segunda-feira, 11 de agosto de 2014

REINVENTANDO A RODA...

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 Um dos fatos mais impressionantes dos dias atuais pode ser resumido numa frase de Einstein: “O maior sintoma de loucura tos tempos atuais é querer sempre fazer as mesmas coisas esperando resultados diferentes.

Dois comentários sobre duas duas séries da TV:

Do Jornal da Globo sobre a dura batalha dos chineses contra a poluição. A realidade dramática de uma nação castigada pela fumaça do carvão e dos veículos automotores. O material pode ser replicado e se presta a múltiplos usos, inclusive - ou principalmente - pedagógico.     

Um dos maiores mitos da atualidade é que o mundo rico é limpo, sem poluição e que o problema se restringe à China e aos países atrasados.  Enquanto se supõe erradamente que os países ricos encontraram a fórmula de aliar elevada riqueza a um meio ambiente limpo, mito amplamente abraçado por vários iluminados e pessoas incapazes de desferir qualquer crítica ao nosso sistema, seguimos firmes com o mito tão propalado pelo Banco Mundial: “O problema da poluição e da destruição das florestas é um problema dos países pobres.  Os países ricos deixaram para trás esses problemas. Para resolver o problema nos países pobres, enriqueça-os.”    Em outras palavras, todos copiem o modelo dos países ricos.   A verdade é que os avançados não só tem sérios problemas de poluição, como diminuíram o agravamento desse problema para países fora de suas fronteiras e a custo zero via comércio global. Sim, o custo da poluição e da destruição do clima e dos serviços ecológicos sem os quais não haverá vida mais na Terra é zero, e isso não mudar mesmo com as mágicas do Pavan Sukdev.   Enfim, nos EUA o problema é seríssimo também, “shale gas” é a cereja do bolo.  O letreiro Hollywood é frequentemente apagado pela poluição. Paris ficou imersa na mesma poluição a ponto de não ser possível ver a Torre Eiffel e o prefeito proibir trânsito de automóveis e dar passagens de ônibus gratuitas aos usuários.  Se Estados Unidos estivessem sozinhos na Terra, cercados por oceanos, sem comércio global algum, já teriam entrado em colapso total há muito tempo. Aqui em São Paulo vivemos numa bolha marrom. Isso não é um problema chinês, é um problema do modelo econômico e da teoria econômica autista falsa, que acredita que a Terra é um subsistema da economia, quando é justamente o oposto.  Nesse modelo, não existe limites ecológicos e o sistema econômico pode ser maior que o planeta.

A BBC lançou uma série sobre consumismo (3 episódios, total 3 hrs), chamada Os Homens que Fizeram Agente Gastar: desvenda os segredos do porque nós compramos. Jacques Peretti investiga o que nos mantém viciados em gastos, e enfrenta (entrevista) alguns dos homens por trás de alguns produtos mais vendidos no mundo, e estratégias de vendas que começam dentro de nossa mente. (Mas não chega aos impactos ambientais do fenômeno).  Links da BBC e da Open University sobre a série:



O item 2 é antigo, Nicholas Georgescu-Roegen, cuja crítica irrefutável encontra sem o menor uso na atualidade, falava muito sobre isso no final dos anos 1960. Estamos atrasadíssimos.  Ele satirizava os comerciais de aparelho de barbear descartáveis e escreveu em um de seus textos: “use o cinzeiro do seu carro e jogue ele e o cinzeiro no lixo”.  Ele foi um grande crítico da “throw-away” economy. Essa economia, se continuasse (e continuou a despeito de sua contribuição que foi ignorada), seria capaz de entregar, segundo Roegen, a Terra ainda banhada em sol apenas à vida bacteriana, a qual não faremos nem mossa, como escreveu Stephen Jay Gould.  Pelo menos a vida bacteriana irá se salvar, enquanto São Paulo já ficará terrivelmente sem água e ninguém fala sobre isso. Sim, a economia do desperdício e do consumo suicida se formou nos últimos 50 e 60 anos e nenhum poder vigente quer alterá-la, porque vivemos sob a égide da maximização de lucros que só se materializa com vendas financiadas por emissão monetária e de crédito sem lastro dos bancos centrais ao redor do orbe e caminhamos para uma nova crise, igual a anterior, mas cada vez mais difícil de ser resolvido (se é que será resolvida).  E essa economia do marketing funciona bem, porque aquilo que mais agrada o ser humano é a desgraça alheia e o que mais incomoda é a felicidade alheia. Para vender só associar felicidade ao sucesso e o sucesso ao consumo de bens inúteis, foi essa a fórmula encontrada no período entre guerras mundiais, como descreve Jeremy Rifkin no seu livro O Fim do Emprego. O mais importante é que o consumo não é mais financiado pela renda do trabalho, que estagnou nos países ricos, mas pelo crédito lastreado em bolhas de ativos...  Bom lembrar que o marketing é o segundo maior orçamento empresarial do planeta, só perde para a indústria das armas.  Uma empresa de insumos agrícolas ficou um pouco preocupada com os orgânicos, mas afinal disse: “Temos o marketing”.   Mudar para quê?

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