até o final do ano.
O papelão da OMS
Na mira do Conselho da Europa e de publicações médicas como o "British Medical Journal" está o papel desempenhado pela OMS na propagação do alarmismo. São duas as suspeitas contra o órgão: 1) mudar a definição de "pandemia" para facilitar a declaração; 2) ocultar conflitos de interesse de especialistas aos quais recorreu.
No primeiro caso, incluir a gripe suína na condição pandêmica era de interesse óbvio para a indústria farmacêutica. Fabricantes de vacinas tinham contratos "dormentes" com vários governos, prevendo garantia de compra e venda caso a pandemia fosse declarada pela OMS.
Isso ocorreu no dia 11 de junho de 2009, quando o H1N1 estava presente em 74 países (chegaria ao total de 214). Acontece que, até 4 maio de 2009, a disseminação geográfica não era a única condição para se declarar uma pandemia.
A definição antiga rezava: "Uma influenza [gripe] pandêmica ocorre quando surge um novo vírus influenza contra o qual a população humana não tem imunidade, resultando numa epidemia mundial com números enormes de mortes e doentes"
A nova definição, adotada no texto "Prontidão e Resposta à Influenza Pandêmica: Um Documento de Orientação da OMS", passou a dizer: "Uma pandemia é uma epidemia mundial da doença. Uma pandemia de influenza pode ocorrer quando surge um novo vírus influenza contra o qual a população humana não tem imunidade... Pandemias podem ser suaves ou graves, e a gravidade da pandemia pode mudar no curso dessa pandemia".
Especialistas ouvidos pelo periódico médico "BMJ" disseram que a gripe suína só pode ser declarada pandemia graças a essa nova definição. Os números modestos de mortos, à luz da categoria antiga, não autorizariam o passo dado, que desencadeou o tsunami de notícias alarmistas.
"O problema não está tanto no fato de que divulgar incertezas é difícil, mas sim que a incerteza não foi divulgada", ponderou Gerd Gigerenzer ao "BMJ". "Não havia base para a estimativa da OMS de 2 bilhões de casos prováveis de H1N1, e sabíamos pouco sobre os benefícios e danos da vacinação. A OMS manteve a estimativa de 2 bilhões mesmo depois de a estação de inverno na Austrália e na Nova Zelândia ter mostrado que só 1 ou 2 pessoas em mil eram infectadas."
US$ 10 bilhões de lucro
Segundo projeções do banco J.P. Morgan citados no relatório do Conselho da Europa, a indústria farmacêutica pode ter lucrado entre US$ 7 bilhões em US$ 10 bilhões adicionais, em 2009, com as vendas de vacinas contra o H1N1. Havia muita coisa em jogo, além da saúde da população mundial, na decisão de declarar a pandemia.
A declaração foi feita pela diretora da OMS, Margaret Chan, com a ajuda de um Comitê de Emergência de 16 membros cujos nomes permanecem até hoje em segredo. Com exceção de um: Arnold Monto.
O "BMJ" confirmou que Monto tinha integrado o comitê da pandemia por meio de uma biografia sua na página de internet da Sociedade Norte-Americana de Doenças Infecciosas. O especialista já declarou no passado ter recebido honorários por palestras da empresa GlaxoSmithKline, fabricante do antiviral zanamivir (Relenza), um dos que os governos passaram a estocar às dezenas e centenas de milhões de comprimidos.
A OMS vem se negando, porém, a tornar públicos os documentos de admissão de conflito de interesses que seus especialistas são obrigados a preencher, de acordo com diretrizes da organização. Afirma que a definição de pandemia nada tem a ver com quantidade de mortes, defende a necessidade de interagir com a indústria e atribui todas as suspeitas a "teorias de conspiração".
Uma reação "decepcionante", vaticinou o "BMJ" num editorial. Como seria a reação do Ministério da Saúde brasileiro, se o Congresso se dignasse investigar sua conduta?
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Mais uma da série, "Querida, acho que destruí o planeta"
Interessante: ao invés de atacar a causa do problema (emissões), a saída é tirar elas da atmosfera.
Pode ser, claro, que o estoque de emissões exija tal tecnologia – cuja eficiência está longe de ser comprovada e nem em sonho será carbono neutra ou ambientalmente limpa ela mesma.
Mas em relação ao fluxo, só há uma solução: cortar emissões.
Com energia limpa? Bom, nem em sonho temos energia limpa para trocar pela atual energia suja – infelizmente.
A única forma de cortar emissões de forma imediata é cortando o desperdício e abandonar o modelo de crescimento eterno e, claro, continuar investindo no desenvolvimento de tecnologias mais limpas e mais eficazes e em outras formas de produção, consumo e distribuição com menos concentração de riqueza ativamente estimulada pelos governos todos.
15/01/2010 - 10h25
Cientistas holandeses criam técnica barata para tirar CO2 do ar
RICARDO MIOTO
da Folha de S. Paulo
Um novo dispositivo apresentado nesta quinta-feira (14) por cientistas pode um dia se tornar uma máquina para salvar o planeta do aquecimento global: ele tira o dióxido de carbono (CO2) do ar e o transforma em compostos de carbono que podem ser vendidos como matéria-prima à indústria.
Os pesquisadores holandeses autores da invenção, porém, afirmam que ainda não é possível aplicá-la em grande escala.
O que os cientistas fizeram foi criar uma estrutura que ajuda o CO2 do ar a se transformar em uma substância chamada oxalato de lítio. O mecanismo usa um composto do tipo que os cientistas chamam de catalisador, que serve para estimular e acelerar reações químicas.
Conseguir que uma placa feita de um material complexo à base de cobre fizesse isso não foi fácil. Estruturas com cobre expostas ao ar geralmente reagem com o oxigênio (O2), não com o gás carbônico (CO2).
Isso ocorre porque o oxigênio tem muito mais facilidade para participar de reações químicas. Ele é mais instável, se agrupa facilmente com outras moléculas. A estrutura criada pelos holandeses, entretanto, quebra a expectativa e reage com o CO2.
Mistério
Nem os cientistas entenderam direito como conseguiram a façanha. "Por que isso aconteceu, nós não entendemos", disse à Folha Elisabeth Bouwman, da Universidade Leiden, na Holanda, que publicou, com sua equipe, a descoberta na revista "Science".
Eles são especialistas em estruturas sintéticas úteis como catalisadoras em reações com carbono.
Eles ficaram especialmente animados por três motivos. Um deles é que a substância final em que o CO2 se transforma, o oxalato de lítio, é bastante estável. Isso significa que o carbono está bastante preso dentro dela --não vai voltar para a atmosfera tão cedo.
O segundo é que o oxalato de lítio pode servir como insumo na fabricação de produtos de limpeza doméstica ou de substâncias úteis para uso em componentes de refrigeradores.
Editoria de Arte/Folha Imagem | ||
O último é que o catalisador que criaram é "reciclável". Ou seja, ele pode ser utilizado de novo após oxalato de lítio ser removido dele. Isso torna o mecanismo mais viável.
Começo
O processo, porém, ainda está longe de sair dos laboratórios e ganhar escala. Dificilmente se tornaria viável rápido o suficiente para conter o aquecimento global nas próximas décadas. Segundo Bouwman, seu estudo "é só o começo".
Ainda assim, é um grande passo. Todos os mecanismos propostos até hoje para tirar CO2 da atmosfera e transformá-lo em outra substância gastavam uma quantidade proibitiva de energia. O mecanismo holandês, entretanto, é mais simples e, assim, tem um consumo elétrico pequeno.
Algumas substâncias usadas no processo, porém, ainda encareceriam um ganho em escala. Uma delas é o lítio. Por isso, diz Bouwman, o próximo passo é fazer pequenas modificações nas estruturas usadas.
O trabalho vai adiante em um constante processo de tentativa e erro. "Fazemos as modificações e observamos o que acontece: se o complexo fica mais reativo, se a reação vai mais rápido."
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Monteiro Lobato e meio ambiente
No dia mundial do meio ambiente, vale a pena trazer à tona alguns apontamentos críticos do autor sobre ecologia
04 de junho de 2010 | 23h 58
Em tempos de aquecimento global, conferências fracassadas e vazamentos de petróleo, nada como uma injeção de Monteiro Lobato na veia. No dia mundial do meio ambiente, em que temos pouco a comemorar e muito a refletir, vale a pena trazer à tona alguns apontamentos críticos do autor. Atento às principais questões de seu tempo, Lobato foi um articulista ousado e perspicaz, engajando-se em diversas campanhas. Militou pelo petróleo - o que lhe rendeu três meses na prisão, durante o Estado Novo de Getúlio Vargas - criticou a propriedade latifundiária, e defendeu a natureza. Na época, Lobato não tinha como prever a poluição que o petróleo causaria. Ambas as campanhas, pelo ouro negro, como pela preservação do verde, eram fruto de seus ideais nacionalistas.
Já em Urupês, empregando uma retórica ácida, permeada de sarcasmo e ironia, criticou as queimadas como método de preparação da terra para o plantio. No conto “Velha Praga” (publicado pela primeira vez em O Estado de São Paulo, de 12 de novembro de 1914), Lobato se mostrava indignado diante da preocupação da elite letrada brasileira com o custo dos soldados em guerra na Europa – na 1ª Guerra Mundial –, enquanto as queimadas causavam enormes prejuízos ainda não contabilizados: destruíam as “velhas camadas de húmus”, “os sais preciosos” da terra, que seriam levados pelas enxurradas; causavam a perda do habitat das aves e dos animais silvestres, bem como a falta de pasto para o gado. O responsável por tal situação seria o caboclo, “o sacerdote da Grande Lei do Menor Esforço”. Lobato se refere ao caboclo como um parasita (tal como o fungo urupê, conhecido também como orelha-de-pau), um “piolho da terra”, que só se aproveitava da natureza, colhendo seus frutos, realizando agricultura através da coivara e, quando a terra se exauria, abandonava o local, procurando outro lugar para recomeçar, através das mesmas técnicas atrasadas, a luta pela vida. No entanto, mais tarde, em sua obra, Lobato fez as pazes com o caboclo, reconhecendo que ele não era o culpado da ignorância e miséria, as quais o levavam a procedimentos destrutivos do meio ambiente, e sim a estrutura fundiária arcaica em que estava inserido.
Em outro conto de Urupês, intitulado “Bucólica”, Lobato critica a poluição das cidades, em que as pessoas respiravam um “indecoroso gás feito de pó”, ignorando os benefícios do ar puro das matas. No início do século, com a urbanização crescente, o surgimento do automóvel e o princípio da industrialização, as questões ambientais já eram tema debatido no centro do país. O escritor não era contrário ao progresso, muito pelo contrário, essa foi a principal causa pela qual militou, principalmente através de sua literatura infantil, pois considerava que somente as crianças e jovens, futuros adultos, poderiam tirar o país do atraso. Seus livros para este público eram, acima de tudo, educativos, porém de forma lúdica, através de uma narrativa que dava direito de fala à criança.
Também no livro de ensaios A onda verde Lobato explora os problemas ambientais de sua época. Como um nacionalista ferrenho, não pode se eximir de denunciar a destruição das “florestas virgens”, digeridas pela “árvore que dá ouro”: o café. Lobato considera que os bandeirantes, “almas fechadas ao contemplativismo”, foram os culpados pela derrubada de jequitibás e perobeiras milenares. A ambição humana “preferia à beleza da desordem natural a beleza alinhada da árvore que dá ouro”. Outra denúncia importante é o “grilo”, presente no ensaio de mesmo nome, que, segundo Lobato, é o “precursor da onda verde”. Tirando o direito do nada, o grileiro é o sinal do fim de um tempo. Com sua chegada, acabam costumes dos antigos moradores da região, extinguem-se a floresta e a fauna, em troca dos enormes cafezais.
No ensaio “Homo Sapiens”, num estilo panfletário e irônico, Lobato condena o homem pela pesca com armadilhas, as arapucas, mundéus, ratoeiras, o aprisionamento de pássaros em gaiolas, as carroças e arreios com que os cavalos eram presos, a caça das baleias com arpão e aos outros animais a tiros, os incêndios dos campos e matas, a drenagem dos pântanos, enfim, por todo o mal causado aos animais. O homem, movido pela ganância, torna-se “lobo de si próprio”, numa referência hobbesiana, pois suas ações contra a natureza acabam vitimando a si mesmo. A solução de Lobato é conclamar uma revolução dos bichos (muito antes de George Orwell, mas em outro sentido, é claro): “animais todos da Terra, basta de submissão! Uni-vos!” Um governo dos animais seria “infinitamente mais gentil que a dura realeza humana”, inclusive porque daria maior atenção `as crianças, a quem Lobato chama de “pequeninas vítimas”.
Em outro ensaio de A onda verde, “Eucaliptos”, o escritor elogia o plantio de eucaliptos fomentado pelo Horto Florestal de Rio Claro, sede do Serviço Florestal da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. O Horto tinha a função de suprir a demanda de madeira para dormentes e carvão, e acabou promovendo o reflorestamento em São Paulo, a partir de eucaliptos trazidos da Austrália pelo pesquisador Edmundo Navarro de Andrada, e, segundo Lobato, deixava “a perder de vista tudo quanto se fez no Brasil por iniciativa governamental”, além disso, sem burocracia. A crítica ao governo é ainda mais incisiva, questionando se o Ministério da Agricultura “em anos e anos de funcionamento com verbas enormes, fez até agora obra que se possa comparar a esta? Fomentou alguma cultura, orientou-a na escala e com a segurança desta maravilhosa iniciativa particular?”. O reflorestamento do governo, para o escritor, era baseado num “patriotismo de pau”, coberto das cinzas do pau-brasil, enquanto a iniciativa de Navarro no Horto era “coisa séria”, “uma aberta que deixa entreluzir o que poderemos ser no futuro”.
Na literatura dedicada ao público infantil, Lobato também inseriu elementos de sua preocupação ambiental. Em uma passagem de A Chave do Tamanho reaparece a metáfora do governo dos bichos, aliado a uma reflexão sobre a própria humanidade. Na voz de Emília, Lobato compara a Terra a uma pulguinha na imensidão do Universo; o homem, nesta pulguinha “é uma poeirinha malvada”. Se a humanidade acabasse, os animais ficariam muito contentes, porque o “homo sapiens era o que mais atrapalhava a vida natural dos bichos”, ideia transmitida através do Visconde de Sabugosa.
Em Memórias da Emília, livro em que a boneca resolve escrever “as histórias de sua vida”, há uma passagem interessante, na qual explica para o anjinho de asa quebrada (personagem de Viagem ao Céu) “as coisas da terra”. Emília esclarece que árvore é “uma pessoa que não fala; que vive sempre de pé no mesmo ponto”, e que só sai do lugar quando surge o machado, “o mudador das árvores”, que muda até o nome delas, pois, quando ele passa perto, as árvores viram lenha; é um “diabo malvadíssimo”. Através de Emília, Lobato critica também o uso de animais como cobaias em experimentos científicos. Ela considera isso um “desaforo”, porque o cão é o animal “mais amigo do homem”, o símbolo da fidelidade.
A partir de seu olhar crítico, guiado pela lente do nacionalismo, Lobato tocou nos problemas ambientais mais importantes da época em que viveu. Já havia poluição e destruição da natureza, nos anos 1920; ela se intensificou ao longo do século pelo desenvolvimento sem controle da indústria, pela falta de planejamento urbano e pelos estímulos ao consumo desenfreado, até chegar aos níveis que somos obrigados a suportar hoje. O grande mérito da obra de Lobato foi instigar seus contemporâneos à reflexão sobre o que estava acontecendo. Eles podem inspirar-nos na busca de soluções para os desafios de hoje, muito maiores, é claro, e que passam por uma séria mudança de conduta dos consumidores, mas também por uma revisão dos processos políticos e econômicos, em âmbito global. Talvez estejamos precisando de uma revolução dos animais, das florestas, dos rios e dos oceanos, para que possamos adquirir a consciência da Emília e do Visconde de Sabugosa...
* Elenita Malta Pereira é historiadora e mestranda em História na UFRGS
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Matéria no DCI - O Multiefeito Sustentável
Para ler a matéria "O Multiefeito Sustentável" do Jornal Diário do Comércio e Indústria que tem participação do Hugo, clique no link abaixo.
terça-feira, 8 de junho de 2010
ONU: Carne é um alimento antiecológico
Além de ser vegetariano, há outras idéias: evitar andar de carro (esse hábito terrível faz com que diante dos nossos olhos o desperdício energético seja tão grande que podemos ver só no trânsito de São Paulo várias usinas Belo Monte que seriam desnecessárias), evitar andar de avião (idem), focar o consumo em produtores locais e pequenos, perseguir decentralização governamental (a idéia de deixar nas mãos dos governos locais decisões sobre sociedade e meio ambiente deveria ir avante), abandonar o consumo desenfreado de bens inúteis, etc.
Nossa sociedade agora foca nos carros-caminhões (os horrorosos e perigosos SUVs), porque carro não é um meio de transporte, mas um mecanismo de divisão social, segundo Goura Nataraj e Andre Kaon Lima. Quanto mais as classes baixas acessam automóveis médios, mais as mais altas precisam se distanciar com carros maiores. O objetivo é a divisão, não o uso.
Não podemos nem devemos produzir mais coisas e sim devemos cortar o desperdício e o desnecessário. Não é de mais energia que precisamos, mas do fim do desperdício, em primeiro lugar, e de um modelo econômico onde as pessoas e o planeta existissem e não fossem apenas números (descartáveis como os bens que nosso sistema produz).
Detesto falar de mim mesmo e usar o pronome na primeira pessoa, mas eu já sou vegetariano há 10 anos. Não suporto a idéia da crueldade feita contra os animais pela indústria toda, além da questão ecológica (a ineficiência ecológica do consumo de carne em relação aos vegetais é gigante). Também sou um ciclista urbano (quase suicida) na cidade de São Paulo, onde o desrespeito monumental das autoridades e das pessoas é um desafio enorme. Não há acesso nem lugares para estacionar as bicicletas em quase todos os pontos urbanos, comerciais ou governamentais. Ciclovias nem se fale, não existem praticamente. Tudo é voltado para o transporte particular de carros de três toneladas para poucos. O resto que se vire.
Mas, o mais importante é colocar o peso da mudança nas instituições e nas empresas: eles respondem por 90% da pegada ecológica. Os indivíduos participam com 10%. Ou seja, aquilo que podemos mudar no dia a dia só irá resolver 10% do problema. Mas claro que a mudança dos indivíduos (com a recusa de produtos com impacto muito grande e de lixo que não tem destino), se disseminada, irá mudar o mundo. Mas estamos muito longe disso acontecer, nem sabemos mais se dará tempo.
Hugo Penteado
ONU: Carne é um alimento antiecológico. |
ONU recomenda dieta vegana para compater mudança climática
Posted: 04 Jun 2010 12:57 PM PDT
A agricultura, particularmente produtos de carne e laticínios, é responsável pelo consumo de cerca de 70% da água doce do mundo, 38% do uso de terra e 19% das emissões de gases estufa, diz o relatório que foi lançado para coincidir com o dia do meio ambiente no próximo sábado (05 de junho).
Diz o relatório: “Espera-se que os impactos da agricultura cresçam sustancialmente devido ao crescimento da população e o crescimento do consumo de produtos animais. Ao contrário dos combustíveis fósseis, é difícil producar alternativas: as pessoas têm que comer. Uma redução substancial de impactos somente seria possível com uma mudança de dieta, eliminando produtos animais.”
O painel de especialistas categorizou produtos, recursos e atividades econômicas e de transporte de acordo com seus impactos ambientais. A agricultura se equiparou com o consumo de combustível fóssil porque ambos crescem rapidamente com o mais crescimento econômico, eles disseram.
Professor Edgar Hertwich, o principal autor do relatório, disse: “Produtos animais causam mais dano que produzir minerais de construção como areia e cimento, plásticos e metais. Biomassa e plantações para animais causam tanto dano quanto queimar combustíveis fóssil.”
Ernst von Weizsaecker, um dos cientistas que lideraram o painel, disse: “Crescente afluência está levando a um maior consumo de carne e laticínios – os rebanhos agora consomem boa parte das colheitas do mundo e, por inferência, uma grande quantidade de água doce, fertilizantes e pesticidas.”
Fonte: Guardian / via Lobo Repórter
segunda-feira, 7 de junho de 2010
A miopia do transporte de ônibus carioca
Por Alexandra Lichtenberg, Colunista de Plurale (*)
Todos sabemos que uma das principais iniciativas para melhorar o transito na cidade do Rio de Janeiro é a reformulação do sistema de transporte de ônibus. Melhorar o sistema de transporte de ônibus significa melhor qualidade de vida para o cidadão, que poderá se locomover mais adequadamente, e terá menor poluição do ar e menor poluição sonora (esta última, altíssima atualmente). Além, é claro, da redução dos acidentes.
Atualmente existem linhas demais, sobrepostas e mal planejadas – milhares de ônibus vazios congestionam a Zona Sul enquanto faltam ônibus na Zona Oeste e Norte, que por este motivo também vivem abarrotados. A frequência dos ônibus é completamente irregular, por vezes não passa um ônibus durante uma hora inteira, para em seguida passarem 3 ou 4 da mesma linha em fila indiana. Falta manutenção aos ônibus, e os motoristas necessitam urgente de cursos de direção: da maneira como dirigem gastam muito mais combustível, com o incessante arranque, aceleração absurda e freadas abruptas que chegam a derrubar pessoas dentro dos veículos. Alem, é claro, de não respeitarem nenhuma lei de transito, por muitas vezes sequer parando no ponto de ônibus para atender aos passageiros!
Pois bem, recentemente tem sido anunciada uma nova licitação das linhas de ônibus para a cidade. Mas o processo está emperrado, pois ainda não está claro se as empresas de ônibus teriam direito a indenizações com a nova licitação.
O resto do texto pode ser lido aqui: http://www.plurale.com.br/noticias-ler.php?cod_noticia=8513&origem=&filtro